• Nenhum resultado encontrado

BANDAS LONDRINENSES NO PERÍODO DITATORIAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "BANDAS LONDRINENSES NO PERÍODO DITATORIAL"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

2729

BANDAS LONDRINENSES NO PERÍODO DITATORIAL

Olimpio Luiz de Souza Junior Graduando em História pela UEL Bolsista PIBID/CAPES - UEL olimpio.his@gmail.com

Resumo: O uso de músicas na sala de aula para trabalhar a ditadura e seu impacto na sociedade é muito comum, tendo um enfoque nos artistas que se apresentaram nos festivais do final da década de 1960, como Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré, além de outros músicos da Bossa Nova e também do movimento conhecido como Tropicalismo, encabeçado pelos artistas Caetano Veloso e Gilberto Gil. Porém, a produção cultural do período é muito vasta, além de diversificada, já que 21 anos é um tempo muito longo para ser reduzido a poucos artistas. Outra questão importante é a do direcionamento crítico dos artistas. Enquanto os artistas mais comumente lembrados, faziam críticas veladas à falta de liberdade de expressão – característica do governo do final da década de 1960 –, em suas canções para conseguir passar pela pesada censura do Estado, por vezes as músicas se tornavam tão complexas que apenas o próprio autor poderia dizer seu significado. As bandas posteriores ao movimento punk e do hip hop traziam também suas críticas abertamente contra as mazelas da sociedade. Pretendemos levar o trabalho de bandas londrinenses, principalmente do artista Itamar Assumpção, para desenvolver oficinas de análise com os alunos, seguindo a metodologia do historiador Marcos Napolitano, a fim de aproximar e possibilitar a discussão do tema, dentro do contexto do município.

(2)

2730

Levando em consideração a proposta do PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - de trabalhar a temática da ditadura em nosso município, decidimos utilizar o trabalho de músicos da cidade de Londrina para desenvolver as atividades com os alunos do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, em uma turma de oitavo ano, utilizando o conceito de aula-oficina proposto por Isabel Barca (Barca, 2004), e a metodologia de análise de Marcos Napolitano (Napolitano 2005). Para tal, utilizamos de uma entrevista de Domingos Pellegrini presente no livro Na Boca do Bode (Giorgio, 2005) e uma faixa do álbum Beleleu, Leleu, Eu. Álbum este de autoria do artista Itamar Assumpção, natural da cidade de Tiete, radicado na cidade de Londrina na década de 1970 e que trabalhou com outros músicos e artistas da cidade na organização de festivais musicais, como o que intitula o livro supracitado, Na Boca do Bode.

O primeiro documento trabalhado refere-se à obra do artista Itamar Assumpção, este pertencente ao grupo conhecido como Vanguarda Paulista, do qual faziam parte diversos músicos que lançaram seus trabalhos da década de 1980, que trouxe contribuições diversas ao cenário musical brasileiro. Diversidade essa que também impede a dita Vanguarda Paulista de se caracterizar como movimento, já que não possuía um ideal unificador (Silva, 2012).

Aqui se levanta uma questão interessante, já que Itamar Assumpção teria começado sua vida artística na região de Londrina, mas seguindo o exemplo de outros artistas, como Arrigo Barnabé, decidiu partir para a cidade de São Paulo, possivelmente para ter melhores chances com seu trabalho, e apesar de não ter atingido um grande sucesso, trouxe importantes reflexões sobre a negritude e a condições sociais da população.

A faixa escolhida para análise junto aos alunos foi “Fico Louco”, que traz a tentativa de cortejo de um anti-herói, tentando convencer sua amada que a felicidade está nos perigos das ruas (Silva, 2012). Os arranjos criados por Itamar e seus companheiros da banda Isca de Polícia não possuem uma estética musical única, mas trazem influências de reggae e funk. Segue parte da letra:

(3)

2731

Fico louco, faço cara de mau Falo o que me vem na cabeça

Não digo que com tudo isso eu fique legal Espero que você não se esqueça

Espero ver você curtindo o reggae deste rock comigo

Grite forte, dê um jeito, cante, permaneça comigo

( … )

Espero ouvir você dizer que gosta de viver em perigo

Considerando que eu não seja nada mais além de bandido

Fico louco, faço pelo sinal,

me atiro ao chão de ponta cabeça Me chamam de maluco, etc e tal, espero que você não se esqueça Eu quero andar nas ruas da cidade agarrado contigo

Vivendo em pleno vapor, felicidade contigo

O segundo documento é parte de uma entrevista de Domingos Pellegrini, autor e jornalista Londrinense, presente no livro Na boca do Bode, na qual revela como burlou os mecanismos de censura do governo ditatorial para conseguir as permissões necessárias para realização de festivais.

(4)

2732 Foram 27 músicas. Ah! Uma coisa interessante. Um dia antes da apresentação, nós fomos fazer um ensaio geral. Que era meu grande temor. Eu tinha mandado as letras pra censura, dez cópias de cada letra. Onde tinha alguma coisa que eles pudessem encasquetar eu tirava da letra. Eu já fazia isso em teatro, já tinha experiência de outros festivais de música. O censor nem ficava sabendo. Se viesse uma autoridade, que fosse resolver com o censor… Isso não era responsabilidade minha. Aí, mudei várias coisas, inclusive no Clara Crocodilo foram mudadas umas coisas. No dia, o censor estudava ali no CESULON, eu fiquei sabendo que ele estava numa das salas à noite, e ele veio conversar comigo: “Que horas é o ensaio?”. Eu respondi: “Oito horas”. “Quanto tempo demora?”. Demorava duas horas mas eu falei: “Três horas e meia”. “E as letras?”. “Eu já encaminhei pro senhor”. “Então amanhã, às oito horas eu tô aí”. Avisei o pessoal pra vir todo mundo penteado, com o cabelo amarrado, pra ninguém vir com as roupas todas por cima da calça, para virem de sapato ao invés de tênis. Foi todo mundo bem caretinha, entendeu? E que ninguém deixasse garrafa nenhuma a vista, que ninguém fumasse, nem cigarro, nada. Oito horas o cara pintou lá, Olhou todo mundo, todo mundo sentadinho ali, comportadinho, os japoneses do conjunto lá, tocando um negocinho assim… tumtumtum, ensaiando um negocinho lá com alguém, aí eu pedi para parar; “Bem podemos começar o ensaio?”.

O cara veio em cima: “Vai até que horas?” “Ah! Até umas onze e meia, meia-noite…” “E as letras são aquelas que você me mandou?” “São, sim, senhor. Tudo certinho”. “Ah! Então tá liberado.”. Acho que foi a melhor coisa que eu fiz… (Giorgio, 2005 p. 89).

Podemos observar como o “jeitinho” e a “malandragem”, além do conhecimento dos processos legais e do modo operante dos censores que Domingos possuía evitaram problemas, e permitiu a realização daquele festival.

Ambos os documentos foram apresentados aos alunos para análise após uma sondagem e contextualização do tema, já que se tratava de uma turma que não havia trabalhado os temas relacionados à ditadura. Além da entrevista e da letra da música, foi apresentada a gravação da própria para complementar a análise. A análise dos alunos foi feita mediante um roteiro pré-estabelecido do que eles deveriam prestar atenção, relacionado ao contexto e à apreciação musical.

Como resultado, podemos observar uma facilidade maior dos alunos em interpretar o documento escrito, sendo capazes de separar melhor do que na música qual era a ideia central do texto e relacionar à censura e o que ela representa. Esse dado nos faz acreditar que seria necessário melhorar a aplicação da análise à música,

(5)

2733

através da repetição do exercício, sempre se lembrando de ter o cuidado de usá-la como fonte, e não como mera ilustração do período estudado, risco que sofrem outras fontes como filmes e imagens.

Referências

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) / Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131-144.

NAPOLITANO, Marcos. História & Música - história cultural da música popular. 3º edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

GIORGIO, Fabio Henriques. Na boca do bode: entidades musicais em transito. The Author, 2005.

ASSUMPÇÃO, Itamar. Beleleu, Leleu, Eu. Intérpretes: Itamar Assunpção, Banda Isca de Policia. 1980.

Referências

Documentos relacionados

Foram realizadas medições de frutos e sementes, com paquímetro digital; massa de 1000 frutos e 1000 sementes, em balança semi-analítica; teor de umidade das sementes,

Esta realidade exige uma abordagem baseada mais numa engenharia de segu- rança do que na regulamentação prescritiva existente para estes CUA [7], pelo que as medidas de segurança

No presente documento descrevemos o método desenvolvido pelo Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação – LEEC (UNESP-Rio Claro) para identifi car áreas com alto potencial

(iv) estimate technological profile for Brazil and BLUM regions considering zoo technical indexes and calculated productivities (beef and dairy sectors); (v) estimate costs

Bom, eu penso que no contexto do livro ele traz muito do que é viver essa vida no sertão, e ele traz isso com muitos detalhes, que tanto as pessoas se juntam ao grupo para

No entanto, cabe ao gerente o cuidado de que os processos naturalmente relacionados entre si, não sejam mal utilizados, pois podem prejudicar um ao outro, ou seja, o

Esses índices, destinam-se a avaliar aspectos não financeiros, que envolvem a atividade pecuária. O índice de fertilidade representa a relação do número de fêmeas que foram

Dois termos têm sido utilizados para descrever a vegetação arbórea de áreas urbanas, arborização urbana e florestas urbanas, o primeiro, segundo MILANO (1992), é o