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Cad. Saúde Pública vol.32 número2 x csp x00176115

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Academic year: 2018

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VIOLENCE AGAINST WOMEN AND GIRLS. The Lancet. http://www.thelancet.com/series/violence-against-women-and-girls (Published November 21, 2014).

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00176115

Em 2014, a revista de saúde pública britânica The Lan-cet publicou um número temático sobre a violência contra mulheres e meninas, reunindo contribuições de pesquisadores e ativistas de diversos países e repre-sentantes de organismos das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esse número especial reúne cinco artigos sobre dife-rentes interfaces relacionadas à temática: (1) evidên-cias sobre os esforços de prevenção; (2) lições aprendi-das a partir aprendi-das iniciativas de ativistas de movimentos sociais; (3) reflexões sobre o envolvimento de homens e meninos na prevenção da violência de gênero; (4) respostas que o setor saúde tem oferecido ao enfrenta-mento da violência; e (5) uma convocação global para que diferentes setores, e em particular a saúde, man-tenham uma visão abrangente e incessante sobre essa temática.

Em que pese a qualificação do periódico, os leito-res hão de se perguntar o porquê de uma leito-resenha des-sa publicação. A violência de gênero contra mulheres e meninas representa uma grave violação dos direitos humanos e um problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, não é diferente. Pesquisa da Funda-ção Perseu Abramo, em 2010 1, apontou que uma em

cada cinco mulheres já sofrera algum tipo de violência, em suas diversas facetas e por práticas socialmente aceitas. Presentes já nas relações de namoro entre ado-lescentes brasileiros 2, essa forma de violência

relacio-nal constitui um repertório “barelacio-nalizado” na vida de muitas mulheres e meninas brasileiras.

A publicação do The Lancet aponta para quatro perspectivas fundamentais no planejamento de ações de enfrentamento, independente das peculiaridades contextuais de diferentes países e culturas. O primeiro ponto se refere à avaliação dos impactos de programas de prevenção das violências de gênero. De acordo com o relatório da OMS sobre prevenção de violências 3,

também lançado em 2014, a violência entre parceiros íntimos está presente na agenda política de muitos dos países, mas ainda são necessárias mais iniciativas que contemplem mudanças nas normas sociais e culturais presentes nas relações de gênero e que fomentam a as-simetria entre homens e mulheres.

Nesse sentido, Ellsberg e colaboradores abrem a revista chamando a atenção para a necessidade de ava-liações rigorosas de iniciativas que busquem a preven-ção desse fenômeno, particularmente entre países de média e baixa renda. Contudo, parece-nos importante destacar que devido ao alto custo financeiro, e muitas vezes por falta de expertise em análises avaliativas, muitas iniciativas acabam por não realizar essa etapa

fundamental nos processos de intervenção. Promover uma cultura de avaliação que permita a identificação de boas práticas e a proposição das estratégias avalia-tivas em outros contextos é fundamental. Além disso, por se tratar de um fenômeno multifacetado, faz-se necessário pensar em desenhos metodológicos que fa-voreçam a reflexão mais ampla e abrangente sobre as iniciativas e os resultados no enfrentamento da violên-cia contra as mulheres e meninas 3.

O segundo aspecto abordado por García-Moreno e colaboradores reafirma a importância do setor saúde e seus desafios no enfrentamento dessa forma de violên-cia. Apesar da incorporação da temática nas práticas cotidianas desse setor, ainda faz-se necessário o de-senvolvimento de processos de formação e capacita-ção continuados para profissionais da rede de atencapacita-ção, para que possam lidar com esse fenômeno de maneira integrada e abrangente, desconstruindo concepções de gênero que reforçam a vulnerabilidade das mulheres e meninas. Nesse sentido, é imperativo que as formações curriculares nas diferentes carreiras da saúde contem-plem os vieses de gênero, sexualidade e violência 4.

O terceiro ponto desenvolvido na publicação por Jewkes e colaboradores ressalta a importância do en-volvimento dos homens e meninos em iniciativas que favoreçam a igualdade de gênero. A participação mas-culina na promoção da equidade tem sido fortemente recomendada por diferentes instâncias internacionais, como as plataformas de ação das Conferências de Po-pulação e Desenvolvimento (Cairo, Egito, 1994) e das Mulheres (Pequim, China, 1995). O artigo menciona o pioneirismo brasileiro com a iniciativa do Progra- ma H 5 como um modelo de envolvimento de homens jovens em relações mais equitativas entre homens e mulheres. Contudo, parece-nos fundamental aprofun-dar a sistematização e a avaliação das experiências dos programas de atenção a homens autores de violência contra as mulheres em países do chamado Sul Global.

Por último, Micau e colaboradores apontam que somente com transformações nas normas sociais que produzem e reproduzem iniquidades de gênero e re-lações assimétricas de poder é que podemos esperar uma sociedade mais justa e igualitária em que mulhe-res e meninas possam viver uma vida livre de violência.

Marcos Nascimento

Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

m2nascimento@gmail.com

Corina Helena Figueira Mendes

Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

corina.mendes@iff.fiocruz.br

1 RESENHAS BOOK REVIEWS

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(2):e00176115, fev, 2016 RESENHAS BOOK REVIEWS

1. Venturi G, Godinho T, organizadores. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e priva-do: uma década de mudanças na opinião pública. São Paulo: SESC/Fundação Perseu Abramo; 2013. 2. Minayo MCS, Assis SG, Njaine K, organizadoras.

Amor e violência: um paradoxo das relações de namoro e do “ficar” entre jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2011.

3. World Health Organization. Global status report on violence prevention 2014. Geneva: World Health Organization; 2014.

4. Schraiber LB, d'Oliveira AFPL. La perspectiva de género y los profesionales de la salud: apuntes desde la salud colectiva brasileña. Salud Colect 2014; 10:301-12.

Referências

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