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Reflexões acerca da prevalência do Transtorno Global do Desenvolvimento na Secretaria de Educação do Distrito Federal

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE CEILÂNDIA CURSO DE FONOAUDIOLOGIA

GABRIELA MOUTINHO ALVES

REFLEXÕES ACERCA DA PREVALÊNCIA DO TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO

FEDERAL

BRASÍLIA 2018

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REFLEXÕES ACERCA DA PREVALÊNCIA DO TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO

FEDERAL

BRASÍLIA 2018

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Brasília – Faculdade de Ceilândia como requisito para obtenção do título de bacharel em Fonoaudiologia.

O trabalho foi apresentado e aprovado pela banca examinadora em 04 de Julho de 2018.

Orientadora: Profa. Dra. Letícia Correa Celeste

Examinadora: Sônia Ferreira

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A versão mais recente do manual diagnóstico e estatístico das perturbações mentais - DSM-V alterou a nomenclatura de Transtornos Globais do Desenvolvimento e comtemplou a maioria dos transtornos no Transtorno do Espectro Autista, entretanto, para as crianças serem matriculadas na Educação Especial das escolas públicas Distrito Federal necessita-se de um CID que ainda utiliza a nomenclatura Transtornos Globais do Desenvolvimento. O objetivo desse estudo é identificar se existe um aumento no número de matrículas de crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento na Secretaria de Educação do Distrito Federal e, caso exista, discutir sobre as possíveis causas para isso estar ocorrendo. Foi realizada uma análise comparativa e descritiva das tabelas referentes à educação infantil, ensino fundamental e educação especial do censo escolar do Distrito Federal nos períodos de 2012 a 2017. Foi identificado que ocorreu um aumento de 104,67% nas matrículas de crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento de 2012 a 2017. Ainda não é possível justificar completamente o aumento do número de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista na população, mas o aumento dos critérios diagnósticos e a ampliação do conhecimento a respeito desse transtorno pela população em geral explicam em parte esse crescimento.

Transtorno do Espectro Autista; Epidemiologia; Prevalência.

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The most recent version of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM- V has changed the nomenclature of Global Developmental Disorders and has addressed most of the disorders in Autistic Spectrum Disorder, however, for children enrolled in Special Education in the public schools of District Federal needs a CID that still uses the nomenclature Global Developmental Disorders. The objective of this study is to identify if there is an increase in the enrollment of children with Secretary of Education of Federal District, and if it exists, to discuss the possible causes for this to occur. A comparative and descriptive analysis of the tables related to early childhood education, elementary education and special education of the school census of the Federal District was carried out from 2012 to 2017. It was identified that there was a 104.67% increase in registrations of children with Developmental Disorder from 2012 to 2017. It is not yet possible to fully justify the increase in the number of children diagnosed with Autism Spectrum Disorder in the population, but the increase in diagnostic criteria and the increase of knowledge about this disorder by the general population partially explain this increase.

Autism Spectrum Disorder; Epidemiology; Prevalence.

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INTRODUÇÃO ... 6

METODOLOGIA ... 10

RESULTADOS ... 12

DISCUSSÃO ... 17

CONCLUSÃO ... 211

REFÊRENCIAS ... 222

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INTRODUÇÃO

O Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), catalogado pela classificação Internacional das Doenças (CID-10) no grupo F84, abrange o autismo infantil; autismo atípico; Síndrome de Rett; outro transtorno desintegrativo da infância; transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados; síndrome de Asperger; outros transtornos globais do desenvolvimento; e transtornos globais não especificados do desenvolvimento (1). De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, em sua quarta edição, o Transtorno Global do Desenvolvimento tem como características: comprometimento grave nas habilidades de interação social e comunicação e/ou presença de estereotipias de comportamento, atividades e interesse (2).

A versão mais recente do manual diagnóstico e estatístico das perturbações mentais – DSM-V – alterou a nomenclatura e a classificação dos transtornos acima descritos, englobando a maioria deles no grupo dos Transtornos do Espectro Autista (TEA). A partir dessa versão, não são mais consideradas as diferenciações entre autismo atípico ou infantil, nem as classificações quanto à síndrome de Asperger, por exemplo. Todos esses transtornos encaixam-se no grupo dos TEA e variam quanto ao grau de comprometimento que se reflete no nível de apoio demandado pelo indivíduo. A Síndrome de Rett, agora, não é considerada um transtorno do espectro autista (3). Já que o sistema educacional no Distrito Federal exige laudos médicos para definição de escolhas dos recursos educacionais, neste trabalho foram consideradas também as definições do CID-10, que ainda leva em conta as classificações acima descritas pelo DSM-IV.

No ano de 1911, Bleuler (4) definiu e difundiu o termo ―autismo‖. Segundo ele, o autismo era uma perda de contato com a realidade, que se dava a partir de uma dificuldade ou impossibilidade comunicativa. No ano de 1943, Leo Kanner (5) publicou um trabalho com o título ―Alterações autísticas do contato afetivo‖, no qual ele descreveu 11 casos nos quais ele

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suspeitava de autismo. A partir desse trabalho o autismo passou a ser diferenciado de outras psicoses. Segundo Kanner, existiam dois critérios importantes a serem considerados nessa patologia: a solidão e a insistência na invariância (4-5).

O aumento do número de diagnósticos de autismo é cercado de diversas variáveis, dentre elas a disponibilidade de serviços, a consciência do que é o transtorno do espectro autista tanto para os profissionais quanto para a população em geral, as mudanças nos critérios de diagnóstico e o real aumento de crianças que nascem com o transtorno (6). Os critérios para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista vêm evoluindo ao longo dos anos (7). Atualmente, é comum no meio médico a utilização dos critérios descritos no DSM para realização do diagnóstico (8). As características primordiais para o diagnóstico do TEA, segundo o DSM-V são: prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, com início precoce (3). O DSM-V traz os especificadores de gravidade para o Transtorno do Espectro Autista. Os especificadores descrevem a sintomatologia e a gravidade do TEA, que pode variar de acordo com o contexto e o tempo. De acordo com especificadores o TEA é subdividido em 3 níveis de gravidade: nível 1 (exigindo apoio), nível 2 (exigindo apoio substancial) e nível 3 (exigindo apoio muito substancial). Embora se consiga visualizar de maneira mais clara como estão os sinais e sintomas de acordo com os níveis, a habilidade comunicativa, de interação social e os comportamentos estereotipados devem ser classificados separadamente, assim como a escolha da terapia (3).

Para concluir um diagnóstico de TEA, deve ser feita uma entrevista detalhada com observações comportamentais, história do cuidador e quando possível uma autoanálise no caso de pessoas mais velhas, além de avaliações do desenvolvimento, psicológicas e de comunicação durante um longo período de tempo. Também devem ser realizados exames auditivos e clínicos que sejam necessários (2,9).

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Segundo Fadda e Cury (10) a etiologia do autismo é inconclusiva, porém existem varias hipóteses e paradigmas que buscam explicar a razão desse transtorno. As maiores vertentes que explicam a origem do autismo são: biológico-genético, relacional, ambiental e a neurodiversidade, sendo a tese mais aceita atualmente pela comunidade científica a combinação entre o paradigma ambiental e o genético (10). Camargos Jr (4) aponta que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, com início precoce com alterações que se caracterizam por desvios no desenvolvimento da comunicação, interação social e comportamentos restritos, repetitivos ou estereotipados. As alterações comunicativas e sociais na criança com TEA são difusas e sustentadas. Ainda segundo Camargos Jr (4) são características do comportamento social do autista a falta de resposta às emoções de outras pessoas, a falta de modulação das ações comportamentais, o uso insatisfatório de sinais sociais e a dificuldade na integração do campo social, emocional e comunicativo.

O primeiro estudo feito sobre epidemiologia e autismo foi realizado por Lotter (11) na Inglaterra. Os resultados desse estudo chagaram a uma taxa de 4,5 crianças diagnosticadas a cada 10.000. A prevalência de TEA no mundo tem apresentado um aumento constante (12-13). Em uma revisão de artigos, realizada por Fombonne (13) chegou-se à conclusão que a estimativa de casos de autismo era de 1 a cada 150 crianças. Um estudo (14) realizado pelo Center for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos chegou à conclusão que existem 14,7 casos de TEA para cada 1000 habitantes, ou seja, 01 caso a cada 68 americanos. De acordo com as estimativas mais recentes do CDC, publicadas em 2018, existe 1 caso de TEA a cada 59 crianças nos EUA (15). Existe uma grande variabilidade encontrada nos estudos epidemiológicos conforme cada autor, data da pesquisa e os critérios utilizados para obtenção dos dados (16).

No Brasil, não foram encontrados estudos epidemiológicos que contemplassem todo o território nacional. Entretanto, alguns estudos vêm sendo desenvolvidos na tentativa de

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melhorar esse quadro no país. Em Santa Catarina, no ano de 2008, foi realizado um estudo (16) com o objetivo principal de estimar a prevalência de TEA no estado e verificar os critérios diagnósticos utilizados. Verificou-se que a prevalência de autismo encontrada foi de 1,31 a cada dez mil habitantes. É importante observar que o estudo possuía diversas limitações, dentre elas que a população-alvo estava em evidência diagnóstica e frequentavam instituições de referência. Essa população foi utilizada como denominador do estudo, o que gera um grande risco de viés, pois grande parte da população com TEA não se encontra sendo atendida por nenhuma instituição devido às poucas vagas oferecidas pelo estado (16).

Em um estudo exploratório (17) descritivo realizado no Sul do Brasil em 2017 que pretendia estimar a prevalência de transtorno do espectro autista no Sul do Brasil indicou que no estado do Rio Grande do Sul a prevalência foi de 3,31/10.000 no Rio Grande do Sul, 3,94/10.000 em Santa Catarina 3,94/10.000, no Paraná 4,32/10.000 e a estimativa de prevalência no total da Região Sul do Brasil foi de 3,85/10.000. O estudo possui os mesmos riscos de viés do estudo citado anteriormente, o que subestimou a totalidade dos casos e a real prevalência de TEA nos estados do Sul do Brasil.

Na tentativa de verificar sinais precoces de TEA em São Paulo, foi realizado um estudo com um total de 104 crianças. Foi verificado que 4 crianças do número total da amostra apresentavam sinais precoces de TEA com dificuldade na iniciação de atenção compartilhada e iniciação do comportamento de solicitação (18).

Considerando a importância epidemiológica do aumento de casos de TEA no mundo, esse artigo busca identificar se há um aumento da prevalência de TGD nas crianças matriculadas na Secretaria de Educação do Distrito Federal e, caso exista, discutir sobre as possíveis desta ocorrência.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa com natureza exploratória, com uso de dados secundários. A pesquisa exploratória caracteriza, classifica e define a problemática. É caracterizada pela utilização de métodos amplos e versáteis. É um bom modo para estimular a compreensão, gerar hipóteses e sugestões acerca do objeto de estudo (19).

Foi realizada uma análise comparativa e descritiva utilizando os dados do Censo Escolar do Distrito Federal. Os dados foram coletados do site da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), no dia 01/02/2018, outras informações foram solicitadas a Gerência de Disseminação de Informações, Estatísticas Educacionais e Publicações do Distrito Federal.

As tabelas utilizadas foram as de numeração 101, 201, 501 e 503 em relação aos alunos matriculados entre os anos de 2012-2017.

A amostra foi composta pelas tabelas que demostravam a quantidade de alunos matriculados na categoria da Educação Infantil (EI), Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e alunos especiais que enquadram os alunos com Deficiência Intelectual (DI), Deficiências Múltiplas (DM), Deficiência Física (DF), Deficiência Auditiva (DA), Deficiência Visual (DV), Altas Habilidades/Superdotação (AH/S) e Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), nos anos de 2012 a 2017. O total de matrícula dos alunos especiais foi resultante da somatória dos alunos matriculados em classe comum e em classe especial, assim como o total de alunos matriculados na EI foi resultante dos alunos matriculados na pré-escola e nas creches do Distrito Federal.

Após a coleta da amostra, os dados foram dispostos em planilhas eletrônicas do Microsoft Excel 2010®. Os dados selecionados constituíram os valores de referência para a construção de gráficos que correlacionaram os resultados do número de matrícula de cada categoria em números absolutos e em porcentagem. Para os cálculos, o valor absoluto de referências utilizado foram às matrículas de cada categoria, individualmente, do ano de 2012.

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O principal instrumento para coleta de informações da educação é o Censo Escolar. A aplicação é anual e coleta informações variadas, principalmente relacionadas às matrículas e a infraestrutura, das escolas brasileiras. Todos os níveis e modalidades de ensino estão envolvidos nesse processo. Os dados do Censo escolar do Distrito Federal (DF) são disponibilizados para a população. As pesquisas do Censo Escolar do DF são elaboradas a partir das próprias declarações dos diretores ou responsáveis pela escola, que são feitas no sistema online do Ministério da Educação (MEC), chamado Educacenso ou por um formulário impresso. Os resultados do Censo Escolar são fundamentais para a formulação e implementação de novos projetos na área da educação, no repasse de verbas e também serve de apoio para a elaboração de trabalhos científicos.

Observa-se que não foi necessária a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, visto que, o estudo não envolveu seres humanos e que a fonte de dados utilizada é de domínio público.

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RESULTADOS

Foram analisadas 20 tabelas referentes à matrícula de alunos (EI, Ensino Fundamental e Educação Especial) na SEDF, entre os anos de 2012 a 2017. A matrícula de alunos da Educação Especial estava subdividida em duas tabelas, a primeira contempla os alunos matriculados em salas especiais, a segunda contempla os alunos inseridos em classes comuns.

É importante salientar que os alunos especiais matriculados em salas comuns estão incluídos numericamente nas tabelas da EI e Ensino Fundamental, porém, por ser um número pequeno em relação ao número de matrículas de crianças hígidas esse fato não tem um grande valor estatístico que interfira no resultado final das análises.

Na análise referente ao número de matrículas por categoria especial observou-se que o número de matrículas de crianças com TGD aumentou substancialmente nos últimos cinco anos quando comparado ao número de matrículas de qualquer outra categoria. O aumento do número de matrículas de TGD subiu de 1133 em 2012, para 2319, no ano de 2017. A Tabela 1 representa a distribuição anual do número de matrículas das categorias especiais.

Tabela 1 – Número de matrículas por categoria especial de 2012-2017.

2012 2013 2014 2015 2016 2017

DV 563 392 383 374 399 404

DA 1418 1235 1172 1124 1064 996

DF 2749 1601 1574 1538 1554 1557

DI 7849 6466 6482 6424 6570 6593

DMU 1436 1604 1314 1713 1770 1799

AH/SD 516 542 448 422 458 600

TGD 1133 1321 1485 1705 1999 2319

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Legenda: TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento. DA – Deficiência Auditiva. DV – Deficiência Visual. DI – Deficiência Intelectual. DMU – Deficiência Motora. AH/SD- Altas Habilidades/Superdotação. DF- Deficiência Física.

Fonte: Dados do Censo Escolar da SEDF.

Diante dos dados expostos, a Figura 1 demonstra o crescimento constante no número de matrículas TGD em função dos anos. Pode-se notar que esta é a única categoria que cresce constantemente na mesma proporção e sem nenhuma queda ao longo dos anos.

Figura 1 - Gráfico referente ao número de matrículas por categoria especial de 2012-2017.

Fig. 1 – Gráfico referente ao número de matrículas por ano por deficiência e transtorno global do desenvolvimento na SEDF.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

2012 2013 2014 2015 2016 2017

TGD DA DV DI DMU AH/SD DF

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Legenda: TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento. DA – Deficiência Auditiva. DV – Deficiência Visual. DI – Deficiência Intelectual. DMU – Deficiência Motora. AH/SD- Altas Habilidades/Superdotação. DF- Deficiência Física.

Fonte: Dados do Censo Escolar da SEDF.

Na comparação do número de crianças matriculadas na EI e TGD, disposta na Tabela 2, pode-se notar que o crescimento do número de TGD também foi crescente e contínuo e chegou a aumentar 104,67% no ano de 2017 em relação a 2012, enquanto as matrículas na EI aumentaram 31,98%. Além disso, no ano de 2015 ouve uma redução do número de crianças matriculadas na EI em relação ao ano anterior, o que não aconteceu dentro da categoria de TGD.

Tabela 2 – Número de matrículas e aumento percentual por ano na categoria EI e TGD por ano em relação ao ano de 2012.

2012 2013 2014 2015 2016 2017

TGD 1133 1321

(16,59 %)

1485 (31,06%)

1705 (50,48%)

1999 (76,43 %)

2319 (104,67%)

EI 31.330 33.868

(8,10%)

35.209 (12,38%)

33.871 (8,11%)

38.897 (24,15%)

41.352 (31,98%) Fonte: Dados do Censo Escolar da SEDF.

A Figura 2 representa os gráficos referentes à porcentagem em função dos anos das matrículas de Ensino Fundamental, EI e TGD, considerando os todos os alunos matriculados incluindo os alunos especiais. Vê-se que o número de matrículas TGD vem crescendo substancialmente e se tornando proporcionalmente muito maior dentro do número de matrículas de EI e de Ensino Fundamental.

(15)

Figura 2 – Gráficos referentes ao aumento percentual do número de matrículas dentro da categoria Ensino Fundamental (1º ao 5º ano e 6º ao 9º ano ), EI e TGD em relação ao ano

de 2012.

Fig 2. Gráfico referente ao aumento percentual no número de matriculas no 1º ao 5º e 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, EI e de alunos matriculados dentro da categoria TGD em relação ao ano de 2012.

Legenda: EI – Educação Infantil (total geral de creche + pré-escola), TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento.

Fonte: Dados do Censo Escolar da SEDF.

Ao comparar os dados das matrículas do Ensino Fundamental, que foi dividido em 1º ao 5 º e 6º ao 9º ano com as matrículas de TGD notou-se que além do número de matrículas TGD estar aumentando, o número de matrículas do Ensino Fundamental está diminuindo, conforme observado no gráfico. Do ano 2012 ao ano de 2017 houve uma redução de 8,96%

das matrículas do 1º ao 5º ano e de 8,89% nas matrículas do 6º ao 9º ano, enquanto o aumento na categoria TGD foi de 104,67%. Esses dados estão dispostos na Tabela 3, que correlaciona às porcentagens das matrículas em um gráfico em função dos anos. Apesar de a categoria TGD estar inserida nas matriculas gerais do Ensino Fundamental, a proporção de matrículas de TGD vem aumentando em relação às matrículas gerais nas mesmas séries.

(16)

Tabela 3 - Número de matrículas e percentual de matrículas na categoria Ensino Fundamental 1º ao 5 ano, 6º ao 9º ano e TGD de 2012-2017.

2012 2013 2014 2015 2016 2017

TGD 1133 1321

16,59%

1485 31,06%

1705 50,48%

1999 76,43%

2319 104,67%

1º ao 5º 164.148 157.250 (-4,20)

154.792 -5,69%

150.184 -8,50%

148.069 -9,79%

149.438 -8,96%

6º ao 9º 142.831 139.356 -2,43%

136.809 -4,21%

135.079 -5,42%

131.628 -7,84%

130.130 -8,89%

Fonte: Dados do Censo Escolar da SEDF.

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DISCUSSÃO

Os dados recentes do censo escolar do Distrito Federal comprovam que existe um aumento substancial ao longo dos anos no número de matrículas de crianças com TGD, considerando a correlação entre as crianças com TDG segundo o CID-10 e TEA conforme DSM-V, pode-se dizer que existe um aumento de crianças com diagnóstico de TEA matriculadas na rede pública do Distrito Federal. Estudos epidemiológicos mostram que há um aumento na prevalência de TEA e que esse aumento nas últimas décadas atingiu cerca de 1-2% das crianças (16). No Brasil, apesar da escassez em estudos epidemiológicos sobre a prevalência de TEA, estima-se, no ano 2000, que haviam 600 mil pessoas autistas (20).

Pesquisas comprovam esse aumento em outras partes do mundo, como as realizadas pelo Center for Disease Control (CDC) que avaliam 11 estados dos Estados Unidos que fazem parte do The Autism and Developmental Disabilities Monitoring (ADDM). A primeira pesquisa disponibilizada pelo CDC foi no ano 2000, que chegou ao resultado de que uma em cada 150 crianças era autista, em 2008 os números chegaram a 1/88 crianças, em 2012 os resultados continuaram aumentando e chegou-se a conclusão que 1 em cada 68 crianças nos estados avaliados tinha o diagnóstico de autismo (14,15,21). Na pesquisa mais recente liberada pelo CDC, em 2018, os resultados mostraram que o número de crianças diagnosticadas com TEA continua aumentando expressivamente, foi comprovado que 1/59 crianças tem TEA (15).

Após os dados do CDC serem divulgados no ano de 2012, foi realizada uma pesquisa

(22)

no Reino Unido para atualizar os estudos iniciados na década de 1990 sobre prevalência e taxas de incidência de autismo para crianças de 8 anos entre os anos de 2004 e 2010. Foi utilizado um banco eletrônico único de dados médicos chamado General Practice Research Database (GPRD) que é utilizado desde 1990. O estudo demonstra que durante a década de 1990 houve um aumento de cinco vezes no número da população de crianças diagnosticadas

(18)

com autismo, mas que após os anos 2000 as taxas permanecem estáveis em cerca de 3,8/1000 no sexo masculino e de 0,8/1000 no sexo feminino.

Apesar de apresentar resultados conflitantes, existe um grande ponto em comum nos trabalhos realizados pelo CDC e o trabalho realizado no Reino Unido. Em ambos os trabalhos poucas crianças foram diagnosticadas com autismo antes dos anos 90 e a partir daí um grande número de crianças passou a ser diagnosticada (22). Isso pode ser explicado pela ampliação dos critérios diagnósticos para incluir uma criança dentro do TEA e também pelo aumento da conscientização da equipe médica e da população tendo em vista que houve um grande desenvolvimento dos meios de comunicação a partir desse período (7).

As mudanças nos padrões de critérios diagnósticos implicam diretamente no aumento da prevalência de TEA, fato comprovado no estudo realizado por King e Berman (7). Nos resultados desse estudo foi possível constatar que conforme mudam os critérios diagnósticos a proporção dos casos de DI concomitante com autismo aumenta, e que o número de casos de autismo puro aumentou com um ritmo mais acelerado que os casos de DI puro, isso quer dizer que uma quantidade maior de pessoas está sendo diagnosticada com TEA em relação aos diagnosticados com DI, conforme os critérios para diagnóstico são atualizados (7). Nos números do censo escolar do Distrito Federal é possível fazer essa relação, baseada nos dados, enquanto os números de matrículas de TEA vêm crescendo os números de matrícula de DI tiveram uma queda de 18,76% no ano de 2013 em relação a 2012 e mantém números de matrícula aproximados desde então.

Avaliar o efeito da comorbidade no diagnóstico e no aumento da prevalência do autismo, nas matrículas das escolas, que vem ocorrendo nos últimos anos, foi o objetivo de um estudo americano realizado por Polyak et al (23). Nesse estudo os autores analisaram os anos de 2000-2011 nas matriculas da educação especial em cerca de 6,2 milhões de crianças por ano. Nos resultados, verificou-se que a taxa de crianças autistas aumentou 331%,

(19)

enquanto a taxa de crianças com DI diminuiu 64,2%, resultado semelhante ao apresentado no presente estudo.

A etiopatogenia do autismo é teoricamente multifatorial, resultante de uma interação composta por fatores genéticos e ambientais (24). O impacto que as mudanças ambientais vêm causando nas alterações genéticas vem sendo estudado a fim de identificar as possíveis causas para o aumento do número nos diagnósticos de autismo pelo mundo (24). Apesar de existir associações com o autismo, ainda não existem conclusões definidas sobre a relação do autismo com os fatores ambientais estudados, como, poluição ambiental durante os períodos pré-natal, peri-natal e pós-natal (25-28), pesticidas agrícolas (29), pesticidas domésticos (30), desreguladores endócrinos (31) e poluição eletromagnética (32).

Esse aumento expressivo nas matrículas da Secretaria de Educação do DF de crianças diagnosticadas com TEA trás também questões de ordem prática para escola, como capacitação profissional, decisões em estudos de casos, práticas específicas em sala de aula para contemplar e melhor assistir esses discentes. Alguns estudos têm sido desenvolvidos nesse sentido e apesar de aumento do número de educandos com formação específica ter aumentado no Brasil na última década, Nunes et al (33) ainda chegaram a conclusão de que há um desconhecimento do espectro e as práticas pedagógicas específicas apresentam poucos impactos positivos no processo de aprendizagem dessas crianças.

De fato, o aumento do número de crianças com TEA vem ocorrendo e não há estudos suficientes no Brasil que demonstrem o motivo para isto estar ocorrendo. Saber ao certo como vem crescendo o número de diagnósticos é fundamental para que as políticas públicas enxerguem essa parcela da população e invistam em profissionais, centros de atendimento e escolas (34). Por esse motivo é necessário que sejam feitas mais pesquisas relacionadas à prevalência de autismo na população brasileira.

(20)

Este trabalho foi desenvolvido apenas com os dados das crianças que estão matriculadas na Secretaria de Educação do Distrito Federal, é importante notar que o número de crianças com TEA no Distrito Federal é muito maior do que o apresentado nos resultados considerando as crianças que estão matriculadas na rede privada e as crianças que não estão matriculadas em escolas.

(21)

CONCLUSÃO

A partir dos dados coletados nessa pesquisa foi possível comprovar que existiu um aumento exponencial no número de matrículas de crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento na Secretaria de Educação do Distrito Federal em relação aos anos de 2012 a 2017. Não existe ainda uma explicação para esse aumento, mas existem duas possíveis justificativas que seriam variáveis importantes para o disparo no número de matrículas na categoria TGD que são: ampliação dos critérios diagnósticos para o Transtorno do Espetro Autista com base no DSM-V e a conscientização do TEA tanto por parte dos profissionais de saúde quanto da população em geral ao longo dos últimos anos.

É necessário que além da realização de novos estudos a respeito da prevalência de TEA também sejam realizados estudos que sejam direcionados para a forma com que políticas públicas possam lidar com esse aumento. Questões como as melhores práticas nas escolas, nos hospitais e nos centros de atendimento para que os déficits interacionais, educacionais e comunicativos sejam reduzidos ou até mesmo suprimidos visando uma melhor qualidade de vida para essas crianças e para as suas famílias devem constar na pauta dos pesquisadores nacionais.

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REFÊRENCIAS

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