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O ALUNO BENEFICIÁRIO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR

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O ALUNO BENEFICIÁRIO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA

PERSPECTIVA DO PROFESSOR

Rita de Cássia Monteiro Soares1 Márcia Regina do Nascimento Sambugari2

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo analisar os motivos que levam alguns professores terem imagem negativa com relação ao Programa Bolsa Família (PBF). Tal escolha justifica-se pela presença de discursos de alguns professores que desaprovam o programa, rotulando os alunos como desinteressados, sem levar em consideração as privações que são impostas justamente pelas suas condições de pobreza. Diante dessa problemática algumas questões surgiram, tais como: o que leva o professor ter essa visão com relação ao PBF? Ele conhece o programa ou apenas acompanha seus alunos? Qual a visão desses professores com relação aos efeitos gerados pela pobreza? Quais as fragilidades e potencialidades do PBF na visão desses professores? Com uma abordagem qualitativa, o campo empírico desse estudo foi uma escola da rede estadual de ensino de Corumbá, MS, tendo como sujeitos três professoras que atuam no Ensino Fundamental e Médio. Como coleta de dados foi realizada entrevista com essas professoras. Com a análise dos dados verificou-se que as professoras não apresentaram posicionamento crítico a respeito da condição de pobreza e as consequências geradas pela desigualdade social. Na visão das professoras, o PBF contribui para sanar parte das necessidades econômicas das famílias, porém contribui pouco com o compromisso dos pais na educação dos filhos, pois o beneficio não possui exigência mais dura, ao considerar apenas a condição de pobreza das famílias. Contudo, numa visão geral, acreditam que o programa tem se mostrado importante para a superação da fome e da extrema pobreza no país. Tais análises evidenciam a necessidade de um conhecimento maior a respeito do programa

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Palavras-chave: Pobreza. Professores. Programa Bolsa Família.

1 INTRODUÇÃO

1Aluna do curso de Especialização Educação, pobreza, Desigualdades Sociais (EPDS). Graduada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professora da Educação Profissional pela Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul (SED). E-mail: ritamonteirosoares@hotmail.com

2Orientadora. Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora do Programa de Pós-graduação em Educação, nível Mestrado e do Curso de Pedagogia do Campus do Pantanal (CPAN) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: marcia.sambugari@ufms.br

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Trabalho de Conclusão de Curso 2 A situação de extrema pobreza do município de Corumbá, de acordo com o censo de IBGE de 2010 representa uma porcentagem de 5,5% do total da população corumbaense, dos quais 5.737 viviam com a renda domiciliar per capita abaixo de R$ 70,00. Sobre esse percentual, 952 que corresponde 16,6% viviam na zona rural e 4.784 corresponde 83,4% viviam no meio urbano. Ou seja, de 108.010 habitantes de Corumbá, 5.737 viviam em condições de precariedade na cidade, tentando sobreviver com a renda abaixo de R$ 70,00 (IBGE, 2010).

Em Corumbá, de acordo com os dados do censo de 2010 do IBGE, 523 crianças de 0 a 3 anos extremamente pobres não frequentava a creche, 193 crianças de 4 a 5 anos estavam fora da escola, 92 crianças e adolescentes de 6 a 14 anos permaneciam fora da escola e 102 adolescentes de 15 a 17 não estavam na escola. Esse último apresenta que jovens extremamente pobres necessita buscar trabalho para a sobrevivência da família e fica impossibilitado de continuar com os estudos (IBGE, 2010).

Com base nesses dados percebe-se o quanto a pobreza reflete na educação das pessoas que não possuem o acesso aos direitos básicos (educação, saúde, moradia, saneamento, entre outros.), pois precisamos nos atentar que as privações materiais é que impossibilitam o sujeito de ter uma vida digna e justa e não são responsáveis por sua pobreza e desemprego, conforme nos aponta Arroyo (2013).

Buscou-se com a presente pesquisa, identificar alguns indícios de falta de empatia de alguns profissionais da educação com alunos beneficiários, bem como compreender os motivos que os levam a se apropriarem desse discurso. Tal escolha justifica-se pela presença de discursos de alguns professores que desaprovam o Programa Bolsa Família (PBF) e os alunos mais carentes são ‘rotulados’ de desinteressados pelos estudos, sem levar em consideração as privações que são impostas justamente pelas suas condições de pobreza.

Diante dessa problemática algumas questões foram surgindo, tais como: o que leva o professor ter essa visão com relação ao PBF? Ele conhece o programa ou apenas acompanha seus alunos? Qual a visão desses professores com relação aos efeitos gerados pela pobreza? Quais as fragilidades e potencialidades do PBF na visão desses professores?

O objetivo geral consistiu em analisar os motivos que levam alguns professores a terem uma imagem negativa com relação ao aluno beneficiário do PBF. Como objetivos

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Trabalho de Conclusão de Curso 3 específicos investigou-se a visão dos professores acerca das potencialidades e fragilidades do PBF para a permanência dos alunos beneficiários na escola. Também buscou-se conhecer a visão dos professores acerca dos efeitos gerados pela pobreza.

Essa pesquisa está inserida no eixo ‘escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza’, do curso de especialização em educação, pobreza e desigualdade social. Focaliza as potencialidades e fragilidades do PBF a partir do olhar dos professores.

A realização de um estudo sobre o PBF é relevante por desvelar os impactos acerca da imagem negativa que os professores trazem dos beneficiários do PBF, provocando muitas vezes, falta de empatia com relação aos estudantes de baixa renda. Buscou-se, portanto, conhecer as condições dos estudantes beneficiários do PBF de uma escola da rede estadual de Mato Grosso do Sul em Corumbá-MS, bem como os motivos que os professores levam a considerar tais discursos a respeito desses alunos beneficiários. Espera-se que ao tornar acessíveis os conhecimentos e resultados desse estudo sirvam de referenciais às ações políticas relativas às questões da pobreza, educação e PBF.

O presente artigo está organizado em cinco partes, contando com a introdução e considerações finais. Na primeira parte consta uma breve discussão acerca do levantamento de estudos sobre o PBF. A terceira parte apresenta o percurso metodológico da pesquisa, explicitando cada etapa para a realização desse estudo. Na quarta parte são apresentadas as análises acerca da percepção das professoras, sujeitos da pesquisa. Para tanto, primeiramente há a descrição do perfil e em seguida a discussão sobre os motivos que levam os professores a terem uma visão negativa dos alunos beneficiários do PBF e se apropriarem de discursos prontos acerca do programa, buscou-se, inicialmente, identificar o posicionamento dos professores sobre os termos pobreza e desigualdade social. Por fim constam as considerações finais.

2 O PBF NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES

Neste trabalho foram adotados os seguintes procedimentos: levantamento bibliográfico e entrevistas semiestruturadas. A pesquisa é essencialmente qualitativa, descreve e interpreta as informações apuradas.

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Trabalho de Conclusão de Curso 4 O levantamento bibliográfico foi realizado no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no qual estão disponíveis informações de teses e dissertações defendidas com pesquisas realizadas nos últimos cinco anos (2011 a 2015) com os seguintes descritores: Aluno beneficiário, Professores, Programa Bolsa Família.

Foram encontrados muitos trabalhos entre teses e dissertações de Doutorados e Mestrados sobre a temática “Programa Bolsa Família”, no entanto foram localizados poucos estudos que mencionassem o professor. Apenas cinco pesquisas foram realizadas na área da Educação em Mestrado Acadêmico. Das cinco dissertações, apenas uma analisa a percepção dos professores sobre a importância do PBF para o enfrentamento da pobreza. Porém, nesse levantamento bibliográfico não há pesquisas que mencionam a perspectiva do professor com relação ao aluno beneficiário do PBF e os efeitos gerados pela pobreza que reflete na reprodução de discurso em torno do aluno beneficiário.

Ao levantar a bibliografia acerca da temática revelou-se uma insuficiência na exposição de estudos que envolvem os professores no desenho do PBF, sendo que por meio dos professores que é realizado o cumprimento da condicionalidade da frequência escolar.

Foram encontradas diversas produções acerca do PBF em variadas áreas de formação acadêmica, que estão disponíveis no Banco de Teses da CAPES nas seguintes áreas: Administração, Serviço Social, Psicologia, Economia, Nutrição, Extensão Rural, Sociologia, Saúde, História, Direito, Política, Geografia, Contabilidade, Gestão do Trabalho, Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Enfermagem, entre outras.

Ao analisar as abordagens tratadas sobre o PBF nota-se uma diversificação de temáticas apresentando as seguintes temáticas: erradicação da pobreza, gastos educacionais, desenvolvimento sócio econômico, impacto das políticas sociais, aspectos eleitorais, gênero e autonomia, percepção das beneficiárias, dos alunos e dos gestores, agricultura, desempenho educacional, acompanhamento nutricional, fecundidade, frequência escolar, emancipação, gestão política entre outros.

De acordo com o levantamento bibliográfico verificou-se que não há um número considerável de investigação e dados suficientes em torno da figura do professor com relação ao PBF e os seus alunos beneficiários. Isso se torna contraditório porque a política de

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Trabalho de Conclusão de Curso 5 transferência de renda está inserida na política educacional, que de fato ultrapassa o ambiente da sala de aula onde o docente atua.

O professor é o profissional que atua diretamente com os beneficiários do programa, o qual tem a função de realizar e controlar a frequência escolar. No entanto, não houve uma relação do programa em conjunto com o professor, em que pudesse haver uma contribuição do professor no PBF. Os professores inseridos na sala de aula demonstram não conhecer a importância do PBF e tende a reproduzir ou gerar discursos negativos em torno do programa e até mesmo em torno do seu próprio aluno beneficiário.

No desenho do programa, não está explícita a figura do professor, mas ele pode ser considerado uma figura importante se considerarmos a ideia de que é possível romper com o circulo vicioso da pobreza por meio da escola.

Por isso, a pesquisa foi investida no propósito de analisar os motivos que levam alguns professores a possuírem a imagem negativa do seu alunado beneficiário do PBF e quais são as fragilidades e potencialidades do PBF na visão dos professores para o enfrentamento da pobreza, ao reunir as informações da escola pública estadual de Corumbá.

De acordo com Oliveira (2015), o PBF foi implantado em 2004 com os objetivos de reduzir a pobreza de forma imediata mediante a transferência direta de renda; apoiar o desenvolvimento das capacidades da família por meio da integração com programas complementares que visam capacitar os adultos para sua inserção no mercado de trabalho com a intenção de romper com a situação de vulnerabilidade financeira; e, contribuir para a redução do circulo vicioso da pobreza entre as gerações através das condicionalidades do programa.

O PBF auxilia as famílias que sobrevivem no limite da sobrevivência e está sendo responsável no combate a extrema pobreza, como também promove o acesso à educação no país. Porém, o programa social recebe críticas por parte de alguns profissionais da educação que compreendem o programa como algo que acomoda as pessoas mais carentes a permanecerem nas mesmas situações e não são estimulados a trabalhar.

De acordo com Rego e Pinzani (2013), a pobreza é a carência de bens e serviços essenciais (como alimentação e moradia) a falta de recursos econômicos (renda e riqueza) e carência social, caracterizada pela exclusão social que favorece a discriminação e impossibilitam a inserção do individuo em alguns espaços, como os educacionais e os parlamentares.

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Trabalho de Conclusão de Curso 6 Para Oliveira (2015), o PBF busca aliar a política de transferência de renda às famílias com a garantia do direito à educação de crianças, jovens e adolescentes em situação de pobreza no Brasil. Gerou efeitos positivos na educação ao vincular o recebimento da bolsa à frequência escolar monitorada, ajudando a manter a escolarização dos filhos das famílias beneficiárias do programa. O programa tem se mostrado importante para a superação da fome e da extrema pobreza no país.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa contou, primeiramente com a revisão bibliográfica, a partir do levantamento de pesquisas realizadas nos últimos cinco anos (2011 a 2015) com os seguintes descritores: Programa Bolsa Família; professores e alunos beneficiários.

Com uma abordagem qualitativa, o campo empírico desse estudo foi uma escola da rede estadual de ensino de Corumbá, MS, por atender uma grande parcela dos alunos residentes de um conjunto habitacional construído pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e as casas entregues às famílias de baixa renda e beneficiarias de programas sociais. Contudo, as casas foram entregues sem infraestrutura necessária, pois não conta com drenagem, pavimentação asfáltica, unidade de saúde, escola e creche, denotando precariedade ou ausência de políticas públicas nessas áreas.

Os sujeitos da pesquisa, inicialmente seriam três professores do quadro efetivo com atuação no Ensino Fundamental e Médio dessa escola e que quisessem participar da pesquisa, sendo um do Fundamental I, um do Fundamental II e um do Ensino Médio, a fim de se ter uma visão dos professores nos diferentes níveis de ensino. No entanto, não foi possível atender esses critérios, pois fui informada pela coordenação que havia somente três professores efetivos na escola. Consegui contatar somente um professor efetivo que não aceitou participar da pesquisa. Portanto, a pesquisa seguiu com as entrevistas de professores contratados nessa unidade escolar.

Para acesso aos sujeitos, esse estudo contou com a carta de autorização à direção da escola solicitando permissão para contato com os professores que desejarem participar (Apêndice A).

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Trabalho de Conclusão de Curso 7 Como procedimentos para coleta de dados foi utilizada a entrevista com roteiro semiestruturado com questões fechadas sobre a formação e atuação dos sujeitos e questões abertas referentes ao tema (Apêndice B).

Os dados coletados foram gravados e transcritos, com a autorização dos entrevistados por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e esclarecido TCLE (Apêndice C). As entrevistas ocorreram após a leitura e a explicação TCLE para os professores que aceitaram participar, enfatizando o caráter voluntário como fator de inclusão na pesquisa. Para a realização das entrevistas, houve dificuldades no início para encontrar professores contratados que quisessem realizar a entrevista, houve recusas de alguns quando foram abordados, demonstrando receio em opinar. Foi por intermédio de uma amiga aos professores que, enfim, consegui realizar as entrevistas.

A análise deu-se por meio do diálogo com autores que abordam essa temática e com as pesquisas localizadas no levantamento bibliográfico.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O professor é o profissional que lida diretamente com os alunos e também exerce a função de realizar a frequência escolar. Uma das condicionalidades do PBF é o cumprimento da frequência escolar para manutenção do programa. A seguir consta a apresentação dos sujeitos da pesquisa, bem como as análises referentes às percepções dos professores sobre o PBF, apontando suas potencialidades e fragilidades.

4.1 PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Nessa primeira parte da pesquisa, buscou-se analisar o perfil dos sujeitos da pesquisa que foram três professoras, identificadas nesse estudo com os seguintes nomes fictícios para manter o anonimato: professora Madalena (Ensino Fundamental I); professora Sebastiana (Ensino Fundamental II) e professora Camila (Ensino Médio).

Conforme verifica-se no Quadro 01, com idades variando entre trinta e nove e quarenta e quarenta cinco anos, nota-se que das professoras não há quem tenha menos de trinta anos e como não há com mais de 50 anos. A professora Madalena possui 39 anos, a professora Sebastiana 40 e a professora Camila 45 anos de idade.

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Trabalho de Conclusão de Curso 8 Com relação à formação profissional, todas informaram ter Ensino Superior, com diferentes formações acadêmicas por universidades públicas ou privadas, tendo apenas uma que possui curso de especialização na área de educação.

Quanto à atuação profissional, as três professoras são contratadas na escola, tendo duas que lecionam há mais de seis anos e uma apenas um ano nesta mesma unidade escolar. A professora Madalena leciona há cinco anos na mesma escola e atua no Ensino Fundamental I (1° ao 5° ano). A professora Sebastiana leciona há sete anos como professora contratada na mesma escola e atua no Ensino Fundamental II (6° ao 9°ano). A professora Camila leciona somente um ano na escola e atua no Ensino Médio. Todas moram na mesma cidade em que lecionam.

Quadro 01: Perfil dos sujeitos da pesquisa Sujeitos

Descritores Madalena Sebastiana Camila

Idade 39 40 45

Nível Superior Pedagogia Matemática História

Tempo de formação 08 10 02

Pós-graduação (Especialização) Gestão escolar EJA

Não possui Não possui Nível de ensino de atuação Fundamental I Fundamental II Ensino Médio Tempo de atuação docente na

mesma escola

5 anos 7 anos 1 ano

Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora, 2016.

De acordo com o quadro verifica-se que a professora Madalena possui oito anos de formação em Pedagogia e tem dois cursos de especialização, sendo um em Gestão escolar e o outro em Educação de Jovens e Adultos (EJA). A professora Sebastiana é formada há dez anos em Matemática e não possui curso de especialização. Já a professora Camila é formada há dois anos em História e também não possui curso de especialização.

4.2 PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE O PBF

A fim de compreender os motivos que levam os professores a terem uma visão negativa dos alunos beneficiários do PBF e se apropriarem de discursos prontos acerca do programa, buscou-se, inicialmente, identificar o posicionamento dos professores sobre os termos pobreza e desigualdade social.

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Trabalho de Conclusão de Curso 9 Ao analisar a visão das professoras sobre pobreza e desigualdade social verificou-se que possuem a ideia de pobreza como falta de condição financeira e a desigualdade social como uma divisão de classes entre pessoas que possuem mais condições financeiras e outras que possuem menos. No entanto, elas não apresentaram um posicionamento crítico a respeito da condição de pobreza e as conseguências geradas pela desigualdade social.

Pobreza é a situação financeira que a população se encontra hoje. E desigualdade social é quando uma determinada classe tem mais beneficio do que outra, por exemplo, o que você observa hoje em dia? Pessoas que tem mais condição são pessoas mais beneficiadas pelo governo e pessoas com menos condição são mais prejudicadas e afetadas principalmente hoje com essa crise. É isso que eu vejo (Professora Sebastiana. Entrevista, 2016). Então, eu acho que deve ter uma diferença entre teoria e prática, a pobreza aos olhos de uma grande maioria que enxerga a pobreza apenas como aquele que não tem condições financeiras, mas eu acho que a pobreza vai, além disso, a pobreza não é só ter condição financeira de comprar alguma coisa, existe pobreza cultural, existe pobreza digital, a pobreza é um termo muito amplo que a gente precisa olhar com outros olhos. E desigualdade social grosso modo é o rico e o pobre, não tem outro termo, uns pode mais, outros pode menos, e grande maioria pode muito menos (Professora Madalena.

Entrevista, 2016).

Pobreza em minha opinião significa situação de carência de condições para suprir as necessidades básicas relacionadas não só a alimentação, mas a saúde, transporte, segurança, educação, lazer, etc. Podemos dizer que a pobreza está intrinsecamente ligada à desigualdade social, visto que esta pode ser considerada a geradora da pobreza. Na minha visão, a desigualdade social é um conjunto de fatores que normalmente são provocadas pela má distribuição de renda na tentativa de minimizar a pobreza causada pela desigualdade social (Professora Camila. Entrevista,

2016).

As professoras, ao serem indagadas acerca da atenção do professor com os alunos mais carentes percebeu-se que a má condição financeira do aluno não é prioridade para receber mais atenção do professor, mas sim há necessidade de receber mais atenção dos pais e mais presença dos pais na escola. A carência financeira de um aluno não o torna diferente dos demais.

Na perspectiva das professoras, a maior preocupação dos pais beneficiários do PBF está centrada no medo de perder o benefício, e não em buscar maneiras que possibilite superar o círculo vicioso da pobreza. De um lado elas estão convencidas de que os alunos, depois que passaram a receber o benefício permaneceram mais tempo na escola. Por outro lado, afirmam

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Trabalho de Conclusão de Curso 10 que a permanência na escola não é o suficiente para aprendizagem, uma vez que não percebem o interesse efetivo dos alunos com as atividades escolares. Os alunos se demonstram desmotivados com os estudos e sem perspectivas de melhoria de vida.

O comprometimento com a frequência na escola fica por conta da pressão dos pais que temem perder o benefício, pois essa é a única fonte de renda para algumas famílias. Com isso, o PBF tem um significado vital para os pais o que os levam a zelar pelas exigências do PBF para garantir a manutenção do programa. Conforme destacam os entrevistados, os alunos beneficiários não faltam à escola nem em dias de chuvas e frios, pois os pais temem perder o beneficio.

As professoras enfatizaram muitas vezes na entrevista que o PBF tem contribuído para sanar parte das necessidades econômicas das famílias, porém pouco ou quase nada tem contribuído com o compromisso dos pais com a educação dos filhos. Para elas, o PBF tem contribuído no enfrentamento da pobreza auxiliando no custeio da família dos alunos, mas ao mesmo tempo não concordam com os critérios adotados pelo programa para o recebimento do auxílio, pois o beneficio não possui exigência mais dura, mas somente considera a condição de pobreza das famílias.

Para os profissionais da educação o PBF não exige o acompanhamento dos pais na escola, pois compreendem que o programa ajudaria mais se houvesse mais a exigência da presença dos pais na escola e não somente a cobrança de frequência dos alunos, conforme podemos verificar no relato da professora Madalena, a seguir:

Só a assiduidade e nada mais. Os alunos são despejados aqui, às vezes até quando está frio e chovendo os alunos chegam molhados aqui para não ter falta, por duas questões: a questão da bolsa família e a segunda é repassar às responsabilidades de pais a escola, os alunos não são cuidados em casa, eles são cuidados na escola, porque quanto mais tempo que eles fiquem aqui na escola é melhor para os pais em todos os sentidos (Professora Madalena.

Entrevista, 2016).

As professoras afirmam que a ausência dos pais na vida escolar dos alunos beneficiário se resulta no mau desempenho escolar. No entanto, de um lado, em nenhum momento da entrevista elas colocaram em questionamento a condição de precariedade de vida dos alunos e a consideração de que talvez o baixo desempenho escolar e a desmotivação estivessem associados justamente pela falta de boas condições de vida. Por outro lado, elas acreditam no ingresso dos alunos beneficiários em universidades públicas, pois afirmam que

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Trabalho de Conclusão de Curso 11 possuem também alunos com bom desempenho escolar e que demonstram o interesse de reverter à situação de carência por meio do estudo. Mas, desde que haja o efetivo comprometimento da família na vida escolar e novas formas de critérios e exigências do PBF para a educação.

Acredito sim, nós temos excelentes alunos, assim como temos alunos desinteressados temos alunos muito interessados, alunos que querem reverter essa situação que se encontra hoje de carente para uma situação muito melhor, temos alunos muito bom mesmo, mas precisa de estimulo para não se perder porque a gente encontra vários tipos de criação então a gente precisa estimular, não só nós, mas a família também para ele não se perder nesse meio (Professora Sebastiana. Entrevista 2016).

Olha a gente não pode generalizar. Eu não sei nem se há alguma pesquisa nessa área, mas assim como a bolsa família, a questão das cotas também precisa ser revista eu acredito na educação de qualidade na analise do currículo, eu acho que todo aluno deveria ter direito de ingressar na faculdade se ele tivesse um currículo analisado, se os pais deles tivessem sido presentes na escola, se ele foi comprometido, se família fosse um grupo comprometido com a escola, eu acho que nesse sentido sim, agora colocar o aluno lá dentro da universidade porque ele tem direito, porque ele estudou a vida inteira na escola publica, porque a família dele não tem renda, também não resolve o problema a gente tem que se preocupar em qualificar os alunos e não somente em certificar (Professora Madalena. Entrevista 2016).

Sim, eu acredito desde que haja interesse do aluno em estudar, dos responsáveis em encaminhar essa criança e do acolhimento da escola, acredito que seja uma união de fatores que podem contribuir para o ingresso desse jovem nas universidades (Professora Camila. Entrevista, 2016). Alguns professores têm a visão de que os alunos se sintam obrigados a vir para a escola, por conta da imposição de certos pais que na maioria das vezes obriga a ir à escola, para manter o mínimo de percentual de frequência, a fim de assegurar o beneficio do programa. Também acredito até que alguns alunos sofram atos punitivos de seus pais ou responsáveis caso estes não atinjam mínimo de percentual de freqüência. (Professora Camila. Entrevista, 2016).

Ao indagar as professoras acerca do que elas sabem sobre o desenho do PBF, todas afirmaram ter pouca informação sobre o programa e demonstraram certa ignorância e falta do conhecimento em relação ao programa. A percepção que prevalece na visão dos professores a respeito do PBF é sustentada no discurso comum de ser ouvido em qualquer círculo de pessoas, de que o programa ajuda as pessoas de baixa renda a se conformarem com a situação de pobreza

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Trabalho de Conclusão de Curso 12 e não recebem o estímulo para trabalhar. Contudo, se contradizem ao afirmarem que o valor da bolsa é quase irrisório e que não é suficiente para custear uma boa condição de vida.

Com relação ao número exato de aluno beneficiário dentro da sala as professoras não souberam responder com segurança, por não terem conhecimento do número certo de alunos que são beneficiários do PBF, mas afirmaram que quase a totalidade das suas salas de aulas tem muitos beneficiários, por conta da escola atender na maioria alunos de baixa renda.

Ao serem questionadas sobre a “rotulação” dos alunos beneficiários, como desinteressados pelo estudo, as professoras afirmaram que, por conta do contato direto com esses alunos diariamente, os professores conhecem mais realidade dentro da sala e notam que o desinteresse, a desmotivação, a agressividade e violência estão presentes na sala de aula.

Para as professoras, as responsabilidades dos pais não estão sendo cumpridas e estão sendo transferidas para os professores. Acreditam que a desmotivação e o desinteresse são desencadeados pela falta da cobrança e presença dos pais na escola. Elas não colocaram em questionamento a causa da ausência dos pais na escola, acreditam na falta de vontade dos pais de acompanhar os filhos na escola.

As professoras compreendem que somente a permanência dos alunos na escola não resulta emmelhoria e efetiva aprendizagem escolar, uma vez que não há interesse dos alunos em estudar e os pais são responsabilizados em não estimular e mostrar a importância da escola na vida dos filhos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa se propôs a analisar os pontos de vista dos professores em relação aos alunos beneficiários do PBF, como forma de possibilitar a permanência dos alunos na escola e favorecer o enfrentamento da pobreza por meio da exigência da freqüência mínima escolar. Então, houve a necessidade de ouvir o professor, por ser o sujeito importante que desenvolve o papel de realizar o controle da freqüência escolar onde cumpre a condicionalidade do PBF. Com a realização desse estudo foi possível verificar que as professoras não têm o conhecimento do PBF, pois não estão envolvidas no funcionamento do programa, no qual faz com que se apropriarem de discursos prontos e estereotipados em relação ao programa e aos seus participantes. Constatou-se que nenhumas das professoras entrevistadas sabem com

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Trabalho de Conclusão de Curso 13 exatidão o número certo de alunos beneficiários dentro de suas salas de aula, mas informaram que tem conhecimento da existência desses alunos.

De acordo com Flores (2015), os professores estão alheios ao programa e evidenciam uma ausência do tema no ambiente de trabalho. Nas escolas não há espaço ou tempo dedicado à discussão, pois as informações que chegam aos professores são aleatórias e pouco concisas por não haver canal institucionalizado.

Durante as entrevistas as professoras enfatizaram muitas vezes que somente a exigência da frequência escolar não resulta no efetivo aprendizado do aluno beneficiário, por conta dos alunos não demonstrarem motivação nos estudos e por acreditarem que os pais desses alunos beneficiários não têm interesses na vida escolar dos seus filhos.

Cabe ressaltar, que uma das condicionalidades do programa na área de educação é garantir a frequência escolar de no mínimo 85% da carga horária mensal do ano letivo, informando sempre à escola em casos de impossibilidade do comparecimento do aluno à aula e apresentando a devida justificativa. (BRASIL, 2004)

As professoras reconhecem que o PBF tem tido um papel importante para o enfrentamento da pobreza, mas que precisa adotar novos critérios para o recebimento do auxílio, como mencionaram várias vezes na entrevista, a presença dos pais na escola seria fundamental para contribuir na efetiva aprendizagem desses alunos. No entanto, em nenhum momento da entrevista as professoras questionaram os motivos que ocasionam a ausência dos pais na escola.

A pobreza não foi questionada pelos professores como um fator que reflete no mau desempenho escolar e na falta de estímulo, pelo fato de que as crianças e adolescentes que não têm acesso aos elementos básicos que garante a sua sobrevivência e dignidade, não conseguem desenvolver um bom desempenho na aprendizagem e garantir sua permanência na escola.

Segundo Corrêa (2012), não se pode restringir a concepção de pobreza exclusivamente como falta ou insuficiência de renda, mas uma ausência de escolhas e oportunidades básicas para o desenvolvimento da vida humana. A falta de empatia do profissional da educação com os alunos mais carentes é gerada pela falta do senso crítico aos efeitos ocasionados pela pobreza em que remete ao aluno carente a responsabilização de sua própria condição de pobreza e culpado pelo seu mau desempenho escolar e desmotivação com os estudos.

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Trabalho de Conclusão de Curso 14 O PBF tem se mostrado muito importante para o enfretamento da pobreza, auxiliando na sobrevivência de famílias carentes. Por isso, conforme destaca a autora, a integração do professor com o PBF se torna imprescindível para que o professor possa contribuir para o funcionamento do programa. O profissional da educação é o sujeito que atua diretamente com os alunos beneficiários que exerce a função do controle das frequências e conhece verdadeiramente a realidade de uma sala de aula. E com isso, o professor precisa ser inserido nas discussões, bem como, ser envolvido no funcionamento do programa.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel Gonzalez. Os coletivos empobrecidos repolitizam os currículos. In: SACRISTÁN, José Gimeno (Org.). Saberes e Incertezas sobre o Currículo. Porto Alegre: Penso 2013, p. 108-125.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento social. Portaria interministerial n. 3789, de 17 de novembro de 2004. Estabelece atribuições e normas para o cumprimento da

Condicionalidade da Frequência Escolar no Programa Bolsa Família. Diário Oficial da União, 2004. Disponível em: < https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/62655- estabelece-atribuiues-e-normas-para-o-cumprimento-da-condicionalidade-da-frequuncia-escolar-no-programa-bolsa-famulia.html>. Acesso em 20 jun. 2016.

FLORES, Daniela Fernanda. A gente não tem noção: pontos de vista de professores de uma escola pública de Campinas (SP) em relação ao Programa Bolsa Família. 127p. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2015. Disponível em: <

http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_arquivos/3/TDE-2015-05-15T085046Z-1931/Publico/DANIELA%20FERNANDA%20FLORES.pdf>.

Acesso em 20 jun. 2016.

CORRÊA, Juciani Severo. As contribuições do programa bolsa família: inclusão e

permanência escolar. SEMINÁRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, 9. Caxias do Sul, RS: UCS, PR, p. 01-14, 2012. Disponível

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). IBGE Cidades. Censo demográfico. Brasília, 2010.

OLIVEIRA, Roberta Rezende. As condicionalidades de educação do programa bolsa família: percepções da comunidade escolar em um município de pequeno porte. XII CONGRESSO NACIONAL DA EDUCAÇÃO, EDUCERE, 12. Formação de professores, complexidade e trabalho docente. Curitiba: PUC, PR, p. 13775-13792, 2015. Disponível

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Trabalho de Conclusão de Curso 15 em:<http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/19523_9762.pdf >. Acesso em 20 jun. 2016.

REGO, Walquiria Leão; PINZANI, Alessandro. Vozes do bolsa família: autonomia, dinheiro e cidadania. São Paulo: UNESP, 2013.

Referências

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