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Resumo. Os autores agradecem ao CNPQ e a CAPES pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa. 2

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ARRANJOS DOMICILIARES E MIGRAÇÃO NAS REGIÕES METROPOLITANAS DE CAMPINAS E DA

BAIXADA SANTISTA

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Luiz Antônio Chaves de Farias2 Vinícius de Souza Maia3

Resumo

O presente estudo visa produzir uma leitura da dimensão familiar da migração nas Regiões Metropolitanas de Campinas (RMC) e Baixada Santista (RMBS) nos 2000.

Sabe-se que num contexto populacional de baixas taxas de fecundidade e redução do volume da migração de longa distância, a migração de curta distância ou mobilidade residencial se coloca com a principal força sociodemográfica que explica a dinâmica populacional e de redistribuição espacial da população nas grandes metrópoles brasileira (MARTINE, 1994; CUNHA, 2015). No estado de São Paulo, especialmente, tal processo de metropolização ganha contornos específicos, em virtude do espraiamento geográfico do mesmo, no âmbito de formação da macrometrópole paulista (LENCIONI, 2011). Tendo a Região Metropolitana São Paulo como sua principal centralidade, a RMC e a RMBS emergem como os principais espaços metropolitanos de articulação regional no interior, recebendo grandes fluxos migratórios que, apesar de terem uma escala regional, possuem atributos sociodemográficos semelhantes aos de curta de distância (OLIVEIRA, 2009; CUNHA et al. 2013; SILVA 2018). Dentre as características mais importantes, encontra-se a sua dimensão familiar, a qual, em muito pode explicar seus condicionantes e seletividades, comparativamente, tanto a quem não migra, migra internamente a RM ou migra de longa distância. De fato, a dinâmica seguida pelos arranjos domésticos na atualidade pode em muito ser elucidativa dos movimentos que se registram dentro ou entre os espaços metropolitanos, já que o aumento da fragmentação das famílias, dissolução dos casamentos e recasamentos, em muitos casos, impõe a mudança de domicílios, sem que necessariamente os indivíduos mudem seu espaço de vida dentro da metrópole. Da mesma forma, a fase do seu

1 Os autores agradecem ao CNPQ e a CAPES pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa.

2 Pós-Doutorando em Demografia pelo NEPO/UNICAMP. Doutor em Demografia pelo IFCH/UNICAMP. E-mail: fariasax@uol.com.br.

3 Mestrando em Demografia pelo IFCH/UNICAMP. Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP. E-mail: viniciusmaia108@gmail.com

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curso/ciclo de vida individual ou familiar pode em muito se relacionar com sua propensão a se mover sozinho ou com sua família (GEIST e MCMANUS, 2008), a depender dos incentivos e constrangimentos à migração determinados por questões estruturais relacionadas à dinâmica do mercado de terras ou de trabalho, como também, os desiquilíbrios econômicos regionais (CUNHA, 1994). É, pois, com o intuito de tratar dessas questões que se empreende o presente trabalho, para isso, utilizar-se-á como fonte de dados os Censos Demográfico de 2000 e 2010, buscando relacionar os arranjos familiares com as modalidades migratórias a serem consideradas enquanto categorias de análise: intrametropolitana, intramacrometropolitanos (entre as RMs que conformam a macrometrópole paulista), intraestadual e interestadual. Nossa hipótese é que entre as diversas modalidades migratórias observadas, a migração de caráter intrametropolitano tende a ter um caráter mais familiar em comparação com as demais, o que ressalta o peso da dinâmica do mercado de terras e moradias como condicionante principais desse tipo de movimento. Nossos resultados, para o caso dos movimentos de curta distância, mostram que os membros dos arranjos tendem a ter a mesma origem nos movimentos, o que reforça a hipótese de atributo familiar da migração. Importante também ressaltar que essa característica também aparece nos movimentos entre as RMs da macrometrópole paulista.

Palavras-chave: migração interna; Região Metropolitana de Campinas (SP);

Região Metropolitana da Baixada Santista; arranjos domiciliares

1 - Introdução

A migração de curta distância se coloca enquanto uma das forças sociais mais importantes no processo de estruturação das aglomerações urbanas de caráter metropolitano no Brasil. Com as tendências de queda e convergência nas taxas de fecundidade e migratórias de longa distância, realidades patentes às metrópoles nacionais até a década de 1980 (MARTINE, 1994), o processo de redistribuição da população e ocupação das Regiões Metropolitanas (RMs) passa ser capitaneado pelos fluxos migratórios com orientação centrífuga (centro-periferia) (CUNHA, 2011).

Mais do que isso, no caso específico de São Paulo, observa-se um transbordamento do processo de metropolização para além da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), formando um complexo de áreas metropolitanas que conformam

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uma única unidade região, chamada de Macrometrópole Paulista (MMP) (SOUZA, 1978; MOURA, 2009). Neste caso específico, a reestruturação produtiva atua como o macroprocesso estrutural que explica a tônica da urbanização dispersa vigente, caracterizada pelo espraiamento das atividades econômica e produtivas para além das deseconomias de aglomeração da metrópole paulistana (OLIVEIRA, 2009).

Nesse contexto, a Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) e a Região Metropolitana de Campinas (RMC) emergem enquanto um dos principais espaços onde tal dinâmica de expansão metropolitana ampliada ocorre (FARIAS, 2018; CUNHA e FALCÃO, 2017). Mais do que isso, observa-se o estabelecimento de vínculos de natureza metropolitana entre tais RMs e a RMSP (SILVA, CUNHA, ORTEGA, 2017).

Assim como, para o âmbito metropolitano, mais uma vez os fluxos migratórios assumem papel estruturante para a ocorrência de tal processo, além dos fluxos pendulares enquanto contrapartida socioespacial aos mesmos (SILVA, 2018).

Cabe ressaltar que não somente macroprocessos econômicos, como a reestruturação produtiva, justificam as novas dinâmicas de urbanização descritas nos parágrafos anteriores. Outros processos de natureza sociodemográfica, como a dinâmica de formação, consolidação, fragmentação e dissolução das famílias também atuam como importantes condicionantes dos fluxos migratórios e dos processos de ocupação metropolitana colocados em questão (GEIST e MCMANUS, 2008). Isso porque, frequentemente, a dinâmica considerada representa mudança de domicílios dentro da metrópole, ainda que não se mude o espaço de vida dos indivíduos que o realizam.

Nesse caso, o processo de escolha do local de residência é limitado por uma estrutura de incentivos e constrangimentos à migração moldada por um mercado de terras e de trabalho metropolitano (CUNHA, 1994).

Enfim, a dimensão familiar dos fluxos migratórios que se destinam e estruturam o processo de ocupação das metrópoles brasileiras ainda parece carecer de análises mais aprofundadas de sua maior ou menor relação com as diferentes modalidades migratórias consideradas e mesmo de seu papel como condicionante dos movimentos em questão.

Nesse sentido, justifica-se o empreendimento do presente estudo, o qual visa produzir uma leitura da dimensão familiar da migração, em contexto bem peculiar em termos de urbanização conforme enunciado anteriormente, como RMC e RMBS nos 2000.

Para tal, em primeiro momento, apresenta-se como e por que se formou a MMP paulista, e de fato, o que é esta unidade urbana-regional, além do papel da RMBS e da RMC, neste contexto. Em seguida, discutem-se as relações entre migração, arranjos

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domiciliares e processo de ocupação das metrópoles. Posteriormente, são analisados os processos de redistribuição espacial da população nas RMs em questão, com destaque para o peso da migração em cada um. Por fim, são apreciadas as dimensões familiares da migração tanto na metrópole Campineira quanto Baixada Santista, considerando as diferentes modalidades que se vinculam os fluxos, como também, a que parte da estrutura metropolitana que os mesmos se destinam.

2 - O processo de metropolização estendida no Estado de São Paulo

Até a década de 1970, o processo de urbanização/metropolização no mundo e no Brasil é marcado pela lógica fordista, baseada na verticalização do processo produtivo, que nas metrópoles é marcado pela reunião em um só lugar das condições gerais de produção, como concentração do mercado de trabalho, insumo produtivos e mercado consumidor. Em consequência, observou-se a formação de grandes manchas urbanas, caracterizadas pela contiguidade socioespacial dos processos de ocupação (ASCHER, 1998).

De acordo com o autor supracitado, transformações significativas das formas assumidas pelas aglomerações metropolitanas passam a ser observadas a partir dos anos 1970 e, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990.

No que toca às transformações físicas, a “mancha urbana” das metrópoles alargou-se e os territórios metropolitanos estenderam-se progressivamente às periferias, diminuindo a densidade média das aglomerações. [...] A isto acrescenta-se a integração, no sistema de funcionamento quotidiano das metrópoles e das cidades, de aglomerados e de aldeias periféricas, às vezes, de novas urbanizações (habitação ou emprego) bastante asfaltadas, aumentando a descontinuidade dos espaços metropolitanos. As metrópoles estão, assim e ao mesmo tempo, mais diluídas e mais compactas, mais integradas e mais descontínuas (ASCHER,1998. p. 9).

De fato, essas mudanças não se resumem apenas às formas assumidas pelas metrópoles, remontando antes disso às transformações nas estruturas em que as mesmas estão inscritas. Tais modificações das principais aglomerações urbano-metropolitanas se inscrevem num processo geral de mudanças na base produtiva do sistema capitalista que entrou em curso a partir dos anos 1970.

Nesse sentido, a reestruturação produtiva, analisada por Harvey (1993) e por Benko (1996), como regime de acumulação flexível, e por Soja (1993), como especialização flexível, apresenta-se como resultado e condicionante da emergência de uma nova fase do padrão de acumulação capitalista em escala global. Ribeiro (2009, p.126) resume esse processo geral de reestruturação do capitalismo, segundo três

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dimensões básicas: mudanças nas relações de produção e trabalho (reestruturação produtiva); a ampliação e diversificação dos sistemas de modalidade de bens, serviços e pessoas e as mudanças de padrões de consumo com ampliação e densificação dos mercados”.

Nesse contexto, o grande capital geral representado pela metrópole fordista torna-se um entrave à acumulação de capital, tanto por parte dos setores de atividade econômica que assumem a hegemonia do sistema, terciário superior e quaternário, quanto pelos setores industriais, que veem suas margens de lucro caírem diante das deseconomias de aglomeração criadas pela densificação da ocupação das metrópoles.

Exigem-se mudanças na estrutura desses espaços, uma vez que, segundo Soja (1993), a ordem estrutural vigente já se encontrava suficientemente esgarçada demandando, para além de remendos adaptativos que já não se mostravam mais suficientes, uma expressiva mudança estrutural, isto é, uma reestruturação.

Enquanto resultado na forma e função associadas às estruturas metropolitanas diante dessa nova conjuntura para o sistema de acumulação vigente, encontram-se as tendências de concentração geográfica dos referidos setores hegemônicos, produzindo verdadeiros “espaços de globalização” nos núcleos metropolitanos. Por outro lado, a dispersão dos setores produtivos tradicionais para além das conturbações metropolitanas induz uma urbanização mais espraiada.

Se a estrutura e funções dos espaços circunscritos pelas grandes aglomerações urbanas mudam diante do novo contexto discutido nos parágrafos anteriores, as formas a que estão associadas também se alteram, redefinindo os sentidos do que se define como metrópole, e do processo a que se encontra vinculado, a metropolização. De fato, o que se vê é um descolamento entre o processo a que se chama de metropolização e a forma a que tradicionalmente se encontra associado, a metrópole. Leresche (1995) (apud Moura 2009) corrobora essa visão ao observar que o processo de metropolização, dada sua característica de inversão da relação estrutura/dinâmica da hierarquia urbana, revela-se mais importante que sua configuração espacial ou sua morfologia.

Assim sendo, conforme ressalta Ascher (1998), a metropolização coloca-se, pois, com um fenômeno que ultrapassa as metrópoles, não se restringindo ao crescimento e à multiplicação das grandes aglomerações, mas também, à progressiva concentração de populações, das atividades e das riquezas no seu interior. Assim:

A noção de metrópole que utilizamos até o presente para descrever estas grandes aglomerações parece assim inadaptada para qualificar este novo tipo

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de espaço; por um lado, porque esse conceito evoca mais o caso de uma grande cidade que assume as funções mais elevadas na hierarquia urbana regional, por outro, porque não introduz, nem a idéia de uma nova estruturação dos espaços urbanos, nem a formação de um novo espaço de funcionamento cotidiano de atividades econômicas e sociais. (ASCHER, 1998. p.16).

O exemplo mais ilustrativo dessa nova dinâmica urbana nacional é a

“Macrometrópole Paulista” (SOUZA, 1978), assim definida pela Emplasa (2012). Ela é composta por 168 municípios distribuídos entre as quatro Regiões Metropolitanas oficiais do Estado de São Paulo, além daqueles situados nas áreas de influência de Piracicaba, Sorocaba, Jundiaí, São Roque e Bragança Paulista4.

A chamada “Macrometrópole Paulista” ocupava, segundo dados de Cunha et al.

(2013), 20% do território do Estado de São Paulo e possuía 30 milhões de habitantes em 2010, representativos de cerca de 73% da população estadual. Além disso, em termos econômicos, é responsável por 83% da riqueza gerada no estado e por 28% do total produzido no país.

Segundo Lencioni (2015), sua formação está associada ao avanço da urbanização, da interiorização do desenvolvimento econômico e da desconcentração produtiva e populacional da RMSP. Desses processos surgiu a configuração de um território marcado por significativa heterogeneidade estrutural, que acumula condições e potencialidades de desenvolvimento socioeconômico diferenciadas do restante do país e concentra, igualmente, expressiva dívida social, na forma da existência de precárias condições de moradia, de ocupação de áreas de risco, de carência de infraestruturas urbanas e sociais, etc.

A integração funcional entre as partes, compondo uma divisão do trabalho regional, é um dos seus principais aspectos, como também o é a mescla de dinâmicas socioespaciais próprias da escala da rede urbana e do espaço urbano. Nesse sentido, mostra-se válido um entendimento da inserção da RMBS e da RMC dentro da MMP, proposta da próxima seção do trabalho.

3 - A inserção da RMBS e da RMC na “Macrometrópole Paulista”

A inserção da RMBS e da RMC no bojo da metropolização expandida paulista fica bem marcada quando se analisam os diferentes aspectos de suas estruturações socioespaciais na última década. Sob o ponto de vista da estrutura produtiva, como foi

4 Ressalta-se que, recentemente, a então aglomeração urbana de Sorocaba foi também alçada à categoria de Região Metropolitana.

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visto, ao longo do seu processo histórico de ocupação, observa-se ainda claramente uma complementaridade produtiva com a RMSP, no caso da Baixada Santista, e de polo produtivo do interior, para Campinas.

O transcurso do processo de reestruturação produtiva condicionou mudanças importantes no arranjo das atividades econômicas ao longo da Macrometrópole Paulista, no que se convencionou chamar de desconcentração das atividades econômicas. Tal quadro é ilustrado pela Tabela 1, cujos dados mostram a geração de riquezas da Macrometrópole Paulista, em relação ao Estado de São Paulo, e das quatro regiões metropolitanas que compunham a referida unidade regional.

Tabela 1 – Valor Adicionado Bruto. RMs selecionadas. Macrometrópole paulista.

2000-2010.

Fonte: Fundação Seade. Tabulações especiais do autor.

(1) Porcentagem em relação ao Valor Adicionado total do Brasil.

(2) Porcentagem em relação ao Valor Adicionado total do estado São Paulo.

Tanto em 2000 quanto em 2010, a macrometrópole paulista registrava protagonismo com a representatividade de seu valor adicionado bruto5 acima do patamar de 70% em relação ao estado de São Paulo como um todo. Por sua vez, a RMBS possuía a participação mais acanhada entre as quatro RMs componentes, com apenas 4% do total. Por sua vez, ressalta-se o papel de destaque da RMC entre as unidades metropolitanas do interior, com representatidade de 10%. Devem ser ponderados aí os diferenciais entre as regiões quanto ao tamanho populacional, do

5 O valor adicionado bruto se constitui da receita de venda deduzida dos custos dos recursos adquiridos de terceiros. É, portanto, o valor que a atividade econômica agrega aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo, obtido pela diferença entre o valor de produção e o consumo intermediário.

Priorizou-se esse indicador em detrimento do valor adicionado fiscal (diferença entre o valor das saídas de mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação prestados no seu território e o valor das entradas de mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação adquiridos, em cada ano civil), conforme comumente se utiliza em análises do tipo, tendo vista este indicador não estar disponível em âmbito nacional, inviabilizando comparações, como as procedidas no presente trabalho.

mil reais % mil reais %

Brasil 2.002.430.080 - 3.227.180.667 -

São Paulo (1) 702.713.034 35,1 1.036.697.979 32,1 Macrometrópole (2) 514.666.965 73,2 738.112.982 71,2 RMSP 394.378.977 76,6 576.662.247 78,1 RMC 52.168.048 10,1 79.938.838 10,8 RMVPLN 45.296.431 8,8 52.325.659 7,1 RMBS 22.823.508 4,4 29.186.238 4,0

Nível geográfico 2000 2010

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mercado de trabalho, etc., que são condicionantes importantes para as diferenças observadas.

Todavia, não pode ser desconsiderada a anteriormente mencionada posição coadjuvante vivida pela Baixada Santista no curso do processo de desconcentração das atividades econômicas paulistas. Ao se configurar, em grande parte, enquanto extensão do parque industrial do ABCD paulista, especialmente no que se refere ao município de Cubatão, a RMBS, assim como a RMSP, sofreu intensamente os efeitos do processo de dispersão das atividades econômicas, principalmente da indústria, como também da redução dos investimentos estatais a partir dos anos 1980.

Em contrapartida, houve um processo de centralização das atividades de comando vinculadas aos setores de atividade econômica que tenderam a se desconcentrar, na RMSP, em especial no município de São Paulo. Tal cenário explica a ainda majoritária participação desta região na geração de riquezas dentro da Macrometrópole Paulista, com valores próximos a 80%, e os valores reduzidos da RMBS, uma vez que esta não observou as mesmas contrapartidas para o processo em questão. Enquanto isso, a RMC despontou, ao lado das outras RMs do interior, como a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) e Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), como principais polos econômicos e industriais do interior.

De fato, o contexto econômico descrito até aqui se apresenta como um dos principais condicionantes dos padrões de ocupação e da dinâmica sociodemográfica observados na MMP na última década. Apesar de sentirem de forma diferenciada os efeitos do processo de reestruturação produtiva, principalmente em termos econômicos e sociais, tanto a RMBS quanto a RMC apresentam suas dinâmicas de estruturação metropolitana, estritamente, imbricadas com a estruturação socioespacial da própria macrometrópole, exercendo um papel peculiar na divisão do trabalho regional.

De fato, a inserção econômica das RMs em questão na macrometrópole, em especial suas articulações produtivas estabelecidas com as demais RMs da MMP, colocam-se como condicionantes para as articulações sociodemográficas observadas, especialmente no que se refere à configuração de um mercado de trabalho inter- regional.

Igualmente, são fatores que influenciam outra ordem de condicionantes sociodemográficos, especificamente o tipo e a intensidade de ocupação observada em

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determinadas partes de seu território macro e intrametropolitano, nesse caso mediado principalmente pela dinâmica de um eminente mercado de terras regional.

Como se pode perceber por meio da Tabela 2, há padrões específicos do tipo e intensidade de ocupação do ambiente construído entre as RMs que constituem a macrometrópole paulista. A partir dos dados da pesquisa de pré-coleta6 do censo demográfico, pode-se chegar a certas proxies das referidas dimensões de análise.

Assim, no que se relaciona à ocupação residencial, é possível perceber que a RMBS e a RMVPLN têm parte significativa de suas ocupações ligadas ao setor do turismo e ao fenômeno da segunda residência. Para o caso específico da Baixada Santista, a proporção de domicílios particulares permanentes destinados ao uso ocasional chega a pouco mais de 30% das unidades visitadas. Além disso, chama atenção a proporção comparativamente superior às demais RMs avaliadas de edificações destinadas ao uso residencial, cujo valor atinge pouco mais de 91%.

Com relação à RMC, chama atenção a proporção ligeiramente mais acentuada, no entanto importante em termos de volume, das edificações em construção, o que pode ser mostrar um indicativo do processo de expansão regional, comparativamente às demais RMs. Isso porque, tal variável computa tanto edificações voltadas ao uso residencial, quanto comercial e industrial, o que mostra para onde se estão ainda se expandido as atividades econômicas da MMP e consequentemente o seu ambiente construído.

Tabela 2 – Edificações visitadas, por espécie. RMs selecionadas. Macrometrópole paulista. 2010.

Fonte: IBGE. Dados do universo dos Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais do autor.

Com relação ao processo de formação de um mercado de terras macrometropolitano relacionado à desconcentração das atividades econômicas, ao se

6 A pesquisa de pré-coleta procedida anteriormente à realização do censo demográfico permite o levantamento de informações referentes aos endereços que serão ou não abrangidos pela pesquisa censitária (IBGE, 2010). Entre as informações verificadas estão a espécie, o tipo e a situação da edificação situada no endereço visitado, constituindo-se, por conseguinte, uma excelente fonte para se analisar a natureza e a intensidade da ocupação de determinadas áreas.

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mapear a taxa de crescimento média anual dos domicílios particulares permanentes no período 2000-2010 (Mapa 1), constata-se, em linhas gerais, a formação de um complexo composto pelos núcleos metropolitanos da RMSP e RMBS, onde se tendeu a apresentar um ritmo de crescimento dos domicílios relativamente menor, com valores inferiores a 1% a.a. para o município de Santos, destacado no referido mapa na cor amarela relativa à categoria que registra o menores valores dentre os municípios considerados.

Contudo, os municípios periféricos de todas as unidades regionais que compõem a Macrometrópole Paulista exibiram taxas de crescimentos dos domicílios relativamente mais altas, com valores acima da média regional de 2,8% a.a. Além disso, percebe-se que as áreas de maior expansão do número de domicílios tendem a se concentrar ao longo dos principais eixos viários da referida macrometrópole. Tal padrão espacial fica bem marcado nas cercanias do sistema viário Anhanguera-Bandeirantes (RMC) e pela rodovia Castelo Branco (RMS).

De fato, tal seletividade espacial da ocupação ao longo do processo de metropolização expandida, associada à formação da Macrometrópole Paulista, já foi marcada por Lencioni (2015). A autora, apesar de ressaltar a não ocorrência de uma metropolização expandida em eixos, como ocorre no Rio de Janeiro, destaca que a maior densidade de ocupação na macrometrópole tende a ocorrer ao longo dos principais eixos de ligação entre as unidades regionais. Neles estão concentradas as condições gerais de produção que viabilizam a permanência das atividades produtivas nas mesmas e possibilitam a rápida circulação de mercadoria e pessoas ao longo do território.

Mapa 1 – Taxa de crescimento médio anual dos domicílios. Municípios selecionados.

Macrometrópole Paulista. 2000/2010.

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Fonte: IBGE. Dados do universo do Censo Demográfico 2010. Tabulações especiais do autor.

Para além de mostrar apenas um processo de dispersão da urbanização vinculado ao processo de desconcentração das atividades econômicas, as tabelas e ilustrações apresentadas anteriormente pressupõem uma articulação socioespacial entre as diversas unidades regionais que compõem a macrometrópole. Entre os condicionantes dessa articulação está a própria atividade produtiva, que determina a vigência de fluxos topográficos e topológicos.

No que toca especificamente à ocupação do tipo residencial, observa-se outra ordem de condicionantes associados a essa articulação socioespacial. A formação de um mercado de terras entre as regiões metropolitanas que compõem a macrometrópole parece ser uma realidade patente à sua consolidação e que pode explicar o delineamento de algum dos padrões de ocupação vistos no mapa e nas tabelas apresentados anteriormente.

Todavia, não somente os condicionantes macroestruturais, como a reestruturação produtiva explicam o modelo de urbanização e os fluxos migratórios estruturantes da RMC e da RMBS. Outra ordem de “condicionantes próximos” dos indivíduos de cunho sociodemográfico, igualmente contribuem para explicar por que determinados indivíduos migram e outros não, o que será desenvolvido na próxima seção do trabalho.

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4 - Mobilidade residencial e família no contexto da urbanização

O objetivo desta seção é propor uma diferenciação entre a mobilidade residencial e a migração de longa distância no âmbito da questão familiar. Embora entendamos que as duas sejam formas de mobilidade populacional e, portanto, movimentos migratórios no sentido mais puro, ocorrem em contextos, condicionantes e motivações suficientemente distintas para merecer uma análise particular.

Particularmente no que diz respeito à família, partimos do achado empírico de que a mobilidade residencial intrametropolitana tem uma característica familiar muito significativa se comparada à migração de longa distância (CUNHA, 2015).

A migração de longa distância pode ser pensada como uma reação a estímulos e constrangimentos econômicos (TODARO, 1980), contexto no qual ela seria uma resposta individual a possibilidade de mobilidade social, um movimento na direção da melhoria das condições salariais do indivíduo. Autores como Singer (1980) reagem a essa teorização de migração interpretando-a como uma reação às mudanças no sistema produtivo geral de um país, que colocam em movimento não indivíduos, mas classes inteiras, de acordo com fatores de estagnação e mudança que reconfiguram os espaços produtivos e criam e destroem demanda por trabalho.

Nos dois casos, migração é entendida como resposta às mudanças nas condições de sobrevivência, na economia, no nível salarial, não há ainda nessas teorizações uma preocupação com a dinâmica intrafamiliar e seu possível papel na migração.

Embora já existissem estudos relacionando a migração com o ciclo vital familiar, estes foram alvo de críticas sobre o “timing” do fenômeno. Para Courgeau (1985), era necessário ir mais a fundo nas histórias de vida dos indivíduos e das famílias para identificar os condicionantes da mobilidade e ir além das evidências de seletividade da migração por idade e pela etapa do ciclo vital familiar, particularmente considerando as importantes mudanças macroestruturais que colocam a mobilidade residencial em destaque.

E é justamente nesse contexto que Geist e McManus (2008) realizaram uma comparação entre as motivações e condicionantes da migração e da mobilidade residencial e concluíram que embora tenham uma série de elementos em comum, os fenômenos são distintos. Enquanto a migração está mais associada às oportunidades econômicas e ao trabalho, a mobilidade residencial está mais próxima de questões familiares, transições do ciclo vital e fatores relacionados à qualidade de vida, embora

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num contexto social de profundas desigualdades sociais, o sentido da migração e da mobilidade se modifica de acordo com o nível socioeconômico, já que num nível socioeconômico elevado a migração e a mobilidade residencial estão relacionadas à possibilidade a oportunidades e à busca de melhor qualidade de vida, enquanto para os mais pobres, está associado a constrangimentos estruturais, como desemprego, preço do solo, etc.

Portanto, nos parece que migração e mobilidade residencial têm características distintas, em termos dos seus condicionantes, o que nos leva a concordar com Coulter, Findlay e Van Ham (2016). Escrevendo sobre os EUA, os autores reconhecem a necessidade de uma “re-teorização” dos estudos de mobilidade residencial. Para eles, ela precisa ser repensada a partir de elementos distintos da migração interna, fortemente associada à formação de mercados de trabalho integrados nacionalmente e geralmente interpretada como uma forma de acessar oportunidades.

Os conceitos trazidos pelos autores chamam atenção para diferentes condicionantes da mobilidade residencial, como as questões familiares, a nupcialidade, mudanças nos padrões educacionais, o grave contexto de crise após 2008, etc. Enquanto os estudos migratórios concentraram seus esforços analíticos nas questões macro e microeconômicas, principalmente, na questão do trabalho, os autores propõem que a mobilidade residencial deve ser entendida na chave dos vínculos interpessoais (linked lives) inseridos em contextos estruturais específicos (structural connections). Como exemplos, o autor cita a transição para a vida adulta como um momento importante:

normativamente pensado como a saída definitiva de um filho para a formação de um novo domicílio e um novo núcleo familiar; no contexto atual pode ter caráter temporário e reversível, com a casa dos pais funcionando como um “porto seguro” a partir do qual novas tentativas podem ser realizadas. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que essa possibilidade não está aberta a membros de todos os grupos sociais, porque fatores estruturais limitam as oportunidades aberto pelo momento transicional independentemente da vontade individual.

Independente de considerações sobre o aumento da heterogeneidade, o momento do ciclo vital de uma família é um condicionante importante tanto da migração quanto da mobilidade residencial, com significado diferente de acordo com a inserção socioeconômica. Mas talvez mais relevante para os resultados dessa pesquisa, o ciclo vital familiar é um elemento muito mais importante na mobilidade residencial do que na migração de longa distância (GEIST; MCMANUS, 2008; COURGEAU, 1985).

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Particularmente no caso da mobilidade residencial em relação às outras formas de migrar, nos parece que a migração de longa distância está mais relacionada à possibilidade de inserção num mercado de trabalho cada vez mais seletivo e, portanto, às oportunidades acessadas através da mobilidade individual. De outra feita é a mobilidade residencial, em que o mercado de terras urbanas parece ser o fator preponderante que condiciona as possibilidades de escolha das famílias na definição de seu local de moradia, assim, os movimentos tenderiam a deslocar o domicílio, sem que, necessariamente, ocorresse uma mudança significativa do espaço de vida.

5 - A Redistribuição espacial da população na macrometrópole paulista: o papel da RMC e da RMBS

O processo de redistribuição espacial da população na MMP, com ênfase nos casos na RMBS e na RMC, pode ser visto segundo duas escalas geográficas de análise.

Uma interregional, entre as RMs, e outra interna às mesmas.

Para o âmbito interregional (tabela 1), verifica-se o ganho de importância relativa das RMs consideradas em relação à MMP como um todo. Processo esse, mais acentuado para a RMC, ainda que as cifras relativas denotem o contrário, do que para a RMBS. Neste a intensidade do crescimento populacional, vista através das taxas de crescimento anual médio, depõem a favor de tal de perspectiva, na medida em que apresentaram sempre valores acima da média da MMP e do estado de São Paulo. Isso mesmo em um cenário mais geral de queda do crescimento.

Desse modo, é inegável a vigência de um processo de espraiamento da ocupação ao longo da MMP segundo é sugerido pelos dados, mesmo diante de um cenário de queda no ritmo do crescimento populacional. No caso da RMBS, o mesmo tem menor volume, dadas as limitações físicas de ocupação da região, assim como a saturação do seu mercado de trabalho, conforme já discutido nas seções anteriores do trabalho. No entanto, conforme se pode perceber o crescimento populacional é ainda relativamente alto em alguns municípios periféricos da região, o que é não só justificado por redistribuição interna de população, como também, por trocas populacionais com a RMSP, como será melhor detalhado mais a frente no texto. Com relação à Campinas, os processos de crescimento populacional tendem a ser mais intensos, visto que as limitações físicas às ocupações são menores, além do mercado de trabalho ser mais dinâmico relativamente ao da Baixada Santista.

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Tabela 1 - População residente, participação relativa na população total e taxa de crescimento anual médio. Municípios selecionados. RMC e RMBS. 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

No intrametropolitano (gráfico 1), verifica-se a mesma ordem dos processos observados para perspectiva anterior, todavia de uma forma mais pronunciada. Isto é, para as duas RMs consideradas, pode ser constatado um processo de desconcentração relativa da população dos polos e subpolos para as periferias elitizadas e sociais. O que ratificado pelas taxas de crescimento populacional, que mostram que não só no volume, mas também na intensidade as periferias, sejam elas ricas ou pobres, tendem a crescer mais que às áreas centrais metropolitanas.

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Gráfico 1 - Participação relativa na população total e taxa de crescimento anual médio. Grupos de municípios7. RMC e RMBS. 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

Sabe-se que sob o ponto de vista demográfico, as tendências de redistribuição espacial da população, mostradas até aqui podem ter inúmeros condicionantes, por hipótese: crescimento vegetativo diferencial, migração ou reclassificação das unidades populacionais. É no sentido de elucidá-las que se empreende a próximo item do trabalho.

7 Para melhor descrever e analisar a estrutura urbano-metropolitana dos recortes espaciais abrangidos pelo trabalho agrupou-se os municípios das RMs consideradas segundo o seu papel nessa estrutura. Salienta-se que tal tipologia é construída de forma ad hoc, baseada na experiência de pesquisa dos dois autores nas duas áreas em questão e segundo uma estatística descritiva de indicadores que descrevem sua função na divisão econômica do espaço regional (Valor Adicionado Bruto), na divisão social do espaço (percentagem de responsáveis pelo domicílio com nível superior completo) e ritmo de ocupação (crescimento populacional). Além disso, ela prevê novas estruturas metropolitanas próprias do processo de reestruturação produtiva emergente em algumas metrópoles brasileiras. Isso porque, considera a existência de subpolos regionais, decorrentes do processo de espraimento metropolitano das atividades produtivas para além do núcleo metropolitano, como também, “periferias elitizadas”, isto é, áreas de ocupação por parte da população metropolitana de alta renda nas periferias geográficas das RMs, segundo o binômio loteamento/condomínio fechado. Com isso, chegou-se a quatro tipos de municípios: “polo”,

“subpolo”, “periferia elitizada” e “periferia social”. Uma discussão mais detida sobre a distinção entre periferia geográfica e social pode ser encontrada em Costa (2006) e Torres et. al. (2003). Ambos os trabalhos ressaltam a crescente heterogeneidade entre o espaço social precário e a relação centro-periferia, tanto devido às transformações ocorridas nas periferias aqui chamadas de sociais, quanto devido ao surgimento das novas periferias voltadas à população de alta renda.

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17 6. O peso da migração

Como se pode notar através da leitura da tabela 2, a migração tende a manter o protagonismo no que se ao processo de reestruturação espacial da população na RMC e RMBS. Diante de um cenário de aceleração na queda das taxas de fecundidade e tendência de convergência espacial do indicador, entre espaços centrais e periféricos, a migração se torna o fiel da balança com relação à distribuição da população entre essas áreas.

Mais do que isso, mostra-se notório que nas periferias, sejam elas elitizadas ou sociais, a migração possui maior peso comparativamente ao polos e subpolos. Nesse caso, a RMBS apresenta uma diferenciação mais eloquente nesse sentido, já que o polo apresenta uma alta evasão populacional para as demais áreas metropolitanas, que não é compensada, por ganhos externos a região ou mesmo crescimento vegetativo, como verificado na RMC.

Tabela 2 - Peso da migração sobre o crescimento populacional, saldo migratório e taxas médias anuais de migração. Municípios selecionados e Grupos de municípios.

RMBS e RMC. 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

Entretanto, é fato, ainda segunda a leitura da tabela 2, que mesmo diante desse cenário de protagonismo demográfico nos processos de redistribuição espacial da

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população nas RMs consideradas, a migração perdeu fôlego, tanto em termos de volume, quanto em intensidade, como pode ser atestado pelo saldo migratório e taxa de migração respectivamente. Ressalta-se, contudo, que apesar de ser um processo geral, ele é mais diferenciado entre as partes das estruturas metropolitanas do que se verifica com o crescimento vegetativo, o que justifica o maior protagonismo da migração.

Mas tal perda de fôlego da migração fica mais clara, quanto aos seus condicionantes, quando se desdobra a mesma quanto à sua origem ou modalidades (tabela 3 e gráfico 2). Percebe-se que tal queda no volume da migração, encontra-se muito mais relacionada à redução das grandes correntes migratórias de longa distância provenientes de Minas Gerais e do Nordeste principalmente, estruturantes do processo de industrialização e urbanização das RMs consideradas até às décadas de 80 e 90.

Tabela 3 – Percentagem de Imigrantes “data-fixa” segundo modalidades migratórias. Municípios selecionados. RMBS e RMC. 1995-2000 e 2005-2010.

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

Como consequência desse processo, verifica-se o ganho em importância relativa das migrações de mais curta distância, ainda que sem lastro em ganho de volume, para a redistribuição espacial da população intrametropolitana e interregional. Para tal quesito,

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as periferias metropolitanas, sejam elas elitizadas ou sociais, são maiores receptoras dos fluxos de mais curta distância, enquanto que os polos e subpolos das RMs continuam ainda a receber os fluxos de mais longa distância remanescentes.

É válido salientar, que para o contexto urbano de inserção das RMC e da RMBS, essa migração curta distância possui peculiaridades. Isso porque, conforme pode ser conferido nas tabelas e gráficos em questão, os fluxos que ocorrem entre as RMs paulistas ganham protagonismo, ao lado dos já tradicionais fluxos migratórios intrametropolitanos, podem ser vistos em outros contextos metropolitanos.

Em municípios em específico, segundo a tabela 3, como Praia Grande na Baixada Santista e Vinhedo e Indaiatuba na RMC, os fluxos intramacrometropolitanos são aqueles de maior peso relativo, o que mostra importância dos mesmos enquanto pontos de articulação socioespacial das RMs consideradas com a urbanização dispersa paulista.

É importante ressaltar que, ainda que compartilhem algumas características, principalmente sociodemográficas, como será mais aprofundado a frente no texto, com os fluxos intrametropolitanos de mais curta distância, os fluxos intramacrometropolitanos tendem a ser altamente seletivos socialmente em relação aos primeiros. De fato, geralmente não representam mudança do espaço de vida de quem o realiza, o que determina geralmente altos custos de deslocamento diários, já que muitos indivíduos continuam trabalhando em seu local de origem na RMSP, os quais apenas podem ser assumidos por uma população geralmente de mais alto poder aquisitivo.

Gráfico 2 – Percentagem de imigrantes “data-fixa” segundo modalidades migratórias. Grupos de municípios. RMBS e RMC. 1995-2000 e 2005-2010.

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

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Como ficou esclarecido nas últimas seções os fluxos de mais curta distância adquiriam protagonismo no processo de redistribuição espacial da população nos últimos anos na MMP e especialmente na RMC e RMBS. Da mesma forma, o processo de reestruturação produtiva e seus desdobramentos para a urbanização, a partir de então, pode ser reputado como condicionantes macroestruturais que explicam a própria existência da MMP e dos fluxos de migratórios como articuladores socioespaciais das RMs e das mesmas com as demais unidades metropolitanas da macrometrópole.

No entanto, existem “condicionantes mais próximos” de natureza sociodemográfica que caracterizam e diferenciam as diversas modalidades dos fluxos migratórios em questão, explicando a existência dos mesmos, suas seletividades e vínculos com a estrutura de incentivos e constrangimentos à migração delineada a partir dos macroprocessos sociais, como a própria reestruturação produtiva e a desconcentração das atividades produtivas da RMSP. Com intuito de apresentar essa dimensão geralmente negligenciada na análise da migração que se funda a próxima seção do trabalho.

7. Migração e arranjos domiciliares

Ao se analisar os arranjos domiciliares “familiares” com responsáveis pelos domicílios migrantes segundo suas etapas de ciclo de vida8 (Tabela 4), pode-se notar, para a RMC e a RMBS como um todo ao longo dos dois quinquênios considerados, que as etapas iniciais do ciclo de vida familiar tendem a perder espaço, tanto para etapas mais avançadas ou iniciais sem filhos. O que mostra o importante papel dos processos sociodemográficos mais gerais, que atingem a população como um todo, de redução da fecundidade e envelhecimento populacional no período em questão entre os migrantes.

Com relação aos grupos de municípios, observam-se características comuns entre os fluxos migratórios das duas RMs consideradas, onde aqueles que se destinavam às periferias metropolitanas, elitizadas ou sociais, eram constituídos por arranjos

8A tipologia de ciclo de vida familiar considerada está respaldada nos seguintes critérios. Primeiro, a não presença de filho conjugada às idades mais jovens dos casais, cônjuge com menos de 40 anos (“casal jovem sem filhos”), é um indicador do início do ciclo de vida familiar. A chegada do primeiro filho, além das diversas fases do curso de vida dos filhos (primeira infância – até 5 anos, segunda infância e adolescência - de 6 a 12 anos), marcam as “etapas iniciais” e de “expansão e de crescimento” das famílias. Por sua vez, a conclusão da transição para a vida adulta dos filhos (acima de 13 anos), a saída dos mesmos do domicílio dos pais, ou mesmo, a ausência de filhos vinculada à idade mais avançada do casal, são indicadores das fases de “consolidação/saída” e “ninho vazio” das famílias. Esses foram critérios considerados por Camarano (2014) e Arriagada (2004) para a elaboração da tipologia utilizada.

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domiciliares nas etapas de início e expansão, relativamente aos demais fluxos. Enquanto isso, a migração direcionada aos polos e subpolos, tinha um peso comparativamente maior de casais “jovens sem filhos” e com “ninho vazio”, ou seja, mais velhos e sem filhos.

No que se refere às modalidades migratórias, percebe-se que os fluxos intrametropolitanos, sejam eles destinados às periferias elitizadas ou sociais, tendem a ser constituídos por famílias no começo do seu ciclo de vida. Nesse caso, o casamento neolocal parece ser o “condicionante próximo” sociodemográfico que motiva tais tipos de deslocamentos ao longo da estrutura metropolitana, balizados por uma dinâmica do mercado de terras regional que direciona os fluxos segundo o poder aquisitivo e grupo social a que pertencem os arranjos domiciliares em questão.

Por sua vez, no que tange aos fluxos intramacrometropolitanos, ressalta-se que os mesmos tendem a ser mais seletivos quanto ao estágio do ciclo de vida familiar em relação às demais modalidades migratórias. Isso porque, para todos os destinos metropolitanos tais tipos de fluxos foram os que apresentaram maior proporção de arranjos domiciliares compostos de casais mais velhos sem filhos, isto é, “ninho vazio”.

Nesse caso, a seletividade dos fluxos em questão segundo o ciclo de vida é condicionada pelos, já mencionados, custos financeiros impostos por tal tipo de movimento, o que habilita apenas quem pôde acumular mais ativos e se estabilizou na carreira laboral a viabilizar sua realização.

No que tange aos fluxos migratórios interestaduais, sabe-se que os mesmos, historicamente, são menos “familiares” que as demais modalidades de mais curta distância. De fato, tendem a ser mais rejuvenescidos e concentrados nas idades produtivas. Como os polos e subpolos das RMs, segundo o gráfico 2, tendem a ser a porta de entrada nas regiões dos fluxos em questão, observa-se que os fluxos de longa distância, para lá direcionados, são constituídos majoritariamente de “casais jovens sem filhos”, ou seja, um tipo de arranjo domiciliar que não necessariamente se desdobraria em outros tipos de arranjos com presença de prole.

Tal resultado pode ser interpretado como um indicativo de que fluxos de “longa distância” (intraestaduais e interestaduais) são realmente menos familiares que os de

“curta de distância”. Nesses casos, conforme já discutido anteriormente, o “espaço de vida” não necessariamente muda, o que dá o caráter de mobilidade residencial aos mesmos, mesmo que as causalidades e seletividades socioeconômicas possam variar

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entre famílias que estejam na mesma fase de seu ciclo de vida e mais propensas a mudar, como aquelas com crianças mais jovens.

Tabela 4 – Percentagem de Arranjos domiciliares “familiares” com responsáveis pelos domicílios migrantes “data-fixa” segundo etapas do ciclo de vida por modalidades migratórias. Grupos de municípios. RMBS e RMC. 1995-2000 e 2005- 2010.

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010. Tabulações especiais dos autores.

8. Considerações finais

A análise da dimensão familiar dos fluxos migratórios de espaços metropolitanos como a RMC e a RMBS mostra importantes fatores que se relacionam à vigência dos mesmos na atualidade e geralmente são negligenciados em estudos do tipo.

Frequentemente, os condicionantes mais gerais, ligados ao processo de reestruturação

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produtiva e urbana, são ressaltados como as principais causas para os resultados observados na atualidade no espaço urbano.

Realmente tais fatores macroestruturais estão por trás da emergência das novas formas urbanas vigentes nos estado de São Paulo, como a Macrometrópole paulista.

Além disso, explicam a dinâmica de inserção das RMs consideradas na MMP, como também os seus processos de estruturação interna, capitaneados pela mobilidade residencial com orientação centrífuga (polo-periferias). Isto, em face do novo cenário demográfico nacional, de redução significativa dos volumes dos tradicionais fluxos migratórios de longa distância.

No entanto, os, aqui chamados de “condicionantes próximos” da migração, por envolverem uma escala mais próxima do indivíduo e/ou núcleo familiar no qual ele está envolvido, exercem um importante papel na explicação da ocorrência dos fluxos migratórios. Ficou claro, a partir dos resultados mostrados no artigo, que as etapas do ciclo de vida familiar são importantes condicionantes que explicam a propensão ou não dos indivíduos a mudar, principalmente em curta distância. A presença de crianças pequenas mostrou-se um marcador fundamental para os indivíduos mudarem dos núcleos metropolitanos, onde os preços do solo são mais altos e há menos opções de domicílios com mais cômodos, para periferias metropolitanas onde tais restrições tendem a ser menores.

Outra questão que permeou a discussão de resultados do trabalho e que, em verdade, ainda se manteve em aberto, é com relação às motivações da seletividade sugerida pelos resultados do caráter mais familiar dos movimentos de curta distância em comparação àqueles de mais longa distância.

Aventa-se como hipótese para tal, o fato de que os movimentos de longa distância estejam mais condicionados em termos macroestruturais aos desequilíbrios econômicos regionais e a dinâmica do mercado de trabalho. O que impõe custos maiores, já que dependem da mudança do espaço de vida dos indivíduos que o realizam e demandam uma seletividade intrafamiliar, tendo em vista os indivíduos dos arranjos domiciliares em idade produtiva serem privilegiados nessa dinâmica.

Por sua vez, o que está em jogo para os movimentos de curta distância é muito mais uma seletividade domiciliar. Nesse caso, os fluxos intrametropolitanos e também, para o recorte considerado, os intramacrometropolitanos são mediados pelo mercado de trabalho, e, principalmente, pelo mercado de terras. Logo, ao não envolverem necessariamente uma mudança no espaço de vida, e nem uma seleção para inserção no

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mercado de trabalho de membros da família, tendem a ser mais familiares. Para tal situação, o gradiente de preço do solo, o estoque de moradia e a fase do ciclo de vida familiar são os principais condicionantes para seletividades socioespaciais observadas entre migrantes e não migrantes e os destinos potencialmente considerados.

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