RESOLUÇÃO DE DESARMONIA GENGIVAL DO ARCO SUPERIOR DURANTE TRATAMENTO ORTODÔNTICO ATRAVÉS DE CIRURGIA PERIODONTAL
Resolution of upper gingival arch disarmony during orthodontic treatment by periodontal surgery
Taciane Menezes da Silveira
1, Lauren Frenzel Schuch
1, Luis Eduardo Rilling da Nova Cruz
2, Josué Martos
31
Graduanda do curso de Odontologia e bolsista PET da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas-Brasil.
2
Professor Adjunto do curso de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas-Brasil.
3
Professor Associado do curso de Odontologia e Tutor PET da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas-Brasil.
Recebimento: 08/02/17 - Correção: 28/03/17 - Aceite: 06/04/17
RESUMO
A busca por padrões de sorriso que atendam aspectos visuais harmônicos inclui uma pequena exposição gengival.
Na presença de um sorriso alto podemos observar a exposição total das coroas clínicas dos dentes anterossuperiores e uma faixa contínua de tecido gengival, podendo, este padrão clínico/periodontal, ser influenciado por sexo e idade, entre outros. O objetivo deste trabalho foi descrever um tratamento cirúrgico periodontal na região dos dentes anteriores superiores de uma paciente em tratamento ortodôntico com a finalidade de estabelecer uma estética periodontal satisfatória ao paciente. Concluímos que a intervenção cirúrgica periodontal visando o estabelecimento de contorno gengival e diminuição da linha gengival no sorriso alem do mostrou-se satisfatória no planejamento estético da paciente.
UNITERMOS: Periodontia, Gengivectomia, Estética dentária. R Periodontia 2017; 27: 53-58.
INTRODUÇÃO
Quando se evidencia uma faixa de tecido gengival exacerbada no sorriso, associando com os valores estéticos do paciente, cabe ao profissional periodontista intervir terapeuticamente. Para aqueles pacientes com sorriso gengival, o tratamento clínico cirúrgico mostra-se como uma boa opção na busca de um sorriso harmônico (Farias et al., 2009; Pires et al., 2010; Cruz et al., 2013; Brilhante et al., 2014). Para que se possa fazer uma intervenção cirúrgica de forma segura, é necessário a escolha de uma técnica correta (Farias et al., 2009; Pires et al., 2010; Cruz et al., 2013; Brilhante et al., 2014).
O conhecimento da etiologia do sorriso gengival é o que rege a conduta clínica. Naqueles casos onde a gengiva não migra apicalmente, acompanhando a erupção dental, o resultado será um sorriso gengival originário de uma erupção passiva alterada (Braga et al., 2015). Pode ser também como uma resultante de um crescimento excessivo da maxila no sentido vertical ou a combinação desses fatores (Farias et al., 2009; Bertolini et al., 2011; Cruz et al., 2013).
Pacientes em tratamento ortodôntico podem apresentar
um aumento gengival inflamatório crônico como uma implicação do próprio tipo de tratamento, atribuindo-se tal aumento ao acúmulo de biofilme dada à dificuldade de conservação de uma higiene bucal adequada na presença de bandas e braquetes (Maia et al., 2011). Logo, este acúmulo de biofilme acaba por promover as alterações periodontais que são agravadas pelo tratamento ortodôntico (Maia et al., 2011).
Neste contexto, se faz necessário levar em consideração a arquitetura gengival associada a defeitos ósseos, invasão do espaço biológico e a assimetria gengival relacionada ao excesso de tecido gengival recobrindo a coroa dental (Martos et al., 2010; Bertolini et al., 2011)
Medicações e algumas condições patológicas, associadas a presença de biofilme dental podem induzir a uma inflamação, ocasionando uma hiperplasia na gengiva, que também poderá caracterizar um sorriso gengival. O lábio superior curto e/ou a hiperatividade dessa estrutura contribui ou determina a exposição excessiva de tecido gengival da mesma forma (Farias et al., 2009).
Em casos de hiperplasia do tecido gengival, patológica
ou não, este crescimento dar-se-á em direção coronal e
em áreas papilares, onde acaba por cobrir boa parte da coroa dental, resultando em sua menor exposição. Em uma condição clínica de saúde gengival e gengiva inserida em torno de 1 a 2 mm, o procedimento terapêutico de eleição considerado é a remoção de excessos e a remodelação dos tecidos gengivais através das diversas técnicas cirúrgicas periodontais (Pires et al., 2010; Maia et al., 2011; Braga et al., 2015; Brito et al., 2016; Cardia et al., 2016).
O objetivo deste trabalho foi descrever um tratamento cirúrgico periodontal na região dos dentes anteriores superiores de uma paciente em tratamento ortodôntico com a finalidade de estabelecer uma estética periodontal satisfatória.
RELATO DE CASO
Paciente do gênero feminino, 24 anos, procurou atendimento na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com queixa estética dos seus dentes anteriores. A paciente relatou que apresentava algum tempo atrás os dentes separados (Figura 1) porém a queixa atual seria mais precisamente em decorrência do seu aspecto gengival e de suas coroas curtas (Figura 2A).
A paciente estava atualmente em finalização ortodôntica corretiva e ao exame clínico periodontal, constatou-se que a paciente não apresentava placa gengival e o índice de sangramento gengival encontrado foi insignificante após sondagem periodontal (Figura 2B, 2C, 2D, 2E, 2F). O periodonto apresentava uma hiperplasia evidente envolvendo os dentes anteriores superiores limitando-se até os premolares.
O exame radiográfico não evidenciou nenhuma alteração que indicasse doença periodontal crônica ou qualquer outra
alteração visível neste exame complementar.
De acordo com a anamnese, a paciente relatou não fazer uso de nenhuma medicação sistêmica que pudesse induzir ou colaborar com sua hiperplasia gengival. Assim sendo pode-se finalizar a semiologia clínica do caso onde se constatou saúde periodontal satisfatória acompanhada de hiperplasia gengival não patológica na região anterossuperior, caracterizando um sorriso gengival.
O planejamento clínico envolveu a realização de cirurgia periodontal para reconstituir o contorno gengival e estabelecer a estética almejada pela paciente. Após ser suficientemente esclarecida a respeito da condição de saúde bucal presente, bem como o tratamento proposto, a paciente assinou um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) da Faculdade de Odontologia, contemplando os princípios éticos e legais para o seu atendimento clínico e utilização das imagens resultantes para fins didático-científicos.
Previamente ao procedimento cirúrgico foram removidos os fios e amarrias dos braquetes ortodônticos (Figura 2A).
Figura 1. Aspecto clínico inicial
Figura 2. 2a. Aspecto clínico inicial após finalização ortodôntica. 2b. Aspecto oclusal. 2c. Sondagem interpapilar. 2d. Sondagem do 23. 2e. Sondagem do 11. 2f.
Sondagem do 21.
Para a antissepsia intraoral utilizou-se o bochecho de solução digluconato de clorexidina a 0,12% e posteriormente foi executada a anestesia por bloqueio regional dos nervos infraorbitário e palatino anterior. Com auxílio de uma sonda periodontal milimetrada (Colorvue, Hu-Friedy Co., Chicago, USA), determinou-se a extensão do sulco gengival seguida de uma marcação externa do tecido gengival através de uma perfuração puntiforme com a própria sonda periodontal para servir de guia da incisão (Figura 3A, 3B, 3C). Este procedimento foi realizado em todas as faces gengivais, tanto vestibulares como proximais envolvendo o segmento de premolares à premolares (Figura 3D).
Figura 3.
3a. Transferência da marcação
periodontal.
3b. Comprovação sondagem.
3c. Comprovação externa.
3d. Aspecto gengival da
marcação.
Figura 4. 4a. Gengivectomia com bisturi de Kirkland. 4b. Gengivectomia do lado esquerdo. 4c. Remoção colar gengival. 4d. Colar gengival excisado. 4e. Sondagem externa. 4f. Aferição
periodontal.
Em seguida foi realizada uma incisão acompanhando as
marcações dada pela sonda periodontal delimitando todo
o tecido a ser removido nos quadrantes direito e esquerdo
com um bisturi de Kirkland (Hu-Friedy Co., Chicago, USA) em
uma inclinação de 45 graus (Figura 4A). Com um bisturi tipo
Orban (Hu-Friedy Co., Chicago, USA) o tecido gengival foi
divulsionado e deslocado também das proximais permitindo
a obtenção de um colar de tecido gengival envolvendo toda a
região referida, que seguiu a orientação anatômica dos dentes
correspondentes, assim como o padrão da linha gengival
demarcada (Figura 4B).
O tecido gengival foi divulsionado e deslocado no sentido vestibular e proximal com auxílio de um afastador tipo Molt (Hu-Friedy Co., Chicago, USA), viabilizando a remoção do colar de tecido gengival e expondo o novo limite do rebordo gengival (4C, 4D, 4E, 4F, 5A, 5B). O procedimento periodontal mais refinado para obtenção de uma forma e contornos gengivais adequados e confecção dos sulcos de escape interproximais foi realizado com alicate cuticulador (5C).
Figura 5. 5a. Aspecto clínico imediato. 5b. Colar gengival excisado. 5c. Refinamento com alicate cuticular. 5d. Avaliação periodontal externa. 5e. Avaliação do arco gengival. 5f. Aspecto
finalizado.
Figura 6. 6a. Pós-operatório de sete dias. 6b. Aspecto clínico de quinze dias. 6c. Aspecto clínico após 2 meses.