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Alfabetização e Letramento

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Academic year: 2022

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Alfabetização e Letramento

Alfabetização e

Letramento: Uma

Abordagem Geral

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora Telesapiens.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Alfabetização e Letramento

Iria Helena Quinto Duarte

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AUTORIA

Iria Helena Duarte

Sou formada em Pedagogia, Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira com uma experiência técnico- profissional na área de ensino híbrido há mais de 10 anos. Concluinte em Psicopedagogia e especialização em Língua Espanhola. Iniciei minha carreira como docente em diversas escolas do Estado de São Paulo, Estado do Paraná e de Santa Catarina na área da Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Em 2008 fui convidada por uma empresa em expansão em EAD a participar do departamento Pedagógico como Coordenadora Pedagógica em EAD e depois como professora conteudista na área da Pedagogia e ensino de Línguas. Também trabalhei para algumas faculdades, para a elaboração de trabalhos e materiais didáticos e preparatórios como ENADE. Atualmente sou sócia de uma escola EAD de ensino de cursos técnicos, profissionalizantes e idiomas e também atuo como mediadora do curso de Pedagogia e tutora virtual da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Amo a minha profissão e sou apaixonada pelo meu trabalho. Estou sempre em busca de novos conhecimentos porque acredito no poder da educação e da reciclagem. Adoro poder transmitir minha experiência para todos que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte sempre comigo!

Mauro José Kummer

Mestre em educação pela PUCPR, Especialista em gestão da qualidade aplicada a educação pela Organização dos Estados Americanos.

Trabalha na Educação a distância como professor conteudista e professor palestrante, além de tutor. Sua formação de base é em Engenharia de Produção. Além de professor também é revisor de textos, atuou em diversas instituições como UFPR, PUCPR, UniBrasil e Estácio. Professor para pós-graduação em gestão da qualidade aplicada a educação.

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ICONOGRÁFICOS

Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

OBJETIVO:

para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência;

DEFINIÇÃO:

houver necessidade de se apresentar um novo conceito;

NOTA:

quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento;

IMPORTANTE:

as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você;

EXPLICANDO MELHOR:

algo precisa ser melhor explicado ou detalhado;

VOCÊ SABIA?

curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias;

SAIBA MAIS:

textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento;

REFLITA:

se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre;

ACESSE:

se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast;

RESUMINDO:

quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens;

ATIVIDADES:

quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada;

TESTANDO:

quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas;

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SUMÁRIO

Conceitos e definições sobre Alfabetização e Letramento ...12

A Alfabetização ...12

A Língua Falada e a Língua Escrita ...15

O Letramento ...16

Definição de Letramento ...18

Alfabetizado Letrado ...19

Analfabetismo Funcional ...19

Histórico e evolução das práticas de alfabetização ...21

A Cartilha de Comenius ...21

Emília Ferreiro ...22

A sala de aula como ambiente de alfabetização ...24

O papel do professor ...25

Ana Teberosky ...26

A Psicogênese da Língua escrita ...27

O analfabetismo ...27

A prática alfabetizadora e os processos de apropriação da língua escrita ... 29

A prática pedagógica do ensino da língua escrita ...29

Lev Semyonovich Vygotsky ...30

O papel do professor e do ambiente familiar na aquisição da língua escrita...31

O letramento na aquisição da escrita...32

Práticas para o letramento da língua escrita ...33

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A leitura como instrumentação cultural ...35

Aprendizagem coletiva ...36

Monitorar a compreensão ...36

Estrutura do enredo ...36

Organizadores semânticos e gráficos ...37

Responder Perguntas ...37

Resumo...37

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UNIDADE

01

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INTRODUÇÃO

Ainda nos dias de hoje, quando falamos em Alfabetização, muitos tem a ideia de um processo repleto de regras e práticas, o conceito real é muito mais amplo de deve ser discutido com muito cuidado. Procure lembrar da sua professora na primeira série do Ensino Fundamental.

Você lembra das práticas que ela utilizou para alfabetizá-lo (a)? Quais foram os recursos que utilizou? Talvez ela tenha utilizado a famosa

“Cartilha” no qual você sempre associava uma imagem com uma letra, até a formação das palavras? Ou usufruiu de outros recursos nos seu processo de alfabetização? Eu me recordo na minha formação, que a minha professora sempre utilizava o lúdico dentro da sala de aula e era sempre muito divertido quando estávamos aprendendo a formar as palavras porque ela utilizava muitos recursos visuais. No processo de alfabetização é tudo muito mágico para a criança, porque elas percebem que as letras se tornam palavras, cada palavra é um encontro, um encantamento, e quando conseguem ir além, o descobrimento se torna real e parte integrante nesse tão rico. Porém, cabe ao professor alfabetizador instigar a criança ao novo, ser o facilitador, o mediador de uma etapa única na vida de cada um. Sempre fui muito grata aos teóricos e estudiosos da área porque se não fossem por eles e suas experiências de vida, não teríamos todo o conhecimento que temos hoje. O que é ser alfabetizado para você? O que é ser letrado para você? Esses questionamentos, gostaria que você os fizesse antes de iniciarmos essa nova jornada. Anote em um papel o que você entende por Alfabetização e Letramento e depois no término deste e-book, te convido a fazer uma releitura do que escreveu e refletir sobre tudo o que aprendeu. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo de conhecimentos. Abordaremos a definição sobre o que é de fato Alfabetização e Letramento. Te convido a retornar ao passado um pouquinho para que possa compreender todos os processos e os “porquês” de todos os questionamentos atuais. Você estudará a importância das práticas da Alfabetização e também a introdução de estratégias de leitura. Bons estudos!

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OBJETIVOS

Olá! Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Identificar os conceitos de Alfabetização e Letramento no processo ensino-aprendizagem.

2. Compreender a importância da história na leitura, escrita e letramento e sua evolução até os dias atuais.

3. Reconhecer os processos educativos e suas metodologias de aquisição de leitura e escrita.

4. Conhecer as estratégias e os principais métodos utilizados para o melhor uso da leitura.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho!

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Conceitos e definições sobre Alfabetização e Letramento

OBJETIVO:

Qual a definição concreta sobre Alfabetização e Letramento? Existe alguma diferença entre os dois conceitos? Qual a importância quando falamos em alfabetização e letramento? Ao longo desta aula iremos discorrer sobre todos esses questionamentos, as definições baseadas nas teorias dos maiores teóricos do assunto. Caso tenha dúvidas, não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de dificuldades!

A Alfabetização

A alfabetização em sua principal definição é o processo de aquisição da leitura e escrita através do sistema alfabético e ortográfico.

Entendemos que esse processo não é simples, pois inclui muitos fatores internos e externos. Felizmente, podemos afirmar que, esse processo vem sendo altamente discutido por profissionais da educação, pois há muito tempo professores enfrentam diariamente problemas relacionados à alfabetização como as dificuldades de aprendizagem, alto índice de reprovação nas séries iniciais e também a evasão escolar.

O termo é amplo e não pode ser visto unicamente como um único processo, estamos falando de etapas multifacetadas, de uma grande diversidade de fatores e não podemos nos ater somente em uma única definição. É o que sugere Soares, (2003, p.16):

“Não parece apropriado nem etimológica nem pedagogicamente que o termo alfabetização designe tanto o processo de aquisição da língua quanto em seu desenvolvimento: etimologicamente o termo alfabetização não ultrapassa o significado de “levar a aquisição do

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alfabeto” , ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribuir um significado muito amplo ao processo de alfabetização seria negar-lhe a especificidade, com reflexos indesejáveis na caracterização da sua natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da competência em alfabetizar.”

Vivemos na era de muitas facilidades de comunicação . Ocorre comunicação a qualquer hora e de diversas maneiras diferentes. As pessoas têm acesso a informação de uma forma muito rápida. Em contrapartida, ainda é muito comum vivenciarmos escolas com métodos de alfabetização antigos que não se adequam aos dias de hoje e também não são compatíveis com as necessidades reais do dia a dia. Sabemos que não existe uma metodologia perfeita, cada qual tem a sua característica principal, porém também é certo afirmar que existem sim, muitos métodos de alfabetização que hoje funcionam e outros nem tanto. Infelizmente algumas escolas ainda tratam essa questão de uma forma não muito articulada, com poucos recursos e arcaicos. Essa defasagem conclui a incompetência instituicional quando ela não procura as múltiplas possibilidades de acesso na aquisição da fala, leitura e escrita. Segundo Cagliari, (1994, p.9): “Por fim, a falta de visão de muitos, associada à ausência de conhecimentos linguísticos, tem atribuído o fracasso escolar ora ao aluno visto como um ser incapaz, carente cheio de deficiências, ora ao professor”. Para ampliarmos essa reflexão recorremos às reflexões de Soares (2003, p.15), que assim explica:

Sem dúvida não há como fugir, em se tratando de um processo complexo, como a alfabetização, de uma multiplicidade de perspectivas, resultante da colaboração de diferentes áreas de conhecimento, e de uma pluralidade de enfoques, exigida pela natureza do fenômeno, que envolve atores (professores e alunos) e seus contextos culturais, métodos, material e meios.

Entretanto, essa multiplicidade de perspectivas e essa pluralidade de enfoques não trarão colaboração realmente efetiva enquanto não se articularem em uma teoria coerente de alfabetização que concilie resultados apenas aparentemente incompatíveis, que articule análises provenientes de diferentes áreas do conhecimento, que integre estruturadamente estudos sobre cada um dos componentes do processo.

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Nesse sentido, é correto afirmar que o acesso ao processo de aquisição de leitura e escrita modificou-se e não mais atende às necessidades do passado. A leitura do mundo é outra. O que precisamos compreender é que o processo de alfabetização, na sua complexidade, interfere significativamente na vida educacional do indivíduo. A alfabetização é, sem dúvida, o momento mais importante da formação escolar de uma pessoa...” (CAGLIARI, 1994, p.10).

Figura 1: Alfabetização infantil

Fonte: Janeb13, Pixabay (2019).

É fato dizer que uma das principais etapas do processo de alfabetização é a representação de fonemas em grafemas e grafemas em fonemas, porém não podemos descartar a importância do código da escrita através da compreensão. Essa expressão de significados nos dá uma ideia mais ampla e diretiva, pois o processo não se destina exclusivamente no desenvolvimento dos códigos e fonemas da leitura e escrita, ele rege outras etapas que não podem ser descartadas.

Segundo Magda Soares (ano?), uma das maiores pesquisadoras do país sobre o tema, as etapas não são tão simples como podemos imaginar e requerem muito cuidado. Nesse processo de aquisição de leitura e escrita, o indivíduo deve participar ativamente e não somente como um indivíduo que recebe as informações.

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A Língua Falada e a Língua Escrita

Pense na sua língua mãe. Você acredita que a língua escrita tem as mesmas características da língua falada? Ou seja, você escreve exatamente como você fala? É óbvio que não!

O conceito de língua falada chega a ser até abstrato, pois existem tantas diversidades que a compõem e a cada dia, ela vem modificando.

Podemos dizer que é uma língua viva, que modifica e se adequa de acordo com a sua necessidade.

A língua falada é viva e está em constante adaptação com o seu meio social. É o que explica com mais ênfase Bagno, (2001, p.09):

“Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam.”

Nesse pressuposto, constata-se que a língua falada não se enquadra nas regras da língua escrita, pois o processo de aquisição dessa língua, também é outro.

Nossa intenção é que você possa compreender a complexidade de todo o processo, portanto quando falamos em língua escrita, não estamos falando apenas em regras gramaticais pois ela não deve ser vista apenas como um registro de fonemas da língua oral, há também a sua importância sintática, semântica e morfológica. É o que explica Soares, (2003, p.18):

“...não se escreve como se fala, mesmo quando se escreve em conceitos informais.”

Embora muitos ainda acreditam que o processo de alfabetização é individual, não podemos esquecer que ele também é social. Pensamos em duas escolas em regiões completamente diferentes uma da outra.

Supondo que uma escola está situada em uma região rural e outra central, você acredita que os processos de alfabetização das duas escolas se dão da mesma maneira? Mesmo que ambas utilizem do mesmo método alfabetizador o desenvolvimento seria igual?

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A sociedade tem um peso muito grande quando falamos sobre a alfabetização pois em algumas sociedades esse tema pode até parecer algo não muito constante. Em algumas regiões é muito comum as crianças serem alfabetizadas a partir dos 4 anos de idade, em outras a partir dos 7 anos, difere muito para cada região e sua cultura.

Como você pode notar, alfabetizar uma criança vai muito além do que transmitir a informação à criança na aquisição de leitura e escrita. Depende de muitos fatores tanto como culturais, econômicos e tecnológicos.

O Letramento

Você aprendeu que a alfabetização é a aquisição da língua (seja ela oral e escrita) através de um sistema alfabético, ortográfico e também cultural. Também vimos que o processo de alfabetização é complexo e exige muitos fatores. Não é somente ensinar a criança a formar as palavras e depois partir para a leitura. O processo é lento, prático e exige habilidades tanto da parte do professor quanto do aluno.

Você também aprendeu a importância da comunicação de forma rápida e prática nos dias de hoje. O uso das tecnologias nos proporciona acesso rápido às informações e consequentemente nossa comunicação caminha no mesmo sentido. Aquele que hoje não acompanha toda essa evolução tecnológica infelizmente não consegue ter o mesmo domínio de comunicação.

Figura 2: Leitura Infantil

Fonte: Victoria_Borodinova, Pixabay, 2019.

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REFLITA:

1. Você, professor dentro da sala de aula, se depara com um aluno do 3º ano do Ensino Fundamental I com algumas dificuldades na atividade de compreensão de texto. Na atividade, você pede para o aluno responder as perguntas simples sobre o texto que ele acabou de ler. O aluno faz a leitura diversas vezes e mesmo assim, não compreende nenhuma das perguntas. Ele somente consegue responder aquelas óbvias como: Qual o nome do personagem principal? ou “Aonde se passa nossa história? Perguntas mais complexas ele simplesmente não consegue responder. O que você pensa sobre isso?

2. Na sala de aula do 5º ano do Ensino Fundamental I a professora pede para os alunos fazerem uma redação sobre o descobrimento do Brasil. No final da atividade, ela percebe em um aluno a dificuldade em fazer a atividade escrita. Ela então vai até esse aluno e nota que sua redação é empobrecida, que o aluno não segue uma lógica textual e que existem erros gramaticais e ortográficos gritantes.

Reflita, por que isso acontece?

Essas duas situações são muito comuns nos dias de hoje.

Infelizmente, conforme anteriormente dito, ainda existem muitos problemas no processo de aquisição da leitura e escrita e aqueles que não atendem à demanda da rapidez tecnológica e da comunicação na era da Globalização, acabam sendo altamente prejudicados.

Segundo Soares, (2003, p.20), “só recentemente passamos a enfrentar essa nova realidade social em que não basta apenas ler e escrever, é preciso também faze o uso do ler e escrever, saber responder às exigências de leitura e escrita que a sociedade faz continuamente”.

O interlocutor deve ter o domínio não somente dos códigos como também uma visão ampliada, que seja capaz de compreender todo o discurso, assim na interpretação de elementos históricos, e científicos. Ele deve dominar todos os elementos da textualidade que constituem o uso discursivo oral e escrito como os elementos de codificação (letras e sons).

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Definição de Letramento

Em meados do ano de 1980, a invenção de letramento se deu no Brasil assim como simultaneamente em outros países. A ideia era compreender os problemas enfrentados na aquisição da língua escrita e a sua deficiência. Porque algumas crianças simplesmente não conseguiam fazer uma simples interpretação de um texto ou até mesmo escrever um texto comum? Nos países desenvolvidos foi constado essa deficiência de sua população, que embora alfabetizadas, não eram competentes o suficiente para fazer uma simples redação ou leitura.

Segundo SOARES, (2000, p. 18): “Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter- se apropriado da escrita”. Para ampliar ainda mais essas ideias, citamos as reflexões de Klein (2000, p.11), que assim relata:

Não há dúvida que o letramento é, hoje, uma das condições para a realização do cidadão: ela o insere num círculo extremamente rico de informações, sem as quais, ele, inclusive nem poderia exercer livre e conscientemente sua vontade (...) o homem contemporâneo é afetado por outros homens, fatos e processos por vezes tão distantes de seu cotidiano que somente uma rede muito complexa de informações pode dar conta de situá-lo, minimamente, na teia de relações em que se encontra inserido. Neste universo, tá mais vasto e complexo, a escrita assume relevante função, registrando e colocando ao alcance das informações que podem esclarecê-lo melhor”

Nesse sentido, a definição de letramento é vasta e está intrinsecamente interligada à alfabetização, apesar de ocorrer distinções entre os dois temas. Quando falamos de letramento, nos referimos às competências que o individuo deve possuir para construção do entendimento de leitura e escrita. É uma visão mais ampla, mais minuciosa que exige do interlocutor um direcionamento mais preciso.

Além de possui competências linguísticas, ele deve também adquirir conhecimentos suficientes para a formação de novos conhecimentos, sejam eles culturais, históricos, ideológicos e científicos.

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De nada adianta saber apenas ler e escrever e não ter domínio sobre a leitura e escrita. Não saber como escrever, como fazer uma interpretação. É o domínio do uso da língua no seu sentido amplo, geral.

Alfabetizado Letrado

Alfabetizado letrado é aquele que conhece o sistema e as regras ortográficas e gramaticais e, ainda, se coloca como um efetivo usuário da língua em seu contexto social.

Figura 3: Dúvida de leitura

Fonte: Victoria_Borodinova, Pixabay, 2019.

Analfabetismo Funcional

Analfabeto funcional é aquele que não consegue fazer o bom uso da leitura e escrita nas atividades cotidianas. Ou seja, embora ela saiba ler e escrever, não consegue fazer uma interpretação de um texto porque não compreende toda a estrutura textual e também tem muitas dificuldades em escrever.

Lembramos do nosso aluno do 3º ano do Ensino Fundamental citado no início do tema. Ele não consegue fazer a interpretação do texto com mais complexidade. Ele lê, mas não compreende. No segundo exemplo, o outro aluno não consegue fazer a redação sobre o descobrimento do Brasil porque não tem domínio sobre as palavras, simplesmente não consegue fazer o bom uso da língua escrita.

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REFLITA:

Faça uma reflexão prática sobre alfabetização e letramento.

Como você, como professor, lidaria com alunos iletrados?

Qual seria o maior desafio para você para lidar com uma situação dessas?

RESUMINDO:

Estudamos que as definições tanto de alfabetização como letramento são muito mais amplas, complexas e trabalhosa.

Em síntese, podemos concluir que:

Alfabetização é o processo de aquisição da língua (oral e escrita) por meio do sistema alfabético e ortográfico e cultural;

Letramento é o processo de desenvolvimento da língua (oral e escrita). O desenvolvimento de habilidades de uso da tecnologia.

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Histórico e evolução das práticas de alfabetização

OBJETIVO:

Vamos iniciar nesse capítulo uma reflexão profunda sobre o desenvolvimento histórico e sua influência nos dias atuais. Faremos uma análise sobre Comenius e a sistematização da aprendizagem por meio da cartilha e os pensamentos de autores que influenciaram diretamente para essa evolução.

A Cartilha de Comenius

Tudo se iniciou por um pastor protestante, chamado por Joao Amós Comênio, mais conhecido por Comenius, no qual foi considerado o pai da pedagogia moderna. Em meados do século XVII, Comenius fundamentou a escola que conhecemos até hoje, foi o percursor da organização do trabalho pedagógico baseado em elementos manufatureiros, presentes na sociedade da sua época.

Com a ideia de “ensinar tudo a todos”, Comenius deu ao professor a sua primeira definição e aderiu à ele, o material didático pedagógico como instrumento de trabalho. O livro didático por sua vez, difere dos livros científicos. A ideia era que o livro didático não fosse tão aprofundado de fontes originais, mas que fosse um direcionador de conhecimentos.

Surge então um livro exclusivamente pedagógico que propõe o ensinamento de ler e escrever por meio de figuras ou ilustrações ao lado das palavras, das sílabas e do alfabeto. É o que conhecemos de Cartilha, que ainda hoje é utilizada em muitas instituições de ensino.

O objetivo era que as crianças pudessem fazer associação tanto visual quanto motora das palavras. Note que a cartilha que conhecemos a criança se depara com figuras referente às iniciais da letra que está sendo estudada. Por exemplo: Na letra I, existe a figura de um Ipê. Há essa associação da palavra com a letra e depois a intenção que a criança

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possa internalizar por meio de expressões motoras, como contorno da letra, fazer colagem sobre a letra, etc.

Outro fato bastante interessante é a classe heterogênea, ou mais conhecida como instrução simultânea. Os alunos aprendiam ao mesmo tempo em graus e atividades diferenciadas. Isso facilitaria a aquisição do conhecimento e pouparia esforços. Colocaria em prática então, a ideia de ensinar “tudo a todos”.

Segundo ALVES, (2001,p.11): “Comenius está na origem da escola moderna. A ele, mais do que nenhum outro, coube o mérito de concebê-la.

Nessa empreitada, foi impregnado pela clareza de que o estabelecimento escolar deveria ser pensado como uma oficina de homens; foi tomado pela convicção de que a escola deveria fundar sua organização tendo como parâmetro as artes.”

Para Comenius a didática deveria ser foco principal de experimento porque acreditava que o processo estava na prática e o ensinamento deveria fazer parte desse pensamento. Considerando que a sua fervorosa religiosidade ter subsidiado consideravelmente em suas teorias, ele enfatizava o ensino como algo que deveria ser atingido por todos e que as pessoas deviam se capacitar para um novo conhecimento.

Foi um dos primeiros a defender a ideia da educação para crianças pequenas, aloca-las em um ambiente em que elas fossem expostas a todo o tipo de conhecimento, podemos dizer que surge a ideia do maternal. Ele acreditava que por meio do conhecimento, o ser humano podia alcançar sabedorias divinas. Por esse motivo ele queria que todos tivessem uma educação, porque além dos conhecimentos terrenos, eles também podiam adquirir uma ascensão nos céus.

Emília Ferreiro

Nenhum nome teve mais influência no que se diz respeito de alfabetização do que Emília Ferreiro, uma psicolinguista argentina, aluna e companheira de trabalho de Jean Piaget, revolucionou a história da alfabetização. Em meados de 1980 seus livros começaram a ser divulgados no Brasil e causou um grande impacto na concepção de alfabetização.

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Famosa pela obra: “Psicogênese da Língua escrita”, o livro não apresenta nenhuma metodologia pedagógica, apenas processos de aprendizados nas crianças, colocando em questão até então, em métodos utilizados. Suas pesquisas revelam mecanismos relacionados à leitura e escrita e passa a discutir toda a sua teoria baseada em métodos construtivistas.

Para Emília, a criança tem um papel totalmente ativo no processo de alfabetização, pois ela constrói o próprio conhecimento. Calcada em teorias e práticas construtivistas, avalia o conhecimento por meio de experiências na prática. O aluno que é ativo no seu processo de formação é mais exigente e também precisa ter o seu espaço único para que ocorra o desenvolvimento. Por esse motivo, há uma grande preocupação pela escola, pois ela deixa de ser somente fonte de informações e passa ser cenário de um processo prático de formação. Quando falamos em alfabetização, para Emília, a criança deve apropriar-se de todo o ambiente educacional, deve fazer parte de um todo e o professor é o facilitador deste processo.

Antes de sua chegada, havia apenas uma grande preocupação com a aprendizagem quando a criança não conseguia aprender, porém Emília nos trouxe uma visão contrária. A preocupação deveria acontecer desde o início, de quais fatores levavam aquela criança aprender e como era esse processo. O importante era a trajetória e não o resultado que se esperava.

Piaget outrora já tinha citado que os princípios do processo de conhecimento deveriam ser graduais, pois cada conquista cognitiva depende de uma assimilação e acomodação desses processos e que levaria um tempo. As crianças não apenas repetem o que ouvem, mas internalizam o aprendizado baseado nas experiências sejam elas boas ou ruins.

Para a alfabetização isso foi processo, pois até então os erros eram vistos como algo a ser punido ou até mesmo escondido. Não havia nenhum benefício no ato de fazer algo de errado. Para o construtivismo, nada mais desafiador para a mente do que os erros, pois eles tornam em evidência a releitura do indivíduo com o mundo. O erro faz parte no processo de conhecimento e é ponte para os futuros acertos.

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Nesse pressuposto, Emília sempre criticou a posição tradicional da alfabetização, porque não dá condições para a concreta aquisição da leitura e escrita. Na prática tradicional a criança é exposta a escrita por meio de avaliação de percepção e de motricidade. Nesse sentido, a criança acaba por desenhar a letra, ao invés de apropriar-se da palavra. Os métodos tradicionais propõem aos alunos leituras com palavras simples e sonoras, como por exemplo: bebê, papa etc. O contato da criança com a organização da escrita é colocado após esse processo. Segundo Ferreiro, a alfabetização é também uma maneira de se apropriar das funções sociais da escrita. De acordo com suas reflexões, o acesso a textos lidos e escritos desde os primeiros anos de vida influenciam muito mais do que simples processos pedagógicos repetitivos.

Figura 4: Sala de aula rica em recursos visuais

Fonte: Eldewsio, Pixabay (2019).

A sala de aula como ambiente de alfabetização

Um dos marcos de Emília Ferreiro em nossas salas de aula foi o extermínio do uso das cartilhas. Segundo ela, a compreensão social da escrita deve ser instigada com o uso de livros e periódicos da atualidade e o uso da cartilha além de não desafiar a criança para o conhecimento do novo, também oferecem uma instrução desinteressante e artificial.

O ambiente se torna alfabetizador quando ele concede à criança todas as ferramentas que ela precisa para usufruir daquele espaço. Com

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o uso de livros e periódicos, a sala de aula passa ser ambiente real de alfabetização e estimula os alunos a conquistar novos conhecimentos. O processo deve ser utilizado por vários recursos e não somente um único recurso, como por exemplo, o uso da cartilha.

O papel do professor

Para Emília Ferreiro o papel do professor é fundamental, pois ele é o guia para que o aluno possa atingir seus conhecimentos. Ele deixa de ser o principal agented no processo e passa a ser o mediador, aquele que irá auxiliar a criança sem que a mesma perca a sua individualidade.

Ela também enfatiza em muitas entrevistas que o docente deve estar sempre em processo de construção de conhecimentos por meio da reciclagem. O novo se torna parte do desenvolvimento do docente.

Imagine que você tenha um professor que não está adaptado com os conhecimentos de hoje e ensinaria as crianças nos métodos antigos.

Nos dias de hoje seria muito difícil lidar com docentes que não estão atualizados, mesmo que tenha muitos conhecimentos e não consiga transmiti-los de maneira que todos consigam compreender, de nada valem tais conhecimentos.

REFLITA:

Pense em algumas situações e baseado em todo material estudado até o momento faça uma análise da situação.

Sabemos que muitos são os fatores que desencadeiam os problemas da alfabetização e letramento, peço que você imagine dois cenários completamente distintos um do outro:

1. Uma sala de aula com 32 alunos da 4ª série do Ensino Fundamental apresenta muitos problemas, porém o que mais preocupa a professora é que mais da metade dos seus alunos são incapazes de fazer uma leitura de um texto de maneira que consigam compreendê-lo. Essa professora, utiliza métodos tradicionais para instruí-los e os alunos, para ela, devem ser receptores passivos. As

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atividades que ela realiza geralmente não mudam, toda a semana é sempre a mesma atividade. Na atividade de escrita ela realiza o ditado e também percebe que muitos alunos não desenvolvem adequadamente..

2. Na mesma escola, uma outra professora com a mesma experiência do que a primeira citada também tem problemas parecidos com os seus alunos, porém ela analisa caso a caso para que possa tentar diminuir tantos analfabetos funcionais. Ela tem conhecimento que os alunos possuem essa deficiência e quando está realizando alguma atividade, sempre foca nos alunos que mais precisam de atenção. Utiliza a tecnologia em sala de aula sempre que pode e permite que seus alunos sejam ativos no seu processo de conhecimento por meio de debates, exercícios que estimulam outras habilidades.

REFLITA:

Você, como aluno, gostaria de ter a professora da primeira história ou a professora da segunda história? Por que?

O docente deve ser parte integrante na sala de aula, porém como papel de coadjuvante, pois o protagonista é o seu aluno. Não pense nele como alguém que recebe as informações apenas, e sim aquele que deve aprender a fazer questionamentos, que pode errar e encontrar no seu erro uma resposta, porque por meio do erro o aluno é direcionado ao oculto, ou seja, errar também faz parte do processo. Quando ele erra, ele aprende outras habilidades e procura todos os recursos para encontrar um acerto.

Ao contrário do aluno passivo, para ele, o erro é algo muito ruim e que ele pode ser punido por isso.

Ana Teberosky

Além de Emília Ferreiro, Ana Teberosky é uma das pesquisadoras mais conceituadas quando falamos em alfabetização. Segundo Ana, a responsabilidade do fracasso escolar no que diz respeito à alfabetização é o próprio sistema e não apenas do professor. Quando a escola acredita

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que o processo de alfabetização se dá em etapas, ou seja, primeiro a junção das letras e palavras para depois a concepção de escrita, ela mina o poder do conhecimento. Se há a separação entre ler e escrever, depois fica mais complicado fazer a ligação desses termos.

A Psicogênese da Língua escrita

Na década de 70, Emília Ferreiro e Ana Teberosky desenvolveram por meio de experiência o livro “A Psicogênese da Língua Escrita”. O livro traz novos elementos para explicar o processo vivenciado pelo aluno que está aprendendo a ler e escrever.

Passa a compreender a alfabetização não como um simples método, mas um processo complexo e multifacetado que ocorre quando a criança tem a apropriação do sistema da escrita alfabética. Não prescreve uma metodologia milagrosa. A criança internaliza e se apropria do seu próprio conhecimento, pois até então, o método tradicional impõe a criança técnicas e ritmos de aprendizagem. A ideia é que a criança internalize e tenha a sua escrita espontaneamente.

Para ambas pesquisadoras, a criança passa por várias hipóteses em relação ao sistema da língua escrita antes mesmo de compreender de fato o sistema alfabético. Todo o processo tem um início, um caminho a ser seguido e que a criança passa ser leitor antes mesmo de ter o domínio da leitura. Em seu aspecto construtivista, o indivíduo passa a ser sujeito da história e não objeto em sua própria aprendizagem.

Outra característica muito importante é a ideia que a aprendizagem da escrita não tem vínculos com a fala e mesmo que a criança já tenha uma relação entre escrita e fala, não condiz a nenhuma ligação.

O analfabetismo

Tanto o analfabetismo como o fracasso escolar não são problemas individuais e sim sociais. Enfatiza que a desigualdade social tem influência direta nesses problemas e que podem provocar ainda mais desigualdades educacionais.

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Portanto, para as pesquisadoras, esses problemas podem ser melhorados por meio de outros métodos de ensino. A reprovação escolar é um exemplo desse fracasso e não deve ser analisada apenas em um contexto, mas em muitos. Existem soluções para o fracasso escolar e até mesmo a evasão, propõe uma nova reflexão e estudo sobre o assunto e mudanças de comportamentos.

Todos os indivíduos, independente de classe ou meio social possuem capacidades suficientes para aprender, é o que explica em Ferreiro, (1986, p.22):

“Os filhos do analfabetismo são alfabetizáveis; não constituem uma população com uma patologia específica, que deve ser atendida por sistemas especializados de educação; eles têm o direito a serem respeitados, enquanto sujeitos capazes de aprender.”

ACESSE:

Para se aprofundar no assunto, Clique aqui.

RESUMINDO:

Muitos outros fatores aconteceram durante todo o processo educativo e é claro, as contribuições de estudiosos são inúmeras, porém a ideia é que você tenha em mente que o processo evolutivo da alfabetização se deu ao logo dos anos, através de muitas teorias e também de experiências vividas. Não estamos julgando aqui o certo ou o errado, apenas relatando marcos da história da alfabetização que nos influenciam até hoje. Cada profissional se adequa com um método, nisso não há nenhuma discussão, o que você, como futuro professor não pode esquecer é que, segundo palavras de Magda Soares, a alfabetização é

“multifacetada”, isto é, não existem apenas um conceito e sim diversos dentro desse universo de conhecimentos tão rico e vasto.

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A prática alfabetizadora e os processos de apropriação da língua escrita

OBJETIVO:

Neste capítulo abordaremos práticas alfabetizadoras e todo os processos que norteiam a aquisição da língua escrita. Iniciaremos com o pressuposto da importância e complexidade da alfabetização, fatores e circunstâncias que permeiam todo o desenvolvimento de linguagem escrita. Já vimos que a aquisição da língua escrita se dá por diversos conhecimentos, sejam eles internos ou externos.

A prática pedagógica do ensino da língua escrita

No capítulo anterior estudamos sobre alguns teóricos na área e também algumas ressalvas que fizeram ao longo de anos de estudos e de experiência na área. Quando falamos em prática, nos referimos a toda instrumentação utilizada para se obter um resultado final. Vimos que a primeira prática pedagógica no processo de alfabetização foi o uso da cartilha. O uso da cartilha por sua vez foi considerado por muitos um processo limitador, pois exclui o ensino da língua escrita e as produções textuais, ou seja, existe uma separação entre a metodologia utilizada pela cartilha do ensino da língua escrita e consequentemente a sua produção.

Segundo estudos de Emília Ferreiro, a criança aprende de fato com a interação com o real e não com o subjetivo. É um processo de ação com a língua escrita na construção da fala e escrita. Em SOARES, (1999.p.52) a autora nos traz a seguinte reflexão:

Consideremos a interferência desses dois fatores – a influência da psicolinguística e a concepção psicogenética da aprendizagem da escrita- em duas faces do processo ensino e aprendizagem da língua escrita, aqui destacada para fins de melhor clareza da exposição, já que não representam momentos sucessivos , mas contemporâneos, não são processos independentes, mas

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inseparáveis: uma face é a aquisição do sistema da escrita (...) ; a outra face é a utilização do sistema de escrita para a interação social, isto é, o desenvolvimento de habilidades de produzir textos.

Nesse sentido, a alfabetização é um processo estritamente histórico social e multidisciplinar. Não podemos menosprezar as ciências linguísticas da aquisição, pois também faz parte. A aquisição de leitura e escrita é ampla e esse processo deve caminhar com ambas as especificidades.

Lev Semyonovich Vygotsky

Vygotsky foi um psicólogo russo, protagonista do conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças se dá pelo seu meio social, por meio das interações sociais e condições de vida.

Segundo seus estudos, as funções patológicas são bastantes complexas, por exemplo: a ato de respirar passa por muitos mecanismos e adequações dependendo de sua situação real, quem dirá quando falamos sobre o desenvolvimento psicológico, no qual seria muito mais complexo ainda em pensarmos no homem em seu meio sociocultural.

Quando se trata no processo da aquisição da língua escrita, Vygotksy afirma que é um fator social, de caráter histórico e que deve envolver muita interatividade. A aprendizagem da escrita dá-se por um conjunto de signos que são utilizados como instrumentos das necessidades socioculturais. A escrita então, deve ser considerada um produto cultural e não somente um instrumento de aprendizagem escolar.

Sabemos que em alguns casos não é bem isso que acontece.

Algumas escolas ainda estão muito distantes dessa realidade, simplesmente não existe a funcionalidade da escrita. Vygotsky cita que:

Até agora a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural na criança.

Ensina-se as crianças a desenhar letras e a construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita.

Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que acaba-se obscurecendo a linguagem como tal. (1998, p139)

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A escola, no entanto, precisa pensar o processo de alfabetização como um processo dinâmico. Pode-se perceber que o desenvolvimento da escrita na criança está relacionado as suas práticas do dia a dia. Oliveira nos dá uma melhor posição sobre o assunto:

Por isso, é de fundamental importância que, desde o início, a alfabetização se dê num contexto de interação pela escrita. Por razoes idênticas, deveria ser banido da prática da prática alfabetizadora todo e qualquer discurso (texto, frase, palavra, “exercício”) que não esteja relacionado com a vida real ou o imaginário das crianças, ou em outras palavras, que não esteja por elas carregado de sentido.

(Oliveira, 1998. pp.70-71)

REFLITA:

Segundo Vygotsky, algumas escolas não ensinam de fato a criança a “ linguagem escrita”, o que elas fazem é simplesmente ensinar as crianças a desenhar as letras e na construção das palavras, mas de fato, não ensinam a sua real funcionalidade. Você teve alguma experiência parecida ou conheceu alguma instituição que promovesse essa prática?

O papel do professor e do ambiente familiar na aquisição da língua escrita

Você já estudou a importância do papel do docente em todo o processo educacional, porém não falamos ainda sobre outro fator muito importante, que é a participação do ambiente familiar.

Há alguns anos, quando falávamos de fracasso escolar, o problema estava praticamente todo relacionado ao professor, ou seja, ela era o grande responsável pelo bom ou mal andamento dos seus alunos. Com o passar do tempo, vimos que são inúmeros os problemas que norteiam essa situação e não somente o despreparo ou incompetência de um professor. Sabemos que o docente pode ser um forte influenciador no desenvolvimento da criança, mas não é o único norteador.

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O professor é a peça principal nesse processo, cabe a ele ser o norteador do ambiente de alfabetização, porém não podemos esquecer do ambiente familiar, que é tão importante quanto o ambiente educacional.

Já foi a época em que se acreditava que a criança adquire conhecimentos somente através da escola. O ambiente familiar também tem caráter social e se dá também pela interação, por isso a família também é responsável para o melhor desenvolvimento educacional da criança.

Dentro do contexto social e família da criança podem ocorrer práticas da língua escrita de forma natural e espontânea.

Quando fazemos uma simples leitura de uma estória para nossos filhos antes de dormir, não somente estamos estimulando o desenvolvimento como direcionando a criança ao seu aprendizado natural. Lembra quando Emília Ferreiro disse que a criança se torna leitora antes mesmo de ser? Isso mesmo, a leitura dentro do ambiente familiar impulsa a criança a ser um leitor antes de ser alfabetizado.

Outro fator importante no ambiente familiar é o estímulo aos desenhos e suas representações ou até mesmo ensinar as crianças a escreverem seus próprios nomes, ou até mesmo o conceito de numerais.

Todo esse conhecimento adquirido dentro de casa pode ser o reflexo do que a criança irá aprender no ambiente escolar.

O letramento na aquisição da escrita

Se a pratica da língua escrita é influenciada por diversos fatores, é fato que o letramento decorre dessa participação, das práticas cotidianas, das vivência e situações reais de leitura e escrita. Atos costumeiros como ler revistas ou jornais, escrever um bilhete, ler um livro, contribuem para que as crianças possam aprender as diferentes formas do texto escrito.

Kleiman afirma que:

Assim, nesse contexto, o letramento é desenvolvido mediante a participação da criança em eventos que pressupõem o conhecimento da escrita e o valor do livro como fonte fidedigna de informação e transmissão de valores, aspectos esses que subjazem ao processo de escolarização com vistas ao letramento acadêmico.

Note-se que para a criança cujo letramento se inicia no

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lar, no processo de socialização primária, não procede a preocupação sobre se ela aprenderá ou não, muito presente, entretanto, nos pais de grupos marginalizados.

(KLEIMAN, 1998.p 183)

Quando fazemos uma reflexão sobre o letramento na língua escrita, podemos mencionar alguns fatores muito importantes que possam contribuir para que a criança tenha o domínio do conteúdo e da informação. Muitos pesquisadores sobre o assunto são unânimes em dizer que quando se trata da linguagem escrita, há ainda mais um empobrecimento nos dias atuais. Isso devido também ao uso abusivo da tecnologia, muitos jovens são incapazes de redigir um texto porque não possuem mais bases gramaticais suficientes para tal. A linguagem escrita entre eles é escassa e muitas crianças não conseguem nem ao menos fazer uma simples redação. O problema é tão grande que muitas crianças não conseguem fazer a leitura de um livro, mas conseguem ler um texto pequeno de uma revista de fofocas.

Práticas para o letramento da língua escrita

É claro que existem muitas práticas que favorecem a boa utilização da língua escrita. Segundos alguns pesquisadores, as práticas mais estimulantes são:

1. Leitura de um livro: embora essa prática infelizmente não esteja enraizada em nossa cultura, essa é, sem dúvidas a melhor maneira de aquisição de escrita, ou seja, quando lemos um livro, apropriamos de novas palavras, novos vocabulários e até mesmo de regras ortográficas e gramaticais;

2. Leitura de periódicos: os jornais e revistas também são fontes de muito conhecimentos;

3. Escrever um e-mail: Antigamente as pessoas passavam horas escrevendo cartas umas para as outras. Todo o processo era muito prazeroso, pois criava-se uma expectativa desde o início.

Era muito comum as pessoas escreverem várias páginas. Hoje em dia, sabemos que não é bem isso que acontece e a comunicação

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para quem está distante é por e-mail. Escrever um e-mail pode sim, estimular o desenvolvimento da língua escrita;

4. Escrever um bilhete: Muitos professores ainda praticam com seus alunos o uso do bilhete na sala de aula, porque além da interação que ele propõe entre os alunos, as crianças podem treinar técnicas e vivenciar sua língua. Os bilhetes geralmente são mais objetivos e por isso facilita o desenvolvimento da escrita

VOCÊ SABIA?

Em Nova York é muito comum as crianças passarem suas férias dentro de uma biblioteca. A leitura é muito estimulada em países desenvolvidos, por isso é muito comum espaços destinados a públicos diferentes. No Reino Unido e em alguns países da Europa mais da metade da população fazem o uso da leitura e leem mais de um livro por mês.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:

Artigo: “Prática pedagógica alfabetizadora: aquisição da língua escrita como processo sociocultural” (BRITO, A.E).

Clique aqui.

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Estratégias da leitura- Parte I

OBJETIVO:

Vamos dar início a algumas técnicas ou regras que podem ser usadas no uso da leitura dentro e fora da sala de aula ou até mesmo atividades sugeridas que facilitarão no processo de formação. Vimos que a leitura é tão importante para a formação do indivíduo e estimula também outros conhecimentos. O bom leitor dispõe de muitos recursos e tem domínio sobre algumas regras e normas que só a leitura pode proporcionar.

REFLITA:

Mesmo que nossa cultura não estimule o uso da leitura, todos sabem quão importante é para nosso crescimento.

Nesse pressuposto, você se considera um leitor assíduo?

A leitura como instrumentação cultural

Sabemos que o ato de ler é um ato extremamente cultural. Quanto mais somos motivados a leitura, maiores são as chances de nos tornarmos leitores fervorosos. Infelizmente, a grande maioria dos brasileiros não possuem o hábito da leitura e os que possuem, muitas vezes não tem acesso aos materiais, sejam livros ou periódicos. A leitura é um processo ativo e dinâmica, quem faz o bom uso da leitura está sujeito a muitas possibilidades e tem a maior capacidade de criação. Quanto menos o indivíduo lê, menos ele é integrado no mundo letrado.

A compreensão da leitura é um processo que se inicia desde o nascimento, como as leituras de histórias que nossos pais nos contam antes de dormir. Esse processo não é automático e precisa ser ensinado e praticado desde cedo. Ao longo de muitos anos, diversos pesquisadores da área persistiram em dizer que a leitura era um processo individual, porém quando fazemos o uso da leitura em conjunto, o desenvolvimento pode ser ainda maior.

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Existem estratégias que podem facilitar a compreensão de textos nas crianças e também em alunos mais velhos. É válido pensar que todas as abordagens de leitura são utilizáveis e que podemos, como professores, fazer uma adaptação a cada uma delas de acordo com a nossa turma.

Baseadas no texto da Universidade de Londres, e Roger Beard, faremos uma análise de algumas estratégias a seguir:

Aprendizagem coletiva

Todos os alunos uma leitura coletiva e depois discutem sobre a compreensão do texto. Nessa abordagem, os alunos participam desde o inicio da leitura no seu modo coletivo.

Trabalhei em uma escola construtivista em que era muito comum essa abordagem. Sentávamos todos no chão em círculo e cada aluna fazia a leitura de uma parte do texto. Após o término do capítulo, discutíamos sobre a compreensão da história e dávamos inicio novamente a leitura.

Desta maneira, os alunos participavam ativamente da história e não havia nenhum tipo de distração. A aprendizagem coletiva pode ser feita:

Monitorar a compreensão

O leitor deve fazer uma compreensão do texto enquanto realiza a leitura, ele pode fazer uma releitura para melhorar a compreensão do texto. No processo de monitoramento, o leitor faz uma analise central do texto para depois usufruir de fato desse processo.

Estrutura do enredo

Nessa estratégia o leitor é colocado em alguns posicionamentos nos qual deve responder ou perguntar: a quem; o quê; onde; quando; por quê. Após o leitor fazer a leitura do texto, ele usufrui desse processo de forma mais regrada, ou seja, para a sua compreensão, ele deve de fato responder as perguntas que ele mesmo indagou.

Não é muito comum essa abordagem nos dias de hoje porque demanda muito tempo de compreensão.

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Organizadores semânticos e gráficos

O professor pede ao aluno a representar o texto em forma de figuras, sejam gráficos ou desenhos.

Todas as formas de expressão são consideradas texto, até mesmo figuras ou desenhos. Nessa abordagem, o aluno deve criar dentro do contexto proposto o texto por meio da imagem que tiver em mente, ou seja, ele irá fazer uma representação do texto através de figuras. É um texto em outra forma.

Responder Perguntas

Essa é a pratica mais comum utilizada nas escolas. O aluno deve responder as perguntas baseadas na compreensão do texto.

Muitas escolas ainda adotam esse único método de leitura.

Geralmente as perguntas são de fáceis compreensão dentro do texto ou muito óbvias.

Caso você queira também utilizar esse método com seus alunos, faça perguntas que instiguem uma reflexão e que o aluno tenha que fazer uma releitura do texto.

Muitas universidades utilizam essa forma de interpretação, porém a resposta está intrínseca no texto e não exposta.

Resumo

Muito usual também nas escolas. Após a leitura o leitor deve colocar no papel as principais ideias contidas no texto.

O resumo serve para que o aluno faça uma releitura e aponte os pontos principais do texto. Pode ser muito útil em muitos casos, porém não podemos esquecer que muitos alunos se sentem desmotivados com essa prática. Deve haver uma proposta diferente, uma inovação, só assim haverá estímulo.

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REFLITA:

Dentre as abordagens de leitura, qual a que você utilizaria mais em sala de aula?

O uso da metodologia se dá pela forma como o docente passa a informação ou atividade, portanto vale ressaltar que o que pode dar certo em uma sala, pode não dar certo em outra. Você, como professor, deverá conhecer seus alunos e só assim poderá fazer uma separação de abordagem. Algumas abordagens podem estimular alguns alunos enquanto outras podem simplesmente criar um pânico de leitura para eles. Faça uma analise da turma, converse com eles, conte quais são seus objetivos para tal posicionamento. Procure entendê-los e fazer com que eles falem a “mesma língua” que você. Não adianta você escolher uma abordagem muito criativa, porém o livro os desestimula. Lembre-se que você é aquela pessoa que irá dar o leme para eles remarem, você não pode remar por eles, deixe os fazer isso sozinhos, cada um a seu tempo e sua individualidade.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:

Artigo: “Como estimular a leitura na alfabetização”

(MANSANI,MARA). Clique aqui.

RESUMINDO:

Você estudou sobre letramento e alfabetização, compreendeu que se trata de dois conceitos muito próximos entre si e que em algumas vezes são confundidos.

historicidade desde a cartilha de Comenius até os trabalhos de os estudos de Emília Ferreiro a Ana Teberoski. Depois você passou para o socioconstrutivismo de Vigotski e sua interpretação quanto a formação para a leitura e finalizou nos estudos sobre as práticas socioconstrutivista. A seguir viu as estratégias e práticas para a leitura.

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REFERÊNCIAS

CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 1994om.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1004.

COMENIUS, J. A. Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1985

FERREIRO, E. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1984.

SOARES, M. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto,2003 VIGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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Referências

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