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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS BACHARELADO EM ARTES VISUAIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS

BACHARELADO EM ARTES VISUAIS

LÉA VASCONCELOS DE SOUZA VANDESSON SILVA DE ANDRADE

SENHORAS DAS MARÉS:

CICLOS E FLUXOS

Cachoeira/ BA Fevereiro/2019

(2)

LÉA VASCONCELOS DE SOUZA VANDESSON SILVA DE ANDRADE

SENHORAS DAS MARÉS:

CICLOS E FLUXOS

Memorial descritivo - Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Colegiado de Artes Visuais, Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Artes Visuais.

Orientadora: Prof.ª Dra. Roseli Amado da Silva Garcia.

BANCA EXAMINADORA

Aprovados em: 26 de fevereiro de 2019

Cachoeira/BA Fevereiro/2019

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“Tudo tem o seu tempo determinado, E há tempo para todo o propósito Debaixo do céu. [...]”

(Eclesiastes 3:1)

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AGRADECIMENTOS

Queremos expressar nossa gratidão a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, em especial:

Ao Divino Espirito Santo pelo dom da vida, pois sem ele não teríamos chegado até aqui. As nossas famílias, em especial as nossas mães (Ana Rita e Josefina) pelo amor e por compartilhar conosco este sonho, seja nos apoiando nos estudos ou nas escolhas tomadas. Agradecemos a nossa orientadora Roseli Amado, que teve um papel fundamental na elaboração da nossa pesquisa, pela ajuda e compreensão em nosso processo artístico. Queremos agradecer aos professores da Universidade que direta ou indiretamente contribuíram para nossa formação.

Aos colegas 2014.1 do curso de Artes Visuais, em especial ao grupo dos cinco na pessoa de Daniele (Dani) e Thais (Wend) que foram nossas companheiras de todas as horas. A Ricardson (Rick) que fez parte desse grupo e nos auxiliou em vários momentos. Não poderíamos deixar de agradecer a Anderson (Bio), Nadson, Jéssica (Jeu) e Silvia Souza, pelos momentos que vivemos juntos, o qual somos muito gratos.

Nosso enorme agradecimento a Maria e a Carlinhos, que nos ajudaram na pesquisa de campo. Agradecemos a todas as mulheres entrevistadas neste trabalho, em especial “As Senhoras das Marés” de Maragogipe no nome de Quinha e Roquelina.

Aos amigos, fora da faculdade que fazem parte do nosso crescimento. Por fim, somos gratos pela oportunidade de fazer essa pesquisa juntos, que serviu para fortalecer nossa amizade construída ao longo desses quatro anos.

Obrigado a todos!

(5)

RESUMO

Esse memorial cujo título é Senhoras das Marés: Ciclos e Fluxos é um produto técnico de cunho artístico que aborda o cotidiano e o caráter sucessivo de ações que estão presentes no trabalho marisqueiras e pescadoras do município de Maragogipe- Bahia. Tendo como estudo o tempo (Chronos e Kairós). Estes termos foram utilizados para representar a ideia de tempo, onde Chronos significa linearidade e Kairós momento oportuno.

O objetivo desse trabalho é mostrar os momentos Chronos e Kairós na vida dessas mulheres que são guiadas pelas oscilações da maré. As obras concebidas por meio de múltiplas linguagens sendo elas: fotografia, videoarte e instalação, são o resultado de um período de grandes descobertas onde tivemos a oportunidade de conviver com as senhoras das marés que generosamente compartilharam seus conhecimentos.

Palavras-chave: Fotografia; Vídeoarte; Tempo, Marisqueira; Pescadora, Processo de criação.

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ABSTRACT

This memorial whose title is Ladies of the Tides: Cycles and Flows is a technical product of an artistic nature that deals with the daily life and the successive character of actions that are present in the seafood and fishermen's work of the municipality of Maragogipe-Bahia. Having as study the time (Chronos and Kairos).

These terms were used to represent the idea of time, where Chronos means linearity and Kairós timing.

The purpose of this work is to show the Chronos and Kairos moments in the lives of these women who are guided by the tidal oscillations. The works conceived through multiple languages being: photography, video art and installation, are the result of a period of great discoveries where we had the opportunity to live with the tide ladies who generously shared their knowledge.

Keywords: Photography; Video art; Time, Marisqueira; Pescadora, Process of creation.

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SUMÁRIO

RESUMO……….05

LISTA DE IMAGENS………....…08

INTRODUÇÃO………...09

CICLO I………...9

1.Análise sobre o tempo / Definições de Chronos e Kairós………14

2. A problemática do tempo na atualidade ... 15

3. O tempo para as “Senhoras das Marés.” ... 15

CICLO II………..18

1.A rotina de trabalho das Senhoras das marés em meio ao fluxo de águas………...19

2.Guardiãs de saberes……….21

3. Alternâncias das marés ... 21

CICLO III………23

1. Referenciais Teóricos / Linguagens artisticas………..….24

2.Encontros com as Senhoras das Marés………26

3. Referenciais Poéticos ... 30

4.1 Obra: Marisqueira entre Chronos e Kairós………...32

4.2 Obra: Entre o Mar e o Mangue, o Relógio da Maré……….…35

4.3 Obra: Pescadora entre Chronos e Kairós……….…..38

CICLO IV………....42

5.EXPOSIÇÃO: Olhares de Bahia……….…...43

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS……….….45

7.REFERÊNCIAS………..46

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LISTA DE IMAGENS

Figura 1 - A Casca – Experimentação Sonora com cabaça e do Chumbinho ... 11

Figura 2- Marisqueiras na Maré Baixa ... 15

Figura 3 - Alto Mar ... 16

Figura 4 - Da Série Mangue ... 17

Figura 5 - Da Série Mangue ... 17

Figura 6 - Retirando Sururu ... 19

Figura 7 - Mulheres Trabalhando ... 20

Figura 8 - Marisqueiras Retirando o Chumbinho ... 20

Figura 9 - Nível da Maré ... 22

Figura 10 - Pesquisa de Campo ... 26

Figura 11 - Manguezal ... 28

Figura 12 - Teste de Enquadramento ... 28

Figura 13 - Organização das Canoas ... 29

Figura 14 - Em Busca do Melhor Angulo ... 29

Figura 15 - A Pescadora ... 30

Figura 16 - Suspense ... 31

Figura 17 - Foto Instalação ... 32

Figura 18 - Da serie Marisqueiras entre Chronós e Kairós ... 33

Figura 19 - Da Série Marisqueiras entre Chronos e Kairós ... 33

Figura 20 - Da série Marisqueiras entre Chronós e Kairós ... 34

Figura 21 - O Cotidiano de uma Marisqueira ... 34

Figura 22 - Maré Alta ... 36

Figura 23 - Maré Baixa ... 36

Figura 24 - Edição de Vídeo ... 37

Figura 25 - Ambiente de trabalho das pescadoras ... 38

Figura 26 - Manipulação da imagem, 2019 ... 38

Figura 27 - Da Série Experimentação 2 ... 39

Figura 28 - Resultado da Obra ... 40

Figura 29 - Resultado da Obra 2 ... 41

Figura 30 - Resultado Final ... 44

Figura 31 - Resultado da Videoarte ... 44

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9

INTRODUÇÃO

Senhoras das Marés: Ciclos e Fluxos é uma pesquisa em Artes Visuais que aborda o cotidiano de marisqueiras e pescadoras, onde notou-se a relação dessas mulheres com outra perspectiva de tempo além da cronológica. Os termos de origem grega Chronos e Kairós possuem diferentes significados que foram adotadas nesse trabalho para identificar a passagem do tempo na rotina de trabalho dessas senhoras, sendo eles:

[CHRONOS]. In: WIKIPEDIA, 2019; “Chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, associado ao movimento linear das coisas terrenas, com um princípio e um fim.”

[KAIRÓS]. In: WIKIPEDIA, 2019; “refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, o tempo da oportunidade.”

Entre ciclos e fluxos da maré surgem mulheres que trazem consigo algo que não tem preço, que ninguém jamais poderá usurpar. Tamanha é sua generosidade que se dispuseram a compartilhar os conhecimentos adquiridos através de seus antepassados, que englobam a técnica e os fenômenos que as rodeiam. O saber acumulado por marisqueiras e pescadoras sobre fatores climáticos permitem reconhecerem o momento oportuno para desenvolverem seu trabalho por meio de técnicas que garantem a feitura de atividades como mariscar e pescar.

O recôncavo baiano guarda grandes historias, na cidade de Maragogipe não poderia ser diferente, nela há o encontro das águas do mar com o rio chamado Paraguaçu que nasce na Chapada Diamantina. Foi em meio a 30 km de lagamar que redescobrimos o trabalho de mulheres que se organizam no manguezal em uma rotina exaustiva em busca de oportunidades que surgem junto com os ciclos da maré.

É por meio de múltiplas linguagens como instalação, fotografia e videoarte, que criamos obras que evidenciam a relação dessas mulheres com o tempo. O título Senhoras das Marés remete aos pontos convergentes entre marisqueiras e pescadoras sobre técnicas acumuladas na pesca e mariscagem que são aperfeiçoados diariamente.

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10 Essas senhoras também detém o conhecimento da quebra da maré1 que são mudanças que ocorrem no nível da água do mar, é através desse saber que elas entram ou saem do mangue.

Com o estudo aprofundado no modo de vida dessas mulheres, percebemos que suas memórias contribuem para o melhor entendimento da historia local e das espécies que vivem no manguezal. Nesse lugar transborda gratidão e junto com esse sentimento surgem oportunidades oriundas das oscilações da maré, que são aproveitadas para trabalhar ou lembrar o passado, para as senhoras das marés estar entre o mar e o mangue é uma forma de criar conexões com o tempo além da ideia linear.

Sabendo que os processos de pesquisa e criação em arte resultam em descobertas que imprimem o olhar do artista sobre determinado tema, desenvolvemos nosso trabalho com linguagens que deem protagonismo a marisqueiras e pescadoras sob uma nova abordagem, as diferentes formas que elas se relacionam com o tempo.

A poética sobre o tempo permitiu com que criássemos obras reflexivas, foi no decorrer do processo de criação que introduzimos a poética, que juntamente com as linguagens deram vida as obras que idealizamos, tivemos como exemplo o artista Marcel Duchamp que através da linguagem conseguiu legitimar seu trabalho no âmbito das artes.

O bacharel em artes visuais possui inúmeras vertentes, uma delas é debruçar sobre pesquisas em universos até então desconhecidos, para Sandra Rey é fundamental que o artista pesquisador saiba elaborar questões acerca do que esta sendo estudado.

A realização da pesquisa não apenas coloca o artista como um produtor de objetos que lançam sua candidatura ao mundo dos valores artísticos, mas pressupõe que, ao produzi-los, o faz de tal modo que esses objetos são oriundos de um questionamento, delimitando um ponto de vista particular, propondo uma reflexão sobre aspectos da própria arte e da cultura. Para a pesquisa, muito mais importante do que achar respostas é saber colocar questões. (REY, 2002, p. 2)

Ao ingressarmos na Universidade em 2014, tivemos a oportunidade de conhecer diferentes linguagens artisticas que foram afloradas no decorrer do curso.

1 Definir quebra da maré: Altura da maré, Maré alta ou preia-mar; Maré baixa ou baixa-mar .

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11 Em um ambiente interdisciplinar propício a troca de conhecimento, docentes dos componentes sociologia geral e artemidia I, somaram atividades que resultaram em nossa primeira exposição intitulada “Arte de Quinta” onde conceituamos uma obra.

No nosso caminhar, técnica e poética andaram de mãos dadas, nas disciplinas de Fotografia I, II e III, tivemos contato com uma camera DSLR e os conceitos foram apresentados sobre fotografia, videoarte e instalação.

Senhoras das Marés é uma rede de conexões que nos faz pensar que nada é por acaso. O recôncavo vive de suas belezas e das memórias de seu povo que batalha, que sofre, que sorri, que é gentil, que produz som, que marisca e pesca. Este trabalho é fruto do aprofundamento nas obras “O cotidiano de uma marisqueira” fotografia participante de exposições promovidas pela professora Alene Lins, (obra individual de Léa Vasconcelos) e de um instrumento musical criado na disciplina de plástica sonora, obra criada em parceria entre os artistas (Léa Vasconcelos e Vandesson Andrade), onde utilizamos as cascas dos mariscos que eram descartadas para aproveitar sua estética e sonoridade.

Figura 1 - A Casca – Experimentação Sonora com cabaça e do Chumbinho

Fonte: Acervo dos artistas, 2018

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12 No processo de criação colaborativa, concretizamos a nossa proposta artística em 4 ciclos:

• Buscar definições para os termos, Chronos e Kairós que simbolizam ordem e oportunidade respectivamente. Levantar questionamentos sobre a forma em que a sociedade lida com tempo e investigar a organização das Senhoras das Marés dentro do manguezal, focando em sua relação com as oscilações das águas, neste momento percebemos a existência de momentos propícios para que as atividades dessas mulheres fossem realizadas.

• Compreender a rotina de trabalho das senhoras das marés em meio ao fluxo de águas, revelando saberes sobre a técnica usada por essas mulheres e a

importância das oscilações da maré.

• Relacionar conceitos teóricos e artísticos, citando autores como: Arlindo Machado, Sandra Rey, Holand Bathers, Anna Teresa Fabris, Thina Cunha e Katia Maciel. Também trabalhamos nosso processo de criação, tendo como metodologia a pesquisa de campo, onde realizamos entrevistas, registros e esboços das obras.

• Montagem da exposição realizada coletivamente entre os formandos de Artes Visuais. A mostra “Olhares de Bahia” foi realizada nos dias 14 e 15 de fevereiro de 2019, no espaço de eventos NUDOC, Cachoeira-Bahia. As obras estabeleciam diálogos entre distintos olhares de Bahia partindo do recorte territorial, que vai do eixo do recôncavo sul ao sertão da Bahia, onde os artistas abordavam diferentes temas de suas cidades natal. Os artistas presentes: Jéssica Santos (Muritiba); Léa Vasconcelos (Maragogipe); Lorena Dantas (Nazaré das Farinhas); Silvia Souza (Santa Terezinha); Thais Chagas (Feira de Santana) e Vandesson Andrade (Muritiba).

Após esses ciclos, avançamos para as nossas considerações finais e para maior entendimento adicionamos ANEXOS sobre nosso processo e obras.

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13

CICLO I

Análise sobre o tempo/Definições de Chronos e Kairós A problemática do tempo na atualidade O tempo para as “Senhoras das Marés”

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14 1. Análise sobre o tempo / Definições de Chronos e Kairós

O ser humano durante seu processo evolutivo buscou criar mecanismos lineares e cíclicos que possuíssem início, meio e fim, que fossem capazes de orientá-los sobre o decorrer da passagem do tempo como o calendário que é dividido em data, mês, ano e o relógio que já foi de sol, água, areia, engrenagens e agora digital.

Para os gregos, o tempo pode ser dividido pelo menos em três termos: aion, chronos e kairós, porém nesse projeto abordamos apenas o tempo sequencial, (Chronos) e o tempo especial ou oportuno para desempenhar alguma atividade (Kairós), onde analisamos a rotina cronológica de marisqueiras e pescadoras, que nessa pesquisa são chamadas de Senhoras das Marés.

Segundo o autor Chronos representa o tempo já conhecido atualmente, com a divisão de vinte e quatro horas, na configuração de que o passado será sucedido pelo presente, e o Kairós representa uma sensação de que uma atividade prazerosa, o tempo corre mais rápido, porém, se for uma atividade cansativa, o tempo parece estacionar, não passa, porém, os dois tipos duraram o mesmo período. (MARTINS, AQUINO, SABÓIA, PINHEIRO, 2012).

Para enxergar Chronos temos a ajuda de relógios e calendários ou até mesmos através de marcas deixadas na pele, e com as senhoras das marés não poderia ser diferente, desde que nasceram foram ensinadas por meio de seus familiares o oficio, dizem que criança não trabalha, mas se não trabalhassem desde cedo não teriam o que comer e seriam devoradas assim como Chronos devorou seus filhos. [...] Chronos vem do grego κρόνος que significa duração controlada. (MARTINS, AQUINO, SABÓIA, PINHEIRO, 2012).

As Senhoras das Marés possuem profundo conhecimento do seu local de trabalho, acreditam que Deus estabelece conexões com elas por meio da natureza, é a ele que atribuem a graça de ter o que ser retirado do manguezal ou do mar. Kairós vem do grego καιρός, que significa momento certo ou oportuno.

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15 2. A problemática do tempo na atualidade

O tempo na contemporaneidade tem sido encarado por alguns como um problema.

Pois, é comum ouvir relatos de pessoas que vivem ansiosas em meio a tantas tarefas a serem cumpridas ao longo do dia, tratam o relógio como um verdadeiro inimigo; quem nunca reclamou, ou ouviu alguém reclamar durante as longas filas que temos que encarar durante a vida? Com as variações climáticas não é muito diferente, nos dias de sol reclamamos do calor e nos dias de chuva do frio. Será que esquecemos de aproveitar cada instante da nossa existência e contemplar o que o universo tem a proporcionar de melhor?

3. O tempo para as “Senhoras das Marés”

As horas para essas mulheres é medida de acordo com a maré. O foco está nos ciclos que envolvem as águas que se dividem entre maré alta e baixa, pois essa alternância afeta o tempo possível para mariscar e pescar. A relação de marisqueiras e pescadoras com o tempo é diferente, o importante para elas não são os minutos, mas sim, a posição em que o mar se encontra. Podemos perceber na (fotografia 2 e 3) nossa observação sobre o cotidiano das senhoras das marés.

Figura 2- Marisqueiras na Maré Baixa

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

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16 Figura 3 - Alto Mar

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

Se nas casas das Senhoras das marés há preocupações mensais como contas de água e luz que surgem a cada 30 dias, é no chamado da maré, alta ou baixa, que essas mulheres encontram o momento oportuno de trabalhar e viver dignamente, estamos aqui falando da tranquilidade proporcionada por quem leva a vida honestamente.

Para as marisqueiras mais experientes com o avançar da idade a tarefa de mariscar fica mais dificil, pois para exercer a profissão é necessario agilidade e equilibrio para subir em galhos, outra dificuldade encontrada por essas mulheres é ter que ficar horas agachadas entre a água e a lama. É com saudade que elas recordam dessa época. As fotografias 4 e 5 são observações do manguezal e suas grandes raízes.

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17 Figura 4 - Da Série Mangue

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

Figura 5 - Da Série Mangue

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

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18

CICLO II

A rotina de trabalho das senhoras das marés em meio ao fluxo de águas Guardiãs de saberes Alternâncias das marés

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19 1. A rotina de trabalho das senhoras das marés em meio ao fluxo de águas

Em meio aos ciclos das marés, há alternância entre momentos oportunos para marisqueiras e pescadoras desempenharem suas funções distintas. Quando a maré começa a ficar baixa as marisqueiras adentram o manguezal com baldes e facas, é com o auxilio de seu material de trabalho que retiram da areia, lama e raízes uma variedade de mariscos, por exemplo, no meio do lamaçal e raízes são apanhados o “sururu”

(Fotografia 6) e geralmente enterrados na areia apanham cochas conhecidas na região como chumbinho2 (fotografia 7 e 8). Fotografias de registro.

A Mariscagem é definida por Adomilli (2009) como a arte de pesca, que se caracteriza pela retirada de moluscos de solo lodoso com materiais criados artesanalmente por essas mulheres, principalmente em estuários, áreas que se desenvolvem os manguezais.

Figura 6 - Retirando Sururu

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

2 Definição de chumbinho: É um molusco comestível, comum no litoral brasileiro.

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20 O tempo estimado em que a maré fica baixa é de 6 horas, durante esse período as marisqueiras ficam abaixadas em meio à água e areia procurando os mariscos.

Figura 7 - Mulheres Trabalhando

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

Figura 8 - Marisqueiras Retirando o Chumbinho

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

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21 O traje adotado pelas Senhoras das Marés basicamente é blusa longa e o chapéu que visa protege-las do sol, porém mesmo assim a exposição aos raios solares deixam marcas na pele, que são esquecidas quando recordam que tudo que conquistaram é oriundo do seu trabalho no mangue. As dores nas costas das marisqueiras é resultado da posição em que as elas ficam durante o dia, variando apenas de local na busca de mais mariscos, que antes de ser jogados dentro do balde, elas o colocam dentro da própria blusa.

Depois da captura, inicia-se uma nova jornada onde ocorre o beneficiamento do marisco/pescado que é a etapa anterior a venda, a depender do tipo de molusco é necessário lava-lo antes da fervura (cozimento do fruto do mar), que facilita na extração do seu casco. No caso do pescado é tratado e embalado fresco (sem processo de cozimento).

Com a maré alta as pescadoras veem a oportunidade de saírem rumo ao mar com sua canoa. É em meio ao grande fluxo de águas que elas fazem uso da rede que além de ter a função de capturar peixes, há convidam a reviver o passado, trazendo à tona sentimentos entre eles de gratidão. De fato, podemos então compreender a importância e os significados da maré, cujos, valores vão além do provimento, mas sim, na questão de memória e pertencimento local.

2. Guardiãs de saberes

Os saberes adquiridos por marisqueiras e pescadoras não tem relação com o nível de escolaridade, são assimilados através do contato familiar e na constante relação com a natureza, nesses ambientes há valorização de práticas que são passadas verbalmente de pais para filhos (2004, p.26), é preciso considerar o valor das culturas, a sabedoria, o saber, os modos de fazer, de conhecimentos muitos sutis sobre o mundo vegetal e animal.

3. Alternâncias das marés

É através do chamado tempo da maré que pescadoras e marisqueiras são guiadas a realizarem seu trabalho, onde revezam a entrada e saída da zona pesqueira, quando a maré fica baixa as marisqueiras realizam dentro do mangue o que chamamos de

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22 mariscar, um processo de extrair o sururu que é um tipo de marisco. Por outra vertente é geralmente na maré alta que as pescadoras vão para alto mar e com o auxilio de suas redes de aproximadamente 50 metros capturam peixes como pititinga, massambe, robalo etc. Ver (figura 9).

Figura 9 - Nível da Maré

Fonte: Poisedon, 2018

Listamos abaixo, alguns dos benefícios das alternâncias das marés que favorecem marisqueiras e pescadoras.

Maré baixa:

• Marisqueiras adentram ao mangue para iniciar o processo de cata.

• Pescadoras aproveitam para fazer uma especie de armadilha chamada de copi3, que nada mais é do que um buraco, também é na maré baixa que os peixes são retirados dessa estrutura.

Maré alta:

• As canoas conseguem altitude para partir rumo ao alto mar.

• As ostras que estão no mangue conseguem se alimentar através dos nutrientes presente na água.

• Os peixes caem no “copi” armadilha feita pelas pescadoras.

3 Definição de copi: É uma armadilha criada pelas pescadoras para auxiliar na captura de peixes.

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23

CICLO III

Referenciais Teóricos / Linguagens artisticas Encontro com as senhoras das marés Referenciais Poéticos Obras

(24)

24 1. Referenciais Teóricos / Linguagens artisticas

Por meio da fotografia e do vídeo, podemos registrar períodos especiais que são capazes de despertar os mais variados sentimentos, mesmo que já tenham passado 10 ou 20 anos. Essas linguagens se completam, enquanto uma congela momentos a outra permite registrar o fluxo do tempo, com o auxilio de fotos e vídeos o artista constrói narrativas que expressam a passagem entre chronos e kairós.

A combinação entre imagens implica no reconhecimento do fazer artístico.

Através da lente fotográfica podemos investigar conceitos e provocar o espectador sobre a obra. Segundo a autora (Fabris, p.13. 1991) em uma pesquisa em artes visuais.

Se formos analisar o estudo da obra de arte visual no âmbito do saber, percebemos que, em via de regra, são tomadas duas atitudes gerais diante dela: considera-la uma simples ilustração de uma ideia ou de um fenômeno, ou não levá-la em consideração porque não se reconhece a existência de um pensamento visual, dotado de leis específicas, capaz de nos fazer compreender um momento cultural como integrante fundamental de um momento social.

Além disso, a fotografia é um meio de expressão artística, que está presente em todos os momentos marcantes de nossa vida. É uma forma de expandir aquilo que está acontecendo naquele momento.

A arte concilia linguagem e conceito e por meio de suas técnicas podemos criar narrativas que possibilitem ao espectador refletir sobre os mais diversos fatos. No texto, Patrícia Moran afirma que:

As artes visuais como a pintura e a fotografia, imprimem o tempo em superfícies que podem ser percorridas em distintas direções a cada nova mirada. Cada encontro com a tela pode revelar texturas, combinações de cores, formas e movimentos, enfim, relações antes não vistas. Determinadas situações ou cenas ganham prevalência em relação a outras. O tempo instaura-se pelo olhar, espaço visual apreendido e controlado.

Para Barthes (1980) as imagens das fotografias podem ser usadas como um meio de aprender quanto o assunto é a cultura e costumes de uma população, e por isso, as fotografias são como biografemas, “era certo que isso existira: não se tratava de exatidão, mas de realidade: […] o fato estava estabelecido sem método” (BARTHES, 1980, p. 120).

(25)

25 Marisqueiras e pescadoras são mães que buscam o sustento para suas famílias.

Sua figura foi de forma despretensiosa tornada invisível aos olhos de quem está por perto, porém, viva na memória de seus familiares. A partir dessa narrativa surgiu necessidade de discutir a trajetória dessas mulheres.

Para Barthes (1980), tudo que esta dentro de uma fotografia morre em seu enquadramento, já que não existe uma continuidade, o que acontece após uma pessoa ver a foto estar ligado com o seu próprio imaginário.

[…] A imobilidade da foto é como o resultado de uma confusão perversa entre dois conceitos: o Real e o Vivo: ao atestar que o objeto foi real, ela induzdub-repticiamente a acreditar que ele está vivo, por causa de logro que nos faz retribuir ao Real um valor absolutamente superior, como que eterno;

mas ao deportar esse real para o passado (“isso foi”), ela sugere que ele já está morto. (BARTHES, 1980, p.118)

Já, Dubois (2008, p.24) afirma que “o ato fotográfico implica, portanto não apenas em um gesto de corte na continuidade do real, mas também a ideia de uma passagem, de uma transposição irredutível.” Essa passagem diz respeito ao registro que já é passado, ou seja, algo que já aconteceu, mas que sobrevive com o congelamento do instante.

Ao contrario da foto, para Arlindo Machado (1993) o vídeo é mais um processo de continuidade nas imagens, expande momentos.

Numa palavra, a arte do vídeo tende a se configurar mais como processo do que como produto e essa contingência reclama um tratamento semiótico fundamentalmente descontínuo e fragmentário.

Isso certamente traz consequências também a nível da “leitura”

operada pelo receptor. Nada garante que este último seguirá o mesmo percurso de associações sugerido ou imaginado pelos realizadores: há uma certa margem de autonomia na “leitura” efetuada pelo espectador, que torna inclusive inúteis quaisquer tentativas mais ambiciosas de controlar a mensagem dentro de limites muito definidos. (MACHADO, 1993, p. 15)

Dessa forma partimos para nossos testes de percepção a respeito das fotografias e dos vídeos, onde trabalhamos o principio da composição e enquadramento fotográfico.

Na fotografia a composição deve ser uma de nossas preocupações constantes, ao estarmos prestes a tirar uma foto devemos ceder lugar à sensibilidade.

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26 2. Encontros com as Senhoras das Marés

Durante a pesquisa de campo conhecemos algumas das Senhoras das Marés, e a partir de nossas conversas conseguimos entender um pouco mais sobre sua vida.

Figura 10 - Pesquisa de Campo

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Maria do Carmo, 2018.

Adentramos no mangue com a ajuda de uma pescadora que prefere ser chamada de Quinha, que nos narrou fatos de sua vida. Essa mulher se orgulha de seu oficio, iniciado desde os 8 anos de idade, tudo que possui foi oriundo da pescaria, trabalho árduo que deixou marcas em seu corpo, que são coisas pequenas em meio a grandes perdas que sofreu. “Se eu fosse uma pessoa medrosa não olhava para o mar, porque eu tive um acidente com meu pai e meus irmãos, só eu escapei, eu tinha 8 ou 9 anos, eu acho que foi uma coisa de Deus, era uma coisa que eu tinha que ser mesmo.”

(VASCONCELOS, L. e ANDRADE, V, Entrevista, 5 OUT. 2018).

A locomoção no mangue é uma tarefa complicada para quem não esta acostumado, percebemos isso logo nas primeiras passadas, mas para Vera Lúcia que aprendeu com a mãe a mariscar tudo é questão de tempo, pois com o passar dos anos a técnica é aperfeiçoada, para essa mulher o manguezal não é lugar para reclamar ou

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27 trazer problemas e sim de obedecer à maré. “Pescava em família, a gente vivia de maré.” (VASCONCELOS, L. e ANDRADE, V, Entrevista, 5 OUT. 2018).

Além de Quinha e Vera Lucia, tivemos como inspiração a pescadora, Marisqueira e poeta Roquelina Almeida, que contribuiu muito para a realização do nosso trabalho. Ela não abriu apenas a porta de sua casa, em sua generosidade compartilhou conosco suas memorias, e durante esses momentos de aprendizado recitou o poema abaixo.

“O kairós de uma pescadora acontece todas às vezes, que ela consegue pescar, cuidar de casa,

Cuidar de filhos, ser esposa, Quando consegue ter tempo para pensar,

Quando consegue se olhar no espelho, Consegue ainda se ver e se admirar.

Para agradecer a maravilha que é o mar, O mar que não botamos nada lá, Mas todas às vezes conseguimos encontrar E sempre trazemos alguma coisa para nos sustentar

Será? Eu acredito que jamais conseguiremos revelar todos os nossos kairós

Porque é muita alegria, é muita vitória a cada dia Ao vencer todos os desafios, calafrios Mas uma coisa é certa não é de brincadeira,

Como somos tão guerreiras Nós mulheres pescadoras e marisqueiras.”

Roquelina Almeida

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28 No decorrer da nossa visita ao manguezal foram feitas fotografias e vídeos, que ao longo do nosso processo foram sendo aperfeiçoadas.

Figura 11 - Manguezal

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2018.

Figura 12 - Teste de Enquadramento

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2018.

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29 Figura 13 - Organização das Canoas

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

Figura 14 - Em Busca do Melhor Angulo

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2018.

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30 3. Referenciais Poéticos

Nesse trabalho temos como referencial poético Thina Cunha que além de artista é pesquisadora. Ela trabalha com a relação das pessoas com a natureza. Em sua trajetória buscou conhecer o mangue e por meio de linguagens possibilitou que outras pessoas voltassem seu olhar para esse ecossistema.

Thina Cunha que por meio de suas obras revela a importância do manguezal, um dos mais ricos ecossistemas do planeta terra, ele ocorre no Brasil desde o Amapá até Santa Catarina. “Eu acho que [o mangue] é uma coisa muito nossa, do Nordeste, apesar de ter no mundo inteiro, e eu conheci alguns na Bolívia, são todos muito parecidos.

Entusiasmei-me e comecei a fazer mil passeios por mangues.” (CUNHA, T. Entrevista no G1, 2013).

A partir de suas experimentações e vivências, ela cria obras que levam o manguezal as galerias de arte. Proporcionando ao público conhecer as questões ambientais. Na exposição Desthinções, Cunha elaborou diversas obras entre pinturas e esculturas, que retratavam o manguezal. (Figura 15)

Figura 15 - A Pescadora

Fonte: Thina, 2013

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31 A forma com que Katia Maciel organiza seu trabalho serviu-nos como fonte de inspiração, essa artista esta sempre procurando formas de interação com o publico exemplo disso é a videoinstalação intitulada como “Suspense” que narra a historia de uma mulher que está perdida em um paraíso, onde a mesma envia fotos para sua provável localização.

Figura 16 - Suspense

Fonte: Katia Maciel, 2013

Maciel busca criar novas formas de exibir seu trabalho, embora o mesmo venha despertar no espectador sentimentos corriqueiros aos filmes de suspense, como a incerteza por não saber o que ainda esta por vir. Outro fato interessante é que as pessoas podem ser imersas nessas obras por meio de espelhos e aparatos tecnológicos como a projeção.

4. Obras

Ao melhor entender a vida das Senhoras das Marés e sua relevante relação com o tempo, organizamos nossas ideias de maneira ordeira entre:

• Fazer esboços do suporte para a fotografia, “Marisqueira entre Chronos e Kairós.”

• Editar a videoarte.

• Manipular a foto intitulada como: “Pescadora entre Chronos e Kairós”.

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32 4.1 Obra: Marisqueira entre Chronos e Kairós

Na foto-instalação fomos inspirados pela ampulheta (relógio de areia), a criar um suporte que revela a foto na medida em que a areia cai, remetendo a ideia da passagem de diferentes tempos na rotina de marisqueiras.

Figura 17 - Foto Instalação

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Ilustração: Vandesson Andrade, 2018.

Essa obra assim como a maré depende de fatores gravitacionais, onde há o momento oportuno (Kairós) da obra ser revela ao público, no qual não depende do artista ou do espectador. (A imagem 17) é uma montagem feita para esboçar a obra.

Para compor o nossa obra selecionamos fotografias que vão além do cotidiano, elas conseguem expressar oportunidades de trabalho frequentes na vida dessas mulheres. (Fotografia 18, 19, 20 e 21) a foto 18 foi escolhida para ficar dentro do quadro ampulheta e a fotografia 21 é continuidade da obra “O cotidiano de uma marisqueira” já falada anteriormente.

(33)

33 Figura 18 - Da serie Marisqueiras entre Chronós e Kairós

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019

Para editar a foto acima (Figura 18), usamos o software photoshop. O efeito usado na fotografia chama-se desintegração que remete a ideia de areia, que assim como a marisqueira sempre estar em movimento constante.

Figura 19 - Da Série Marisqueiras entre Chronos e Kairós

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019

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34 Figura 20 - Da série Marisqueiras entre Chronós e Kairós

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019

Figura 21 - O Cotidiano de uma Marisqueira

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2015

(35)

35 4.2 Obra: Entre o Mar e o Mangue, o Relógio da Maré

Durante a pesquisa notamos que a maré é um grande relógio que guia o trabalho de marisqueiras e pescadoras, é por meio dela que as mulheres entendem o momento correto de empreender suas atividades. Sabemos que com a invenção do relógio as pessoas passaram a cronometrar os momentos de maré alta e baixa, expressando o Chronos, mas por outro lado também enxergamos Kairós, já que a sucessão desses eventos gravitacionais são oportunidades para as senhoras das marés trabalharem, e gerarem a fonte de renda que precisam para se sustentar.

Podemos afirmar que a alternância da maré é de fato um momento kairosiano para ambas, pois quando ocorre algum temporal o trabalho é praticamente inviável por se colocarem em condição de risco.

Após absorver essas informações começamos a elaborar a videoarte que representa o elo entre os dois universos, o relógio simbolizado pela maré. Cientistas explicam, a maré como um fenômeno gravitacional que se repete por sucessivas vezes, já para marisqueiras e pescadoras o aumento ou a diminuição das águas são determinados por Deus e de acordo com sua vontade elas terão a chance de trabalhar.

Dividimos essa obra em três etapas:

• A primeira etapa foi de pesquisa, conhecer mais sobre as Senhoras das Marés, o local de trabalho delas, a forma com que elas encaram o tempo.

• Na segunda etapa, registramos os videos que variam entre o aumento e diminuição da águas. (Figuras 22 e 23)

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36 Figura 22 - Maré Alta

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019

Figura 23 - Maré Baixa

,

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019

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37

• Já na terceira etapa foram feitas edições por meio do software adobe after effects, onde o vídeo que possui em media 3 horas resultou em 00:01:28 segundos de videoarte, este trabalho é ritmado pelo som característico do relógio. (tic, tac)

Figura 24 - Edição de Vídeo

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografa: Léa Vasconcelos, 2019.

(38)

38 4.3 Obra: Pescadora entre Chronos e Kairós

Essa obra compreendeu 3 momentos:

• No primeiro momento fotografar o ambiente de trabalho das pescadoras. (Figura 25)

Figura 25 - Ambiente de trabalho das pescadoras

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2019

• Em um segundo momento, com o uso do software photoshop multiplicamos a fotografia 5 vezes, e acrescentamos uma imagem de pescadora ao longe jogando a rede, naquilo que pra ela é um momento oportuno. (Figura 26)

Figura 26 - Manipulação da imagem, 2019

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2019

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• No terceiro momento com a foto criada, a reproduzimos no aplicativo Var’s VR Vídeo Player que alude ao movimento 360 graus. (Figura 27)

Figura 27 - Da Série Experimentação 2

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2019

Esta obra dialoga com o cotidiano de pescadoras que saem diariamente para alto mar em busca de peixes, onde o espectador por meio do óculos de realidade virtual (VR) teve a oportunidade de visualizar o momento em que uma das Senhoras das Marés joga a rede ao mar. A esse objeto artistico foi acrescentado a narração de um poema criado pela pescadora Roquelina Almeida, após descobrir a existencia de um tempo que foge da linearidade no qual ela já o vivia embora não soubesse nomea-lo.

(40)

40 Organização do espaço

As obras acima foram organizadas em uma instalação, onde criamos um ambiente que concilia fotografia e vídeo, que permite o espectador criar conexões com outra vertente de tempo, além da que já estão acostumados. Neste trabalho usamos os conceitos de novas telas, que junto com as novas tecnologias possibilitam que o espectador participe ativamente da obra como é o caso das instalações interativas algumas delas fazem com que o publico crie a sua própria narrativa audiovisual.

No texto de Philippe Dubois somos levados a refletir acerca de questões sobre a real necessidade do uso de uma tela branca, essas tramas já eram utilizadas desde os primórdios da humanidade onde as pessoas foram empregando novas funções para essa interface.

Sob a rede de pesca foi reproduzida a videoarte (Figuras 22 e 23), pois não queríamos seguir o modelo engessado de projeções.

Figura 28 - Resultado da Obra

Fonte: Acervo dos pesquisdores. Fotografo: Vandesson Andrade, 2019

A rede no espaço curatorial simboliza a maneira com que historias se entrelaçam, permitindo surgir reflexões sobre o objeto e o tempo de sua usualidade.

(41)

41 Figura 29 - Resultado da Obra 2

Fonte: Vandesson Andrade, 2019

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42

CICLO IV

Exposição

(43)

43 5. EXPOSIÇÃO: Olhares de Bahia

Senhoras das Marés fez parte da exposição Olhares de Bahia, durante o período 14 e 15 de fevereiro de 2019, no espaço de eventos NUDOC em Cachoeira Bahia, tendo como curadores discentes Jéssica Santos, Léa Vasconcelos, Lorena Dantas, Silvia Souza, Thais Chagas e Vandesson Andrade, onde propôs mostrar os trabalhos de conclusão do curso de Artes Visuais em Bacharelado ao publico em geral. A exposição ficou aberta durante o período da manhã, tarde e noite, tendo como monitores os próprios artistas participantes. As obras tiveram como linguagens artísticas: fotografia, desenho, bordado, pintura, vídeo, animação e instalação.

A mostra coletiva tinha como foco estabelecer diferentes perspectivas de olhares sobre a Bahia, proporcionando ao publico evidenciar a pluralidade e complexidade de temas e formas e expressão baianas. O planejamento para a excursão das obras foi realizado pelo próprio grupo, que fizeram do espaço o mais agradável possível. As artistas, Thais Chagas e Lorena Dantas, foram responsáveis pela identidade visual e texto curatorial.

A reserva do espaço ocorreu no dia 06 de fevereiro de 2019, onde definimos o local em que as obras ficariam expostas, e dois dias antes da abertura foram feitas as montagens dos nossos trabalhos. Durante a exposição “Olhares de Bahia” conseguimos alcançar o que tanto almejamos, pessoas refletiam, se emocionavam e eram transportados ao passado por meio de nossas obras.

Entre os relatos estão:

“Como é importante dar protagonismo ao trabalho dessas mulheres, que às vezes passam despercebidas”. (VASCONCELOS, L. e ANDRADE, V, Entrevista, 14 fev.

2019).

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44 Figura 30 - Resultado Final

Fonte: Vandesson Andrade, 2019

Figura 31 - Resultado da Videoarte

Fonte: Vandesson Andrade, 2019

“Ao olhar a rede, é como viajasse ao passado” (VASCONCELOS, L. e ANDRADE, V, Entrevista, 14 fev. 2019).

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45 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Somos artistas de cidades diferentes (Maragogipe e Muritiba) enquanto um era acostumado a ver marisqueiras e pescadoras dentro de seu ambiente de trabalho, o outro desde criança via mulheres vendendo mariscos e peixes nas feiras livres. A partir de nosso olhar de curiosidade sobre as diferentes formas que as Senhoras das Marés se relacionam com o tempo, encontramos na pesquisa em arte a possibilidade de embarcar nesse universo de pessoas que resistem as dificuldades. Conhecer essas senhoras mostrou-nos que o tempo pode ser nosso aliado se estivermos atentos as oportunidades que a vida nos fornece.

Outro fato importante que chamou nossa atenção nesse período é que essas mulheres ao longo de sua vida estavam dispostas a ouvir seus antepassados, na atualidade é tão mais difícil encontrar pessoas que estejam dispostas a escutar os mais experientes. Essas senhoras não retiram apenas peixes e mariscos, elas também deixam seu suor em meio à agua, durante suas atividades pescadoras e marisqueiras são transportadas a terem momentos de realização o que há motivam a continuar na profissão, não estamos falando apenas de dinheiro para suprir suas necessidades, há amor pelo que é feito.

Em um futuro próximo, levaremos as obras aqui citadas para Maragogipe e outras cidades do recôncavo baiano, porque sabemos que é importante que as Senhoras das Marés que algumas vezes passam despercebidas, sejam reconhecidas como

mulheres que disseminam os seus conhecimentos e contribuem assim para cultura da região e nos fazem acreditar que há tempo para tudo.

(46)

46 7. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Roquelina Souza. Pescando Poemas. Maragogipana – Bahia, 2002.

ADOMILLI, Gianpaolo Knoller. Arte de pescar, arte de narrar: notas etnográficas sobre a dimensão cultural do trabalho em uma comunidade pesqueira. Revista MÉTIS:

história & cultura – v. 8, n. 16, p. 97-119, jul./dez. Caxias do Sul, RS, 2009.

BARTHES, R. A Câmara Clara: nota Sobre a Fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

CAETANO, Hugo. Da Ocupação Do Território: Práticas e Interações entre Marisqueiras no Ambiente Pesqueiro. R. gest. sust. ambient., Florianopolis, v. 3, n. 2, p.

204 – 222. out.2014/mar.2015

DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. 11ª edição. São Paulo: Papirus, 2008

GOMES, Rosana. A Maré Taí! Experiências das Marisqueiras de Salinas da Margarida

(1960-1990). Disponível em:

http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300945765_ARQUIVO_AMareTai

!ExperienciasdasmarisqueirasdeSalinasdaMargarida(1960-1990).pdf. Acessado em 10 de fevereiro de 2019.

MACHADO, Arlindo. PRÉ-CINEMAS & PÓS-CINEMAS. São Paulo, Papirus, 2002.

MELLO, Christine. Videoinstalação e poéticas contemporâneas. ARS (São Paulo), São Paulo, v. 5, n. 10, p. 90-97, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-

53202007000200009&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 05 de fevereiro de 2019.

REY, Sandra. Cruzamentos impuros. Processos híbridos na arte contemporânea. In:

JORNADA DE HISTÓRIA DEL ARTE EN CHILE. ARTE Y CRISIS EN IBEROAMÉRICA. 2004, Santiago. Anais. Santiago: RIL ed., 2004.

(47)

47 Martins, J., Aquino, C., Sabóia, I., & Pinheiro, A. (2012). De Kairós a Kronos:

metamorfoses do trabalho na linha do tempo. Cadernos De Psicologia Social Do Trabalho, 15(2), 219-228.

“As Marés”. Disponível em: http://www.poseidon.pt/meteorologia/as-mares/. Acessado em 02 de fevereiro de 2019.

BEZERRIL, Gustavo. Trabalho no Mangue. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol.

4, nº 1, p. 5 – 33. jan./jun. 2012.

GONÇALVES, Osmar (org.) Narrativas Sensoriais. 1ª ed. Rio de janeiro: Editora Circuito, 2014.

“Significado de Chronos”. Disponível em:

https://www.dicionarioinformal.com.br/chronos/ Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

“Significado de Kairós”. Disponível em:https:://pt.wikipedia.org/wiki/Chronos Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

Entrevistas

Hora, Vera Lucia da. Entrevista concedida a Léa Vasconcelos e Vandesson Andrade Maragogipe, 05 de outubro de 2018.

Almeida, Roquelina. Entrevista concedida a Léa Vasconcelos e Vandesson Andrade, Maragogipe, 05 de outubro de 2018.

(48)

48 APÊNDICE A – ENTREVISTAS

Perguntas que foram aplicadas:

Quanto tempo desempenha a função?

Quem te ensinou a mariscar/ pescar?

Na família tem outras marisqueiras/pescadoras?

Ser marisqueiras/pescadoras é sua principal fonte de renda?

Quais os tipos de mariscos/peixes comum na zona pesqueira?

Quais são os seus materiais de trabalho?

O clima influencia no trabalho?

Qual é a relação de vocês com o tempo da maré?

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49 ANEXO B – TEXTO CURATORIAL

A mostra “Olhares de Bahia” apresenta os trabalhos dos formandos do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

A mostra propõe estabelecer diálogos entre distintos olhares sobre a Bahia partindo de um recorte territorial, berço dos artistas exponentes, que vai do eixo recôncavo sul ao sertão baiano. As obras de Jéssica Santos (Muritiba), Léa Vasconcelos (Maragojipe), Lorena Dantas (Nazaré das Farinhas), Silvia Souza (Santa Terezinha), Thais Wend (Feira de Santana) e Vandesson Andrade (Muritiba) trazem diferentes perspectivas que evidenciam a pluralidade e complexidade de temas e formas de expressão baiana, além de desmistificar ideias de uma Bahia homogênea.

“A Bahia é mística e cética, é sonora e silenciosa, é de sal, açúcar e pimenta, é preta, branca e colorida, é luto e luta, é dele, dela e de todos.”

Entre as obras encontra-se linguagens como fotografia, desenho, pintura, instalação interativa, vídeo performance e animação.

(50)

50 ANEXO C – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

CARTAZ DA EXPOSIÇÃO

(51)

51 ANEXO C – FOTOS DA PESQUISA DE CAMPO

Marisqueira

(52)

52

CHUMBINHO SURURU

Ostras Marisqueira

(53)

53 Cascas de mariscos

(54)

54 Massambe

Marisqueira

Referências

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