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a vida nunca mais será a mesma

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Academic year: 2022

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a vida nunca mais será a mesma

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Adriana Negreiros

A vida nunca mais será a mesma

Cultura da violência e estupro no Brasil

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Copyright © 2021 by Adriana Negreiros

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Capa

Alceu Chiesorin Nunes Imagem de capa

Frank Bowling, Drift II, 2017, acrílica sobre tela impressa (165,9 × 87,2 cm).

© Bowling, Frank/ autvis, Brasil, 2021.

Preparação Julia Passos Revisão Clara Diament Julian F. Guimarães

[2021]

Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz s.a.

Praça Floriano, 19, sala 3001 — Cinelândia 20031-050 — Rio de Janeiro — rj Telefone: (21) 3993-7510 www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br facebook.com/editoraobjetiva instagram.com/editora_objetiva twitter.com/edobjetiva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Negreiros, Adriana

A vida nunca mais será a mesma : Cultura da violência e estupro no Brasil / Adriana Negreiros. — 1ª ed. — Rio de Janeiro : Objetiva, 2021.

isbn 978-85-470-0134-6

1. Estupro – Brasil 2. Mulheres – Crimes contra – Brasil 3. Violência contra as mulheres i. Título.

21-70824 cdd-362.8830981

Índice para catálogo sistemático:

1. Brasil : Cultura da violência : Estupro : Problemas sociais 362.8830981 Cibele Maria Dias – Bibliotecária – crb-8/9427

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Para Lira

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O único modo de encontrar uma visão mais ampla é estando em algum lugar em particular.

Donna Haraway

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Sumário

Prólogo ... 11

1. A baleia é mais segura que um grande navio ... 15

2. Agora mexe, mainha ... 29

3. Se ele morresse, eu ficaria livre ... 45

4. Aconteceu uma coisa ruim ... 59

5. Você gosta, não é? ... 74

6. Um rosto que queima ... 89

7. Quantos homens fizeram isso com você? ... 103

8. Resistência ... 117

9. O maior escândalo dos nossos tempos ... 130

10. Nervosa, mas nem tanto ... 144

11. A vida nunca mais será a mesma ... 158

12. É créu nelas ... 173

13. Silêncio e dor ... 187

14. Segurem as cabras, pois os bodes estão soltos ... 202

15. Tempo das trevas ... 215

16. Minha roupa não é um convite ... 229

17. Eu não mereço ser estuprada ... 244

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Epílogo ... 259

Este livro ... 267

Fontes ... 273

Notas ... 279

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Prólogo

“Boa tarde, desculpe-me se a chamada está ruim. Estou fora do Brasil, ligando pelo Skype.”

“Pois não.”

“Preciso falar com a dra. Christianne. Ela foi minha advo- gada há anos. Dei um Google no nome dela e encontrei este te lefone.”

“Deixe seu número e peço a ela para entrar em contato.”

“Adriana?”

“Sim.”

“É a Christianne Carceles. O pessoal do escritório de conta- bilidade me passou o seu recado.”

“Dra. Christianne, há quanto tempo… Não sei se a senhora se lembra do meu caso, já se passaram quase vinte anos.”

“Eu nunca esqueci.”

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12 De: Christianne Carceles

Enviada em: 27 de julho de 2020 13:37 Para: Adriana Negreiros

Assunto: enc: Processo Adriana Negreiros Adriana, bom dia

Localizamos suas pastas e selecionei aqui o que imaginei aju- dar o seu relato. O e-mail que você havia me enviado está aí.

Conte comigo para o que precisar. Força e coragem. É o que você tem de sobra. E certamente esses sentimentos serão constantes na sua escrita. Me deixe saber sobre o lançamento do livro.

Beijo com carinho, Chris

De: Adriana Negreiros

Enviada em: quarta-feira, 25 de junho de 2003 17:15 Para: Christianne Carceles

Assunto: Relato dos fatos Dra. Christianne,

Desculpe-me a demora em enviar este relato. Peço des- culpas antecipadas pela longa extensão do texto. Imaginei que mais detalhes poderiam ser úteis ao seu trabalho. Uma coisa que você ainda não sabe: meu carro foi encontrado. Ainda não vi o estado dele, mas, segundo a polícia, o ladrão levou apenas o som.

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Na terça-feira, dia 2, estou em sp. Chego à hora do almoço.

Meu telefone de casa é 3873-8789. Na Veja é 3037-6129.

Deve haver muitas coisas que deixei passar. Nesse caso, escrever é um pouco mais chato do que falar, porque acabo relendo tudo, e essa história, você deve imaginar, é um pouco cansativa para mim.

De todo modo, não me importo, de jeito nenhum, de falar sobre isso.

Um abraço, Adriana

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1. A baleia é mais segura que um grande navio

Desde que tudo aconteceu, não há um único 24 de maio em que eu não repasse os eventos daquele sábado. Foi em 2003. As anotações em uma agenda preta ordinária, com folhas brancas pautadas e um conjunto de mapas ao fim, eternizaram os detalhes que talvez se perdessem nos abismos da memória. Outros foram documentados em trocas de e-mails, registros policiais e hospita- lares, matérias na imprensa. Naquele dia, eu tinha acordado tarde porque, às sextas-feiras, sempre deixava a redação da revista em que trabalhava perto da meia-noite. Bebi café e comi torradas com requeijão em frente à tv, deixei a louça suja dentro da cuba da pia e separei a roupa para usar após o banho: uma saia preta, acima do joelho, justa; uma regata vermelha, com alças largas; uma calcinha preta, de algodão; um sutiã bege, do mesmo tecido; uma meia- -calça preta, fio quarenta, pois temia sentir frio. Por isso, também reservei um casaco de couro preto da Levi’s, recém-comprado no cartão de crédito, em seis prestações de setenta reais.

Eu vivia em São Paulo havia sete meses. Aterrissara na cidade em plena primavera, no dia 30 de outubro de 2002, uma semana após meu aniversário de 28 anos. Antes, só trabalhara em cidades

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quentes: Fortaleza e Salvador. Nasci na capital paulista, mas me mudei para o Nordeste ainda criança, de modo que nunca preci- sara me preocupar em como me vestir no frio. Para ser totalmente honesta, nem sabia como fazê-lo. À medida que a temperatura caía no Sudeste, mais me convencia de que sandálias, vestidos floridos e camisas com decote em V eram inadequados — talvez ridículos, ou assim alguns olhares na empresa em que trabalhava me diziam — para a vida nova na metrópole. Assim, decidi ir ao Shopping Center Eldorado — o mesmo onde comprara o casaco preto, numa noite após o trabalho — para investir algum dinheiro em blusas de manga comprida, suéteres de lã e jaquetas.

De lá, retornaria ao apartamento, guardaria as sacolas de com- pras e telefonaria para duas amigas para combinar o horário de encontro em frente ao Clube Caravaggio, onde ocorria uma das festas mais populares da noite paulistana: a Trash 80’s. “Os djs Eneas Neto e Tonyy são os residentes da festa que apresenta um repertório de hits dos anos 80”, informava a nota no guia do jornal Folha de S.Paulo daquele 24 de maio. Desde que chegara à cidade, eu ainda não tinha comprado um telefone celular. Um pouco por falta de dinheiro, muito por não gostar da ideia de ser encontrada pelos meus chefes quando estivesse de folga. Portanto, precisava passar em casa para usar o telefone fixo.

Aquele era o plano. Entrei embaixo do chuveiro, lavei os cabelos e sobre a pele molhada derramei algumas gotas de óleo bifásico com cheiro de uva. Já vestida, calcei um par de sapatos pretos, estilo Anabela, pus as lentes de contato para miopia, penteei-me e passei desodorante — não usava maquiagem nem tinha secador. Separei dois cds para ouvir no carro, a trilha so- nora do filme Durval Discos, que eu vira havia poucos dias em um cinema de rua em Pinheiros, e o álbum Elis & Tom. Durante os sete quilômetros que separavam meu apartamento no bairro

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da Pompeia até o Shopping Eldorado, em Pinheiros, ambos na zona oeste de São Paulo, escutei mais de uma vez minhas músi- cas preferidas dos dois discos: “Mestre Jonas”, de Sá, Rodrix &

Guarabyra; e “Retrato em branco e preto”, na voz de Elis Regina.

Só voltaria a escutar essas músicas mais de uma década depois.

Voluntariamente, e do começo ao fim.

“Dentro da baleia a vida é tão mais fácil/ Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas/ Quando o tempo é mau, a tempestade fica de fora/ A baleia é mais segura que um grande navio.”

“Ainda volto a lhe escrever/ Pra lhe dizer que isso é pecado/

Eu trago o peito tão marcado/ De lembranças do passado.”

Para o trabalho, eu lia todos os dias os três principais jornais brasileiros: O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo, este do Rio de Janeiro. Minha função na revista Veja, onde iniciava uma carreira como repórter, era produzir a seção “Datas”, em que os fatos mais importantes da semana — mas não relevantes o bastante para se transformar em matéria — eram narrados em textos curtos. De segunda a sexta, chegava ao prédio da Editora Abril, onde funcionava a redação da Veja, por volta das onze ho- ras da manhã. Os jornais do dia já se encontravam sobre minha mesa, uma bancada em fórmica amarelada na qual estavam um computador, bloquinhos verdes com o símbolo da editora — uma árvore —, um dicionário e uma caneca na qual guardava canetas, uma tesoura e cola bastão. Minha rotina consistia em abrir os jornais sobre a bancada, grifar as notícias mais importantes e recortá-las. Depois, os recortes eram colados nos bloquinhos, em cujas páginas anotava a fonte e a data da notícia. Na sexta, depois de passar a semana inteira lendo os jornais da primeira à última página, recorria ao bloquinho e escrevia a seção.

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Referências

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