TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DE IDOSOS COM VESTIBULOPATIAS
Ariany Lima Jorge (Bolsista FUNADESP/UNIAN), e-mail: ariany.jorge@gmail.com.
Célia Aparecida Paulino (Orientadora), e-mail: celiapaulino@yahoo.com.br Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN-SP) / Pós-Graduação Stricto Sensu Área: Ciências Biológicas - Subárea: Farmacologia
Introdução
O processo de envelhecimento leva ao desenvolvimento de doenças crônico- degenerativas, resultantes da perda contínua da função de órgãos e sistemas biológicos, trazendo incapacidades funcionais (GORDILHO et al., 2001).
Alterações de diferentes sistemas comprometem o equilíbrio corporal do idoso, pois os sistemas auditivo e vestibular tornam-se mais susceptíveis com a idade, favorecendo o aparecimento de sintomas vestibulares (FELIPE et al., 2008).
Sintomas como tontura, vertigem e instabilidade postural são frequentes nos distúrbios vestibulares, comprometendo a capacidade funcional e a qualidade de vida dos pacientes (SOTO; VEGA, 2010; ALGHWIRI; MARCHETTI; WHITNEY, 2011). Ainda, entre 5 e 10 % da população mundial pode ser afetada por sintomas vestibulares, especialmente os idosos acima de 65 anos (RICCI et al., 2010).
Idosos que sofrem de doenças crônicas utilizam de forma intensa a polifarmácia, sobretudo, aqueles mais vulneráveis a vários problemas de saúde (PANDOLFI et al., 2010). No caso do tratamento das doenças vestibulares, são utilizados medicamentos antivertiginosos, que visam tratar a etiologia dessas doenças, o controle dos sintomas, a aceleração dos mecanismos de compensação e a redução das comorbidades psiquiátricas que normalmente acompanham as vestibulopatias (YACOVINO; HAIN, 2004).
Como o organismo dos idosos tem peculiaridades biológicas que interferem nos processos farmacológicos, esses aspectos devem ser considerados quando do tratamento medicamentoso, já que os fármacos antivertiginosos, assim como várias outras classes terapêuticas utilizadas nas doenças vestibulares, podem deprimir reflexos e aumentar a morbi-mortalidade nesses indivíduos (MIYAKE, 2012).
O conhecimento sobre a terapêutica medicamentosa e seus efeitos adversos para o organismo pode contribuir para o cuidado necessário durante o tratamento farmacológico das vestibulopatias em idosos.
Portanto, este trabalho avaliou os sintomas vestibulares mais frequentes nos idosos, o tratamento medicamentoso utilizado e seus efeitos mais comuns.
Material e Métodos
O estudo foi retrospectivo, descritivo e de corte transversal, realizado nas dependências do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social, da Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN-SP), campus Pirituba, São Paulo.
Foram utilizadas informações de uma amostra de conveniência de 98 idosos com vestibulopatias (N = 98), ambos os gêneros, provenientes de banco de dados secundários obtidos de projeto da docente responsável, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da UNIAN-SP (Protocolo nº 146/10).
Foram coletadas informações sociodemográficas, os sintomas vestibulares mais comuns e os medicamentos antivertiginosos em uso pelos idosos.
Para a identificação dos fármacos contidos nos medicamentos, e seus respectivos efeitos adversos, foi utilizado material de referência em farmacologia e terapêutica, como o Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF 2016), a Relação Nacional de Medicamentos (RENAME 2014), o Bulário Eletrônico da ANVISA (2017) e outras fontes online, quando necessário.
Os resultados obtidos foram tabulados e analisados de forma descritiva, sendo apresentados como frequências absolutas e frequências relativas das variáveis investigadas, na forma de Tabelas e Gráficos.
Resultados e Discussão
Foram avaliados 98 indivíduos com idades entre 60 e 92 anos, entre os quais, 82 mulheres (84%) e 16 homens (16%), como ilustra o Gráfico 1.
84% 16%
Gráfico 1 - Distribuição dos idosos segundo o gênero.
Mulheres Homens
Fonte: Dados da pesquisa.
Outro estudo com idosos vestibulopatas revelou a predominância de mulheres (82%) e da faixa etária de 66 a 70 anos (26%), sugerindo maior preocupação das mulheres no cuidado com a saúde (PAULINO, 2012).
De fato, a maior procura pelo atendimento de saúde por mulheres idosas vestibulopatas pressupõe maior procura pelos serviços de saúde, seja para fins preventivos ou curativos (SOUSA et al., 2011).
Quanto ao gênero e à faixa etária, 33% dos idosos da amostra estavam na faixa de 65 a 69 anos, entre os quais, sobretudo as mulheres (26%). Na faixa etária de 60 a 64 anos (21% dos idosos), em especial, mulheres (17%). E na faixa de 70 a 74 anos (20%), sobretudo mulheres (16%). Ainda, 13% tinham acima de 80 anos.
Sobre o nível de escolaridade dos idosos: 49% tinham ensino fundamental completo, em especial, as mulheres (41%) e 19% ensino médio completo, sobretudo, as mulheres (17%). Ainda, tinham ensino incompleto (14% fundamental, 1% médio e 8% superior). E apenas 9% tinham ensino superior completo.
Todos os resultados sobre as informações sociodemográficas dos idosos da amostra aqui apresentadas vão na mesma direção daqueles encontrados por Paulino e Benedito (2011) com idosos vestibulopatas provenientes da comunidade.
Dos sintomas otoneurológicos mais relatados pelos idosos, a tontura foi a queixa mais frequente (92% dos idosos), sobretudo nas mulheres (93%) (Tabela 1).
Tabela 1 - Sintomas otoneurológicos apresentados pelos idosos vestibulopatas em uso de medicamentos antivertiginosos.
SINTOMAS VESTIBULARES
MULHERES (n=82)
HOMENS (n=16)
TOTAL (N=98)
n % n % n %
Tontura 76 92,68 14 87,50 90 91,83
Zumbido 55 67,07 13 81,25 68 69,38
Vertigem 48 58,53 9 56,25 57 58,16
Perda auditiva 20 24,39 6 37,50 26 26,53
Desequilíbrio corporal 10 12,19 4 25,00 14 14,28
Fonte: Dados da pesquisa.
Dos medicamentos utilizados pelos idosos vestibulopatas, nas diferentes faixas etárias, 58% da amostra faziam uso de 2 a 4 fármacos (58%), dos quais, 49% de mulheres, seguidos de 34% que usavam 5 ou mais fármacos, em particular, as mulheres (31%). Apenas 8% utilizam 1 fármaco (Gráfico 2).
0 5 10 15 20
60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Gráfico 2 - Quantidade de fármacos em uso pelos idosos vestibulopatas, segundo a faixa etária.
1 2 a 4 > 5
Anos
Fonte: Dados da pesquisa.
Todos os idosos da pesquisa usavam fármacos antivertiginosos. Sabe-se que a população idosa representa o grupo etário mais exposto à polifarmacoterapia na sociedade (SECOLI, 2010) e a farmacoterapia das queixas vestibulares envolve o uso de antivertiginosos, entre outras classes terapêuticas (YACOVINO; HAIN, 2004).
Uma pesquisa revelou que fármacos antivertiginosos influenciaram o equilíbrio postural e a autopercepção de qualidade de vida, pelo impacto negativo da tontura, sobretudo nas mulheres avaliadas (TSUKAMOTO et al., 2015).
Este estudo mostrou que os fármacos mais frequentes identificados nos medicamentos antivertiginosos utilizados pelos idosos foram: Ginkgo biloba (34%), flunarizina (27%), betaistina (19%) e cinarizina (18%) e dimenidrinato (14%).
Ainda, outros tipos de fármacos, como o clonazepam (grupo dos benzodiazepínicos), entre outros com ação no sistema nervoso central, eram usados pelos idosos vestibulopatas, representando um risco terapêutico importante.
Neste sentido, a farmacoterapia também tem valor etiológico, isto é, certos medicamentos, tais como, sedativos, antidepressivos, anticonvulsivantes, antiinflamatórios e anti-hipertensivos, podem ocasionar hipotensão postural e outras alterações, que, por sua vez, podem resultar em quedas, comprometendo ainda a saúde dos idosos (MIYAKE, 2012), em especial aqueles com distúrbios vestibulares.
Conclusão
A farmacoterapia descrita no estudo pode causar, em especial, sonolência, cefaléia, náusea e tontura, e complicar a saúde e o bem estar dos idosos com vestibulopatias, sobretudo, pela maior suscetibilidade biológica da população idosa aos efeitos adversos. Portanto, é necessário maior cuidado dos prescritores e atenção especial dos cuidadores de idosos usuários de medicamentos.
Agradecimentos
À FUNADESP (pela bolsa de IC) e à Pós-Graduação Stricto Sensu da UNIAN-SP.
Referências
ALGHWIRI, A. A.; MARCHETTI, G. F.; WHITNEY, S. L. Content comparision of self- report measures in vestibular rehabilitation based on the ICFDH. Physical Therapy, New York, v. 91, n. 3, p. 346-57, 2011.
FELIPE, L. et al. Presbivertigem com causa de tontura no idoso. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Minas Gerais, v. 20, n. 2, p. 99-104, 2008.
GORDILHO, E. B. et al. Efeito da reabilitação vestibular sobre a qualidade de vida dos idosos vestibulopatas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 74, n. 2, p. 172-80, 2001.
MIYAKE, M. A. M. Afecções otorrinolaringológicas no idoso: o impacto da
“polifarmácia”. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 83-91, 2012.
PANDOLFI, M. B.; PIAZZOLLA, L. P.; LOUZADA, L. L. Prevalência de polifarmácia em idosos. Brasília Médica, Brasília, v. 47, n. 1, p. 53-8, 2010.
PAULINO, C. A. Medicamentos e suas interações em idosos vestibulopatas. Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 51-62, 2012.
PAULINO, C. A.; BENEDITO, J. S. Uso de medicamentos entre pacientes idosos vestibulopatas. Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 10- 22, 2011.
RICCI, N. A. et al. Revisão sistemática sobre os efeitos da reabilitação vestibular em adultos de meia idade e idosos. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 361-71, 2010.
SECOLI, S. R. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 136-40, 2010.
SOTO, E.; VEGA, R. Neuropharmacology of vestibular system disorders. Current Neuropharmacology, San Francisco, v. 8, n. 1, p. 26-40, 2010.
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TSUKAMOTO, H. F. et al. Influência do tratamento com fármacos antivertiginosos sobre o equilíbrio postural e qualidade de vida de indivíduos com queixas de tontura.
Revista CEFAC, Campinas, v. 17, n. 5, p. 1394-402, 2015.
YACOVINO, D. A.; HAIN, T. C. Farmacología de las alteraciones vestibulares.
Revista de Neurología, Barcelona, v. 39, n. 4, p. 381-7, 2004.