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CDU 02: 378.141.4

uma concepçao curricular

de

formação

de

bibliotecários para a nludança

ANA MARIA DALLA ZEN, Professora do Curso de Biblio teconomia da FABICO/UFRGS. Mestre em Educaça-o/ UFRGS.

RESUMO: Este artigo apresenta uma interpretação do currículo do curso de Biblioteconomia da UFRGS, no sentido de identificar de que forma através dele se poderá mudaropapelea imagem do bibliotecdrio, identificando:o como um agente de mudança. Co-mo estratégia,éproposta a intégração das atwidades de ensino, pesquisaeextensão, numa dimensão curricular mais ampla. PALA VRAS-CHA VE: Rblioteconomia: Currículo

1 INTRODUÇÃO

Acompanhando a evoluça:o da sociedade, numa relaça:o cada vez mais rápida entre co-nhecimento, ciência, tecnologia e realidade, as funçoes e papéis da biblioteca e, em decorrência; dos bibliotecários, também se modificou. Se até há pouco bibliotecário era sinônimo de biblio-teca e, ambos, identificados com erudiça:o, isto mudou substancialmente hoje, quando cada vez mais associa-se o acesso ã infomaça:o ã educação e esta não apenas como um direito, mas neces-sidade social.

Isso se traduz numa importância cultural significativa para a biblioteca e bibliotecário na comunidade, como facilitadores da informaça:o e, portanto, da melhoria das condiçoes sócio-culturais. A aceitaça:o dessa nova realidade na:o foi rápida, sendo até hoje contestada por alguns grupos, que consideram a biblioteca apenas um mecanismo de apoioãpesquisa, sem identificar um papel especítico para o bibliotecário que na:o o de técnico que facilita o acessoà intorma-ça-o.

Porém outra concepção surgiu e prevaleceu no meio bibliotecário, o que forçou a refor-mulaça-o dos currículos dos cursos de Biblioteconomia para incluir essa nova dimenslfo, ou seja, a de que o bibliotecário, ao lado de registrar, preservar e disseminar a informaça:o, pode ir além desse aspecto técnico, mas se constituir ele próprio num agente de mudança social ..

Este artigo procurará mostrar de que maneira essa nova concepção poder ser interpreta-da dentro do novo currículo de Biblioteconomia interpreta-da Universiinterpreta-dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) implantado em 1984. Como ponto de referência, foram utilizadas as funçoes e objeti-vos .do ensino superior no País, expressas na lei n?5.540, de 28 de novembro de 1968(1), as di-retnzes do novo currículo(1 I) e os dados da pesquisa de avaliação do curso recentemente reali-zada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Biblioteconomia (NEBI) (3).

_.

A partir daí, e tendo como base aーイ￳ーセ realidade formalセ セヲッイュセ 、セ curso,.propôs-uma estratégia que pode utilizar-se do própno currículo para atmglf o obJetlvo desejado, de :nnaÇlfO de bibliotecários como agentes de

ュオ、セョ￧。

social.

n・セウ。

」セョ」・ー￧ャヲッL

acredita-se que o urrículo em si s6 representa apenas uma tentativa de moderruzaçao do curso, mas que, se os

セーッウ

envolvidos, sejam professores, alunos e

ヲオョ」ゥッセ£イゥッウL

se

」ッョウ」ゥ・ョエゥセ。イセュ

de seu próprio

apel no processo, aquele ideal será alcançado. Deles e que dependerá o dlfeclOnamento do no-Profissional: ou voltado para a permanência do "status quo", a partir da manutenção de

uiセ。

:c.

tradicional de ensino, ou dirigido para a inovação e mudança, numa concepção progressIs-ta de educaçlfo, porprogressIs-tanto humanisprogressIs-ta e liberprogressIs-tadora, na área de Biblioteconomia.

2 ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO COMO FUNÇÕES DA UNIVERSIDADE

A reforma universitária, implantada através da lei n? 5.540, de 28/nov/68 (1), tem sido criticada por ter um caráter mais de cunho de acomodação do que pela preocupaça-o com fins verdadeiros para o ensino superior no País. Trata-se de uma tentativa de criar uma universidade 1brasileira, ou seja, de organizar em universidade a reunilfo dos vários cursos de formação de profissional de nívd superiorセオ・ foram se。ァイセァ。ョセッ セゥウエッイゥ」。ュ・ョエ・L ウ・セ mai?r relacionamen-to entre si. Reformar a universIdade, nesse sentIdo, sIgmficou uma tentatIva de mtegrar burocra-ticamente os cursos numa nova universidade, a partir das reinvindicaçOes dos movimentos con-testatários da década de 1960 (4).

Tendo como ponto de partida os modelos propostos de mudança, especialmente o de Darcy Ribeiro, devidamente adaptados aos interesses político-ideológicos vigentes na época,セ

reforma baseou todo o processo de inovação na ênfase ao ensino, pesquisa e extensã"o comO atI-vidades-fim da universidade, a ser implementadas em âmbito dos departamentos, que sã"o a base da nova estrutura.

Teoricamente, foi proposto que as três atividades teriam o mesmO destaque em sua im-plementaçlfo. Desta maneira, mediante uma decisll'o política, aオョNゥカセイウゥ、。、・ brasileira,エイ。N、ゥ」ゥセᆳ

nalmente voltada ao ensino (por representar uma estratégia de sohdIficaçll'o da classe médIa), h-gada à formação profissional, assumiu também os papéis de pesquisa, na proctuçlfo de {I0VOS co-nhecimentos, e de extensão, através da açlfo direta na comunidade (conforme modelo importa-do importa-dos Estaimporta-dos Uniimporta-dos e Europa), aplicanimporta-do o ensino e.a pesquisa da universidade juntoà pró-pria comunidade.

Nlfo se pode questionar a relevância da proposta quanto ao caráter de dinamismo que (teoricamente) representa. Mas o que se verificou é uma grande distância entre o formalismo e a prática. Assim, .continuaram sendo dadas mais verbas e apoio ao ensino, cabemlo ã pesquisa os resíduos dele decorrentes e, àextensã"o, o resto final. Professores continuaram se dedicando maisàsatividades em sala de aula, a algumas pesquisas e, em eventuais sobras de tempo,à exten-88"0.Só se faz pesquisa, mesmo que exigência da própria melhoria do ensino, quando sobram re-cursos, tempo, e, mais do que tudo, por interesse e motivação individual dos professores (para 111"0falar em teimosia). A extenslfo universitária, que na própria lei foi apresentada em terceiro lugar, é realizada quando, depois do ensino e da pesquisa, ainda resta algo, o que lhe dá um ca-riter ocasional, episódico e distanciado do ensino e da pesquisa (quando, ao contrário, poderia ser o aspecto mais dinâmiCO de aç[o universitária).

No âmbito do cursO de Biblioteconomia, a pesquisa revelou exatamente este quadro, refletindo o que deve estar ocorrendo em toda a Universidade. Os professores têm suas cargas horirias totalmente absorvidas por atividades de ensino, sendo até mesmo utilizado o tempo previsto para planejamento das atividades didáticas. De outroャセ、ッL apesar de mais de 50% dos docentes possuírem Útulaçã"o a nível de pós-graduaçll'o,éreduzido o número dos que se dedicam àpesquisa. A extenslro, por seu lado, significa nada mais do que alguns cursos e atividades de

24 R.BibHotecon.8<Comun., Porto Alegre, 2: 24-31 jan./dez. 1987

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grande sucesso, mas feitos ocasionalmente, sempre na dependência de recursos ociosos de dis-ponibilidade docente, orçamentos e espaços até físicos (logo, mínimos). '

Todavia, quando questionados sobre a importância que atribuem à pesquisa e à extenslro para a obtençlfo dos objetivos do currículo e sobre a sua própria motivaçlfo para tais áreas os

セイッヲ・Nウウッイ・ウ foram unânimes em afirmar que, se dadas as condiçoes mínimas para isso, todos'te-nam mteresse em atuar nessas áreas(3).

Logo, o problema em si mesmo nlfo é a ideologia presente na reforma, de modernizar

ウ・セ mu.dar, mas a suaゥセーャ・ュ・ョエ。￧ャヲッN Acredita·se, nesse sentido, que o aspecto mais'importan-te Já eXIsmais'importan-te, que é a motIvaçlfo para a pesquisa e a exmais'importan-tenslro, cuja relevência eョ・」・ウウゥ、セ、・ para a formaçlfo de bibliotecários é inquestionável, se a opçll'o que se fizer no currículo for a de um bi-bliotecário crítico, inovador e progressista.

. Daí conclui-se que, para se integrar tais funçoes à formaçlfo de bibliotecários, énecessá-na a montagem de uma estratégia curricular onde haja espaço idêntico para as três, direcioénecessá-nadas à perspectiva de educaçlfo para a mudança. Um grande passo nesse sentido é o grande número de pedidos de alteraçlfo de regimes de trabalho docente, para dedicaçã'o exclusiva, que vem sen-do feitos, justificasen-dos em atividades nas três áreas. Mas, ressalta-se mais uma vez, esta é uma condiçlfo necessária, porém insuficiente, para se atingir os fins propostos. Em si mesma a am-pliaçlfo de regimes de trabalho pode nada significar, se junto com ela nlro houver uma」ッセウ」ゥ・ョᆳ

tizaçlfo docente e Um planejamento adequado às diretrizes curriculares.

3 A FORMAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS PROPOSTA NO NOVO CURRÍCULO: MODERNIZAR OU MUDAR?

. . O processo de desenvolvimento do País, com suas conotaçoes de desigualdades, descon-tmUldade e dependência, impoe que o profissional de Biblioteconomia seja cada vez mais crítico e criativo, de modo a que se caracterize " ...antes como um agente de mudança do que como mantenedor do 'status quo' ...", segundoPOLK.E (9,p.14). Com a tomada de consciên-cia emergem a preocupaçlfo e o compromisso com as diferentes características sócio-culturais e nesse compromisso, o bibliotecário nlfo pode contribuir para manter·as distorções do meio・セ

que atua, mas, ao contrário, deve conhecer a realidade, nifletir e agir dentro dela af1mde me. lhorá-la. E, nesse sentido, afirma o autor o quanto é relevante a açlfo universitária planejada, uma vez que " ...a integraçlfo do ensino, pesquisa e extenslro no interior das instituições favore-ce a educaçlfo de profissionais conscientes e compromissados COm os problemas de seu

ambien-te." (9, p.l6).

Como ocorreu em todas as áreas de conhecimento, o ensino de Biblioteconomia foi transposto de modelos importados, sem considerar a realidade do País. Ao analisar o problema, o autor afirma que isso se deu nlfo só na formaçlfo básica, mas também nas disicplinas culturais, onde houve um desvio entre o que foi proposto pelos articuladores do currículo mínimo im-plantado em 1962e a prática. Enquanto elas deveriam teoricamente integrar-se às disciplinas es-pecificas da formaçlfo de Biblioteconomia, na prática se transformaram em disciplinasornamen. tais, onde a vislfo integrada das ciências sociais deixou de promover o desejado desenvolvimento de uma consciência social (isso ュッウエセ。 que a preocupaçlfo com a educaçlfo para a mudança nlfo é atual, mas já estava latente na década de1960).

Na pesquisa realizada, isso foi evidenciado quando os egressos, questionados a respeito da importância das disciplinas de caráter cultural para a sua formaçlfo, as indicaram como pouco ou nada relevantes. O que se pode deduzir daí é que, ou elas estlfo sendo desecessárias, de fato, pela forma como estlfo sendo conduzidas (nlfo integradas aos objetivos do curso de Biblioteco. nomia, por serem ministradas por professores de outros departamentos e de outros elencos

cur-riculares), ou os alunos nllo têm consciência do que as mesmas significam para a sua atuaçlfo, mesmo quando na condiçlfo de egressos (3).

POLK.E (9) ressalta ainda a dificuldade que pode representar a tentativa de traçar um

perfIl do bibliotecário, especialmente no sistema de instabilidade econômica, política, social e institucional dos países periféricos, dentre eles o Brasil. Assim, é necessário que o modelo de educaçlfo presente no novo currículo baseie-se essencialmente na competência do bibliotecário, mas entendida esta numa forma orgânica e flexível, à qual deverá ser somada uma consciência social, o que lhe permitirá atuar dentro da instabilidade e complexibilidade do contexto sócio-econômico.

A problemática acima esteve presente no planejamento do novo currículo do curso de Biblioteconomia da UFRGS, implantado em 1984,como pode ser inferido da análise das dire-triZes fixadas(lI).

Nelas, fica expressa uma noçlfo ampla de currículo, entendido este como o conjunto de todas as atividades teóricas e práticas que se direcionam à formaçlfo do aluno como indivíduo e como profissional. Estabelecem também que o aluno deve se conscientizar que, além da forma-çlfO técniespecializada inerente ao curso, ele tem um importante papel social a cumprir, co-mo agente de mudança, que desempenhará ao assumir posturas críticas em relaçlfo aos proble-mas que enfrentará em sua área de atuação.

Nessa linha, foram incluídas disciplinas que devem orientar-se no sentido de conscienti-zar o aluno para a mudança, mais ampla' do que a manutençlfo do "status quo". A integraçlfo entre ensino, pesquisa e extenslro, por seu lado, é uma estratégia para que isso ocorra, e o profes-sor e o aluno, nesse caso, passam a ser elementos igualmente ativos, co-responsáveis pela forma-çlfo profissional desejada. O alcance dos objetivos curriculares, entlfo, dependem nlfo apenas das atividades de sala de aula, mas de sua efetiva e permanente vinculaçlfo à pesquisa e à extensl[o. Sem isso, o currículo novo nllo passará de uma tentativa fictícia de reformular o curso. , Assim, parte-se do pressuposto de que, com base no que a reforma do ensino superior ins-tituiu e o novo currículo referendou, pode-se vir a formar um profissional consciente, desde que sejam tomadas medidas nesse sentido. Tais medidas, porém, dependem mais do rompimento da resistência à mudança e da inércia dos grupos envolvidos, do que uma responsabilidade do pró-prio currículo. Mudar nomes de disciplinas nlfo significa inovar; inová-las sugere repensá-las. O que, como e por que significam para a formaçlfo de bibliotecários? A resposta não depende do professor, mas da interaçlfo professor-alunos, numa postura dialética.

4

O ENSINO, A PESQUISA E A EXTENSÃO COMO ESTRATÉGIAS DE MUDANÇA NO CURSO DE BIBLlOTECONOMIA

-Como já. foi indicado, o currículo do curso de Biblioteconomia é integrado pelo conjun-to de conjun-todas as atividades, experiências, matérias e quaisquer outras estratégias empregadas no processo acadêmico formal com o objetivo de alcançar os fins propostos. Nesse sentido, inclui as atividades de ensino, pesquisa e extenslro, merecendo igual importância na formaçlfo de bi-bliotecários aulas teóricas, quanto atividades práticas em laboratórios, pesquisas e participaçlfo em projetos de extensão.

A açlfo de ensino, envolvendo a transmissão de conhecimentos, é a mais tradicional entre a,s três, sendo portanto a base para que a formaçlfo técnico-especializada de Biblioteconomia se-ja intemalizada pelo aluno, como base para sua atuação profissional posterior. Ao se pretender-atingir osobjetivos do novo currículo, porém, o ensino deve ser avaliado quanto ao seu próprio caráter. Que conteúdos devem ser desenvolvidos?Éimportante o conhecimento de determinados fatos, ou é mais relevante a compreenslro da dinâmica do processo onde se localizam? Qual é a pertinência de determinados conteúdos? Qual é a sua atualidade em relaçlfo ao profissional de hoje? Que utilidade terllo tais aspectos para o exercício profissional futuro? Nesse sentido, há

(3)

、オセウ

opções a fazer, dentro da orientaçlro de Paulo Freire: ou se assume uma concepção de edu-caça'o bancária,onde o aluno, que nada sabe, recebe mensagens do professor, que é o elemento

ativo no processo, ou se escolhe uma concepção libertadora, em que a dinâmica é compartilhada ent!e o professor e o aluno, que interagem numa situação de co-aprendizagem (6).

Obviamente, somente com uma visão progressista do ensino de Biblioteconomia se al-cançará o tão pretendido profissional consciente. A partir de um processo dialético, baseado na participação de alunos e professores, é que se poderá mais efetivamente gerar uma nova mentali-dade profissional, dentro de um permanente questionamento a respeito do próprio conhecimen-to, das estratégias de ensino, do processo de avaliaça'o e demais aspectos ligados àsala de aula (onde a rotina desaparece). Nesse sentido, a educação se transforma num diálogo permanente, onde tanto o aluno quanto o professor aprendem, num ensino mais diretamente vinculadoà rea-lidade, representada pelos dois indivíduos, suas vivências e experiências.

Ao contrário, não ·teria nexo propor-se um novo currículo onde uma seqüência de disci-plinas e conteúdos pré-determinados garantiriam o sucesso da inovação. Parte-se do pressuposto que o conteúdo só assume importância na medida em que é questionado, ou seja, na medida em que tanto o aluno quanto o professor compreendam a relevância que representa. Nesse sentido, é dada ênfase ao próprio processo de construção do conhecimento, onde a transmissão de con-teúdos é decorrência e não a base em si mesma do processo ensino-aprendizagem. Nessa pers-pectiva, o conteúdo assume uma posição dinâmica, baseada numa permanente indagação sobre a pertinência de cada elemento para a formação de bibliotecários, deixando o professor de ser um transmissor e o aluno um receptor(Éclaro que isso não representa uma supressão de papéis, mas uma reformulação de posturas).

Essa relação ativa com o conhecimento é ainda mais relevante na pesquisa, que é a nova dimensa'o inserida no currículo, tanto no aspecto teórico, representado pelas disciplinas instru-metais. como nas atividades práticas.

Para que isso se efetive, é essencial que se discuta a Biblioteconomia enquanto ciência social cujo objetivo é o de satisfazer às necessidades de informação, voltadaàorganização do co-nhecimento edaprópria cultura, conforme definição de FLUSSER (7), ao referir-se a isso, sem o que a prática de pesquisa perde sua razão de ser. Não teria sentido a realização de investiga-ções sem a análise do sentido epistemológico da Biblioteconomia. E, nessa linha -não cabem mais discussões sobre a sua conotaçlro como arte ou técnica, uma vez que são muito 'mais reduzi-das em sua abrangência do que o seu caráter como ciência da informação. As vésperas do século vinte e um, só prevalecem válidas as concepções de formação profissional que tenham uma base metodológica tal que se adaptem ao próprio processo de mudança. Nesse permanente dinamis-mo, a utilizaçlro de metodologias científicas na solução de problemas é umadas fórmulas mais

・エゥ」。コ・セ de evitar uma imediata desatualização do profissional recém-formado. Tal consideração

é tão Importante para Um engenheiro quanto para um historiador, sociólogo, músico, ator,

quanto para um bibliotecário. .

Aイ・セウエイゥ￧ ̄ッ à Biblioteconomia como ciência feita por alguns autores, faceàinexistência de um corpo teórico próprio, transforma-se cada vez mais num subterfúgio para evitar com que ela avançe nesse sentido. A quantidade e a qualidade das pesquisas realizadas, bem como a for-maçlro de uma mentalidade científica entre os profissionais, tanto a nível de pós-graduação quanto da própria graduaçlfo, nlfopermitem mais tal afirmação. O fato de que o ensino de Biblio-teconomia se baseie em aspectos técnicos não difere da formação em qualquer outra profissão. Ao contrário, pressupõe, ao tratar com a informação, uma relação forte entre ciência e tecno-logia, aquela ligadaàprodUÇlfO de conhecimento e estaàsua utilização em aplicações práticas para a SOlUÇãO de problemas imediatos da realidade.

Biblioteconomia é, portanto, uma ciência, cuja interdisciplinariedade não é restritiva mas característica, no que é similar a qualquer outra ciência, especialmente as da área humana. '

No currículo de Biblioteconomia, o ensino e a pesquisa, a partir do que foi exposto, re-presentam apenas facetas diferentes de um mesmo foco, que é a formação profissional. Assim,

nlro sepode.caracterizá-los como compartimentos estanques, como, por exemplo, subdividindo as disciplinas entre aquelas ligadas diretamente à transmissa'o de conhecimento e outras, volta-das à prática de pesquisa. Numa visa'o abrangente, deve-se pensar ensino e pesquisa como intrín· secos a cada açlro educativa, independente do conteúdo a que se relaciona a prática proposta. Tal integraçll'o ensino-pesquisa nll'o se trata de uma diretriz pré-fixada, mas implica na mudança de atitudes, tanto de professores quanto de alunos, no sentido de que seja criada uma nova mentalidade. Assim, por exemplo, os conteúdos teóricos de metodologia da pesquisa só terll'o sentido se, a partir deles, houver uma aplicaça:o imediata na realizaçã"o de trabalhos em todas as disciplinas subseqüentes, numa integraçll'o vertical e horizontal do currículo.

Todavia, bem maior do que essa integração ensino-pesquisa; é a preocupação em integrar a formaçll'o acadêmico-profissional à formaçlfo pessoal dos alunos, de modo que , mais do que bibliotecários competentes, apresentem posturas individuais baseadas no humanismo, na toma-dade decisões a partir de concepções éticas e morais de respeito ao ser humano. Nlro tem sentido pensar-se num avanço técnico-científico da Biblioteconomia ignorando-se o aspecto humanista da informaçll'o, ou seja, da relação que deve existir entre o conhecimento produzido e sua rele-vância, ou, mais ainda, o seu valor para a melhoria das condições sociais da população.

Com isso, propor que os alunos de Biblioteconomia se conscientizem da importância de fazer pesquisas científicas, significa dizer que, além de facilitar o acesso

à

informaçll'o -através daaplicaçll'o de novas tecnologias, investigações e estratégias de motivaçll'o, o bibliotecário deve valer-se da ciência para contribuir diretamente para a melhoria dos padrões de vida da sociedade, estendendo a sua açll'o a todos os grupos sociais, indistintamente. Nessa linha, a sua'área não se restringe àquela parcela da população que tem acesso às bibliotecas ou serviços bibliotecários, mas a toda a comunidade, preocupando-se especialmente em atingir os demais, de forma a rom-per o elitismo que caracteriza a educação e o conseqüente acessoàinformaçll'o através dos

ca-nais エッセュ。ゥウ de ensino, em qualquer nível. E papel do bibliotecário, aí, pesquisar e obterウッャオセ

çoes para problemas nos diferentes setores sociais, em sua área de abrangência, ou seja, no regis-tro e disseminaçll'O da informação, com a sua conseqüente recuperação.

A partir dessa relação ensino·pesquisa, chega·se à importânciadaextensll'o universitária que, interagindo com ambos, aplica em situações da vida real o conheCimento produzido na área de Biblioteconomia. Como o termo explicita, extensão significa a ampliaçll'o do raio de ação da universidade, no caso do curso de Biblioteconomia, de maneira que o aluno entre em contato com a realidade onde vai atuar, como profissional. O seu desempenho, nesse sentido, não se res· tringe somente às bibliotecas e centros formais de informação e documentaçll'O, mas inclui outras situações onde ele se perceba como importante, enquanto bibliotecário e como indiví· duo. Isso envolve aspectos de caráter profissional a ser intemalizados durante o curso, mas tam· bém posturas pessoais que o identifiquem como um agente de mudança socill1.

Deve ficar claro, porém, que a extensa'o universitária, assim entendida, não pode ser con-fundida, como frisou FREIRE (5) com comunicaçll'o, ou, mais ainda, como dominaçll'O cultural, Nfo se faz extensll'o oferecendo oportunidades para que um grupo, dono do conhecimento, o divulgue de forma paternalista, ou até mesmo assistencialista, a outros grupos, que nll'o possuem conhecimento, o que é, na prática, a forma mais comum de realização de atividades de

exten-Slo.

Ao contrário, professores e alunos de Biblioteconomia, ao partidparem de projl;'tos de extensll'o, na forma de prestação de serviços, animaçlro' cultural, cursos ou quaisquer outros ti-pos de atividades, devem estar conscientes de que. a atuaçll'o na comunidade nll'o significa solucio-nar os problemas que os grupos apresentam foram da' área de -atuação da Biblioteconomia. Ao mesmo tempo em que ele participa de propostas de melhoria dos padrões sociais, através, por exemplo, de campanhas de estimulo à leitura, de programas de biblioterapia, etc., ele deve ter em mente que problemas de outras esferas, como saúde, alimentação, etc., sll'o igualmente im-portantes. セ

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(4)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

AproposiçlTo que se faz para que a integraçlTo ensino, pesquisa e extenslTo ocorra é que seja feito Um planejamento, pelo Departamento, onde haja espaço para as três. Considera-se es-paço, a destinaçlfo de horários para professores e alunos atuarem nas atividades assim propos-tas, evitando-se a coincidência de prazos de entrega de trabalhos, a repetiçlfo de propostas idên-ticas, etc. Numa planificação integrada, as dimensões poderlfo envolver várias disciplinas a um s6 tempo, com uma produtividade bem maior. Assim, por exemplo, pode haver uma integra-A interaçlTo grupal que se pretende, nesse sentido, parte do pressuposto que, sendo o bi-bliotecário responsável pelo registro e disseminaçlTo da informação, nada impede que ele oriente os grupos na busca de soluções para tais problemas, desde que isso não signifique a sua intromis-slTo. No exemplo, ele estará contribuindo para a melhoria do padrão de vida social na medida em que, a partir do diálogo com os grupos, onde todos os problemas, incluídos até mesmo os citados, poderlfo ser discutidos através da orientaçlfo sobre alternativas para sua soluça-o. Isso se dará, por exemplo, ao prestar informações sobre como funciona o sistema de saúde do Esta-do, onde se localizam determinados órglTos e entidades, cujo interesse tenha sido manifestado peos usuários. O paternalismo, nesta 6tica, desaparece.

Nessa interaça-o social, constata-se que o bibliotecário nlfo tem limites para a abrangência de sua atividade. Se de um lado poderá atuar na escola, mesmo onde nlfo hajam bibliotecas, através de campanhas de formação de novos leitores (emprestando obras, realizando atividades recreativas, hora do conto, dramatização, etc.), ele pode também orientar a sindicalização de grupos onde haja tal expectativa, nlfo direcionada por ele, bibliotecário, mas surgida no próprio meio.

Seja qual for a situaçlfo, nlfo pode haver distância entre o curso de Biblioteconomia quanto ao seu ensino e pesquisa, e a realizaçlfo de atividades de extenslfo. Deve estar presente'

sempre o sentido da Biblioteconomia, como a área de conhecimento voltada ao registro, recupe-raçlfo e disseminaça-o da informaça"o, em qualquer suporte. O desvio dessa linha tanto poderá se converter em paternalismo assistencialista, o que na-o lhe compete, como em atitudes de cu-nho ideológico, proselitistas, o que também não cabe ao bibliotecário.

Sendo uma ciência, a Biblioteconomia deve ser neutra, ou seja, os seus objetivos

relacio-nam-seà busca do" conhecimento, sem qualquer restrição ou direcionamento. Assim, a seleçlfo

sobre qual é a melhor obra sobre determinado assunto, deve ser feita pelo próprio usuário, des-de que tenha acesso a tudo o que há disponível sobre o assunto, que o bibliotecário lhe oferece (Veja-se aí o quanto o bibliotecário pode interferir, o quanto pode tornar-se útil, por ter acesso e por divulgar a informaçlfo disponível).

Porém, na prática, a situação é diferente. A integração ensino, pesquisa e extensã'o no cur-so de Biblioteconomia já é uma realidade no que se refere ao seu aspecto formal, ou seja, pelo fato de que no novo currículo estar presente. Mas, na dimenslTo interna do próprio curso, há um longo percurso a ser feito até atingir-se tal objetivo.

Jáforam realizadas algumas experiências de integraçlfo, cujos resultados, altamente

favo-ráveis, demonstraram o quanto é factível tal proposta. Exemplo disso é o carro-biblioteca, a par-ticipaçlfo na Feira do Livro da Praça da Alfândega, a re lizaçlfo de pesquisas de estudo de usuá-no, as atividades de hora do conto, etc.

Para que isso se torne mais efetivo, é essencial que tais propostas sejam permanentemente

avaliadas, devidamente valorizadas e que percam o seu caráter episódico. As、ゥュ・ョ\iiセセ de

ensi-no, pesquisa e extenslTo podem ser relacionadas ao planejamento de cada disciplina, ...vmo estra-tégia de ensino aprendizagem, e nlfo consideradas como programas específicos, diferenciados em sua abrangência individual.

31

セbゥ「ャゥッエ・HャHIdN & ComuD., Porto Alegre, 2. 1987

1 BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei n? 5.540, de 28 de novembro de 1968.Diário Oficiol da Unid'o,Brasília, 28 novo 1968.

2 CASTRO, Cláudio de Moura.Ciêncioeuniversidade.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1985.

3 DALLA ZEN, Ana Maria, coord. Aoolioçd'odo contexto, entrada, processo,eーイッ、セエッ do curso de Biblio· teconomio da UFRGS. Porto Alegre, NEBI Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaça:o da UFRGS·

1986, 386p. . ,

4 - -&IGLESIAS, José Roberto.Poder eburocracio na universidade dependente. Porto Alegre, 1986 (mimeo).

5 FREIRE, Paulo.Extens40 ou comuniooção?Trad. Darcy de Oliveira. 5. 00. Rio de Janeiro,Paz e Terra, 1980,93p.

6 - - - .Pedagogia do oprimido.9.ed. Rio de Janeiro,Paz e Terra, 1981, 218p. •

7 FLUSSER, Victor. O bibliotecário animador cultural; consideraçOes sobre sua formaça:o.Revi$ta da Esco· la de Biblioteconomio da UFMG,Belo Horizonte, 11 (2): 230-6, set. 1982.

8 MULLER, Suzana P. Biblioteconomia e sociedade: evoluç[odainterpretaç[o e papéis da biblioteca. Re-vista da Escola de Biblioteconomio da UFMG,Belo Horizonte, 13(1):7-54, mar. 1984.

9 POLKE, Ana Maria A. Ensino de Biblioteconomia: manutenç[o ou mudança?Revi$ta da Escola de Biblio-teconomio da UFMG,Belo Horizonte 12 (1): 13-29, mar. 1983.

Qセ SPERB, DaWa.Problemas gerais de curr(culo.Porto Alegre, Globo, 1966.

セ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Departamento de nIblioteconomia e Docu-mentaç[o.Diretrizes do Novo Curr(culo de Biblioteconomio.Porto Alegre, 1982. (mirneo).

BIBLIOGRAFIA CITADA

çfOda área instrumentalàsdemais, de modo que experiências realizadas numa delas sirva para

.as

outras.

. Nesse planejamento, deverlTo participar tanto os professores e alunos quanto os

funcio-nários para que cada_um, em sua área de competência, se sinta envolvido e responsável pela me-lhoria do curso. Deste modo, as alternativas a serem propostas representarão o resultado de um diálogo, sem prevalecimento de atitudes autoritárias ou de dominaçlfo de uns sobre os outros,

mas

fruto de uma discusslTo democrática sobre as alternativas mais viáveis.

A consciência social, nessa linha, viria éõmo decorrência do clima organizacional presen-. te na realidade interna do próprio curso, sem qualquer conotaçlfo de proselitismo,

assistencialis-1110ou demagogia, num plap.ejamento relacionado diretamenteàrealidade, sem ambições

irreali-záveis.

Dessa maneira, o novo currículo de Biblioteconomia atingirá o objetivo de formar pro-fISSionais com a informaçlfo téorica e a capacitaçlfo prática que lhes permitirá um adequado

de-sempenho profissional e uma efetiva integraçlfoà realidade sócio-econômico-cultural do País.

Ao graduar-se, o aluno terá condições de integrar a sua capacidade e habilidades em atitudes concretas de compromisso, posicionando-se de forma participante em sua área de atuação, co-mo propõe o currículo (11).

Finalmente, ele estará consciente de que é um elemento ativo, "...responsável pela construçlfo de condições que liberem o homem de sua concepça-o produtiva e lhes possibilitem o exercício da liberdade." (II).

. Conclui-se, assim, que o novo currículo tem toda a base necessária para a mudança; só

falta é que seja concebido deste modo, a partir da sua efetiva utilização como mecanismo de inovaÇão na formaçlTo de bibliotecários.

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Referências

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