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4 A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL E SOCIOEDUCATIVO BRASILEIRO

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BRASILEIRO

Neste capítulo apresentamos uma reflexão sobre os processos educacionais no sistema prisional e socioeducativo.

4.1

A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL

No Brasil, os presos cumprem penas em diferentes regimes: Regime fechado - tem que cumprir pelo menos 1/3 da condenação em cadeias fechadas e não podem sair do estabelecimento; Regime semi-aberto – o apenado pode sair para trabalhar durante o dia e deve voltar para a cadeia a noite. Após passar pelo regime semi-aberto e ter cumprido as normas do mesmo, o detento ganha o direito ao Regime Aberto e o final de suas penas trabalhando de dia e indo para casa a noite.

Entretanto, o detento não poderá ficar nas ruas após as 22 horas. A principal restrição é que ele não pode ficar nas ruas após as 22 horas. Segundo o Ministério da Justiça, os estabelecimentos penais possuem as seguintes classificações:

a) Estabelecimentos Penais: todos aqueles utilizados pela Justiça com a finalidade de alojar pessoas presas, quer provisórios quer condenados, ou ainda aqueles que estejam submetidos à medida de segurança;

b) Estabelecimentos para Idosos: estabelecimentos penais próprios, ou seções ou módulos autônomos, incorporados ou anexos a estabelecimentos para adultos, destinados a abrigar pessoas presas que tenham no mínimo 60 anos de idade ao ingressarem ou os que completem essa idade durante o tempo de privação de liberdade;

c) Cadeias Públicas: estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de pessoas presas em caráter provisório, sempre de segurança máxima;

d) Penitenciárias: estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de pessoas presas com condenação à pena privativa de liberdade em regime fechado;

d.1) Penitenciárias de Segurança Máxima Especial: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas com condenação em regime fechado, dotados exclusivamente de celas individuais;

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d.2) Penitenciárias de Segurança Média ou Máxima: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas com condenação em regime fechado, dotados de celas individuais e coletivas;

e) Colônias Agrícolas, Industriais ou Similares: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas que cumprem pena em regime semi-aberto;

f) Casas do Albergado: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas que cumprem pena privativa de liberdade em regime aberto, ou pena de limitação de fins de semana;

g) Centros de Observação Criminológica: estabelecimentos penais de regime fechado e de segurança máxima onde devem ser realizados os exames gerais e criminológico, cujos resultados serão encaminhados às Comissões Técnicas de Classificação, as quais indicarão o tipo de estabelecimento e o tratamento adequado para cada pessoa presa;

h) Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico: estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas submetidas a medida de segurança.

O Departamento Penitenciário Nacional (DPEN) é a instituição que apresenta dados e análises sobre o sistema carcerário brasileiro. Esses dados são elaborados a partir de relatórios enviados pelos Estados sobre sua população carcerária. A partir desses relatórios é possível nortear os investimentos que serão subsidiados pelo Fundo Penitenciário Nacional. Este Fundo foi criado pelo Decreto nº 1093 de 03 Março 1994, estabelece, no artigo segundo, que o mesmo terá as seguintes aplicações:

I - na construção, reforma ampliação e reequipamento de instalações e serviços de penitenciárias e outros estabelecimentos prisionais;

II - na manutenção dos serviços penitenciários, mediante a celebração de convênios, acordos, ajustes ou contratos com entidades públicas ou privadas;

III - na formação, aperfeiçoamento e especialização de servidores das áreas de administração, de segurança e de vigilância dos estabelecimentos penitenciários;

IV - na formação educacional e cultural do preso e do internado, mediante cursos curriculares de 1º e 2º graus, ou profissionalizantes de nível médio ou superior;

V - na elaboração e execução de projetos destinados à reinserção social de presos, internados e egressos;

VI - na execução de programas voltados à assistência jurídica aos presos e internados carentes;

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VII - na execução de programas destinados a dar assistência às vítimas de crime e aos dependentes do preso ou do internado;

VIII - na participação de representantes oficiais em eventos científicos, realizados no Brasil e no exterior, sobre matéria penal, penitenciária ou criminológica;

IX - nas publicações e na pesquisa científica na área penal, penitenciária ou criminológica;

X - nos custos decorrentes de sua própria gestão, excetuadas as despesas de pessoal referentes a servidores públicos que já percebem remuneração dos cofres públicos.

No ano de 2011, O fundo Penitenciário Nacional teve uma arrecadação de R$

393 milhões de reais. Esses recursos são repassados ao Programa Nacional de Apoio ao Sistema prisional objetivando a criação de 42 mil vagas em penitenciárias e cadeias públicas, no sentido de reduzir o número de presos provisórios em delegacias.

Tabela 16 - Número de presos/Situação do Sistema Prisional Brasileiro:

Regime Fechado Regime Semiaberto Regime Aberto Provisório Medida de Segurança Homens: 154.861 Homens: 39.575 Homens: 16.704 Homens: 107.968 Homens: 3.256

Mulheres: 8.944 Mulheres: 2.156 Mulheres: 1.607 Mulheres: 4.170 Mulheres: 339 Total: 163.805 Total: 41.731 Total: 18.311 Total: 112.138 Total: 3.595

Fonte: Ministério da Justiça-dados consolidados/2007 do Departamento Penitenciário Nacional/Sistema Nacional de Informação Penitenciária-2008.

Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, existem hoje no Brasil, 1.051 estabelecimentos penais, com uma população carcerária, segundo os dados consolidados de 2007 do Ministério de Justiça, de 339.580 detentos. Desse universo, 61.565, são vagas da Secretaria de Segurança Pública. É importante ressaltar ainda que existem apenas 236.148 vagas no sistema penitenciário brasileiro.

Estes dados exemplificam a situação do sistema prisional brasileiro que apresenta uma característica peculiar: a superlotação. Evidentemente que com um cenário destes, rebeliões e fugas fazem parte do cotidiano das instituições prisionais em nosso país.

No ano de 2006, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, elaborou um relatório da situação Prisional no Brasil, com o objetivo de apresentar para sociedade um diagnóstico do sistema prisional no Brasil. O documento foi organizado a partir de contribuições dos deputados das Comissões de Direitos Humanos das Assembleias Legislativas, das Comissões de Pastorais

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Carcerárias e de Organizações de Direitos Humanos. Segundo dados deste Relatório, a situação do Sistema Prisional Brasileiro é de crise, tendo em vista a situação de superlotação das instituições carcerárias. Os dados encontrados chama atenção pelo nível de violação dos Direitos Humanos. Em São Paulo, para exemplificar, em uma penitenciária na cidade de Araraquara, existiam 1.500 presos num espaço onde cabiam 160. Outro dado do Ministério da Justiça/2008 apresenta a seguinte estatística: de cada cem mil brasileiros, 229 estão em situação prisional.

Segundo VASQUEZ (2011) existe um “descaso do governo pelo Sistema Penitenciário brasileiro quanto às assistências garantidas ao preso” (pág.11).

JULIÃO (2011) avalia que esta situação poderia ser amenizada se existe uma efetiva política de “reinserção social”. Para este autor a educação e o trabalho são importantes ferramentas neste processo de ressocialização. A Lei de Execuções Penais estabelece o trabalho prisional, possibilitando ao preso uma remuneração mínima de ¼ do salário mínimo e redução da pena, onde três dias de trabalho, permitem reduzir um dia de pena. ONOFRE (2011) aponta esta “remissão”, como um dos grandes motivadores para a busca de trabalho nas prisões. Assinala também que a conquista do trabalho poderá propiciar um “bom conceito” perante a administração da penitenciária. A autora salienta que

“A liberdade de locomoção é altamente valorizada pelos presos designados como “faxinas”. Estes se dedicam à limpeza e a uma série de tarefas auxiliares do funcionamento da casa, as quais lhes trazem outras vantagens, como facilidade de comunicação com outros presos e funcionários, acesso às informações, refeições melhoradas ou mais abundantes. A motivação para alguns trabalhos passa, portanto, por retribuições não necessariamente pecuniárias, e os trabalhos ligados ao funcionamento e à administração são considerados

“regalia”. (pág. 272- 273).

Para JULIÃO (2011),

“Mesmo qualificados, os egressos penitenciários dificilmente serão inseridos no mercado formal de trabalho, em face das altas taxas de desemprego do País e principalmente do estigma que os acompanhará pelo resto de suas vidas, torna-se fundamental refletir sobre essa proposição. Não é apenas com

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capacitação profissional que se alcançará a inserção no mercado de trabalho, pois, diante do grande número de profissionais qualificados desempregados, o mercado torna-se cada vez mais seletivo, priorizando novas habilitações e competências”. (Pág. 148).

Dessa forma podemos avaliar que algumas dessas tarefas descritas por ONOFRE (2011), e realizadas pelos detentos, não estão em correlação com o mercado de trabalho. Neste sentido, percebemos que o processo de formação profissional do preso deveria privilegiar uma concepção de educação que favorece seu desenvolvimento como cidadão crítico, inserido numa sociedade e consciente de seu papel social. Assim, consideramos que a reinserção do ex-detento na sociedade abrange outras questões que vão além das atividades a que lhes são oferecidas na prisão. Desse modo, a educação escolar poderá ser uma possibilidade no sentido de propiciar, pelo menos, que o preso possa elevar seu nível de escolarização.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 estabeleceu em um capítulo especifico o oferecimento da Educação de Adultos nas prisões. Esta normatização foi muito importante, pois foi ratificada pela Lei de Execuções Penais (LEP), nos artigos 17 e 21 estabelecendo que:

“A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado, o ensino fundamental será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa; o ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico; s atividades educacionais podem ser objeto de convênio, com entidades públicas ou particulares, que podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados; em atendimento às condições locais, dotar-se--á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de recluso, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”. (LEP 7.210/84- artigo 17-21).

Apesar de a legislação contemplar os processos de escolarização no sistema prisional, o cenário nacional aponta em outra direção. O Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça considera que existe uma crise no sistema e que

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mesmo após 28 anos da entrada em vigor da Lei de Execução Penal e de 16 anos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as prisões brasileiras estão longe de proporcionarem os benefícios educacionais explicitados nas legislações.

Essas questões se comparadas aos dados do Ministério da Justiça que em 2004 evidenciavam que apenas 18 % da população penitenciaria brasileira participavam de atividades educacionais e que 70% dessa população não possuíam o ensino fundamental completo, já confirmavam a ineficácia das ações educativas no sistema prisional brasileiro, sobretudo no sentido oferecer maiores possibilidades para o preso/presa quando de sua saída do sistema prisional. A partir dessas constatações, foi firmado no ano de 2005, o Protocolo de Intenções com o objetivo de unir esforços para implementação de uma Política Nacional de Educação de Jovens e Adultos no âmbito penitenciário.

No ano de 2008 e 2009, foi realizado um estudo para verificar se o direito à educação estava garantido nas prisões brasileiras. Este trabalho foi desenvolvido pela Relatoria Nacional para o Direito á Educação. Após análises, chegaram-se as seguintes constatações:

• A educação para pessoas encarceradas ainda é vista como um “privilégio”

pelo sistema prisional;

• A educação ainda é algo estranho ao sistema prisional. Muitos professores e professoras afirmam sentir a unidade prisional como um ambiente hostil ao trabalho educacional;

• A educação se constitui, muitas vezes, em “moeda de troca” entre, de um lado, gestores e agentes prisionais e, do outro, encarcerados, visando a manutenção da ordem disciplinar;

• Há um conflito cotidiano entre a garantia do direito à educação e o modelo vigente de prisão, marcado pela superlotação, por violação múltiplas e cotidianas de direitos e pelo superdimensionamento da segurança e de medidas disciplinares.

Já com relação aos atendimentos nas unidades do sistema prisional o referido documento faz as seguintes observações:

- É descontínuo e atropelado pelas dinâmicas e lógicas da segurança. O atendimento educacional é interrompido quando circulam boatos sobre a possibilidade de motins; na ocasião

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de revistas; como castigo ao conjunto dos presos e presas que integram uma unidade no qual ocorreu uma rebelião, ficando a mercê do entendimento e da boa vontade de direções e agentes penitenciários;

- É muito inferior à demanda pelo acesso à educação, oralmente atingindo de 10% a 20% da população encarcerada nas unidades pesquisadas. As visitas às unidades e os depoimentos coletados apontam a existência de listas de espera extensas e de um grande interesse pelo acesso à educação por parte das pessoas encarceradas;

- Quando existente, em sua maior parte sofre de graves problemas de qualidade apresentando jornadas reduzidas, falta de projetos pedagógicos, materiais e infraestrutura inadequados e falta de profissionais de educação capazes de responder às necessidades educacionais dos encarcerados.

LOURENÇO (2011) a partir dos resultados de sua pesquisa realizada em nível de mestrado sobre educação popular no interior das prisões no estado de São Paulo avaliava que os trabalhos acadêmicos sobre este tema apresentavam uma visão de espaço educacional prisional como um “local privilegiado da instituição, por deter normas e regras de funcionamento diferenciadas e mais flexíveis do que as normas gerais, bem como valores também diferenciados em relação aos valores institucionais” (LOURENÇO, 2011, pág. 170). Podemos supor que talvez o cotidiano das escolas prisionais possa colaborar para esta percepção. Diferentemente das escolas regulares, nas escolas prisionais existe um processo de hierarquização mais definido e a imposição de ideias e ações são mais efetivas, no sentido de cumprimento das normas. LOURENÇO (2011) levanta a hipótese de que nas relações que são estabelecidas por professores, monitores, supervisores, alunos e funcionários da prisão pode haver características físicas constituídas especificamente para as escolas prisionais.

Nesse sentido, o autor considera que deveria,

“fazer muita diferença, por exemplo, frequentar uma escola em espaços característicos, em típicas salas de aula, onde as portas, embora encontrem fechadas a fim de evitar interrupções que possam interferir no andamento das atividades, estão destrancadas e são de madeira, em contraposição a frequentar aulas em verdadeiras celas”

(LOURENÇO, 2011, pág. 171).

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Embora não tenhamos a pretensão de avaliar o grau de eficácia das ações educativas nos sistemas prisionais brasileiros, consideramos que os dados referidos apontam para certa tensão entre os paradigmas que regem estas ações. ONOFRE (2011) apresenta duas questões que podem ajudam a compreender este fenômeno.

Segundo esta autora,

“o princípio fundamental da educação escolar, que é por essência transformadora, aponta o tempo-espaço da escola como possibilidade enquanto a cultura prisional, caracterizada pela repressão, pela ordem e disciplina, visando adaptar o indivíduo ao cárcere, aponta para um tempo e espaço que determina mecanicamente as ações dos indivíduos”.

(ONOFRE, 2011 pág16.)

Desse modo, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) têm realizado esforços no sentido de reconhecer que o público da Educação de Jovens e Adultos apresenta características peculiares, uma delas é o de atender demandas específicas dessa modalidade de ensino. Assim a população do sistema prisional torna-se alvo de políticas desta Secretaria. Merece destaque a iniciativa da Diretoria de Políticas da Educação de Jovens e Adultos, que tem reconhecido a população carcerária como público da Educação de Jovens e Adultos e através de uma Parceria entre o Ministério da Justiça, o Ministério da Educação, com apoio da UNESCO, desenvolve o Projeto Educando Para a Liberdade.

No âmbito do Ministério da Educação, por meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que tem por objetivo o desenvolvimento da política educacional do Brasil, se aponta o atendimento a todos os níveis e modalidades de ensino, com suas especificidades, garantindo o direito à todos à educação. Mesmo que a educação no sistema prisional esteja contemplada, a grande questão reside em avaliar se o Ministério da Educação e o Plano de Desenvolvimento da Educação tem conseguido garantir o acesso para todos os brasileiros, independentemente de sua situação diferenciada, no caso a restrição de liberdade, a uma educação de qualidade.

Dentre os instrumentos disponibilizados pelo Governo Federal para o segmento da Educação de Jovens e Adultos, estão: o Programa Brasil Alfabetizado-

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que desde 2004 vem atendendo a população dos estabelecimentos penais, com recursos para os alfabetizadores que atuam em turmas de alfabetização em prisões-; o Projeto Educando para a Liberdade, por meio de recursos de um Plano de Ações Articuladas (PAR)- este instrumento é considerado estratégico para que os estados e municípios recebam recursos do Governo Federal-; e dos recursos disponibilizados por meio do Fundo de Desenvolvimento e Valorização da Educação Básica (FUNDEB).

Segundo o relatório da UNESCO sobre Educação em prisões na América Latina, existiam no sistema penitenciário brasileiro no ano de 2009, na modalidade de alfabetização, 14.643 pessoas, ou seja, 45% do total de presos eram analfabetos.

Ressalta-se que em alguns estados da federação esta taxa é muito elevada, como por exemplo: em Alagoas com 38%, Paraíba, com 32% e Pernambuco com 22%.

Entretanto, mesmo tendo o maior número de pessoas no sistema penitenciário, São Paulo, apresenta taxas de analfabetismo de 5%.

Outro aspecto que deveria ser levado em consideração é que a taxa de demanda da para Educação de Jovens e Adultos no segmento do Ensino Fundamental no Sistema Prisional é de 59%, conforme os dados consolidados em setembro de 2007 pelo Sistema Nacional de Informação Penitenciária (NFOPEN), explicitando a baixa escolaridade entre as pessoas presas alfabetizadas.

4.1.1

O PROJETO EDUCANDO PARA A LIBERDADE

A garantia do direito a educação está estabelecida na Constituição Federal de 1988, na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira (1996), na Lei de Execução Penal (1984) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Entretanto, observa-se que no que diz respeito ao atendimento educacional dos presos, bem como dos jovens que cumprem medida socioeducativa de internação, este direito ainda não foi efetivado, apesar de algumas iniciativas.

Um dos motivos para esta constatação seria o fato de não possuirmos um sistema de informação que possa dar conta sobre as demandas por educação entre a

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população carcerária e a do sistema socioeducativo. TELES e DUARTE (2009) avaliam que

“Na realidade, mesmo a própria oferta pública de escolarização nas prisões não possui dados organizados com base histórica que possibilite orientação mais acurada da política. Isso coloca um empecilho estrutural na elaboração de planos de ação para dimensionar e enfrentar tal desafio”

(TELES e DUARTE, 2009, pág.25).

Frente às questões salientadas pelos autores, ainda temos a questão das facções que existem no sistema prisional, dificultando ainda mais o mapeamento das demandas e, conforme destacado anteriormente, como o trabalho desenvolvido pelos presos, possibilite a remissão da pena, o preso opta por trabalhar.

No sentido de tentar modificar este quadro, foi implementado em 2005, o Projeto Educando para a Liberdade. Este Projeto é uma política pública nacional para efetivação da Educação de Jovens e Adultos no Sistema Prisional. Suas ações estão concentradas na formação continuada de professores para atuarem em turmas de Educação de Jovens e Adultos em prisões, da sensibilização dos profissionais do sistema prisional, no sentido de perceberem a importância do processo de escolarização para os presos, além da oferta de matrículas na modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA). Participaram da elaboração do Projeto, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), ligada ao Ministério da Educação (MEC), O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), ligado ao Ministério da Justiça (MJ), além das secretarias de educação e penitenciária dos estados.

Inicialmente, o Projeto teve como função, o fortalecimento da proposta por oferta de vagas para educação prisional. As instituições acima citadas, a partir de seus representantes, promoveram visitas aos estados que se beneficiariam da política. A partir dessas visitas, foram realizadas oficinas com técnicos e gestores da educação e do sistema penitenciário. Os estados de Goiás, Rio Grande do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo, estes últimos, pela grande população carcerária. As oficinas serviram para diagnosticar alguns dos problemas para que a oferta de educação no

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sistema penitenciário fosse efetivada. Outro momento foi a organização de um ciclo de seminários, que teve como resultado, a apresentação das primeiras ideias para construção de uma proposta efetiva de educação dos presos com a formulação de Diretrizes para Educação no Sistema Penitenciário Brasileiro.

As discussões possibilitaram a formulação de três eixos de atuação para o Projeto: eixo 1- Gestão, articulação e mobilização; eixo 2- Formação e valorização dos profissionais envolvidos e eixo 3- aspectos pedagógicos. As discussões realizadas nos grupos dos três eixos possibilitaram a elaboração de Diretrizes para Educação de Jovens e Adultos em Prisões.

4.2

DIRETRIZES PARA EDUCAÇÃO EM PRISÕES

Tendo como ponto de partida as discussões estabelecidas no Projeto Educando Para a Liberdade, em Maio de 2009, A Secretaria de Educação Continuada e Diversidade, do Ministério da Educação, protocola no Conselho Nacional de Educação (CNE), um pedido para que sejam aprovadas Diretrizes Nacionais para o oferecimento de educação para Jovens e Adultos em situação de privação de Liberdade.

As discussões para formulação das Diretrizes começaram em 2005, com a participação e apoio da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), da sociedade civil organizada, através de Organizações Não Governamentais (ONGs), das Secretarias de educação dos Estados, dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos, da Pastoral Carcerária, de egressos do sistema penal, e de pesquisadores da temática de educação em prisões, com a realização de dois Seminários Nacionais para Educação em Prisões, realizados nos anos de 2006 e 2007 e de coleta de sugestões da sociedade que foram encaminhadas para o Conselho Nacional de Políticas Criminais Penitenciárias (CNPCP).

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Quadro 9 - Número de presos em atividades educacionais por região:

Região Nº de Presos Nº de internos em Atividades Educacionais Norte

Acre Amapá Amazonas Para Rondônia Roraima Tocantins

3.036 1.925 3.507 7.825 5.805 1.445 1.638

253 147 219 1.276

* 60 168 Centro-Oeste

Distrito Federal Goiás

Mato Grosso Mato Grosso do Sul

7.712 9.109 10.045

*

702 296 401

* Sudeste

São Paulo Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro**

145.096 22.947 6.244 22.606

16.546 2.731 1.361 3.718 Nordeste

Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba Pernambuco Piaui

Rio G. do Norte Sergipe

2.168 8.425 12.676 3.378 8.633 18.888 2.244 3.366 2.242

70 672

* 29 376 3.400 341 122 113 Sul

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

21.747 11.943 26.683

2.870 1.145 1.729

Brasil 371.333 38.745

Fonte: Ministério da Justiça/ Departamento Penitenciário Nacional – 2008

* Número não informado.

* Dados não informados

** Neste estado o os números foram informados pela Secretaria de Educação e não pelo Departamento Penitenciário Nacional

Se observarmos o caso do Rio de Janeiro, percebemos que apenas 6,08% dos presos participam de atividades educacionais. Em 2011, foi aprovada a Lei 12.433/2011, de 29 de junho de 2011, que permite a remissão do preso que participar de atividades educacionais. Para garantir este benefício, será necessário que o mesmo participe de 12 horas de estudo em sala de aula (presencial ou à distância) para ter um dia de pena reduzida. Ainda não temos dados atualizados para verificarmos o impacto desta Lei no Sistema Prisional Brasileiro.

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4.3

A EDUCAÇÃO NO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

A Constituição Federal de 1988 garantiu o direito a Educação, constituindo-o como um direito fundamental. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabeleceu, no capítulo IV, art. 53 que:

“Art.53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando sê-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência”.

Quando falamos do jovem, sobretudo aquele privado de liberdade, o Estatuto da Criança e do Adolescente nos artigos 57 e 58, constituem os princípios para uma ação educativa para a infância e juventude: Art. 57:

“O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório”.

Já o artigo 58, estabelece que:

“No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.”.

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Os jovens que cumprem medida socioeducativa de internação, não estão privados das possibilidades elencadas no Estatuto. Presume-se que essas possibilidades deveriam ser estimuladas e refletidas, especialmente, no que diz respeito aos aspectos relativos às questões sociais, culturais, políticos, culturais e jurídicas que se referem ao procedimento do ato da medida socioeducativa conferida ao jovem e ao Estado, que tem a responsabilidade e função de cuidar da vida desse jovem nessa condição. Consideramos que uma reflexão sobre esse processo, poderia estimular o jovem no sentido de perceber a relação entre sua vida e as condições colocadas pela medida socioeducativa.

Quando se trata do jovem que cumpre medida socioeducativa, é por meio das ações pedagógicas, garantidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e reafirmadas no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que esses jovens deveriam ter a oportunidade de refletir sobre seus atos, no sentido de promover uma mudança em suas vidas. Como no Estatuto da Criança e do Adolescente estão descritas o direito e o acesso a criança e adolescentes em linhas gerais, é no SINASE, onde especificamente, se fala da criança e do jovem autor de ato infracional e a questão da educação.

No que diz respeito à perspectiva pedagógica das ações socioeducativas, o SINASE no item 6, apresenta considerações acerca dos “Parâmetros Norteadores da Ação da Gestão Pedagógica” para as instituições socioeducativas, possibilitando que o jovem tenha acesso a oportunidades de enfrentar e superar sua situação, participando de programas e serviços sociais públicos. Neste sentido, estão descritas doze diretrizes pedagógicas para as instituições que fazem atendimento socioeducativo. Abaixo, teceremos comentários sobre as diretrizes e logo em seguida apresentaremos o eixo de educação, onde estão elencadas as ações pertinentes às instituições que executam medidas socioeducativas de internação.

A primeira diretriz enfatiza a “prevalência da ação socioeducativa sobre os aspectos meramente sancionatórios” (pág. 45). Assim, apesar de ter um caráter sancionatório, visto que o jovem é punido pela prática do ato infracional, a ação socioeducativa tem também uma natureza sociopedagógica. Este caráter deve proporcionar o desenvolvimento de ações educativas nas instituições de atendimento.

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A segunda diretriz nomeia o “Projeto pedagógico como ordenador de ação e gestão do atendimento socioeducativo” (pág.46). Para o Documento, o Projeto Pedagógico tem o papel de orientar todas as ações da instituição de atendimento socioeducativo, no sentido de que sejam garantidos os processos de monitoramento e avaliação das ações, objetivando seu efetivo cumprimento.

A terceira diretriz considera importante a “participação dos adolescentes na construção, no monitoramento e na avaliação das ações” (pág. 46). O enfoque dessa diretriz esta na possibilidade do jovem passar do impacto de estar cumprindo uma medida socioeducativa de internação, para o campo da crítica da realidade, levando-o a assumir conscientemente, o papel de sujeito. O texto enfatiza também que o jovem deva participar efetivamente na elaboração, monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas.

A quarta diretriz orienta que o “respeito à singularidade do adolescente, presença educativa e exemplaridade como condições necessárias na ação socioeducativa” (págs. 45-46). Desse modo as relações estabelecidas entre os jovens e educadores e técnicos das instituições, devem formar um vínculo de respeito.

Assim, o Documento considera que educar tem com um dos aspectos, o exemplo dado por aquele que educa, fundamentadas em bases éticas, levando em consideração as especificidades, potencialidades, subjetividade, capacidades e limitações dessas relações.

A quinta diretriz “exigência e compreensão, enquanto elementos primordiais de reconhecimento e respeito ao adolescente durante o atendimento socioeducativo” (pág. 47), considera exigir dos jovens que cumprem medidas socioeducativas, é uma ação de potencializá-los no sentido de compreenderem suas capacidades e habilidades, no sentido de superação de suas limitações. Entretanto, o documento enfatiza que a exigência tem pressupõe a compreensão dessas características, por parte daqueles que estão orientando os jovens, no sentido de que tais exigências possam ser realizadas.

A sexta diretriz “diretividade no processo socioeducativo” (pág. 47), compreende que os funcionários envolvidos no atendimento, tenham uma autoridade

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competente, diferente de autoritarismo. Implica em um direcionamento das ações, com a participação dos jovens e o estímulo ao diálogo.

A “disciplina como meio para a realização da ação socioeducativa” (pág.

47), é o título da sétima diretriz. Envolve o tema da disciplina, que deve ser avaliada como um instrumento que possa levar ao sucesso das ações pedagógicas. Assim, o SINASE, pensa o ambiente socioeducativo como um lugar que fomenta a cultura do conhecimento. Assim, ela não pode ser vista como uma ferramenta para a manutenção da ordem institucional. Deve ser percebida como uma condição para viabilizar as ações educativas.

A oitava diretriz “dinâmica institucional garantindo a horizontalidade na socialização das informações e dos saberes em equipe multiprofissional” (pág. 47).

Ressalta que mesmo compreendendo as especificidades da equipe de técnicos e educadores que prestam atendimento socioeducativo, essas diferenças não deve provocar uma hierarquia de saberes, fazendo com que o processo socioeducativo não se dê de forma “respeitosa, democrática e participativa” (pág.47). Neste caso, torna- se necessário que haja uma dinâmica que permita a socialização das informações e saberes.

A nona diretriz “organização espacial e funcional das Unidades de atendimento socioeducativo que garantam possibilidades de desenvolvimento pessoal e social para o adolescente” (pág.48) esclarece que o espaço físico, a organização espacial, as obras realizadas, os materiais e os equipamentos utilizados e nas unidades de atendimento socioeducativo, devam estar subordinadas ao projeto pedagógico da instituição, em conformidade com o SINASE, para não inviabilizar as ações pedagógicas.

A décima diretriz “diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual norteadora da prática pedagógica” (pág. 48), explicita que as questões étnico-raciais, de gênero, cultural, orientação sexual, devam integrar os fundamentos teóricos e metodológicos do projeto pedagógico. Avalia que seja indispensável a discussão desses temas, relacionando-os com as ações de saúde, educação, cultura, profissionalização e cidadania e sobretudo o de possibilitar atitudes mais tolerantes e inclusivas.

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A décima primeira diretriz “família e comunidade participando ativamente da experiência socioeducativa” (pág. 48), observa que a participação da família, da comunidade onde o jovem estava inserido, bem como da sociedade civil organizada, podem possibilitar um movimento maior para efetividade das ações educativas propostas. Neste sentido, especificamente no caso da participação da família, esta pode fortalecer os laços com os jovens no processo socioeducativo, facilitando sua inserção no ambiente familiar, bem como sua integração com a comunidade.

Finalmente, a décima segunda diretriz “formação continuada dos atores sociais” (pág. 48), sinaliza para o fato de que técnicos e educadores do sistema socioeducativo devam ter uma formação continuada, no sentido de qualificar suas ações educativas. O documento prevê ainda que haja uma atualização permanente acerca do tema da “Criança e do Adolescente”, que devem ser fomentadas pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e pelas equipes de atendimento socioeducativo que tenham conexão com os pressupostos do SINASE.

Com relação as instituições que executam as medidas socioeducativas de internação, o Documento especifica as orientações, no que diz respeito a educação, no item 6.3.3.2 (pág. 58). Neste caso, as instituições devem:

1) garantir na programação das atividades, espaço para acompanhamento sistemático das tarefas escolares, auxiliando o adolescente em possíveis dificuldades, contudo, trabalhando para sua autonomia e responsabilidade;

2) construir sintonia entre a escola e o projeto pedagógico do programa de internação, sendo as atividades consequentes, complementares e integradas em relação à metodologia, conteúdo e forma de serem oferecidas (exclusivo para internação); 3) garantir o acesso a todos os níveis de educação formal aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação, podendo, para tanto, haver Unidade escolar localizada no interior do programa; Unidade vinculada à escola existente na comunidade ou inclusão na rede pública externa;

Conforme o texto sugere, a escolarização dos jovens que cumprem medidas socioeducativas é prioridade elencado no Documento, sobretudo no que diz\ respeito ao acesso e permanência na escola. Entretanto, uma vez no sistema, os jovens são

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levados a cumprir uma série de exigências estabelecidas como a de frequentar as atividades propostas. Ressalva-se, contudo, que nessas ações realizadas o jovem pode escolher não realizá-las.

Salientamos também que a segurança, infelizmente, ainda é o que motiva as ações no sistema, em detrimento das ações educativas. OLIVEIRA (2003) destaca que: “chega ao cúmulo de se proibir aos adolescentes a leitura no interior dos alojamentos, isto porque livros são feitos de papel, e, portanto, podem servir de instrumento para incendiar o prédio” (OLIVEIRA, 2003, Pág. 93).

Neste sentido, avaliamos que se torna necessário compreender os princípios da educação que queremos desenvolver no sistema socioeducativo. E isto exige um posicionamento efetivo, no que se refere às práticas e ações realizadas. Assim, o poder público, sobretudo o executivo, responsável pelas ações, precisa pensar numa política socioeducativa de educação, orientada a praticas que possibilitem o resgate da cidadania e dignidade do jovem e não práticas repressoras com “manto” de educativas.

OLIVEIRA (2003) elenca algumas possibilidades para essa política:

-Estabelecer, em conjunto com o adolescente e tão logo o mesmo seja encaminhado para a unidade onde vai cumprir a medida, um plano de trabalho individualizado, fixando metas claras e de curto prazo, que devem ser rediscutidas e avaliadas periodicamente;

- Criar a figura do “orientador” (a exemplo do que se prevê no caso da liberdade assistida, adaptando para a situação de internação) que seria o educador de referência para um número limitado de internos, possibilitando uma relação próxima, onde dificuldades e avanços podem ser percebidos de forma imediata;

- Criar conselhos de avaliação, onde além do orientador outros profissionais possam opinar sobre o progresso do programa socioeducativo (OLIVEIRA, 2003, pág.93).

Em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2002, apontaram-se algumas dificuldades para o oferecimento da educação escolar nas unidades socioeducativas:

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1- Insuficiência de professores

2- Capacitação inadequada dos professores para o trabalho com os adolescentes

3- Falta de motivação/interesse dos alunos

4- Dificuldade para manter critérios de divisão das turmas 5- Diferentes períodos de ingresso na instituição

6- Preconceitos dirigidos aos adolescentes nas atividades externas 7- Discriminação por parte dos professores

8- Inexistência/inadequação de material didático 9- Não oferecimento de certificação

10- Turmas superlotadas

11- Dificuldade de participação dos adolescentes em virtude do uso de drogas 12- Inexistência de critérios de avaliação de aprendizagem

13- Calendário da rede estadual de ensino inadequado 14- Escola desarticulada das demais atividades da instituição

Todas essas dificuldades levam-nos a acreditar que se torna praticamente impossível desenvolver um processo de educação escolar nas unidades socioeducativas de forma eficaz. Entretanto, conforme salientado anteriormente, o direito a educação é uma conquista histórica e não podemos deixar que a burocracia e a falta de politicas públicas efetivas nesta perspectiva possam suprimir este direito.

Consideramos que a realidade do Sistema Socioeducativo não difere muito do Sistema Prisional. Entretanto, este último avançou significativamente com a promulgação da Lei 12.433/2011. Avaliamos que o mesmo poderia ser efetivado no sistema socioeducativo, especialmente para estes jovens que cometeram ato infracional e que necessitam de uma reinserção social que dê conta da continuidade de seus projetos de vida. Desse modo, o fomento e efetivação de políticas públicas eficazes, são elementos importantes neste processo.

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