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ECLI:PT:TRE:2006:

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ECLI:PT:TRE:2006:710.06.1

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2006:710.06.1

Relator Nº do Documento

Domingos Duarte

Apenso Data do Acordão

16/05/2006

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público

Meio Processual Decisão

Recurso Penal recurso provido

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

arresto preventivo; caução económica; bens comuns do casal;

(2)

Sumário:

I - A extinção do vínculo conjugal não faz operar, automaticamente, a alteração do regime

matrimonial de bens, pelo que, sendo a pretensão conservatória (arresto) anterior à dissolução da sociedade conjugal, os bens comuns do casal mantêm essa qualidade, até à sua divisão e partilha.

II - O arresto preventivo pode ser requerido por toda a pessoa que sofreu danos ocasionados pelo crime (o que basta para dever ser considerada lesado nos termos do art. 74º, nº 1, do C.P.P.), mesmo que ainda não haja formulado nos autos o seu pedido de indemnização civil.

III - Em face da nova redacção conferida ao art. 228º, n.º 1, do CPP pela Lei nº 59/98, de 25/08, para que o arresto preventivo possa ser requerido e decretado, não se impõe que, previamente, haja sido imposta, sem sucesso, a prestação de caução económica.

IV - Não podem ser arrestados bens comuns do casal para garantia do pagamento de dívida da responsabilidade de apenas um dos cônjuges.

Decisão Integral:

Processo n.º 710/06-1

Acordam, em conferência, os Juízes da Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora.

I – No âmbito do inquérito n.º….com procedimento cautelar apenso n.º … N, L e C requereram ao abrigo do art. 228º, n.º 1 do CPP que, produzida a prova testemunhal que ofereceram, fosse decretado o arresto preventivo contra o arguido J C, alegando para o efeito:

1º - Os danos patrimoniais e, em particular os danos morais sofridos pelos requerentes em consequência da morte do seu marido e pai, são evidentes e de montante elevado, dadas as circunstâncias em que se deu e tendo em consideração a sua idade.

2º - É previsível que os mesmos venham a ser calculados em montante não inferior a € 100.000.

3º - Sucede que o arguido é pessoa de idade avançada a quem não são conhecidos outros bens além de um automóvel, usado e de pouco valor comercial, e de um prédio urbano descrito sob a

ficha n.º………, da freguesia de………, da Conservatória do Registo Predial de ……., conforme certidão junta como doc. n.º 1 ao requerimento de fls. 84 e segs.

4º - A experiência de vida em situações semelhantes, diz-nos que o arguido e seus familiares directos poderão «pôr a salvo» o referido prédio urbano, mediante venda do mesmo a terceiros.

5º - A acontecer isso, no caso sub judice, os requerentes ficarão sem qualquer garantia de pagamento das indemnizações civis que pretendem, oportunamente, formular no processo.

6º - Acresce que a apreciação do requerimento formulado nos presentes autos, para que fosse arbitrada caução económica em valor não inferior àquele montante, mediante hipoteca do prédio, foi objecto do despacho de fls. 108, em que se determinou que o mesmo seja apreciado

oportunamente.

7º - Acresce que na freguesia de………, é voz corrente que o arguido e seus familiares estão a tentar uma venda do prédio a terceiros.

8º - Existe, pois, o fundado receio de perda da garantia patrimonial por parte do arguido.

***

II – Após a produção de prova, o Mm.º Juiz de Instrução Criminal, em 29/08/2005, proferiu a seguinte decisão:

(3)

«…

Produzida a prova, o Tribunal considera estarem sumariamente provados os seguintes factos:

a) O prédio urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de …….., sob o n.º … da Freguesia de ……, encontra-se inscrito a favor de J C mediante a inscrição G-1;

b) Os requerentes são respectivamente mulher e filhos da vítima;

c) Para além de um veículo automóvel antigo, modelo Renault 5, não são conhecidos outros bens ao arguido;

d) O arguido e a sua esposa pretendem vender o imóvel identificado na alínea a);

e) O arguido e a sua esposa pretendem realizar negócio jurídico através do qual transfiram, por qualquer título, a propriedade do referido imóvel.

Do Direito:

Com os presentes autos pretendem os requerentes o arresto de um prédio pertencente ao requerido e que identificam no seu requerimento inicial, com o fundamento de que o mesmo é a única garantia que lhes resta para assegurar o pagamento da indemnização a que têm direito nos termos legais, no valor de €100.000 (cem mil euros).

Estamos, assim, no âmbito de um procedimento cautelar especificado, sobre o qual versam os artigos 406º a 411º do Cód. Proc. Civil.

Por força do preceituado no artigo 392º, n.º 1, do mesmo Código, são também aplicáveis as disposições respeitantes ao procedimento cautelar comum.

Dispõe o art. 381º, n.º 1 citado que “sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável do seu direito, pode requerer a providência conservatória ou antecipatória concretamente adequada a assegurar a efectividade do direito ameaçado”.

São, portanto, requisitos necessários à procedência do procedimento cautelar:

a) A probabilidade séria da existência do direito invocado “fumus boni iuris”;

b) O fundado receio de ocorrência de lesão grave e dificilmente reparável de tal direito “periculum in mora”.

E, ainda, de acordo com o disposto no artigo 387º, n.º 2, Cód. Proc. Civil, é preciso que o dano que com a providência se quer evitar não exceda o prejuízo dela resultante.

Relativamente ao direito, cujo receio de lesão grave fundamenta a concessão da medida cautelar, não se exige um juízo de certeza. A lei basta-se com um juízo de verosimilhança, uma mera aparência do direito, fundada na matéria de facto provada.

O arresto é a providência cautelar adequada à manutenção da garantia patrimonial do credor, não podendo servir para outra finalidade que não seja prevenir o perigo de dissipação pelo devedor do seu património por forma a que ponha em causa o efectivo cumprimento das suas obrigações patrimoniais.

No caso do procedimento cautelar de arresto, os requisitos “fumus boni iuris” e “periculum in mora” traduzem-se, respectivamente, na provável existência de um direito de crédito a favor do requerente e no justo receio da perda de garantia patrimonial do seu crédito (cfr. arts. 406º, n.º 1, e 407ª, n.º 1, ambos do Cód. Proc. Civil).

Com efeito preceitua o n.º 1 do art. 406º que “O credor que tenha justificado receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito pode requerer o arresto de bens do devedor” que mais não é do que a tradução processual do estatuído no art. 619º do Cód. Civil que dispõe em sentido idêntico.

Concretiza o n.º 1 do art. 407º que o requerente deve, desde logo, deduzir os factos que tornam provável a existência desse crédito e justifiquem o receio invocado.

Vejamos, então, se a matéria de facto apurada permite concluir pela verificação dos indicados

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requisitos.

Nos presentes autos, constitui causa de pedir, por um lado, a aparência do direito de crédito dos requerentes emergente da responsabilidade civil por factos ilícitos em que se encontra incurso o arguido e requerido.

A este propósito recordemos ter ficado provado que os requerentes são respectivamente mulher e filhos da vítima.

Perante esta factualidade, encontra-se suficientemente demonstrado nos autos que os requerentes são titulares de um direito de crédito sobre o requerido.

Por outro lado, constitui ainda causa de pedir o receio de os requerentes não assegurarem a

satisfação do seu crédito uma vez que o requerido se prepara para vender o único bem que possui, o aludido imóvel.

Como é natural, o critério de avaliação deste requisito não deve assentar em juízos puramente subjectivos, isto é, em simples conjecturas, antes deve basear-se em factos ou em circunstâncias que, de acordo com as regras de experiência, aconselhem uma decisão cautelar imediata como factor potenciador da eficácia da acção que se pretende instaurar.

Revertendo ao caso dos autos, os factos concretos, que nesta sede interessam, dados como sumariamente provados, são os seguintes:

a) Para além de um veículo automóvel antigo, modelo Renault 5, não são conhecidos outros bens ao arguido;

b) O arguido e a sua esposa pretendem vender o prédio urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de …, sob o n.º … da Freguesia de …;

c) O arguido e a sua esposa pretendem realizar negócio jurídico através do qual transfiram, por qualquer título, a propriedade do referido imóvel.

Da factualidade descrita resulta que a requerente dispõe de uma forma visível de caucionar o seu direito de crédito, através do valor patrimonial representado pelo prédio descrito sob o n.º …, já que não são conhecidos outros bens ao requerido.

Atento o exposto, considero verificados os requisitos de que depende a providência de arresto e, consequentemente, julgo procedente a providência cautelar requerida.

DISPOSITIVO:

Face ao exposto, e ao abrigo das disposições legais citadas, decreto o arresto do seguinte bem imóvel: prédio urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de …, sob o n.º … da Freguesia de …, para garantia do crédito de € 100.000 cem mil euros.

Para depositário nomeio pessoa idónea a indicar pela Secção.

Proceda ao arresto.

Custas pelos requerentes, sendo atendidas na acção respectiva (cfr. arts. 446º n.º 1 e 2, e 453º, n.º 1, ambos do Cód. Proc. Civil).

Efectuado o arresto, cite o requerido nos termos e para efeitos do disposto nos artigos 385º, n.º 6, e 388º, ambos do mesmo Código.

Notifique.»

***

III – Inconformados com a decisão dela interpuseram os presentes recursos o arguido J C, em 12/10/2005, e J F, em 02/11/2005, recursos estes que foram admitidos por despacho proferido em 04/01/2006.

No essencial, as alegações de ambos os recorrentes, podem fundir-se e sintetizarem-se nas seguintes:

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- O recorrente J C e a recorrente J F contraíram, entre si, casamento em 21 de Abril de 1974, sem convenção nupcial.

- Após o casamento, mais concretamente em 1990, mandaram construir e passaram a ser donos e legítimos possuidores de um prédio urbano, habitação do casal, composto de rés-do-chão e quintal, tendo uma cozinha, três divisões, uma casa de banho e dispensa, confrontando pelo Norte, Sul e

Poente com …, freguesia de …, concelho de …, descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o n.º…, inscrito na matriz predial respectiva sob o art. ….

- O aludido imóvel, é, deste modo, um bem comum do casal.

- Em 30 de Junho de 2005, o recorrente J C foi detido, indiciado pela prática de um crime de homicídio qualificado previsto e punível pelos art. 131° e 132° n.º 1 e 2 alínea g) do C. Penal.

- Por decisão da Exma. Conservadora do Registo Civil de …, datada de 21 de Setembro de 2005, devidamente transitada, foi decretado o divórcio do casal, ora recorrentes e, assim, dissolvido o seu casamento.

- Os recorrentes ainda não procederam à partilha de bens comuns, pelo que o imóvel arrestado continua a ser um bem comum.

- O arresto preventivo do imóvel acima identificado foi decretado essencialmente, com os fundamentos de que além do veículo automóvel antigo, modelo Renault 5, não são conhecidos outros bens ao recorrente e que este e sua mulher pretendiam realizar negócio jurídico transferindo, por qualquer título, a propriedade do respectivo imóvel.

- Como se verifica do douto despacho recorrido, essencialmente, foi fundamento da decisão o conteúdo dos depoimentos de duas testemunhas, obviamente relacionados com os recorridos não se encontrando minimamente comprovado o alegado por outra via nomeadamente documental.

- Todavia, e, independentemente do que se vem de dizer, indiscutível é que o imóvel objecto de arresto não é pertença exclusiva do ora recorrente J C e, por isso, a recorrente J F, sua ex-esposa, continua a ser dona e legítima proprietária do direito a metade do mesmo.

A recorrente J F em nada contribuiu para o crime por que foi indiciado e detido o ora recorrente J C sendo inteira e totalmente estranha à conduta deste.

- No decurso do processo em causa - procedimento cautelar (arresto) - nunca foram, os ora

recorrentes, notificados para qualquer efeito, nomeadamente, sobre a intenção de venda do imóvel em causa, sendo certo, que nunca foi intenção do casal proceder à venda do mesmo.

- Divorciados, como se encontram, é intenção do recorrente J C, em partilhas, atribuir à recorrente J F a totalidade do imóvel dando (?!) (esclarecido nas alegações da recorrente -“recebendo”-) as tornas devidas.

- É, assim, inegável que, com a efectivação do arresto do imóvel em causa, propriedade e bem comum dos recorrentes, resulta para ambos manifestos prejuízos.

- Daí que a douta decisão recorrida viola o disposto nos arts. 1724° alínea b) do C. Civil e 825° n.º 1, 1692° alínea b), 1694° n.º 2, 1696° n.º 1 e 1724° alínea b) do C. P. Civil.

Concluem pedindo a revogação da decisão ou, quando assim se não entender, o que apenas em teoria se admite, deve ser substituída por outra, na qual se determine o arresto do direito de J C à metade do imóvel em causa.

***

IV – Os recorridos N, L e C não responderam.

***

V - O Mm.º Juiz de Instrução Criminal, por despacho de 09/03/2006 (cfr. fls. 60) sustentou a decisão impugnada remetendo para os seus fundamentos.

(6)

***

VI – Cumprido o n.º 2, do art. 417º, do CPP respondeu a recorrente J F pugnando pela procedência do recurso no sentido requerido.

Foi junta aos autos certidão da Conservatória do Registo Civil de … onde se certifica o decretamento do divórcio dos recorrentes em 21/09/2005.

***

VII - O objecto do presente recurso, delimitado que está pelas conclusões extraídas da correspondente motivação - art. 412°, do Código de Processo Penal -, consiste em saber se

poderia ter sido decretado o arresto do prédio urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de …, sob o n.º … da Freguesia de …, propriedade dos recorrentes, para garantia do crédito de que se arrogam os requerentes do mesmo, N, L e C.

Antes do mais importa assinalar que, não obstante a cessação da comunhão conjugal entre os recorrentes, em consequência do divórcio, determinar uma situação de compropriedade, a extinção do vínculo conjugal não faz operar, automaticamente, a alteração do regime matrimonial de bens, pelo que, sendo a pretensão conservatória (arresto) anterior à dissolução da sociedade conjugal, os bens comuns do casal mantêm essa qualidade, até à sua divisão e partilha.

Por outro lado, importa, também, assinalar que o arresto preventivo pode ser requerido por toda a pessoa que sofreu danos ocasionados pelo crime (o que basta para dever ser considerada lesado nos termos do art. 74º, nº 1, do C.P.P.), mesmo que ainda não haja formulado nos autos o seu pedido de indemnização civil, como acontece no caso em apreço, desde que do seu requerimento de arresto resulte, com verosimilhança, que para os requerentes decorreram danos derivados do crime que está sendo averiguado no inquérito em curso.

Finalmente, em face da nova redacção conferida ao art. 228º, n.º 1, pela Lei nº 59/98, de 25/08, para que o arresto preventivo possa ser requerido e decretado, não se impõe que, previamente, haja sido imposta, sem sucesso, a prestação de caução económica. A única diferença em relação ao regime anterior está em que, se tiver sido previamente imposta a prestação de caução

económica e ela não for prestada, o requerente do arresto preventivo fica dispensado da prova – que, em princípio, lhe seria exigida, nos termos gerais – da ocorrência do fundado receio de perda da garantia patrimonial.

Na medida em que não foi imposta ao requerido, ora recorrente, caução económica, os requerentes da providência tiveram que fazer prova da existência de um crédito sobre o arrestado. No caso sub judice e, no momento em que a providência foi pedida, mais concretamente a expectativa do

mesmo e o justo receio de que, sem ela, se venha a frustrar ou a tornar consideravelmente difícil a realização da respectiva prestação.

A providência cautelar de arresto, como supra se assinalou, foi decretada.

Estando definida a legitimidade dos requerentes da providência e indiciariamente provados os requisitos exigíveis para que a mesma pudesse ser decretada (que não se questionam no presente recurso) cumpre, tão só, aferir se podia, ou não, ser arrestado o prédio urbano em causa.

No caso em concreto o direito de crédito dos requerentes consubstancia-se no valor indemnizatório (ainda ilíquido), pelos danos patrimoniais e não patrimoniais, por eles sofridos e emergentes da responsabilidade civil por factos ilícitos em que se encontra incurso o arguido, requerido na providência e ora recorrente.

(7)

Dispõe a alínea b), do art. 1692º, do Código Civil que «São de exclusiva responsabilidade do cônjuge a que respeitam: … as dívidas provenientes de crimes e as indemnizações …»

Por seu turno estatui o n.º 1, do art. 1696º, do mesmo diploma legal com a redacção introduzida pelo art. 4º do Decreto-Lei n.º 329-A/95, de 12/12 «Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.»

A dívida proveniente de crimes é incomunicável. Por ela só respondem os bens do cônjuge culpado.

Sobre a questão, objecto do presente recurso, com a devida vénia, se transcreve parte do texto do Acórdão do STJ de 6/7/2000, relatado pelo Conselheiro Aragão Seia in CJ, Acórdãos do STJ, Ano 2000, Tomo II, pág. 141 que, pela clareza da exposição, importa reter «O arresto e a penhora obedecem a regimes jurídicos diferentes, sem embargo de apresentarem algumas semelhanças quer nos efeitos de garantia quer na forma da sua efectivação.

Enquanto a penhora é uma providência que consiste na apreensão judicial de bens que os retira da disponibilidade material do seu proprietário-devedor, para serem objecto de execução destinada a dar realização efectiva ao direito do credor-exequente, o arresto, acto preventivo e conservatório, tem uma função puramente cautelar, visando, também, a apreensão judicial de bens, mas para salvaguarda do receio da perda de garantia patrimonial do credor, em virtude de o devedor tornar ou poder tornar difícil a realização coactiva do seu crédito.

Os requisitos do arresto e os seus efeitos estão determinados no Código Civil – art. 619º e segts.; o modo de o realizar e a sua tramitação estão previstos no CPC – art. 406º e segts..

Há-de incidir apenas sobre bens do devedor, pois são estes que, em princípio, garantem o cumprimento da obrigação – art. 601º, do CC.

As disposições da penhora são aplicáveis ao arresto em tudo que não contrariem os termos dos art.

406º e segts. Do CPC, sendo-lhe extensivos, na parte aplicável, os demais preceitos – n.º 2 do art.

622º do CC – a partir da sua conversão nesta – art. 846º do CPC.

A partir da conversão o arresto deixa de existir como tal, não lhe sendo mais aplicáveis as disposições próprias.

Na execução por dívida da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem, em primeiro lugar, os bens próprios dele e só subsidiariamente a sua meação nos bens comuns do casal, conforme o disposto no n.º 1, do art. 1696º do CC.

Mas neste caso, a título provisório, podem ser penhorados bens comuns do casal desde que o exequente, ao nomeá-los à penhora, peça a citação do cônjuge do executado para requerer a separação de bens, nos termos do n.º 1, do art. 825º, do CPC.

Se este pedido de citação não for formulado conjuntamente com a nomeação à penhora de bens comuns do casal, o cônjuge do executado pode embargar de terceiro, relativamente aos bens comuns que hajam sido indevidamente atingidos pela diligência judicial – art. 352º, do CPC.

No caso do arresto não há lugar a esta citação visto não estar prevista na lei em relação a ele, mas também por não ser possível fazer funcionar o mecanismo da separação de bens comuns do casal, por o arresto ser um mero procedimento cautelar, de natureza preventiva e conservatória, que esgota os seus efeitos na indisponibilidade dos bens sobre que incide, podendo acontecer que nem tenha seguimento qualquer acção executiva.

Só quando o arresto é convertido em penhora por simples despacho, nos termos do art. 846º, do CPC, é que o cônjuge do executado deve ser citado, então, para requerer a separação de bens. È esta a única maneira de não se frustrar o direito à salvaguarda do seu património.

(8)

A impor-se a citação do cônjuge do executado esta seria inócua, por ele não poder requerer a separação de bens pelas razões já apontadas e não poder então, também, embargar, ficando sem possibilidade de defender os seus direitos.

A antiga moratória, agora suprimida pela nova redacção do n.º 1 do art. 1696º do CC, em nada afecta o que se deixou exposto, pois nele continua a estabelecer-se que pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e,

subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns, ressalvando o citado n.º 1 do art. 825º do CPC que incumbe ao exequente o ónus de, conjuntamente com a nomeação dos bens à penhora, pedir a citação do cônjuge do executado para requerer a separação de bens.»

No mesmo sentido se pronunciou o Acórdão da Relação de Lisboa de 25/03/2003, in CJ, Ano 2003, Tomo II, pág. 88. «O arresto provocado pela não prestação de caução económica em processo crime só pode abranger bens próprios do arguido e, se este for casado, subsidiariamente a sua meação nos bens comuns, sem lugar a qualquer moratória.

II - Não podem ser arrestados bens comuns do casal, sendo certo que a citação do cônjuge prevista no artigo 825 do Código de Processo Civil é exclusiva do processo executivo.»

Comungando da interpretação jurídica exposta, nada mais temos a acrescentar e,

consequentemente, temos por certo que, em face da lei, não podem ser arrestados bens comuns do casal para garantia do pagamento de dívida de responsabilidade de apenas um dos cônjuges como ocorre no caso presente.

***

Por todo o exposto, acordam os Juízes da Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora em conceder provimento aos recursos interpostos e, nessa conformidade, revogam o despacho recorrido com o consequente levantamento do arresto decretado sobre o prédio urbano, sito na Freguesia de …, descrito na Conservatória do Registo Predial de …, sob a ficha n.º … e, na mesma, inscrito a favor dos recorrentes, o que se ordena.

Sem custas.

***

Évora, 16/05/2006 (processado e revisto pelo relator)

Domingos Duarte Pedro Mourão Alberto Mira

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