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PRÁXIS E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

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Academic year: 2022

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PRÁXIS E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES  DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

       

Zenilda Botti Fernandes        Universidade Federal do Pará

        Resumo

Este  trabalho  analisa  a  práxis  e  a  mediação  pedagógica  dos  professores  formadores  e  dos tutores que atuam no curso de Licenciatura em Matemática a Distância, no âmbito  da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do programa Universidade Aberta  do  Brasil  (UAB).  Os  cursos  a  distância,  na  região  amazônica  paraense,  têm  se  apresentado  como  alternativa  para  a  qualificação  dos  professores  e  a  melhoria  da  educação básica. A investigação conta com as contribuições de Vásquez (2011), dentre  outros, na teorização que desenvolveu sobre “práxis”. O autor preconiza que o homem  atua sobre a realidade para transformá­la, e o modo como isso ocorre, e o que resulta  dessa intervenção, é proporcional ao nível de consciência de quem produziu a ação. A  mediação  pedagógica  segundo  Therrien  (2012),  é  caracterizada  como  intersubjetiva  e  dialógica para produzir aprendizagem de sujeitos. Aplicados no contexto da formação  de  professores  de  Matemática  a  distância,  estes  conceitos  são    de  fundamental  importância  para  compreender  em  que  termos  estão  sendo  formados  os  licenciandos,  uma vez que os construtos da relação e da mediação pedagógica nesta modalidade de  ensino  assumem  novos  significados,  com  implicações  na  formação  do  professor.    Os  fundamentos  metodológicos  da  pesquisa  se  apoiam na  abordagem    qualitativa,  e  tem  como base de análise os diversos documentos que orientam as práticas no curso, e as  entrevistas semiestruturadas, realizadas com todos os professores formadores e tutores  dos  nove  polos  onde  funcionam  as  turmas  que  ingressaram  em  2009.  Os  desafios  de  formar  professores  de  Matemática  a  distância,  são  confirmados  por  Fiorentini  & 

Lorenzato  (2006),  de  que  a  práxis  pedagógica  em  Matemática  é  complexa  e  multidimensional  e  a  construção  de  novos  significados  sobre  ensinar  e  aprender  num  curso  a  distância,  tem  evidenciado  a  relevância  das  relações  sociais  e  culturais  dessa  nova sala de aula. 

Palavras­chave: educação matemática; educação a distância; formação de professores  de matemática

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta reflexões parciais da pesquisa em desenvolvimento sobre a  práxis e a mediação pedagógica do curso de Licenciatura em Matemática a Distância,  no  âmbito  da  Universidade  Federal  do  Pará  (UFPA),  e  tem  por  objetivo  compreender  como se dá a práxis docente na ação do professor formador e do tutor, e identificar as  características  da  mediação  pedagógica  na  sala  de  aula  de  um  curso  de  licenciatura  a  distancia. A pesquisa se inscreve na pretensão de validade de um modelo de formação  profissional no contexto de uma modalidade de ensino diferenciada, e por isso mesmo, a  explicitação do conteúdo das práticas e seus níveis, pode contribuir para fazer emergir 

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questões  como  as  singularidades  da  práxis  e  da  mediação  pedagógica  no  contexto  da  EaD. 

Para melhor compreensão dos objetivos do trabalho, e os sujeitos envolvidos no  processo  formativo,  o  texto  está  estruturado  em  quatro  seções,  a  saber:  Introdução,  A  Problemática, Considerações/Recomendações e Referências.

A PROBLEMÁTICA

A  grande  expansão  das  licenciaturas  no  Brasil  após  a  promulgação  da  LDB  nº  9.394/96, em especial, os cursos a distância, representaram 50% da oferta, tendo o curso  de  Matemática  a  participação  de  61%,  de  um  total  de  1.570  cursos,  até  2010  (INEP,  2010). Esta modalidade de ensino tem tido proeminência sobre as demais, mas contrasta  com o número de alunos que concluem os cursos, da ordem de apenas 18%, de um total  de 12.994, em Matemática. 

Inserido  neste  contexto,  o  curso  de  Licenciatura  em  Matemática  na  UFPA,  é  oferecido  pelo  Sistema  Universidade  Aberta  do  Brasil  (UAB),  em  consórcio  com  o  Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ), para ampliar  as  oportunidades  de  acesso  à  educação  superior  aos  que  residem  em  áreas  centrais  e  remotas da Amazônia Paraense. Minha atuação no curso se deu a partir de 2007, após  24  anos  na  docência  presencial,  o  que  me  levou  ao  desafio  de  realizar  a  pesquisa  doutoral, à medida em que busquei respostas a algumas questões que foram se tornando  inquietantes.  Desejava  saber:  como  se  configura  a  prática  pedagógica  num  curso  a  distância?  E  dentro  desta  indagação  mais  geral,  haviam  outras  indagações:  em  que  termos se dá a práxis docente na ação de professores formadores e de tutores no curso  de  Licenciatura  de  Matemática  a  Distância  da  UFPA?  Quais  as  características  da  mediação  pedagógica  no  contexto  da  EaD?  Quais  as  contribuições  da  educação  a  distância  para  os  processos  de  identificação  e  desenvolvimento  de  uma  profissionalidade  docente?  Como  se  constitui  a  relação  pedagógica  entre  professores  formadores, tutores e alunos com o conhecimento?

Ao  mesmo  tempo  em  que  antevia  a  complexidade  de  abordar  a  temática,  pude  vislumbrar também as perspectivas de analisar os fatos e as relações mais amplas que se  estabelecem no âmbito das políticas. Para explicitar o fio condutor da pesquisa, tenho  me  apoiado  nos  fundamentos  metodológicos  da  abordagem  qualitativa,  com  enfoque  crítico­dialético. HOLLYDAY (1996, p.65) ratifica esse enfoque nos seguintes dizeres: 

“Por isso, tão importante como compreender o que fazemos, é situar o sentido com que 

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orientamos  esse  fazer.  Daí,  que  seja  fundamental  reconhecer  e  explicitar  tanto  nossas  ações como nossas interpretações, sensibilidades e convicções.

  Os  procedimentos  utilizados  na  constituição  dos  dados  estão  relacionados  ao  desenvolvimento  do  curso  na  modalidade  a  distância  com  uma  frente  documental  e  outra  de  entrevistas.  Na  primeira  estão  os  relatórios  de  tutoria,  de  visitas  aos  polos,  planos de ensino, atas de reuniões, os conteúdos e materiais de aulas, as produções dos  alunos nos espaços de comunicação virtual postados na plataforma Moodle ao longo do  curso por alunos, formadores e tutores. 

O  universo  de  dados  tem  sido  organizado  e  sistematizado  após  sucessivas  leituras  e  releituras  na  busca  por  identificar  as  categorias  a  partir  da  análise  interpretativa  dos  conteúdos (Bardin, 2011). Essa interpretação está vinculada ao conhecimento vivencial  do contexto do curso, devido à minha participação como professora das disciplinas da  Ciência  da  Educação,  o  que  tem  permitido  contextualizar  os  dados  em  relação  às  práticas formativas.

A análise interpretativa está sendo feita com base nos referenciais de práxis e seus  níveis  em  Vázquez  (2011),  em  conexão  com  autores  que  tratam  da  formação  de  professores, prática pedagógica em Libâneo (2005), Altet (2000), Gómez (1998) ; novas  tecnologias  e  mediação  pedagógica  em  Therrien  (2012),  Valente,  Prado  &  Almeida  (2003),  e  educação  matemática  com  Fiorentini  &  Lorenzato(2006),  dentre  outros.  As  premissas  contidas  nestes  referenciais,  quando  aplicadas  no  contexto  de  formação  de  professores  de  Matemática  a  distância,  possibilitam  empreender  uma  investigação  interdisciplinar.

Além disso, minha visão é de que a atividade docente possui características que  contribuem para sua identidade, como a do pesquisador que reflete na ação, em busca  dos sentidos para o que realiza; como  prática social e trabalho processual o trabalho do  professor  está  imbuída  de  compromissos  técnico  e  político  frente  aos  desafios  postos  pela prática. Segundo Konder (1988, p. 11), “é no trabalho que se encontra, por assim  dizer, o ‘caroço’ da práxis; mas a práxis vai além do trabalho.” Assim compreendida, a  práxis é orientada pela atividade teórico­prática (Vásquez, 2011), por meio da mediação  pedagógica acompanhada pela análise crítica das experiências concretas, dos problemas  presentes enfrentados pelo curso na modalidade a distância.

Nesse contexto, a didática exerce papel relevante nos processos comunicacionais  da sala de aula ao estabelecer vínculo entre a teoria e a prática, e atua na organização e  sistematização do ensino. Ensino este pensado pelo professor formador e efetivado pelo 

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tutor  durante  as  tutorias.  Essa  singularidade  da  mediação  pedagógica  nas  situações  de  aprendizagem à distância é que desafiam os processos formativos, no qual não basta a  transmissão  do  conhecimento  –  trata­se  de  uma  didática  singular  e  plural  que  se  movimenta  na  interface  com  a  tecnologia,  o  professor  formador  que  fica  na  sede,  o  material  impresso,  e  o  tutor  no  polo,  e  os  colegas  em  encontros  semanais  (quando  é  possível).  Trata­se  de  uma  configuração  que  ultrapassa  o  “triângulo  pedagógico” 

proposto  por  Houssaye  (1988)  composto  pelo  professor,  o  saber  e  o  aluno.Nesse  sentido,  as  potencialidades  da  educação  a  distância  no  processo  de  formação  de  professores  de  Matemática  precisam  ser  consideradas,  pois  a  constituição  dos  saberes  presentes  nas  situações  pedagógicas  permite  fazer  aproximações  sobre  os  perfis  das  práticas presentes no decurso das ações educativas. 

CONSIDERAÇOES /RECOMENDAÇÕES

No momento atual da pesquisa, os fios que representam as práticas desenvolvidas  pelos  professores  formadores  e  pelos  tutores,  ainda  são  bastante  preliminares,  e  precisam  do  tempo  adequado  para  serem  analisadas  com  a  devida  cautela  epistemológica para evitar reducionismos ou até mesmo exacerbações valorativas. 

É possível afirmar que há uma “pedagogia da educação a distância” que afeta os  alunos, os professores em relação à autonomia dos primeiros, na tomada de decisões a  respeito  do  próprio  aprendizado  e  a  criação  de  estratégias  que  melhor  traduzam  a  intensidade  da  interação  que  deve  existir  entre  ambos  pela  tecnologia  disponível  da  plataforma  Moodle.  Assim  sendo,  mesmo  que  a  interação  no  curso  seja  predominantemente assíncrona, o material impresso e as tutorias presenciais orientadas  por tutores é o que tem conferido identidade ao curso, um dos elementos fundamentais  para a Educação a Distância.

Do ponto de vista da UAB, da instituição, do currículo e no nível da prática, os  desafios  que  se  colocam  para  o  curso,  são  abrangentes  e  comprometem,  em  alguns  aspectos a constituição da profissionalidade docente. Quando ocorre, por exemplo, do  licenciando residir ou trabalhar em áreas remotas da região amazônica, em que a única  via  de  acesso  é  o  rio  e  o  único  transporte  disponível  é  o  barco,  as  dificuldades  financeiras somam­se às de comunicação, de relação pedagógica e de locomoção. 

Alguns  avanços  compreendem  a  necessidade  de  implementação  de  processos  avaliativos e de planejamento regulares do curso, para a elaboração de um diagnóstico  mais  realístico  das  necessidades  dos  alunos  e  dos  tutores,  a  revisão  do  Projeto  Pedagógico,  a  formação  continuada  de  tutores  que,  em  sua  área,  ministram  todas  as 

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disciplinas do curso. Estas práticas são indícios de novas perspectivas e novas crenças  quanto  à  formação  de  professores  a  distância  numa  região  com  demandas  e  necessidades peculiares.

A  história  recente  da  política  nacional  de  formação  docente  a  distância,  pelo  programa  da  UAB,  justificam  uma  vez  mais  a  relevância  da  pesquisa  nessa  área,  no  esforço por compreender as práticas e mediações de professores e tutores e sistematizar  novas  reflexões  sobre  educação  matemática.  A  esse  respeito,  a  pesquisa  antevê  que  o  atendimento satisfatório à multidimensionalidade e às singularidades das práticas de um  curso  a  distância,  requerem  o  protagonismo  da  área  governamental,  assim  como  a  constituição  de  uma  tessitura  entrelaçada  por  todos  os  que  atuam  no  curso,  independentemente  do  lugar  e  da  posição  que  ocupam.  Por  fim,  compreendo  que  as  práticas dos professores formadores e dos tutores, estão interligadas por muitos fios, que  fazem parte de uma rede que não é apenas virtual, mas é tecida gradualmente por muitas  mãos, num movimento dialético permanente. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

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FIORENTINI,  D.  &  LORENZATO,  S. Investigações  em  Educação  Matemática: 

Percursos teóricos e metodológicos. São Paulo: Autores Associados, 2006.

HOLLIDAY,  Oscar  Jara.  Para  sistematizar  experiências.  João  Pessoa:  Editora  Universitária/UFPB, 1996.

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KONDER, Leandro(1998). A derrota da dialética. Rio de Janeiro: Campus 1998.

LIBÂNEO, José Carlos. SANTOS, Akiko. (orgs.) Educação na era do conhecimento  em rede e transdisciplinaridade. Campinas, SP: Alínea, 2005.

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VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez (2011). Filosofia da Práxis. 2. ed. São Paulo: Expressão  Popular, 2011.

Referências

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