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As Plantas e os Portugueses Património Tradição Cultura

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Academic year: 2021

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As Plantas e os Portugueses

Património Tradição Cultura

Índice

Introdução Cultura Imaterial Cultura Material Considerações Finais Para Saber Mais

Nomes Científicos das Plantas

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Introdução

Botânica Económica e Etnobotânica

Há cerca de 25 mil anos, no local que hoje conhecemos como Abrigo do Lagar Velho, perto de Leiria, um grupo de humanos enterrou o corpo de uma criança, embrulhado numa mortalha tingida de ocre vermelho. Deixaram-lhe oferendas – conchas, dentes de veado, um coelho – que, provavelmente, se destinavam a proteger a criança na nova etapa do seu ciclo vital. O esqueleto da «Criança do Lapedo» foi encontrado em 1998 e representa, no nosso país, a mais importante descoberta arqueológica do Paleolítico Superior. Apresenta características osteológicas do homem de Cro-Magnon (Homo sapiens) e do homem de Neandertal (Homo neanderthalensis) que põem em causa os

conhecimentos sobre o processo de extinção deste último, o qual poderá ter sido assimilado por cruzamento com os humanos mais evoluídos. Note-se que quem enterrou a «Criança do Lapedo» teve o cuidado de a colocar sobre folhas carbonizadas de pinheiro-silvestre. Embora trágico, este é um dos primeiros exemplos do uso cultural das plantas, nos alvores da presença humana em Portugal.

Os homens e as mulheres que iniciaram a colonização daquele que é actualmente o

território português terão encontrado uma importante reserva de hidratos de carbono

nas bolotas dos carvalhos (glandes), em especial nas bolotas da azinheira, espécie a

partir da qual se obtêm sementes ligeiramente adocicadas e sem a adstringência

encontrada em outras sementes de carvalhos. A agricultura em Portugal poderá ter-se

iniciado há cerca de 7500 anos, com a chegada por mar de povos oriundos do

Mediterrâneo oriental que introduziram o cultivo de leguminosas e de cereais, seguindo

um sistema ascético de agricultura de subsistência. A conquista romana do território

nacional trouxe uma agricultura mais sofisticada, assim como a civilização muçulmana

que antecedeu o estabelecimento do reino português, com o Tratado de Zamora, em

1143. Nos séculos seguintes, a agricultura portuguesa nunca teve excedentes, e o

abastecimento de cereais foi sempre uma preocupação para a coroa portuguesa, devido

aos parcos solos nacionais com capacidade agrícola relevante. Com as fronteiras

continentais definidas entre os emissários do rei D. Dinis de Portugal (1261-1325) e do

rei Fernando IV de Castela (1285-1312) – como era menor de idade, quem governava

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era a rainha Maria de Molina (c. 1265-1321) –, na localidade de Alcanizes, perto de Zamora (Tratado de Alcanizes, em 1297), a procura de novos territórios era, para os Portugueses, muito limitada. Embora na Península Ibérica ainda houvesse um reino muçulmano para reconquistar – Granada capitulou apenas em 1492, no final das campanhas militares dos Reis Católicos –, este era considerado uma zona de influência de Castela e Aragão, e, portanto, a eventual intromissão portuguesa iria, certamente, gerar potenciais tensões políticas e militares com esses reinos cristãos, em especial com Castela, facto que não era favorável à estabilidade de Portugal. A contínua necessidade de cereais, entre outros motivos económicos, políticos e religiosos, impeliu os Portugueses, no século

XV

, até ao Norte de África, e à conquista de praças como Ceuta (1415), Alcácer-Ceguer (1458), Arzila (1471) e Tânger (1471), que eram importantes entrepostos comerciais de produtos agrícolas, entre os quais o trigo, mas também de mercadorias exóticas que provinham do Oriente e da África subsariana.

Nos séculos

XVI

e

XVII

, a Europa assistiu, maravilhada e atónita, à introdução de plantas

provenientes dos Mundos Novos que os Portugueses e os Espanhóis encontraram na

Ásia e nas Américas. Durante essa idade de ouro da Botânica, foram introduzidas, em

Portugal, plantas americanas, como, por exemplo, o milho, a batata, o tomate, o

pimento e o tabaco, que, nos séculos seguintes, seriam integradas nas práticas agrícolas

portuguesas, onde tiveram elevada importância económica e cultural, nomeadamente

o milho, no Minho, e as batatas, em Trás-os-Montes. Da Ásia, vieram as plantas mais

emblemáticas da história da Expansão Portuguesa: as especiarias. Contudo, nenhuma

espécie produtora de especiarias foi alguma vez cultivada no nosso país, devido à

ausência de condições edafoclimáticas (clima e solo) adequadas. Os Muçulmanos

haviam já introduzido plantas asiáticas no Sul da Península Ibérica, como a laranjeira-

amarga e a alfarrobeira, árvores que tiveram especial importância na história económica

do Algarve, região portuguesa que durante mais tempo se manteve sob a administração

de povos islâmicos. Da Ásia, os Portugueses também trouxeram a laranjeira-doce, que,

desde o nosso país, seguiu para o resto da Europa, daí que, em algumas línguas, o nome

do fruto tenha ficado etimologicamente ligado ao nome de Portugal: em grego,

portokáli; em albanês, portokalli; e em romeno, portocale.

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Até ao século

XX

, a sociedade portuguesa era maioritariamente rural e, como tal, todas

as actividades diárias se desenvolviam em torno das plantas, sendo essencial um amplo

conhecimento sobre as suas propriedades e potenciais usos. Este saber era necessário

para manter o equilíbrio social ligado ao fluxo contínuo de produtos derivados de

plantas, não só para a alimentação humana e animal, mas também para satisfazer

outros fins relacionados com a cultura material.

Referências

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