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DIREITOS HUMANOS: ANÁLISE CRÍTICA À LUZ DA BIOÉTICA

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Academic year: 2021

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DIREITOS HUMANOS: ANÁLISE CRÍTICA À LUZ DA BIOÉTICA

Lillian Ponchio e Silva

Advogada do escritório Adi & Marchi Advogados Associados em Barretos/SP,

Mestre e Bacharel em Direito pela UNESP e Docente do Curso de Graduação em Direito da UNIP em Ribeirão Preto/SP, da Faculdade São Luis de Jaboticabal e da Faculdade Barretos. Grupos de pesquisa:

Bioética e tutela da vida e Tutela Penal dos Direitos Humanos - UNESP.

Lucas Henrique I. Marchi

Advogado Sócio do escritório Adi & Marchi Advogados Associados em Barretos/SP;

Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca.

Mohamed Adi Neto

Advogado sócio do escritório Adi & Marchi Advogados Associados em Barretos/SP;

Bacharel em Direito pela Universidade de Franca.

Eliana Ponchio

Estudante do curso de Gastronomia da UNIFEB.

João Bosco Penna

Médico; Doutor em Medicina Legal pela Universidade de São Paulo (1994)

Pós-doutor pela Universidade Federal de São Paulo (1997); Pós-doutor pela Universidade de Coimbra (1999);

Professor titular da UNESP.

RESUMO: A presente pesquisa realiza uma análise crítica dos direitos humanos (com enfoque no direito humano à alimentação adequada) à luz da Bioética, através de reflexões sobre o contexto atual. Na verdade, constata-se que os direitos humanos não podem ser reduzidos a normas, instituições e teorias, visto que essa concepção é simplista e insuficiente. Entende-se que tais direitos estão relacionados aos processos de luta e de práticas sociais contra qualquer tipo de excesso de poder, através de uma visão integrada dos direitos humanos, numa perspectiva transdisciplinar. Como o próprio prefixo "trans" indica, essa metodologia vai além de qualquer disciplina, pois permite olhar outros lados, não se restringindo a uma análise meramente jurídica, técnica e positivista. Em um país como o Brasil, extramemente desigual - e por isso mesmo conflituoso - é necessária uma visão do Direito que permita a superação da ideologia da desigualdade e a incorporação à cidadania da parcela da população deixada à margem. Logo, pode-

Publicado no DVD Magister Número 43, abril/maio de 2012

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se afirmar que os juristas brasileiros passam a ser portadores de inúmeros desafios de mudança da realidade social por intermédio do Direito.

PALAVRAS-CHAVES: Direitos Humanos; Cidadania; Alimentação; Transdisciplinaridade.

I - INTRODUÇÃO

Autores como Rousseau, Kant, Bobbio, Ferrajoli e Habermas são alguns dos pensadores que se dedicaram à temática da essência dos direitos humanos, revelando uma preocupação com essa questão. Indubitavelmente, é de extrema relevância a dimensão jurídico-positiva desses direitos. É preciso explicar que tal dimensão não basta, é insuficiente, levando em consideração o número de violações que ocorrem, diariamente, no mundo todo - inclusive nos Estados que se dizem de Direito.

Isso significa que os direitos humanos não podem ser reduzidos a normas, instituições e teorias.

Essa concepção excessivamente jurídico-positiva de direitos humanos não basta. Desde já, fica a conclusão de que os direitos humanos estão relacionados aos processos de luta e de práticas sociais contra qualquer tipo de excesso de poder. Logo, quando as relações são baseadas em dinâmicas de respeito, inclusão e reconhecimento, estão sendo construídos direitos humanos. Noutro giro, se estão baseadas em exclusão e dominação, tais práticas não guardam ligação com os direitos humanos. Essa afirmação é baseada nas obras de dois pesquisadores dedicados a essa temática:

David Sanchez Rubio e Antônio Alberto Machado.

Os direitos humanos não podem ser reduzidos a uma mera concepção normativa. Essa dimensão formal deve ser complementada: há que se ampliar esse olhar. A Bioética Crítica é um campo peculiarmente interessante de se debater as questões relacionadas aos direitos humanos, pois foi ela que constatou que a simples adoção de princípios universais, sem o enfrentamento da realidade na qual serão aplicados, é escancaradamente inadequada. Portanto, após revelar que a Bioética estava reduzida às questões específicas relacionadas aos campos da Biomedicina e da Biotecnologia ligadas aos países já desenvolvidos, foi evidenciada a necessidade de ampliação de sua pauta no contexto do Brasil.

Pois bem, consiste numa análise da Bioética Crítica como instrumento de consagração dos direitos humanos. A partir daí, em virtude da necessidade de um maior comprometimento da Bioética com questões concretas existentes em países com grandes níveis de desigualdade social, ocorre um alargamento do foco da disciplina, incluindo as questões relacionadas à qualidade da vida humana (incluindo a alimentação adequada e a cidadania).

A pesquisa está mergulhada neste contexto, ao constatar que os grupos oprimidos continuaram à margem, isto é, ficaram excluídos do projeto tradicional do Direito e da Bioética, baseados em lógicas de exclusão. Será possível conceber tais disciplinas como instrumentos de transformação social?

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II - METODOLOGIA

É preciso fazer uma releitura crítica dos direitos humanos. Há também muita discussão doutrinária acerca da própria natureza desses direitos. As pretensões em torno de uma resposta plausível para essa questão oscilam entre o tratamento de forma "interdisciplinar" e "transdisciplinar". Isso decorre da necessidade de um maior aprofundamento na verificação sobre as bases que sustentam tal temática.

Para muitos, a proposta é de natureza interdisciplinar, pois busca uma integração entre diversas disciplinas. Noutro giro, outra parcela afirma o caráter transdisciplinar. No entanto, para que isso seja possível é preciso pensar a partir de um novo paradigma para a ciência e para o conhecimento, o que é de grande dificuldade para aqueles que possuem formação cartesiana de disciplinas, que as concebem - equivocadamente - como disciplinas totalmente independentes e isoladas, que mascaram a unidade da ciência. Essa situação gera uma tensão decorrente do isolamento na tomada de decisões éticas. 1

Volnei Garrafa explica que a interdisciplinaridade diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para a outra. Já a transdisciplinaridade, conforme o prefixo "trans" indica, se refere àquilo que está ao mesmo tempo "entre" as disciplinas, "através" das disciplinas e "além" de qualquer disciplina. 2 Desde logo se verifica a natureza transdisciplinar entre os campos do saber. A transdisciplinaridade, conforme explica Volnei Garrafa, é "[...] uma abordagem que vai além, proporcionando a liberdade de olhar o outro lado sem sermos acusado de estar pisando onde não devemos e sem temer a acusação de estar pisando onde não devemos." 3

O conhecimento fragmentado entre disciplinas afasta o sujeito de seu objeto, de forma que uma disciplina fica incapaz de dialogar. Com efeito, é nessa perspectiva que Volnei Garrafa faz a importante constatação de que tal distanciamento entre disciplinas "impede o desenvolvimento do processo de humanização", fazendo com que se tornem não apenas impessoais, mas também desvinculadas de qualquer contexto cultural e social. 4

A abordagem separatista foi alvo de duras críticas. Todavia, tal abordagem ainda não foi superada.

Convém admitir que somente uma abordagem transdisciplinar - abrangendo várias áreas do conhecimento, tais como o Direito, a Bioética e a Saúde (alimentação adequada) possibilitará a evolução do conhecimento.

III - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para compreender essa noção mais aprofundada de direitos humanos, a pesquisa utiliza como referencial teórico - principalmente - dois autores: Antônio Alberto Machado 5 e David Sanchez Rubio 6, respectivamente, um professor brasileiro (Unesp) e um professor espanhol (Universidade de Sevilha), sendo quem ambos entendem que os direitos humanos são construídos a partir das lutas sociais. Na verdade, a luta e a ação social dão origem aos direitos humanos e, mais do que isso:

os mantêm vivos.

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Para compreender os direitos humanos como pressupostos para a democracia, é preciso ter a chamada visão integrada desses direitos. Vale ressaltar o entendimento de Antonio Augusto Cançado Trindade sobre o tema:

A denegação ou violação dos direitos econômicos, sociais e culturais, materializada, e.g., na pobreza extrema, afeta os seres humanos em todas as esferas de suas vidas (inclusive a civil e política), revelando, assim de modo marcante a interrelação ou indivisibilidade de seus direitos. A pobreza extrema constitui, em última análise, a negação de todos os direitos humanos. Como falar de direito à livre expressão sem o direito à educação? Como conceber o direito de ir e vir (liberdade de movimento) sem o direito à moradia? Como contemplar o direito de participação na vida pública sem o direito à alimentação? Como referir-se ao direito à saúde? E os exemplos se multiplicam. Em definitivo, todos experimentamos a indivisibilidade dos direitos humanos no quotidiano de nossas vidas: é esta uma realidade inescapável. Já não há lugar para compartimentalizações, impõe-se uma visão integrada de todos os direitos humanos. 7

De acordo com essa indivisibilidade dos direitos humanos, não é possível que o ser humano exerça seu papel de cidadão, se ele não teve acesso aos outros direitos. Em outras palavras: como votar e ser votado sem o direito à educação? Como participar da vida pública sem o direito à alimentação?

O Direito Humano à Alimentação Adequada está relacionado a essa indivisibilidade explicada acima, pois há a necessidade de trabalho para comprar alimentos (direitos econômicos), alimentação adequada (âmbito social), preservar a cultura para que os hábitos alimentares sejam preservados (aspecto cultural), ambiente saudável para que os alimentos tenham qualidades nutricionais e não prejudiquem o ser humano (direitos ambientais).

IV - DISCUSSÃO

O projeto de democracia presente na CF/88 é apenas de democracia formal ou é a projeção de uma democracia real, capaz de garantir a liberdade, a justiça social e a erradicação da miséria e das desigualdades?

V - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A situação de quem nega esse papel de transformação da realidade e de implementação dos direitos humanos como pressuposto para uma real democracia é de ser cego - ainda que vendo. José Saramago, em seu Ensaio sobre a cegueira (1995) trata do drama da cegueira, que é o drama do tempo atual, em que se é cego, vendo. Vendo o desprezo pelo ser humano. É preciso enxergar além da mera democracia formal, na defesa de uma democracia substancial.

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AGRADECIMENTOS

CAPES; Grupo de Pesquisa de "Tutela Penal e Direitos Humanos" da UNESP; Escritório de Advocacia

"Adi & Marchi" em Barretos: pela infra-estrutura e apoio concedidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• DUSILEK, Darci. Os desafios contemporâneos da bioética. Disponível em:

<http://www.unigranrio.br/comite_etica/galleries/download/comitebioetica.doc>. Acesso em: 9 mar. 2010. Palestra Proferida ao Corpo Clínico do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro, em Comemoração ao dia do Médico. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIGRANRIO.

• GARRAFA, Volnei. Multi-inter-transdisciplinaridade, complexidade e totalidade concreta em bioética. In: ______.; KOTTOW, Miguel; SAADA, Alya. (Org.). Bases conceituais da bioética:

enfoque latino-americano. São Paulo: Gaia, 2006.

• MACHADO, Antônio Alberto. Ensino jurídico e mudança social. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

• RUBIO, David Sanchez. Fazendo e desfazendo direitos humanos. trad. Clovis Gorczevski. 1 ed. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010.

• TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. 2. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Fabris, 2003. v. 1

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