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COMO APRENDER A IDENTIFICAR AS CRENÇAS CENTRAIS

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Academic year: 2021

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COMO APRENDER A IDENTIFICAR AS CRENÇAS CENTRAIS

*Rita Alvarenga

** Fernanda Pasquoto de Souza

Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar uma relação entre teoria e prática, em psicologia cognitivo- comportamental, especificamente o processo de identificação de crenças centrais. Para a elaboração deste artigo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e usado como exemplo um caso ilustrativo de um paciente atendido na Clínica-Escola da ULBRA-Guaíba.Os resultados deste trabalho evidenciam a importância da identificação de crenças centrais, e a influência que a mesma tem sobre o tratamento, tornando-se inviável um planejamento adequado sem que seja realizado esse importantíssimo processo terapêutico.

Palavras chaves: Crenças Centrais, Psicoterapia Cognitivo-Comportamental.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) vem crescendo constantemente, e a utilização desta abordagem justifica-se pelo seu caráter focal, breve, eficaz, objetivo e empírico. Além disso, a TCC tem-se mostrado altamente eficaz e é amplamente indicada nos casos de depressão, transtornos de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobia social, entre outros. A TCC prioriza a reestruturação cognitiva para obter mudanças comportamentais e emocionais, tem com meta ensinar o paciente a se auto-monitorar e, com isso, se tornar o seu próprio terapeuta estando preparado para lidar com as situações que poderão surgir.

A terapia Cognitivo-Comportamental teve como precursora a Terapia racional- emotiva de Albert Ellis, em 1955, mas foi Aaron Beck que lhe deu os atuais contornos. Na década de 60, o então psicanalista, estava insatisfeito com o modelo psicodinâmico para os seus pacientes deprimidos. A partir desses atendimentos, Beck observou semelhanças no processamento cognitivo dos depressivos o que denominou de tríade cognitiva: a visão de si próprio, dos outros (mundo) e do futuro. Desenvolveu um modelo teórico correspondente a prática, sempre os submetendo a verificações experimentais (RANGÉ, 2001).

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Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil.

∗∗ Docente do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil e orientadora deste trabalho.

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O modelo cognitivo supõe que a maioria dos transtornos psicológicos, originam-se no modo distorcido como cada um percebe os acontecimentos, e isso influencia o afeto e o comportamento. O que não significa que são os pensamentos que causam os problemas e sim, eles modulam e mantêm emoções disfuncionais que independem de sua origem. (RANGÉ, 2001).

O fato em si não é tão importante como a interpretação que cada indivíduo faz dele.

Essas interpretações se baseiam na história de vida de cada um, nas suas experiências e vivências, assim como as crenças que temos a respeito de nós mesmos, sobre o mundo e os outros e que determinam o nosso modo de pensar e agir (BECK, 1997).

A terapia cognitiva identifica e trabalha com três níveis de pensamento: o pensamento automático, as crenças intermediárias ou subjacentes e as crenças centrais.

Os pensamentos automáticos são espontâneos e fluem em nossa mente a partir dos acontecimentos do dia-a-dia, independente de deliberação ou raciocínio. Podem ser ativados por eventos externos e internos, aparecem na forma verbal ou imagem mental. É o nível mais superficial da nossa cognição.

As crenças intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e não são diretamente relacionadas às situações, ocorrendo sob a forma de suposições ou regras.

Derivam e reforçam as crenças centrais.

*As crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva e são compostas por idéias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo.

São idéias e conceitos a respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. São aceitas passivamente, sem grandes questionamentos, são mantidas e reforçadas sistematicamente (RANGÉ, 2001).

*As crenças nucleares são nossas idéias e conceitos mais enraizados e cristalizados acerca de nós mesmo, dos outros e do mundo, são constituídas desde as nossas experiências ainda na infância e se solidificam e se fortalecem ao longo da vida, moldando desta maneira o jeito de ser e agir do ser humano. O que não é modificado ou corrigido em fase desadaptativa, tratando-se de crenças disfuncionais, pode chegar à fase adulta como verdades absolutas (KNAPP. 2004)

Judith Beck (1997) propõe que, as crenças centrais disfuncionais podem ser divididas em três grupos:

1. Crenças nucleares de desamparo (Helpless-ness): Crenças sobre ser impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado, necessitado.

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2. Crenças nucleares de desamor (Unlovability): Crenças sobre ser indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho.

3. Crenças nucleares de desvalor (Unworthness): Crenças sobre ser incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, fracassado, sem valor.

O modelo básico da TCC se baseia na premissa da inter-relação entre cognição, emoção e comportamento. Para cada situação diferente há um pensamento relacionado à mesma, para cada pensamento há uma emoção e subseqüente um comportamento, o que justifica diferentes maneiras de sentir e agir em diferentes pessoas (WRIGHT, 2008).

Dessa forma, os eventos ativam os pensamentos, que geram como conseqüência, emoções e comportamentos, como mostra a figura abaixo:

A terapia Cognitivo-Comportamental visa identificar e corrigir os pensamentos disfuncionais (distorções cognitivas), prevalentes nos mais variados transtornos. Desta forma, procura-se a melhor maneira de auxiliar o individuo a observar a maneira errônea na qual se processa as informações e as interpretações dos fatos. O paciente poderá então questionar a veracidade destes pensamentos e interpretações permitindo novas possibilidades de pensar e agir (KNAPP, 2004).

Entretanto, para obter resultados positivos e duradouros, é necessário que seja modificado além dos pensamentos disfuncionais, as crenças que predispõem os problemas, e como precaução de uma recaída, seja realizado um planejamento de estratégias eficazes que

Figura 1 - Modelo Cognitivo-Comportamental Básico Fonte: (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p.17)

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serão capazes de auxiliar o paciente em situações semelhantes. Por fim o objetivo da terapia cognitivo-comportamental é fazer com que o paciente se torne o seu próprio terapeuta (KNAPP, 2004).

Toda via a terapia cognitiva comportamental tradicional, parte de diversos pressupostos sobre os pacientes que buscam a TCC, entretanto nem sempre esses pressupostos se mostram verdadeiros, como em casos de pacientes caracterológicos, como o exemplo que usaremos para ilustrar esse artigo: Jack (nome fictício), sexo masculino, 19 anos, solteiro, ensino médio completo, desempregado. Buscou atendimento na Clínica-Escola no mês de março do corrente ano. Jack chegou para o tratamento com queixas de dificuldades nos relacionamentos, tanto familiares, como afetivos, relatou também dificuldades em arrumar emprego, alegando que sua timidez o prejudicava nas entrevistas. Apesar dos relatos de constantes sentimentos de tristeza e desânimo de Jack, bem como sua alta pontuação no Inventário de Depressão de Beck (BDI), o paciente não apresentava os critérios para casos explícitos de Eixo I.

Segundo YOUNG 2008, há pacientes que procuram tratamento cognitivo- comportamental, mas carecem de sintomas específicos que possam servir como alvo na terapia. Seus problemas se apresentam de forma obscura, vagos e difusos, sem eventos ativadores claros. Eles sentem algo de errado com suas vidas, como um vazio, chegam buscando ajuda por dificuldades nos relacionamentos com pessoas próximas ou no trabalho.

Jack mostrou-se muito motivado a submeter-se a uma psicoterapia, de maneira que se evidenciou uma melhora significativa ainda nas sessões inicias, onde é realizado uma avaliação. Segundo Beck, (1997) a avaliação cognitivo-comportamental, proporciona ao terapeuta um nível de entendimento cognitivo e comportamental do paciente, este processo dura em torno de três a cinco sessões, durante esse processo de avaliação, os dados trazidos pelo paciente foram de extrema importância para levantar hipóteses, elaborar o diagrama de conceitualização cognitiva e principalmente planejar o tratamento adequado.

No decorrer do tratamento, Jack começou a ser treinado a acessar suas cognições e emoções, sob forma de registro de seus pensamentos e sentimentos, como o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD), o paciente começou a acessar níveis mais profundos de seus pensamentos, o processamento dessas informações tanto conscientes, como inconscientes, referem-se a transformação, governada por regras ou representações mentais.

Fundamentado no modelo Beckiano, o processo de informação propõe que nos problemas psicológicos, os pensamentos do paciente, tornam-se não somente distorcidos, como também

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mais rígidos, os julgamentos tornam-se absolutos e generalizados e suas crenças centrais fundamentais, mais inflexíveis. (KNAPP, 2004).

O registro de pensamentos normalmente é realizado e apresentado ao paciente, fase inicial do tratamento, de uma maneira simplificada, sem sobrecarregá-los de detalhes e minúcias e que ajude o paciente a apreender sobre os pensamentos automáticos, geralmente é solicitado que o paciente faça o preenchimento do RPD em sessão, posterior a isto, é usado como tarefa de casa. (WRIGTH, 2008)

O primeiro RDP que Jack teve acesso foi durante a terceira sessão, em formato de balões, o paciente descreveu a seguinte situação, o que aconteceu? Não passei no vestibular, O que você pensou? Não sou inteligente o bastante, para passar. Como você se sentiu? Triste e desanimado.

Foi então aplicado a esse paciente a técnica de Seta Descendente, onde se é questionado a respeito dos seus pensamentos quentes, automáticos. Essa técnica busca saber o significado que os pensamentos quentes e mais manifestos, têm para o paciente. Segundo Judith Beck, 1997, ele evoca também as crenças centrais do individuo.

O dialogo discorreu da seguinte maneira:

O que isso significa para você?

-Significa que sou burro, estudei, mas não consegui passar.

O que significa ser burro?

Ser incapaz de conseguir alguma coisa.

O que isso quer dizer sobre você?

-Que dizer que sou um fracasso. (Crença Central - Eu sou um Fracassado)

E se isso for verdade, o que irá acontecer?

-Se eu não conseguir estudar, é mais difícil de conseguir trabalho. (Crença Intermediária – Se eu não conseguir estudar, então sou um fracasso)

E o que aconteceria se isso fosse verdade?

Apenas confirmaria a minha hipótese de que sou incapaz de conseguir alguma coisa, um fracasso total. (Crença Central – Sou Incapaz)

De acordo com (Beck, 1997), o terapeuta deve parar a técnica de flecha descendente, quando encontrar a crença central, quando uma mudança negativa no humor do paciente ou quando ele começar a declarar nas mesmas palavras ou em palavras semelhantes, como o caso acima.

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Em suma, as crenças centrais requerem um trabalho sistemático consistente. Algumas técnicas, aplicáveis à reestruturação de pensamentos automáticos e crenças intermediárias, podem ser usadas em combinação com técnicas mais especializadas orientadas especificamente em direção a crenças centrais (Beck, 1997, pg. 199).

Os indivíduos também possuem crenças nucleares disfuncionais a respeito dos outros e do mundo. As crenças nucleares são absolutistas, generalistas e cristalizadas, podendo permanecer latente o tempo todo, e ativadas nos transtornos emocionais, com isso, o processo da informação torna-se tendencioso no sentido de extrair da realidade apenas informações que confirmam a crença disfuncional. (KNAPP, 2004)

Por fim, Segundo (CAMINHA, 2003), o sucesso da terapia começa quando o paciente torna-se capaz de anotar, perceber e responder aos pensamentos automáticos, realizando assim, exercícios de metacognição, pensar sobre o que se está pensando. Desta maneira se quebra a seqüência do esquema, e em última instância, altera o sentido estrutural, fazendo com que haja diminuição de valência da crença central. O paciente aprende a questionar os pensamentos e chegar junto com o problema, se automonitorando, para intervir antes de o problema se manifestar, tornando-se assim seu próprio terapeuta.

Considerações Finais

Na prática Clínica, percebe-se que a terapia cognitivo-comportamental é um procedimento que exige muito conhecimento teórico e prático, também certa flexibilidade e criatividade da parte do terapeuta, pois este precisa ajustar o plano de tratamento as características de cada paciente.

Em cada sessão busca-se seguir as estruturas propostas pelos autores precursores em TCC. Conclui-se também que o diagrama de Conceitualização Cognitiva é uma ferramenta fundamental para os profissionais que atuam nesta área, pois visa à elaboração de um plano terapêutico eficaz para o individuo em tratamento.

A identificação de crenças centrais não é um processo opcional para o terapeuta cognitivo-comportamental. Ao contrário disso, considera-se de fundamental importância para o progresso e sucesso terapêutico.

Mesmo levando em conta a escassez de material referente a este assunto, mostram-se de futuro promissor as pesquisas e estudos envolvendo este tema.

Durante a realização deste trabalho, foi possível ampliar o conhecimento acerca da TCC e seus pressupostos, contribuindo para a aquisição de conhecimentos relevantes no

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processo de formação profissional, além de uma capacitação à reflexão crítica relacionada à realidade clínica vivenciada no momento, numa perspectiva cognitiva e comportamental.

Referências Bibliográficas

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. (trad. S.

Costa).

CAMIHA, Renato M; HABIGZANG, Luísa F. Psicoterapias cognitivo-comportamentais:

teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2003.

KNAPP, Paulo. E. cols. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004.

WRIGHT, Jesse H; BASCO, Monica R; THASE, Michael E. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a Psiquiatria.

Porto Alegre: Artmed, 2001.

YOUNG, J. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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