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O Efeito da Carbonatação na Porosidade de Argamassas de Cimento, Cal e Cimento:Cal

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Academic year: 2021

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Maria Alba Cincotto, Pesquisador Convidado, Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica- Universidade de São Paulo, Brasil, maria.cincotto@poli.usp.br.

Wellington L. Repette, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, wellington@ecv.ufsc.br.

Valdecir Angelo Quarcioni, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo- IPT, Brasil, quarciva@ipt.br.

Vanderley M. John, Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica- Universidade de São Paulo, Brasil, vanderley.john@poli.usp.br.

Resumo: O trabalho descreve o efeito da carbonatação em 11 argamassas de proporção ligante:areia 1:3, de cimento, cal (cálcica e dolomítica) e cimento:cal (proporção cimento:cal 1:3 e 1:4). Após carbonatação acelerada, realizada com as argamassas curadas ao ambiente durante 91dias, os ensaios constaram de determinação do grau de carbonatação por termogravimetria e da porosidade por intrusão de mercúrio. O efeito da carbonatação foi analisado em relação à distribuição dos poros nas faixas de diâmetro: <0,01; 0,01-0,1; 0,1-1;

1-10 µm. O volume total de poros foi comparado ao calculado a partir do volume dos materiais anidros.

Palavras chave: argamassa de cimento, argamassa de cal, argamassa de cimento-cal, carbonatação acelerada, porosimetria, termogravimetria.

1 INTRODUÇÃO

O desempenho das argamassas de alvenaria à umidade é parâmetro relevante na durabilidade da mesma e na função para a qual foi aplicada, em assentamento ou revestimento. O seu efeito é diversificado, quer consideremos o tipo de argamassa quer a ação da umidade ambiente, da água de chuva incidente, ou a que escorre em fachadas cortina; mas, em qualquer caso, a permeabilidade da argamassa influencia a extensão do efeito. No Brasil há uma diversidade de climas e de precipitação pluviométrica e na formulação da argamassa faz-se necessário considerar, entre as propriedades, a porosidade, bem como a distribuição do diâmetro de poros, uma vez que está relacionada ao fenômeno de transporte de vapor ou líquido do meio ambiente para o interior da argamassa. Uma das conseqüências, é o crescimento de microrganismos que, além de propiciar o manchamento da fachada, contribui sensivelmente para a deterioração da argamassa devido aos ácidos formados no seu metabolismo.

O que se conhece de pesquisas anteriores é que os parâmetros que influem na distribuição de poros é a relação ligante/agregado, distribuição granulométrica dos materiais, isto é o empacotamento de todas as partículas reunidas, a fração volumétrica de água e a relação água/cimento, a fração de volume de cimento e cal, mantida as formulações convencionais uma função da relação cimento:cal, tempo de cura e o grau de carbonatação da argamassa (Houst et al., 1994, Lanas & Alvarez, 2003; Arandigoyen et al, 2005, Mosquera et al., 2006, Quarcione et al, 2010).

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O efeito potencial da carbonatação nas propriedades de transporte de água e mecânica, depende da quantidade de material carbonatável, muito influenciada pela quantidade e tipo de cal hidratada e do cimento. A evolução da carbonatação depende da umidade condensada ou adsorvida nos poros e assim a distribuição do diâmetro dos poros é tão importante quanto o volume total e, com esse objetivo, o efeito da carbonatação na porosidade das argamassas, de modo geral, tem sido detalhado por porosimetria de intrusão de mercúrio. Alguns estudos foram feitos também em pasta, de modo a eliminar a influência da mineralogia e da distribuição granulométrica dos agregados. Dos resultados publicados podem-se ressaltar as conclusões seguintes:

• em pastas de cimento, quando a relação a/c aumenta de 0,4 para 0,8, o volume de poros cresce cerca de 5 vezes (Mehta, Manmohan, 1980 apud Mehta & Monteiro, 2008); o diâmetro limite (threshold diameter) aumenta de 0,1 µm para 2 µm, e o coeficiente de difusão do CO2 aumenta mais de dez vezes (Houst &

Witmann, 1994);

• em pastas de cal o volume de poros aumenta com a relação água/ligante estando o diâmetro mais freqüente entre 0,5 e 1µm em função da relação a/L; outra faixa de diâmetros, entre 0,1 e 0,2 µm não depende do teor de água de amassamento. O diâmetro limite, que corresponde a uma pressão a partir da qual se inicia a intrusão do mercúrio, em pastas ou argamassas, aumenta linearmente com o aumento da relação a/L (Arandigoyen et al., 2005);

• em pastas de cimento-cal a porosidade diminui com a relação a/L; a faixa de diâmetros é mais larga do que na pasta de cal, e aparecem poros com diâmetro de 0,05µm devido ao gel de silicatos formados na hidratação do cimento enquanto diminuem os poros entre 0,3 e 0,8 µm; consequentemente, o diâmetro limite diminui com o aumento do teor de cimento; o valor é de 0,5 µm para pastas de cal e de 0,7 µm para pastas ricas em cimento (Arandigoyen & Alvarez, 2005). Em argamassas de cimento-cal tanto o volume de poros quanto o diâmetro diminuem com o aumento do teor de cimento, passando a distribuição de bimodal

 máximos em 15 e 0,15 µm  para unimodal, restringido-se à faixa de 0,3 a 0,02µm (Mosquera et. al., 2006).

O efeito da carbonatação é menos estudado na literatura:

• na carbonatação de argamassas de cal há diminuição de poros maiores do que 0,1 µm em conseqüência ao volume da calcita ser maior do que o da portlandita; os poros abaixo desse diâmetro não participam da carbonatação observada em um período de até 1 ano (Lawrence et al., 2007).

• nas pastas mistas com teores de cal de 100 a 40% da massa de ligante total, com teor variável de água, na carbonatação acelerada (100% CO2 ) o diâmetro limite é reduzido em todas as pastas; o volume total de poros diminuiu em aproximadamente 25%, com mínimo de 21 e máximo de 34%, sem uma clara tendência da influência do teor de cal. No entanto, pastas com maior quantidade de cal e, consequentemente, maior concentração de água e volume total de poros, apresentaram maior redução no volume absoluto de poros (Arandigoyen et al, 2006).

Neste trabalho estuda-se o efeito da carbonatação na porosidade de argamassas simples de cimento e de cal, e mistas cimento/cal, estas nas proporções típicas da prática brasileira, com a mesma areia; a relação água/ligantes foi determinada para a mesma consistência na mesa de abatimento. Os resultados são comparados à porosidade calculada a partir do volume dos materiais anidros, admitindo-se hidratação completa do cimento. Esse cálculo visou também evidenciar a contribuição da cal vinculando-a ao aumento de vazios resultante da maior retenção de água pela cal e avaliar a influência do tipo de cal do mercado brasileiro. Dois tipos são característicos: um a cal cálcica, com elevado teor de hidróxido de cálcio e outro, a cal dolomítica, com elevado teor de magnésio e de carbonato residual, remanescente da calcinação incompleta da matéria prima.

2 MATERIAIS E EXPERIMENTOS

2.1 Cimento

Tipo Portland com adição de 29% de escória e 11,5% de filer calcário. Análise química (%): perda ao fogo-5,90;

SiO2-23,1; Al2O3- 6,74; Fe2O3-2,43; CaO-55,3; MgO-3,77; SO3-1,89; Na2O-0,05; K2O-0,52; S-0,52; CO2-4,33.

Resíduo em #325-5,8%. Área específica Blaine: 389 m2/kg. Massa especifica 3,02g/cm³.

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2.2 Cales hidratadas

Alto cálcio (designada CC), massa especifica 2,31 g/cm³ e dolomítica (designada CD) massa específica 2,45g/cm³, cuja composição está detalhada na Tabela 1.

Tabela 1 - Cal hidratada – análise química (%)

Cal Perda ao fogo Insolúveis em HCl Fe2O3 +Al2O3 CaO MgO SO3 CO2

Cálcica 25,5 1,13 0,74 71,7 0,75 0,25 1,59

Dolomítica 27,3 6,56 0,73 38,2 27,1 0,08 11,1

2.3 Areia quartzosa

Areia natural lavada com a distribuição granulométrica aproximadamente contínua, ilustrada na Figura 1; massa específica - 2,65 g/cm3.

Figura 1 - Distribuição granulométrica da areia

2.4 Argamassas

Foram produzidas argamassas em um misturador planetário com 5 litros de capacidade, de acordo com as recomendações da norma brasileira (NBR 13276:2005), com proporções em volume: 1:3 de cimento ou cal, mistas de cimento e cal 1:1:6, 1:2:9, 1:1:8 e 1:1:12, e moldadas em corpos-de-prova prismáticos (4x4x16) cm, sem maturação prévia da pasta de cal. A quantidade de água de mistura foi definida em função do índice de consistência pré-estabelecido de 260 mm ± 5 mm, determinado em mesa de consistência (flow table). A proporção de mistura dos materiais, em volume, em massa, e em porcentagem, está indicada na Tabela 2. Os corpos-de-prova foram curados seguindo um regime de cura cíclico  cinco dias em ambiente de laboratório (Tmédia = 25°C, Hmédia = 70%) e dois dias em câmara úmida (T = 23°C, H = 95%)  a fim de simular uma condição característica de clima quente e úmido, com elevado índice pluviométrico.

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Tabela 2 – Proporção dos materiais para cada grupo de argamassas (C=cimento; CC=cal cálcica; A=areia seca)

Proporção v/v Proporção em massa Volume ocupado

(% volume total)

C CH A H2O C CH A H2O ar

1:3 C 1 0 2,91 0,60 15,3 0,0 50,7 27,7 6,4

1:3 CC 0 1 6,15 1,39 0,0 9,9 53,0 31,7 5,4

1:3 CD 0 1 5,17 1,25 0,0 10,9 52,3 33,5 3,2

1:1:6 CC 1 0,47 5,82 1,26 7,9 4,9 52,6 30,3 4,4

1:1:6 CD 1 0,56 5,82 1,28 7,9 5,4 52,3 30,4 4,0

1:2:9 CC 1 0,95 8,73 1,83 5,4 6,7 53,7 29,9 4,3

1:2:9 CD 1 1,13 8,73 1,94 5,3 7,4 52,5 30,9 3,9

1:1:8 CC 1 0,47 7,76 1,60 6,2 3,8 55,2 30,2 4,6

1:1:8 CD 1 0,56 7,76 1,65 6,2 4,2 54,4 30,7 4,5

1:2:12 CC 1 0,95 11,64 2,38 4,2 5,2 55,9 30,3 4,4

1:2:12 CD 1 1,13 11,64 2,51 4,2 5,8 55,3 31,6 3,1

2.5 Determinação da porosidade por intrusão de mercúrio

A porosidade foi determinada antes e após a carbonatação das argamassas. Após secagem das amostras em estufa a 50°C, a pressão reduzida, foi feita a determinação em porosímetro AUTOSCAN 33, com intrusão de mercúrio realizada até 414 MPa e cálculo do volume de poros pela equação de Washburn, considerando o ângulo de contato de 130°. O volume de poros foi recalculado em relação ao volume de pasta a partir das equações:

Vpasta = Vap pasta / Vamostra (1) Vap pasta = (Vap argamassa – Vap agregado) (2)

Vap agregado = (% agregado argamassa x M amostra) / M esp agregado (3)

Sendo Vap o volume aparente e Mesp massa específica, e os valores da massa de amostra e o volume aparente da argamassa tomados do porosímetro.

2.6 Estimativa do volume de vazios de argamassas endurecidas 2.6.1 Calculo do valor teórico

O método de cálculo aproximado considera o volume de poros como o somatório do volume de água evaporável (água total menos a água combinada com o cimento, arbitrada em 0,2 da massa de cimento) somado ao teor de ar incorporado. O volume total é a soma dos volumes ocupados (massa dividida pela massa específica) de todos os materiais mais o ar incorporado. Despreza-se neste calculo as retrações autógena do cimento e hidráulica da argamassa. Detalhes do procedimento pode ser encontrado em Antunes (2005) e Quarcione et al. (2010).

2.6.2 Índice de vazios

O índice de vazios foi medido através de método de absorção de água por fervura, realizado de acordo com a NBR 9778/1986.

2.7 Carbonatação acelerada das argamassas

Fragmentos das argamassa foram armazenados em dessecador contendo água de modo a manter o ambiente úmido. Este ambiente foi constantemente varrido por uma corrente de CO2 durante cinco dias. A temperatura foi a ambiental do laboratório. Dados de termogravimetria mostraram que o teor de hidróxido de calcio máximo após a carbonatação variou entre 0,1 e 0,5%.

A determinação do grau de carbonatação foi feita em amostras de corpos-de-prova protegidos em sacos plásticos. Foram secos em estufa sob pressão reduzida. Dos não carbonatados foram retiradas amostras do núcleo, descartando-se a camada externa que esteve exposta em contacto com o ambiente, mesmo protegida em

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sacos plásticos. Após moagem, o ensaio foi realizado com 20mg de amostra, em Temobalança Dupont 2100, em atmosfera de nitrogênio, vazão de 100mL/min, com taxa de aquecimento de 10°C/min.

Foram consideradas as perdas de massa nas faixas correspondentes à decomposição do hidróxido de magnésio, hidróxido de cálcio e carbonato de cálcio, respectivamente, em 370-395°C, 400-445°C e 670- 800°C.

Mg(OH)2 MgO + H2O (4) Ca(OH)2 CaO + H2O (5) CaCO3 CaO + CO2 (6)

3 RESULTADOS

O teor de pasta das argamassas mistas variou entre ~47,5% para o traço 1:1:6 até ~44% para o traço 1:1:12 (Figura 2). As argamassas de cal apresentaram teor de pastas em torno de 47% e a de cimento 49,3%, valor acrescido pelo elevado teor de ar. Estes valores são totalmente dependentes das massas unitárias dos produtos utilizados, da quantidade de água adicionada e do teor de ar incorporado, este muito afetado pelo procedimento de mistura.

Figura 2 – Fração volumétrica de pasta das argamassas.

De uma forma geral, a alta área superficial da cal hidratada, tipicamente acima de 10m²/g quando medida pelo método BET, faz com que um aumento da fração volumétrica da cal provoque um aumento na quantidade de água de amassamento necessária para garantir a consistência constante (Figura 3). As cales cálcicas, que participam em maior volume do que as cales dolimíticas em um mesmo traço, demandaram mais água de amassamento. No entanto a fração volumetrica da água nas argamassas mistas foi aproximadamente constante na faixa de 30±0,35%.

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Figura 3 – Influencia do volume de cal na quantidade de água de amassamento. A elevada área superficial da cal demanda uma quantidade maior de água para fornecer a mesma consistência.

A Tabela 3 apresenta o volume de poros estimado e medido (índice de vazios) das argamassas. As argamassas de cal 1:3 apresentaram porosidade estimada em torno de 37% e a argamassa de cimento em torno de 25%, incluindo-se aí 6,4% de ar incorporado. Nas argamassas mistas a porosidade estimada variou entre ~30% para o traço 1:1:6 até 32,2% para o traço 1:2:12. Estes resultados são esperados posto que a porosidade é formada pelo excesso de água evaporável, além do ar incorporado.

As diferenças de porosidade podem ser mais facilmente percebidas se for analisada a porosidade estimada da pasta. As argamassas de cal apresentam porosidade inicial da pasta significativamente superior. A carbonatação deverá reduzir esta porosidade destas argamassas, onde quase todo o aglomerante é constituido de material carbonatável.

Tabela 3 Volume de vazios expressos como porcentagem do volume total da argamassa e do volume da pasta.

Calc indica valores calculados incluindo o ar incorporado. IV indica o índice de vazios calculado pelo ensaio de absorção de água após fervura.

Traços

Argamassa (%) Pasta (%)

Cimento C. cálcica C. dolomítica Cimento C. cálcica C. dolomítica

calc IV calc IV calc IV calc calc calc

1:3 24,9 21,3 37,2 29,3 36,7 30,4 50,4 79,0 77,0

1:1:6 - 30,0 25,9 29,7 27,5 - 62,9 62,2

1:2:9 - 31,0 29,2 31,6 27,9 - 66,8 66,7

1:1:8 - 31,1 27,5 31,5 28,4 - 69,1 69,0

1:2:12 - 32,2 28,7 32,2 30,2 - 72,8 ‘72,0

Os resultados de volume de vazios estimados são coerentes com os medidos pelo método do índice de vazios após fervura, particularmente para as argamassas de cimento e mistas (Figura 4). No entanto os valores estimados são em média cerca de 10% superiores aos medidos pelo índice de vazios. Esta diferença pode ser explicada pela retração hidráulica e também pela existência de vazios não preenchidos no ensaio de absorção de água por fervura.

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Figura 4 – Correlação entre os valores de índice de vazios medido e o volume de vazios estimado. Os pontos em vermelho, que não foram incluídos na regressão, correspondem a argamassas de cal.

A carbonatação provoca uma diminuição da porosidade, de massa e uma redução do volume devido à retração por carbonatação e, em consequência, um aumento da densidade. Na carbonatação da portlandita o aumento do volume estimado é de 17% e no caso da dolomita o crescimento previsto é de 16%. Os hidróxidos presentes na cal (e o formado na hidratação do cimento) ao carbonatar ganham massa, 75% no caso do hidróxido de cálcio e 90% no caso da cal dolomítica. Estes valores, para as cales em questão, precisam ser corrigidos de maneira se excluir a presença de outras fases – inclusive os carbonatos cuja presença é marcante na cal dolomítica. As cales em questão, quando totalmente carbonatadas vão apresentar um crescimento aproximado de massa de 65% e 31%. Simultaneamente, a carbonatação provoca uma retração, causando um aumento da densidade.

Os resultados da porosimetria (Figura 5) confirmam o crescimento da densidade, exceto para a amostra 1:1:6C (com cal cálcica). A Tabela 4 apresenta os valores de densidade estimados a partir do modelo de porosidade e por porosimetria (antes da carbonatação), juntamente com as estimativas da variação da densidade provodadas pela carbonatação da cal – excluindo-se portanto do cálculo a carbonatação da fase cimento e os efeitos de retração volumétrica – e medido por porosimetria de mercúrio. Observa-se que excetuando-se os traços 1:3C, 1:1:6CC e 1:3CD existe uma notável coêrencia entre os valores de densidade calculados pelo modelo e os medidos pelo porosímetro com erros inferiores a 2%. Nas três exceções os valores medidos são superiores aos esperados para a densidade aparente de uma argamassa, estando entre de 1,94 (1:3CD) e 2,19g/cm³ (1:3C).

Excluindo este dado, o aumento da densidade variou entre 5 e 20%, sendo provável uma influência de erro de amostragem. Esta inversão é considerada uma falha de amostragem.

Como a participação de portlandita e brucita na massa total de produtos hidratados, estimada a partir da termogravimetria e análise teórica das argamassas com cales, variam entre 5,9 a 14,6% da massa total, a simples transformação da portlandita e brucita em carbonatos geraria um efeito bem inferior ao medido. Isto pode ser explicado tanto pela retração associada carbonatação quanto pela carbonatação de parcela do silicato de cálcio hidratado, que libera significativas parcelas de água.

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Figura 5 – Efeito da carbonatação na densidade

Observa-se uma surpreendente concordância entre os valores de densidade estimados a partir do modelo simplificado e do medido por porosimetria de mercúrio para argamassas não carbonatadas (Tabela 4). Apenas os resultados de 3 argamassas são divergentes (marcas em vermelho na Tabela). Uma delas é a argamassa de cimento, onde a não consideração da retração autógena foi mais importante. Nos casos de argamassas com cal a medida da densidade pelo porosímetro encontra-se acima de 1,94g/cm³ valor bastante alto, o que permite sugerir problemas de amostragem ou a presença de poros impermeáveis ao mercúrio. Para reforçar a hipótese, as duas argamassas com cal apresentaram pequeno crescimento de densidade pela carbonatação.

Tabela 4 – Influência carbonatação na densidade (g/cm³) estimada pela variação de massa da cal hidratada e medida por porosimetria. Do é a densidade sem carbonatar e Dc após carbonatar. Os valores em vermelho

mostram discordância dos valores de Do estimados e medidos por porosimetria.

Traço

Estimada pela carbonatação da cal (g/cm³) Medida por porosimetria (g/cm³)

Do Dc ∆ (%) Do Dc ∆ (%)

1:3 C 1,90 1,90 0,0 2,19 2,29 4,4

1:3 CC 1,68 1,81 7,1 1,68 1,95 13,8

1:1:6 CC 1,79 1,86 3,5 2,04 1,95 -4,6

1:1:8 CC 1,78 1,83 2,7 1,8 2,1 14,3

1:2:12 CC 1,75 1,82 3,7 1,76 2,01 12,4

1:2:9 CC 1,77 1,86 4,7 1,77 2,06 14,1

1:3 CD 1,71 1,77 3,6 1,94 2,04 4,9

1:1:6 CD 1,80 1,84 1,8 1,80 2,16 16,7

1:1:8 CD 1,77 1,79 1,4 1,77 2,05 13,7

1:2:12 CD 1,76 1,79 1,9 1,79 2,07 13,5

1:2:9 CD 1,76 1,81 2,4 1,77 2,08 14,9

Estima-se que a carbonatação da cal, desconsiderados os demais fatores provocaria um aumento de densidade entre 1,4 e 4,7% nas argamassas mistas, sendo que as argamassas com cal dolomítica apresentam as menores variações. As argamassas de cal um aumento da densidade de 3,6 e 7,1%, com a cal cálcica gerando um maior

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aumento de densidade. Já a evolução da densidade medida pela porosimetria está sempre acima de 12,4%, sendo que as argamassas com cales dolomíticas apresentaram maiores variações. Esta diferença se deve à combinação de fatores como carbonatação do cimento e retração por carbonatação. Como se observou alguns resultados incoerentes na porosimetria é recomendável que estas conclusões sejam confirmadas por outros experimentos.

De forma geral, os resultados de porosimetria de mercúrio confirmam que a carbonatação reduziu a porosidade total das argamassas (Tabela 5). Como já constatado com a densidade, alguns resultados de porosidade total foram incoerentes. O volume de poros totais medidos por porosimetria de mercúrio são inferiores aos estimados pelo modelo, uma vez que este equipamento mede o volume de poros maiores que 3nm e não é sensível a poros de grandes dimensões. Os resultados de porosimetria de mercúrio também não mostram que as argamassas de cal são mais porosas que as mistas.

Ainda de uma forma geral, argamassas com ambas as cales e um mesmo traço em volume aparente apresentaram perfil de porosidade semelhante (Figura 6 e Figura 7). No entanto, não foi possível encontrar uma clara tendência na variação de volume em diferentes faixas para as diferentes cales, tal como reportado pelos autores citados na revisão. Destes resultados parece que a formulação da argamassa, incluindo o teor de água e ar, foi muito mais decisiva não apenas para a porosidade total, mas também para a distribuição de poros.

Tabela 5 – Porosidade total de argamassas carbonatadas e não carbonatadas medida por porosimetria de mercúrio

Traço

Carbonatada (%) Carbonatada (%)

Não Sim Não Sim

1:3 16,0 13,9

1:3 CC 21,8 23,5 1:3 CD 25,3 24,0

1:1:6 CC 27,3 22,1 1:1:6 CD 24,2 23,8

1:1:8 CC 23,5 17,0 1:1:8 CD 25,1 23,2

1:2:12 CC 25,2 18,7 1:2:12 CD 27,1 23,4

1:2:9 CC 26,6 23,3 1:2:9 CD 26,2 23,4

Figura 6 – Distribuição acumulada de poros da cal 1:1:6: cálcica (esquerda) e dolomítica (direita). Os quadrados representam a amostra carbonatada; os círculos a não carbonatada. Observar semelhança de perfil e diametro

limite.

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Figura 7 – Distribuição acumulada de poros de argamassas 1:2:12. cálcica (esquerda) e dolomítica (direita). Os quadrados representam a amostra carbonatada. Os círculos a não carbonatada. Observar semelhança de perfil e

diametro limite.

4 CONCLUSÕES

De uma forma geral a porosidade das argamassas foi controlada pelo volume de cal. Não se observou diferença significativa no volume de poros entre as diferentes argamassas mistas preparadas com ambas às cales.

A porosimetria de mercúrio, embora útil na determinação da distribuição de poros, se revelou limitada para determinar a porosidade total. Foram enfrentados problemas de consistência de resultados, que podem estar associados ao tamanho da amostra, que emprega pequenos fragmentos das argamassas.

Diferentemente do encontrado na literatura, não foi possível encontrar uma clara tendência na variação de volume em diferentes faixas para as diferentes cales. No entanto, argamassas de mesmo traço confeccionadas com diferentes cales apresentaram perfis de distribuição de poros similares. Assim, parece que a formulação da argamassa, incluindo o teor de água e ar, foi o fator mais decisivo tanto para a porosidade total quanto para a distribuição de poros.

Mantido um mesmo conjunto de matérias primas, os resultados mostram que os diferentes trações tradicionais resultam em argamassas mistas com volume de pasta bastante homogêneo. Neste experimento ele variou entre

~44% para o traço 1:1:12 até 47,5% para o traço 1:1:6.

Finalmente, os resultados mostram que é possível estimar propriedades como porosidade e densidade de argamassas usando modelos simples. Estas ferramentas permitem analisar de forma aproximada o impacto de mudanças na formulação sem a necessidade de realização de ensaios demorados e dispendiosos.

5 REFERÊNCIAS

[1] HOUST, Y.F., WITTMANN, F.H. Influence of porosity and water content on the diffusivity of CO2 and O2 through hydrated cement paste, Cem. Conc. Research, 24, (1994) 1165-1176.

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[8] ARANDIGOYEN, M., ALVAREZ, J.I. Blended pastes of cement and lime: pore structure and capillary porosity, Appl. Surface Science, 252 (2006) 7562-7571.

[9] ANTUNES, R. N. P. Influência da Reologia e da Energia de Impacto na Resistência de Aderência de Revestimentos de Argamassa. Escola Politécnica - USP. (Tese de Doutorado) 2005.

6 AGRADECIMENTO

O primeiro autor agradece à FAPESP-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo financiamento deste estudo realizado no IRC-National Research Council of Canada.

Referências

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