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Miranda, Jorge, A eleição do Presidente da República em Portugal

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Miranda, Jorge,

1941-A eleição do Presidente da República em

Portugal

http://hdl.handle.net/11067/4878

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Issue Date 1995

Keywords Presidentes - Portugal - Eleições, Direito eleitoral - Portugal Type article

Peer Reviewed yes

Collections [ULL-FD] Polis, n. 02 (1995)

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(2)

A ELEI<;AO DO PRESIDENTE DA REPUBLICA

EM

PORTUGAL(**)

I

OS PRESSUPOSTOS 1. As tres Constitui~oes republicanas portuguesas

I - A republica foi proclamada em Portugal em 1910 e, salvo inter-regnos de Govemos provis6rios (1), desde entao tern havido sempre Presi-dentes eleitos.

Mas sob a mesma aparente forma institucional, sucederam-se ate agora tres regimes, tres republicas muito diferentes: ate 1926, a republica liberal (a J. a republica), continuadora do constitucionalismo monarquico do seculo XIX; de 1926 a 1974, a republica corporativa, urn regime autoritario de direita (o Estado Novo); e ap6s 1974, urn regime democratico que retoma as garantias das liberdades publicas anteriores a 1926, mas que assenta no sufragio universal corn todos os seus corolanos. A estes tres regimes correspondem respectivamente as Constitui~oes de 1911, 1933 e 1976.

0 modo e o significado de elei~ao presidencial nao poderiam deixar de apresentar contrastes de urn regime para outro: verdadeira elei~ao em sen-tido material na 1.• e na 3.• republicas; mero processo formal sem conteudo de escolha no regime autoritario; e1ei~ao corn plena efectiva~ao do princf-pio democratico hoje, nao ja antes da Constitui~ao de 1976.

(*) Professor Catedratico das Faculdades de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade Cat6lica.

(**) Comunica~ao apresentada ao col6quio sobre sistemas de elei~ao presiden-cial, promovido pelo Centro de Analise Comparada de Sistemas Politicos da Universi-dade de Paris-I e que se efectuou em Paris em Abril de 1994.

(') Entre 1910 e 1911, entre 1926 e 1928 e entre 1974 e 1976 ..

POLlS- N.0 2 -Janeiro-Mar~o 1995- pp. 29-50. 29

(3)

11- A 1." republica inspirou-se largarnente na 3." republica francesa. 0 sistema de govemo era parlamentar ( e ate de urn parlamentarismo atfpico ou radical). 0 Presidente da Republica (2) era eleito pelas duas cfunaras -Camara dos Deputados e Senado - reunidas em Congresso; mas somente por quatro anos e sem poder ser ·reeleito para o mandato imediato ou durante o quadrienio subsequente.

A grande instabilidade polftica da epoca - para que muito contribui-ram tanto 0 govemo de assembleia e a indisciplina partidaria

e)

como outros factores, intemos e extemos - levou a numerosas elei~6es: em 1911, 1914, 1915, 1919, 1923 e 1925 - sem esquecer uma elei~lio, em situa~lio ditatorial ou de ruptura constitucional, feita, por sufnigio directo (mas nlio universal) em 1918.

Estando a e1ei~lio a cargo do Parlamento, os candidatos, naturalmente, emergiarn dos partidos, corn maior ou menor desenvoltura em face dos res-pectivos direct6rios.

Ill- 0 regime autoritario ainda antes de se dotar de uma Constitui~lio procedeu em 1928 a elei~lio directa do Presidente da Republica, retomando a pnitica de 1918. Ea ideia passaria para a Constitui~lio de 1933- nlio por intuito de democratiza~lio das institui~6es, mas por necessidade de legiti -ma~lio e por espfrito antiparlarnentarista (que explicaria a dura~lio de sete anos do mandato, a possibilidade de reelei~lio e os fortes poderes jurfdicos do Chefe de Estado ).

As elei~6es de 1928, 1935 e 1942 forarn feitas s6 corn o candidato ofi -cial ( o militar que safra vitorioso das lutas travadas pelo poder logo ap6s a revolu~lio de 1926).

Ja

nas de 1949, 1951 e 1958, depois da 2." Guerra Mundial, houve candidato da oposi~lio; e na ultima, esse candidato fez uma carnpanha que abalou o regime e aceitou ir ate ao fim, ate ao acto eleitoral. Por causa destes acontecimentos, o regime promoveu logo no ano seguinte, em 1959, uma revislio constitucional, mudando o sistema de elei -~lio: o Presidente passou a ser eleito por urn colegio eleitoral composto pelos Deputados a Assembleia Nacional, pelos Procuradores a Cfunara Cor -porativa e por representantes dos municfpios e dos 6rglios representativos das provfncias ultramarinas. E seria corn este sistema que se realizariarn as

(2) Cuja existencia chegou, alias, a ser questionada na Assembleia Constituinte. (3) Apesar de haver urn partido dominante quase sempre, o Partido Republicano Portugues.

(4)

elei~oes de 1965 e de 1972, de novo s6 corn urn candidato (o Presidente cessante).

Salvo em 1928, as candidaturas oficiais provinham sempre da organi -za~ao polftica de apoio ao regime (4

) (que nao chegava a ser urn partido

unico, por demasiado pouco estruturada e nascida dentro do regime). Na

realidade, dependiam do Presidente do Conselho de Ministros que era simultaneamente presidente dessa organiza~ao: enquanto Presidente do

Conselho, ele era responsavel perante o Presidente da Republica; porem,

enquanto presidente dessa organiza~ao era ele que escolhia o candidato

a

presidencia da Republica ... (5).

IV - 0 epis6dio de 1958 viria a ter, entretanto, uma consequencia

inversa: a partir dai tornar-se-ia uma componente essencial das

reivindica-~oes democraticas em Portugal o princfpio de elei~ao directa do Presidente

da Republica.

2. 0 sistema politico de 1976 e a elei~ao presidencial

I- A Assembleia Constituinte eleita em 25 de Abril de 1975 e que aprovaria a Constitui~ao em 2 de Abril de 1976, ap6s quase cinquenta anos

de regime autoritcirio, acolheu como pressupostos da organiza~ao do poder politico:

a) A consagra~ao do sufragio universal;

b) A necessidade de divisao do poder entre diferentes 6rgaos, instan -cias e for~as politicas;

c) A necessidade de institucionaliza~ao dos partidos politicos, dotados de garantias e de prerrogativas constitucionais;

d) A vontade de restaura~ao do Parlamento.

11 Tomou tambem em conta a Assembleia Constituinte alguns facto-res politicos inelutaveis:

a) As sensiveis clivagens ideol6gicas e sociais existentes no Pais; b) A debilidade dos partidos politicos- ou criados apenas em 1974 ou vindos da clandestinidade, e todos corn dificuldades de implanta~ao;

(4) Chamada Uniao Nacional e, ap6s 1970, Ac~ao Nacional Popular. (5) S6 houve, de resto, tres Presidentes da Republica entre 1928 e 1974.

(5)

c) A previsfvel subsistencia de urn sistema de multipartidarismo ate-nuado, como as subsequentes elei~oes confirmariam:

-corn dois partidos maiores, os partidos centrais, o Partido

Socia-lista e o Partido Popular Democnitico (mais tarde chamado Par-tido Social-Democrata), cada urn dos quais corn cerea de 30 %

dos votos;

- Corn dois partidos menores, o Partido do Centro Democnitico

Social,

a

direita, e o Partido Comunista Portugues,

a

esquerda; - e ainda corn outras forma~oes que s6 muito dificilmente conse

-guiriam representa~ao parlamentar;

d) No contexto de instabilidade p6s-revolucionaria de 1976 e corn vista

a

integra~ao das For~as Armadas na ordem democratica, a

conveniencia de manter ate

a

primeira revisao constitucional (a efectuar a partir de 15 de Outubro de 1980) urn 6rgao de compo-si~ao rnilitar, o Conselho da Revolu~ao.

Ill - 0 sistema de governo ficou desenhado nos seguintes termos:

a) Existencia de quatro 6rgaos politicos de soberania-Presidente da Republica, Conselho da Revolu~ao, Assembleia da Republica e Govemo (art. 113.0

) ;

b) Atribui~ao ao Presidente da Republica, tambem Presidente do

Con-selho da Revolu~ao, sobretudo de poderes relativos

a

constitui~ao e ao funcionamento de outros 6rgaos de Estado e das regioes aut6no-mas, do poder de promulga~ao e de veto legislativo e do poder de declara~ao do estado de sftio ou de emergencia (arts. 136.0 e 137.0

) ; c) Condicionamento dos principais actos do Presidente da Republica por autoriza~oes, pareceres ou pareceres favoraveis do Conselho da Revolu~ao (arts. 145.0 e 147.0

) ;

d) Sujei~ao a referenda ministerial apenas dos actos expressamente

previstos (art. 141. 0 ) ;

e) Atribui~ao

a

Assembleia da Republica, parlamento unicameral (arts. 150.0 e segs.), do primado da fun~ao legislativa (arts. 164.0 e segs.) e da fiscaliza~ao do Govemo e da Adrninistra~ao (art. 165.0

) ; f) Configura~ao do Governo - presidido pelo Primeiro-Ministro (arts. 186.0 e segs.) e que s6 pode reunir em Conselho de Ministros

(6)

soli-citar (arts. 136.0

, alfnea h ) -como o 6rgao de conduc;:ao da polftica geral do pais (art. 185. 0

) ;

g) Elei~ao por sufnigio universal do Presidente da Republica (art. 124.0

) corn candidatos propostos por grupos de cidadaos, e nao por partidos (art. 127.0

) ;

h) Exigencia de maioria absoluta numa primeira vota~ao para que qualquer candidato seja eleito Presidente, e s6 podendo concorrer

a

segunda vota~ao os dois candidatos mais votados (art. 129.0 );

i) Elei~ao dos Deputados

a

Assembleia da Republica segundo o

sis-tema proporcional eo metodo de Hondt (art. 155.0

) e corn candida-turas reservadas aos partidos (art. 154.0

) ;

j) Dura~ao diferenciada do mandato presidencial - cinco anos

(art. 131.0

) e da legislatura- quatro anos (art. 174.0) -e prescri~ao da nao coincidencia, em caso algum, das duas elei~6es (art. 128.0

) ; l) Sujei~ao da Assembleia a dissolu~ao pelo Presidente da Republica, verificados certos requisitos, designadamente parecer favonivel do Conselho da Revolu~ao (arts. 136.0

, alfnea e), e 175.0);

m) Forma~ao do Govemo por acto do Presidente da Republica, «tendo em conta os resultados eleitorais» (art. 190.0

) , seguindo-se a apre-cia~ao do seu programa pelo Parlamento (art. 195.0

) ;

n) Responsabilidade politica do Govemo perante os dois 6rgaos

(art. 193.0

) , nao sendo, contudo, necessaria a confian~a positiva-mente afirmada (pelo menos, da Assembleia) para ele se conservar

no poder, excepto quando seja o proprio Govemo a pedir urn voto de confian~a (arts. 195. o e segs.).

IV - Nao se trata, claramente:

- Nem de sistema presidencial classico (porque o Govemo e 6rgao aut6nomo e responsavel perante o Parlamento e este pode ser

dis-solvido pelo Presidente da Republica);

- Nem de sistema de govemo parlamentar classico ( dado o estatuto do

Presidente da Republica);

- Nem de «parlamentarismo racionalizado» (em virtude nao apenas

da presen~a do Conselho da Revolu~ao mas sobretudo da liberdade de decisao do Presidente frente ao Govemo em caso de dissolu~ao

e convoca~ao da Assembleia da Republica e de demissao do Primeiro-Ministro).

(7)

A qualifica~ao mais adequada parece sera de sistema de governo semi

-presidencial (6), embora seja precise advertir ou lembrar que esta categoria

se oferece bastante homogenea. Aproximavel do sistema conhecido de cer-tos paises europeus (a Alemanha de Weimar, a Finlandia, a Fran~a ap6s 1958 e outros paises, mais recentemente), o sistema de governo portugues de 1976 tern elementos peculiares que o tornam unico ou irredutivel.

V -Em 1982, o Conselho da Revolu~ao foi, conforme previsto,

extinto. E dai algumas altera~oes na organiza~ao politica, mas sem afecta-rem o conteudo essencial do sistema de governo:

a) Redu~ao a tres dos 6rgaos politicos de soberania;

b) Atribui~ao ao Presidente da Republica de urn poder de dissolu~ao

do Parlamento, s6 dependente de parecer nao vinculativo do Con-selho de Estado, mas proibi~ao de dissolu~ao nao s6 em estado de sitio e em estado de emergencia como nos primeiros seis meses da legislatura e nos ultimos seis do mandata presidencial (art. 175. 0

) ;

c) Em contrapartida, desaparecimento da responsabilidade politica do Governo perante o Presidente, o qual, doravante, apenas pode demiti-lo «quando tal se tome necessaria para assegurar o regular funcionamento das institui~oes democraticas (art. 198.0

, n.0 2); d) Considera~ao do Governo, antes de aprecia~ao parlamentar do seu programa, como mero Governo de gestao de assuntos correntes (art. 189.0

, n.0 5).

Na revisao constitucional de 1989, admitiu-se referenda politico vin-culativo a nivel nacional, convocado por decisao do Presidente da Repu-blica sob proposta ou da Assembleia ou do Governo, e nunca por sua ini-ciativa (art. 118.0

) .

3. A autonomia pretendida da elei~;ao presidencial

I - Como se verifica, a forma de elei~ao do Presidente da Republica nao pode ser desligada do sistema de governo adoptado pela Constitui~ao

(6) Foi a qualifica9iio que adoptamos logo em 1976, ainda antes dos estudos de

(8)

e, do mesmo passo, e ela urn condicionante ou determinante fundamental (embora, nao necessariamente decisivo) do teor do sistema.

Para efeito do presente estudo, adquirem especialfssima importancia tres regras eleitorais: a da propositura por grupos de cidadaos, a da nao

coincidencia nunca das elei<y6es presidenciais e parlamentares e a da neces

-sidade de maioria absoluta. 0 seu significado prende-se corn o perfil pre-tendido do Presidente em face dos partidos, do Parlamento e do Govemo.

As elei<y6es parlamentares sao marcadas por op<y6es ideol6gico --programaticas, porque e em face dos resultados eleitorais que vai ser for-mado o Govemo (art. 191.0

da Constitui<yao). Ja nao a elei<yao do Presidente da Republica- que preside (no sentido activo acabado de referir e que, ate

certo panto, o aproxima do Poder Neutro ou Moderador na linha de BEN

-JAMIN CONSTANT e das Constitui<y6es brasileira de 1824 e portuguesa de 1926), mas niio governa. E daf o exclusivo das candidaturas de partidos nas

elei<;:6es parlamentares (art. 154. 0

) e a sua veda<yao na elei<yao

presiden-cial C).

Ao mesmo tempo, pretende-se urn Presidente eleito corn margem de liberdade perante os partidos para poder exercer, plenamente, as suas fun

-<;:6es - o que e refor<yado pela prescri<yao da maioria absoluta. Nem se trata

s6 de urn intuito de isen<yao ou de imparcialidade, trata-se tambem de urn intuito de separa<yao de poderes: urn Presidente eleito nestas condi<y6es nao

apenas pode apresentar-se como «Presidente de todos os Portugueses»

como configurar-se como poder distinto do poder dos partidos e do Parla-mento.

11 - A aplica<yao pratica do sistema, conforme adiante se mostrara,

afastar-se-ia em larga medida-se bem que nao totalmente- do estrito alcance das normas constitucionais.

Os partidos nunca deixariam de intervir, duma forma ou doutra, nas

elei<;:6es presidenciais. Mas nenhum partido, s6 por si, conseguiria lan<yar urn candidato viavel e faze-lo eleger, nenhum conseguiria uma completa

C) A Constitui~ao contem duas regras de reserva absoluta de candidaturas: a

gru-pos de cidadaos quanto a elei~ao do Presidente da Republica; aos partidos quanto a

elei-~ao do Parlamento. E uma regra de concorrencia: de partidos e de grupos de cidadaos quanto a elei~ao das assembleias de freguesia.

No tocante as restantes elei~oes (regionais e municipais), nada diz, mas o legislador ordinaria tern decidido sempre no sentido do monop61io partidario.

(9)

disciplina de voto dos seus eleitores e sempre «independentes», nao inscri-tos em qualquer partido, viriam a obter uma grande importancia em todos os momentos do processo eleitoral.

4. A regulamenta~ao da elei~ao presidencial

I - Transcrevem-se, de seguida, as normas relativas

a

elei<;:ao presi-dencial consignadas na Constitui<;:ao (8

):

Artigo 124.0

(Eleiriio)

1. 0 Presidente da Republica e eleito por sufnigio universal, directo e secreto dos cidadaos portugueses eleitores, recenseados no territ6rio nacional.

2. 0 direito de voto e exercido presencialmente no territ6rio nacional.

Artigo 125.0 ( Elegibilidade)

Sao elegfveis os cidadaos eleitores, portugueses de origem, maio-res de 35 anos.

Artigo 126.0 ( Reelegibilidade)

1. Nao e admitida a reelei<;:ao para urn terceiro mandato conse

-cutivo, nem durante o quinquenio imediatamente subsequente ao termo do segundo mandato consecutivo.

(8) Para alem dos princfpios gerais de Direito eleitoral do art. 116.0: liberdade de propaganda e igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas; imparcialidade das entidades publicas; fiscaliza~ao das contas eleitorais; julgamento da regularidade e da validade dos actos do processo eleitoral pelos tribunais.

(10)

2. Se o Presidente da Republica renunciar ao cargo, nao podeni candidatar-se nas elei~oes imediatas nem nas que se realizem no quin

-quenio imediatamente subsequente

a

renuncia. Artigo 127.0

( Candidatura)

1. As candidaturas para Presidente da Republica sao propostas por urn rninimo de 7500 e urn maximo de 15 000 cidadaos eleitores. 2. As candidaturas devem ser apresentadas ate trinta dias antes da data marcada para a elei~ao, perante o Tribunal Constitucional.

3. Em caso de morte de qualquer candidato ou de qualquer outro facto que o incapacite para o exercfcio da fun~ao presidencial, sera rea

-berto o processo eleitoral, nos termos a definir por lei.

Artigo 128.0

(Data da eleirao)

1. 0 Presidente da Republica sera eleito entre o sexagesimo e o trigesimo dia anteriores ao termo do mandato do seu antecessor ou entre o sexagesimo e o nonagesimo dia posteriores

a

vagatura do cargo. 2. A elei~ao nao podera efectuar-se nos noventa dias anteriores ou posteriores

a

data de elei~ao para a Assembleia da Republica.

3. No caso previsto no numero anterior, a elei~ao efectuar-se-a

entre o nonagesimo e o centesimo dia posteriores

a

data das elei~oes para a Assembleia da Republica, sendo o mandato do Presidente

ces-sante automaticamente prolongado pelo periodo necessaria.

4. A data da realiza~ao do primeiro dos dois possfveis sufragios sera marcada de forma a permitir que ambos se realizem dentro dos periodos referidos nos n.0

' 1 e 3.

Artigo 129.0

(Sistema eleitoral)

1. Sera eleito Presidente da Republica o candidato que obtiver mais de metade dos votos validamente expressos, nao se considerando como tal os votos em branco.

2. Se nenhum dos candidatos obtiver esse numero de votos, proceder-se-a a segundo sufragio no vigesimo primeiro dia

subse-quente

a

primeira vota~ao.

(11)

3. A este sufnigio concorrerao apenas os dois candidatos mais votados que nao tenham retirado a candidatura.

Artigo 131. o (Mandata)

1. 0 mandato do Presidente da Republica tern a dura9ao de cinco anos e termina corn a posse do novo Presidente eleito.

2. Em caso de vagatura, o Presidente da Republica a eleger inicia urn novo mandato (9).

11 - Uma vez que somente tern direito de voto cidadaos portugueses eleitores recenseados no territ6rio nacional, tambem apenas cidadaos nes-tas condi96es podem propor candidatos a Presidente da Republica: e o que dispoe a lei eleitoral (art. 4.0

, n.0 6, do Decreto-Lei n.0 319-N76, de 3 de Maio).

Os requisitos formais de apresenta9ao constam igualmente desta lei. Mas o modo de apresenta9ao e a verifica9ao da sua regularidade sao regu-lados pela lei organica do Tribunal Constitucional (arts. 92.0 e segs. da Lei n.0

28/82, de 15 de Novembro).

11 A PRATICA 5. A primeira elei-;ao presidencial

I - A Constitui9ao entrou em vigor em 25 de Abril de 1976; nesse mesmo dia foi eleito o Parlamento; e em 27 de Junho seguinte foi eleito o Presidente da Republica - o primeiro Presidente da Republica eleito por sufnigio universal, directo e pluralista em Portugal.

(9) Algumas das formulay6es acabadas de transcrever resultaram das revis6es de 1982 e 1989. Todavia, no essencial o sistema eo mesmo e nenhuma modificayao sofreu ate hoje a regra da propositura por grupos de cidadaos.

(12)

Esta elei~ao realizou-se numa fase de consolida~ao do regime

demo-cratico, em que se sentiam fortemente ainda tanto as dificuldades dos par-tidos quanto a situa~ao particularfssima das For~as Armadas, procurando (ap6s os traumatismos derivados das guerras africanas e da turbulencia revolucion:iria) refazer a sua disciplina e a sua imagem na sociedade.

Por is so e porque, como se notou ja, iria subsistir, durante os pr6ximos

anos, o Conselho da Revolu~ao, os principais partidos (corn exclusao do Partido Comunista) puseram-se de acordo corn os militares no sentido de

promoverem a candidatura do Chefe do Estado-Maior do Exercito, o

Gene-ral RAMALHO EANES. Mas este nao aceitou nenhum compromisso, a nao ser o de preserva~ao da Constitui~ao e do regime democratico ('0

).

Os outros candidatos foram (nada estranhamente, no contexto da

epoca) dois outros militares: o Almirante PINHEIRO DE AZEVEDO,

Primeiro-Ministro do ultimo Governo Provis6rio, e o Major OTELO

SARAIV A DE CARV ALHO, o mais celebre dos oficiais do Movimento de

Capitaes de 1974. E ainda urn dirigente do Partido Comunista, OCTA VIO

PATO.

11 - Os resultados das elei~6es foram:

Eleitores Votos Votos

inscritos Votantes branco em nul os

6 467 480 4 881 125 20 253 43 242

Ant6nio dos Santos Jose Baptista Octavio Floriano Otelo Nuno Romao

Ramalho Eanes Pinheiro de Azevedo Rodrigues Pato Saraiva de Carvalho

Numero % Numero % Numero % Numero %

2 967 137 61,59 692 147 14,37 365 586 7,59 792 760 16,46

RAMALHO EANES foi, portanto, eleito ao primeiro turno. Mas a

per-centagem de votos que obteve - 61 % - ficou abaixo das percentagens

somadas dos tres partidos apoiantes da candidatura ( o Partido Socialista, o Partido Social-Democrata eo Centro Democratico-Social), os quais tinham

(1°) Embora tenha havido uma cornissllo polftica da candidatura corn personalida-des pru.tidarias escolhidas ou aceites pelo pr6prio candidato.

(13)

atingido dois meses antes mais de 75 %. E ainda mais sensfvel foi o desfa -samento entre os votos obtidos pelo candidato comunista e os que atingira, nas eleic;:oes parlamentares de Abril, o seu partido.

6. A segunda elei~ao presidencial

I - A segunda eleic;:ao presidencial realizou-se em finais de 1980 e teve urn canicter muito mais competitivo do que a primeira.

Sobre ela pairou o conflito surgido entre o Presidente cessante e de novo candidato eo Govemo safdo das eleic;:oes de 1979, de coligac;:ao cha-mada Alian{:a Democratica (entre o Partido Social-Democrata, o Centro Democnitico-Social e urn pequeno partido monarquico) e nela esteve em causa a propria Constituic;:ao, devido

a

proxirnidade da revisao que deveria suprirnir o Conselho da Revoluc;:ao.

Alem de RAMALHO EANES, buscando a reeleic;:ao, o outro candidato mais importante era o General SOARES CARNEIRO. E enquanto que

RAMALHO EANES dos tres partidos de 1976 agora apenas conservava a adesao do Partido Socialista ( e de outros partidos menores e de indepen-dentes), SOARES CARNEIRO era apoiado pela coligac;:ao govemamental. Urn e outro candidato celebraram acordos corn os partidos apoiantes (11).

Os outros candidatos foram tres rnilitares, vindos da fase revoluciona-ria: o Major OTELO SARAIVA DE CARVALHO, de novo, o General GALVAO DE MELO eo Coronel PIRES VELOSO. E ainda urn dirigente da extrema-esquerda, AIRES RODRIGUES, e urn dirigente do Partido Comunista, CARLOS BRITO; este, porem, viria a desistir em favor de RAMALHO EANES.

De notar o muito diferente envolvimento dos partidos no lanc;:amento

das candidaturas e na campanha eleitoral. A candidatura de SOARES CAR-NEIRO dependeu sempre fortemente dos partidos da Alianc;:a Democratica e, em especial, do seu maximo responsavel, o Primeiro-Ministro

sA

CAR

-NEIRO. A de RAMALHO EANES, pelo contrario, foi lanc;:ada por urn

grupo de personalidades e dinamizada por uma Comissao N acional de

('') Mormente a respeito da questao de urn eventual referenda para decidir a revisao constitucional (que nao estava previsto na Constitui'<ao), RAMALHO BANES

(14)

Apoio

a

Reeleir;ao do Presidente Eanes (CNARPE) que funcionou corn larga autonomia (entre outras razoes por o secretario-geral do Partido

Socialista, MARIO SOARES, ter-lhe retirado o apoio) e que viria a sera

base da criar;ao anos mais tarde de urn novo partido, o Partido Renovador Democratico (de relevancia, alias, efemera).

11 - Os resultados das eleir;oes foram:

Eleitores Votantes Votos em Votos

inscritos bran eo nulos

6 920 869 5 840 332 16 076 44 014

Ant6nio da Silva Ant6nio Elisio Otelo Nuno Romiio Ant6nio dos Santos

Os6rio Soares

Carneiro Capelo Pires Veloso Saraiva de Carvalho Ramalho Eanes

Numero % Numero % Numero % Numero %

2 325 481 40,23 45 132 0,78 85 896 1,49 3 262 520 56,44

Carlos Galviio Ant6nio Jorge

deMelo Oliveira Rodrigues Aires Total

Numero % Numero % Numero %

48 468 0,84 12 745 0,22 5 780 242 100

RAMALHO EANES foi eleito, pois, uma segunda vez, logo

a

primeira volta.

Confrontando a sua percentagem corn as dos dois maiores partidos que acabaram por recomendar o voto na sua candidatura - o Partido Socialista e o Partido Comunista - verifica-se urn evidente desfasamento: em Outu-bro, nas eleir;oes parlamentares, estes tinham ficado por pouco mais de 43 %; e RAMALHO EANES obteve 56 % dos votos. E isto significa que perto de urn milhao de eleitores que dois meses antes tinham reconduzido a Alianr;a Democratica, de direita e centro-direita, agora deram o seu voto a urn candidato definido por essa mesma coligar;ao como candidato da

esquerda.

Por outro lado, se em 1976 RAMALHO EANES, sem deixar de con-seguir votos

a

esquerda, obtivera sobretudo votos da direita do espectro

(15)

politico, em 1980 ocorreu exactamente o contnirio. Eis uma viragem sime-trica, a traduzir a oscila9ao pendular verificada na vida do Pais nesses anos:

a passagem de uma prevalencia polftica da esquerda a uma prevalencia polftica da direita e a procura de urn equilfbrio identificado corn o Presi-dente.

7. A terceira elei~ao presidencial

I - Em infcios de 1986 realizou-se a terceira elei9ao presidencial (12 ). A situa9ao polftica era bem diferente da de 1980, pois: tinha-se feito,

sem referendo (portanto, sem ruptura), a primeira revisao da Constitui9ao;

a revisao extinguira o Conselho da Revolu9ao, redistribuira os seus pode-res e criara urn Tribunal Constitucional (13

); os militares tinham desapare-cido da cena polftica; tinha-se dissolvido a Alian9a Democn'itica; entre 1983 e 1985 tinha-se formado uma coliga9ao entre o Partido Socialista eo Partido Social-Democrata (dita bloco central); e RAMALHO EANES ja nao podia candidatar-se a terceiro mandato.

II - Quatro aspectos interessantes assinalam esta elei9ao. 0 primeiro

foi a ausencia de candidatos militares. 0 segundo a clara bipolariza9ao

entre direita e esquerda. 0 terceiro o contraste entre uma candidatura unica de direita e a divisao de candidaturas de esquerda. 0 quarto a necessidade de realiza9ao de duas vota96es (de duas voltas de vota9ao), podendo

dizer--se que a primeira serviu, ate certo ponto, de primarias na esquerda.

0 candidato da direita foi FREIT AS DO AMARAL, antigo presidente do Centro Democratico Social, apoiado por este partido e pelo Partido

Social-Democrata. Alias, a defini9ao desta candidatura tivera urn papel pri-mordial na designa9ao do novo presidente do Partido Social-Democrata,

CA V ACO SIL V A, escolhido em 1985 ap6s uma longa crise.

Os candidatos de esquerda foram MARIO SO ARES, primeiro-ministro

e secretano-geral do Partido Socialista ate pouco antes da elei9ao;

SAL-(12

) Por sinal, adiada por dois rneses (corn a consequente prorroga~lio do rnandato

do Presidente cessante), por aplica~lio da regra constitucional da nlio coincidencia corn

elei~oes parlarnentares, urna vez que a Assernbleia da Republica tinha sido dissolvida. (13) Todavia, ela tinha gerado urn conflito entre RAMALHO EANES e o Partido

Socialista, por, segundo o Presidente, este partido nlio ter respeitado o acordo de

(16)

GADO ZENHA, antigo ministro e antigo dirigente tambem do Partido Socialista, que abandonou na altura; MARIA DE LURDES PINTASILGO, antiga primeira-ministra de urn Govemo de iniciativa presidencial em 1979; e ANGELO VELOSO, dirigente do Partido Comunista. SOARES foi apoiado pelo Partido Socialista e por independentes, no ambito de uma

cornissao charnada Movimento de Apoio a SOARES Presidente (MASP);

ZENHA foi apoiado pelo Presidente cessante, RAMALHO EANES, pelo Partido Renovador Democnitico, e a partir de certo momento pelo Partido Comunista (cujo candidato desistiu); e MARIA DE LURDES PINTA-SILGO por independentes e pequenos grupos de esquerda.

Ill - Os resultados da primeira vota9ao forarn:

Eleitores Votantes Votos em Votos

inscritos bran eo nulos

7 617 257 5 742 151 17 709 46 334

Francisco de Maria de Lurdes Diogo Pinto Mario Alberto

Almeida Salgado Ruivo da Silva de Freitas Nobre Lopes Total

Zen ha Pintasilgo doAmaral Soares

Numero % Numero % Numero % Numero % Numero %

1 185 867 20,88 418 961 7;38 2 629 597 46,31 1 443 683 25,43 5 678 108 100

Como nenhum candidato obtivesse maioria absoluta, realizou-se segunda vota9ao, corn os dois candidatos mais votados. E os resultados

foram:

Eleitores Votantes Votos em Votos

inscritos branco nulos

7 612 733 5 937 100 20 436 33 844

Diogo Pinto Mario Alberto

de Freitas Nobre Lopes Total

doAmaral Soares

Numero % Numero % Numero %

2 872 064 48,82 3 010 756 51,18 5 882 820 100

(17)

Conforme se verifica, foram eleir;6es disputadfssimas e corn margens tangenciais. MARIO SOARES passou ao segundo turno por uma dife-renr;a de 260 000 votos e venceu no segundo turno por uma maioria de 140 000 votos. Mas, tal como RAMALHO EANES em 1980, nao teria conseguido triunfar se urn numero considenivel de eleitores do Partido Social-Democrata e do Centro Democnitico-Social nao lhe tivessem dado a sua preferencia.

8. A quarta eleh;ao

I - Tambem em 1991, aquando de nova eleir;ao presidencial, a situa-r;ao alterara-se sensivelmente no confronto de cinco anos antes.

Por urn lado, o mandato de MARIO SOARES tinha corrido (ao con-trario do que acontecera corn grande parte dos mandatos de RAMALHO EANES) sem contrastes politicos de vulto, ate porque o Presidente tinha optado por praticar aquilo a que denominou de «magistratura de influen-cia». Por outro lado, a despeito do sistema de representar;ao proporcional, desde 1987 o Partido Social-Democrata, chefiado por CAVACO SILVA, dispunha de maioria absoluta na Assembleia da Republica (14

).

Sabedor da intenr;ao de MARIO SO ARES de se recandidatar, o Partido Social-Democrata optou por nao lhe contrapor outro candidato e por, assim, tacitamente o apoiar. E este facto, prima facie ins6lito, ex plica-se por tres raz6es: o Partido nao tinha urn candidato de altemativa vitoriosa (ate por,

(14

) Todos os Governos constitucionais anteriores tinham sido ou minoritarios, ou de coliga~ao, ou de iniciativa presidencial:

1.0 Governo (1976-1978), do Partido Socialista, minoritario;

2.0 Governo (19781), do Partido Socialista, corn apoio (mas nao coliga~ao

assu-mida) do Centro Democratico Social;

3.0 Governo (1978), de iniciativa presidencial (e derrotado logo na aprecia~ao

do seu programa);

4.0 Governo (1978-1979), de iniciativa presidencial;

5.0 Governo (1979), de iniciativa presidencial;

6.0 Governo (1980), de coliga~ao (Alian~a Democratica);

7.0 Governo (1981-1982), de coliga~ao (Alian~a Democnitica);

8.0 Governo (1982-1983), de coliga~ao (Alian~a Democratica);

9.0 Governo (1983-1985), de coliga~ao (bloco central);

(18)

em Portugal e noutros pafses, ser muito diffcil a derrota de urn Presidente em fun96es); uma elei9ao menos competitiva seria uma elei9ao politica-mente desvalorizada; era de esperar urn segundo mandato semelhante ao primeiro (15).

Houve tres outros candidatos: urn candidato

a

direita, BASfLIO HORT A, anti go dirigente do Centro Democnitico Social; urn candidato vindo do Partido Comunista e que, desta vez, disputou a elei9ao ate ao fim, CARLOS CARV ALHAS; e urn candidato da extrema-esquerda, CARLOS MARQUES.

11 - Os resultados da elei9ao foram:

Eleitores Votantes Votos em Votos

inscritos

branco nulos

8 202 812 5 098 768 112 877 68 037

Basflio Adolfo Mario Alberto Carlos Alberto Carlos Manuel

Mendom;a Horta Nobre Lopes do Vale Gomes Marques da Total

da Franf,;ll Soares Carvalhas Silva

Ntimero % Numero % Numero % Numero % Numero %

696 379 14,16 3 459 521 70,35 635 373 12,92 126 581 2,57 4 917 854 100

MARIO SOARES foi, pois, reeleito

a

primeira volta, pela margem hist6rica de 70 %. Mas nao fez o plenum dos votos do Partido

Social--Democrata e do Partido Socialista, assim como, em contrapartida,

BASILIO HORT A obteve mais de 9 % do que a percentagem que o Cen-tro Democnitico Social iria obter nas elei96es parlamentares de Outubro desse ano (apenas 5 %) (16

).

(15) Curiosamente, tal niio se verificaria e em 1993 e 1994 surgiriam conflitos

aber-tos entre o Presidente e a maioria parlamentar.

(16) Tambem as absten~oes - por esta ter sido a elei~iio menos competitiva de

todas-atingiram uma elevada percentagem: 37%, contra 24% em 1976, 15% em 1980

e 24% e 22% (respectivamente em 1.• e 2.• voltas) em 1986.

(19)

9. Os tipos de candidaturas

I - Observando as candidaturas apresentadas nas quatro elei96es,

justifica-se proceder a uma tentativa de classifica9ao dos tipos que revestem:

a) Uma candidatura institucional- a de RAMALHO EANES em

1976 (enquanto candidato proveniente das For9as Armadas, que os partidos entenderam dever aceitar);

b) Candidaturas de iniciativa pessoal, corn apoio de grupos de

cida-daos mais ou menos estruturados - as de PINHEIRO DE

AZE-VEDO e OTELO SARAIVA DE CARVALHO em 1976, as de

GALV

Ao

DE MELO, PIRES VELOSO e OTELO SARAIV A DE

CARVALHO em 1980 ea de MARIA DE LURDES PINTA-SILGO em 1986;

c) Candidaturas de iniciativa pessoal, corn apoio partidario determi-nante- as de RAMALHO EANES em 1980, de MARIO SOA-RES em 1986 e 1991, de FREITAS DO AMARAL em 1986 e de BASILIO HORTA em 1991;

tf) Candidaturas de iniciativa partidaria, embora corn relativa

indepen-decia formal- a de SOARES CARNEIRO em 1980 ea de SAL-GADO ZENHA em 1986;

e) Candidaturas de iniciativa partidaria- as de OCTAVIO PATO em

1976, CARLOS BRITO em 1980, ANGELO VELOSO em 1986 e CARLOS CARVALHAS em 1991, ea de CARLOS MARQUES em 1991.

Explicam estas varia96es, obviamente, as aludidas normas constitucio-nais sobre forma9ao de candidaturas, as condi96es concretas de instaura9ao e de consolida9ao do regime democratico, o modo como se desenvolveu o sistema de partidos e as vicissitudes polfticas do Pafs.

11 - lndependentemente dos tipos de candidaturas, resultam alguns

aspectos comuns:

a) Nenhum partido teve capacidade ou vontade para gerar uma

can-didatura especffica sua (salvo o Partido Comunista, para, numa atitude defensiva, fixar o seu eleitorado e obter ganhos estrate-gicos);

(20)

b) Nenhum dirigente maximo (presidente ou secretario-geral) de par-tido se apresentou

a

elei<;ao presidencial (17

);

c) Nenhum candidato se apresentou corn urn programa partidario; os

programas de candidaturas foram sempre redigidos em termos bas

-tante mais amplos que os dos partidos e ligados sobretudo a ques

-toes institucionais ('8);

tf) 0 papel - de resto, imprescindfvel - dos partidos foi, sobretudo,

de apoio logfstico, desde a subscri<;ao das assinaturas para a apre -senta<;ao das candidaturas ate

a

promo<;ao e ao financiamento das

campanhas eleitorais;

e) Os independentes nunca deixaram tambem de granjear grande

relevo nas candidaturas e nas pr6prias campanhas eleitorais.

De tudo isto resultaram fen6menos complexos ou mistos, de

conver-gencia ou confluencia de impulsos pessoais e, por vezes, voluntaristas dos

candidatos e de impulsos dos partidos e de grupos de cidadaos. De tudo

resultou ainda que nenhum candidato ganhador p6de veneer sem a

promo-<;ao por urn grande partido, mas nenhum procurou corn ele identificar-se

totalmente.

Ill- Em face das circunstancias expostas, nao admira que nunca tenha

havido ate hoje elei<;oes primarias para designa<;ao de candidatos ao estilo

norte-americano.

Em 1985, em plena crise do Partido Social-Democrata (antes da

escolha de CA V ACO SILV A para seu presidente), a direc<;ao do Partido

promoveu urn inquerito aos militantes para saber das preferencias quanto a

urn futuro candidato presidencial a apoiar. Nao tinha, porem, eficacia

vin-culativa e revelou-se inconclusivo.

Por seu lado, em 1986, houve uma «conven<;ao» do Partido Socialista

para declarar o apoio

a

candidatura de MARIO SOARES. Tao pouco pas

-sou de urn expediente de ocasiao, nao institucionalizado, perante urn facto

ja consumado ou a caminho de se consumar.

Nada mais pode evocar-se de parecido.

('7) MARIO SO ARES deixou as suas fun~oes de secretario-geral do Partido Socia

-lista (e ate cancelou a sua inscri~ao como militante) para se candidatar e FREITAS DO

AMARAL tinha ha tres anos abandonado o Centro Democnitico-Social.

('8) 0 mais completo de todos teni sido ode FREITAS DO AMARAL em 1986.

(21)

10. A elei~ao presidencial e o sistema de partidos

I - Alem da descorrespondencia ja evidenciada entre as cifras alcan -<;adas pelos partidos nas elei<;6es parlamentares e as alcan-<;adas por candi -datos por ele apoiados nas elei<;6es presidenciais, outros pontos merecem ser postos em foco.

Urn deles eo contraste entre as posi<;6es dos dois maiores partidos, o Social-Democrata e o Socialista. Se em 1976 se juntaram em favor de

RAMALHO EANES, depois estiveram sempre em antagonismo claro-em 1980 e em 1986- ou em divergencia escondida- em 1991. E se o Partido Socialista esteve nas quatro elei<;6es, directa ou indirectamente, do lado dos candidatos vitoriosos, o Partido Social-Democrata nunca o conse-guiu nos ultimos quinze anos- apesar de, salvo entre 1983 e 1985, se ter

convertido, no maior partido portugues.

Quanto aos outros dois principais partidos, o Partido Comunista e o Cen-tra Democratico Social, nao menos nitida se mostra a diferen<;a. Afastado do

Govemo desde 1976, o Partido Comunista contribuiu corn os votos dos seus eleitores para as vit6rias de RAMALHO EANES em 1980 e de MARIO SOARES em 1986. Partido do poder entre 1980 e 1983, o Centro Democra-tico Social teve sempre derrotados os candidatos dele mais pr6ximos.

Dir-se-ia que a esquerda tern tido vantagem nas tres ultimas elei<;6es

presidenciais, cada uma concretizada em tempo de Govemo de direita. Nao

e, no entanto, rigorosamente assim, por causa da regra da maioria absoluta, a qual concede uma margem de decisao fundamental aos eleitores

interme-dios e flutuantes e faz deslocar o triunfo para os candidatos mais voltados para o centro- como RAMALHO EANES em 1980 e MARIO SOARES em 1986.

11 - As elei<;6es presidenciais e os seus resultados tern afectado o sis-tema partidario, como nao podia deixar de ser, conquanto em termos

dis-crepantes. Corn efeito:

-Em 1976, a recusa de RAMALHO EANES do apoio do Partido Comunista a sua candidatura fechou, de vez, o acesso deste partido ao Govemo;

- Ao inves, em 1980 a reelei<;ao do Presidente nao impediu a

(22)

MARIO SOARES (que lhe tinha retirado apoio) nas elei~6es no

interior do Partido Socialista, nem, mais tarde, em 1983 a

constitui-~ao do Govemo do bloco central;

-Em 1986, a derrota de SALGADO ZENHA marcou o infcio do

declfnio do Partido Renovador Democnitico criado por RAMALHO

EANES;

- Ao inves, a derrota de FREIT AS DO AMARAL nao impediu o Par

-tido Social-Democrata de, urn ano mais tarde, em 1987, conseguir a

sua primeira maioria absoluta (ainda que a conjun~ao do Partido

Social-Democrata e do Centra Democnitico Social tanto em 1986

como ja em 1980 tenha servido para deslocar os votos uteis, do segundo para o primeiro);

- Finalmente, as duas vit6rias de MARIO SOARES em 1986 e 1991

nenhum beneffcio adicional trouxeram ao Partido Socialista, que

continuou na oposi~ao sem grandes possibilidades de altemativa de govemo.

11. Elei.;ao presidencial e semipresidencialismo

I - A elei~ao por sufragio directo e condi~ao necessaria, mas nao

sufi-ciente, de semipresidencialismo. Podera nao ser decisiva, desde que a

orga-niza~ao parlamentar dos partidos se lhe sobreponha e haja representa~ao

maioritaria e bipartidarismo (ou quase bipartidarismo) que levem a

Gover-nos homogeneos e duradouros, corn sede no Parlamento: nestas condi~6es,

toma-se o Primeiro-Ministro, chefe da maioria parlamentar, e nao o

Presi-dente da Republica, o elemento politico preponderante.

Tal como podera haver representa~ao maioritaria (embora a dois

tur-nos) e bipartidarismo ou, pelo menos, bipolariza~ao e ocorrer tendencia

inversa, por ser a maioria presidencial a deterrninar a maioria parlamentar

e, deste modo, vir o Presidente da Republica a ser o verdadeiro condutor

das duas maiorias.

0 primeiro caso e o da Austria, o segundo o da Fran~a, como se sabe.

Mas sistema semipresidencial s6 se encontra, por paradoxal que pare~a.

em duas hip6teses: ou quando nao haja maioria parlamentar ou quando

sejam distintas (mesmo se parcialmente coincidentes) a maioria

presiden-cial ea parlamentar. Na primeira hip6tese, verifica"se uma triparti~ao

per-feita de centros de poder; na segunda, urn dualismo de Presidente da

(23)

blica, por urn lado, e de Parlamento e Governo agindo em sintonia politica,

por outro lado (ao passo que tipico do parlamentarismo e, sob este aspecto, o monismo).

0 sernipresidencialismo afasta-se do presidencialismo, por conter urn

Governo separado do Presidente e urn Parlamento que o Presidente pode

dissolver; aproxima-se dele por excluir a solidariedade politica entre

Presi-dente e Parlamento - nao, evidentemente, a solidariedade institucional ou

colabora~ao (ou urn mfnimo de colabora~ao) nas fun~oes do Estado.

Afasta-se do parlamentarismo, por este reduzir a Presidencia a magistratura moral ou, quando muito, arbitral; aproxima-se do parlamentarismo, por

implicar uma comunica~ao permanente do Governo corn as Cfunaras.

11-No caso portugues, desde 1976, a correla~ao entre a situa~ao

pre-sidencial e a situa~ao parlamentar foi a seguinte:

a) Entre 1976 e 1979, e entre 1985 e 1987 nao houve maioria

parla-mentar (19

);

b) Pelo contnirio, houve maiorias parlamentares distintas do

Presi-dente da Republica em 1980-1983, 1983-1985 e ap6s 1987, e na

primeira fase deu-se mesmo uma frontal oposi~ao.

0 sistema tern funcionado, pois, ate hoje no ambito do sernipresiden-cialismo.

II - Em suma, o Povo portugues tern querido atribuir as elei~oes

pre-sidenciais e as parlamentares nao somente finalidades institucionais

diver-sas - a luz da interpreta~ao atnis mencionada das normas de competencia do Presidente, do Parlamento e do Governo- mas tambem conteudos poli-ticos predeterrninados.

Tern querido chegar, corn elas, a urn resultado politico especffico de

divisao de poder: divisao de poder entre aqueles 6rgaos, divisao de poder

entre partido e sociedade. Mas, assim fazendo, tern realizado, em larga

medida, os desfgnios dos constituintes de 1976.

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