Discurso pronunciado pelo Deputado Fernando de Fabinho (DEM/BA), em 4 de julho de 2007.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
No mês de maio o Primeiro Promotor de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público, Luciano Rocha Santana, denunciou irregularidades no Centro de Triagem de Animais Silvestres Chico Mendes (Cetas), administrado pela Superintendência Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) do Estado da Bahia. A denúnica foi formulada pelo próprio Ministério Público.
Mas o que mais chama atenção é que um órgão como o Ibama, que tem, presumivelmente, profissionais aptos a cuidar de animais silvestres, não consegue exercer suas funções de forma correta e competente e acaba sendo denunciado pelo Ministério Público por motivo de desleixo, inaptidão, ignorância e crueldade, com espécies de animais silvestres, indefesas, doentes e estressadas, por causa da maldade do homem.
Quero, tal qual o Ministério Público, denunciar, daqui desta tribuna, que o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama da Bahia não tem como receber animais silvestres vítimas de violência e tráfico, muito menos como tratá-los, a não ser tratá-los mal. E por quê? Porque os fiscais, bem como as gerências regionais do Ibama na Bahia, de acordo com o laudo de dois médicos veterinários de renome e do
próprio promotor, são incapazes de identificar corretamente
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as espécies que são apreendidas e as espécies que são enviadas pelas regionais para as Cetas de Salvador. Como pode acontecer um negócio desse? Como podem pessoas que cuidam de animais não saber quais as espécies que elas cuidam? É um fato surreal e seria cômico se não fosse trágico.
Além disso, Senhor Presidente, os fiscais preenchem as guias com o nome vulgar das espécies, por exemplo, de aves, o que acarreta confusão. Os nomes dos pássaros variam de região para região e, além do mais, muitos pássaros das mesmas espécies têm diversos nomes vulgares. É incompreensível, portanto, que um órgão respeitado como o Ibama se encontre nessa situação, até porque, com a luta pela preservação do meio ambiente que o mundo está envolvido, seria de esperar que funcionários e gerentes da instituição trabalhassem de acordo com as normas e mostrasssem, no mínimo, conhecimento de seus ofícios.
A verdade é a seguinte, Senhor Presidente, o Ibama da Bahia tem de sofrer uma intervenção, porque se não os animais que porventura tenham de ser recebidos e tratados nas Cetas correm, inexoravelmente, risco de morte, o que é um absurdo, porque os funcionários do Ibama são pagos para que os animais tenham suas vidas preservadas, por meio de tratamento, que somente homens e mulheres treinados podem aplicar. A sociedade não tolera mais esse tipo de situação. Ela é consciente e sabe que a vida, a natureza, os ecossistemas, os biomas, o meio ambiente não são apenas termos de ecologistas, mas sim realidades que refletem o nosso planeta, que é tratado como um depósito de lixo gigantesco, por causa da insensatez humana, que se baseia em uma visão míope, que a natureza e os recursos naturais tem somente o propósito de auferir lucro.
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8Senhor Presidente, vou elencar as irregularidades contra os animais observadas pelo promotor Luciano Rocha Santana nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas):
1.Instalações inadequadas, em péssimo estado de conservação;
2.Primatas aprisionados em gaiolas, que são utilizadas por criadouros para acondicionamento de pássaros, em dimensões absolutamente inadequadas, pois não respeitam o bem-estar dos animais;
3.Nos viveiros do Cetas, que foram objeto de perícia, constatou-se a inexistência de mecanismos que possibilitassem aos animais apreendidos a exposição ao sol, nas oportunidades em que os mesmos sentissem essa necessidade natural;
4.Os viveiros estão instalados em ambientes fechados e úmidos, o que concorre para que eles adquiram doenças, particularmente no aparelho respiratório;
5.Não foi detectado pela equipe pericial estoque de alimentos armazenados em quantidade suficiente para atender à demanda dos animais que lá se encontravam apreendidos;
6.A equipe pericial constatou a existência de viveiros improvisados;
7.Detectou-se, também, a existência de aves aprisionadas em quantidade excessiva, em gaiolas, que se encontravam, por sua vez, presas nas paredes de
viveiros, em situação inadequada;
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8.No viveiro onde se encontravam os primatas existiam acondicionados não-somente os primatas, como também aves de rapina e quelônios, todos enjaulados, porém no mesmo ambiente, com pouca luz e bastante umidade;
9.Foi detectado pela equipe pericial o acondicionamento de diversos animais, da espécie iguana iguana, em um tanque de plástico, utilizado para acondicionamento de água para abastecimento humano, demonstrando-se tal equipamento absolutamente inadequado, em desacordo com as práticas do bem-estar animal;
10.A equipe pericial verificou, em um dos viveiros, onde se encontravam várias aves da família psittascidae, a existência de uma contensão em madeira, onde deveria ter tela apropriada. Tais acomodações apresentavam grande quantidade do limo dentro e fora das instalações, a demonstrar falta de manutenção, o que põe em risco a saúde dos animais ali existentes;
11.Conforme estatística realizada, em face dos documentos objetos da perícia, em um universo de mil espécimes pertencentes à classe das aves e demais espécies animais, chega-se à conclusão que 2% representam fuga, 1,2% soltura e o índice de destinação a criadouros comerciais é de 17%.
12.Daí é possível se concluir que o cetas, de alguma forma, somente vem servindo aos interesses de criadouros comerciais.
13.Baseado ainda nessa estatística, de 1000 (animais) chega-se à seguinte conclusão: 80% óbitos, 1,2%
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8solturas indevidas, 2% fuga e 17% destinação a criadouros comerciais.
14.Outro fato que deve ser levado em conta é o incentivo à criação de animais silvestres “legalizados”;
15.Não existe em nenhum dos viveiros vistoriados qualquer sistema antifuga, facilitando, dessa maneira, fugas de animais que não pertencem ao bioma, possibilitando que animais doentes venham a ser introduzidos, por força de fugas, no bioma, contaminando aqueles do habitat;
Conforme o que foi vistoriado a equipe técnica concluiu que o alto índice de mortandade de animais, que foi informado nos documentos periciados, está diretamente relacionado às precárias condições do Cetas Chico Mendes, ante o manejo inadequado desses animais, a revelar, inclusive, desconhecimento sobre o comportamento e a identidade das espécies aprisionadas.
Senhor Presidente, Senhores Deputados, agora lhes pergunto: não é o caso de o Governo Federal verificar o que está acontecendo com o Cetas da Bahia? Além do mais, a sociedade, através do tempo, aperfeiço-se, torna-se mais humanitária, cria mais regras e, conseqüentemente, torna-se intolerante com irregularidades, violências, corrupção e falta de decoro com a coisa pública, bem como com as questões que envolvem o Estado.
O Ibama é órgão estatal. Pertence ao Estado brasileiro, portanto é coisa pública e por isso pertence ao povo, que paga impostos e exige que o Estado, em particular o Ibama, funcione com competência e trate melhor os animais. Pois que o Ibama trate de exercer suas funções de forma correta e
honesta.
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É tudo o que eu tenho para dizer no momento, Senhor Presidente.
Solicito que este discurso seja veiculado pela “Voz do Brasil” e publicado nos órgãos de comunicação desta Casa.
Muito Obrigado.
