TOQUE DA EXPRESSÃO: DANÇANDO NA COMUNIDADE
Andressa Aparecida Garces Gamarra Salem (UNICENTRO) – deh_salem@hotmail.com
Karina Schiavini (UNICENTRO) – karinaschiavini@yahoo.com Viviane Luísa Berger Silva (UNICENTRO) – viviluibs@hotmail.com Mariane Zarpelon (UNICENTRO) - marianezarpelon@yahoo.com.br
Área Temática da Extensão Universitária: Cultura Linha Temática da Extensão Universitária: Artes Integradas Palavras-chaves: dança; expressão corporal; comunidade; desenvolvimento; arte.
1. Introdução
O Projeto Toque da Expressão objetiva construir um elo entre a universidade e a comunidade, possibilitando que a dança traga benefícios para a população. A partir do contato com diferentes técnicas de dança, o projeto oportuniza a experiência de expressão e criação dos indivíduos por meio de movimentos corporais, propiciando o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, sociais e afetivas, bem como aprimorando sua expressão corporal, fomentando os processos de desenvolvimento das relações comunitárias.
Como estamos inseridos em uma comunidade, podemos dizer que comunidade se refere a um conjunto de pessoas residentes em uma determinada área geográfica, que possuem alguma atividade, interesse, objetivo ou função em comum. Essas pessoas podem ter, ou não, consciência de pertencimento a essa comunidade. Esta, ainda, pode apresentar múltiplas concepções ideológicas, culturais, religiosas, étnicas e econômicas (Pereira, 2001).
A área da Psicologia que busca entrar em contato, estudando e intervindo nas e com as comunidades é a Psicologia Social Comunitária (PSC). Esta busca empreender práticas que propiciem a transformação das relações sociais, objetivando que estas sejam erigidas e mantidas sob princípios que englobem a cooperação, a solidariedade e a igualdade (Freitas, 1996).
Desta forma, a Psicologia Social Comunitária, por meio do trabalho com grupos, colabora “para a formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos” (Freitas, 1996, p. 73). Para isso, busca a compreensão do psiquismo humano como derivado do meio social em que o indivíduo se insere, entendendo-o, assim, como um ser histórico e social (Góis citado por Ximenes, Paula & Barros, 2009).
A Psicologia Comunitária, então, atua a partir de uma investigação dos mais diversos arranjos macro e microssociais, construindo com os sujeitos processos de autonomização, sujeitos que não somente reagem às conjunturas sociais, mas que também atuam em sua sociedade e participam da construção da vida cotidiana. A partir desse viés, o psicólogo pode fortalecer as atividades já estabelecidas na
comunidade, como também criar, junto com ela, novas iniciativas (Ximenes, Paula & Barros, 2009).
Assim, pode-se compreender que o trabalho em Psicologia Social Comunitária deve sempre estar focado nas necessidades da comunidade, nas possibilidades existentes e nos principais objetivos a serem atingidos. Com isso, o profissional deve intervir sempre como um mediador, um facilitador da vida e das relações em comunidade, de maneira cooperativa e dialógica (Gobbi et al, 2004).
Para realizar nosso trabalho na comunidade utilizamos a dança, esta se apropria do corpo, o seu principal instrumento. Neste sentido, entende-se que cada corpo é único e potencial, ou seja, apresenta suas particularidades. Para que se possa explorar a potencialidade de cada um, é essencial que o indivíduo conheça seu próprio corpo, no sentido de perceber quais são seus limites, qual é a postura que o corpo assume no espaço, quais são os gestos que aparecem e que dão formas ao movimento, visando apreender a consciência corporal de si (Dascal, 2008).
A dança possui uma característica relacional. Ela pode configurar-se de maneira individual tanto quanto coletiva, mas essa configuração não extingue a relação orgânica entre indivíduos. De uma maneira ou de outra ela será sempre relacional. O grupo, ou seja, o coletivo permite a cada pessoa constatar as próprias limitações corporais e as limitações corporais do outro, bem como a potencialidade de si e do outro. Este espaço, então, possibilita a troca de informações, experiências e a reflexão de um crescimento pessoal a partir da relação com o outro e das diversidades. Ressalta-se ainda que a partir do momento em que alguém se relaciona com outro, este se modifica no plano subjetivo, por conseguinte relacional (Arce & Dácio, 2007).
Compreende-se que há desenvolvimento corporal e este poderá atuar sobre a saúde desses indivíduos. Além disso, pretende-se utilizar a dança como apoio cultural, entendendo-se que o ser humano deve possuir a oportunidade de se relacionar com a arte, auxiliando na constituição de sujeitos mais críticos e sensíveis a sua realidade social.
Como discorre Artaud (1999), a dança é um elemento fundamental para a exploração de signos que configuram os movimentos. Esses movimentos podem ser semelhantes, mas recebem diferentes significados de acordo com a história individual de cada um. Quando diferentes movimentos se juntam, eles podem se transformar em um conjunto de significados que configuram uma lógica, como fatos da vida cotidiana, ideias, angústias e aquilo que emerge. Tudo isso pode ser traduzido, significado e transformado em movimentos, por conseguinte, uma coreografia.
A dança é compreendida como um conhecimento e experiência para além do exercício físico, proporcionando aos participantes a experimentação com diversas formas de ver e sentir os movimentos numa relação consigo e com os demais. A possibilidade de trocar essas experiências permite que se coloque em análise a constituição de si na relação com o outro, olhando para a realidade de maneira mais crítica e sensível, pois trabalhamos a partir do processo grupal, desenvolvido no
decorrer dos encontros.
Podemos caracterizar a dança como uma manifestação artística corporal, parte integrante da nossa cultura e que vai se construindo e reconstruindo durante o processo de desenvolvimento da sociedade. O corpo é o símbolo da existência, uma vez que a existência se dá a partir das relações que estabelecemos com o outro e com o ambiente. O corpo que dança através dos movimentos não está determinado apenas pelos aspectos biológicos, mas sujeito às influências culturais e sociais (Dantas, 1996).
Acredita-se que as oficinas de dança permitem à comunidade entrar em contato com novas formas de conhecimento, que serão apropriadas por cada um de maneira singular, mas que poderá repercutir no desenvolvimento futuro do grupo participante.
2. Metodologia
O projeto O Toque da Expressão é conduzido por acadêmicas do curso de Psicologia e orientado por professores do mesmo curso e de Educação Física, o que permite pensar em diferentes perspectivas e discussões para as intervenções na comunidade.
O projeto começou a ser realizado na sede da Associação Coragem – uma associação de bairro da cidade de Irati (o local foi escolhido na tentativa de facilitar o acesso dos participantes, por ser um local inserido na própria comunidade), sendo a população beneficiada adolescentes com idade entre 12 a 18 anos, que tivessem interesse em participar das aulas de dança, sem necessariamente precisarem ter um contato prévio com a mesma.
No entanto, com a baixa participação no projeto este foi transferido para o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) do bairro Nhapindazal, trabalhando com crianças e adolescentes de 8 a 14 anos. Utilizamos diferentes recursos, tais como exercícios de alongamento, relaxamento, equilíbrio e concentração que trabalhem com a musicalidade e a harmonia do corpo. São ainda utilizadas técnicas básicas de diferentes modalidades da dança com base no reconhecimento da estrutura corporal e organização do movimento. As aulas são construídas com o suporte da exploração de movimento, sequências e composições coreográficas. Vale ressaltar que a experiência proporcionada vai além do puro exercício físico, servindo também como espaço para os participantes compartilharem as suas experiências com o corpo- movimento e com o que ele desperta, subsídios para problematizar as relações comunitárias.
Para a realização do trabalho foram delimitados encontros semanais, com duração aproximada de uma hora. As oficinas são pensadas a partir de um planejamento participativo, em que são oportunizados espaços para que os participantes expressem-se livremente em relação tanto aos aspectos trabalhados durante a oficina, quanto aos que eles sentirem necessidade de expressar. Isso possibilita a valorização de todos os participantes, dentro do coletivo e em suas singularidades.
3. Resultados Obtidos
Embora o Projeto na Associação Coragem tenha sido extinto devido à baixa participação que ocorreu devido a vários motivos (entre eles erros de comunicação entre oficineiros-participantes-associação), observou-se que estes tiveram uma boa participação no começo, onde se conseguiu transmitir uma possibilidade de expressão e um maior conhecimento à respeito da arte dos movimentos. Também se observou que a própria associação de bairro sentiu necessidade de uma maior aproximação com este grupo.
Quanto à atual configuração do projeto, acreditamos que ainda é muito cedo para mencionarmos resultados, já que a execução do projeto no PETI é ainda muito recente.
4. Consideração Finais
O projeto “toque da expressão” é um trabalho muito gratificante em relação a quem participa e principalmente a quem conduz, nele se observa um contato muito importante entre as crianças e os adolescente com a dança, com a expressao do seu proprio corpo e principalmente com as descobertas das possibilidades que o corpo oferece em suas diferentes expressões. Apesar do projeto no primeiro campo nao ter se estendido, proporcionou nas extensionistas muito conhecimento, o qual será transmitido para o atual campo e por esta razão as expectativas de que o projeto se firmará é grande.
5. Referências
Arce, C; Dácio, G. M. A dança criativa e o potencial criativo: dançando, criando e desenvolvendo. Revista Eletrônica Aboré – Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo – Edição 03/2007. Disponível em <http://www.revistas.uea.edu.br/old/abore/artigos/artigos_3/Carmen%20Arce%20e% 20Gabriela%20Dacio.pdf> Acesso em 24 out. 2012
Artaud, A. O Teatro e seu duplo. Trad. Teixeira Coelho. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Dantas, M. F. (1996). Dança: Forma, Técnica e Poesia do Movimento Na
Perspectiva de Construção de Sentidos Coreográficos. Dissertação (Curso de Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Dascal, M. (2008) Eutonia: O Saber do Corpo. São Paulo: Editora SENAC, São Paulo.
Freitas, M. de F. Q. (1996). Psicologia na comunidade, psicologia da comunidade e psicologia (social) comunitária: práticas da psicologia em comunidades nas décadas de 60 a 90, no Brasil. In: CAMPOS, R. H. F. Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis/RJ: Vozes.
Gobbi, M. D. et al. (2012) Intervenções psicossociais na comunidade de Canoas: uma proposta do Curso de Psicologia da ULBRA-Canoas. Aletheia, Canoas, n. 19, jun. 2004 . Disponível em
Pereira, W. C.C. (2001) Nas trilhas do trabalho comunitário e social: Teoria, Método
e Prática. BH: Vozes: PVC Minas.
Ximenes, V. M.; Paula, L. R. C. de; Barros, J. P. P. (2009) Psicologia comunitária e política de assistência social: diálogos sobre atuações em comunidades. Psicol.
cienc. prof., Brasília, v. 29, n. 4, dez. Disponível em <