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NIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO - FOP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEBIATRIA MESTRADO EM HEBIATRIA

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NIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO - FOP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEBIATRIA

MESTRADO EM HEBIATRIA

LENIZANE VANDERLEI CAVALCANTE

VIOLÊNCIA CONTRA ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA NO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO ECOLÓGICO

CAMARAGIBE-PE 2015

(2)

LENIZANE VANDERLEI CAVALCANTE

VIOLÊNCIA CONTRA ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA NO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO ECOLÓGICO

CAMARAGIBE-PE 2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Hebiatria da

Faculdade de Odontologia de

Pernambuco da Universidade de

Pernambuco, como requisito parcial do título de Mestre em Hebiatria.

Orientador: Profª Drª. Sandra Maria Vieira

Co-Orientador: Profª Drª. Lygia Maria Pereira

(3)

LENIZANE VANDERLEI CAVALCANTE

VIOLÊNCIA CONTRA ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA NO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO ECOLÓGICO

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Sandra Maria Vieira

Profª Drª Viviane Colares

Profª Drª Maria do R.de Fátima Brandão Amorim

CAMARAGIBE-PE 2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, como requisito parcial do título de Mestre em Hebiatria.

(4)

DEDICATÓRIA

A DEUS, pela fortaleza e graça que me acompanharam no decorrer deste caminho.

Agradeço por sua infinita misericórdia e amor incondicional.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por sua fidelidade, que é vista em cada detalhe da minha vida. Não tenho palavras para agradecer o quão bom Ele é para mim, sendo sua vontade boa, perfeita e agradável em quaisquer circunstâncias.

A minha mãe, Marivalda Vanderlei (In memorian) principal razão da minha luta pela Vida, agradeço por todo amor, carinho e lições que foram cruciais para a formação do meu caráter.

Ao meu querido esposo, Moisés Júnior, pela compreensão, pelo carinho e por toda contribuição na execução deste trabalho não só direta através do companheirismo na realização da tabulação dos dados, mas também indiretamente quando cuidava de nossa filha, enquanto eu me debruçava neste laborioso estudo.

A minha filha, Mariana, que surgiu durante esta caminhada e ao invés de dificultar tornou-se principal motivo de meu empenho e dedicação. Agradeço infinitamente a DEUS por ela existir e tornar o meu mundo melhor.

Ao meu irmão Natanael Neto, que mesmo distante geograficamente, faz parte de mim, agradeço a forte torcida por meu sucesso profissional

A minha avó Lenira Gomes, pelo exemplo de mulher batalhadora e vencedora, que faz eu almejar todos os dias as suas virtudes, agradeço pelo amor, pelo cuidado, pelas orações e intercessões.

Ao meu avó, Natanael Alves, por representar um homem de força, determinação, garra e humildade, características que me impulsionaram a galgar os objetivos da minha vida

As minhas amigas de trabalho e da Igreja que sempre mostraram-se presentes no que fosse preciso.

As amizades construídas na Pós Graduação, especialmente a Jakelline Cipriano e Karolyny Claudino, exemplos de parceria e afeto, agradeço pelo inquestionável companheirismo. A minha orientadora, Sandra Vieira e Co-Orientadora Lygia Pereira, agradeço por todas as contribuições durante a elaboração desse estudo

Ao pessoal da Secretaria Estadual de Saúde, em especial a Julyana Viegas da Diretoria Geral de Informações e Ações estratégicas em vigilância epidemiológica,, agradeço pela presteza com que me disponibilizou os dados, sempre que necessário.

Enfim, agradeço a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para realização desta pesquisa.

(6)

Violência não é um sinal de força, a violência é um sinal de desespero e

fraqueza.

(Dalai Lama)

(7)

RESUMO

CAVALCANTE, L.V. Violência contra adolescentes com deficiência no Estado de

Pernambuco: um estudo ecológico. 2015. 110f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de

Odontologia de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, 2015.

A violência contra adolescentes com deficiência tem amplitude mundial configurando um problema de saúde pública. Em Pernambuco, em 2010, uma proporção de 27,58% eram de pessoas com deficiência, superando o limite do planeta que é de 10%. Apesar dessa magnitude e da existência de dispositivos legais que assegurem os direitos dos adolescentes com deficiência, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Política Nacional de Saúde da pessoa com deficiência, a atenção a esse grupo, bem como estudos na área são ainda incipientes no Brasil, com pesquisas pontuais e ações desarticuladas. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a violência sofrida por adolescentes com deficiência no Estado de Pernambuco por mesorregiões. Tratou-se de um estudo epidemiológico ecológico de desenhos mistos com uso de dados secundários a partir dos casos registrados de violência física, psicológica, sexual e negligência no Sistema de Informação de Agravos de Notificação contra essa população específica. Os dados foram analisados por estatística descritiva e analítica através de frequências percentuais e relativas e do Teste de Qui-Quadrado e Exato de Fisher. Foram encontrados 289 casos de violência, dos quais 65,1% eram do sexo feminino, pardos (48,1%) com ensino fundamental incompleto (46,4%), a maioria (58,8%) residente na RMR, encaminhados para o setor saúde (58%) e com alta recebida em 61% dos casos. Foi evidenciado a existência de subnotificação dos casos e falhas nos registros relacionados a alguns campos de preenchimento. Acredita-se que as especificidades da região pode determinar de alguma forma, em alguns casos, a tipologia da violência, assim como o tipo de deficiência pode sugerir o tipo de agressão ou vice-versa. Conclui-se que a violência e a deficiência e a mesorregião de ocorrência da agressão possuem relação entre si, e por isso surge a necessidade de elaboração de estratégias específicas para cada segmento de adolescentes com deficiência levando em consideração as características loco-regionais visando fortalecer e melhorar a rede de atenção a saúde e proteção para essa população estigmatizada.

(8)

ABSTRACT

CAVALCANTE, L.V. Violência contra adolescentes com deficiência no Estado de

Pernambuco: um estudo ecológico. 2015. 110f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de

Odontologia de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, 2015.

Violence against adolescents with disabilities has world-wide by setting a public health problem. In Pernambuco, in 2010, a ratio of 27.58% were disabled, exceeding the limit of the planet that is 10%. Despite this magnitude and the existence of legal provisions that guarantee the rights of adolescents with disabilities, such as the Child and Adolescent and the National Health Policy of the disabled person, the attention to this group, as well as studies in the area are still new in Brazil, with specific research and disjointed actions. Therefore, this study aimed to evaluate the violence suffered by adolescents with disabilities in the state of Pernambuco by mesoregions. This was an ecological epidemiological study of mixed designs with use of secondary data from the recorded cases of physical, psychological, sexual and neglect in the Information System for Notifiable against this specific population. Data were analyzed using descriptive and analytical statistics through percentages and relative frequencies and the chi-square test and Fisher's exact test. We found 289 cases of violence, of which 65.1% were female, brown (48.1%) with incomplete primary education (46.4%), the majority (58.8%) living in RMR, referred to the health sector (58%) and high received in 61% of cases. The existence of under-reporting of cases and gaps in records related to some fields was noted. It is believed that the specificities of the region can determine in some way, in some cases, the types of violence, as well as the type of disability can suggest the type of aggression or vice versa. It follows that violence and disability and the aggression of the occurrence of middle region are related to each other, so there is a need to draw up specific strategies for each segment of adolescents with disabilities taking into account the local and regional characteristics in order to strengthen and improve the network of care and health protection for this stigmatized population.

(9)

LISTA DE QUADROS

Artigo 1

Quadro 1. Distribuição dos estudos que avaliaram a violência e os adolescentes

com deficiência.

37

Procedimentos Metodológicos

(10)

LISTA DE TABELAS

Artigo 2

Tabela 1. Distribuição dos casos notificados de violência segundo os dados de caracterização

por sexo, em Pernambuco, 2009-2013. 65

Tabela 2 – Avaliação do tipo de violência segundo as variáveis do estudo

em Pernambuco, 2009-2013. 68

Tabela 3- Casos notificados de violência segundo encaminhamento

realizadoa em Pernambuco, 2009-2013. 69

Tabela 4 - Casos notificados de violência segundo evolução do caso em Pernambuco,

2009-2013. 69

Artigo 3

Tabela 1. Distribuição dos casos notificados de violência segundo os dados de caracterização

por sexo, em Pernambuco, 2009-2013. 85

Tabela 2 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo a mesorregião do

local da agressão. 87

Tabela 3. Avaliação do tipo de deficiência dos adolescentes por

Mesorregiões de Pernambuco, 2009-2013. 88

Artigo 4

Tabela 1. Distribuição dos casos notificados de violência segundo os dados de caracterização

por sexo, em Pernambuco, 2009-2013. 102

Tabela 2 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência/Transtorno,

(11)

Tabela 3 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência

física, em Pernambuco, 2009-2013. 104

Tabela 4 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência mental, em

Pernambuco, 2009-2013. 105

Tabela 5 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência visual, em

Pernambuco, 2009 a 2013. 106

Tabela 6 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência auditiva, em

Pernambuco, 2009 a 2013. 107

Tabela 7 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo o tipo de deficiência outras, em

Pernambuco, 2009 a 2013. 108

Tabela 8– Avaliação do tipo de violência sofrida segundo transtorno comportamental, em

Pernambuco, 2009 a 2013. 109

Tabela 9 – Avaliação do tipo de violência sofrida segundo transtorno mental, em Pernambuco,

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Artigo 1

Fluxograma 1. Estratégia de busca utilizada. 36

Procedimentos Metodológicos

Figura 1. Mapa de Pernambuco por suas mesorregiões. 51

Figura 2. Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco 52 Fluxograma 1. Vigilância de Violências e Acidentes em Serviços Sentinela (VIVA) 53

Fluxograma 2. Fluxograma da notificação dos casos de Violência. 54

Artigo 2

Figura 1. Taxa de incidência de violência física em adolescentes com deficiência/ transtorno

em Pernambuco. 2009-2013. 66

Figura 2. Taxa de incidência de violência psicológica em adolescentes com

deficiência/ transtorno em Pernambuco. 2009-2013. 66

Figura 3. Taxa de incidência de violência sexual em adolescentes com deficiência/ transtorno

em Pernambuco. 2009-2013. 66

Figura 4. Taxa de incidência de negligência em adolescentes com deficiência/ transtorno em

Pernambuco. 2009-2013. 66

Artigo 3

Figura 1. Taxa de Violência contra adolescentes com deficiência no Estado de Pernambuco

por mesorregiões, no período de 2009 a 2013. 86

Figura 2. Distribuição da Violência psicológica em adolescentes com deficiência,

(13)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

OMS Organização Mundial de Saúde

MS Ministério da Saúde

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

CIDID Classificação Internacional de Deficiências incapacidades e desvantagens

CIDDM Classificação Internacional das Deficiências, Atividades e participação

BPC Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

SCIELO Scientific Eletronic Library Online

PUBMED Public/Publish Medline

DeCS Descritores em Ciências da Saúde

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

MYHS Inquérito de Saúde de Massachusetts Youth

YRBS US National Youth Risk Behavior

FUNLAR Fundação Municipal Lar Escola Francisco de Paula

CRIART Centro de Estimulação e Psicopedagogia

IFF Instituto Fernandes Figueira/ Fundação Oswaldo Cruz

RMR Região Metropolitana do Recife

SES Secretaria Estadual de Saúde

VIVA Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes

FIN Ficha Individual de Notificação

DEAM Delegacia de Atendimento a Mulher

CREAS-CRAS Centro de Referência da Assistência Social

IML Instituto Médico Legal

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

OR Odd Ratio

TDAH Transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade

Mat Merid. Mata Meridional

São Franc. São Francisco

Não Inf. Não Informado

Transt. mental Transtorno mental

Transt. Comp. Transtorno Comportamental

Def. outros Deficiências outros

(14)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 16

2. JUSTIFICATIVA 18

3. ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 19

4. REFERENCIAL TEÓRICO 20

4.1 Definições e Classificações da violência e deficiência 20

4.2 Dados Epidemiológicos 21

4.3 Adolescência e deficiência 23

4.4 Violência contra adolescentes com deficiência 26

4.5 Artigo de Revisão Integrativa da literatura (Artigo 1)

Violência contra adolescentes com deficiência: Uma revisão integrativa da literatura. 28 5. OBJETIVOS 43 5.1 Objetivo geral 43 5.2 Objetivos específicos 43 6. Materiais e Métodos 44 6.1 Delineamento do estudo 44 6.2 Cenário do Estudo 44 6.3 Fonte de Dados 46

6.4 População do estudo e período de referência 49

6.5 Variáveis do estudo 49

6.6 Coleta de Dados 50

6.7 Limitações do estudo 51

6.8 Considerações ético legais 51

6.9 Processamento e análise dos dados 51

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO 53

Artigo 2.

Caracterização dos casos de violência física, psicológica, sexual e negligência contra adolescentes com deficiência no Estado de

(15)

Pernambuco. Artigo 3.

Notificação de violência contra adolescentes com deficiência segundo mesorregiões no estado de Pernambuco.

73

Artigo 4

Relação entre os tipos de violência física, psicológica, sexual e negligência com os adolescentes que possuem deficiência no estado de Pernambuco.

91

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 112

9. REFERÊNCIAS 113

ANEXO A – Ficha de notificação/investigação individual de violência

doméstica, sexual e/ou outras violências

ANEXO B – Carta de anuência

(16)

1 INTRODUÇÃO

A violência no Brasil e no mundo é vista como um problema de saúde pública, devido aos altos índices de morbimortalidade. Segundo dados recentes do Relatório Mundial sobre a prevenção da Violência 2014, em 133 países, houve cerca de 475 mil pessoas assassinadas em 2012. Só no Brasil, ocorreram 64.357 assassinatos, representando o país com mais mortes em números absolutos. (WHO,2014). No entanto a problemática não se limita ao número de mortes, mas nas morbidades associadas, nas marcas psicológicas, emocionais e físicas decorrentes das ações violentas (MS,2013).

A Organização Mundial de Saúde (OMS), revelou que para um mês do ano de 2012 os serviços de emergência do Brasil registraram 4.835 casos de violência dos quais 91% eram vítimas de violência interpessoal, e destes estima-se que 55% eram adolescentes e jovens com idade entre 10 a 29 anos. (WHO,2014).

De acordo com estatísticas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), em 2011 foram registradas 39.281 atendimentos por violência na faixa de <1 a 19 anos de idade, representando 40% do total de notificações, dos quais 16.013 correspondiam a região Nordeste estando o Estado de Pernambuco com o maior número de atendimentos por esse agravo, cerca de 5.851 notificações. (WAISELFISZ, 2012).

A população de adolescentes é considerada uma das mais vulneráveis à violência por geralmente estar exposta a comportamentos de risco (MINAYO,2005). E ora são vistos como vítimas quanto como agressores, a depender da situação que estão expostos (WEISELFISZ, 2012). Considera-se que, o fato de fazer parte de uma hierarquia no qual os de menor idade são subordinados aos mais velhos, faz com que de alguma forma haja uma circunstância de violação de seus direitos, uma vez que os adolescentes sentem-se inferiores, especialmente nas relações de poder e moral (DE ABRANCHES; ASSIS, 2010).

Entre os adolescentes que se encontram em situações de vulnerabilidade para a violência, destacam-se os que têm deficiência, pois estes estão entre os mais estigmatizados e marginalizados do mundo, sendo expostos a preconceito, ignorância e limitada oportunidade de acesso à escola, ao emprego e à participação na vida em comunidade

(17)

(CAVALCANTE et al,2009). Além do que, algumas características próprias de certos tipos de deficiência podem ser facilitadoras de algumas ações de violência, como dificuldades de comunicação, falta de conhecimento em como se defender, pouca habilidade social e dependência excessiva de terceiros (RUZANY; MEIRELLES,2009). Logo, entende-se que as limitações específicas da deficiência, as dificuldades de autodefesa e as constantes violações de direito de pessoas com deficiência podem resultar em violência nas suas diversas naturezas (SILVA,2011).

Por mais que seja perceptível a relação da violência e deficiência, os estudos são ainda escassos e incipientes no Brasil, muito embora seja percebido que há uma tendência das pessoas com deficiência serem mais violentadas não se pode afirmar com exatidão, pois ainda não há clareza quanto a incidência quantitativa deste fenômeno (WANDERER,2012) .

Entretanto pode-se estimar a ligação entre ambos ao evidenciar que as crianças e os adolescentes com deficiência desde o nascimento correm um grande risco de discriminação por não projetar a imagem do filho sonhado, e com isso acabam por não receber os cuidados necessários que a circunstância lhe exige, tornando desde então vítima da situação. Não apenas pela imagem frustrada do filho almejado, mas também pelo fato de que em algumas situações, os relacionamentos conjugais pioraram e culpabilizam o indivíduo com deficiência desde cedo, transformando-os em possíveis vítimas de maus-tratos (BRASIL, MS, 2006).

Ressalta-se ainda que mediante uma revisão da literatura foi notório a limitação de trabalhos científicos brasileiros que tratassem da temática violência contra os adolescentes com deficiência, o que demonstra a necessidade deste e demais estudos direcionados a esta população. Sendo assim surgiu o interesse em conhecer a distribuição da violência e sua relação com a deficiência em adolescentes possuidores de deficiência no Estado de

(18)

2. JUSTIFICATIVA

Os dados epidemiológicos retratam a forte incidência de violência contra os adolescentes de uma forma geral. Porém, dentro deste segmento populacional, existe outro subgrupo que são extremamente vulneráveis a situações de violência, que são os adolescentes com deficiência. No entanto estudos que divulgam essa temática são ainda incipientes no Brasil, o que torna essa população ainda mais esquecida e estigmatizada, além de dificultar as ações estratégicas para essa população por desconhecimento das problemáticas que envolvem esse segmento específico. Dentro dessas considerações torna-se importante um estudo que explore as principais problemáticas que envolvem estorna-se grupo para fortalecimento e criação de políticas e ações estratégicas mais direcionadas às reais necessidades desses indivíduos, visando a melhoria da qualidade de vida, bem como redução da violência à uma gente que por si só já são fragilizados.

(19)

3. ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Essa dissertação foi estruturada no formato de quatro artigos. O primeiro artigo: “Violência contra adolescentes com deficiência: uma revisão integrativa da literatura”, foi elaborado a partir da busca sistemática sobre o tema violência e adolescentes com deficiência em três bases de dados eletrônicas, no período de 2007 a 2013. O mesmo artigo também contribuiu para o referencial teórico, representando um capítulo do mesmo.

O segundo, terceiro e quarto artigos remetem aos resultados propriamente dito do presente estudo, em que o artigo 2: “Caracterização dos casos de violência física, psicológica, sexual e negligência contra adolescentes com deficiência no Estado de Pernambuco”, retrata o perfil das vítimas, do agressor, do encaminhamento e evolução dos casos de violência. Já o artigo 3: “Notificação da violência contra adolescentes com deficiência segundo mesorregiões no Estado de Pernambuco”, apresenta-se em complemento do 2, em que mostra a ocorrência da violência em cada mesorregião do Estado e suas possíveis causas. No quarto artigo: “Relação dos tipos de violência física, psicológica, sexual e negligência e os adolescentes com deficiência no Estado de Pernambuco” buscou-se relacionar as possíveis associações entre cada tipo de violência com os tipos de deficiência.

Por fim, os três últimos artigos equivalem aos resultados e discussão da dissertação em questão.

(20)

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Definições e Classificações da violência e deficiência

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como:

“O uso intencional de força física ou poder real ou em ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade que possa resultar em ou tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação” (WHO, 2002, p. 5).

Um ano antes da OMS declarar em Relatório essa definição de violência, o Ministério da Saúde (MS) havia se pronunciado acerca do conceito de violência, através da Portaria MS/GM nº 737 de 16/5/2001 em um documento intitulado :“Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências” no qual considerava Violência: “ações realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam danos físicos, emocionais e espirituais a si próprios e aos outros” (BRASIL, 2001, p. 7).

Para Minayo (2005), ambas as definições até possuem semelhanças, mas não estão completas, faltou mencionar a negação, a omissão de cuidados, de socorro e de solidariedade como modalidades da violência, uma vez que também se concretizam como violação de direitos por representarem ausência de proteção e cuidados (BRASIL,2005).

Outra definição de violência, foi elaborada por Pfifer (2011), sendo a mesma direcionada a uma população específica, os adolescentes, no qual declara ser: “Toda ação ou omissão provocada por pessoa de maturidade física e psicológica mais adiantada, que venha a lhes provocar qualquer forma de dor” (PFIFER;ROSÁRIO;CAT, 2011 p. 478).

Mediante o conhecimento de todas as afirmações construídas acerca de violência nos parágrafos anteriores, ainda assim definir esse fenômeno é um evento complexo, em razão da subjetividade de cada vitimado ao interpretar o ato de violência, dos vários significados

(21)

que o evento pode trazer, além da polissemia e das controvérsias relacionadas ao modelo cultural dos povos. Sendo importante considerar a singularidade da vítima, assim como a percepção que a mesma tem da violência (MINAYO, 2001).

Mediante solicitação da Assembleia mundial de Saúde à OMS desenvolveu propostas de taxonomias para as tipologias da violência, sendo a mesma classificada em três categorias, segundo as características de quem comete o ato violento, sendo elas: Violência dirigida a si mesma (auto-inflingida), violência interpessoal e violência coletiva. Dentro de cada categoria ainda há subdivisões para expressar a peculiaridade de cada uma delas. Além da classificação por tipologia, existe também por Natureza da violência que são divididas em quatro modalidades: física, psicológica, sexual e envolvendo abandono, negligência ou privação de cuidados (WHO,2002). Será objeto do estudo em questão, essas últimas citadas, por isso demandar-se-à linhas em definí-las.

A violência de natureza física, segundo Pelisoli et al (2010) é aquela praticada com uso de força física de forma intencional, não acidental, objetivando ferir, lesar ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes em seu corpo e Violência psicológica como toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa, podendo também ser entendida como violência moral (PELISOLI, C; PIRES, J.P.M; ALMEIDA, M.E; DELL’ANGLIO,D.D. 2010).

Já a violência sexual, muito mais complexa que as demais é esclarecida como:

“Qualquer ato sexual, tentativa de obter um ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejados, ou atos direcionados ao tráfico sexual ou, de alguma forma, voltados contra a sexualidade de uma pessoa usando a coação, praticados por qualquer pessoa independentemente de sua relação com a vítima, em qualquer cenário, inclusive em casa e no trabalho, mas não limitado a eles” (WHO, 2002, p. 147).

A negligência, por sua vez apresenta-se como a ausência, ou recusa de cuidados necessários a alguém que deveria recebê-los, seria a omissão dos cuidados básicos (PELISOLI, et al, 2010).

(22)

4.2 Dados Epidemiológicos

No Brasil e no mundo tem crescido o número de morbimortalidade decorrente de causas externas (violências e acidentes) (BRASIL, 2011). Em 2000 estimou-se 1,6 milhões de mortes no mundo inteiro por causa de violência auto-infligida, interpessoal ou coletiva, sendo a maior parte ocorridas em países de baixa e média renda.

No ano de 2003, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Portugal ocupou o primeiro lugar nos casos de maus tratos a menores com desfecho de morte, numa lista composta por 27 países industrializados. (UNICEF, 2003) E em 2011 a situação não mudou muito, sendo encontradas 68478 situações de perigo à violência contra crianças e jovens, segundo dados da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR, 2012)

Enquanto isso, o Brasil em 2010, esteve entre os países mais populosos do mundo, porém emplacando primeiro lugar no número de homicídios. Um ano após, em 2011, foi registrado 52.195 óbitos/ano, o que significa 143 mortes a cada dia do ano. (WEISELFISZ, 2013). Esses números também são alarmantes quando se refere a população de crianças e adolescentes, que em 1980 representavam 6,9% das mortes por causas externas e em 2010 26,5% (WEISELFISZ, 2012).

Muito embora a violência homicida tenha se destacado em magnitude, a violência não fatal, porém debilitante também cresceu no Brasil, apesar de haver um viés de informação devido a subnotificação de casos (MS,2013).

A subnotificação de casos é um agravante não só no Brasil, mas em vários países do mundo, tendo em vista que nem sempre o desfecho da violência resulta em internação hospitalar e que por isso faz-se necessário a colaboração da vítima ou de alguém próximo para registrar o ato violento. Ademais o sistema de vigilância em violência em alguns países estão sendo implantados ou são muito novos (WHO,2002). No Brasil, por exemplo, no segundo semestre de 2008 com a inserção das notificações de violência no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), os casos passaram a receber uma atenção

(23)

maior, no que diz respeito a sua identificação, tornando-se de notificação obrigatória em todo o território brasileiro (MS,2013).

De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde, a respeito de violência doméstica, sexual e/ou outras violências, em 2011 foram computados 39.281 atendimentos na faixa etária de <1 a 19 anos de idade, representando 40% dos 98.115 que foram registrados. Sendo a maior incidência nos estados de Sergipe e Acre no que se refere a faixa etária de 10 a 14 anos, e o Amapá, Alagoas e Bahia os que ostentam os maiores índices na faixa de 15 a 19 anos. O sexo feminino predomina no atendimento por violência em todas as faixas etárias, segundo os números notificados e o tipo de violência mais cometido é a violência física com 40,5% do total de atendimentos de crianças e adolescentes com maior valor na faixa de 15 a 19 anos, em segundo lugar a violência sexual notificada em 20% com predomínio nas faixas de 5 a 14 anos, seguidas por violência psicológica 17% e negligência ou abandono 16% (WEISELFISZ,2012).

Esses dados mostram que as notificações de violência contra adolescentes tem crescido ao longo dos anos, não que seja fruto de um maior aumento na incidência das ocorrências, mas possivelmente por haver maior adesão dos registros por parte dos profissionais responsáveis e da sociedade como um todo, rompendo aos poucos o tabu do sigilo.

4.3 Adolescência e deficiência

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), adolescente é a pessoa que se encontra na faixa etária entre 10 a 19 anos, independente da maturidade e das variações individuais e culturais, considera-se apenas a idade cronológica (SILVA;SURITA). Este critério também é utilizado pelo Ministério da Saúde do Brasil (BRASIL, 2007a) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (BRASIL,2007b). Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) através da Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990 em seu artigo 2º considera

(24)

adolescente a faixa etária entre 12 a 18 anos de idade. O mesmo Estatuto dispõe sobre os direitos e a proteção integral de crianças e adolescentes, sendo penalizados na forma de lei o descumprimento legal de quaisquer condutas e orientações mencionadas na vigente lei (ECA,1990).

A adolescência é uma fase marcada por modificações biológicas e sociais, que se iniciam com as modificações corporais e findam com a inserção social, profissional e econômica na sociedade adulta (SILVA;SURITA,2012). Durante o processo de adolescer surgem sentimentos conflitantes advindos das modificações corporais, como períodos de negação, fuga, revolta, depressão, aceitação, timidez, apatia, urgência, conflitos afetivos, crises religiosas e erotismo exacerbado, no qual os mesmos experimentam essa fase possuindo uma mente infantil, mas em um corpo muito próximo ao adulto, o que possivelmente gera um sistema de vulnerabilidades (BRÊTAS, et Al, 2008).

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por amostra de domicílios (PNAD) realizada em 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil comportava 21 milhões de adolescentes nas faixas etárias de 12 a 17 anos, no qual 10.367.477 são meninas e 10.716.158 são meninos, divididos por um maior contingente residindo na região sudeste (38%) seguida da região nordeste (31%) (IBGE, 2009).

Os adolescentes são uma parcela da população que mais sofre com a violação de seus direitos, em decorrência de desigualdades e vulnerabilidades que limitam o seu desenvolvimento. Não são apenas as modificações fisiológicas e psicológicos que permeiam a transição da criança à fase adulta, mas a construção social, que está relacionada com o que foi construído até hoje pela sociedade, na multiplicidade de formas que pode ser vivida a adolescência, levando em consideração as diferentes experiências, a singularidade de cada um e os fatores externos que os rodeiam. O fato de ser menino ou menina, branco ou negro, pobre ou rico, baixa ou alta escolaridade com ou sem deficiência determinam as variadas vulnerabilidades em que comprometem o desenvolvimento pleno da adolescência e consequente violação de seus direitos (UNICEF, 2011).

No sentido de garantir a cidadania e os direitos das crianças e dos adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sancionado pela lei nº 8.069 de 13/07/1990

(25)

constitui-se em um documento legal no qual promove algumas obrigações para preservar os direitos dessa população, e em seu Título I artigo 5º dispõe sobre questões relacionadas a violência, tendo em vista ser este, um evento frequente nessa população, em que a mesma diz:

Art 5º “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”(ECA,1990).

Em relação à deficiência, a Organização Mundial da Saúde constata que cerca de 10% da população de um país, em tempos de paz, possui alguma deficiência (MS,2008). No Brasil, em 2010 o Censo Demográfico mostrou que 45 606 048 milhões de pessoas declararam ter pelo menos uma deficiência, correspondendo a 23,9% da população brasileira. Destes, 7,5% tinham de 0 a 14 anos, 24,9% de 15 a 64 anos e 67,7% mais de 65 anos. É válido ressaltar que esse aumento na proporção de deficiência em relação a idade está relacionado ao fenômeno do envelhecimento que tráz consigo limitações, como perda gradual da visão, auditiva e capacidade motora (IBGE,2010).

É importante salientar que o conceito de deficiência não é o mesmo para todos os Países. O Canadá e os Estados Unidos consideram pessoas com deficiência as que possuem alguma desvantagem e/ou dificuldade de desempenho funcional, enquadrando-se nesta definição o grupo de idosos e as pessoas com doenças crônicas potencialmente incapacitantes. (BRASIL,MS,2006)

Em 1989 a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou o registro da classificação Internacional de Deficiências, incapacidades e desvantagens (CIDID) no qual definiu deficiência como toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica; e a incapacidade como toda restrição ou falta, devido a uma deficiência da capacidade de realizar uma atividade na medida que se considera normal para

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um ser humano, e a desvantagem como uma situação prejudicial para um determinado indivíduo, em consequência de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função da idade, sexo e fatores sociais e culturais) (BRASIL,MS,2006).

Após quase dez anos, em 1997, a OMS reapresentou uma nova definição, denominada de Classificação Internacional das Deficiências, Atividades e Participação: um manual da dimensão das incapacidades e da saúde (CIDDM-2), no qual o termo incapacidade foi substituído por dificuldade no desempenho pessoal, pois aquele trazia a ideia de desqualificação social (BRASIL,MS,2006).

Atualmente, a mais recente modificação ao que se refere deficiência, ocorreu no âmbito do Benefício de Prestação continuada de Assistência Social (BPC) no qual o conceito de deficiência foi redefinido pela Lei nº 12.435/2011 que revogou o art. 20 inciso 2º da Lei nº 8.742/93, passando a vigorar a seguinte definição para os casos de concessão de benefício:

“I - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas; II - impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.” (BRASIL,2011).

É importante destacar, que há muitos anos houve um vazio de informações em relação as pessoas com deficiência, ficando essas esquecidas e relegadas a própria sorte, sendo excluídas de políticas públicas. É evidente que com o decorrer dos anos surgiram políticas de Inclusão Social e de melhoria da Sáude, bem como leis de proteção a esta população, no entanto depara-se com a resistência na execução de todas elas, sendo urgente que saiam dos documentos e sejam de fato implementadas (RIZZINI; MEDEIROS,2010).

(27)

Contudo, a problemática é maximizada ao envolver um subgrupo da população, os adolescentes, que por si só já são uma parcela frágil da população e quando titulados com deficiência o problema ganha magnitude. Essa mesma população de adolescentes com deficiência são considerados os mais estigmatizados e marginalizados do mundo, sendo expostos a preconceito, ignorância e limitada oportunidade de acesso à escola, ao emprego e à participação na vida em comunidade (CAVALCANTE et al,2009).

4.4 Violência contra adolescentes com deficiência

Existe uma forte relação da violência com a deficiência, tendo em vista que há todo um contexto histórico, social e psicológico envolvido. Quando nasce uma criança com deficiência, implica em uma grande repercussão no desenvolvimento comum da família (BRITO & DESSEN, 1999) e esta passa a viver momentos de conflitos sentimentais diversos variando desde o choque, ansiedade, culpa, tristeza, insegurança até mesmo a depressão. (GAIVA, et al, 2009).

Do ponto de vista psicanalítico um filho com deficiência gera conflitos internos para os pais, pois os mesmos idealizaram um bebê que surge totalmente diferente da alusão do filho perfeito sem defeitos. Há de início sentimentos inconscientes de ambivalência, negação e aceitação, sendo necessário um tempo para que haja o processo de luto pelo filho idealizado e aceitação pelo filho com deficiência concebido (GÓES,2006)

Há de se destacar que essa posição dos pais muito se relaciona a percepção de deficiência pela sociedade, que tráz a situação como uma tragédia, uma anormalidade e corroboram para que esses indivíduos tenham uma má qualidade de vida e dificuldades de inserção social. Por sua vez os pais temerosos do que vão enfrentar, por saber da dependência de cuidados e da estigmatização no qual viverá seus filhos, acabam por

(28)

demonstrar sentimentos de negativismo ao se deparar com a situação (FALKENBACH, DREXSLER & WERLER, 2008)

Alguns estudos epidemiológicos indicam que há maior probabilidade de pessoas com deficiência estarem expostos a violência. Todavia não é a deficiência em si ou o estresse psicológico por parte dos cuidadores, mas a combinação de fatores sociais, culturais e

econômicos, que gera um cenário social negativista sobre o problema

(MINAYO;CAVALCANTE,2009).

Por mais que seja perceptível a relação da violência e deficiência, os estudos são ainda escassos e incipientes no Brasil, muito embora seja percebido que há uma tendência das pessoas com deficiência serem mais violentadas não se pode afirmar com exatidão, pois ainda não há clareza quanto a incidência quantitativa deste fenômeno (WANDERER,2012) .

Entretanto pode-se estimar a ligação entre ambos ao evidenciar que as crianças e os adolescentes com deficiência desde o nascimento correm um grande risco de discriminação por não projetar a imagem do filho sonhado, e com isso acabam por não receber os cuidados necessários que a circunstância lhe exige, tornando desde então vítima da situação. Não apenas pela imagem frustrada do filho almejado, mas também pelo fato de que em algumas situações, os relacionamentos conjugais pioraram e culpabilizam o indivíduo com deficiência desde cedo, transformando-os em possíveis vítimas de maus-tratos (BRASIL, MS, 2006).

Ainda associa-se essa maior vulnerabilidade à violência contra adolescentes com deficiência a combinação de fatores de risco, como isolamento social, estigma, estresse psicossocial, dificuldade de acesso a serviços, a escola, e as limitações associadas a deficiência como impossibilidade de andar, de enxergar, de ouvir, de gritar e pedir ajuda e de discernir sobre o certo ou errado, em que as respostas familiares dependerão da interação desses fatores (CAVALCANTE et al,2009).

Em um estudo elaborado em uma população portuguesa de crianças e adolescentes sobre maus tratos e deficiência e/ou pertubações do desenvolvimento foi verificado uma forte associação entre essas problemáticas. Sobretudo na perpetração da violência, no qual

(29)

os pais estiveram entre os que mais maltratam, sendo a mãe biológica a que mais comete atos de violência. Contudo é válido ressaltar que na mesma pesquisa também foi avaliado a condição de saúde atual dos pais, assim como indicadores de desajustamento psicossocial, e notou-se evidências de problemas psicossociais graves, como abuso de substâncias e condições de saúde debilitadas tanto física quanto mentalmente, gerando um sistema familiar frágil, o que ao somar-se a presença de um filho com deficiência talvez seja um potencializador de um estresse adicional (CRUZ;ALBUQUERQUE,2013).

4.5 Artigo de Revisão Integrativa da Literatura.

Violência contra adolescentes com deficiência: uma revisão integrativa da literatura1 Violence against teens with disabilities: an integrative literature review1

Autores: Lenizane Vanderlei Cavalcante1; Sandra Conceição Maria Vieira 2 ; Lygia Maria Pereira da Silva3

1

Enfermeira. Mestranda do Programa de Hebiatria pela Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco. Camaragibe, PE, Brasil.

(30)

2

Docente do Programa de mestrado em Hebiatria/UPE. Doutora em Odontopediatria. - (Professora adjunta da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco. Camaragibe, PE, Brasil.).

3Doutora em ciências pela Universidade de São Paulo. - (Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem (FENSG) da Universidade de Pernambuco ).

E-mail:leni.vanderlei@gmail.com.

1

1

(31)

Resumo:

O objetivo deste estudo foi verificar a associação de violência contra adolescentes com deficiência. Fontes de dados: Revisão integrativa da literatura realizada no mês de Agosto de 2014 com busca nas bases de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PubMed (Public/Publish Medline), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) através dos descritores: violence, disabled persons, adolescent. Buscou-se responder a seguinte pergunta norteadora: Adolescentes com deficiência são mais vulneráveis a sofrer violação dos seus direitos, incluindo a violência? Os critérios de inclusão que nortearam a seleção da amostra foram: artigos científicos que abordassem a violência contra adolescentes com deficiência, disponíveis na íntegra, eletronicamente, redigidos nos idiomas inglês, português ou espanhol, e publicados entre 2007 a 2013. Os critérios de exclusão foram: pesquisas que não apresentassem resumo; não condizentes com o questionamento do estudo. Síntese dos dados: Foram encontrados 199 artigos dos quais, apenas nove enquadraram-se nos critérios de inclusão. Os artigos demonstraram associação significativa entre violência e adolescentes com deficiência. Conclusão: É necessário levar em consideração que os adolescentes por si só configuram-se elementos vulneráveis à violência e quando somado à deficiência o problema potencializa-se necessitando de maiores investigações na área para subsidiar e fortalecer as políticas públicas e as instituições governamentais ou não que lidam com esta parcela da população.

(32)

Abstract:

Introduction: Violence against children and adolescents has been identified as a public health problem, the high rates of morbidity and mortality. Apparently there are other groups more and less exposed to suffer violations of their rights, and teens with disabilities a population group vulnerable to such an event. The aim of this study was to investigate the association of violence in adolescents with disabilities. Methods: Integrative literature review conducted in August 2014 to search in databases: (Scientific Electronic Library Online) (Literature Latin American and Caribbean Health Sciences) LILACS, PubMed (Public / Publish Medline), SCIELO through descriptors: violence, disabled persons, adolescent. We sought to answer the following guiding question: Teens with disabilities are more vulnerable to suffer violations of their rights, including violence ?. Inclusion criteria that guided the selection of the sample were: scientific articles that addressed violence against adolescents with disabilities, available in its entirety, electronically, written in English, Portuguese or Spanish languages, and published between 2007 and 2013 Exclusion criteria were : research presented no summary; not consistent with the questioning of the study. Results and Discussion: 199 articles of which were found only nine fell into the inclusion criteria. The articles showed a significant association between violence and adolescents with disabilities. Conclusion: It is necessary to take into account that teens themselves constitute elements themselves vulnerable to violence and when added to the deficiency enhances the problem is needing further investigation in the area to support and strengthen public policies and governmental institutions or not that deal with this population.

.

(33)

Introdução

A violência no Brasil e no mundo é vista como um problema de saúde pública, devido aos altos índices de morbimortalidade. Só no Brasil, em 2011 foi registrado 52.198 vítimas de homicídio o que significa 143 mortes a cada dia do ano1. Entretanto o que causa preocupação por parte do Governo e comunidades não são apenas as vítimas fatais dos atos violentos, mas sim as que trazem consigo marcas psicológicas, emocionais e físicas dos diversos tipos de violência que existem2.

Uma das maiores incidências da violência tem sido evidenciada em grupos considerados mais vulneráveis, como aqueles que estão sujeitos a comportamentos de risco, especialmente os adolescentes 3 .Esses são vistos tanto como vítimas quanto como agressores, a depender da situação 4 .Acredita-se que a maior exposição desse grupo a violência se deve pela sua subordinação aos mais velhos, o que em alguma circunstância pode levar a violação dos seus direitos 5.

Entre os adolescentes que se encontram em situações de vulnerabilidade para a violência, destacam-se os que têm deficiência, pois estes estão entre os mais estigmatizados e marginalizados do mundo, sendo expostos a preconceito, ignorância e limitada oportunidade de acesso à escola, ao emprego e à participação na vida em comunidade 6 .Além do que algumas características próprias de certos tipos de deficiência podem ser facilitadoras de algumas ações de violência, como dificuldades de comunicação, falta de conhecimento em como se defender, pouca habilidade social e dependência excessiva de terceiros7 .Logo, entende-se que as limitações específicas da deficiência, as dificuldades de autodefesa e as constantes violações de direito de pessoas com deficiência resultam em violência nas suas diversas naturezas.

Tendo em vista que o assunto violência contra adolescentes com deficiência ainda é incipiente no Brasil por se tratar de uma população esquecida e estigmatizada, este estudo teve como objetivo analisar as evidências científicas sobre a temática, com vistas a contribuir

(34)

à ciência e à saúde pública na tomada de decisões governamentais ou não para este segmento populacional.

(35)

Metodologia

Com a finalidade de alcançar o objetivo proposto, o método de revisão integrativa da literatura foi selecionado para realização deste estudo. Esse tipo de pesquisa busca sintetizar as informações disponíveis em certo momento sobre um tema específico de maneira objetiva e reprodutível. Adotou-se, para tanto, a sequência das seguintes etapas: 1) Seleção da questão norteadora, na temática da revisão; 2) Determinação dos critérios de inclusão e exclusão dos artigos e seleção dos estudos para composição da amostra; 3) Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) Análise dos estudos que integram a amostra; 5) Interpretação dos resultados e 6) Relato da revisão. A busca foi realizada considerando a seguinte questão norteadora: Adolescentes com deficiência são mais vulneráveis a sofrer violação dos seus direitos, incluindo a violência? Os critérios de inclusão que nortearam a seleção da amostra foram: artigos científicos que abordassem a violência contra adolescentes com deficiência, disponíveis na íntegra, eletronicamente, redigidos nos idiomas inglês, português ou espanhol, e publicados entre 2007 a 2013. Os critérios de exclusão foram: pesquisas que não apresentassem resumo; não condizentes com o questionamento do estudo. A busca dos estudos aconteceu em junho de 2014, por meio do acesso online às seguintes bases de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PubMed (Public/Publish Medline), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online). A pesquisa se deu a partir das palavras utilizadas como descritores no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): Violence; Disabled persons; Adolescent.

Realizou-se o acesso online às bases de dados para busca dos estudos que compuseram a amostra pelo endereço eletrônico do portal de periódicos da CAPES, que seguiu a sequência resumida no fluxograma contido na Figura 1.

(36)

Figura 1. Estratégia de busca utilizada.

Como critérios de exclusão foram utilizados: artigos de revisão ou teóricos e que abordassem a temática na população em geral, que não adolescentes.

A seleção dos artigos foi realizada com a avaliação dos resumos previamente selecionados. O texto completo de cada artigo considerado para inclusão foi obtido, desta feita os estudos que preencheram os critérios estabelecidos foram considerados elegíveis para a análise final.

(37)

Resultados

Foram identificadas 199 publicações sobre a temática através da estratégia de busca definida, no qual 183 na Pubmed, 11 na Scielo e 5 no Lilacs. Após aplicação dos filtros restaram 101 referências para a realização da leitura dos resumos. A avaliação dos resumos mediante os critérios de inclusão e exclusão selecionaram os artigos finais. Dos quais foram descartados 58 artigos que estavam fora do objetivo do estudo, 33 por estar fora da faixa etária de 10 a 24 anos, ou aqueles estudos que não contemplavam de forma alguma adolescentes em sua amostra, 08 por se tratar de artigos de revisão e 2 repetidos.

Quadro 1. Distribuição dos estudos que avaliaram a violência e os adolescentes com

deficiência.

Autor/Ano País Amostra Método

Cavalcante,

F.G, et al,

20096

Brasil 53 estudos de caso.

Feminino e

masculino

Foi realizada uma análise

quanti-qualitativa de estudos de caso de crianças e adolescentes a respeito da violência em três instituições que atuam no campo da deficiência no Rio de Janeiro-RJ. Cavalcante,F.G; Minayo, M.C.S, 20098 Brasil 216 profissionais 99 familiares 10 gestores

Trabalho qualitativo realizado

por meio de grupos de

discussão, grupos de reflexão e

entrevistas semi-estruturadas

sobre o tema direitos e violência na área da deficiência em três

(38)

instituições do Rio de Janeiro-RJ Barros, R.D, et

al, 20089

Brasil 6 mulheres entre 18 a 50 anos

Pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevista em salas de aula de escola de educação

especial utilizando um

instrumento validado

desenvolvido para medir a habilidade de crianças pequenas

em reconhecer, resistir e

reportar o abuso sexual.

Mitra, M. et al, 2013.10

EUA Meninas e meninos

do ensino médio

com e sem

deficiência.

Foram analisados dados do

Inquérito de Saúde de

Massachusetts Youth (MYHS) em 2009, em 52 escolas públicas do estado.

Phasha TN,

Nyokangi D,

2012. 11

EUA 16 alunos do sexo

feminino com

deficiência intelectual leve

Pesquisa qualitativa com

entrevista em profundidade face a face e análise de documentos escolares. Anderson ML, Kobek Pezzarossi CM, 2012.12 EUA 97 alunas de graduação entre 18 e 25 anos surdas do sexo feminino

Pesquisa quantitativa realizada por meio de uma investigação preliminar de rotulagem de experiências de violência por parceiro íntimo. Jemta L1, Fugl-Meyer KS, Oberg K, 2008. EUA 141 crianças e adolescentes com

Estudo que incluiu entrevistas

(39)

13 idades entre 7-18 anos com deficiência de mobilidade

crianças e adolescentes com idades entre 7-18 anos com deficiência de mobilidade Alriksson-Schmidt AI1, Armour BS, Thibadeau JK. 14 EUA Adolescentes do sexo feminino

Usando dados da Pesquisa 2005 US National Youth Risk Behavior (YRBS), utilizou análises de regressão logística para estimar a associação entre a deficiência física (e outras variáveis) e o risco de violência sexual entre nós meninas do ensino médio.

Reiter, S.,Bryen, D.N.,Shachar, I., 2007. 15

Israel 50 Meninos e

meninas com idade entre 12 e 21 anos.

Investigação exploratória sobre a frequência e o tipo de Abuso de um Grupo selecionado de

Alunos com Deficiência

Intelectual de uma Escola Secundária de Israel. Por meio de um questionário chamado “Acabar com o silêncio”.

Discussão

Mediante a busca dos artigos científicos nas bases de dados no idioma inglês, acreditava-se encontrar um número maior de estudos na área em que envolvessem adolescentes. Foi visto que o tema geral violência em pessoas com deficiência é bastante

(40)

discutido, em contrapartida envolvendo apenas adolescentes esse número cai consideravelmente.

A pluralidade de locais onde os estudos foram realizados conforme aponta a metodologia dos artigos analisados, ratifica que as pessoas com deficiência em todo o mundo são mais susceptíveis a sofrer violência, seja por fatores associados ou pela deficiência em si.

O primeiro e o segundo artigo do quadro 1 fazem referência a uma mesma pesquisa que gerou dois estudos. Cavalcante et al, analisaram 53 estudos de casos da FUNLAR, CRIART e IFF, que são instituições localizadas no Rio de Janeiro que lidam com pessoas com deficiência no âmbito da promoção e reabilitação. Nesse estudo 47% dos casos foram vítimas de negligência, seguidas de 32% de abuso psicológico. Semelhantemente ao que fora encontrado no estudo de Zambom et al, no qual a negligência constituiu uma das formas de violência mais prevalentes contra os adolescentes.16

Isto pode ser explicado pelo fato de que as limitações físicas, a fragilidade física e orgânica preserva-os de outros tipos de violência, porém potencializa a negligência, tendo em vista que os adolescentes com deficiência são demandantes de muitos, persistentes e rotineiros cuidados.

Ainda no estudo de Cavalcante et al., o abuso físico e sexual foram menos frequentes em ambos os sexos, o que contradiz outras literaturas que mostram haver uma tendência dos meninos serem mais vitimados por abuso físico enquanto as meninas por abuso sexual. 17,18

No entanto é necessário analisar o método utilizado nas pesquisas, bem como a amostra e as variações de prevalência, pois estas podem influenciar nos resultados.

Para Faleiros, 2008, por exemplo, as diferentes formas de violência não são excludentes, mas sim cumulativas, no qual a violência sexual é também violência física e psicológica, e a violência física sempre é também psicológica, o que leva a entender que elas são associadas em si e que não se pode medi-las em separado, pois a medida que uma ocorre a outra está também sendo cometida.19

(41)

A mesma pesquisa de Cavalcante ainda mostrou que os deficientes mentais, comportamentais e com deficiências múltiplas foram alvos expostos a diferentes tipos de violência possuindo grande porcentagem em todas elas, fato este, que pode ser explicado pela própria inabilidade de defesa em diversas situações e atenção precária dos cuidadores.6

No segundo estudo de Cavalcante8, as três instituições que atendem crianças e adolescentes com deficiência demonstraram ser um sistema fragilizado, especialmente a que está próxima da favela, no qual os profissionais sentem-se ameaçados pela família e comunidade e acabam omitindo os casos de maus tratos e abuso no âmbito intrafamiliar gerando então um sistema mascarado e potencializador da violência. Outros estudos semelhantes a este também discutem sobre a dificuldade que os profissionais de saúde e educação enfrentam para notificar os casos de abuso no ambiente intrafamiliar, especialmente quando estes não se disponibilizam a fazê-lo20,21. Para Gonçalves e Ferreira22 umas das dificuldades dos profissionais em notificar violência seria a falta de preparo profissional, além de fatores de ordem pessoal dos profissionais, específicos de cada caso e pela estrutura dos serviços.22

O estudo de Barros et al9, que corresponde ao terceiro estudo do quadro 1, objetivou caracterizar as habilidades de proteção contra o abuso sexual em mulheres de 18 a 50 anos com deficiência mental, no qual foi visto que elas reconheceram situações que lhes colocam em risco para o abuso, no entanto eram incapazes de se retirar dessa situação, o que justifica dizer que as mesmas apresentam um déficit de habilidades de auto proteção. Este achado diverge do estudo de Bastos23, em que o mesmo verificou que por mais que o tema sexualidade em pessoas com deficiência tenha se difundido na mídia, ainda assim é um tabu, havendo sim, muito desconhecimento do assunto por parte dos adolescentes com deficiência, colocando-os em situação de vulnerabilidade à violência por não identificar situações de risco, sendo constatado pelo autor que é necessário urgentemente educação sexual para eles, numa tentativa de reverter a problemática. 23

O estudo de Anderson e Pezarross 12 (sexto do quadro) também diverge do de Barros et al e colabora para o de Bastos23, porém a amostra eram adolescentes surdas do sexo feminino, no qual verificou-se, que os comportamentos violentos vividos nos últimos anos

(42)

nas relações de namoro passados como agressão psicológica, física, coerção sexual e outros comportamentos violentos não foram identificados por elas, como abuso.

Somado a estes achados está o estudo de Jemta 13 que faz especulações acerca da sexualidade de crianças e adolescentes com deficiência de mobilidade, no qual o mesmo conclui que vários aspectos da saúde sexual desses indivíduos não são discutidos, e que por isso eles são expostos a violência, sendo também identificado como urgente e necessário, serviços de saúde sexual especializados para proteger os direitos sexuais deste grupo.

Ainda em relação a violência sexual, Phasha TN, Nyokangi D 11 realizaram uma pesquisa em adolescentes com deficiência intelectual, no qual viu-se que as meninas não estavam imunes à violência sexual em meio escolar, configurando uma violência de gênero tendo em vista os relatos das mesmas no qual mencionaram o toque indesejado nas partes íntimas, a intimidação e coerção para que namorassem os meninos que também tinham deficiência intelectual. Somado a isto, o estupro e a pornografia foram identificados como situações corriqueiras dentro da escola. Sendo muitas vezes relatado por elas o sentimento de impotência e de humilhação, constatando que as mesmas entendem o que acontecem com elas, semelhante ao que ocorreu no estudo de Barros et al.

Ainda sobre o estudo de Phasha TN, Nyokangi D 11, evidenciou-se que a instituição (escola) oculta-se em relação a esses fatos, primeiro por haver acordo entre os pais no que tange a permissão e desejo que suas filhas estejam emparelhadas com os meninos deficientes, numa tentativa de protegê-las da exploração sexual por homens não deficientes, e também por conveniência das escolas, que subsistem por meio de financiamentos e doações sendo conveniente não reconhecer esses casos como abuso. Isto mostra a dimensão da problemática, que não envolve apenas os que possuem deficiência, mas todos aqueles que de forma direta ou indireta lidam com essa população.

Mitra et al10 , que corresponde ao quarto estudo do quadro 1, em sua pesquisa com estudantes adolescentes do ensino médio verificou por meio de regressão logística bivariada e multivariada que há uma forte associação da violência no namoro em meninos e meninas com deficiência em relação aos sem deficiência, e que além disso, os que relataram ter sido vitimados no namoro eram mais propensos a relatar sentimentos de tristeza e desespero

(43)

por cerca de duas semanas, ideação suicida e uso de drogas em relação aos adolescentes com deficiência mas que não relataram violência no namoro.

Semelhante a este achado, o estudo de Alriksson-Schmidt AI1, Armour BS, Thibadeau JK14, também verificou que meninas adolescentes nos Estados Unidos com uma deficiência física ou problema de saúde pode estar em maior risco para a violência sexual, em comparação as adolescentes sem deficiência. O que também reitera para a pesquisa de Reiter et al15 em adolescentes com deficiência intelectual em uma escola secundária em Israel, no qual confirmou que os alunos com deficiência intelectual e outras, sofreram abuso com mais frequência do que jovens sem deficiência, sendo ambos de nível socioeconômico semelhantes. Esses achados demonstram que possuir alguma limitação os torna vulneráveis a quaisquer tipos de violência quando em comparado com os indivíduos sem limitações.

Conclusão

A revisão integrativa referente a violência contra adolescentes com deficiência tornou possível evidenciar o número de publicações no decorrer dos anos de 2007 a 2013 sobre a temática. Ficou claro que o assunto é incipiente no Brasil e em alguns países, dado que, violência em pessoas com deficiência no geral é um tema relativamente discutido, ao passo que ao introduzir adolescentes com deficiência como população do estudo houve uma redução significativa no número de publicações. No entanto foi possível observar que em detrimento aos adolescentes sem deficiência, os que possuem incapacidades ocupam um patamar de destaque e de consequências mais perigosas quando sofrem violência. Foi notório também, que a violência sexual, bem como o abuso e todas as formas de agressões relacionadas a sexualidade de adolescentes com deficiência foram os assuntos mais abordados na literatura pesquisada nesse estudo.

Todavia é necessário compreender que as pessoas com deficiência, sobretudo os adolescentes estão expostos a todos os tipos de violência, e que por isso faz-se necessário o desenvolvimento de muitas outras pesquisas que envolvam a temática deficiência, violência

(44)

e adolescente. Ressalta-se também a importância desse último termo na decisão da seleção dos artigos.

Por fim, os adolescentes no geral, figuram entre os elementos vulneráveis à violência e quando somado à deficiência o problema potencializa-se apresentando grande magnitude, sendo necessário maiores investigações na área para subsidiar e fortalecer as políticas públicas e as instituições governamentais ou não, que lidam com esta parcela da população, dita “esquecida”.

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Referências

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