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5. Comentário de Jl 2,12-18

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5.

Comentário de Jl 2,12-18

5.1.

A transição temporal e a fórmula do mensageiro: v. 12ab

“E, portanto agora, Oráculo de YHWH:”

Em Jl 2,12, tem-se o convite-imperativo de YHWH, que abre a possibilidade ao retorno em Jl 2,12c;13c;14a.259 A expressão †´Uµ”-µ„¸‡260 marca o

tempo que já está avançado, pois o yôm YHWH foi enfaticamente anunciado como próximo.261 No entanto, ainda reside uma esperança para quem realiza o retorno. Na força desta expressão, está o fator tempo, salientado pelo profeta, traduzindo talvez sua verdadeira intenção no chamado.

Observa-se que o uso da partícula µ„ está presente em todos os capítulos do livro de Joel (cf. Jl 1,12.18.20; 2,3.12; 3,2; 4,4), sendo que, a partir de Jl 2,3, esta partícula ocorre somente acompanhada da conjunção ‡ (µ„¸‡). As primeiras quatro citações estão dentro de um contexto negativo: a) Jl 1,12 – carência de alimentos e de frutos da terra; b) Jl 1,18 – sofrimento dos animais domésticos que não têm mais o pasto necessário para sobreviver; c) Jl 1,20 – o “clamor” dos animais selvagens pela água e pelas pastagens; d) Jl 2,3 – contexto de destruição, aparentemente, de uma invasão bélica. As últimas citações se inserem num contexto salvífico, ligado diretamente a ação de YHWH: a) Jl 2,12 – com uma conotação temporal, na qual YHWH convoca o povo de Judá-Jerusalém para um retorno; b) Jl 3,2 – onde YHWH promete derramar o seu espírito para todos os habitantes de Sião, mesmo os que estão em uma condição de servidão; c) Jl 4,4 –

259 O verbo ƒE em Jl 2,12 ocupa uma posição estratégica. A raiz é utilizada sete vezes em todo o

escrito, mas só neste versículo no qal imperativo plural, convocando categoricamente a comunidade à conversão não pelo profeta, mas pelo próprio YHWH. Esta fala é um elemento central no escrito (cf. L. A. FERNANDES, O yôm YHWH em Jl 2,1-11, p. 68).

260 A expressão †´Uµ”-µ„ é rara na Bíblia Hebraica, ocorrendo apenas 5 vezes (cf. Gn 44,10; 1Sm

12,16; 1Rs 14,14; Jó 16,19; Jl 2,12). Esta expressão, acompanhada da conjunção ‡ e seguida de uma fórmula oracular, ocorre apenas em Jl 2,12.

261 Esta partícula adverbial †´Uµ” é utilizada de forma análoga em Gn 26,29. 44,10; 1Sm 8,9; Jó

16,19; Ne 5,5 (cf. A. S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 81).

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uma reação de YHWH às nações estrangeiras que oprimiram o povo eleito. Deste modo, considerando o uso de µ„¸‡, parece que Jl 2,12 enfatiza um elemento positivo que se reafirma ao longo do livro de Joel.

Em Jl 2,12b, encontra-se o único emprego da fórmula oracular †´‡†¸‹-º‚¸’ em todo o escrito de Joel, enfatizando que a convocação vem do próprio YHWH.262 A única ocorrência de †´‡†¸‹-º‚¸’263

pode indicar que o profeta não pretende enfraquecer seu impacto através do uso indiscriminado, como ocorre em outros escritos.264 Este oráculo divino reforça a ideia de que YHWH inicia uma mudança decisiva no curso da história. Por isso, o convite para retornar com todo o coração pressupõe uma disposição imperativa e urgente, especificamente direcionado àqueles que dele se afastaram.

Outra expressão, que pode se relacionar com essa fórmula oracular, é š·A¹C †´‡†¸‹ ‹¹J, em Jl 4,8, onde a sugestão da autoridade divina reforça uma possível promessa, de que os judeus vendidos como escravos voltarão para sua terra natal e que seus opressores receberão o devido castigo, num ambiente hostil.

262 Am 5,14-15 também remete à validade de se realizar o retorno para YHWH, mesmo quando o

profeta vaticina um desastre iminente, pois a oferta de salvação vem do próprio YHWH (cf. J. BARTON, Joel and Obadiah, p. 77).

263 A fórmula º‚¸’ + nome, como genitivo, ocorre em 357 casos relacionados ao nome divino e

somente 8 vezes relacionado a um nome humano (cf. S. BRETÓN, Vocación y Misión: formulario

profético. Roma: Editrice Pontifício Istituto Bíblico, 1987, p. 213).

264 Ageu e Zacarias, por exemplo, utilizam em seus discursos a fórmula œŸ‚´ƒ¸˜ †´‡†¸‹ º‚¸’ (cf. Ag

1,9; 2,4.8.9.23; Zc 1,3.16; 3,9.10; 5,4; 8,6.11; 13,2.7) e œŸ‚´ƒ¸˜ †´‡†¸‹ šµ ´‚ †¾J (cf. Ag 1,2.5.7; 2,6.11; Zc 1,4.14.17; 2,12; 3,7; 6,12; 7,9; 8,2.4.7.19.20.23). Joel se assemelha a Oseias, que faz pouco uso das formas oraculares que normalmente marcam a palavra profética. Habacuc é uma exceção, porque em sua forma literária estas expressões estão ausentes (cf. J. CRENSHAW, “Who Knows what YHWH will do? The character of God in the Book of Joel”. In: A. B. BEEK-A. H. BARTELD-C. A. FRANKE (ed.), Fortunate the Eyes that See. Cambridge: Eerdmans Publishing Co., 1994, p. 185-196). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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5.2.

Convocação de YHWH através de ritos penitenciais: v. 12c-13b

“Voltai a mim com todo vosso coração, com jejum, com lágrima e com lamento; e rasgai vossos corações

mas, não vossas vestes.”

A expressão ¶#¸ƒµƒ¸$-$´#¸A ‹µ…´” Eƒº explicita uma relação de proximidade, não denotando qualquer ideia de reprovação da parte de YHWH, ao contrário, confirmando o seu desejo de predileção e intimidade. Por isso, YHWH simplesmente quer que seu povo o descubra novamente como seu Deus. Esta forma imperativa torna-se assim, uma palavra divina explícita, que aguarda uma resposta do povo.265

Diante de uma crise devastadora, a comunidade enfrenta situações extremas como a falta de chuva, a seca, a improdutividade do solo, a invasão dos gafanhotos, o sofrimento, a morte dos animais do campo e a impossibilidade de se oferecer dons no templo. Percebe-se uma grande e generalizada crise que assola todas as esferas da vida do povo de Judá-Jerusalém. Este quadro de caos social gera uma “reação negativa” de apatia, demonstrando a falta de esperança numa transformação da situação. A reação do profeta é positiva, porque confia na presença e ação de YHWH, e encontra nelas a força necessária para acreditar na reversão desta realidade social. Tal esperança é caracterizada pela abertura do oráculo profético, que descreve o chamado para o retorno do povo, feito pelo próprio YHWH, na voz do profeta. 266

265 A expressão …µ” ƒE, “voltar até” ou “retornar para”, também é utilizada em Am 4,6; Dt 4,30;

30,2; Is 19,22; Os 14,2; Jó 22,23; Lm 3,40. A construção $¶‚ ƒE encontra-se presente nos círculos cúlticos e proféticos como em Jr 3,7. 4,1; Os 5,4; Jl 2,13; Sl 22,28 (cf. A.S. KAPELRUD, Joel

Studies, p. 81- 82). Ahlström declara que ‹µ…´” Eƒº é mais enfático do que $¶‚ ƒE, e indica que o

povo estava cultuando outros deuses e não YHWH. A importância que o profeta dá para o arrependimento do povo, por meio de um culto correto envolvendo jejum, lágrima e lamento, com a esperança de que os sacrifícios diários fossem restaurados, sinaliza que o povo praticava algum outro tipo de culto direcionado a outro deus, já que, não se pode acreditar num culto sem deus no templo de Jerusalém (cf. R. SIMKINS, Yahweh’s Activity in History and Nature in The Book of

Joel, p. 181).

266 Joel acolhe, assim como em Is 1,11-17, Os 6,6 e Am 5,21-24, uma observância ritual. Esta, no

entanto, não seria suficiente, porque deve existir uma reorientação interior para YHWH. O verdadeiro arrependimento não muda simplesmente a aparência exterior da pessoa, mas precisa mudar também o seu interior (cf. B. C. BIRCH, Hosea, Joel and Amos, p. 145).

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Deste modo, evidencia-se que o primeiro passo para a restauração da vida da comunidade parte de YHWH e que o profeta representa a força necessária para despertar no povo o desejo desse retorno, que seria, em primeira instância, o desejo divino.

A convocação, diante da situação de crise apresentada, explicita que o yôm YHWH não pode ser entendido, neste contexto, como uma força devastadora para o povo, mas uma ação salvífica, de restauração. Não se poderia esperar que YHWH desejasse punir um povo que já estava enfrentando uma situação tão adversa. Assim, a convocação do profeta é um chamado de esperança, com a intenção de despertar, nos interlocutores, uma mudança na situação de inércia. Pode-se compreender que a fala do profeta é um meio para gerar no povo a disposição de uma transformação interior. Na palavra de YHWH, está a força para fecundar primeiro o interior dos corações humanos e, depois, devolver a abundância da vida na natureza.

Esta declaração inicial introduz um chamado divino ao povo, “voltai a mim com todo vosso coração” (v. 12) 267 então, “voltai para YHWH, vosso Deus” (v. 13). O povo é assim convocado a realizar um processo de retorno. O verbo ƒE, aqui utilizado, denota uma reorientação da fé para YHWH. Portanto, uma nova orientação está sempre buscando uma nova resposta.268 Expressões e gestos exteriores, que retratam um estado interior contrito, são sempre aceitos e válidos.269 No entanto, a ênfase do profeta reside nos gestos exteriores que estejam condizentes com a realidade, pois Deus sempre olha o interior do coração (cf. 1Sm 16,7).270

267 O apelo inicial de YHWH ao povo, “¶#¸ƒµƒ¸$-$´#¸A ‹µ…´” Eƒº” tem a ver com uma formulação da

mensagem da História Deuteronomista (Dt 4,29-31). Jl 2,12c utiliza uma formulação semelhante a Am 4,6-11; Os 3,5; 14,2; Jr 3,10; 24,7, para expressar o chamado ao arrependimento ou a volta para YHWH (cf. H. W. Wolff, Joel and Amos, p. 48; M. A. SWEENEY, The Twelve Prophets, p. 164).

268 Cf. B. C. BIRCH, Hosea, Joel and Amos, p. 144. Simkins observa certa semelhança entre Joel e

o Dêutero-Isaías, pois prometem libertação, mas não mencionam qualquer pecado: em ambos os textos, “retornar para YHWH”, não significa “arrepender-se de seus pecados” (cf. J. BARTON,

Joel and Obadiah, A Commentary, p. 77).

269 Pode parecer que somente com jejum, com lágrima e com lamento, se determina o objeto da

conversão do coração ao Senhor (cf. G. BERNINI, Sofonia, Gioele, Abdia, Giona, p. 152). No entanto, a mudança exterior, por si só, não pode determinar o retorno de YHWH (cf. Jl 2,13ab).

270 Cf. J. M. BOICE, “Torn Hearts, Torn Garments”. In: The Minor Prophets, Michigan: Baker

Books, 1983, p.132. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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O profeta nada menciona sobre a realidade do pecado do povo de Judá-Jerusalém, como não faz referência a qualquer exigência ética de YHWH sobre seu povo.271 Isto realça a compreensão do sentido básico de “retornar” como “voltar para YHWH”, suplicando por ajuda num tempo de crise, ao invés do “retornar” na expectativa de perdão por um pecado cometido.272

Ao expressar seu convite de retorno,273 de forma enfática em 1ª pessoa,

YHWH quer que isto aconteça com um coração indiviso em todo o seu povo. Uma ação sem reservas deve ser considerada, porque não seriam suficientes somente os ritos individuais. O retorno a YHWH torna-se, assim, uma exigência pessoal e fortemente comunitária, porque a entrega do coração deve ser total e sinal de quem vive da sua fé.274

Os vocábulos ƒ·$/ƒ´ƒ·$ corresponderiam ao órgão que chamamos de “coração”. 275 Na prática, não há diferença semântica entre ƒ·$ e ƒ´ƒ·$ (cf. 1Sm 6,6; 1Cr 12,39; Ez 28,2; 2Cr 12,14; Jz 19,6) e os dois vocábulos parecem ser sinônimos e totalmente permutáveis.276 O AT raramente usa o termo para designar o coração como um órgão físico.277 Às vezes, ƒ·$ é utilizado na ausência de um

271 Não se tem ideia de como o profeta entendia o pecado do povo e que tipo de pecado a

comunidade de Judá-Jerusalém devesse se arrepender. Tem-se sugerido que o escrito de Joel foi elaborado para uso litúrgico, e assim a comunidade dentro de um contexto mais amplo, poderia identificar seus próprios pecados numa convocação para se arrepender (cf. B. C. BIRCH, Hosea,

Joel and Amos, p.144). O apelo não identifica pecado algum da parte do povo mas, a base para

este apelo está expressa através da declaração do profeta “porque ele é gracioso e compassivo, lento na ira e pleno de amor e se compadece da desgraça” (cf. M. A. SWEENEY, The Twelve

Prophets, p. 164-165).

272 Cf. D. E. GOWAN, Theology of the Profhetic Books, p. 182. 273 “Retornar” (para YHWH) seria uma expressão familiar nos oráculos proféticos. Em Am 4,6-11

há uma série de desastres semelhantes aos descritos em Joel, que falharam em fazer o povo “retornar” para YHWH. Havia uma cultura compartilhada, não restrita aos profetas, que um tempo de crise produziria um “retorno” para o Deus nacional. Assim, deve-se ter prudência em traduzir ƒE por “arrepender-se”. O que se discute aqui não seria uma lamentação nacional por algum pecado que levou a intervenção dramática de YHWH contra seu povo, mas simplesmente uma “volta para YHWH” em forma de súplica num tempo de crise e dificuldade. Esta volta seria acompanhada pelos sinais tradicionais dos ritos de lamentação: jejum, lágrima e lamento e o rasgar das vestes (cf. Cf. J. BARTON, Joel and Obadiah, A Commentary, p. 77).

274 Esta expressão também é característica em Os 14,2s; Jr 3, 12.14.22; Zc 1,3; Ml 3,7.

275 O chamado ao arrependimento em Jl 2,12 é mais específico pelo uso da expressão ¶#¸ƒµƒ¸$-$´#¸A.

Israel precisa voltar para seu Senhor com a totalidade de seu coração. Esta expressão combinada com Eƒº é uma fórmula convencional que ocorre somente uma vez na literatura profética, embora existam outros exemplos na história Deuteronomista (cf. Jr 24,7; 29,13) (cf. W.S. PRINSLOO,

The Theology of the Book of Joel, p. 57).

276 Cf. H. -J. FABRY, “ƒ·$/ƒ´ƒ·$”, TDOT, p. 407- 411.

277 Em 2Sm 18,14; 2Rs 9,24; Sl 37,15; 45,6, o vocábulo coração denota parte do corpo que pode,

por exemplo, se atingido por flechas, sem necessariamente causar a morte da pessoa (cf. H. -J.

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vocábulo hebraico para peito ou tórax (…´). As passagens que tratam do vocábulo “coração” em Jr 4,19; 23,9 e Is 1,5; 57,15 são mais no sentido de emoção, de excitação ou doença, do que uma descrição fisiologicamente exata do órgão. Assim, seria equivocado interpretar ƒ·$/ƒ´ƒ·$ literalmente como “coração”. Pode-se definir ƒ·$/ƒ´ƒ·$ como o ponto central, o núcleo de algo no sentido de mais importante. O vocábulo ƒ´ƒ·$ é utilizado em Jl, Jn e Ag, nos quais não se encontra o termo ƒ·$.278

Muitas vezes a interpretação do vocábulo ƒ´ƒ·$ é metafórica. Dentre as interpretações que mais se confundem com o coração estão o “sopro”, a “respiração”, o “pulso” e o “próprio sangue”. Sede dos mais variados sentimentos, a alegria em particular, o coração é apresentado como um centro da personalidade humana. A tradição judaico-cristã distingue então dois corações: o coração-órgão e o coração-centro.279

Mediante o convite-imperativo de YHWH, depreende-se que a intenção está voltada para o mais íntimo do ser, isto é, o coração-centro. O apelo para voltar com todo coração também estabelece a natureza desta volta, especificando que deve acontecer com as práticas externas tradicionais: jejum, lágrima e lamento, mencionadas também em Jl 1,13-14.280 O uso destas práticas exteriores mostra que o profeta valoriza as manifestações da vida religiosa.281

FABRY, “ƒ·$/ƒ´ƒ·$”, TDOT, p. 411; H. W. WOLFF, Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2007, p. 84).

278

Segundo J. L. CRENSHAW (Joel, p. 135) o uso de ƒ·$ pode expressar uma nova relação com YHWH (cf. Ez 36,26; Jr 31,33), assim como revelar a dureza do coração da nação, que resiste aos seus ensinamentos (cf. Zc 7,12).

279 Cf. E. E. de MIRANDA, Corpo Território do Sagrado. São Paulo: Edições Loyola, 2010, p.

151.

280 Joel utiliza-se de expressões de padrão cúltico encontradas também em Est 4,3

(…·P¸“¹ E ‹¹#¸ƒE Ÿ˜¸‡), precedida por forte lamento ($Ÿ…´B $¶ƒ·‚) e seguida pela expressão “pano de saco e cinzas” (š¶–·‚´‡ ™µ.). O quádruplo uso da preposição A em Joel contrasta fortemente com a linguagem usada em Ester. Em Zc 7,5 os verbos “jejuar” e “murmurar” também aparecem juntos (…Ÿ–´“¸‡ ¶U¸ µ˜-‹¹J) (cf. J. L. CRENSHAW, Joel, p. 135; M. A. SWEENEY, The Twelve Prophets, p. 164.).

281 A conversão é um ato do espírito. Antes de tudo, consiste na tomada de consciência de uma

decisão que zela pela verdade. O “coração”, de fato, é a sede da razão e do intelecto, não de maneira abstrata, mas da maneira que a vontade se dobra à luz da inteligência. O “coração” é a sede dos sentimentos - com jejum, com lágrima e com lamento se determina o objeto da conversão do coração ao Senhor (cf. G. BERNINI, Sofonia – Gioele – Abdia – Giona, p. 151-152).

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O jejum aparece relacionado com a penitência e pode-se considerá-lo um rito bastante antigo. Durante a época dos reis, o jejum manifestava a penitência de forma ritual (cf. Jr 14,12; Esd 8,21-23; Jn 3,3; 4,11).282

O pranto também era parte do rito de penitência e lamentação (cf. Jz 20,23.26; Ml 2,13). A raiz †#A ocorre diversas vezes em Jeremias, que também fala de pranto (cf. Jr 3,21; 9,9; 13,17; 22,10). Desde os tempos mais remotos, prantear fazia parte dos ritos de lamentação (cf. Jz 20,26; Zc 7,3-5; Esd 10,1). Na literatura bíblica, a lamentação aparece em conexão com o ritual fúnebre (cf. Jl 2,12d; Gn 50,10).283

O jejum, normalmente, exige total abstinência de comida, e, algumas vezes de bebida, realizadas como observância religiosa e também como um apelo a YHWH. O verbo E˜ ocorre somente no qal na Bíblia Hebraica, com sentido de abster-se de comida. O substantivo Ÿ˜ designa o ato de jejuar como uma observância pessoal (cf. 1Rs 21,9.12), uma cerimônia religiosa (cf. Jl 1,14; 2,15) ou a condição comunitária de estar em jejum (cf. Ne 9,1). O jejum expressa a autonegação, a fim de declarar a realidade de YHWH e a soberania da sua lei. Também poderia ocorrer com certos propósitos: para suplicar pelo livramento da tribulação, em favor de si mesmo ou para suplicar a YHWH por livramento de catástrofe natural, como da fome (cf. Jl 1,14), da derrota militar (cf. Jl 2,15-20), ou para o livramento do perigo físico de outros (cf. Est 4,16). O ato de jejuar também pode vir acompanhado de chorar, lamentar, usar panos de saco e cinzas, abnegar-se e não trabalhar (cf. Ne 9,1; Jl 2,12.15).284

O pedido de jejum, de lágrima e de lamento em Jl 2,12 torna-se mais relevante porque isto já é uma realidade na vida do povo. A comunidade vivia numa situação de carência de bens materiais e de víveres, retratada na ausência de ofertas para o templo. Portanto, o jejum, a lágrima e o lamento já tinham se tornado uma prática involuntária, pelo próprio contexto desfavorável. Desta forma, estes gestos são redirecionados com um sentido religioso, como “ofertas do coração”, traduzindo uma sincera entrega de suas vidas a YHWH.285

282 Cf. L. A. FERNANDES, Jonas. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 23-24. 283 Cf. A. S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 83.

284 Cf. R. J. WAY, “Ÿ˜”, NDITEAT, p. 776-777.

285 Cf. L. A. FERNANDES, O yôm YHWH em Jl 2,1-11, p. 57-58.

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Num contexto de lamentação individual ou nacional, pode existir um protesto de inocência por parte daquele que sofre. Quando se está diante de um sofrimento não merecido, isto torna a angústia ainda mais dolorosa, pois o sofredor não compreende o motivo para tal provação. No livro de Joel, isto parece ser evidente, uma vez que não há referência a alguma desobediência ou a algum pecado do povo, que conduzisse a uma punição. Assim, a convocação para voltar a YHWH em Jl 2,12-14 não acontece por uma atitude de arrependimento, mas como única fonte de socorro no tempo de crise. Este chamado serve para expressar a grande dependência do povo em um Deus compassivo e libertador.286

O profeta, por causa de sua atitude cúltica, usa o termo ƒE no sentido de “voltar para YHWH” de acordo com as prescrições religiosas. Ele enfatiza a necessidade de se voltar para YHWH com todo o coração, pois não era tão necessário rasgar as vestes, como já era hábito nos ritos de murmúrio e penitência, mais necessário seria rasgar os corações (cf. Jl 2,13).287

O rasgar das vestes era uma expressão de grande emoção, de aflição ou de temor, que marcava especialmente as ocasiões de profunda angústia e de situações de catástrofes.288 Geralmente, diante dos grandes infortúnios, as pessoas rasgavam suas vestes externas para expressar um estado emocional desordenado e usavam panos de saco e cinzas, como manifestação exterior de pesar.

A raiz ”š™ é utilizada na literatura bíblica para expressar a ação física ou metafórica de “rasgar”, especialmente para “rasgar em pedaços”, “rasgar roupas” em caso de luto, uma ação que era parte dos ritos de lamentação. Também, em ocasião de desordem mental, roupas eram rasgadas como manifestação exterior de uma angústia interior.289

Em Os 13,8, por exemplo, o verbo encontra-se associado ao vocábulo ƒ·$ com um sentido negativo de “rasgar o peito ou o coração”; em Is 37,1, o verbo

286 Cf. G. S. OGDEN, Joel 4 and Prophetic Responses to National Laments, p. 105. 287 Cf. A.S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 82.

288 Esta expressão encontra-se com um sentido semelhante também em Gn 37, 29.34; 44,13; Nm

14,6; Jz 11,35; 1Rs 21,27; 2Rs 5,7.8; Esd 9,3; Est 4,1. Ez 36,26 e Zc 7,12 falam de “coração” com um sentido figurativo (cf. S. R. DRIVER, The Books of Joel and Amos. London: Cambridge University Press, 1915, p. 57).

289 Como um ritual de lamentação e uma expressão de forte emoção, esta ação tem sido conhecida

desde tempos mais antigos como Gn 37,29.34; 44,13; Js 7,6; Jz 11,35 e 1Sm 4,12 (cf. A. S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 84).

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possui o significado de “rasgar” acompanhado do vocábulo “vestes”, seguido pela ação de cobrir-se de panos de saco, para descrever um rito de lamentação (cf. também Gn 44,13); em Is 63,19, usa-se o verbo acompanhado do vocábulo “céus”, com significado de “rasgar os céus”, descrevendo uma teofania; enquanto em 1Rs 11,30-31, o verbo traz o sentido de “rasgar o manto em pedaços”, dentro do contexto de separação dos reinos.290

Em Jl 2,13, a convocação de YHWH exige que o povo rasgue os corações e não as vestes.291 Embora fosse mais lógico se pensar em rasgar as vestes ao invés dos corações, o imperativo parece não deixar dúvidas. A imagem simbólica, rasgar os corações, não sugere uma compreensão literal de corações despedaçados, mas expressa um gesto mais profundo, além dos rituais externos. O desejo maior seria o retorno do povo a YHWH, através de um apelo direto, com ênfase no coração, isto é, YHWH quer que aconteça um verdadeiro retorno e não algo meramente formal.292 Deste modo, o pedido funcionaria como outra maneira de reafirmar o apelo de retorno feito no v.12.

Joel usa o imperativo E”¸š¹™¸‡ numa linguagem metafórica, semelhante às expressões “circuncidai o coração” (cf. Dt 10,16) e “circuncidai o prepúcio do coração” (cf. Jr 4,4).293 O uso do substantivo ƒ´ƒ·$, pode indicar uma relação positiva ou negativa que se estabelece entre YHWH e seu povo. No texto de Jl 2,13, o objeto da ação de rasgar, ¶#¸ƒµƒ¸$-$´#¸A, enfatiza e amplia a expressão “com todo vosso coração” explicitado no v. 12. O sentido do vocábulo ƒ´ƒ·$ expande-se para além do órgão físico, para incluir a disposição mais íntima, pedindo por uma completa transformação, antes que YHWH desperte a compaixão e a piedade.294

290

Em Ez 13,21 o verbo ”µš´™ aparece com o sentido de rasgar os véus, enquanto em Jr 22,14 o mesmo verbo ocorre com o significado de “quebrar a janela”. Em Ecl 3,7, o verbo ”µš´™, no qal infinito construto mais a expressão œ·” é traduzido por “tempo de rasgar”.

291 L. A. FERNANDES (O yôm YHWH em Jl 2,1-11, p. 69) enfatiza que em Jl 2,13, o profeta faz

uma exigência ulterior: a comunidade reunida deve rasgar seus corações e não suas vestes. É uma imagem restrita e singular de um ato de “violência simbólica”, rica de significados, mas que não corresponde à descrição de um sofrimento coletivo (cf. Jl 2,6).

292 Cf. J. M. BOICE, The Minor Prophets. Michigan: Baker Books, 1983, p. 132.

293 Para E. E. de MIRANDA (Corpo Território do Sagrado, p.155) Jr 4,4 evoca uma atitude

interior capaz de tornar o pensamento e a vontade do homem aptos para cumprir sua função. Ele traz à lembrança a necessidade de superar o amor sentimental. Este ainda não experimentou nenhuma inteligência divina. Em Dt 10,16, YHWH espera não somente a prática sincera da Lei, mas a adesão da pessoa inteira e sua transformação interior. A circuncisão do coração é o efeito da graça de Deus, capaz de levar a pessoa a viver no verdadeiro amor (cf. Rm 2,29).

294 Cf. J. L. CRENSHAW, Joel, p. 135. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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5.3.

A convocação do profeta e os atributos divinos: v. 13c-14d

“Então, voltai para YHWH vosso Deus, porque Ele é gracioso e compassivo, lento na ira e pleno de amor,

e se compadece da desgraça. Quem sabe, Ele volte, e se compadeça,

e deixe, atrás de si, uma bênção,

oferta e libação para YHWH vosso Deus.”

Em Jl 2,13, a exclusividade do relacionamento entre YHWH e seu povo vem expressa no convite de rasgar os corações como um ato totalmente provido de fidelidade interior, algo semelhante a Os 6,6, onde o amor e o conhecimento de YHWH têm predominância sobre os sacrifícios e holocaustos.

No livro do Levítico, há diversos relatos de situações onde as pessoas, em condições de vida mais modesta, podem ofertar sacrifícios mais simples, diferente daquelas que vivem em situações mais prósperas (cf. Lv 5,1-13; 12,1-8; 14,19-22). Em Joel, no entanto, o povo já está sem recursos necessários para fazer qualquer tipo de oferta, pois vive uma realidade de carência, que provocou o estado de apatia espiritual.

A crença de que uma divindade estaria realmente consternada com o coração daquele que suplica e não com sua capacidade de ofertar, ou com sua conduta ritual, encontra-se presente em outros textos bíblicos (cf. Os 6,6; Sl 40,7-8). Por isso, aqueles que nada tinham a dar podiam oferecer a YHWH a sinceridade interior, em lugar do sacrifício real, simbolizado por generosa oferta.295

Em Jl 2,12.13, percebe-se uma preocupação no uso das preposições com o elemento espaço-temporal. A preposição …´” (v.12), com sufixo de primeira pessoa, passa para $¶‚ (v.13), acompanhada do nome divino num contexto em terceira pessoa.

295 Com este mesmo sentido também em Sl 141,2; Pr 21,3 (cf. J. R. LINVILLE, “The Day of

YAHWEH and the Mourning of the Priests”. In: Joel, p. 106-107).

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v. 12 – ‹µ…´” Eƒº

v. 13 – ¶#‹·†¾$½‚ †´‡†¸‹-$¶‚ EƒE¸‡

A primeira preposição reforça a necessidade de uma proximidade relacional com YHWH, que convida ao processo de retorno; a segunda preposição evidencia a ação do profeta como mensageiro de YHWH e representante da comunidade. Este indica que o retorno deve ser um movimento-resposta ao convite de YHWH.296

O imperativo EƒE do v. 13 tem uma função reafirmativa do mesmo imperativo encontrado no v. 12. O verbo traduz a ação de convocar, mais uma vez, ao retorno para YHWH, marcando uma transição do discurso divino para a fala profética, relembrando o povo sobre seu Deus. Da mesma forma, a justaposição do nome divino sobre a expressão ¶#‹·†¾$½‚ indica uma reafirmação sobre a identidade do Deus do povo de Judá-Jerusalém (cf. Jl 2,13.14).

A convocação utiliza, provavelmente, uma fórmula antiga exodal, de origem litúrgica, sobre o caráter da divindade a quem o povo pedia por libertação, e em paralelo a fórmula aparece também como uma expressão em forma de autoproclamação de YHWH :

Ex 34,6 – œ¶ ½‚¶‡ …¶“¶‰-ƒµš¸‡ ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚ ‘EMµ‰¸‡ E‰µš $·‚ †´‡†¸‹ Ex 33,19b – ·‰µš¼‚ š¶¼‚-œ¶‚ ‹¹U¸ µ‰¹š¸‡ ‘¾‰´‚ š¶¼‚-œ¶‚ ‹¹œ¾Mµ‰¸‡

O ponto principal da citação de Jl 2,13d-f está enraizado em Ex 34,6, onde a proclamação mosaica dos atributos divinos evidencia como YHWH age em relação ao seu povo. Tais atributos são também destacados na fala divina em primeira pessoa presente em Ex 33,19b.297

Deste modo, ao mencionar o nome de YHWH, o profeta conhece o impacto disto sobre seus ouvintes. Primeiro, há a convocação para voltar a YHWH e, depois, há a menção dos atributos divinos, com os quais o povo já mostrava familiaridade.298 O livro de Joel reflete uma ideia tradicional sobre a

296 Cf. J. CRENSHAW, “Who Knows what YHWH will do? The character of God in the Book of

Joel”. In: A. H. BARTELT (ed.), Fortunate the Eyes That See. Michigan: Eerdmans Publishing, 1994, p. 191.

297 Cf. J. L. CRENSHAW, Joel, p. 136. 298 Cf. A. S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 85.

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ação benéfica de YHWH para com seu povo. No entanto, a fala do profeta se dá dentro de um contexto desfavorável a esta compreensão positiva da ação da divindade. A situação parece ser oposta ao anúncio do yôm YHWH de Amós, no qual num contexto de abundância e prosperidade, o profeta anuncia a ação punitiva de YHWH contra o povo de Israel (cf. Am 5,18-20).

Em Joel, o objetivo é de sensibilizar a comunidade de que a situação de calamidade pode ser revertida. Por isso, enfatizam-se as características salvíficas de YHWH. Ao descrevê-las o profeta exprime aspectos da bondade divina que sempre se manifestam, especialmente, quando alguém se converte sinceramente.299

A profissão de fé em YHWH, que se baseia em Ex 34,6-7, é uma descrição litúrgica dos atributos divinos. Jl 2,13 é uma das oito citações explícitas desta fórmula.300 Apesar desta ter sido frequentemente reinterpretada para enfatizar a justiça de YHWH (cf. Dt 5,9-10; 7,9-10; Na 1,2-3), a formulação, em Joel, elimina as referências de punição encontradas no texto do Êxodo, justamente para realçar a misericórdia divina. As cinco qualidades mencionadas incluem “gracioso” (‘EMµ‰), “compassivo” (E‰µš), “lento na ira” (¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚), “pleno de amor” (…¶“¶‰-ƒµš), “aquele que se compadece da desgraça” (†´”´š´†-$µ” ´‰¹’), caracterizando a atitude daquele que olha o outro com solicitude paternal (cf. Ex 22,26). O profeta seleciona, no entanto, os atributos positivos estabelecidos, pois os negativos já haviam sido experimentados pelos judeus oprimidos pelo próprio contexto de carestia presente no primeiro capítulo. No uso da fórmula em Joel, a expressão “œ¶ ½‚¶‡” (e fidelidade) é suprimida. Ainda, encontra-se, em Joel, uma inversão dos termos “E‰µš” e “‘EMµ‰”, se comparados à fórmula exodal. A mesma estrutura de Joel se encontra de forma semelhante em Jn 4,2.301

Ex 34,6 – œ¶ ½‚¶‡ …¶“¶‰-ƒµš¸‡ ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚ ‘EMµ‰¸‡ E‰µš $·‚ †´‡†¸‹

Jl 2,13 – †´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡ …¶“¶‰-ƒµš¸‡ ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚ ‚E† E‰µš¸‡ ‘EMµ‰-‹¹J Jn 4,2 – †´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡ …¶“¶‰-ƒµš¸‡ ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚ E‰µš¸‡ ‘EMµ‰-$·‚ †´Uµ‚ ‹¹J

299 Cf. G. BERNINI, Sofonia – Gioele – Abdia – Giona, p. 153. 300 Cf. Nm 14,18; Sl 86,15; 103,8; 145,8; Na 1,3; Jn 4,2; Ne 9,7. 301 Cf. L. A. FERNANDES, Jonas, p. 20-21. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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Na maioria dos casos da Bíblia Hebraica, o termo ‘EMµ‰ ocorre ao lado de E‰µš. O uso destes segue uma ordem que pode estar ligada à antiguidade dos textos. Em Ex 34,6, a sequência é ‘EMµ‰¸‡ E‰µš (cf. Sl 86,15; 103,8); enquanto na literatura pós-exílica a expressão é E‰µš¸‡ ‘EMµ‰ (cf. Jl 2,13; Jn 4,2; Sl 111,4; 2Cr 30,9; Ne 9,17.31).302

O vocábulo E‰µš, com sentido de “ter compaixão” ou “ter misericórdia”, tem relação com o vocábulo ¶‰¶š, que significa “útero”, o lugar onde a vida humana se origina.303 A relação existente entre “útero” e “ter compaixão” num verbo, do qual YHWH é o sujeito, sugere a possibilidade de uma metáfora maternal para YHWH. O útero, como um lugar de proteção, seria uma metáfora da compaixão divina. No entanto, quando uma imagem feminina é usada para YHWH, esta toma sempre a forma de analogia, que permite comparar entre a compaixão de YHWH e a de uma mãe.304 Teologicamente, significa que somente YHWH, o criador, tem o poder de gerar vida, assim como de abrir o ventre materno, especialmente no caso do primogênito (cf. Gn 29,31; 32,22).305 Israel é o primogênito de YHWH, que se tornou seu povo por sua escolha, consagrando-o como uma nação eleita, quando saiu à força do Egito.

O adjetivo ‘EMµ‰, em seu sentido próprio, significa “gracioso”, também pode ser traduzido por “graça”, como ocorre em determinadas fórmulas (cf. Sl 112,4; 111,3-4). ‘EMµ‰ pode denotar a ideia de “compaixão paternal”, porque YHWH é graça na sua capacidade de agir como pai (cf. Ex 22,26).306 É provável que o vocábulo ‘·‰ esteja na base do sentido aplicado a ‘EMµ‰. O uso original deste vocábulo provém da esfera real, na qual o rei era obrigado a proteger os membros necessitados do seu povo. Neste contexto, o vocábulo poderia ser traduzido como “favor”, “consideração” e “afeto”. ‘EMµ‰ permite uma compreensão de que o rei deve ouvir as lamentações de seus súditos (cf. Sl 116,5). Na literatura sapiencial,

302 Cf. H. SIMIAN-YOFRE, “µ‰´’”, TDOT, p. 343-344.

303 Cf. Nm 12,12; Jr 1,5; 20,17-18; Jó 3,11; 10,18; 38,8 (cf. T. KRONHOLM, “¶‰¶š”, TDOT, p.

455-456).

304 Cf. V. HAMILTON, “¶‰¶š”, NDITEAT, p. 1092.

305 O uso frequente da expressão “o primogênito de todo útero entre os israelitas pertence a mim”

(cf. Ex 13,2.12.15; 34,19; Nm 3,12; 8,16; 18,15), demonstra que era o primeiro rebento da mãe, se fosse macho, que tinha a condição de sagrado (cf. V. HAMILTON, “¶‰¶š”, NDITEAT, p. 1091).

306 Cf. J. LUNDBOM-D. N. FREEDMAN, “‘µ’´‰”, TDOT, p. 23-25.

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‘·‰ está geralmente associado ao substantivo construto plural ‹·’‹·”, formando a expressão ‹·’‹·”¸A ‘·‰ ‚´˜´ (“encontrar graça aos olhos de”), ou seja, perceber valor ou beleza em determinada pessoa. Esta compreensão pode ser também aplicada na fórmula litúrgica de Ex 34,6-7, na qual o ser de YHWH está em relação ao homem como uma figura de um senhor ou de um pai (cf. Sl 86,15; Ml 1,9).307

Junto às características de gracioso e misericordioso, o profeta traz, à memória da comunidade, o quanto YHWH é paciente e repleto de amor. No uso de ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚ está a imagem de YHWH, que, em sua ira, realiza uma demorada respiração, sugerindo “estar contando até dez”, ao invés de expressar subitamente o que lhe desagrada.308 Pode-se exprimir as emoções através das alterações da respiração. Assim, diz-se que YHWH é ¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚, isto é, “aquele que é demorado na ira”, como em Ex 34,6; Nm 14,6; Sl 86,15. A conotação básica desta expressão indica que YHWH toma um longo e profundo suspiro, enquanto mantém em suspenso a sua ira.309

Na maioria dos casos, a ira de YHWH acontece por causa das ações dos homens.310 Assim, sua ira deve ser compreendida dentro de um quadro de rompimento da aliança, uma reação às infidelidades e ingratidões de seu povo. Israel era infiel à aliança e, por esta razão, YHWH, que desejava manifestar seu amor ao seu povo (cf. Os 11,9), aparece como um Deus irado. Há passagens, no AT, que mostram esta ideia já bastante difundida e que a ira divina era esperada, quando o povo praticava injustiças (cf. Mq 7,9; Esd 8,22).

A ira divina está particularmente relacionada com a desobediência do povo (cf. Nm 32,11-14), com sua falta de fé (cf. Nm 11,33) e com as ofensas sociais (cf. Ex 22,23.24). No entanto, a ira de YHWH contra seu povo, aparece junto com um elemento de compaixão. YHWH é um Deus gracioso e compassivo, por isso é

307 Cf. H. J. STOEBE, “‘µ’´‰”, DTMAT, p. 821-828. 308 Cf. J. L. CRENSHAW, Joel, p. 136.

309 Cf. G. V. GRONINGEN, “•µ‚”, DITAT, p. 97.

310 Segundo G. SAUER (“•µ‚”, DTMAT, p. 337-338), a ira divina é a reação, racionalmente

inexplicável, de uma pessoa que se mostra como senhor absoluto. Esta reação escapa a qualquer definição conceitual, precisamente porque YHWH se comunicou com seu povo de forma livre e de um modo que supera a razão humana. Desta forma, a ira divina é a correspondência necessária do amor divino, que só deseja a salvação de seu povo (cf. Ex 4,14; Sl 30,6).

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lento na ira (cf. Sl 103,8; Ex 34,6; Mq 2,7), mas, quando se torna irado, não é para sempre (cf. Jr 3,5; Mq 7,18).311

O vocábulo …¶“¶‰ pode designar não somente uma atitude humana, mas também o ato que emerge desta atitude. É um ato que preserva ou promove a vida, é a intervenção em favor de alguém que sofre infortúnios ou injustiças. …¶“¶‰ pode significar um comportamento, uma ação, para além das medidas esperadas ou exigidas. Abarca a compreensão no aspecto positivo de ação de amor e bondade.312 O sentido mais comum de …¶“¶‰ é “amor”, “bondade”, “graça”, “amabilidade”.313

Ligado a …¶“¶‰, o adjetivo ƒµš enfatiza os atributos ou as ações de YHWH. Semanticamente, os textos que relatam o poder de YHWH podem ser classificados em: seus atos poderosos (cf. Is 63,1; Sl 147,5; Jó 23,6; Is 40,26); sua majestade (cf. Ex 15,7), sua grandeza (cf. Sl 150,2), suas ações (cf. Jr 32,19) e seu poder para salvar (cf. Is 63,1); e incluem declarações sobre a bondade de YHWH, compaixão e fidelidade para com Israel: ele é pleno de bondade (cf. Sl 31,20; Is 63,7), compaixão (cf. Sl 51,3; 2Sm 24,14; Ne 9,19) e fidelidade (cf. Lm 3,23). Dentro deste grupo, o vocábulo ƒµš aparece, na grande maioria das vezes, acompanhado por …¶“¶‰ (cf. Sl 5,8; 69,14; Lm 3,32; Ne 13,22; Nm 14,18; Jl 2,13; Jn 4,2).314

O vocábulo …¶“¶‰, como bondade manifesta de YHWH, pode incluir indivíduos ou pequenos grupos bem definidos como Abraão (cf. Gn 24), Jacó (cf. Gn 32,11), o ungido de YHWH (cf. 2Sm 22,51), Jó (cf. Jó 10,12), Rute (cf. Rt 1,8; 2,11.12.20). Sua bondade pode significar o sucesso na busca por uma noiva (cf. Gn 24,12.14.27), uma ajuda efetiva no estabelecimento de uma dinastia (cf. 2Sm 7,15; 1Cr 17,13), ou a prosperidade em geral (cf. 2Sm 2,6). Também pode traduzir o agir em favor de terceiros (cf. Gn 19,16) ou o motivo para se fazer uma aliança (cf. Gn 21,23).315

311 Cf. E. JOHNSON, “•µ’´‚”, TDOT, p. 357-360.

312 Cf. M. L. C. LIMA, Ḥesed nos Escritos de Oséias: significado e valor teológico, elementos

para a história e evolução de um conceito bíblico. Rio de Janeiro: PUC-Rio, (Dissertação de

mestrado),1990, p. 9. 313 Cf. H.-J. ZOBEL, “…¶“¶‰”, TDOT, p. 51. 314 Cf. E. BLUM, “ƒµš”, TDOT, p. 291-293. 315 Cf. R. L. HARRIS, “…¶“¶‰”, DITAT, p. 499-502. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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A lealdade de YHWH também se destina a um povo inteiro, como Israel, manifestada em seus atos divinos, os quais são constitutivos da sua própria história como nação. YHWH, em sua bondade, conduziu o seu povo (cf. Ex 15,13); desde a libertação do Egito, ele confirmou sua bondade para com a casa de Israel. Desde o tempo do deserto, ele os tem amado com um amor eterno (cf. Jr 31,2s); tem revelado sua bondade a Israel diante de todas as nações (cf. Sl 98,2s; 117,2). Assim, o amor de YHWH se espalha sobre toda a terra (cf. Sl 33,5; 119,64).316

E porque YHWH retém sua ira, culmina numa permanente amabilidade (…¶“¶‰-ƒµš), e até mesmo na reconsideração de uma punição anteriormente pretendida e intencionada (†´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡).

O elemento comum aos significados da raiz ‰’ parece ser a tentativa de influenciar uma situação: ao mudar o curso dos eventos, quando a situação está no presente (cf. Na 3,7); influenciar uma decisão, quando está no futuro (cf. Na 10,2) e aceitar as consequências de um ato, quando a situação já está no passado (cf. Am 7,3). Os fatores de decisão/consequência e emoção/sentimento aparecem, então, embutidos no significado dessa raiz. Estes fatores estão indissoluvelmente entrelaçados, mesmo quando nos casos individuais exista mais ênfase num elemento do que em outro.317

Em Jl 2,13f, ´‰¹’¸‡ pode ser compreendido a partir da ideia de “compadecer-se”, “condoer-se”, motivado pela ação de quem está disposto a reverter uma situação de catástrofe.318 Considerando-se a terrível situação de crise e carestia descrita no livro de Joel, torna-se apropriado entendê-lo como “compaixão”, mais do que como “justiça”, o motivo pelo qual o povo devia realizar um retorno. YHWH manifesta-se como alguém que, na verdade, se compadece, dos que estão passando pela desgraça que se abate sobre Judá-Jerusalém.319

A expressão †´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡ designa, da parte de YHWH, um sentimento de pesar motivado por sua compaixão. Em outras palavras, em Jl 2,13, não é

316 Cf. H.-J. ZOBEL, “…¶“¶‰”, TDOT, p. 54-55.

317 Cf. H. SIMIAN-YOFRE, “µ‰´´’”, TDOT, p. 342-343.

318 Cf. A. BONORA, La Liturgia del Ritorno, Gl 2,12-18, p. 64. 319 Cf. H. W. WOLFF, Joel and Amos, p. 50.

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YHWH o responsável pela desgraça humana, mas diante dessa situação, o olhar do seu divino amor concentra-se sobre o povo que enfrenta tal tribulação.

O substantivo †´”´š, marcado pelo gênero gramatical feminino, tem seu campo semântico relacionado às pessoas envolvidas em ações reprováveis e condenáveis. Refere-se não apenas aos atos realizados por elas, mas também aos resultados destes atos, como desgraça, desastre, miséria, ameaça e maldade.320 †´”´š, normalmente, pode ser aplicado aos inimigos de Israel que o maltratavam, agindo tanto de forma individual (cf. Est 8,7), quanto de forma coletiva (cf. 1Rs 20,7; Na 3,19; Jl 2,13; Jn 1,2).321

Em Jl 2,13, a convocação para retornar a YHWH é evidenciada por uma fórmula convencional, que descreve os atributos de YHWH (cf. Jl 2,13de), também encontrada, com pequenas modificações, em outras partes do AT (cf. Ex 34,6; Sl 86,15; 103,8; 145,8; Ne 9,17). No entanto, Jn 4,2 é o único exemplo, além de Jl 2,13, onde a fórmula é ampliada com o uso da expressão †´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡. Pode-se, portanto, conceber uma proximidade de correspondência temática entre Jl 2,13 e Jn 4,2. Em ambos os casos, a catástrofe mencionada exigiu, por parte do povo, a aceitação dos gestos rituais. No contexto do livro de Joel, porém a fórmula convencional reforça a resposta graciosa e amorosa de YHWH à súplica de Judá-Jerusalém.322

Joel não somente apresenta a natureza do verdadeiro arrependimento, mas também estimula seus ouvintes, mencionando os atributos divinos (cf. Jl 2,13). Em função da natureza amorosa de YHWH, a expressão ƒE´‹ µ”·…Ÿ‹ ‹¹ aponta para uma “porta aberta” como resposta positiva divina, ao mesmo tempo em que traduz uma verdade teológica de que Deus permanece sempre Deus, livre, inalcançável e

320

Percebe-se que o substantivo †´”´š ocorre muitas vezes acompanhado de artigo e de alguma preposição, geralmente $µ” (cf. 1Cr 21,15; 2Cr 7,22; Ne 13,18; Jó 42,11; Jr 16,10; Jr 18,8; 26,13.19; 44,2; Ez 14,22; Dn 9,14; Jl 2,13; Jn 3,10; 4,2) ou $¶‚ (cf. 2Sm 4,26; Est 7,7; Jr 9,2; 26,3.13.19; 42,10), com a predominância do uso da primeira. O uso do substantivo †´”´š, na Bíblia Hebraica, possui o sentido mais frequente de “desgraça” ou “castigo”. Quando o substantivo †´”´š acompanha YHWH, a conotação é de um “mal” objetivo, ou seja, uma ação punitiva divina: desgraça, tribulação, miséria; †´”´š associado à conduta da pessoa humana refere-se a um “mal” subjetivo decorrente de uma ação condenável: maldade, pecado (cf. H. SIMIAN- YOFRE, “µ‰´´’”,

TDOT, p. 350-351).

321 Cf. D. W. BAKER, “†´”´š”, NDITEAT, p. 1149.

322 Cf. W. S. PRINSLOO, The Theology of the Book of Joel, p. 57.

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soberano (cf. Jl 2,14).323 A expressão parece indicar que YHWH, às vezes, muda sua intenção de julgar negativamente e “volta atrás”, mostrando misericórdia. Para YHWH o “voltar atrás” não se constitui um problema, pois em sua vontade soberana, ele simplesmente estabelece a mudança.324

Se, por um lado, o profeta acredita que YHWH deixará uma bênção para seu povo, por outro, ele pode não estar tão certo desta ação. A bênção não eliminaria os obstáculos e o sofrimento, mas somente em YHWH residiria a capacidade de mudança.325 A expressão µ”·…Ÿ‹ ‹¹ , neste contexto, assume uma função de declaração preventiva, abrindo uma perspectiva de esperança para a comunidade. Esta declaração traduz um “talvez” profético, uma manifestação da fé do profeta e de seu conhecimento de YHWH, que se abre a uma possibilidade de reversão.326

O profeta sabe que não há garantias de que YHWH voltará atrás em seus planos. Isto pode ser somente uma vã esperança, no entanto, ele conhece e confia em YHWH. A expressão ƒE´‹ µ”·…Ÿ‹ ‹¹ torna-se um elemento de fundamental relevância, porque YHWH terá que fazer o que em outros contextos nunca faria: arrepender-se, mudar sua decisão (cf. Nm 23,19; 1Sm 15,29). O profeta inclui este aspecto do comportamento esperado de YHWH, já na citação da tradição do Sinai, ao acrescentar a frase †´”´š´†-$µ” ´‰¹’¸‡, que não se encontra em Ex 34,6-7.327

A fórmula evocativa µ”·…Ÿ‹ ‹¹ explicita que ninguém sabe realmente o que YHWH fará, todavia, denota uma tentativa de confiança, não de perplexidade. O paralelo com Jn 3,9 ocorre quase de forma literal na boca do rei de Nínive: “Quem sabe? Talvez o Elohîm volte atrás, arrependa-se e revogue o ardor de sua ira, de

323 Cf. M. LANG, “Das Exodusgeschehen in Der Joelschrift”. In: S. PAGANINI, C.

PAGANINI-D. MARKL (ed.), Führe Mein Volk Heraus. Zur inner-biblischen Rezeptin der Exodusthematik. Frankfurt: Fs. G. Fischer, 2004, p. 71.

324 Cf. L. A. FERNANDES, Jonas, p. 20-21; J. M. BOICE, The Minor Prophets, p. 134.

325 Cf. D. W. BAKER, The NIV Application Commentary: Joel, Obadiah, Malachi. Michigan:

Zondervan, p. 21.

326 Que o Deus fiel e misericordioso também é livre com relação a sua própria ira (¹‹µPµ‚ ¢¶š¶‚)

torna-se o fundamento da esperança expresso em seu “talvez”. Wolff destaca o uso de ‹µ$E‚ em Sf 2,3 e Lm 3,29 com o mesmo sentido de µ”·…Ÿ‹ ‹¹ de Jl 2,14 (cf. H. W. WOLFF, Joel and Amos, p. 50).

327 Cf. R. RENDTORFF, “Alas for the Day!, The Day of the Lord”. In: the Book of the Twelve, p.

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modo que não pereçamos”.328 O paralelo sustenta a posição de que a situação de

desgraça é uma ameaça, que está em processo de acontecer, mas ainda pode ser revertida.329

Em Jl 2,14, o sentido de µ”·…Ÿ‹ ‹¹ não está em contradição com a ortodoxia de Ex 34,6-7. Não é uma dúvida do profeta, mas uma confiança na ação de YHWH que manifesta seu poder universal, agindo livremente (cf. Jn 3,9). Joel, ao usar ´‰¹’¸‡, expande os atributos divinos, pois está certo de que YHWH concederá os benefícios.

À diferença da crise que se abaterá sobre Jonas, que anuncia uma falida destruição de Nínive, Joel está certo de não falir, pois YHWH responde de Sião aos apelos de piedade, está atento ao sofrimento de seu povo e disposto a mostrar sua soberania universal na decisão de punir as nações opressoras.330

O mesmo verbo ƒE atribuído a YHWH em seu convite imperativo dirigido ao povo (cf. Jl 2,12) e, depois, reforçado pelo profeta em forma de súplica (cf. Jl 2,13), também aqui é aplicado na expectativa de uma resposta esperançosa da divindade. O verbo ´‰¹¹’ faz eco a um dos atributos divinos, já mencionados em Jl 2,13, realçando a bondade de YHWH em se compadecer dos que sofrem com as tribulações. Ambos os verbos, ƒE e ´‰¹¹’, podem descrever um distanciamento da ira divina, trazendo a convicta esperança da presença de YHWH no meio do povo e deixando uma “bênção” para a comunidade.

A raiz š‚ ocorre com frequência na Bíblia Hebraica com o sentido de “algo ser deixado” (cf. Is 10,19.20; Jr 29,10; Esd 9,8). No contexto de Jl 2,14, o verbo š‹¹‚¸¹†, no hiphil, torna-se o mais apropriado para dar sentido a ideia que se

segue, uma vez que indica uma ação ativa causativa. A expressão †´#´š¸A ‡‹´š¼‰µ‚ š‹¹‚¸¹†¸‡ declara a perspectiva de uma mudança na disposição de

YHWH com relação aos contemporâneos do profeta. †´#´š¸A traduz a bênção na

328 D. A. HUBBARD (Joel e Amós, Introdução e Comentário, p. 67) enfatiza que a expressão

µ”·…Ÿ‹ ‹¹ encontrada em Jn 3,9 ocorre em um contexto negativo, no qual pretende-se evitar um juízo divino. Em Jl 2,14 a expressão encontra-se numa perspectiva positiva, que resulta em bênçãos de YHWH, possibilitando o retorno das ofertas ao templo; L. A. Fernandes (Jonas, p. 20-21), em seu comentário, evidencia que Jonas não suportou a conversão dos ninivitas e, principalmente o fato de o Senhor voltar atrás na sua decisão por causa dessa conversão, desistindo da destruição de Nínive.

329 Cf. J. BARTON, Joel and Obadiah, A Commentary, p. 81. 330 Cf. L. A. FERNANDES, O yôm YHWH em Jl 2,1-11, p. 257.

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forma de uma completa restauração retratada em Jl 2,19-27; 4,18-21, na fertilidade do solo, no resgate das perdas materiais e dos animais, na alegria restaurada, na ruína do inimigo e na presença de YHWH novamente no meio do povo.331 Na compreensão do profeta, que vê sentido no culto, a †´#´š¸A consiste no retorno das oferendas sacrificiais que serão regularmente apresentadas no templo e a garantia da abundância de bênçãos na vida do povo, que volta ao seu curso normal. Para ele †´#´š¸A e ¢¶“¶’´‡ †´‰¸’¹ são efetivamente dois aspectos de uma mesma resposta positiva de YHWH àqueles que ouviram o chamado e responderam favoravelmente.332

A ideia básica para traduzir o vocábulo †´‰¸’¹ parece ser “presente”, “dom”, “oferta”, podendo ser tanto para YHWH como para o povo. †´‰¸’¹ pode significar, dentro de contextos religiosos, um termo geral para oferenda, seja das colheitas, ou dos rebanhos (cf. Gn 4,3-5), ou uma oferenda de manjares, referindo-se mais especificamente a oferendas das colheitas (cf. Lv 2).333 Enquanto em contextos não rituais, †´‰¸’¹ é utilizada com sentido geral para “dádiva” ou “presente”, entre pessoas (cf. Gn 32,20-21; 33,10), num sentido especial, pode denotar um tributo a um superior em contextos políticos (cf. Jz 3,15.17.18). Também como uso geral para oferendas a YHWH, †´‰¸’¹ pode se referir às oferendas de incenso (cf. Nm 16,15), uma combinação de carne e pão (cf. Jz 6,18), ofertas de carne em particular (cf. 1Sm 2,17) e ofertas em geral (cf. 1Cr 16,29; Sl 96,8; Sf 3,10).334

A raiz ¢“’ é utilizada para indicar a ação de “derramar” uma oferta de bebidas ou libação e de “fundir” imagens em metal. Em sua forma básica, o

331 O vocábulo †´#´š¸A aparece com o mesmo sentido de Jl 2,14 também em Gn 39,5; Ex 32,29;

2Sm 7,29; Is 44,3; 65,8; Ml 3,10.

332 Cf. A. S. KAPELRUD, Joel Studies, p. 84-85.

333 Para R. E. AVERBECK (“†´‰¸’¹ ”, NDITEAT, p. 981) em Levítico, o vocábulo †´‰¸’¹ sempre

significa ofertas de manjares. A unidade textual da oferta de manjares em Lv 2 está entre os cc. de ofertas queimadas e pacíficas (cf. Lv 1 e 3, respectivamente), permitindo entender que a oferta de manjares representava uma parte regular de uma oferta queimada ou pacífica (cf. Lv 9,4.17; 14,10.20.21; 23,13.37; Nm 8,8; Js 22,23.29; Jr 14,12; 33,18; Ez 45,13-17.24-25; Am 5,22).

334 R. E. AVERBECK (“†´‰¸’¹ ”, NDITEAT, p. 978-981) ressalta que no uso religioso, o vocábulo

†´‰¸’¹ , com sentido de oferenda animal ou vegetal, ocorre em Gn 4,3-5 no relato da oferta vegetal de Caim e da oferta animal de Abel. Ambas eram entregues a Deus, mas a resposta para Caim foi diferente da de Abel (cf. Gn 4b-5a). Em Lv 2 e em outras passagens do AT, as ofertas de manjares e de vegetais poderiam agradar a Deus tanto quanto ofertas animais, principalmente se fossem os primeiros frutos da colheita (cf. Lv 23,9-14; Nm 15,17-21; Dt 26,1-11).

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vocábulo ¢¶“¶’aé usado para referir-se à oferta de bebida ou libação no AT.335 O líquido, geralmente utilizado em uma “libação”, era o vinho (cf. Ex 29,40; Nm 15,5.7.10) ou outra bebida fermentada (cf. Nm 28,7). No entanto, ao menos em uma situação, água foi “derramada como libação a YHWH” (cf. 2Sm 23,16; 1Cr 11,18), mas “libação de sangue” (cf. Sl 16,4) não era admitida nos relatos do AT, por ser considerada uma prática pagã.

Como hábito geral, uma oferta de bebidas tinha que ser apresentada junto aos holocaustos e ofertas de manjares (cf. Ex 29,40; Lv 23,13; Nm 15,1-10). Seguindo a hora dos holocaustos, matutino e vespertino, uma libação deveria ser derramada a YHWH (cf. Nm 28,7-8). Também se observava esta prática nas festas do sábado (cf. Nm 28,9), da lua nova (cf. Nm 28,14), das primícias (cf. Lv 23,13; Nm 28,31), da expiação (cf. Nm 29,11) e dos tabernáculos (cf. Nm 29,12-39).

A comunidade de Judá-Jerusalém no livro de Joel estava enfrentando uma situação adversa de carestia e escassez de bens, onde as ofertas de manjares e as ofertas de libação foram retiradas em virtude da falta de grãos e vinho (cf. Jl 1,9.13; 2,14.19.24). A oblação e a libação foram suprimidas no templo, o campo estava devastado e o povo se achava numa completa apatia espiritual. No entanto, o convite insistente de YHWH e do profeta, aguarda por uma resposta, onde a volta do povo será correspondida pela volta de YHWH no seu meio. O resgate das ofertas de manjares e ofertas de libação confirma que, se antes estava em curso uma realidade de desgraça para o povo eleito, agora, YHWH deixaria atrás de si a bênção eficaz, retratada na restauração completa da vida.336

335 O vocábulo “libação” tem sua origem no latim libare, significando “derramar uma oferta de

bebidas”. Esta foi inicialmente instituída na comunidade da aliança para a prática da adoração, no entanto, teve seu sentido pervertido pela influência de ritos pagãos (cf. M. R. WILSON, “¢¶“¶’”,

DITAT, p. 970-971).

336 Cf. D. A. HUBBARD, Joel e Amós, Introdução e comentário, p. 67.

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5.4.

A convocação da comunidade: v.15a-16f

“Tocai uma trombeta em Sião, santificai um jejum,

proclamai uma reunião, congregai o povo,

santificai uma assembleia, reuni anciãos,

congregai crianças e lactantes. Que saia o noivo de seu recinto e a noiva de seu aposento.”

Essa introdução determina a extensão do discurso que segue e aponta a convocação de uma assembleia litúrgica para realização de um rito penitencial iniciado por um jejum. “Tocai a trombeta em Sião” é a mesma expressão de Jl 2,1, a qual se encontra num contexto bélico, porém, em Jl 2,15a, refere-se a uma convocação litúrgica solene.337 O som da trombeta é todo direcionado aos habitantes de Sião, pois, na realidade, o som não alcançaria mais do que Jerusalém e seus arredores.338

Na tradição bíblica, ‘Ÿ‹¹˜ é apresentada como o local da “fortaleza dos jebuseus”,339 tornando-se mais tarde a cidade de Davi (cf. 2Sm 5,7), o monte onde

foi erguido o Templo (cf. 2Cr 3,1), a própria “cidade de Jerusalém” (cf. 2Rs 19,21) ou a “terra de Israel” (cf. Is 34,8). O substantivo próprio “Sião” representa, de maneira geral, o monte onde foi estabelecido o Templo de Jerusalém. No livro de Joel, Sião é o “monte santo de YHWH”, não mais uma fortaleza inconquistável ou sede perpétua da dinastia monárquica, mas o local, de onde, quem reina e governa sobre Judá-Jerusalém e outras nações é o próprio YHWH.340

337 R. H. O’CONNELL (“š´–Ÿ”, NDITEAT, p. 68-69) pode-se fazer uma distinção entre š´–Ÿ, aqui

traduzido por “trombeta”, e ‘¶š¶™, chifre (de animal). O termo š´–Ÿ descreve um instrumento sinalizador fabricado de chifre (cf. Js 6,5). O š´–Ÿ não era um instrumento musical em si. No contexto militar, o š´–Ÿ era usado para soar o alarme num iminente ataque (cf. Ne 4,12; Is 18,3; Jr 4,5.19.21; Ez 33,3-6; Os 5,8; 8,1; Am 2,2; 3,6); para convocar Israel para o combate (cf. Jr 42,14; 51,27); para sinalizar um ataque (cf. Js 6,16. 20; Jó 39,25; Jl 2,1).

338 Cf. G. BERNINI, Sofonia – Gioele – Abdia – Giona, p. 155. 339 Cf. M. OTTO, “ןוֹיּ ִצּ”, TDOT, p. 333-364.

340 Cf. A. M. DOS SANTOS, A Sublimidade de Sião em Jl 4,15-17. Rio de Janeiro: PUC-Rio,

CTCH, Dissertação de Mestrado, 2012, p. 69-70. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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O chamado para o retorno a YHWH em Jl 2,15-16 abre caminho para as instruções litúrgicas mais precisas, pois em Jl 1,14 já se encontram orientações expressas através de uma quantidade menor de verbos no imperativo.341 O toque de advertência em Jl 2,1, sugerindo a chegada iminente do yôm YHWH, contrasta com a frase idêntica em Jl 2,15, que identifica o soar da trombeta como uma convocação para uma observância religiosa. E”¸™¹U é o primeiro dos sete imperativos seguidos de seus objetos nos v. 15-16d. Assim, como a situação de catástrofe de Jl 1, onde a crise privou o povo de uma digna subsistência, pedia por um jejum e por uma assembleia, também o anúncio do yôm YHWH inspiraria um outro jejum e uma outra assembleia.342

O soar da trombeta convoca o povo todo ao jejum, à oração e ao retorno para YHWH.343 No culto, a trombeta aparece nas mãos dos sacerdotes. Ela dava o sinal que convocava os israelitas para uma reunião, partida do acampamento (cf. Nm 10,1-10) ou em ocasiões de jejum sagrado (cf. Jl 2,15). Em eventos religiosos, usava-se a trombeta para anunciar o ano jubilar (cf. Lv 25,9), para proclamar jejuns e assembleias (cf. Jl 2,15), juramentos solenes (cf. 2Cr 15,14) e também para proclamar os movimentos de YHWH ou da arca (cf. 2Sm 6,15; Sl 47,5). O uso da trombeta também marcava o início do novo festival lunar, o início do festival de outono e o fim da noite de lua cheia (cf. Sl 81,4; Lv 23,24; Nm 10,10). O soar da trombeta, num ritual, tinha importante conotação, a ponto de se considerar que seu som acompanhou a teofania de YHWH no Sinai (cf. Ex 19,16.19) e de das profecias anunciarem que o seu som inspiraria inéditos acontecimentos na manifestação do yôm YHWH (cf. Jl 2,1; Sf 1,16; Is 27,13; Zc 9,14).344 O elemento de regozijo, no uso litúrgico, da trombeta não está ausente, pois o povo se rejubila em YHWH, porque todos estão ali somente para exaltá-lo (cf. Sl 47,2; 150,3).345

341 Em Jl 1,14 ocorrem quatro verbos no imperativo plural (E¸Cµ™, E‚¸š¹™, E–¸“¹‚ e E™¼”µˆ), enquanto em

Jl 2,15 há uma sequência organizada de sete verbos no imperativo (E”¸™¹U, E¸Cµ™, E‚¸š¹™, E–¸“¹‚, E¸Cµ™, E˜¸ƒ¹™, E–¸“¹‚), com a repetição de dois verbos (E¸Cµ™, E–¸“¹‚). Todos os verbos estão no qal imperativo plural, com exceção do verbo E¸Cµ™, que está no piel imperativo plural.

342 Cf. T. E. McCOMISKEY, The Minor Prophets, p. 283. 343 Cf. T. E. McCOMISKEY, The Minor Prophets, p. 283. 344 Cf. R. H. O’CONNELL, “š´–Ÿ”, NDITEAT, p. 69. 345 Cf. H. -J. ZOBEL, “”µ™´U”, TDOT, p. 765-766.

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A nova possibilidade para a comunidade traz um caráter de urgência ao ritual de lamentação, por precisar de cada segmento do povo para uma assembleia cúltica (cf. Jl 2,15-16f).346 Em Jl 2,15, há expressões já encontradas em Jl 1,14 e Jl 2,1, no entanto, agora, os imperativos estão ampliados e especificados, demonstrando que esta convocação difere da precedente (cf. Jl 1,5-14).

Se, em Jl 1,17, a interrupção da oferenda de cereais e ofertas de libação mobilizou o povo para uma ação, em Jl 2,15, a possibilidade do retorno a YHWH deu coragem ao profeta para estimular seus ouvintes a prosseguir sua transformação interior com os ritos externos, na forma de um ritual de lamento nacional.347

O profeta reitera e expande suas instruções anteriores, já que este dia deve ser um dia especial de jejum para santificar uma assembleia solene (cf. 2Cr 30,13; Ne 8,17).348 O uso da raiz …™, que expressa uma separação ou consagração religiosa, dá ao jejum um caráter especialmente sagrado (cf. Jl 2,15-16; 4,9).349 A declaração para santificar um jejum evidencia uma observância cúltica de confissão pública de pesar por alguma situação adversa ou expressão de contrição numa época de ameaças ou perigo.350

O jejum é uma observância comum entre os povos semitas e é frequentemente mencionado no AT. A essência de um jejum consiste na abstinência voluntária de alimentos, algumas vezes de bebida, por um determinado tempo, como expressão de compaixão ao sofrimento humano (cf. 1Sm 31,13; 2Sm 1,12). Muitas vezes o jejum é mencionado como uma observância distintamente religiosa, junto com orações ou sacrifícios, em tempos de grandes provações e desastres. Diante de uma realidade de infortúnios acontecidos com um indivíduo ou com uma nação, o jejum era observado de

346 M. M. PAZDAN, Joel. Minnesota: The Liturgical Press Collegeville, 1992, p. 581. 347 Cf. J. L. CRENSHAW, Joel, p. 139.

348 Cf. D. PRIOR, The Message of Joel, Micah and Habakkuk, 1998, p. 57; D. W. BAKER, The

NIV Application Commentary: Joel, Obadiah, Malachi, 2006, p. 83.

349 Cf. T. E. McCOMISKEY, The Minor Prophets, p. 264.

350 Cf. Jr 36,6; Is 58,3; 1Rs 21,9.12; 2Cr 20,3; Esd 8,21; Est 9,31 (cf. M. A. SWEENEY, The

Twelve Prophets, p. 168). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1111984/CA

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forma rigorosa, pois também trazia uma característica singular em sua realização: a intenção de suplicar a compaixão de YHWH em prol dos sofredores.351

Em Jl 1,14, as instruções para reunir o povo durante o período de crise são menos específicas, pois o verbo imperativo E–¸“¹‚ possui dois objetos: ‹¹’·™¸ˆ e —¶š´‚´† ‹·ƒ¸¾‹ $¾J. Existe certo paralelismo entre Jl 1,13-14 e Jl 2,15-17. No primeiro caso, o profeta apresenta as instruções e em seguida convida o povo para lamentar sua desgraça, enquanto, em Jl 2,15-17, o profeta oferece conselhos sobre os procedimentos específicos, reforçando a exortação de Jl 2,12-14 para voltar para YHWH.352

O contexto pede por uma reunião, onde todos devem estar juntos no templo para uma lamentação cúltica. Assim, o profeta enfatiza a necessidade de uma reunião especial. A declaração para proclamar uma reunião solene emprega o termo †´š´˜¼”, derivado da raiz š˜”, que significa “parar”, “interromper”. Portanto, esta reunião deve ter um caráter solene e exige a interrupção das atividades normais da comunidade.

Os pedidos para congregar um povo, santificar uma assembleia, reunir os anciãos, congregar as crianças, até os lactantes indicam que toda a comunidade está sendo convocada num tempo de emergência nacional. O caráter de urgência está na necessidade da presença de todos os segmentos da comunidade, inclusive daqueles que normalmente estariam dispensados de uma convocação litúrgica.353

Mas, a situação de escassez de bens materiais aliada à apatia e a inércia do povo produz a mesma necessidade anterior de um jejum religioso e a cessação das atividades regulares da vida dos habitantes. O profeta é insistente com seus ouvintes para não pouparem esforços na busca por YHWH em meio às aflições. Os verbos imperativos de Jl 2,16 dão continuidade aos três verbos mencionados em Jl 1,14 (E–¸“¹‚, E‚¸š¹™, E¸Cµ™), com o duplo uso do verbo E¸Cµ™ em Jl 2,15b e 16b,

351 Cf. Jz 20,26; Esd 10,6; Ne 9,1; Jn 3,5-9; Jl 2,15 (cf. S. R. DRIVER, The Books of Joel and

Amos, p. 45). Pode-se dar uma atenção especial ao texto deuterocanônico de Jt 4,1-15, no qual

todo o povo de Judá-Jerusalém é convocado a um ato litúrgico de súplica e jejum, incluindo mulheres e crianças.

352 Cf. H. W. WOLFF, Joel and Amos, p. 50-51.

353 Cf. M. A. SWEENEY, The Twelve Prophets, p. 167-168.

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