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Uma Odisseia no Cerrado A Espera Feliz!

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Academic year: 2021

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A Espera Feliz!

Mestre Martins

José Maria Ribamar Santos Martins 1933 – 2012

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A estrada

Em dezembro de 1971, depois de uma longa e cansativa viagem de carro pela BR-040 (antiga Rodovia Rio-Brasília), chegava ao Distrito Federal um casal com 3 crianças, uma delas ainda de colo, com três meses.

O que vinha fazer em Brasília, esta família?

Por força de determinação da Direção Geral do Banco do Brasil ele vinha trabalhar na instalação da Gerência de Operações de Crédito de São Paulo (GESAP).

Este homem, Mestre Martins, deixava o Rio e vinha com a família toda para o Planalto Central para abrir uma nova fronteira em sua vida. Mas essa história não começa em Brasília, tampouco no Rio de Janeiro.

O homem e a história

José Maria Ribamar Santos Martins veio de longe, lá de Axixá, terra do bumba-meu-boi, no interior do Maranhão. Logo cedo os pais o levaram para a capital (São Luís) onde o menino virou seminarista. Mas ele não tinha vocação para padre.

Aos 18 anos, depois de servir o Exército, deixou o Maranhão para trás e seguiu para a Capital Federal da época (Rio) com o anseio de uma vida melhor, em busca de arrumar um bom emprego.

Ligado ao esporte foi praticar judô na Praça da Bandeira, centro do Rio. Aplicado, logo chegou à faixa preta 2°Dan com o mestre Yushimasa Nagashima.

Após forte desilusão pessoal com os caminhos que trilhava dentro do Judô, ocasionado por randori na academia, aonde acabou machucando seriamente o insolente desafiante. Por isso, Mestre Martins busca por uma forma de arte marcial onde não precisasse usar de violência.

Em 1965, ele ficou sabendo de um japonês que estava ensinando algo parecido com o que ele buscava. Tratava-se de Teruo Nakatani (introdutor oficial do Aikido no Brasil designado pelo doshu Kisshomaru Ueshiba) que, naquela época, ensinava na academia Mehdi, em Ipanema. Este encontro teria um impacto decisivo em sua vida desde então.

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Entra para o Aikido e torna-se o principal auxiliar de Nakatani Sensei, ajuda na fortemente a implantação da Associação Carioca de Aikido, na Rua Barata Ribeiro. Mestre Martins auxiliado ainda pelo Waldemar ajudam Nakatani Sensei e a Sakai, massagista recém chegado do Japão.

Em uma destas vezes, acompanhando Nakatani Sensei participa de gasshuku realizado em Campos do Jordão por Kawai Sensei, aonde é promovido a faixa preta, sem antes receber um tapa na cara dado por Kawai que se justifica dizendo que era preciso saber se o mestre Martins era resistente.

Da maresia para o Cerrado!

José Martins saiu do asfalto do Leblon para o cerrado poeirento de Brasília!

Sem esmorecer, com três crianças pequenas, um menino de cinco anos (José Luís), uma menina de quatro anos (Ana Paula) e um bebê de 3 meses (André), encarou o novo desafio!

Com um ímpeto de desbravador, o jovem que saiu do interior de seu Estado para crescer, muda-se, nova e definitivamente em busca do sonho de Dom Bosco: Brasília!

No dia de sua chegada em Brasília, como a unidade funcional que iria ocupar ainda estava em obras, se instalou na casa do Coronel Walter Pires.

A chuva e o barro vermelho ainda imperavam na quadra 303 Sul, sem árvores, não havia asfalto, nem meios fios, sem telefone, sem televisão, jornais e revistas chegavam com atraso de semanas, tudo em caráter precário! Só a poeira vermelha flutuava no ar, ocasionada pelos redemoinhos de vento que se formavam na quadra.

Teruo Nakatani

Rodoviária do Plano Piloto (1972 circa)

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À sombra dos ciprestes nas manhãs frias do Cerrado

Em março de 1972, Mestre Martins fixou o Aikido ao Centro Oeste, nos gramados da AABB, a sombra dos ciprestes, às 6:00h, ainda escuridão! Era utilizado o espaço do gramado em frente à churrasqueira do clube. Mestre Martins e Rui Matos chegavam mais cedo, pois tinham que catar as chapinhas de cerveja, e refrigerante, antes de treinar na grama. (Das chapinhas eu tive conhecimento somente oral, pois eu já iniciei na fase que os pesados tatâmis ficavam empilhados no assoalho da quadra de futebol de salão).

Assim, sem dojo, sem tatâmis, iniciava-se o Aikido no coração do Brasil.

Logo depois, com a insistência dos praticantes, a AABB comprou tatâmis e instalou-os no ginásio de esportes no. 1.

Nas manhãs frias, os praticantes colocavam e tiravam os pesados tatâmis pois havia a pratica do futebol de salão que ocupava o mesmo espaço. Uma força de vontade inaudita dirigida pelo Mestre Martins.

Este homem trabalhou, mourejou, estudando a noite no CEUB (Centro de Estudos Universitário de Brasília), e dando aula de Aikido às 6:30 da manhã todas terças, quintas e sábados. E formou-se em Direito.

Viu, então, a arte do Aikido começar a vicejar, com a ajuda de Nilson Ruiz, Rui Matos, Rolf Blat e Clovis Albuquerque, no cerrado do planalto central. Mestre Martins trazia Nakatani Sensei, anualmente, para realizar exames de faixa. Mestre Martins Rui Alencar Mestre Martins Nilson Ruiz AABB Ginásio de esportes no. 1 (1974 circa)

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A força no sangue novo

No ano de 1973 ingressam no grupo os alunos Santos e Tibery, nos anos seguintes, Roberto Crema, Cilmo Oliveira, Mucio Cardoso, Paulo Nascimento e outros.

Em 1975, Mestre Martins recebe a visita, em Brasília, do grande mestre

Yassuo Kobayashi que, por pedido do professor Nakatani, traz consigo o professor Ichitami Shikanai para prosseguir com o desenvolvimento do Aikido no Brasil. Ocorre que, por situações de trabalho e saúde, o professor Nakatani não podia dar continuidade em seus ensinamentos.

Nesta ocasião cabe relevar a importância de Carlos Lúcio Menezes, na época delegado do Departamento de Polícia Federal, pelo esforço de angariar fundos para conseguir o cine Brasília para exibição do filme O Poder Defensivo de Aikido, 1975 (título original: Gekitotsu! Aikidô 激突!合気道, título em inglês: The Defensive Power of Aikido), estrelado por Sonny Chiba). Esse delegado da PF ofereceu almoço - uma feijoada no apartamento dele - antes da demonstração do mestre Kobayashi, na primeira vista de um mestre japonês internacional a Brasília. Foi difícil fazer a demonstração depois da feijoada brasileira!!

1975 – Julho

Desembarque aeroporto de Brasília : (da esquerda para a direita) : Ichitami Shikanai, Yasuo Kobayshi, Colombo, Teruo Nakatani, mestre Martins, Galli, Carlos Lúcio

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Noutra ocasião, o prof. Santos ligou para Shikanai

Sensei (no Rio) e este falou que estava tendo dificuldade

para retirar a bagagem de emigrante da senhora Mayumi (ex-esposa) na Alfândega do Rio. Vale registrar que ela, Mayumi, veio com visto de emigrante conseguido pelo Adido Naval Paraguaçu, e por lei, ela podia trazer, sem tributos, toda a mudança dela de Tóquio para o Brasil (panelas, louças, roupas, etc.). Na bagagem desacompanhada da emigrante Mayumi constava um teclado musical, moderno, eletrônico.

O prof. Santos toma o avião e vai ao Rio, na Alfândega do Porto do Rio, e procura o despachante que explica que era necessário “molhar” a mão do fiscal porque senão o teclado seria apreendido! O prof. Santos explica tudo isto para Shikanai que não entendeu!

Shikanai perguntou: "Eu tenho direito de lei, não é Santos?" Vai explicar o “jeitinho brasileiro” para um estrangeiro!

Então, o prof. Santos decide ligar para o delegado federal Carlos Lúcio na superintendência da PF, em Brasília e surpresa... logo foi liberado o teclado e toda a bagagem da emigrante Mayumi! Curiosamente, mais tarde, o prof. Santos ajuda a vender o teclado eletrônico visto que o casal precisava de dinheiro para o tratamento da filha Minoli.

A expansão

Em 1978, sob a assistência de Shikanai Sensei e apoio do Mestre Martins, o prof. Santos e Tibery, montam academia própria na 312 Norte e alavancam a expansão do Aikido no Plano Piloto. Com Santos e Tibery, ingressam, Nelson e Iliana Takayanagi, Jackson Oliveira, José Ribamar Nunes, Ney Bocannera Júnior, Vera Lúcia Pimenta, Mário Coutinho Júnior, Carlos Emanuel Paiva, Albano Araújo, Valdo Lima, Milton J. Hoffman, Edison Nascimento, Aginaldo Soares, Cláudia Giambastiani, e tantos outros.

Certa vez, neste período, Mestre Martins ficou ferido num acidente de ônibus, quando fazia uma viagem para o Rio de Janeiro, que prejudicou sua

Mayumi (Shikanai)

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visão. Mas, assim mesmo machucado, ministrava as aulas com um grande e grosso óculos escuros.

Em 1989, seu aluno mais talentoso, Antônio Tibery, cria uma nova arte que busca integrar as filosofias das artes marciais para o crescimento pessoal (chamada AMI Jitsu) e se separa do prof. Shikanai para seguir seu glorioso caminho.

No avanço para o Oeste, o professor Santos assessora Ivan Reis na implantação o Aikido em Goiás. Ainda é Santos que incrementa o Aikido de Belém com Marcelo Marques, Jacemir Júnior e Flávio Santos. Segue-se Porto Velho com Paulo Nascimento e Paulo Valente.

Uma casa no campo

Vale registrar, que Mestre Martins na década de 80, adquire um sítio próximo a Luziânia, que chamou de “Espera Feliz”, aonde realizava animados treinos de Aikido nos fins de semana na quadra de areia de vôlei. É neste sítio que o Mestre Martins se realizava no convívio com o trato da terra. Nestes momentos, Mestre Martins capinava, tratava das árvores, cultivava uma grande horta, o maior contato intimo com a Natureza!

Mestre Martins plantava e as formigas saúvas vinham e devastavam, porém, ele dizia que não era nada, e prosseguia. Aplicava Johrei, meditava e prosseguia.

Novas mudanças e crescimento

Mestre Martins tendo uma visão celestial se transfere da AABB para o Clube Cota Mil, aonde vê sua turma crescer com vigor. Neste dojo do Cota Mil, sagrado pela Messiânica, surgem estrelas como João Rego, Rafael, André Boechat e Anderson, dentre outros. É neste dojo que o Mestre Martins vê realizado o seu grande sonho do Aikido no Planalto Central.

Mestre Martins transcendeu no dia 10 de abril de 2012, às 22 horas.

J.F.Santos

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GLOSSÁRIO

dojo :

(道 場 lugar do caminho, dōjō) : é o local onde se treinam artes

marciais japonesas.

doshu :

(道主 Dōshu ) : é um título hereditário (literalmente "mestre do

caminho") denotando o representante maior da organização Aikikai de Aikido

gasshuku:

(合宿 ): é hospedagem em grupo fora do local regular - campo

de treinamento - onde cada a praticante procura aperfeiçoar-se técnica e mentalmente, isolando-se do seu meio de vida cotidiano, facilitando a concentração de suas mentes

Johrei:

[ 浄 "Joh" (purificar) , 霊 "Rei" (espírito) ]: é uma oração ou terapia feita através da imposição de mãos, vista pelos seus adeptos como a comunicação da luz divina para o aprimoramento e elevação espiritual e material do ser humano

randori

: (乱取り): É um termo usado em artes marciais japonesas para

descrever a prática. livre. O termo significa literalmente "pegando o caos" ou "liberdade para agarrar", implicando em uma prática solta em contraste com a prática estruturada de formas preestabelecidas (kata). Randori e kata são formas de treino e são complementares entre si. O significado exato de

randori depende da arte marcial onde é usado. No judô, jiu-jitsu e Aikido

Shodokan, entre outros, na maioria das vezes refere-se a disputa de um contra um, onde os parceiros tentam resistir e contrariar as técnicas um do outro. Em outros estilos de aikido, em particular o do Aikikai, refere-se a uma forma de prática em que um aikidoca designado se defende contra vários atacantes em rápida sucessão, sem saber como eles vão atacar ou em que ordem.

Sensei:

(先生 ): significa literalmente “pessoa nascida antes da outra”. No

uso geral significa “mestre” ou “professor”. É usada como um título para se referir ou se reportar à professores ou profissionais como advogados, médicos, políticos e outras figuras de autoridades. Essa palavra é também usada para mostrar respeito em relação alguém que atingiu um certo nível de maestria em alguma forma de arte ou habilidade, como por exemplo, demonstrar respeito aos hábeis manipuladores de marionetes, músicos, novelistas ou artistas. Os dois ideogramas que compõem essa palavra, sen/sei, podem ser traduzidos diretamente como “antes/nascido” e implica que o indivíduo ensina baseado na sabedoria advinda da idade e experiência.

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Aeroporto de Brasília – Julho de 1975 [da esquerda para direita]

?, ?, Nilson Ruiz com filho nos braços,

Kobayashi, Shikanai, Nakatani, ?, Martins, D. Stela (esposa de Martins) e Ana Paula (filha de Martins)

Praça dos 3 Poderes – Julho de 1975 [da esquerda para direita]

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AABB – 1984

[fila de trás , da esuerda para direita]

Antônio Araújo, ?, Edmar Silva, Cristina, Roberto Costa, Juranir, Alan [sentados, da esquerda para direita]

Mario Gaúcho, Martins, Santos, Rui e Vera Lúcia Pimenta de Moura

AABB - 1984 Martins, Shikanai e Santos

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AABB - Exame - (dada imprecisa) [da esquerda para direita]

Nunes, Santos, Shikanai, Nakatani, Tibery,Martins e Nilson Ruiz

AABB - 16 de março de 2002

Comemoração 30 anos de Aikido em Brasília e

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AABB – 28 de Abril de 2007

Treino e missa em memória do Fundador do Aikido Mestre Martins, Santos e Rev. Fujimoto (Oomoto)

Cia. Atlética – 12 de Março de 2009

Cerimônia de Entrega do Grau de 6o DAN para Mestre Martins

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Aizen Dojo- 28-maio-2011

Treino mensal e homenagem ao mestre Martins que fez palestra sobre o TER e o SER

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12 de Outubro de 2011

Martins Santos

Referências

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