Esse lugar é um teatro ou é uma oficina? Onde é que a gente tá? Eu sou o teatro brasileiro!
Da vida o espelho verdadeiro Vem cá Marcelo!
Sambando nesse carnaval com a minha arte
que é imortal!
Bem vindos ao Teatro Oficina [2007 – BRASÍLIA]
Eu tenho essa oficina desde o dia 2 janeiro de 1965.
Em 1967 eu cheguei a ter 75 funcionários. Mas quando tinha serviço eu pegava às 5, 6 da manhã e ia até meia-noite.
Agora eu não tenho serviço pra isso. E nem entusiasmo.
Eu comecei a trabalhar com 8 anos. Toda a minha família. Meu pai era uma pessoa muito pobre, embora um grande profissional de carpintaria.
Nove filhos. Então nós todos começamos a trabalhar muito crianças. [ZÉ PERDIZ]
Profissão, eu tive que aprender tudo sozinho.
Fui garapeiro, fui sorveteiro, fui candeeiro de carro de boi. Fui ajudante de caminhão. Até uns tempos eu fui comunista.
O politizado sofre porque ele tá vendo as coisas acontecer, e muitas vezes não pode fazer nada.
E o que não é politizado ele não tem esse problema. O politizado e o não politizado
é igual o marido que é traído e não sabe.
Quando eu entrei na juventude comunista, com quase vinte anos, eu tinha a esperança de fazer alguma coisa pelo Brasil, pela classe menos favorecida. Quando o orientador deu a palavra franca eu falei pra ele:
Quando que vocês vão me entregar o fuzil? E ele: Que fuzil?
Gente, vocês tão falando que tão fazendo a revolução e eu vou lutar sem arma? Eu ia ter que ter coragem de matar irmãos meus brasileiros, e de morrer na mão deles.
A gente veio aqui no tempo da construção de Brasília, quando Brasília não tava pronta. Depois, sim. Depois nós voltamos, várias vezes, e uma das vezes foi a mais importante, logo depois do A.I-5.
No Brasil, naquele momento,
havia duas opções, porque era insuportável a ditadura: a luta armada ou a loucura. Acabou a luta armada e eu fui pra loucura, fui pro desbunde. E não me arrependo, nem um minuto. Foi maravilhoso, foi o desbunde que permitiu que se completasse uma revolução no meu corpo, na minha mente. A nossa luta ela foi feita através do teatro.
[2007]
[MONTAGEM DE OS SERTÕES] [TEATRO OFICINA, SÃO PAULO]
[ZÉ CELSO REALIZA UM SONHO DE TRINTA ANOS] [2002]
“Pelo amor de Deus!”
[MONTAGEM DE JOSÉ, E AGORA]
[O ESPETÁCULO RECRIA A BIOGRAFIA DE ZÉ PERDIZ] [GÊ MARTÚ INTERPRETA ZÉ PERDIZ]
Zé Perdiz, esse é o Zé Celso. Ah, Zé.
Boa noite.
Dá um abração aqui na gente, os dois Zé se abraçando. Que loucura.
É uma loucura mas é uma realidade.
Deixa eu ver bem, deixa eu chegar bem, te sentir bem… É isso aí.
Tem de ter as vibrações positivas, né?
E a idéia, quando a gente fez o Oficina, era essa idéia de teatro como oficina mecânica, exige trabalho braçal, que depois virou trabalho de Usina, aí você consegue a Uzona, aí tem a alegria.
Bravo! Zé Perdiz. Meus parabéns.
Muito obrigado, você também tá de parabéns.
Não é só parabéns! Minhas saudações ao teu terrreiro maravilhoso, eu bato a cabeça pra ele, eu vou bater aqui.
É um lugar sagrado! Aqui ninguém mais mexe, não pode deixar ninguém mexer. É uma idéia quase perdida essa que pra gente fazer teatro é preciso ter o lugar. Teatro é um lugar que nem oficina mecânica. Você tinha que meter a mão na massa e trabalhar, ensaiar… Pegar o corpo, e botar numa bigorna, e “pá!”, bater, malhar. Tanto que o nosso símbolo é a bigorna.
O trepe é trepe.
É encontar sexo no sexo. O trepe do trepe, trepe, trepe. Entra agora! O T do Tesão do Teatro! O trepe do trepe, trepe, trepe.
Se eu tô aqui trabalhando, ele tá lá… No subtexto tem alguém falando com ele... Então aí obviamente a postura do ator é outra...
Todo operário que tá trabalhando, dentro da área dele é um artista. Aqui é três metros...
Três. E a diagonal é cinco...
Um fica mais pra frente, um mais pra trás… Então elas ficam desencontradas assim... Exatamente.
O finado Ivan Marques, que era filho da irmã da minha ex-esposa, ele veio pra Brasília menino.
Começou a ensaiar peças aqui, porque eles estudavam no Dulcina, e eles não tinham aonde ensaiar.
Eu tinha uma amizade com ele muito forte, era uma pessoa fantástica, foi um grande ator. E lamentavelmente foi embora cedo.
Em 1988, quem pediu o espaço foi o Mangueira Diniz, pra trazer Esperando Godot.
GODOT NA OFICINA
INFLAÇÃO DE PRÊMIOS PARA GRUPO BRASILIENSE MÁSCARAS E GRAXA
Esse lugar é um teatro ou é uma oficina? Onde é que a gente tá? Senhor Perdiz! Esse espaço aqui é um teatro ou é uma oficina? Posso responder?
De dia é oficina mecânica. Solda, torno, e outras coisas.
E à noite quem faz teatro usa e abusa do espaço. Antônio Conselheiro!
É natural, é natural, é natural…
Que dessas camadas étnicas surgisse uma anti-clinal… extraordinária! Antônio Conselheiro!
A vida resumida de um homem.
Um capítulo instantâneo da história da humanidade. A minha frágil consciência
oscila em torno de uma posição média entre o bom-senso e a insânia. Eu não sou um incompreendido!
A multidão me aclama como representante das suas aspirações mais altas! Antônio Conselheiro foi…
Antônio Conselheiro é… um gnóstico, bronco.
Sujeito à dor, à morte... e ao amor.
Eu não consigo ser um personagem a não ser a minha personagem. Eu só sei ser eu mesmo como personagem.
Eu vou fazer uma pergunta pra você, viu? Faz.
Você realmente é dono da palavra porque você fala muito bem, é um ator que tem o domínio da arte, e domínio dos problemas socias do Brasil.
Não. Aí não, é exagero. Tem sim!
Não. Você quer fugir da reta o problema é seu. Porque todos nós temos obrigações sim, e você também tem.
Tenho, claro.
Se você não tivesse, não tava fazendo o que você faz. Claro.
A turma que faz teatro aqui,
vai mexer na questão da legalização desse espaço,
eles alegam que o tombamento de patrimônio da humanidade não permite fazer isso.
Porquê? Brasília é tombado pela humanidade? E na humanidade não pode ter essa coisa aqui, no meio da humanidade?
Você tem que tombar uma coisa que caminha, que vive. Tombar a vida. Quer tombar, tomba, mas tomba com esse conceito.
Tomba mas não me derruba! Não, pelo contrário, me levanta!
O que eu fiquei chateado e muito amargurado é do espaço ter ido pro espaço. É luta de interesses econômicos.
É uma briga de interesses econômicos. Sempre o maior pisando no menor. Sílvio Santos!
Você, porra! Você não vai destruir o nosso teatro, né?
Foi lá, adorou. E depois sumiu. Tem que aparecer de novo. Ficou encantado com o teatro.
E agora começou a demolir tudo em volta! Tomara que demola tudo logo pra de lá a gente fazer o Anhangabaú da Felicidade.
O nosso sonho é que o governo legalize isso, pra fazer realmente uma obra, pra promover aulas de teatro, ou aulas de musical.
O político brasileiro não tem a dimensão daquilo que pode fazer dele um grande político, que é a riqueza da cultura brasileira.
A cultura brasileira é um poder, a cultura é um poder, a arte é o poder. O que é o teatro pra você?
Engraçado. Você me fez uma pergunta filha da mãe. Mas é capaz de eu conseguir responder ela.
Parece que a idéia é colocar aí umas arquibancadas e apresentar uma peça de teatro. Por mim tudo bem.
O senhor está louco, seu Artaud! Então a missa! O teatro é uma vida paralela com o real.
Coisas reais vão pro teatro, coisas que o teatro apresenta voltam pro real. Rocha viva
Brasileira
Neste ser resistente Retornando sempre Muita gentes Ocidentes Orientes Sul e Nortes Devorando mortes Desmassacrados Tão amados Caboclos persistentes Valseios permanentes Despedaçando Cada pedaço Juntando o novo Num novo abraço