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CONSELHO DE DISCIPLINA

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Academic year: 2021

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CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO PROFISSIONAL

Processo Disciplinar nº 62-20/21

DESCRITORES: Infrações específicas dos Clubes – Incumprimento de deveres de organização – Condições do recinto de jogo – Obrigação de corte da relva – Altura regulamentar - Aplicação no Tempo - Regime mais favorável - Reincidência

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ESPÉCIE: Processo Disciplinar

ARGUIDA:União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD

OBJETO: Eventual incumprimento de deveres de organização no jogo n.º 22004 (204.01.175), entre a UD Vilafranquense SAD e a FC Penafiel SAD, realizado no dia 18 de março de 2021, a contar para a Liga Portugal SABSEG

DATA: 10 de agosto de 2021 TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade RELATOR: Coutinho de Almeida

NORMAS APLICADAS: Artigos 11º, nºs 1 e 3; 53º, nº 1, a) e n.º 2; 56º, nº 3; 87º-A, nº 2, todos do RDLPFP20; artigo 39º e E4 do artigo 10º do ANEXO IV do Regulamento das Infraestruturas e Condições Técnicas e de Segurança nos Estádios, do RCLPFP20

SUMÁRIO:

I - As sanções são determinadas pela norma punitiva vigente no momento da prática da infração disciplinar, pelo que quando as normas disciplinares vigentes no momento da prática da infração forem diferentes das estabelecidas em normas posteriores, a aplicação prospetiva da nova lei só é possível se a sanção se mostrar mais favorável ao Arguido.

II - O promotor do espectáculo desportivo em cujo recinto se realiza um jogo inserido numa competição nacional de cariz profissional, tem o dever de manter o rectângulo de jogo “(…) com a relva cortada, com corte de 22mm a 25mm (..).”

III - O clube visitado que não cumpra aquele dever regulamentar, incorre na prática da infração disciplinar p. e p. pelo artigo 87.º-A, n.º 2 do RDLPFP2020.

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ACÓRDÃO

Acordam em conformidade com o disposto nos artigos 249.º n.º 7 e 206.º n. º1 do Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional os membros do Conselho de Disciplina, Secção Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol1

I – Relatório 1 - Registo inicial

1. Por deliberação da Secção Profissional, datada de 19.03.2021, mediante relatório dos delegados da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) relativo ao jogo oficial n.º 22004 (204.01.175), disputado entre a União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD e a Futebol Clube de Penafiel – Futebol SAD, a contar para a 20.ª Jornada da Liga Portugal SABSEG, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (CD) instaurou e remeteu à Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (CI) o presente processo, autuado como processo disciplinar, e em que é arguida a União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD (1165.1) , tendo como objeto «Eventual incumprimento de deveres de organização no jogo n.º 22004 (204.01.175), entre a UD Vilafranquense SAD e a FC Penafiel SAD, realizado no dia 18 de março de 2021, a contar para a Liga Portugal SABSEG» (cf. capa do processo e fls. 1).

2. Por despacho do Exmo Presidente da Comissão de Instrutores, proferido em 29.03.2021 nos termos da alínea c) do Artigo 210.º do Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o referido processo foi distribuído ao próprio Senhor Presidente (fls. 23), na sequência do qual, por despacho de fls. 24 a 27 que aqui se dá por integralmente reproduzido, se determinou a notificação da arguida União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 227.º do RDLPFP.

1 Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional aprovado na Assembleia Geral Extraordinária da Liga Portuguesa de Futebol Profissional de 27 de Junho 2011, com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de Dezembro 2011, 21 de Maio de 2012, 6 e 28 de Junho de 2012, 27 de Junho de 2013, 19 e 29 de Junho 2015, 8 e 15 de Junho de 2016, 29 de maio e 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018, 29 de junho de 2018 e 22 de Maio de 2019, e de 28 de julho de 2020, ratificado na reunião da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol de 26 de agosto de 2020 (Comunicado Oficial n.º 83, de 15 de setembro de 2020, publicado a 16 de setembro de 2020), doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDLPFP20. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página da LPFP.

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3. Como diligências instrutórias, o Sr. Instrutor determinou e ordenou que se procedesse à junção, aos presentes autos:

a) Do extrato disciplinar da arguida, abrangendo a atual e as três últimas épocas desportivas anteriores à da data da prática dos factos, entretanto junto em fls. 31 a 34.

b) A notificação do Delegado da Liga, Frederick Oliva, para vir aos autos prestar os esclarecimentos ali concretizados relativos ao jogo n.º 22004 (204.01.175), entre a UD Vilafranquense SAD e a FC Penafiel SAD, realizado no dia 18 de março de 2021, às 15H00, a contar para a Liga Portugal SABSEG, os quais constam a fls. 37.

4. Na sequência da notificação efetuada nos termos e para os efeitos acima mencionados, optou a arguida por se não pronunciar nem nada requerer.

5. Mostram-se ainda junto aos autos:

a) o comunicado oficial nº 326 da Liga Portugal, de 19.03.2021, na parte referente à apreciação em processo sumário da conduta da arguida e dos seus agentes no desafio em causa (fls. 4 e 5);

b) a documentação oficial do jogo, nomeadamente relatório de árbitro (fls. 5 a 7), relatório de delegado (fls. 12) e ficha técnicas dos clubes (fls.14 a 19);

6. Na sequência da notificação efectuada nos termos e para os efeitos acima mencionados, a arguida nada disse, não apresentou qualquer pronúncia escrita ou requerimento probatório.

2 - Relatório Final

7. Considerando encerrada a atividade instrutória, o Ilustre Instrutor elaborou o Relatório Final, constante de fls. 39 a 48 dos autos, o qual, por brevidade e desnecessidade de repetição, aqui se dá por inteiramente reproduzido para todos os efeitos, onde faz ressaltar, no âmbito da apreciação jurídico-disciplinar, a factualidade que determinou a instauração deste processo.

3 – Da Acusação

8. Também no âmbito do Relatório Final, em 19.07.2021, o Ilustre Instrutor deduziu a Acusação constante de fls. 43 a 48 dos autos, cujo teor, por brevidade e desnecessidade de repetição, aqui se dá por inteiramente reproduzida para todos os efeitos legais e regulamentares, por considerar suficientemente indiciado que a arguida cometeu 1 (uma) infração disciplinar p. p.

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pelo artigo 87.º-A, n. º 2 [Incumprimento de deveres de organização], do RD LPFP, com referência ao artigo 39.º, n. º 4, do RC LPFP, punível com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 50 UC e o máximo de 100 UC, podendo, em caso de reincidência, os limites mínimos e máximos da sanção ser elevados para o dobro (nº 4 do citado artº 87º-A).

4 - Audiência Disciplinar

9. Após a dedução da Acusação, foram os presentes autos remetidos pela CI a esta Secção Profissional do Conselho de Disciplina da FPF, tendo em vista, nomeadamente, a realização da respetiva Audiência Disciplinar, a qual, por despacho de 23.07.2021, foi agendada para o dia 02.08.2021, pelas 10H00, conforme melhor resulta de fls. 50.

10. Regularmente notificada da acusação em 23/07/2021, a arguida nada disse, não apresentou memorial de defesa, nem requereu a produção de prova.

11. No dia 02.08.2021, cerca das 10:00 horas, realizou-se a audiência disciplinar, perante o Relator, com observância do formalismo regulamentar, à qual apenas compareceu o Senhor Dr. Sérgio Rola, em representação da Comissão de Instrutores, diligência essa que se encontra gravada em registo de áudio, não tendo comparecido a arguida ou quem a representasse, sem qualquer justificação.

12. Iniciada a audiência disciplinar e após a concessão da palavra ao representante da CI, o mesmo pugnou pela procedência da acusação, nos termos e para os efeitos do disposto no nº 1 do artigo 242º do RDLPFP, nada mais sendo requerido, a audiência disciplinar foi dada por encerrada, tendo o processo sido concluso para a prolação de decisão.

II – Competência do Conselho de Disciplina

13. Nos termos do artigo 43.º, n.º 1 do RJFD20082, compete a este Conselho, de acordo com a Lei e com os Regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos Estatutos e das competências da Liga Profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva.

2 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último. O artigo 3º da Lei nº 101/2017, de 28 de agosto, veio também a introduzir alterações neste regime, embora sem relevância neste domínio.

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No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho3.

III – Questões Prévias

Da aplicação da Lei no Tempo

14. Constatando-se que a presente decisão é prolatada na vigência do RDLPFP214, que entrou em vigor na sequência do Comunicado Oficial n.º 18, datado de 14.07.2021,5 cumpre indagar se a sucessão de regimes regulamentares levanta, in casu, um problema de aplicação da lei no tempo.

15. Preceitua a disposição transitória 1.ª do novo Regulamento o seguinte: «O presente Regulamento entra em vigor imediatamente após a publicação em comunicado oficial da deliberação de ratificação pela Assembleia-Geral da FPF, nos termos do artigo 47.º dos Estatutos Federativos».

16. Na esteira dos regulamentos anteriores, o RDLPFP21 contém disposições específicas em matéria de aplicação no tempo, podendo ler-se no seu artigo 11.º o seguinte:

«(...)

1. As sanções são determinadas pela norma punitiva vigente no momento da prática da infração disciplinar;

2. O facto punível como infração por norma legal ou regulamentar no momento da sua prática deixa de ser punível se, em virtude da entrada em vigor de nova disposição legal ou regulamentar, deixar de ser qualificado como infração disciplinar; no caso de já ter havido condenação, ainda que por decisão já definitiva na ordem jurídica desportiva, cessa de imediato a respetiva execução; 3. Quando a sanção aplicável no momento da prática do facto for diversa daquela que vigorar em momento posterior será sempre aplicado o regime que concretamente se mostrar mais favorável

3 Disponível, na íntegra, na página da Federação Portuguesa de Futebol.

4 Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional aprovado na Assembleia Geral Extraordinária de 27 de junho de 2011, com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 06 e 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 19 e 29 de junho de 2015, 08 de junho de 2016, 15 de junho de 2016 e 29 de maio, 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018 e 29 de junho de 2018 e de 22 de maio de 2019 e de 28 de julho de 2020 e 02 de junho de 2021, ratificado na reunião da Assembleia Geral Extraordinária da FPF de 14 de julho de 2021, adiante também designado, por mera economia de texto, por RDLPFP21. O texto regulamentar encontra-se igualmente disponível, na íntegra, na página da LPFP.

5 Cf. Comunicado Oficial n.º 18, de 14.07.2021, disponível na íntegra em https://www.fpf.pt/pt/Institucional/Documenta%C3%A7%C3%A3o.

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ao arguido, salvo se este já tiver sido condenado por decisão transitada em julgado (...);

6. As normas procedimentais previstas no presente Regulamento serão aplicáveis a todos os procedimentos instaurados após a sua entrada em vigor (...)».

17. Importa destacar que à data da prática dos factos que deram origem à instauração do presente processo disciplinar, ou seja, em 18.03.2021, estava vigente o RDLPFP20. Ora, como nota Germano Marques da Silva, «a escolha dos regimes penais em confronto em sede de aplicação das leis no tempo, tem de ser feita em bloco, não podendo criar-se uma norma abstracta com os elementos mais favoráveis das várias leis» 6.

18. A infração disciplinar em juízo nos presentes autos – a saber, uma infração disciplinar p. p. nos termos do artigo 87.º-A, n. º 2 [Incumprimento de deveres de organização], do RDLPFP, com referência ao artigo 39.º, n. º 4, do RC LPFP - não sofreu, no essencial, alterações nem na sua hipótese, nem no respetivo arco sancionatório.

19. Uma vez que não se detectam, noutros segmentos do Regulamento, alterações com impacto na responsabilidade disciplinar da arguida – mormente no que respeita às circunstâncias atenuantes (artigo 55.º), à reincidência como elemento de qualificação do tipo (artigo 54.º), aos prazos de caducidade e prescrição (artigos 22.º e 23.º) e ao valor da unidade de conta (UC), sobre o qual recai o fator de ponderação previsto no n.º 3 do artigo 36.º (0,35) - e tendo em conta que, efetuado um exercício comparativo entre os blocos normativos do RDLPFP20 e do RDLPFP21, não se mostra o segundo concretamente mais favorável para a arguida do que o primeiro, em termos que imponham a aplicação do preceituado no nº 3 do artigo 11º, conclui-se que o preconclui-sente procedimento disciplinar deve conclui-ser regulado, tanto substantiva como procedimentalmente, pelo Regulamento disciplinar vigente à data da prática dos factos - a saber, o RDLPFP20.

20. Inexistindo outras questões prévias de que se deva tomar conhecimento ou apreciar, passamos para a análise e valoração da prova.

6 Germano Marques da Silva, Direito Penal Português – Parte Geral – I Introdução e teoria da lei penal, Editorial Verbo, Lisboa, 1997, p. 265

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IV - Fundamentação de facto

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

21. Nem no RDLPFP, nem em qualquer outro diploma de natureza jusdisciplinar desportiva que regule as competições futebolísticas, encontramos uma resposta expressa à questão da valoração da prova em ambiente disciplinar desportivo.

22. Contudo, a redação do nº 1 do artigo 16º do RDLPFP permite-nos resolver, ainda que indiretamente, essa questão: «[n]a determinação da responsabilidade disciplinar é subsidiariamente aplicável o disposto no Código Penal e, na tramitação do respetivo procedimento, as regras constantes do Código de Procedimento Administrativo e, subsequentemente, do Código de Processo Penal, com as necessárias adaptações».

23. Neste enquadramento, quando se questiona e se procura indagar a base normativa para a valoração da prova pelo julgador, para efeitos do processo disciplinar desportivo e, especialmente, porque este assume natureza pública, o entendimento deste Conselho, que já antes ia nesse sentido, fica, por via daquele normativo, mais sedimentado e com respaldo regulamentar, ou seja, a resposta está nos princípios do direito penal e, em especial, nas regras do respetivo processo.

24. Portanto, é, sem dúvida, no processo penal que vamos encontrar um complexo normativo referencial também para a questão da valoração da prova no direito disciplinar desportivo, desde logo porque encontramos as normas processuais penais que são, pela sua própria natureza, aquelas que se colocam como mais garantísticas dos direitos de defesa dos arguidos, razão pela qual, nalguns casos e sempre com as necessárias adaptações, o processo penal pode e deve representar a matriz do direito sancionatório público (criminal, contraordenacional e disciplinar7).

25. Por outro lado, é também entendimento pacífico na nossa jurisprudência que ao processo disciplinar se deve aplicar a regra da “livre apreciação da prova” consagrada no artigo 127.º, do

7 A própria Constituição da República Portuguesa parece sufragar este entendimento quando, a propósito das garantias do processo criminal, estende a outros processos sancionatórios, de forma inequívoca, pelo menos algumas delas (cf. artigo 32.º, n.º 10).

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Código de Processo Penal8, o que bem se compreende, dadas as proximidades e as similitudes

entre o processo disciplinar e o processo penal, designadamente no que respeita a alguns procedimentos e às garantias do arguido.

26. Na verdade, o artigo 127.º do Código de Processo Penal estatui que a prova é apreciada segundo as regras da experiência comum e a livre convicção da entidade competente, sem prejuízo, como é óbvio, do princípio da “presunção de inocência”, consagrado no artigo 32.º, n.º 2, da CRP, e do princípio “in dubio pro reo”, que igualmente fazem parte da dimensão jurídico-processual do princípio material da culpa.

27. Nesta conformidade, o julgador, no exercício do poder disciplinar – ou seja, a “entidade competente” de que nos fala o citado artigo 127.º, para o processo penal – tem a liberdade de formar a sua convicção sobre os factos submetidos à sua apreciação e ao seu julgamento, sendo que a livre apreciação da prova não pode nunca “ser entendida como uma operação puramente subjectiva pela qual se chega a uma conclusão unicamente por meio de impressões ou conjecturas de difícil ou impossível objectivação, mas valoração racional e crítica, de acordo com as regras comuns da lógica, da razão, das máximas da experiência e dos conhecimentos científicos, que permita objectivar a apreciação, requisito necessário para uma efectiva motivação da decisão”9.

28. Como se lê no Acórdão n.º 1165/96, do Tribunal Constitucional, «a livre apreciação da prova não pode ser entendida como uma operação puramente subjetiva, emocional e, portanto, imotivável. Há-de traduzir-se em valoração racional e crítica, de acordo com as regras comuns da lógica, da razão, das máximas da experiência e dos conhecimentos científicos, que permita ao julgador objectivar a apreciação dos factos, requisitos necessários para uma efetiva motivação da decisão».10

8 Neste sentido ver, entre outros, o acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, processo n.º 03132/11.6BEPRT, de 20-05-2016; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 07455/11, de 12-03-2015; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 06944/10, de 20-12-2012; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, processo n.º 00093/06.7BEVIS, de 09-12-2011; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 01717/06, de 05-11-2009; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 12372/03, de 29-09-2005; o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 10842/01, de 11-03-2004 (todos disponíveis em www.dgsi.pt).

9 GERMANO MARQUES DA SILVA, Curso de Processo Penal, II, Lisboa, Editorial Verbo, 1993, p. 111.

10 Cf. Acórdão n.º 1165/96, do Tribunal Constitucional, prolatado a 19.11.1996 (Relator: Monteiro Diniz), reiterada, entre outros, no acórdão n.º 395/2018, prolatado a 11.07.2018 (Relator: Maria José Rangel de Mesquita), ambos disponíveis na íntegra em www.tribunalconstitucional.pt.

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29. Em conclusão, o julgador em sede disciplinar deve apreciar a prova de acordo com as regras da experiência comum e a sua livre convicção, sendo, porém, objetivo, ponderado e justo na análise dessa mesma prova, dentro dos limites da legalidade a que deve obediência.

30. Todavia, a “talhe de foice”, sempre se dirá que nunca é por demais reafirmar que no âmbito disciplinar desportivo, a concreta conformação do mencionado princípio vê-se condicionada pelo valor especial e reforçado que os relatórios oficiais e declarações complementares das equipas de arbitragem e dos delegados da LPFP (como é o caso dos autos) merecem em tal contexto. Com efeito, o RDLPFP – numa aproximação à previsão constante do artigo 169.º do Código de Processo Penal – dispõe, na al f) do artigo 13.º, que os factos presenciados pelas equipas de arbitragem e pelos delegados da LPFP, percecionados no exercício das suas funções, constantes de relatórios de jogo e de declarações complementares, se presumem verdadeiros enquanto a sua veracidade não for “fundadamente” posta em causa.

31. Com efeito, o valor probatório qualificado a que o RDLPFP alude constitui um mecanismo regulamentar compreendido e justificado pelo cometimento de funções particularmente importantes aos árbitros e delegados da LFPF, a quem compete representar a instituição no âmbito dos jogos oficiais, cumprindo e zelando pelo cumprimento dos regulamentos, nomeadamente em matéria disciplinar (ainda que isso possa não corresponder aos interesses egoísticos dos clubes). Na verdade, encontramo-nos, nesta sede, no domínio do exercício de poderes de natureza pública – in casu disciplinares –, que se sobrepõem aos interesses particulares dos clubes. No quadro competitivo, enquanto os clubes concretizam interesses próprios, compete a quem tem o poder e o dever de organizar a prova e fazer cumprir os regulamentos prosseguir um interesse superior ao interesse próprio de cada um dos clubes que a integram. Neste conspecto, o interesse superior da competição, realizado no âmbito de determinados poderes de natureza pública (que são exercidos em representação da própria LFPF), justifica perfeitamente que os relatórios dos árbitros e dos delegados e declarações complementares respetivas – vinculados que estão a deveres de isenção e equidistância –, gozem da aludida presunção de veracidade (presunção “juris tantum”). Trata-se, afinal, da consequência necessária e justificada do exercício, no quadro do jogo, da autoridade necessária para assegurar a ordem, a disciplina e o cumprimento dos regulamentos, distanciando-se das disputas que envolvem os participantes nas provas.

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e refutar a materialidade relatada por árbitros e delegados da LFPF (e declarados como diretamente percecionados no exercício das respetivas funções oficiais) impõe-se um especial esforço probatório, exigindo-se-lhes a apresentação de prova bastante para legítima e racionalmente questionar, colocar fundadamente em causa ou justificadamente pôr em dúvida a veracidade dos factos narrados nos relatórios oficiais ou declarações complementares. Destarte, a credibilidade probatória reforçada de que gozam tais relatórios oficiais só sairá abalada quando, perante a prova produzida, existirem fundadas razões para acreditar que o seu conteúdo não é verdadeiro. Para além disso e em segundo lugar, no que tange à atividade decisória, a força probatória reforçada de que tais relatórios beneficiam impõe ao julgador, quando entenda impor-se o afastamento da presunção de veracidade, um “especial dever de fundamentação”11.

33. Para além disso, importa ainda tomar em linha de conta que, à semelhança do processo penal, vigora neste contexto, e à luz do que determina o artigo 13.º, al. h), do RDLPFP, o princípio da «liberdade de produção e utilização de todos os meios de prova em direito permitidos». 34. É, pois, em conformidade com estes princípios que cumpre decidir sobre as questões em análise, designadamente a matéria de facto relevante para a decisão quanto à acusação.

§2. Factos provados

1º -Na época desportiva de 2020/2021, a arguida União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD participou na Liga Portugal SABSEG, competição organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

2º - No dia 18/03/2021, no Estádio Rio Maior, em Rio Maior, disputou-se o desafio entre a arguida União Desportiva Vilafranquense - Futebol SAD e a Futebol Clube de Penafiel - Futebol SAD, a contar para a 20.ª Jornada da Liga Portugal SABSEG, cuja organização cabia à arguida.

3º - Acontece que para a realização desse desafio, o relvado do Estádio Municipal de Rio Maior apresentava-se com um corte irregular e um tamanho superior ao regulamentado (35 mm).

11 Convocando o pensamento de PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, este «A limitação do julgador consiste em que ele deve

“fundadamente” pôr em causa a autenticidade ou veracidade do documento», In Comentário ao Código de Processo Penal, 2.ª Edição, Un. Católica Editora, 2008, pág. 452.

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4º - Tal situação foi detetada pelo Delegado da Liga aquando da sua chegada ao estádio, tendo tal facto sido reportado ao Sr. Diretor de Campo, o qual referiu que não seria possível proceder a um novo corte da relva, pois tal iria demorar 3 (três) horas até sua conclusão. O mesmo Director de Campo referiu também que o último corte de relva tinha acontecido na tarde do dia anterior.

5º - A arguida agiu de forma livre, consciente e voluntária, bem sabendo que o seu comportamento, constitua violação de dever constante em disposições regulamentares aplicáveis às competições de futebol organizadas pela Liga Portugal, como é o caso da Liga Portugal SABSEG, não se abstendo, porém, de o realizar.

6º - À data da prática dos factos, a arguida União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD, apresentava os antecedentes disciplinares constantes de fls. 31 a 34 dos autos.

§3. Factos não provados

35. Com relevo para a apreciação e para a decisão deste processo, não há quaisquer factos que não tenham resultado provados.

V - Motivação da Fundamentação de Facto

36. No caso vertente, para a formação da nossa convicção foi tido em consideração todo o acervo probatório carreado para os autos, consubstanciado essencialmente na prova documental e nos esclarecimentos prestados pelo Senhor Delegado da Liga, elementos esses que foram objeto de análise crítica e criteriosa, à luz de regras de experiência comum e segundo juízos de normalidade e razoabilidade, como se passa a expor:

(i) A prova dos factos descritos em 1º e 2º de §2. Factos provados assenta nos documentos de fls. 5 a 19;

(ii) A prova dos factos descritos em 3º e 4º de §2. Factos provados resulta do Relatório de fls. 12 e dos esclarecimentos de fls. 37 e 38 dos autos;

(iii) A prova do facto descrito em 5º de §2. Factos provados, representando o estado psíquico da arguida no quadro do preenchimento do elemento subjetivo do tipo da infração disciplinar em causa, a sua demonstração decorre da valoração dos elementos probatórios juntos aos autos e já acima mencionados, à luz da lógica e das regras da experiência comum de um homem médio.

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(iv) Os antecedentes disciplinares a que se faz referência em 6º de §2. Factos provados, encontram-se documentados no registo disciplinar da arguida de fls. 31 a 34 dos autos, cujo teor, por brevidade e desnecessidade de repetição, aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais e regulamentares;

De salientar que para a formação da convicção igualmente relevou a total ausência doutros elementos que pudessem afastar, contraditar ou pôr em dúvida os factos provados, mormente trazidos pela arguida.

VI - Fundamentação de direito

§1. Enquadramento jurídico-disciplinar

A - Fundamentos e âmbito do poder disciplinar

37. O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol – ou, por delegação, pela Liga Portuguesa de Futebol profissional – assume natureza pública.12

Com clareza, concorrem para esta proposição as normas constantes dos artigos 19.º, n.º 1 e 2, da Lei n.º 5/2007 de 16 de janeiro (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto)13 e dos artigos 10.º e 13.º, alínea i), do RJFD2008.

38. A existência de um regulamento justifica-se pelo dever legal – artigo 52.º, n.º 1, do RJFD2008 – de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo-se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (artigo 52.º, n.º 2, do RJFD2008).14

12 “A Federação Portuguesa de Futebol é uma pessoa coletiva de direito privado sem fins lucrativos, dotada de utilidade

pública desportiva, por via da qual o Estado lhe atribuiu competências várias para o uso, em exclusivo, de poderes de natureza pública, entre os quais o poder regulamentar e o poder disciplinar” (Ac. do STJ de 05.07.2018, procº nº

8671/14.4T8LSB.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt).

13 A Lei nº 5/2007 sofreu alterações, nomeadamente através da Lei nº 74/2013, de 6 de setembro, mas sem qualquer relevância neste âmbito.

14 Sob a epigrafe “Regulamentos disciplinares”, o artigo 52º estatui que:

“1 – As federações desportivas devem dispor de regulamentos disciplinares com vista a sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva. 2 – Para efeitos da presente lei, são consideradas normas de defesa da ética desportiva as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo.”

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39. O poder disciplinar exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutário (artigo 54.º, n.º 1, do RJFD2008).15

Em conformidade com o artigo 55.º do RJFD2008 o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal.

40. Todo este enquadramento, representa, entre tantas consequências, que estamos perante um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se encontram a ele sujeito, conforme o âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

B - Das infrações disciplinares em geral

41. O RDLPFP encontra-se estruturado, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator - clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e trinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da Liga.

42. Para cada um destes tipos de agente o RDLPFP recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

C - Da infração disciplinar concretamente imputada

43. No caso concreto situamo-nos no universo das infrações dos Clubes qualificadas como graves, previstas e punidas de acordo com os artigos 84º a 118.º. do RDLPFP20.16

15 “Artigo 54º (Âmbito do poder disciplinar):

1 – No âmbito desportivo, o poder disciplinar das federações desportivas exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a actividade desportiva compreendida no seu objecto estatutário, nos termos do respectivo regime disciplinar.

2 – Os agentes desportivos que forem punidos com a pena de incapacidade para o exercício de funções desportivas ou dirigentes por uma federação desportiva não podem exercer tais funções em qualquer outra federação desportiva durante o prazo de duração da pena.”

16 Capítulo IV (Infrações disciplinares), Secção I (Infrações específicas dos clubes), Subsecção II (Infrações disciplinares graves).

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44. Em causa, encontra-se a previsão constante do artigo 87.º-A, nºs 2 e 4 (Incumprimento de

deveres de organização), por referência à violação do disposto no artigo 39º (Requisitos do terreno de jogo) do Regulamento das Competições Organizadas pela Liga Portugal 17, com

destaque para os respectivos nºs 2 e 4, que a seguir se transcrevem: «Artigo 87.º-A

Incumprimento de deveres de organização […]

2. O clube que não cumpra a obrigação de corte da relva estabelecida no n.º 4 do artigo 39.º do Regulamento das Competições é punido com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 50 e o máximo de 100 UC.

[…]

4. Em caso de reincidência em algum dos ilícitos previstos nos números anteriores, os limites mínimo e máximo da sanção neles prevista serão elevados para o dobro».

“Artigo 39.º

Requisitos do terreno de jogo […]

2. Em todos os jogos das competições organizadas pela Liga Portugal, a altura da relva não pode ser inferior a 22 milímetros, nem exceder 25 milímetros e toda a superfície do jogo deve ser cortada com a mesma altura.

3. Para fiscalização do cumprimento do estabelecido no número anterior, os delegados da Liga devem realizar uma vistoria ao relvado com a antecedência mínima de 3 horas antes do início do jogo, sendo o clube visitado obrigado a acompanhar a vistoria através do diretor de campo ou de responsável designado para o efeito, podendo a equipa visitante, querendo, nomear um responsável para acompanhar a dita vistoria.

4. Caso os delegados da Liga verifiquem que a altura da relva excede o máximo previsto no n.º 2, o clube visitado está constituído na obrigação de proceder ao corte de relva com a antecedência mínima de duas horas e 30 minutos em relação ao início do jogo».

§2. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

45. Como acima se disse, determina o artigo 17.º do RDLPFP20 (Conceito de infração disciplinar) que se considera infração disciplinar “o facto voluntário, por ação ou omissão, e ainda que meramente culposo, que viole os deveres gerais ou especiais previstos nos regulamentos desportivos e demais legislação aplicável.”

46. Na época desportiva 2020/2021, a arguida União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD

17 Regulamento das Competições Organizadas pela Liga Portugal (com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 27 de junho de 2011, 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 20 de junho de 2014, 19 e 29 de junho de 2015, 21 de outubro de 2015, 15 de março de 2016, 28 de junho de 2016, 07 de fevereiro de 2017, 12 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 27 de fevereiro de 2018, 27 abril de 2018, 25 de maio de 2018, 29 de junho de 2018, 22 de maio de 2019, 08 de junho de 2020, 28 de julho de 2020 e 30 de setembro de 2020), doravante abreviado, por mera economia de texto, por RCLPFP20 ou simplesmente RCLPFP, cujo texto regulamentar se encontra disponível, na íntegra, na página da LPFP.

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participou na Liga Portugal SABSEG, competição organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, encontrando-se, por isso, submetida ao RDLPFP e ao exercício da ação disciplinar por parte do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (em conformidade com os artigos 3.º n.º 1, 4.º n.º 1, alíneas a) e b), 5.º n.º 1 e 7.º, n.º 1 e n.º 2, todos do RDLPFP). 47. Ora, conforme resulta provado, para além de inequivocamente demonstrado pelos documentos juntos aos autos, a arguida participou, na época desportiva 2020/2021, na “Liga Portugal SABSEG”, correspondente ao segundo escalão das competições organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional. 18

48. Atendendo a tal facto, bem como ao teor dos Relatórios juntos aos autos, é inequívoco que a arguida promoveu e/ou organizou espetáculos desportivos que respeitam à referida competição (II Liga) considerada de natureza profissional, nomeadamente o desafio a que os autos se reportam - vide artigo 7.º n.º 1 alínea b) do RCLPFP, artigo 59º do RJFD2008 (DL n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro) e artigo 14º da Portaria 50/2013, de 5 de Fevereiro).

49. E, como tal, a arguida tinha o dever e a obrigação, no caso em apreço, de manter o rectângulo de jogo “(…) com a relva cortada, com corte de 22mm a 25mm, em listas paralelas à linha de meio campo e com as marcações devidamente visíveis conforme imposto pelas Leis do Jogo” (requisito E4 do artigo 10º do ANEXO IV do Regulamento das Infraestruturas e Condições Técnicas e de Segurança nos Estádios ao RCLPFP20), requisito essa que igualmente resulta do citado artigo 39º do RCLPFP20, como já se disse.

50. Ao violar aquele dever específico, como resulta dos factos provados, é inequívoca a conclusão de que a arguida não actuou com o cuidado e a diligência que lhe era exigível, pois tendo a possibilidade de prever o preenchimento do tipo de infração, contribuiu conscientemente para a produção do resultado típico, no caso sob juízo, não tendo, por consequência, cortado ou providenciado por manter a relva cortada, com a altura de 22mm a 25mm, factos esses que a própria arguida não nega, nem cuidou em contraditar.

51. Podemos, pois, concluir que a conduta da arguida, consubstanciada nos factos supra descritos em 1.º a 5.º de § 2º de Factos provados, preenche os elementos objetivos e subjetivos do ilícito disciplinar p. e p. pelo nº 2 do artigo 87º-A do RDLPFP20 [Incumprimento de deveres

18 Cfr. artigo 7.º do RCLPFP, quanto à denominação da competição e artigos 20.º e ss. do mesmo diploma, relativamente ao aludido escalonamento.

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de organização], razão pela qual deve ser responsabilizada e sancionada disciplinarmente, nos termos que dilucidaremos de seguida.

VII – Medida e graduação da sanção

52. É no Capítulo III (“Medida e graduação das sanções”), artigos 52.º a 61.º do RDLPFP, que nos deparamos com as normas que possibilitam alcançar a media concreta da sanção, tendo sempre presente o princípio da proporcionalidade patente no artigo 10.º:

“As sanções disciplinares aplicadas como consequência da prática das infrações disciplinares previstas no presente Regulamento devem ser proporcionais e adequadas ao grau da ilicitude do facto e à intensidade da culpa do agente.”

53. Também como princípio mentor da tarefa de concretização da medida da sanção, deve ter-se como revelante o disposto no artigo 52.º (“Determinação da medida da sanção”):

“A determinação da medida da sanção, dentro dos limites definidos no presente Regulamento, far-se-á em função da culpa do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de futuras infrações disciplinares.”

Acrescenta o n.º 2 deste artigo que na determinação da sanção, atender-se-á a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo da infração, militem a favor do agente ou contra ele.

54. Por seu lado, o artigo 53.º, vem estabelecer as circunstâncias agravantes, no seu n.º 1: “1. Constituem especiais circunstâncias agravantes de qualquer infração disciplinar: a) a reincidência;

(…)

f) a prática da infração com o objetivo ou a finalidade de impedir a deteção ou a punição de outra infração.”

O n.º 2 do mesmo artigo explicita o seguinte:

“É sancionado como reincidente quem, na mesma época desportiva, depois de ter sido sancionado, por decisão transitada em julgado, pela prática de uma infração disciplinar vier a cometer, por si ou sob qualquer forma de coautoria, outra infração disciplinar do mesmo tipo, infração maior gravidade ou duas ou mais infrações de menor gravidade.”

55. Cabe ao artigo 55.º, n.ºs 1 a 3, elencar as circunstâncias atenuantes: “1. São especiais circunstâncias atenuantes das faltas disciplinares:

a) o bom comportamento anterior, aferido pela inexistência de condenações disciplinares há mais de um ano.

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b) a confissão espontânea da infração;

(…)

2. Para além das atenuantes previstas no número anterior, é ainda considerada como circunstância especialmente atenuante o cumprimento de uma pena de suspensão que posteriormente venha a ser reduzida em mais de um terço ou revogada por decisão final na ordem jurídica desportiva caso a suspensão já tenha sido integral ou parcialmente cumprida.

3. Além destas, poderão excecionalmente ser consideradas outras atenuantes, quando a sua relevância o justifique.”

(…)

56. O artigo 56.º explicita os termos da atenuação e do agravamento, nos seguintes termos: “1. O efeito da aplicação das circunstâncias atenuantes e agravantes opera sobre a sanção concretamente determinada nos termos do artigo 52.º.

2. Sempre que houver lugar à aplicação de circunstância atenuante, a sanção concretamente aplicada ao agente é reduzida em um quarto, salvo disposição especial em sentido diverso.

3. Sempre que houver lugar à aplicação de circunstância agravante, a sanção concretamente aplicada ao agente é agravada em um quarto.

(…)”

57. Por último, há ainda a registar a possibilidade de atenuação especial da sanção, prevista no artigo 60.º:

“A sanção concretamente aplicada, depois de determinada ao abrigo do disposto nos artigos anteriores, poderá ainda ser especialmente atenuada em de um quarto a dois terços quando existam circunstâncias anteriores, contemporâneas ou posteriores à infração que diminuam por forma acentuada a ilicitude do facto ou a culpa do agente.”

58. Voltando ao caso em apreço e levando em conta o recorte factual apurado, importa começar por assentar que não se antevêem quaisquer circunstâncias anteriores, contemporâneas ou posteriores à prática da infração disciplinar que nos conduzam à possibilidade de atenuação especial da sanção, prevista no artigo 60.º do RDLPFP.

59. Já no tocante ao registo disciplinar, deixamos evidenciado nos factos provados que dele resulta a existência de antecedentes disciplinares, não tendo, porém, a arguida sido punida pelo ilícito disciplinar p. p. pelo artigo 87.º-A, nº 2 do RDLPFP20, em qualquer uma das três épocas desportivas anteriores àquela que se encontrava em curso.

60. Fica, portanto, afastada a aplicação da reincidência como elemento da qualificação do tipo reclamada nos termos conjugados pelo artigo 54º e pelo artigo 87º-A, nº 4, ambos do RDLPFP,

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que a acusação (e bem) afastou, a qual determinaria o sancionamento da arguida no agravamento para o dobro dos limites mínimos e máximos da pena de multa.

61. Mas também significa, neste particular, que o registo disciplinar revela que as medidas punitivas aplicadas à arguida, noutros domínios, não se têm mostrado eficazes e mesmo suficientes para prevenir ou evitar os descritos comportamentos, circunstância que terá necessariamente de pesar na graduação da pena.

62. Ou seja, a existência de antecedentes disciplinares na época desportiva a que se reportam os factos e considerando que a arguida na época desportiva 2020-2021, conforme resulta do cadastro de fls. 33 a 34, praticou 6 infrações, embora de menor gravidade (leves) em relação àquela de que vem acusada nos autos, faz espoletar a reincidência como circunstância agravante, nos termos do artigo 53.º, n.º 1, alínea a) do RDLPFP, o que implica o agravamento em ¼ da sanção concretamente aplicada ao agente (artigo 56º, nº 3 RDLPFP). 19

63. Importa ainda termos presente quer as exigências de prevenção geral (positiva e negativa) inerentes a situações como as sub judice, as quais são intensas – levando em consideração que as condições do terreno de jogo, nomeadamente as que contendem, por exemplo, com a altura e a rega da relva, são, por um lado, determinantes para a realização de um bom espectáculo desportivo e, por outro, colocam as equipas em plano de igualdade na competição, evitando que uma ou outra seja surpreendida, quando é licito pensar que todas elas se preparam para jogar num terreno com as características regularmente definidas - quer as exigências de prevenção especial, as quais não sendo particularmente elevadas, não deixam contudo de assumir alguma relevância, face aos antecedentes disciplinares da arguida no reiterado incumprimento dos seus deveres.

64. Dito isto, e como acima se deixou referido, a arguida cometeu uma infração disciplinar p. e p. pelo artigo cometeu 1 (uma) infração disciplinar p. p. pelo artigo 87.º-A, n. º 2 [Incumprimento de deveres de organização], do RD LPFP, com referência ao artigo 39.º, n. º 4, do RCLPFP, punível com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 50 UC e o máximo de 100 UC.

65. Apreciando e valorando o comportamento da arguida e, em particular, o seu

19 A redacção introduzida ao nº 3 do artigo 53º pelo RDLPF21, veio clarificar que pare efeitos do nº 2 dessa norma “(…)

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comportamento reiteradamente inadimplente, por um lado e, por outro, a necessidade de acentuar os efeitos da prevenção especial, atendendo ao especto da moldura sancionatória, julgamos adequado e proporcional fixar a sanção em 50 UC.

66. Fazendo incidir sobre a sanção já determinada a circunstância agravante da reincidência, de acordo com o artigo 53º, nº 1, al. a) e o nº 3 do artigo 56º do RDLPFP (agravação das sanções em ¼), a sanção de multa queda-se em 62,5 UC (50 UC+12,5 UC),

67. Tendo presente o factor de ponderação 0,35 previsto no n.º 3 do artigo 36.º do RDLPFP20, bem como o arredondamento previsto no artigo 56.º, n.º 5, todos do RDLPFP, a sanção de multa fixa-se em € 2.230,00 (dois mil duzentos e trinta euros).

VIII - Decisão

Nestes termos e com os fundamentos expostos, decide-se julgar procedente por provada a acusação, condenando-se a arguida União Desportiva Vilafranquense – Futebol SAD, pela prática de uma infração disciplinar p. p. pelo artigo 87.º-A, n. º 2 [Incumprimento de deveres de organização], do RD LPFP, com referência ao artigo 39.º, n. º 4, do RCLPFP, na sanção de multa de € 2.230,00 (dois mil duzentos e trinta euros).

Custas a cargo da arguida, fixando-se o emolumento disciplinar em €408,00 (quatrocentos e oito euros), valor correspondente a 4 (quatro) UC (artigos 279.º, n.º 1 e 284.º, n.º 2, todos do RDLPFP20).

Registe, notifique e publicite (artº 216º do RDLPFP).

Cidade do Futebol, 10 de agosto de 2021 O Conselho de Disciplina, Secção Profissional

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RECURSO DESTA DECISÃO

As decisões do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol são passíveis de recurso, nos termos da lei e dos regulamentos, para o Conselho de Justiça ou para o Tribunal Arbitral do Desporto. De acordo com o artigo 44.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, na redação conferida pelo artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 93/2014 de 23 de junho, cabe recurso para o Conselho de Justiça das decisões disciplinares relativas a questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso deve ser interposto no prazo de 5 dias úteis (artigo 35.º do Regimento do Conselho de Justiça aprovado pela Direção da Federação Portuguesa de Futebol, em 18 de dezembro de 2014 e de 29 de abril de 2015 e publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 383, de 27 de maio de 2015).

Em conformidade com o artigo 4.º, n.ºs 1 e 3, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto (aprovada pelo artigo 2.º da Lei n.º 74/2013 de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei, na redação conferida pelo artigo 3.º da Lei n.º 33/2014 de 16 de junho - Primeira alteração à Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei), compete a esse tribunal conhecer, em via de recurso, das deliberações do Conselho de Disciplina. Exclui-se dessa competência, nos termos do n.º 6 do citado artigo, a resolução de questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto deve ser interposto no prazo de 10 dias, contados da notificação desta decisão (artigo 54.º, n. º2, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto).

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