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Tradução de Paulo Neves.

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Academic year: 2021

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Tradução de Paulo Neves

www.lpm.com.br

l&pm PoCKEt

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S U M á R I O

CaPítulo i – Como Maigret passou uma noite de solteiro e como ela terminou no hospital Cochin ...11 CaPítulo ii – Onde Maigret se torna um

“encan-tador” pensionista da srta. Clément e onde faz certo número de novos conhecidos ...30 CaPítulo iii – Onde a evocação de um copo de

cerveja desempenha um papel importante e onde Maigret descobre um locatário da srta. Clément num lugar inesperado ...53 CaPítulo iv – Onde se relata um interrogatório

durante o qual Maigret não se zanga uma única vez ...74 CaPítulo V – Onde Maigret faz várias anotações

para dar a impressão de que trabalha e onde a srta. Clément nem sempre se mostra indulgente ...95 CaPítulo VI – Onde se fala de uma mulher

inde-fesa num leito e de um comissário que se torna feroz ...116

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CaPítulo VII – Onde Maigret se lembra do único frango que degolou e onde a srta. Clément fica muito sensibilizada por ter conhecido um assassino ...137 CaPítulo VIII – Onde o inspetor Lucas toma notas

para uma bela história ...158 CaPítulo iX – Onde o jovem Lapointe começa a

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C A P í T U L O I

Como maigretpassouumanoitedesolteiroe Comoelaterminounohospital CoChin

– Por que Não vem jantar conosco, uma comidinha simples lá em casa?

E o bravo Lucas acrescentou:

– Garanto-lhe que minha mulher ficaria encan-tada.

Pobre velho Lucas! Não era verdade, pois sua mulher, que se irritava por qualquer coisa e para quem era um martírio ter alguém para jantar, certamente ficaria furiosa com ele.

Os dois tinham deixado o Quai des Orfèvres por volta das sete horas, quando o sol ainda brilhava, ti-nham ido até a Brasserie Dauphine e se instalado num canto. Beberam um primeiro aperitivo olhando o va-zio, à maneira das pessoas ao fim do dia. Depois, sem notar o que fazia, Maigret batera no copo com uma moeda para chamar o garçom e pedir mais uma dose.

São coisas sem importância, obviamente. Coi-sas que a gente exagera ao exprimi-las, porque, na realida de, são muito mais sutis. Mesmo assim, Mai-gret estava convencido de que Lucas pensou:

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12 Si m e n o n

“É por causa da ausência da mulher que o chefe se sente obrigado a tomar uma segunda dose.”

Havia dois dias que a sra. Maigret fora chamada à Alsácia para acompanhar a irmã que seria operada.

Imaginava Lucas que ele estava desorientado? Ou infeliz? Em todo caso, no seu convite para jantar havia, involuntariamente, uma insistência um pouco afetuosa demais. E, no seu jeito de olhar, certo com-padecimento. Ou será que tudo isso existia apenas na imaginação do comissário?

Como por uma ironia do destino, nenhum caso urgente, nos últimos dois dias, o retinha em sua sala após as sete horas da noite. Ele poderia mesmo ter partido às seis horas, enquanto habitualmente só por milagre chegava em casa no horário de uma refeição.

– Não. Vou aproveitar para ir ao cinema – ele respondeu.

E disse “aproveitar” sem querer, sem que isso refletisse seu pensamento.

Lucas e ele se despediram no Châtelet, Lucas descendo a escada do metrô, Maigret permanecendo indeciso, de pé, no meio da calçada. O céu estava ro-sado. As ruas pareciam rosadas. Era um dos primeiros fins de tarde típicos da primavera, e os terraços de todos os cafés estavam repletos de gente.

O que ele tinha vontade de comer? Porque estava sozinho, porque podia ir a qualquer lugar, colocou-se gravemente a questão, pensou nos diferentes restau-rantes capazes de tentá-lo, como para uma diversão erótica. Primeiro deu alguns passos em direção à Place de la Concorde e sentiu certo peso na consciência, porque se afastava inutilmente de casa. Na vitrine de

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13 ma i g r e t n a p e n S ã o

uma charcutaria, viu escargots preparados na man-teiga, com manchas verdes e um aspecto atraente.

Sua mulher não gostava de escargots. Como ele os comia raramente, decidiu oferecer-se uma opor-tunidade nessa noite, portanto “aproveitá-la”, e deu meia-volta para ir a um restaurante na Bastilha cuja especialidade é essa.

Era conhecido lá.

– Não está acompanhado, sr. Maigret?

O garçom olhou-o com um pingo de espanto, um pingo de censura. Sozinho, ele não podia conse-guir uma boa mesa e o instalaram numa espécie de corredor, contra uma coluna.

A verdade é que não se prometera nada de extraor-dinário. Nem era verdade, sequer, que tivesse vontade de ir ao cinema. Não sabia o que fazer do seu grande corpo. No entanto, sentia-se vagamente decepcionado.

– E vinho, o que vai querer?

Não ousou escolher um muito fino, sempre para não parecer se aproveitar da situação.

Quarenta e cinco minutos depois, quando os pos-tes da rua já estavam iluminados no anoitecer azulado, viu-se outra vez sozinho, de pé, na Place de la Bastille.

Era muito cedo para se deitar. Tivera tempo, no escritório, de ler o jornal vespertino. Não tinha von-tade de começar um livro que o deixaria acordado uma parte da noite.

Saiu a caminhar pelos Grands Boulevards, de-cidido a entrar num cinema. Por duas vezes parou para exami nar os cartazes, que não o seduziram. Uma mulher olhou-o com insistência e ele quase corou, pois ela pareceu adivinhar sua condição provisória de solteiro.

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14 Si m e n o n

Esperava, ela também, que ele aproveitasse? Aproximou-se dele, virou-se; quanto mais notava seu constrangimento, mais ela se convencia de que era um cliente tímido. Murmurou-lhe algumas palavras ao passar e ele só conseguiu desvencilhar-se ao mudar de calçada.

Até mesmo ir sozinho ao cinema tinha algo de reprovável. De ridículo, pelo menos. Entrou num bar e bebeu um conhaque. Também ali uma mulher dirigiu-lhe um sorriso aliciador.

Milhares de vezes ele se apoiara nos balcões de bares e nunca tivera uma impressão como aquela.

Para ficar em paz, acabou por escolher um pe-queno cinema no subsolo, onde passavam apenas reportagens cinematográficas.

Às dez e meia estava de novo vagando nas ruas. Parou no mesmo bar, bebeu mais um conhaque, como se já criasse uma tradição; depois, enchendo um cachimbo, dirigiu-se lentamente até o Boulevard Richard-Lenoir.

A noite toda, em suma, teve a sensação de não estar no seu lugar e, embora nada de repreensível ti-vesse feito, havia como um remorso em algum canto de sua consciência.

Tirou a chave do bolso ao subir a escada e não havia luz debaixo da porta, nenhum cheiro de cozinha para recebê-lo. Ele mesmo precisou girar os interrup-tores. Ao passar diante do aparador, decidiu servir-se uma bebida, o que hoje podia fazer sem trocar um olhar com sua mulher.

Começou a despir-se sem ter fechado as cortinas, foi até a janela e retirava os suspensórios quando o telefone tocou.

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15 ma i g r e t n a p e n S ã o

Teve certeza, no mesmo instante, de que um acontecimento desagradável explicava o mal-estar de sua noitada.

– Alô!...

A cunhada não havia morrido, pois não era sua mulher que falava, e a ligação vinha de Paris.

– É o senhor, chefe?

A Polícia judiciária, então. Reconheceu a voz grossa de Torrence que, ao telefone, tinha uma so-noridade estridente.

– Ainda bem que chegou. É a quarta vez que ligo. Telefonei ao Lucas, que me disse que o senhor tinha ido ao cinema. Mas eu não sabia qual...

Torrence, agitado, parecia não saber por onde começar.

– É a propósito de janvier...

Reação? Maigret, inconscientemente, adotou sua voz mal-humorada para perguntar:

– janvier? O que ele quer?

– Acabam de levá-lo ao hospital Cochin. Levou um tiro no peito.

– O que está dizendo?!

– Neste momento, deve estar na mesa de operação. – Onde você está?

– No Quai. É preciso que alguém fique aqui. Fiz o necessário na Rue Lhomond. Lucas saltou num táxi para ir até o Cochin. Também avisei a sra. janvier, que já deve estar lá.

– Estou indo.

Ia desligar, recolocando já os suspensórios com uma das mãos, quando lembrou de perguntar:

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16 Si m e n o n

– Não se sabe. janvier estava sozinho na rua. Havia começado o plantão de vigilância às sete da noite. Lapointe devia substituí-lo às sete da manhã.

– Você enviou homens até a casa?

– Eles ainda estão lá e me mantêm informado por telefone. Não encontraram nada.

Maigret precisou ir a pé até o Boulevard Voltaire para encontrar um táxi. A Rue Saint-jacques estava quase deserta, iluminada somente pelas luzes de alguns bares. Precipitou-se na entrada do Cochin e recebeu como que um hálito de todos os hospitais que conhecera na vida.

Por que cercar de uma atmosfera tão lúgubre, tão triste, os doentes, os feridos, as pessoas que se tenta fazer viver e as que vão morrer? Por que essa luz ao mesmo tempo pobre e cruel que só existe ali e em certos locais administrativos? E por que, logo à entrada, se é recebido por gente carrancuda?

Por pouco não foi obrigado a provar sua identi-dade. O estagiário de plantão tinha uma cara de garoto e usava a touca de médico atravessada, por bravata.

– Ala C. A enfermeira vai conduzi-lo...

Ele ardia de impaciência. Furioso contra todo mundo, agora queria mal à enfermeira que o guiava por ter batom nos lábios e cabelos ondulados.

Pátios mal-iluminados, escadas, um longo corre-dor e, no fundo desse correcorre-dor, três silhuetas. O cami-nho, entre ele e essas silhuetas, parecia interminável, o piso mais liso que em qualquer outro lugar.

Lucas deu alguns passos em sua direção, com o andar oblíquo de um cão batido.

Referências

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