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GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS PARA SISTEMAS DE ENERGIAS RENOVÁVEIS: CONCEITOS E REFLEXÕES SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA

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GESTÃO DA CADEIA DE

SUPRIMENTOS PARA SISTEMAS DE

ENERGIAS RENOVÁVEIS: CONCEITOS

E REFLEXÕES SOBRE A REALIDADE

BRASILEIRA

Marcus Vinicius Carvalho Fagundes (UESB )

marcuspos@yahoo.com.br

Francisco Gaudencio Mendonca Freires (UFBA )

gaudenciof@yahoo.com

Rogerio Santos Marques (UNEB )

rmarques.vc@gmail.com

A economia de energia sustentável tem crescido fortemente no mundo nos últimos anos. À medida que a transição energética sustentável ganha impulso, a sociedade hodierna deve se posicionar na captura de benefícios econômicos e sociais advinddos de novas matrizes energéticas ambientalmente viáveis. Diante deste contexto, este artigo objetiva expor conceitos e reflexões sobre a gestão da cadeia de suprimentos para sistemas de energias renováveis. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratório-descritiva a partir do estudo bibliográfico e documental. Constata-se que a compreensão e a inserção da gestão sustentável de cadeias de suprimentos permitem, pela amplitude de seus conceitos e entendimentos, promover a integração socioambiental adequada e responsável de empresas e organizações, principalmente em comparação com a perspectiva do supply chain management tradicional. Esta nova forma de percepção sobre a gestão sustentável de cadeias de suprimentos pode determinar a estratégia de desenvolvimento de processos de produção e a geração de energias renováveis, promovendo a perpetuação equilibrada do planeta.

Palavras-chave: Cadeia de suprimentos, energias renováveis, sustentabilidade

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1. Introdução

A economia de energia sustentável tem crescido fortemente no mundo nos últimos anos. À medida que a transição energética sustentável ganha impulso, a sociedade hodierna deve se posicionar na captura de benefícios econômicos e sociais advindos de novas matrizes energéticas ambientalmente viáveis. Oportunidades não faltarão para que empresas e governos forneçam produtos, serviços, tecnologias e mão de obra especializada ao emergente segmento energético sustentável.

O atual cenário internacional de escassez de petróleo e severas mudanças climáticas provocadas, em grande escala, pela queima de combustíveis fósseis, tem suscitado inúmeros estudos e pesquisas técnicas, econômicas e socioambientais direcionadas a criação e ao desenvolvimento de empreendimentos públicos e privados voltados à produção de energia limpa. A utilização de matéria orgânica animal e vegetal, biomassa, força eólica, captação de luz solar e criação de pequenas centrais hidrelétricas têm se destacado na geração de fontes que atendam a áreas periféricas e complementares do sistema de transmissão de energia. O Brasil, por sua vez, apresenta grande potencial em relação ao mundo na busca por fontes de energias renováveis. A enorme biodiversidade deste país o permite gerar energia por diversos meios tais como as fontes hidrelétricas, fontes alternativas de biomassa para produção de combustíveis renováveis como o álcool e o biodiesel, usinas eólicas e fotovoltaicas, etc.

Os sistemas de produção e distribuição de energias renováveis podem desempenhar um papel decisivo no Brasil e no mundo durante as próximas décadas, desde que inteligentemente concebidos e aplicados em condições favoráveis. Neste sentido, a gestão efetiva da cadeia de suprimentos e seus respectivos processos logísticos representam um parâmetro chave para o sucesso deste promissor e estratégico setor.

Diante deste contexto, este artigo objetiva expor conceitos e reflexões sobre a gestão da cadeia de suprimentos para sistemas de energias renováveis. Especificamente, discute: a. conceitos e a importância da gestão de cadeias de suprimentos; b. gestão de cadeias de suprimentos sustentáveis; e, c. reflexões sobre a gestão de cadeias de suprimentos de energias renováveis em fase de transição energética sustentável no Brasil. Para tanto, foi realizada, quanto aos fins, uma pesquisa exploratório-descritiva, e quanto aos meios, uma pesquisa bibliográfica e documental a partir de livros-texto e manuais, artigos de periódicos

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3 especializados e consultas a órgãos nacionais e internacionais ligados a questão energética no Brasil e no mundo.

2. Gestão de cadeias de suprimentos

Entende-se por cadeia de suprimentos (do inglês supply chain management - SCM) as inter-relações de empresas, necessárias para a fabricação e venda de um produto ou serviço. Estas inter-relações não se dão somente em âmbito local, mas, muitas vezes, em nível internacional, resultante do aumento da conectividade dos mercados e dos fluxos de produto, capital e tecnologias entre países.

O termo cadeia de suprimentos assume, essencialmente, três conotações elementares no âmbito da literatura tradicional especializada: 1. pelo conceito da retratação relacional entre os agentes de produção e consumo; 2. pelo prisma do modelo de cadeia de valor; e 3. pela abordagem da gestão de processos.

A primeira definição é a que retrata a cadeia de suprimentos como a imagem de como as “organizações produtivas estão ligadas no mercado” (RAINER E CEGIELSKI, 2011). Nesta perspectiva, numa cadeia de suprimentos típica, que liga uma empresa com seus fornecedores e seus distribuidores e consumidores, é possível observar a existência de três segmentos, conforme ilustrado na Figura 1:

a) cadeia de suprimentos upstream (ou cadeia acima) – podem abranger fornecedores de primeiro, segundo e terceiro níveis;

b) cadeia de suprimentos interna – envolve desde a chegada de matéria-prima até a distribuição do produto acabado;

c) cadeia de suprimentos downstream (ou cadeia abaixo) – envolve todos os processos relacionados à entrega do produto ao consumidor final.

Figura 1 - Cadeia de suprimentos genérica

Fornecedores de nível 1 Fornecedores de nível 2 Fornecedores de nível 3 Fabricante Distribuidor

ou atacadista Varejista Consu-midor

INTERNO

Produtos, serviços, informações Pedidos, informação, pagamentos, devoluções

CADEIA ACIMA

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4

Fonte: Rainer e Cegielski, 2011.

O segundo prisma de discussão de cadeias de suprimentos é aquele referendado pela economia industrial, no chamado “modelo da cadeia de valor” estabelecido, principalmente, pelo professor de administração e economia da Harvard Business School Michael E. Porter. De acordo com Porter (1998) uma cadeia de suprimentos obtém vantagem competitiva pelo resultado sustentável das atividades realizadas pelas organizações que a compõe. Estas atividades, por sua vez, podem ser divididas em duas categorias: atividades primárias (primary activities) e atividades de suporte (support activities), conforme se constata na Figura 2.

Figura 2 - Modelo da cadeia de valor de Porter

Fonte: Porter (1998).

Primary activities (atividades primárias) são as atividades de negócios que se relacionam à

produção e distribuição dos produtos e serviços das firmas, agregando assim valor pelo qual os clientes estão dispostos a pagar. Normalmente, existem cinco atividades primárias: 1.

Inbound logistics (logística de suprimentos - entradas); 2. Operations (operações - manufatura

e teste); 3. Outbound logistics (logística de distribuição); 4. Marketing & sales (vendas e marketing - saídas); e 5. Service (serviços – saídas). As atividades primárias são apoiadas pelas atividades de suporte (support activities). Diferentemente das atividades primárias, as atividades de suporte não agregam valor diretamente para os produtos ou serviços da empresa, mas contribuem para a vantagem competitiva da firma. As atividades de suporte consistem em: 1. Firm infrastructure (estrutura de gerenciamento); 2. Human resource management (gestão de recursos humanos); 3. Technology development (tecnologias de produção e informação); e 5. Procurement (seleção de fornecedores). Cada atividade de suporte pode ser

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5 aplicada a qualquer uma ou a todas as atividades primárias, além de poderem dar suporte umas as outras.

A vantagem competitiva da indústria (setor) será definida pela ampliação contínua e sustentável de seus ganhos (margin) econômicos, sociais e ambientais. Porter ainda indica que existem somente dois tipos básicos de vantagem competitiva para uma empresa: baixo custo e diferenciação, que combinadas com o escopo resultam em três estratégias genéricas para alcançar um desempenho superior - liderança em custo, diferenciação e foco.

A terceira compreensão de cadeia de suprimentos, esta última multidisciplinar - investigada principalmente pela administração, engenharias, economia e finanças, define o supply chain como a gestão total das funções presentes em um processo logístico: parte do planejamento, envolve a aquisição das matérias-primas dos fornecedores, as transformações desses materiais em produtos semi-prontos e, ou produtos prontos e se encerra com a distribuição desses produtos para os clientes finais. A Figura 3, a seguir, faz a representação do processo de gestão de uma cadeia de suprimentos (SCM).

Figura 3: Representação do processo de SCM

Fonte: Adaptado de Novaes, 2001.

Na perspectiva apresentada na Figura 3 observa-se na gestão da cadeia de suprimentos a existência de três fluxos: informação, materiais e financeiro (capital). O fluxo de informação é constituído, por exemplo, de dados relacionados à demanda, entregas, pedidos, devoluções e prazos, além de alterações em qualquer um desses dados. O fluxo de materiais corresponde a produtos físicos, matéria-prima, recursos estruturais, máquinas e tecnologias de produção que fluem ao longo da cadeia, envolvendo uma abordagem de ciclo de vida do produto, do início ao fim e do fim ao início (fluxo reverso). Os fluxos financeiros são todas as transações de

Fornecedor Manufatura Distribuidor Varejista Consumidor

FLUXO DE INFORMAÇÃO

FLUXO DE MATERIAIS

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6 capital (dinheiro), pagamentos, informações e autorizações de cartão de crédito, prazos de pagamento, pagamentos eletrônicos e dados relacionados a crédito (RAINER e CEGIELSKI, 2011).

Além destas três perspectivas conceituais tradicionais sobre gestão de cadeias de suprimentos, e suas respectivas derivações, um quarto modelo conceitual tem se estruturado significativamente nos últimos anos, tanto no ambiente acadêmico quanto no empresarial: a gestão de cadeias de suprimentos sustentáveis, conforme se discute a seguir.

2.1 Gestão de cadeias de suprimentos sustentáveis

Embora a inclusão de práticas de sustentabilidade ambiental na gestão de cadeias de suprimentos ainda ocorra de forma incipiente e, na maior parte das vezes, como resposta às exigências legais, cada vez mais empresas e governos percebem o potencial econômico e social da consolidação de estratégias e a implementação de ações sustentáveis. Empresas de grande porte têm investido nesse nicho e alcançado ganhos significativos, conforme evidenciam indicadores como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), na América Latina, ou o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, referência nos Estados Unidos e no mundo.

Pelo viés acadêmico, estudos sobre cadeias de suprimentos sustentáveis têm sido cada vez mais prolíferos. Em uma análise breve das principais publicações realizadas sobre o assunto no último decênio – no período entre os anos de 2006 a 2016, é possível notar uma crescente preocupação acadêmica em caracterizar, qualificar e quantificar o tema, delimitando-o nas esferas teórico-conceitual e empírica. Inicialmente, destaca-se a edição especial do Journal of

Cleaner Production do ano de 2008 que enfocou centralmente o assunto “sustentabilidade e

gestão da cadeia de suprimentos”. A referida edição fez referência à crescente relevância deste tema, tanto no âmbito prático profissional das empresas quanto para acadêmicos e pesquisadores. O objetivo principal daquela edição era o de catalisar discussões sobre os diversos problemas e desafios ambientais e sociais crescentes pelos quais perpassam empresas e governos, incentivando o exercício da gestão adequada de fluxos de materiais, informações e capital. Nesta obra foi ainda destacado como um problema gritante a falta de estudos e pesquisas aprofundadas sobre sustentabilidade e gerenciamento de cadeias de suprimentos na Ásia e em países emergentes, mesmo tendo-se cada vez mais redes globais de suprimentos que se iniciam ou terminam nestas regiões geográficas do mundo. Além disso, a edição

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7 supracitada do periódico ressaltou a falta de pesquisas especializadas sobre características, forças e limitações da gestão de pequenas e médias empresas que se integram as redes de suprimentos nestas regiões, organizações estas de extrema importância na fabricação e distribuição de produtos e serviços.

Outro estudo relevante sobre a temática gestão sustentável de cadeias de suprimentos foi o elaborado pelos autores Seuring e Muller (2008), que obteve objetivos duplos: primeiro, oferecer uma revisão da literatura profunda sobre o tema “gestão da cadeia de suprimento sustentável” a partir do estudo de uma base de 191 artigos publicados no período de 1994 a 2007; e segundo, propor uma estrutura conceitual densa que resuma em pilares centrais a investigação deste campo de pesquisa. Como consequências, o estudo dos autores permitiu o aprofundamento de duas estratégias distintas para estudo e prática empresarial na área de suprimentos: a) gestão de riscos e desempenho de relacionamento com fornecedores; e b) aporte teórico elementar para a gestão da cadeia de suprimentos de produtos sustentáveis.

Já no ano de 2011, os autores Gold e Seuring apresentaram uma revisão da literatura de artigos publicados em língua inglesa em revistas especializadas, referente ao período entre o ano 2000 ao ano 2009, que tratavam da interface da produção de bioenergia, aspectos logísticos e gestão da cadeia de suprimentos. Como técnicas metodológicas, os autores primeiramente procederam com a classificação dos artigos segundo critérios descritivos, tais como fonte de publicação – especificação do jornal, ano de publicação e projeto de pesquisa aplicada. Em seguida, fizeram a análise de fatores e desafios de concepção e gerenciamento de cadeias de biomassa, classificando-as em dois parâmetros de análise: a) quanto aos processos de colheita, operações, armazenamento, transporte e técnicas de pré-tratamento; e b) na concepção geral do sistema de abastecimento. Os principais resultados apurados no referido artigo podem ser concentrados em uma vasta e consistente revisão do campo de pesquisa acadêmica de gestão de cadeias de suprimentos de produção e distribuição logística de biomassa para o uso energético, propondo um padrão sólido para a análise das características primárias deste setor produtivo.

O artigo escrito por Hassini, Surti e Searcy (2012) apresenta uma revisão de literatura sobre o estudo de cadeias de fornecimento sustentáveis durante a primeira década do século 21 - de 2000 a 2010. Para tanto, procederam com uma vasta revisão de literatura a partir de diferentes perspectivas através das quais foi possível estabelecer quadros de medidas de desempenho

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8 sustentável de gestão de cadeias de suprimentos. Em complemento, os autores apresentaram um estudo de caso para ilustrar a experiência de uma cadeia de fornecimento na utilização de indicadores de desempenho sustentável. Após a apuração de uma definição conceitual para a gestão da cadeia de suprimentos sustentável, os autores desenvolveram um quadro original para o tema, reconhecendo a importância de medidas de desempenho confiáveis para a criação e manutenção de práticas sustentáveis adequadas.

Um assunto recente, oriundo das reflexões sobre o tema gestão de cadeias de suprimentos sustentáveis é a Gestão Ambiental da Cadeia de Suprimentos (do inglês, Green Supply Chain

Management – GSCM). Para Fan Wang e Gupta (2011 apud XAVIER e CORRÊA, 2013)

Gestão Ambiental da Cadeia de Suprimentos consiste em:

[...] reduzir o impacto ambiental por meio de uma cadeia de valor, da matéria-prima até o consumidor final. Neste caso, a redução dos impactos ambientais inclui a redução do uso de energia, do consumo dos recursos naturais e inclui também a redução de problemas relacionados à poluição. [...] Para esse efeito, a GSCM deve aumentar as atividades de Gestão da Logística Reversa (que incluem redução dos recursos naturais, uso de matérias primas renováveis, reciclagem de materiais, gestão de materiais residuais e de substancias perigosas) para integrar os aspectos da gestão ambiental relacionados ao seu domínio.

A respeito deste tema, Sehnem et al. (2015) elaboraram um estudo para analisar a produção científica internacional na área de Green Supply Chain Management constante de produções da base de dados Business Source Complete (EBSCO Host) no período de 2001 a 2012. Os pesquisadores verificaram a estrutura de cooperação entre autores e instituições, os autores entrantes, as categorias de produção e continuidade, a regularidade de publicação e a distribuição das publicações ao longo do tempo. Noventa artigos compuseram a amostra deste estudo e os resultados evidenciaram que o número de autores que publicam o tema é reduzido, concentrados na categoria one-timers, com 68,90%. A maior produção foi 10 artigos por autor e o periódico mais prolífico foi o Journal of Cleaner Production, com 12 artigos publicados sobre o assunto. A Clark University (USA) destaca-se com 12 autores filiados. Inferiu-se que a temática teve uma ascensão expressiva nos últimos anos.

Especificamente, quando se trata da gestão ambiental da cadeia de suprimentos de sistemas de energias renováveis, constata-se uma crescente demanda por discussões importantes na atualidade, com o intuito de conciliar a produção e o consumo de energia com a questão ambiental. O desenvolvimento e o uso de energias renováveis são de suma importância para países e nações, seja por aspectos estratégicos e políticos como também por fatores

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9 geográficos, econômicos e sociais. Portanto, o êxito do desenvolvimento e da distribuição de energias limpas, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, perpassa estritamente pela superação de desafios impostos pela complexa gestão da cadeia de suprimentos da qual este sistema produtivo faz parte, conforme se discute a seguir.

3. Gestão de cadeias de suprimentos de energias renováveis

A gestão de cadeias de suprimentos de sistemas de energias renováveis tem suscitado inúmeros estudos, pesquisas e reflexões no mundo empresarial, governamental e acadêmico nos últimos tempos, pois os padrões atuais de produção e consumo de energia da sociedade, baseados, essencialmente, em fontes fósseis não renováveis, têm gerado diversos prejuízos ao planeta. É preciso mudar esses padrões estimulando o desenvolvimento de sistemas de produção e distribuição de energias renováveis de modo sustentável, o que torna a gestão da cadeia de suprimentos de produção de energia limpa um fator crítico para a transformação da matriz energética mundial.

Para Carvalho (2009), a transição da matriz insustentável para uma matriz sustentável implicará em uma crescente racionalização do consumo, paralelamente ao emprego de energias renováveis e à redução do uso de fontes não renováveis, tais como o petróleo e gás natural. De acordo com dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia do Brasil (MME), em 2006, 87,1% da participação no consumo total de energia no mundo era oriunda dos combustíveis não renováveis, enquanto 12,9% correspondiam aos combustíveis renováveis.

Segundo dados do Balanço Energético Nacional 2015 elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia, documento que contabiliza a oferta e o consumo de energia no país, bem como dos processos de conversão de produtos energéticos e de comércio exterior, a oferta interna de energia primária nos últimos setenta e cinco anos mudou significativamente, conforme se observa no Gráfico 1, a seguir:

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Fonte: Balanço Energético Nacional – EPE, 2015

Pelo Gráfico 1 é possível notar uma expressiva diminuição da produção/consumo de fontes de energia não renováveis entre os anos de 1940 a 1980 (principais matrizes energéticas deste período), com destaque para lenha e carvão vegetal, seguido pelo carvão mineral e pelo petróleo, gás natural e derivados, estes três últimos em razão da crise mundial do petróleo ocorrida na década de 1970. Em contrapartida, a partir dos anos de 1980 embora o petróleo, gás e derivados mantenham-se como a principal fonte de energia para o país é possível notar a diminuição na produção e consumo de outras fontes não renováveis (lenha e carvões) e a crescente oferta e demanda de fontes de energia renováveis, ressaltando-se as fontes hidráulicas, derivados da cana de açúcar, e outras fontes (especialmente, energia eólica e fotovoltaica).

Contudo, da análise percentual detalhada da produção brasileira de energia primária durante a última década (de 2005 a 2014), pode-se perceber a predominância do uso de fontes não renováveis de energia em relação às renováveis, com sutil crescimento relativo das não renováveis entre os anos de 2010 a 2014, conforme Tabela 1.

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Fonte: Balanço Energético Nacional – EPE, 2015

Isto se evidencia, pois o consumo energético brasileiro tem crescido significativamente nos últimos anos ao tempo em que o país não desenvolve, a contento, políticas e planejamentos, infra-estruturas, tecnologias e mão de obra especializada que atendam as necessidades das cadeias de suprimentos de energias renováveis ou limpas a médio e longo prazos.

Avaliando o gradativo aumento da participação de fontes alternativas e renováveis de energia na matriz energética mundial ao passo em que há um premente aumento no consumo de energia elétrica no Brasil, a inserção da geração distribuída decorrente de fontes primarias renováveis apresenta-se, cada vez mais, como uma alternativa estratégica importante para o desempenho otimizado da matriz energética nacional (BARIN et al., 2010).

Segundo Mendes (2010), a política energética de um país deve refletir o equilíbrio entre vários fatores, dentre eles: segurança energética, impactos ambientais e mudanças climáticas, custos energéticos, aproveitamento de recursos e utilização de energias renováveis. Entretanto, o autor ressalta que as estratégias para alcançar esses fatores devem possuir uma visão internacional que considere as dinâmicas de oferta e demanda de recursos energéticos fósseis e uma visão sobre novas tecnologias no setor energético.

Para Sung e Song (2013) as atenções crescentes dedicadas às questões de recursos energéticos e às políticas nacionais necessárias para alcançar um crescimento econômico sustentável têm despertado e estimulado pesquisas com elo entre as políticas públicas e o desempenho

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12 econômico do setor de tecnologias de energias renováveis. O principal papel na organização e definição da política pública de energias renováveis e limpas, bem como o de implementar legislação especifica, é do governo. No caso do Brasil, apesar do atual patamar de cerca de 45% da oferta interna de energia ser originário de fontes renováveis, além dos investimentos, dos estudos e das pesquisas desenvolvidos na área das energias alternativas, ainda necessita de uma política pública estruturada para garantir uma participação compatível com a dimensão do potencial energético renovável do país. Este cenário, por sua vez, traz algumas reflexões.

4. Gestão de cadeias de suprimentos de energias renováveis no Brasil: algumas reflexões

O Brasil vem se destacando na oferta de energias sustentáveis ou alternativas. Além do estabelecido modelo de produção hidrelétrico, desponta-se aí o crescimento da geração de energia a partir da biomassa com o aproveitamento de resíduos vegetais. Além disso, o país avança nas pesquisas e projetos pioneiros na produção de energia eólica e solar. Com isso, o Brasil registra, atualmente, quase metade da oferta interna de energia mediante o uso de fontes renováveis. Outros pontos importantes foram o desenvolvimento de tecnologias que utilizam bicombustível e a maior conscientização ambiental que fizeram o álcool se firmar no mercado brasileiro e ganhar espaço no mercado internacional. O biodiesel, que aos poucos vem se destacando, deverá seguir o mesmo padrão mercadológico de desempenho do álcool. Assim sendo, por conta das energias renováveis, a dependência do país em relação ao petróleo e derivados torna-se menor, no que tange à geração de energia, especialmente, a energia elétrica.

Contudo, Freires et al. (2015) assegura que apesar dos riscos associados à transição energética serem relativamente menores quando comparados aos riscos da produção e as consequências de consumo de petróleo e derivados, a gestão da cadeia de suprimentos aplicada à transição deve seguir no sentido de diminuir as incertezas existentes nos sistemas de energias renováveis. Tal fato cria uma barreira para a transição energética, pois ao mesmo tempo em que há investidores que aplicam capital em um negócio de altos riscos econômicos, sociais, ambientais e geológicos como a indústria de petróleo e gás, estes, historicamente, conseguem um bom retorno, além de possuírem a clareza da existência de uma cadeia de suprimentos consolidada, fato que não se pode afirmar na cadeia produtiva renovável da maioria dos países.

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13 Outra reflexão refere-se ao fato de que mesmo tendo o Brasil investido maciçamente na exploração e produção de hidrocarbonetos ao longo de sua trajetória energética, o mesmo é detentor de vasto potencial energético renovável. Infere-se, então, que a transição energética no país é uma questão vital para o desenvolvimento da nação e, portanto, merece atenção central na agenda de discussões de empresas, Estado e sociedade. Em suma, políticas públicas e planejamento efetivo do estudo de riscos associados à gestão da cadeia de suprimentos de energias renováveis em meio à atual fase de transição energética do país são fundamentais para a tomada de decisões e ações econômicas, sociais e ambientais.

5. Considerações finais

O Brasil e o mundo perpassam por um estágio de transição energética neste início do milênio na qual a adequada gestão de cadeias de suprimentos de produção, distribuição e consumo de energias renováveis desempenha papel fundamental. É perceptível a complexidade que envolve os processos de tomada de decisão e as interlocuções das organizações com as várias partes envolvidas em cadeias de suprimentos, pois o novo contexto energético mundial demanda novas maneiras de tomar decisões. A compreensão e a inserção da gestão sustentável de cadeias de suprimentos permitem, pela amplitude de seus conceitos e entendimentos, promover a integração socioambiental adequada e responsável de empresas e organizações, principalmente em comparação com a perspectiva do supply chain management tradicional. Portanto, esta nova forma de percepção sobre a gestão sustentável de cadeias de suprimentos pode determinar a estratégia de desenvolvimento de processos de produção e geração de energias renováveis, promovendo a perpetuação equilibrada do planeta.

REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Joaquim Francisco de. O declínio da era do petróleo e a transição da matriz energética brasileira para um modelo sustentável. 2009. Tese (Doutorado em Energia) - Energia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/86/86131/tde-10062011-163905/>. Acesso em: 2016-01-03.

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