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NARRATIVAS AUTOBIOGRAFIAS E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

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Academic year: 2021

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NARRATIVAS AUTOBIOGRAFIAS E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

Mariglória Almeida Santos – mestranda eisu/ufba - marigloria.almeida@gmail.com Cláudio Orlando costa do nascimento – dr. em educação eisu/ufba - claudiorlando@ufrb.edu.br

INTRODUÇÃO

Dentre os avanços e conquistas da atual sociedade brasileira temos a expressiva expansão da educação superior, tanto de natureza pública como privada. Esse quadro, que traz o benefício da democratização, com a ampliação do acesso de segmentos sociais historicamente excluídos do ensino de terceiro grau, gera também desafios de adaptação e qualificação das instituições de ensino superior (IES), a exemplo: da expansão das estruturas físicas, do aumento do número de professores, da melhoria das condições de trabalho, da formação inicial e continuada docente, e o que me interesso de forma singular, relaciona-se às questões concernentes às identidades e as prática docentes, nesse cenário de transição.

Vale ressaltar que o fazer docente, umas das ocupações mais antigas da sociedade moderna, constitui uma das chaves para a compreensão das transformações atuais no mundo do trabalho. A relação de trabalho em qualquer profissão deve estar relacionada com seu o objeto, processos e resultados. Nesse sentido, o fazer docente exige práxis emancipatórias de trabalho, de tecnologia, de conhecimentos e etnométodos diferenciados.

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E a partir de uma implicação pessoal nesse contexto de mudança, tendo em vista estar exercendo a função de docente no ensino superior, é que surge o interesse em realizar esse estudo a fim de refletir sobre o ensino superior e trazer à tona a articulação entre as pedagogias universitárias e as identidades docentes, a partir de Narrativas Autobiográficas e Experienciais (NAE), reconhecendo e valorizando as vivências, as percepções profissionais, as subjetividades dos sujeitos em cena, na relação com o objeto do seu fazer, superando assim a ruptura e a dicotomia sujeito-objeto da pesquisa.

Busco compreender sobre as identidades dos professores universitários, sobre os sentidos de profissionalidade, de profissão, de missão, de vocação, de atividade complementar, dentre outros. Quais as experiências significativas relacionadas às construções das identidades dos docentes universitários? E consequentemente, como essa percepção identitária repercute no seu trabalho, na sua visão social.

Assim, penso em poder contribuir com as políticas e práticas de formação docente, abordando e relacionando aspectos do campo da experiência, da narrativa autobiográfica, da construção identitária, da subjetividade, da cultura da educação superior, no que concerne a relevância acadêmica para os processos de emancipação social.

1. IMPLICAÇÕES PESSOAIS COM A PESQUISA

Nesse trecho trago um pouco da minha trajetória de vida, contextualizando de onde vem a mobilização para a pesquisa sobre o tema proposto.

Iniciando meu relato pelo ensino médio, cursei o Técnico para o Magistério preparando-me para ingressar de fato em sala de aula. Em 1993 iniciei um curso Pré-vestibular que sistematizou meus conhecimentos e direcionou meu foco. Prestei Pré-vestibular em 1995 para Pedagogia na UNEB, dando início a minha caminhada profissional.

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Psicopedagogia. Isso fortaleceu reflexões sobre minha prática profissional – qual a melhor metodologia de trabalho para gerar aprendizagem? Por que alguns alunos têm mais dificuldades que outros no aprendizado? Quais as dificuldades que os docentes enfrentam para mediar esse processo? E assim iniciou minha trajetória de pesquisadora do fazer docente.

Ao assumir cargos de coordenação pedagógica e formadora de docentes, surgem outros questionamentos: como auxiliar os docentes a lidar com desafios da sua prática? Então em 2008 fui buscar num MBA em Gestão de Pessoas o subsídio para enxergar de forma mais humanizada este sujeito. Percebi que ainda assim precisava instrumentalizar-me mais para compreender além do profissional, o âmbito mais pessoal, psíquico e individualizado, o que me levou em 2010 a fazer uma formação em Psicanálise Clínica, trazendo-me mais condições em contribuir melhor com os processos de mediação da gestão e docência.

Em 2009 ingressei no SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial como Coordenadora Pedagógica, atuando na gestão dos processos educacionais para qualificação profissional. Nesse período meu olhar do processo educacional pôde ser ampliado com informações da área da gestão administrativa e da qualidade de processos.

Em 2011, em paralelo ao SENAI, retomei meu exercício na docência ingressando na Faculdade Vasco da Gama como professora dos cursos de Pedagogia, trazendo uma nova etapa da minha vida com a oportunidade da docência no ensino superior.

Em 2012 saio do SENAI, optando em priorizar a prática docente, e vivendo com mais intensidade esse universo da docência universitária mais uma vez visualizo as demandas que este profissional enfrenta, dessa vez fazendo parte desse grupo, servindo como um convite a entender melhor essas estratégias utilizadas para re-existir no ambiente educacional universitário.

Toda essa trajetória, mas principalmente essa vivência mais recente, é o que fundamenta minha implicação nessa proposta de pesquisa, numa perspectiva de aprofundamento em discussões que possam contribuir de forma significativa para o processo de formação docente e, por conseguinte na qualidade da prática da pedagogia universitária.

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2.1. FORMULAÇÃO DA PROBLEMÁTICA

Atualmente o professor no ensino superior é considerado apto a assumir a carreira docente ainda que não apresente conhecimentos didático-metodológicos. Isso se dá pelo fato de não haver uma exigência legal, como ocorre no ensino fundamental e médio, quanto a uma formação específica metodológica.

Diante dessa realidade, é relevante refletir que a formação do professor universitário se dá principalmente a partir de elementos que constituem seu entendimento acerca do que compreende ser professor. Estes elementos constitutivos estão expressos nas vivências que o professor traz de sua trajetória de vida como aluno; da forma como pensa e organiza suas práticas pedagógicas (realiza o planejamento, escolhe as estratégias de ensino, avalia e se relaciona com os alunos); e de informações e orientações presentes na Proposta Pedagógica dos cursos.

Com base nessas reflexões, define-se a problemática dessa pesquisa focada em responder: quais os elementos que o professor se utiliza na construção da sua identidade profissional a partir de sua compreensão/prática da docência no ensino superior?

2.2. OBJETIVOS

2.2.1. GERAL

Compreender como se dáo entendimento e a prática que os professores universitários estão construindo sobre a docência no ensino superior.

2.2.2. ESPECÍFICOS

 Investigar os elementos que compõem a identidade do professor do ensino superior;  Identificar os saberes que servem de referência para a construção da identidade

docente do professor do ensino superior;

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2.3. REFERENCIAL TEÓRICO

2.3.1. CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE

Para início de reflexão sobre o tema, aponta-se para o fato do conceito de identidade ser multifacetado, pois o termo pode receber uma análise de diferentes campos do saber: sociológico, antropológico, filosófico e psicológico. Por isso a análise da identidade do professor universitário não pode ser feita isoladamente ou fora do contexto social. É importante desde já destacar que a identidade se constrói e segundo Silva (2000, p.96),

[...] podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo. A identidade é instável, contraditória, fragmentada, inconsistente, inacabada. A identidade está ligada a sistemas de representação. A identidade tem estreitas relações com as relações de poder.

Ainda podemos ressaltar que as identidades são construídas com base em tradições, mitos, eventos históricos, narrativas, códigos e imagens próprios de um tempo e lugar que são impactados pelo processo de globalização, que de acordo com Hall (2011, p.75):

Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”.

E com relação ao pertencimento e a identidade, Bauman (2005) afirma que estes não apresentam a solidez perpétua, e sim a limitação de uma estrutura que está em constante transformação. Transformações essas acessadas por diversas fontes, apresentadas por terceiros ou através das nossas escolhas. Essa ocorrência se deve à condição do homem, ligado a outros seres humanos na ação e no sentimento coletivo e assumindo seu protagonismo enquanto sujeito considerado portador de cultura.

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A formação da “identidade” do professor universitário não está ligada a formação pedagógica, de acordo com Pimenta e Anastasiou (2005), uma vez que não há tal exigência nos programas de especialização e pós-graduação, e a falta de tal exigência pode levar a pouca atenção aos processos de ensino e aprendizagem. Dessa forma, identifica-se que não tem existido uma preparação específica para o professor universitário, compreendendo que a docência se constrói ao longo do caminho trilhado por este sujeito.

Portanto para a reflexão sobre a construção da identidade do professor universitário é imprescindível se debruçar sobre a prática pedagógica, suas representações e saberes. Essa importância se dá a medida em que é possível identificar, segundo Nóvoa (1992 p.25) que:

[...] Na cultura da escola são mantidos os aspectos menos educativos: a dependência da opinião de especialistas externos, as inseguranças, a incapacidade para adotar características públicas, a negação de interesses pessoais, vinculada à alienação do trabalho, a utilização ambígua do isolamento como máscara de autonomia, a eliminação de emoções, a desconfiança de outros professores, a tendência estreita de concentrar-se exclusivamente nos recursos de ensino, negando-se a discussão dos objetivos educacionais.

A construção da identidade profissional do professor é constituída enquanto se profissionaliza ao longo da sua prática e segundo Libâneo (2004) na sua trajetória o professor se adapta às exigências educacionais de cada contexto histórico-social, assumindo características necessárias.

No entanto, embora os professores apresentem pesquisas específicas na sua área de conhecimento e extensa prática docente, Anastasiou e Pimenta (2002 p. 37) alerta que é recorrente no ensino superior, a presença do “despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula”.

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Seguindo essa linha de raciocínio, Pimenta (2005) entende que o saber do professor se fundamenta na tríade saberes das áreas específicas, saberes pedagógicos e saberes da experiência. É na mobilização dessa tríade que os professores desenvolvem a capacidade de investigar a própria atividade e, a partir dela, constituírem e transformarem seu saber-fazer docente.

2.3.3. O MÉTODO (AUTO)BIOGRÁFICO E A FORMAÇÃO DOCENTE

De acordo com Nóvoa e Finger (2010) nas ciências da educação é relativamente recente a utilização do método (auto)biográfico. Apresentado inicialmente como uma alternativa sociológica ao positivismo, surgiu à princípio no final do século XIX na Alemanha, e em 1920 foi aplicado por sociólogos americanos da Escola de Chicago pela primeira vez de forma sistemática, gerando grandes divergências quanto à sua base epistemológica. No entanto, a abrangência da pesquisa empírica naquela época entre os sociólogos americanos contribuiu para a redução significativa do uso dessa perspectiva metodológica.

A partir dos anos 50 Ferraroti (2010) apresenta-se como um dos investigadores que defende a autonomia do método biográfico, sinalizando para a necessidade de uma transformação metodológica e argumentando sobre a legitimidade de uma pesquisa baseada por narrativas biográficas. Diante das críticas às metodologias positivistas caracterizadas por sua objetividade, ressurge o método biográfico enquanto uma metodologia alternativa.

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Nas ciências sociais as pesquisas com as narrativas autobiográficas têm tido significativa aplicação, como na Pedagogia por exemplo, onde oportuniza com estudos de como o ser humano experiencia o mundo, perceber de que forma os professores compreendem o processo educativo e como a experiência interfere na sua transformação profissional.

Valendo ressaltar o quanto a análise e socialização das narrativas (auto)biográficas podem influenciar positivamente no processo de formação inicial e continuada do professor, permitindo uma reflexão crítica sobre sua práxis, havendo a troca de experiências exitosas e percepção de mudanças necessárias para trazer superação e maior qualidade no seu fazer em prol de uma prática emancipatória.

2.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta proposta de estudo caracteriza-se por uma pesquisa qualitativa, descritiva que toma como referencial teórico-metodológico o Método (Auto)biográfico e Narrativas (Auto)biográficas, tendo por base as abordagens apresentadas por Nóvoa e Finger (2010), Ferrarotti (1980), Josso (2010), Pineau (2003).

O uso da metodologia de investigação de natureza biográfica no processo de formação da identidade do sujeito, foco deste trabalho, mostra que a construção da biografia narrativa é produto de reflexão crítica sobre parte do seu percurso de vida. E além de requerer a uma participação ativa, o remete à uma compreensão de seu processo de formação enquanto profissional.

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A construção da identidade docente está relacionada às condições que envolvem o trabalho dos professores e a maneira como estes a percebem. As narrativas autobiográficas podem oportunizar o diálogo, a análise e a discussão sobre diversos aspectos que auxiliam na formação de professores. Sendo assim, a escolha desse método qualitativo, que vai além das metodologias qualitativas tradicionais, traz como proposta a valorização da subjetividade para compreender o que existe por trás da ação humana.

Nessa perspectiva, a produção de dados será realizada por meio de entrevistas e narrativas (auto)biográficas desenvolvidas com a participação de 10 professores de instituições de ensino superior.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa intenção ao refletir sobre as narrativas (auto)biográficas de professores do ensino superior, como referido inicialmente, se propõe à perceber como esses atores educacionais compreendem o seu estar e fazer docente, além da reflexão crítica da sua práxis e processos de mudança.

Pelo fato deste ser um artigo que apresenta uma pesquisa em fase inicial, compreende-se que a fase da exploração em campo trará o contraponto necessário a alguns amadurecimentos teórico-práticos. Por ora, reitera-se sobre o método (auto)biográfico ser uma escolha crítico-investigativa que compreende a natureza processual da formação do sujeito, tendo em vista que, para além de um instrumento de investigação, essa teoria-metodológica também se constitui num instrumento de formação.

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4. REFERÊNCIAS

ANASTASIOU, Léa G. Campos e PIMENTA, Selma Garrido. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002.

ARROYO. Miguel. Ofício de Mestre. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

HALL. Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

JOSSO, Marie Christine. A experiência de vida e formação. 2ª edição. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004.

NÓVOA, A. Profissão Professor. 2ª ed. Porto: Porto Editorial, 1992.

NÓVOA, António; FINGER, Matthias. O método (auto)biográfico e a formação. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.

PIMENTA, Selma Garrido (org.), GHEDIN, Evandro (org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2005.

PINEAU, Gaston. Temporalidades na formação: rumo à novos sincronizadores. São Paulo: TRIOM, 2003.

SILVA, Tomaz T. Da. (org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

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