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Sumário. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 743/06-1

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 743/06-1

Relator: CRUZ BUCHO Sessão: 25 Junho 2007 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: RECURSO IMPROCEDENTE

RECURSO MATÉRIA DE FACTO REJEIÇÃO

Sumário

I – O Ac. do Tribunal Constitucional nº 320/2002, de 9 de Julho 8, procº nº 754/01, declarou com força obrigatória geral a inconstitucionalidade, por violação do artigo 32°, nº 1 da Constituição da República, da norma do artigo 412°, nº 2 do CPP interpretada no sentido de que a falta de indicação nas conclusões da motivação, de qualquer das menções contidas nas alíneas a), b) e c) tem como efeito a rejeição liminar do recurso do arguido, sem que ao mesmo seja facultada a oportunidade de suprir tal deficiência.

II – No caso presente, porém, a falta de indicação das referidas menções não surge apenas nas conclusões da motivação, mas também na própria

motivação.

III – Por isso o recorrente não deve ser convidado a corrigir as conclusões uma vez que “apresenta uma motivação com deficiências de fundo já que contra o que expressamente impõe a lei, não se preocupa minimamente em satisfazer as suas exigências, como acontece com a indicação dos suportes técnicos que documentem a sua discordância quanto ao decidido quanto à matéria de facto” (Ac. do STJ de 15-7-2004, procº nº 2360/04-5ª).

IV – Note-se que o mesmo Tribunal Constitucional já afirmou no seu Ac. nº 140/2004, de 10 de Março, procº nº 565/2003, DR, II série, de 17 de Abril de 2004 que esta última interpretação não padece de qualquer

inconstitucionalidade: “Não é inconstitucional a norma do art. 412°, nº 3 do CPP interpretada no sentido de que a falta, na motivação e nas conclusões de recurso em que se impugne matéria de facto, da especificação nela exigida tem corno efeito o não conhecimento da matéria e a improcedência do recurso, sem que ao recorrente tenha sido dada oportunidade de suprir tais

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deficiências”.

V – Como neste último aresto se assinalou: “Com efeito, não está aqui em causa apenas uma certa insuficiência ou deficiência formal das conclusões apresentadas pelo arguido recorrente, isto é, relativa à forma de exposição ou condensação de uma impugnação que é, quanto ao mais, apreensível pela motivação do recurso – falta, essa, para a qual a, rejeição liminar do recurso, sem oportunidade de correcção dos vícios, formais detectados, constitui exigência desproporcionada.

IV – Em conclusão, como o recorrente não deu satisfação ao ónus previsto na alínea b) do referido nº 3, não tendo especificado, como lhe competia, as provas que, no seu entender, impõem decisão diversa da recorrida, sendo certo que tal especificação haveria de fazer-se por referência aos suportes técnicos, conforme o preceituado no referido nº 4, ou seja não indicou o recorrente a localização (início e termo) da gravação das declarações ou depoimentos a que alude genericamente na motivação e respectivas declarações e através dos quais fundamentou a sua discordância

relativamente aos pontos de facto que considerou incorrectamente julgados, consequentemente, estando esta Relação impossibilitada de modificar a decisão proferida sobre a matéria de facto, a tanto se limitando o recurso, é manifesta a improcedência do mesmo, impondo-se a respectiva rejeição.

Texto Integral

Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Guimarães:

*

I- Relatório

No 4º Juízo Criminal do Tribunal Judicial de Braga, no âmbito do Processo Comum Singular nº 1659/05.8TABRG, por sentença de 13 de Fevereiro de 2007, o arguido João G..., com os demais sinais dos autos, foi condenado pela prática de 1 (um) crime prática de um crime de violação dos deveres de neutralidade e imparcialidade, p. e p. pelo artigo 172.º da Lei Orgânica n.º 1/2001, de 14 de Agosto, na pena de 160 (cento e sessenta) dias de multa, à taxa diária de € 5 (cinco euros), num total de e 800 (oitocentos euros).

O arguido foi absolvido do pedido de indemnização civil que contra ele fora formulado por João G..., em representação da coligação”Juntos por Braga”.

*

Inconformado com tal decisão, o arguido dela interpôs recurso, rematando a sua motivação com as seguintes conclusões que se transcrevem:

1. Foi o Recorrente condenado, por douta sentença do tribunal a quo, pela prática de um crime de violação dos deveres de neutralidade e imparcialidade,

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previsto e punido pelo art. 172° da Lei Orgânica n.º 1/2001, de 14 de Agosto.

2. De facto, o Recorrente, em Setembro de 2005, na qualidade de presidente da Junta da Freguesia da M..., e a pedido de dois eleitores locais, acedeu à afixação de uma lista de candidatos e apoiantes do Partido Socialista, junto do edital enviado pelo Tribunal de Braga.

3. O local onde tal lista foi divulgada, mais não era do que o quadro onde habitualmente se difundiam todos os assuntos respeitantes à freguesia, razão pela qual sempre esteve disponível a todos os partidos políticos e associações que pretendessem afixar as suas informações.

4. Com a afixação de referida lista, nunca o Recorrente pretendeu induzir qualquer cidadão a votar no partido político ao qual aquela se reportava, uma vez que não foi de sua iniciativa a colocação da mesma, limitando-se apenas a disponibilizar o quadro como, aliás, era sua prática comum em relação a todas as estruturas da junta de freguesia.

5. Em nenhum momento, o Recorrente, actuou com a percepção de que o seu comportamento estaria a violar qualquer disposição legal, tendo agido com absoluta falta de consciência da eventual i1icitude do seu acto.

6. A douta sentença de que ora se recorre, deu como provado o facto de, o Recorrente, saber que a sua conduta não lhe era permitida, assim como o facto de, ao actuar naquele sentido, saber que estava a ser parcial.

7. Daí se conclui, que o tribunal a quo formou a sua convicção sem ter em devida conta os depoimentos do ora Recorrente e das testemunhas, uma vez que dos seus relatos nunca poderia ter resultado tal ilação, pois, apesar de aquelas se encontrarem vinculadas a partidos da oposição, não hesitaram em sublinhar a imparcialidade e neutralidade que sempre pautaram a actuação do primeiro,

8. Rejeitando a classificação do acto de afixação da lista como uma manobra de propaganda eleitoral, capaz de convencer os cidadãos a votar naquele partido.

9. A conduta adoptada pelo Recorrente não se pode subsumir ao dolo, já que nela esteve ausente o elemento intelectual, uma vez que desconhecia a

proibição e punição do seu acto por lei, antes tendo agido com total falta de consciência da ilicitude.

10. Segundo o Prof. Germano Marques da Silva, in Direito Penal Português, vol. II ", "A exigência de que a consciência da i1icitude faça parte do dolo resulta do art. 16.º, pois aí se dispõe que o erro sobre elementos de facto ou de direito ou sobre proibições cujo conhecimento for indispensável para que o agente possa tomar consciência da i1icitude exclui o dolo, o que significa que a consciência da ilicitude é também elemento do dolo, pois se faltar o dolo é

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excluído".

11. O Recorrente nunca pretendeu infringir os deveres de neutralidade e imparcialidade a que estava legalmente obrigado, pois, em momento algum, teve consciência da i1icitude do seu acto.

LEGISLAÇÃO VIOLADA

Com o seu entendimento, o Meritíssimo Juiz a quo viola, entre outras disposições, o disposto no art. 127° do Cód. Proc. Penal.

Termina pedindo a revogação da sentença recorrida com a consequente absolvição do que crime que lhe foi imputado.

*

O recurso foi admitido, para o Tribunal da Relação de Guimarães, por despacho constante de fls. 189.

*

O Ministério Público junto do tribunal recorrido respondeu ao recurso, pugnando pela manutenção do julgado.

*

Nesta Relação, o Exmo Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer

pronunciando-se igualmente no sentido de o recurso não merecer provimento.

*

Cumprido o disposto no art. 417º, n.º2 do CPP, não foi apresentada qualquer resposta.

*

No exame preliminar a que alude o artigo 417º, n.º1 do CPP o relator suscitou a questão da rejeição do recurso por ser manifesta a sua improcedência.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

*

II- Fundamentação

1. É a seguinte a factualidade apurada no tribunal a quo:

A) Factos provados (transcrição)

a) Em Setembro de 2005 e durante o período de campanha eleitoral para as autarquias, o arguido João G... era Presidente da Junta de Freguesia de M..., concelho de Braga;

b) O arguido, nessa qualidade de Presidente da Junta de Freguesia de M..., recebeu do Tribunal Judicial da Comarca de Braga a lista admitida a concorrer

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pelo Partido Socialista, partido a que está ligado, a fim de a divulgar por meio de edital a ser afixado junto da porta da sede da Junta de Freguesia;

c) O arguido afixou de facto esse edital em Setembro de 2005, tendo contudo colocado junto a este e preso a ele, como se fosse parte do mesmo documento, também uma “Lista de candidatos e de poio à assembleia de freguesia da M...

eleições autárquicas 09 de Outubro de 2005”;

d) Esta lista de apoiantes da lista do Partido Socialista é um elemento de

propaganda eleitoral desse partido, que anuncia os apoiantes da lista de forma a induzir as pessoas a votar nessa lista;

e) O arguido agiu livre, deliberada e conscientemente;

f) Sabia que a sua conduta não lhe era permitida;

g) Sabia que era Presidente da Junta de Freguesia de M..., que decorria a campanha eleitoral e que o cartaz que apunha junto do edital era um meio de convencer as pessoas a votar naquele partido;

h) Sabia que não podia afixar aquele cartaz naquele local;

i) Sabia que como Presidente da Junta não poderia usar os meios desta,

nomeadamente, o placard junto da porta da sede da Junta, com o fim de fazer campanha eleitoral;

j) Sabia que ao fazê-lo era parcial a favor de uma das listas concorrentes;

k) O arguido é casado;

l) Encontra-se reformado, auferindo a pensão mensal de 550,00€;

m) Nada consta do seu certificado de registo criminal.

*

B) Factos não provados (transcrição)

Não resultaram não provados quaisquer factos constantes do despacho de pronúncia.

Resultaram não provados os restantes factos constantes do pedido de indemnização civil, nomeadamente, que:

a) A conduta do arguido provocou danos que geram responsabilidade civil.

*

C) Convicção (transcrição)

A convicção deste Tribunal quanto aos factos provados e não provados baseou-

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se na análise de toda a prova documental junta aos autos, bem como da demais prova produzida em sede de audiência de julgamento.

Relativamente às alíneas a) a j) da matéria de facto provada, a convicção deste Tribunal resultou da análise das fotografias de fls. 31 e 32, onde se encontra retratada a afixação da lista de apoiantes no placard da própria Junta de Freguesia de M.... Tais fotografias foram tomadas por ordem de HUMBERTO P..., candidato da lista concorrente, que, após, realizou queixa junto da

entidade competente, a Comissão Nacional de Eleições.

Foi igualmente relevante a análise do parecer da Comissão Nacional de

Eleições e que se encontra junto aos autos a fls. 05 a 15, no âmbito do qual se conclui que a colocação de uma listagem de apoiantes ou simpatizantes de uma determinada lista junto do edital em que se dá conhecimento oficial de qual a lista definitivamente admitida, é um acto que não se encontra previsto na lei e que extravasa o âmbito de competências do Presidente da Junta de Freguesia. Mais se refere aí que o papel de divulgação de quem são os

apoiantes ou simpatizantes das candidaturas configura um acto de campanha eleitoral próprio de uma candidatura e não de um titular de um órgão

autárquico que também tem funções e competências próprias como órgão da administração eleitoral, concluindo-se ser inequívoco que o acto praticado pelo arguido viola a necessária imparcialidade e neutralidade a que por força do artigo 41.º da Lei Orgânica n.º 1/2001, de 14 de Agosto, se encontra

obrigado.

O arguido admitiu a colocação da lista de apoiantes da lista do Partido Socialista, tendo referido tratar-se da lista que pessoalmente apoiava.

No entanto, já não mereceu qualquer credibilidade quando procurou

convencer este Tribunal de que agiu com boa fé, sem querer violar qualquer dever de imparcialidade e desconhecendo a proibição constante da Lei

Orgânica n.º 1/2001, de 14 de Agosto.

Com efeito, o arguido assumiu-se como tendo uma experiência de autarca há mais de dezasseis anos (dezasseis anos como Presidente da Junta e doze anos na oposição), demonstrando agilidade de pensamento e uma

desenvoltura normal, motivo pelo qual não pode colher por qualquer forma desconhecer ser proibido utilizar o espaço do placard da Junta de Freguesia para afixar uma lista de apoiantes de uma lista concorrente às eleições autárquicas.

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Por outro lado, se pretendesse agir com imparcialidade e boa fé, apenas teria procedido à afixação da lista de apoiantes de ambas as listas e ao mesmo tempo – se bem que aí sempre violaria o dever de neutralidade para com as forças políticas em confronto democrático – o que manifestamente não fez.

A experiência comum demonstra-nos inequivocamente que, ao afixar a lista de apoiantes do Partido Socialista no placar da Junta de Freguesia de M..., o arguido efectivamente violou o dever de imparcialidade e neutralidade a que estava obrigado enquanto autarca.

A restante prova testemunhal produzida em sede de audiência de julgamento, tanto a indicada pela demandante civil, como a requerida pelo próprio arguido no próprio dia da audiência, mostrou-se absolutamente inócua para a

formação da convicção deste Tribunal, não tendo logrado convencer da verificação de qualquer concreto dano merecedor de indemnização, por um lado, e não tendo logrado abalar a convicção formada com base no depoimento coerente e credível de HUMBERTO P..., no parecer da Comissão Nacional de Eleições, na lista de apoio afixada, nas fotografias e nas mais simples regras da experiência comum e da vida.

Quanto às condições sócio-económicas do arguido, constantes das alíneas k) e l) da matéria de facto provada, foram relevantes as suas declarações, as quais, quanto a esta parte, surgiram de forma coerente e espontânea, não tendo sido contraditadas por qualquer outro meio de prova.

Relativamente à alínea m) da matéria de facto provada, foi decisiva a análise do teor do certificado de registo criminal junto aos autos a fls. 131.

*

2. §1. Conforme decorre com clareza das conclusões do recurso, o arguido / recorrente questiona o facto de o tribunal ter dado como provado que sabia saber que a sua conduta não lhe era permitida, assim como o facto de, ao actuar naquele sentido, saber que estava a ser parcial.

Deste modo, conclui que o tribunal a quo formou a sua convicção sem ter em devida conta os depoimentos do ora Recorrente e das testemunhas, uma vez que dos seus relatos nunca poderia ter resultado tal ilação, pois, apesar de aquelas se encontrarem vinculadas a partidos da oposição, não hesitaram em sublinhar a imparcialidade e neutralidade que sempre pautaram a actuação do

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primeiro, rejeitando a teoria de que o acto do recorrente, de afixar a referida lista junto do edital, consistia numa qualquer manobra de propaganda

eleitoral, capaz de convencer os cidadãos a votar naquele partido.

*

§2. Dado que no caso houve documentação da prova produzida em audiência, com a respectiva transcrição integral, pode o tribunal de recurso reapreciá-la na perspectiva ampla prevista no art. 431º do C. P. Penal.

Com efeito, estatui o citado preceito que “Sem prejuízo do disposto no art.

410°, a decisão do tribunal de 1ª instância pode ser modificada (…):

b) Se, havendo documentação da prova produzida em audiência, esta tiver sido impugnada, nos termos do art. 412º, n.º 3 (…)”.

No entanto, ao contrário do que por vezes se pensa, o recurso não tem por finalidade nem pode ser confundido com um "novo julgamento" da matéria de facto, assumindo-se antes como um “remédio” jurídico.

Como já em diversos lugares salientou o Prof. Germano Marques da Silva, presidente da Comissão para a Reforma do Código de Processo Penal que justamente introduziu o recurso também em matéria de facto nos crimes julgados perante tribunal colectivo:

- “E o recurso não é tudo, é um remédio para os erros, não é novo julgamento”

(conferência parlamentar sobre a revisão do Código de Processo Penal, in Assembleia da República, Código de Processo Penal, vol.II, tomo II, Lisboa 1999, pág. 65);

- “o recurso em matéria de facto não se destina a um novo julgamento, constituindo apenas um remédio para os vícios do julgamento em primeira instância” (Forum Justitiae, Maio/99);

- “Recorde-se que o recurso ordinário no nosso Código é estruturado como um remédio jurídico, visa corrigir a eventual ilegalidade cometida pelo tribunal a quo. O tribunal ad quem não procede a um novo julgamento, verifica apenas da legalidade da decisão recorrida, tendo em conta todos os elementos de que se serviu o tribunal que proferiu a decisão recorrida. Por isso também a

renovação da prova só seja admitida em situações excepcionais e sobretudo que tenha de indicar expressamente os vícios da decisão recorrida.” (Registo da prova em Processo Penal. Tribunal Colectivo e Recurso, in Estudos em homenagem a Cunha Rodrigues, vol I, Coimbra 2001)- no mesmo sentido cfr.

José Manuel Damião da Cunha, A Estrutura dos Recursos na proposta de Revisão do CPP-Algumas Considerações, in Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 8º, fasc. 2, Abril/Junho 1998, págs. 259-260 onde salienta a exigência formulada ao recorrente para apresentar os pontos de facto que mereçam a censura de “incorrectamente decididos”; Id., O Caso Julgado Parcial, Porto, 2002, especialmente a págs. 516, 527, 529 e 567,

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Por conseguinte, o recurso em matéria de facto, destina-se apenas à

reapreciação da decisão proferida em primeira instância em pontos concretos e determinados. Tem como finalidade a reapreciação de “questões de que pudesse conhecer a decisão recorrida” (cfr. designadamente o art. 410º, n.º l do CPP).

Daí que o legislador tenha estabelecido um específico dever de motivação e formulação de conclusões do recurso nesta matéria - cfr. artigo 412º, n.º 1, 3 e 4 do CPP.

Dever esse que não se basta com a remissão mais ou menos genérica para os depoimentos prestados em audiência, devendo especificar, ponto por ponto, não só os pontos que se reputam de indevidamente decididos, como ainda quais as provas que deveriam levar a decisão diversa, por referência aos suportes técnicos, no caso de ter havido gravação e transcrição.

*

§3. Ora, no caso em apreço o recorrente não deu cumprimento às

mencionadas exigências legais, nem na motivação nem nas conclusões, tendo- se limitado na motivação a remeter genericamente para “o depoimento do agora recorrente e das testemunhas com conhecimento directo dos factos que, apesar de se encontrarem vinculadas a partidos da oposição, não hesitaram em acentuar a imparcialidade e a neutralidade de toda a actuação do

presidente da Junta ao longo dos quatro mandados de exercício do cargo, rejeitando a teoria de que o acto do recorrente, de afixar a referida lista junto do edital, consistia numa qualquer manobra de propaganda eleitoral, capaz de convencer os cidadãos a vota naquele partido” e, nas conclusões, a salientar que “o tribunal a quo formou a sua convicção sem ter em devida conta os depoimentos do ora Recorrente e das testemunhas, uma vez que dos seus relatos nunca poderia ter resultado tal ilação, pois, apesar de aquelas se

encontrarem vinculadas a partidos da oposição, não hesitaram em sublinhar a imparcialidade e neutralidade que sempre pautaram a actuação do primeiro, rejeitando a classificação do acto de afixação da lista como uma manobra de propaganda eleitoral, capaz de convencer os cidadãos a votar naquele

partido”.

*

§4. O Ac. do Tribunal Constitucional n.º 320/2002, de 9 de Julho 8, proc.º n.º 754/01, declarou com força obrigatória geral a inconstitucionalidade, por violação do artigo 32º, n.º 1 da Constituição da República, da norma do artigo 412º, n.º2 do CPP interpretada no sentido de que a falta de indicação nas conclusões da motivação, de qualquer das menções contidas nas alíneas a), b) e c) tem como efeito a rejeição liminar do recurso doa arguido, sem que ao

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mesmo seja facultada a oportunidade de suprir tal deficiência.

No caso presente, porém, a falta de indicação das referidas menções não surge apenas nas conclusões da motivação, mas também na própria motivação.

Por isso o recorrente não deve ser convidado a corrigir as conclusões uma vez que “apresenta uma motivação com deficiências de fundo já que contra o que expressamente impõe a lei, não se preocupa minimamente em satisfazer as suas exigências, como acontece com a indicação dos suportes técnicos que documentem a sua discordância quanto ao decidido quanto à matéria de facto” (Ac. do STJ de 15-7-2004, proc.º n.º 2360/04-5ª).

Note-se que o mesmo Tribunal Constitucional já afirmou no seu Ac. n.º 140/2004, de 10 de Março, proc.º n.º 565/2003, DR, II série, de 17 de Abril de 2004 que esta última interpretação não padece de qualquer

inconstitucionalidade: “Não é inconstitucional a norma do art. 412º, n.º3 do CPP interpretada no sentido de que a falta, na motivação e nas conclusões de recurso em que se impugne matéria de facto, da especificação nela exigida tem como efeito o não conhecimento da matéria e a improcedência do recurso, sem que ao recorrente tenha sido dada oportunidade de suprir tais

deficiências”.

Como neste último aresto se assinalou:

“Com efeito, não está aqui em causa apenas uma certa insuficiência ou

deficiência formal das conclusões apresentadas pelo arguido recorrente, isto é, relativa à forma de exposição ou condensação de uma impugnação que é, quanto ao mais, apreensível pela motivação do recurso - falta, essa, para a qual a rejeição liminar do recurso, sem oportunidade de correcção dos vícios formais detectados, constitui exigência desproporcionada.

Antes a indicação exigida pela alínea b) do n.º 3 e pelo n.º 4 do artigo 412° do Código de Processo Penal - repete-se, das provas que impõem decisão diversa da recorrida, por referência aos suportes técnicos - é imprescindível logo para a delimitação do âmbito da impugnação da matéria de facto, e não um ónus meramente formal. O cumprimento destas exigências condiciona a própria possibilidade de se entender e delimitar a impugnação da decisão proferida sobre a matéria de facto, exigindo-se, pois, referências específicas, e não apenas uma impugnação genérica da decisão proferida em matéria de facto.”

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§5. Em conclusão, o recorrente não deu satisfação ao ónus previsto na alínea b) do referido n.º3, não tendo especificado, como lhe competia, as provas que, no seu entender, impõem decisão diversa da recorrida, sendo certo que tal especificação haveria de fazer-se por referência aos suportes técnicos,

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conforme o preceituado no referido n.º4, ou seja não indicou o recorrente a localização (início e termo) da gravação das declarações ou depoimentos a que alude genericamente na motivação e respectivas declarações e através dos quais fundamentou a sua discordância relativamente aos pontos de facto que considerou incorrectamente julgados.

Consequentemente, estando esta Relação impossibilitada de modificar a decisão proferida sobre a matéria de facto, a tanto se limitando o recurso, é manifesta a improcedência do mesmo, impondo-se a respectiva rejeição.

*

III- Decisão

Em face do exposto, acorda-se em rejeitar o recurso por manifestamente improcedente.

Custas pelo recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 3UC a que acresce o pagamento de igual importância, nos termos do artigo 420º, n.º4 do Código de Processo Penal.

*

Guimarães, 25 de Junho de 2007

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