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Resenha de A igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 19591965

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Academic year: 2018

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WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Z Z O , J o s é O s c a r . A I g r e j a d o B r a s i l n o C o n c í l i o V a t i c a n o f I : 1 9 5 9 - 1 9 6 5 . S ã o P a u l o : P a u l i n a s , 2 0 0 5 .

Márcia de Souza Pano

Universidade Federal do Ceará

Malgrado algumas controvérsias, a partir da segunda metade da

ti

I uda de 1960, tornou-se ponto comum aos estudos que se dedicam à

III~t ria da Igreja Católica no Brasil, o reconhecimento do Concílio

Vatica-110II como evento eclesiástico que representou o fim de uma fase de longa

lur: ção iniciada com o Concílio de Trento (1545-1563).

O Vaticano II, ao conceber a Igreja enquanto realidade situada

JlO tcmpo e no espaço, abriu horizontes de incertezas, de redistribuiçâo do

pod r interno da Igreja, de legitimação de novos organismos e experiências

lcsiais, além do diálogo com o ecumenismo. Durante suas quatro Sessões

C nciliares (1962-1965), constituiu complexos movimentos de alterações

do padrões de verticalidade no exercício da autoridade da Igreja, criticou a

vi âo ingênua de um monolitismo de posições dentro da Instituição

Cató-li a, repensou sua Cató-liturgia e operacionaCató-lizou novas relações com as demais

1 rejas, comunidades cristãs e religiões, inclusive com os não-crentes, com

a cultura e sociedade modernas e o mundo em geral.

O padre José Oscar Beozzo defendeu em 2001, junto à Faculdade

de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sua

tese de doutorado, orientada pela Profa. Dra. Maria Luiza Marcílio. Em

2005, seu trabalho foi publicado pela Editora Paulinas, com o título de A

I g r e j a d o B r a s i l n o C o n c í l i o V a t i c a n o

lI:

1959 - 1965.

Trata-se de obra indispensável para todos aqueles que buscam uma

maior compreensão de como o Concílio diminuiu o secular predomínio dos

órgãos da Cúria Romana sobre as Igrejas locais e permitiu, através de atritos

e disputas, uma maior valorização dos bispos como sujeitos responsáveis

pelas Igrejas de seus próprios países ou em dimensão continental. Como o

próprio título da obra sugere, Beozzo busca historicizar e demonstrar que o

(2)

ineditismo e o fator de maiores conseqüências durante e após a assembléia

conciliar foi a participação dos bispos brasileiros e latino-americanos.

O recorte temático estabelecido pelo autor permitiu analisar todos

os momentos de participação do episcopado brasileiro no Vaticano II. Assim,

dividiu sua obra em três blocos principais. Parte I: Anúncio e preparação

do Concílio (1959-1962), composta de três capítulos. Parte lI: O Concílio

(1962-1965), constituída de nove capítulos. Parte III: Prosopografia do

Episcopado Brasileiro, com apenas um capítulo e nove tabelas comentadas,

através das quais Beozzo agrupa os bispos, seguindo determinadas

caracte-rísticas, com o objetivo de complementar as informações biográficas

forne-cidas no capítulo I da terceira parte, sobre o perfil de cada bispo brasileiro

participante do Concílio.

Como metodologia de pesquisa, Oscar Beozzo iniciou sua

inves-tigação pelo recolhimento de documentos referentes ao Concílio Vaticano

II, existentes no Brasil. Enviou correspondência a todos os bispos e peritos

brasileiros que haviam participado do Vaticano II, sensibilizando-os para que

cedessem seus arquivos pessoais. Esse seu primeiro procedimento permitiu

a organização do conjunto documental "Fundo Vaticano Il", atualmente

depositado na Biblioteca da Obra Social Redenrorista Pesquisas Religiosas,

no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

O acervo do Fundo Documental Varicano II contém cerca de cinco

mil documentos. Entre os manuscritos mais importantes encontram-se as

"Cartas de Dom Helder Câmara", enviadas por ele durante todas as sessões conciliares para seus auxiliares da CNBB (na função de seu Secretário Geral)

e para a Diocese de Olinda e Recife (para a qual foi transferido em 12 de

março de 1964).

Outra fonte de inestimável valor para a história do Concílio utilizada por Beozzo e que faz parte também do Fundo Vaticano II, é o jornal mural O

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C o n c i l i d b u l o , pequeno noticioso de forte teor humorístico, divulgado

durante as sessões do Vaticano II, sob a responsabilidade de Dom Alberto

Gaudêncio Ramos, arcebispo de Belém do Pará. O jornal transformou-se

numa das maiores atrações dos bispos brasileiros hospedados na D o m u s

M a r i a e , que atualmente é sede da Ação Católica Feminina Italiana, situada

nas vizinhanças do Colégio Pio Brasileiro. Esse local foi destinado pela Cúria

Romana como a residência do episcopado brasileiro durante o Vaticano II.

Quase que ininterruprarnente, durante as quatro sessões conciliares, O C o n

-302

Ii l i d b u l o era afixado na entrada da residência para que fosse lido por tod

os I dres conciliares do Brasil. Oscar Beozzo não conseguiu encontrar o

núm ros do jornal produzidos durante a primeira sessão do Concílio, mas

I b u de Dom Alberto Gaudêncio Ramos os três volumes subseqüentes,

pouco tempo antes do seu falecimento.

As correspondências recebidas e expedidas pela presidência,

se-I l ria geral e diversos secretariados da CNBB - arquivadas na sua sede,

m Brasília - foram reproduzi das pelo padre Beozzo e compõe também

() universo de suas fontes impressas. Entre estas, teve acesso àquelas de

ir ulaçâo reservada, ou seja, ao C o m u n i c a d o m e n s a l d a C N B B , destinado

I'X lusivamente aos membros do episcopado, referentes ao recorte temático

ua tese de doutorado.

Em relação às fontes de domínio público, o autor analisou o

l i o l e t i m s e m a n a l , editado pelo Secretariado Nacional de Opinião Pública

d,l

NBB e pelo Departamento de Imprensa dos Religiosos do Brasil, do

Iflf io até o final do Concílio em 1965. O Boletim, que recebeu o título

ti'

' o n c i l i o e m f o c o , teve como seu primeiro editor o jornalista Otto Engel,

\Iudanre de teologia na Universidade Gregoriana e aluno do Colégio

P,O Brasileiro. Posteriormente, sua publicação passou à responsabilidade

do padre Raimundo Caramuru Barros, que consta na P r o s o p o g r a f i a d o

r p i s c o p a d o b r a s i l e i r o , de autoria de Beozzo, como sendo natural do Rio

( ,rande do Norte. Na realidade, o padre Caramuru Barros é cearense de

Camocim, nascido em 22 de janeiro de 1931. Dom Helder, que o chamava

.rrinhosarnenre de "Abbé Barros", atribui-lhe a maior responsabilidade

fia elaboração do P l a n o d e p a s t o r a l d e c o n j u n t o d a C N B B , aprovado em

novembro de 1965, em Roma, durante a última sessão do Vaticano

11.

~oncluiu o Seminário em Fortaleza em 1946. Em 1958, foi transferido

I

ara o Rio de Janeiro e tornou-se assistente nacional da Juventude Agrária

~atólica (JAC).

De igual relevância para o seu trabalho, Beozzo consultou as fontes

d I s t i t u t o p e r l e S c i e n z e R e l i g i o s e d e B o l o n h a (ISR), considerada por ele a

in tituiçâo que tem a custódia da mais importante documentação sobre o

ncílio, constituída por fundos de cardeais, bispos e teólogos, além de toda

1

cl

cumentaçâo produzida pelo Papa João XXIII. Fora o c o r p u sdocumental

m mcionado, o ISR constituiu a mais completa biblioteca contemporânea

d História da Igreja, atualmente vinculada à Universidade de Bolonha.

(3)

Outras fontes e bibliotecas consultadas encontram-se nas uni-versidades belgas de

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L o u u a i n - L a - N e u u e e L e u u e n , onde encontrou parte

da documentação do Cardeal Leo joseph Suenens, moderador do

Vati-cano II e de outros teólogos e peritos belgas que atuaram no Concílio.

No Instituto Católico de Paris estão disponibilizados os documentos

do Fundo Pierre Haubtmann, destacado perito conciliar e importante

colaborador na redação da Constituição Pastoral G a u d i u m e t S p e s . Na

Universidade d e I n n s b r u c k , na Áustria, estão os arquivos conciliares

de Karl Ranner, SJ, que Beozzo considera um dos mais importantes

teólogos do século XX. Na Inglaterra, Espanha e Holanda ainda estão

sendo empreendidos esforços no sentido de organização das fontes

documentais do Vaticano Il , com ações de menor ou maior

intensi-dade, peculiar aos interesses da Igreja e dos especialistas em estudos

eclesiásticos de cada um desses países.

O padre Beozzo, considerado o maior difusor no Brasil das idéias

do Concílio Vaticano II, identifica no continente africano o l ó c u smais

pro-blemático no que diz respeito à documentação produzida por seus bispos

durante o Concílio. Por outro lado, na América Latina, além do Brasil, o

Chile é referido como país de atuação mais intensa e organizada no Vaticano Il, em parte devido aos trabalhos do bispo de Talca, Dom Manuel Larraín,

que foi presidente da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM)

no mesmo período das Sessões do Vaticano.

Para os pesquisadores e estudiosos que se dedicam a interpretação

das inflexões da Igreja no Brasil, tendo como referência os anos de realização

do Concílio e os seus desdobramentos, como no caso de Puebla e Medellín,

esta obra de José Oscar Beozzo configura-se imprescindível especialmente em

relação ao contexto que possibilitou a feição adquirida pela Igreja Católica

do Brasil, e da América Latina.

É

quase imperativa a leitura do capítulo 5

de sua tese, denominado P o n t o s d e a r t i c u l a ç ã o : a s r e d e s d e r e l a ç õ e s .Nele, o

leitor encontrará as teias das relações preexistentes ao Concílio, no caso a

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e a rede continental constituída

pelo CELAM. No que se refere às redes de relações construídas durante o

Vaticano Il, o autor se detém em três instâncias, em virtude de sua impor-tância para os bispos do Brasil:

1. A Ecumênica, reportando-se ao grupo que trabalhou para articular

diversas conferências episcopais;

304

lI. O C o e t u s l n t e r n a t i o n a l i s P a t r u m , grupo comandado pelo

arcebis-I )Marcel Lefebvre e que tinha como Secretário Geral e maior articulado r,

Iorn Geraldo Proença Sigaud, arcebispo de Diamantina (MG). Reunia os

bi p s do mundo inteiro que se vinculavam à doutrina tradicional da Igreja

t' ombatiam os progressistas;

m.

O grupo Igreja dos Pobres, no início com a participação de nove

bispos brasileiros, entre eles Dom Helder e Dom Fragoso, que em conjunto

orn mais 37 bispos de outros países, assumiram um compromisso com a

po-hr .za, firmando o que passou a ser conhecido como Pacto das Catacumbas,

em reunião na Catacumba de Santa Dornitila, em novembro de 1965.

O padre José Oscar Beozzo, na sua obra monumental de 611

pági-lias, ao estabelecer como eixo central a participação do episcopado brasileiro

1l.IS teias do tecido teológico-pastoral do Vaticano II, demonstra que, se por

(1111 lado ela foi modesta institucionalmente falando, ou seja, no que diz

respeito à presença de bispos do Brasil nos órgãos de direção do Concílio,

por urro, propõe uma percepção qualitativa da participação do episcopado

lirasileiro durante o Concílio.

Em termos numéricos, o episcopado do Brasil era o terceiro maior

do Vaticano Il, ultrapassado apenas pelos bispos italianos e norte-americanos.

hl

dois últimos, no entanto, não dispunham da experiência de coesão e

,1,'1i ulação da Igreja do Brasil, proporcionada pela estrutura e metodologia

dl

trabalho da CNBB, em atuação desde 1952.

Vivenciando intensamente essa dimensão de colegialidade, o

pls opado brasileiro pautou-se mais por uma participação às margens do

.oncilío, nos seus gtupos informais, que no final revelou uma significativa

l.ipacidade de pressão e influência sobre o desenrolar do mais importante

vmro eclesiástico do século XX.

(4)

COLABORADORES

AFONSINA MARIA AUGUSTO MOREIRA é doutora em História Social pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

ÁLVARO DELLANO RIOS MORAIS é bacharel em Comunicação Social e rnes-trando em Sociologia pela UFC (Universidade Federal do Ceará).

ANTONIO OTAVIANO VIEIRA JUNIOR é doutor em História Social pela

Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor do Departa-mento de História da UFPA (Universidade Federal do Pará).

CLARA SARAIVA é pesquisadora do Instituto de Investigação Científica Tropical e docente convidada do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

CRISTINA RODRIGUES HOLANDA é mestre em História Social pela UFC

(Universidade Federal do Ceará), assessora do IMOPEC (Instituto da Memória do Povo Cearense) e professora de história do Museu do Ceará.

EDUARDO DIATAHY BEZERRA DE MENEZES é professor emérito da UFC (Universidade Federal do Ceará) e titular do Mestrado e Doutorado em Sociologia da UFC (Universidade Federal do Ceará).

GILMAR DE CARVALHO é doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontíficía

Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor do Departamento de

Comunicação Social e do Mestrado em História Social da UFC (Universidade Federal do Ceará).

ISMAEL PORDEUS JR é doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade

Lyon 2éprofessor titular do Mestrado e Doutorado em Sociologia da UFC

(Uni-versidade Federal do Ceará)

JOSÉ ERIVAN BEZERRA DE OLIVEIRA é bacharel em Ciências Sociais pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e mestre em Literatura pela mesma universidade.

MARCIO DE SOUZA PORTO é mestrando em História Social pela UFC (Uni-versidade Federal do Ceará).

306

I lUA 1·1. RI E RAPOSO PEREIRA é doutora em Sociologia pela UF

~lll1lv -ivldadc Federal do Ceará) e professora do Departamento de Geografia da

111III.! univ r idade.

I I IINE' UZANNE KUNZ é doutora em Literatura pela Universidade de

111"11I111VII (Paris) e professora do Departamento de Letras Estrangeiras e do I u.ulo crn História Social da UFC (Universidade Federal do Ceará).

II l/I' I l~INA DE LUCENA LUCAS é doutora em História pela UFRJ

(Uni-I cI,l te Federal do Rio de Janeiro) e professora do Departamento de História da

(Universidade Federal do Ceará).

li'I 11ANE COELHO émestre em Sociologia pela UFC (Universidade Federal

0111( ',11;) c pesquisadora.

I" 111A VIRGÍNlA PINHEIRO BATISTA é licenciada em História pela UECE

(I Jlllvnsidadc Estadual do Ceará) e mestranda em História Social pela UFC

(Uni-I d. te Federal do Ceará)

, I 1'\1 ELLA CAVA é phd em História Latino-Americana pela Columbia

Uni-I IIY

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

professor da Columbia Universiry e da Universiry of New York.

I ( 1I\

'~Rr

AMÉRICO DE SOUZA é doutor em História pela UFF (Universidade

I.oI( 1.11Flurninense}.

I ( >NALDO SALGADO é mestre em Literatura pela UFC (Universidade Federal do

.11í)e professor do Departamento de Comunicação da mesma universidade.

Referências

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