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As Relações Brasil Oriente Médio ( ): face à rivalidade argentina e sob a égide estadunidense.

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Academic year: 2021

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As Relações Brasil Oriente Médio (1964-1991): face à rivalidade argentina e sob a égide estadunidense.

José Luiz Silva Preiss

,

Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira (Orientador) PPG História - PUCRS

Resumo

Este trabalho tem como objeto as relações do Brasil com o Oriente Médio entre os anos de 1964 a 1991, face à rivalidade argentina e sob a supervisão estadunidense. O Oriente Médio desempenhou, até o final da Guerra Fria, um papel extremamente importante na política externa brasileira, tanto na área comercial como no campo tecnológico-militar. Por outro lado, a Argentina era considerada a principal rival, em função da importância dos dois países na América do Sul.

Os governos militares mostraram sempre preocupação com a Argentina, enquanto buscavam pragmaticamente estabelecer uma política externa que satisfizesse as necessidades do País, a partir de 1964. As desconfianças iniciais do governo argentino após a ascensão do governo militar brasileiro foram afastadas, de certa forma, progredindo para a posterior cooperação.

As relações do Brasil com o Oriente Médio passaram por vários estágios. Os acordos com o Iraque, assim como aqueles com a Arábia Saudita, a Argélia, a Líbia, Egito, foram extremamente importantes como forma projeção brasileira no Oriente Médio. O início dos estudos para a inserção brasileira em mercados do Oriente Médio foi a criação, em 1969, do COARABE (Grupo de Coordenação do Comércio com os Países Árabes).

A década de 1970 foi de extrema importância para as relações Brasil e Oriente Médio, visto que durante os choques do petróleo (1973 e 1979), o País recebeu estoques de petróleo de importantes fornecedores árabes (Arábia Saudita e Iraque), demonstrando a aceitação brasileira junto a estes países intensificando as relações Sul-Sul proposta em fóruns de cooperação envolvendo o Terceiro Mundo.

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Durante aquela década, desenvolveu-se a cooperação na área estratégica a fim de combater os grupos de esquerda que operavam contra os governos militares instaurados nos dois países. Os avanços brasileiros e argentinos na área nuclear agravaram esta rivalidade, que era ora incentivada pelo governo estadunidense e ora amenizada, visto que era vital aos Estados Unidos da América (EUA), que o combate aos grupos guerrilheiros alcançasse sucesso. Apesar da cooperação brasileiro- argentina neste contexto, na década de 1980, o Brasil apoiou o Iraque no conflito contra o Irã, que recebeu auxilio argentino no seu esforço de guerra.

A Argentina passou a fornecer tecnologia nuclear e de mísseis para o Egito, enquanto o Brasil vendia aviões Embraer “Tucano” e planejava transferir para o país africano uma fábrica destas aeronaves. Vários projetos de construção da Argentina e do Brasil passaram a ser postos em andamento em países árabes gerando vários tratados de cooperação entre países árabes e Irã e Argentina, enquanto o Brasil mantinha a mesma política com Estados do Oriente Médio. Os contratos firmados pelo Brasil na área de serviços, importação e de fornecimento de material bélico, principalmente para o Iraque e Arábia Saudita, superaram aqueles estabelecidos pela Argentina. Por outro lado, os projetos nucleares desenvolvidos por cientistas argentinos no Irã e Egito mostravam a qualidade do programa nuclear da Argentina, estabelecendo, assim, o equilíbrio de forças na América do Sul.

Os desenvolvimentos nucleares brasileiros e argentinos colocaram a América Latina em um impasse, uma vez que a Argentina conseguiu concluir a fabricação do artefato e construiu um veículo de lançamento. Por sua vez, o Brasil finalizara o processo e faltava-lhe o meio de transporte do artefato. Esta falta foi suprida por Saddam Hussein, que enviou ao governo brasileiro, como forma de agradecimento, os planos de construção do míssil soviético Scud D, que passou a ser fabricado no País com o nome de EE-600. A rivalidade acirrou-se na condução de planejamento geopolítico na América do Sul, uma vez que o Brasil mantinha a missão militar de instrução no Paraguai, enquanto militares argentinos assessoravam o governo boliviano.

As relações de comércio e de cooperação tecnológica do Brasil e da Argentina com os países do Oriente Médio foram monitoradas pelos Estados Unidos da América (EUA), porém não sofreram sanções por parte deste país. A única atuação contrária foi o bombardeio do reator iraquiano Osirak I pela Força Aérea Israelense, gerando um manifesto formal da Argentina e do Brasil. A respeito das relações

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diplomáticas do Brasil e da Argentina com Israel eram mantidas através de acordos culturais e de cooperação, sendo que o governo brasileiro ao reconhecer a causa palestina causou desconforto a Israel. O governo argentino buscou assessoria militar israelense, principalmente, na compra e manutenção de aeronaves militares.

O retorno dos governos democráticos à América do Sul e o final da Guerra Fria enfraqueceram as relações de Argentina e Brasil com os países do Oriente Médio. O efeito deste arrefecimento para o País foi sentido na retração da indústria bélica e do programa nuclear brasileiro. A atuação estadunidense, que outrora permitiu o desenvolvimento dos dois segmentos da indústria de defesa, a partir da redemocratização não incentivou mais tais pesquisas.

As imposições estadunidenses ficaram mais evidentes no inicio da década de 1990, quando exigiu uma ação mais enérgica de seus aliados, quando o Iraque invadiu o Kuwait. A partir de uma política de sanções, a ONU e os EUA passaram a lançar ataques aéreos e terrestres contra as forças iraquianas. Com a derrota do Iraque e com os EUA como potência hegemônica, paises como Argentina e Brasil, no âmbito sul-americano, colocaram-se definitivamente sob o diktad do Consenso de Washington.

A indústria bélica brasileira foi o primeiro segmento na área de estratégia a ser afetado pela nova política externa da década de 1990. A concorrência, para escolher o novo blindado para o Real Exército Saudita, apontava o carro de combate brasileiro

“Osório” como vencedor, por outro lado, no final do processo, o vencedor foi um modelo estadunidense. A ENGESA, naquele momento, perdera um contrato de 1 bilhão de dólares, considerado o maior que um fornecedor de armamentos do Terceiro Mundo havia conquistado.

A Argentina, ainda buscou ser favorecida por contratos de reconstrução do Kuwait, enviando um contingente militar simbólico para tomar parte ao lado da Coalizão contra o Iraque. O Brasil, após o conflito, preferiu cobrar através de um programa de reparação das Nações Unidas os seus prejuízos durante o conflito. Por uma série de equívocos e perda de prazos, o governo brasileiro não conseguiu recuperar seus investimentos nos seus projetos de construção e petrolíferos no Iraque.

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Introdução

As relações do Brasil com os países do Oriente Médio foram de suma importância, não apenas para a diplomacia do País, mas para a sua indústria bélica e para seu programa nuclear. Por outro lado, a Argentina, além de rivalizar com o Brasil, na condição de potência regional na América do Sul, buscou levar seu projeto nuclear a dirigentes árabes. Apesar da rivalidade no âmbito sul-americano e no mundo árabe e Irã, Brasil e Argentina passaram a cooperar com os Estados Unidos da América no combate a grupos que procuravam derrubar os governos de países da América Central aliados dos EUA, como El Salvador, Guatemala e Honduras. Os governos brasileiro e argentino passaram a enviar instrutores e conselheiros militares para atuar juntos às forças armadas destes países, a fim de combater insurgentes, que contavam com auxílio cubano e soviético. Buscou-se no Realismo nas Relações Internacionais um embasamento teórico para o desenvolvimento da pesquisa.

(NOGUEIRA-MESSARI, 2005)

Metodologia

O trabalho foi desenvolvido através de exaustiva pesquisa bibliográfica, em fontes secundárias e na documentação encontradas em arquivos on line da CIA e da ONU. A busca não se deteve apenas nas fontes nacionais, sendo as principais aquelas editadas em língua inglesa e espanhola. Buscou-se comparar as ações da diplomacia brasileira e argentina nos países do Oriente Médio, além da visão estadunidense destes atos. Posteriormente, foi analisada a teoria do Realismo das Relações Internacionais, uma vez que respondeu positivamente aos questionamentos iniciais da pesquisa, principalmente aqueles de potências médias regionais concorrentes e que buscavam cooperar ao enfrentar o inimigo comum.

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Resultados

Até o presente, o trabalho mostrou a importância das relações do Brasil com os países do Oriente Médio, além da grande capacidade de desenvolvimento de armamentos e tecnologia nuclear. Outro tópico de extrema relevância foi a descoberta de planos de mísseis argentinos, que mostravam, para o período, um excelente progresso tecnológico, que chamou a atenção de compradores iranianos e árabes acostumados à tecnologia de países de grande tradição em fabricação de armamentos. O Brasil, através do planejamento estabelecido pela ESG e Itamaraty, conseguiu inserir-se em um mercado, que até aquele momento, era dominado por EUA, França, Grã- Bretanha e URSS.

Poderia-se discutir as motivações que levaram o País a buscar investir na indústria bélica para exportação, o que geraria a resposta que o Brasil tinha capacitação técnica para isto e um mercado significativo conquistado através de sua política externa, não intervencionista e pragmaticamente voltada à busca de seus interesses. Tanto Brasil, quanto Argentina, poderiam oferecer no âmbito do Terceiro Mundo, assessoria militar e tecnológica na área nuclear, requisitada por árabes e iranianos, assim como na prospecção de petróleo e prestação de serviços. Outro ponto a ser discutido era a importância que estes países conquistaram, uma vez que seus projetos nucleares foram desmobilizados e suas indústrias bélicas enfraquecidas, poderia-se mostrar que não haveria tolerância à concorrência sul-americana à hegemonia estadunidense em territórios que foram clientes da URSS, da Argentina e do Brasil.

Conclusão

Pode-se concluir, até o presente, que o Brasil mostrou significativa importância na fabricação de armamentos e, principalmente, no binômio pesquisa e desenvolvimento, pois desenvolveu-se nesta área muito depois de países, que angariaram respeitabilidade neste segmento. A pesquisa brasileira, na área nuclear, apresentou resultados extremamente avançados, principalmente se comparados com aqueles dos EUA, como o enriquecimento a laser de urânio, concebido pela Marinha Brasileira. No âmbito diplomático, ficou claro que o Brasil buscava alcançar a liderança

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entre os países do Terceiro Mundo pela via da cooperação, diferentemente de antigas potências coloniais, que eram vistas pelos árabes como exploradores do seu petróleo, sem oferecer, em contrapartida, tecnologias e recursos pelo insumo.

Referências

NOGUEIRA, João Pontes ; MESSARI, Nissar. Teoria das Relações Internacionais. Rio de Janeiro. Editora Campus. 2005.

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