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N/Referência: Pº C.P.3/2017 STJ-CC Data de homologação:

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N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7 Relatório

1. As questões submetidas a apreciação deste Conselho estão enunciadas na informação do STJSR da seguinte forma:

«A questão suscitada especialmente neste processo de consulta consiste em saber se no procedimento “Casa Pronta” é possível proceder não só ao registo de aquisição (fundada em venda por negociação particular ocorrida em processo judicial de inventário ou noutro processo especial, como por exemplo, o de divisão de coisa comum), mas também ao cancelamento oficioso dos ónus (penhoras e hipotecas) incidentes sobre o imóvel, tudo nos termos dos artigos 827º/2 do NCPC, 824º/2 do CC e 101º/5 do CRP, por força do disposto no artigo 549º do NCPC.

Pretende-se, em suma, saber se é aplicável à venda em inventário judicial e em ação especial de divisão de coisa comum, o que se dispõe para a venda executiva, nomeadamente o regime previsto no artigo 824º do CC, com as inerentes consequências registrais (artigo 101º/5 do CRP).

Questão conexa e eventualmente complementar, que cremos aflorada na consulta, é a de saber se a data da instauração do processo especial pode no caso determinar soluções diferentes, em face do regime da aplicação no tempo da lei processual, em matéria executiva.»

1.1. Na base da referida informação e na qual foi proposta a apreciação por parte deste Conselho, esteve consulta formulada pelo Senhor Conservador “do” Balcão da Casa Pronta do …, especificamente em relação a situação em que havia sido instaurado processo especial de inventário antes da entrada em vigor do atual Código de Processo Civil (CPCn), aprovado pela Lei nº 41/2013, de 26 de julho e se pretende proceder à venda por negociação particular em procedimento de “Casa Pronta”.

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 16/ CC /2017

N/Referência: Pº C.P.3/2017 STJ-CC Data de homologação: 28-04-2017 Consulente: Casa Pronta – Balcão …...

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Assunto: Venda em processo de inventário ou em processo de divisão de coisa comum - (In)aplicabilidade do disposto nos artigos 824º do Código Civil, 827º/ 2 do Código de Processo Civil e 101º/5 do Código do Registo Predial.

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O consulente começa por fazer referência ao disposto no artigo 463º/ 1 e 2 do CPCv e no artigo 549/2 do CPCn, para de seguida defender que é aplicável o disposto art. 827º/2 CPCn (ex vi o disposto no art. 811º/2 do mesmo Código), dado o disposto no art. 6º/1 da mencionada Lei (estabelece que «O disposto no Código de Processo Civil, aprovado em anexo à presente lei, aplica-se com as necessárias adaptações, a todas as execuções pendentes à data da sua entrada em vigor»), concluindo que «uma vez que se mostram

acautelados os interesses dos credores titulares dos direitos reais de garantia, que em virtude de serem citados, ou espontaneamente, têm a possibilidade de ir ao processo para fazerem valer os seus direitos sobre os bens e assim concorrer à distribuição do produto da venda, julgamos que terá aplicação o disposto no citado artigo 824º/2 do Código Civil, concluindo pela possibilidade de se efetuar o cancelamento dos ónus conforme pretendido, nos termos do aludido artigo 101º/5 do CRP.».

Apreciação

1. O regime do inventário constava, no CPCv, do CAPÍTULO XVI (artigos 1326º a 1406º) do TÍTULO IV, relativo aos Processos Especiais.

A partir de 2 de setembro de 2013, o processo de inventário passou a constar da Lei nº 23/20131, de 5 de março, que procedeu à revogação dos artigos (os ainda em vigor) constantes do referido CAPÍTULO.

O CPCn foi aprovado pela Lei nº 41/2013, de 26 de julho e entrou em vigor no dia 1 de setembro de 2013.

1.1. No CPCv a venda estava prevista no art. 1357º, para as dívidas vencidas e aprovadas por todos os interessados, ou para aquelas cuja existência fosse verificada pelo juiz, sujeitas a pagamento imediato se o credor o exigisse (nºs 1 e 4) nos seguintes termos: «2- Não havendo na herança dinheiro suficiente e não

acordando os interessados noutra forma de pagamento imediato, procede-se à venda de bens para esse efeito, designando o juiz os que hão de ser vendidos, quando não haja acordo a tal respeito entre os interessados».

O nº3 da mesma norma previa que «Se o credor quiser receber em pagamento os bens indicados

para a venda, ser-lhe-ão adjudicados pelo preço que se ajustar».

Na falta de disposição relativa às modalidades da venda, às citações, à verificação e graduação de créditos, era aplicável o regime previsto para o processo de execução2, ao abrigo do disposto no art. 463º/3 para

1 Antes desta Lei, o regime do processo de inventário chegou a constar da Lei nº 29/2009, de 29 de junho que, quanto a tal regime e na sequência de vicissitudes várias (a última das quais foi a falta de publicação da Portaria regulamentadora prevista na Lei nº 44/2010, de 3 de setembro) nunca chegou a entrar em vigor.

2 Cfr. , sobre o ponto e reportando-se à redação do art. 463º anterior ao D.L. nº 38/2003, de 8 de março ( em que este regime constava do nº 2 da mesma norma), J.A. Lopes Cardoso, in Partilhas Judiciais, Vol. II, 4ª ed., pág. 163.

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a venda em processo de declaração3, que determinava que «3- Quando haja lugar a venda de bens, esta é feita pelas formas estabelecidas para o processo de execução e precedida das citações ordenadas no artigo 864º, observando-se quanto à reclamação e verificação dos créditos as disposições dos artigos 865º e seguintes, com as necessárias adaptações».

1.2. O regime constante do mencionado art. 1357º do CPCv transitou para o artigo 41º da dita Lei nº 23/2013, com a diferença de que onde se fazia referência ao Juiz, agora se faz ao Notário.

Também o atual regime do processo de inventário é omisso quanto às modalidades da venda, às citações e à verificação e graduação de créditos, pelo que, ex vi o disposto no seu art. 82º, se impõe aplicar subsidiariamente o regime do processo de execução4, com as devidas adaptações, com o âmbito constante art. 549º do CPCn que, mutatis mutandis5, corresponde aos nºs 1 e 2 do mencionado artigo 463º do CPCv.

2. Quanto ao processo especial de divisão de coisa comum (artigos 925º a 930º do CPCn, que correspondem aos artigos 1052º a 1057º do CPCv), também nada está especialmente previsto quanto à(s) modalidade(s) da venda, quanto à citação dos credores e quanto à reclamação e verificação de créditos, limitando-se o artigo 929º/2 a determinar que «Sendo a coisa indivisível, a conferência tem em vista o acordo

dos interessados na respetiva adjudicação a algum ou a alguns deles, preenchendo-se em dinheiro as quotas dos restantes. Na falta de acordo sobre a adjudicação, é a coisa vendida, podendo os consortes concorrer à venda».

3 Quanto à natureza do processo de inventário, o A. referido na nota anterior, agora na pág. 43 do Vol.I - manifestando discordância com quem, com fundamento de que o inventário era mais uma forma executiva processual do que declarativa, defendia que a localização sistemática mais adequada seria no processo executivo ou, ao menos, no Capítulo XV, que regula um conjunto de processos que têm por fim a liquidação de patrimónios - defende que:

«O processo de Inventário, pela sua complexidade, participa das duas formas processuais; grande número das

suas disposições pertence ao direito substantivo e outras ao direito adjetivo.

Nele coexistem a fase declarativa e a fase executiva, mas aquela prevalece sobre esta. Antes de se fazer a distribuição dos bens pelos interessados há de proceder-se à declaração do respetivo direito e as questões que lhe são inerentes consideram-se próprias do processo de declaração».

4 No mesmo sentido, referindo-se às modalidades da venda, cfr. Tomé d’Almeida Ramião, in O Novo Regime do Processo de Inventário, 2ª ed., 2015, pág. 123 e, referindo-se às modalidades da venda e às citações, Domingos Silva Carvalho de Sá, in Do Inventário - Descrever, Avaliar e Partir, 2014.

5 Quanto ao nº 1: existindo atualmente uma forma única de processo comum, é para este que é feita a remissão, ao contrário do que anteriormente acontecia, pois que, existindo três formas de processo comum – ordinário, sumário e sumaríssimo -, a remissão era feita para o estabelecido para o processo ordinário.

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3. Vejamos então a redação da disposição legal que atualmente remete para o regime do processo executivo:

«Artigo 549º

Disposições reguladoras do processo especial

1 - Os processos especiais regulam-se pelas disposições que lhes são próprias e pelas disposições gerais e comuns; em tudo o que não estiver prevenido numas e noutras, observa-se o que se acha estabelecido para o processo comum.

2 – Quando haja lugar a venda de bens, esta é feita pelas formas estabelecidas para o processo de execução e precedida das citações ordenadas no artigo 786, observando-se quanto à reclamação e verificação dos créditos as disposições dos artigos 788º e seguintes, com as necessárias adaptações, incumbindo ao oficial de justiça a prática dos atos que, no âmbito do processo executivo, são da competência do agente de execução.»

3.1. De entre as normas para que é feita remissão, temos:

 As modalidades da venda executiva estão previstas no art.811º/1, nas quais se inclui a negociação particular a que o consulente se refere;

 Aos credores a serem citados antes da venda se refere o artigo 786º/1/b): «Os credores que

sejam titulares de direito real de garantia, registado ou conhecido, sobre os bens penhorados, incluindo penhor cuja constituição conste do registo informático das execuções, para reclamarem o pagamento dos seus créditos».

 O artigo 788º/1 determina que «Só o credor que goze de garantia real sobre os bens

penhorados pode reclamar, pelo produto destes, o pagamento dos respetivos créditos».

4. Claramente que a natureza executiva da venda é a que resulta conferida pela mencionada remissão para o regime da venda em processo executivo.

Como refere José Lebre de Freitas6, «Quando haja lugar à venda de bens, recorre-se ao disposto para ação executiva com processo ordinário, visto se tratar de diligência de natureza executiva que não tem lugar no processo ordinário de declaração».

Resta apurar se, da circunstância de não nos encontrarmos perante vendas em processos executivos propriamente ditos – nem as partes no processo de divisão de coisa comum, nem a herança, têm nas respetivas ações a qualidade de executados; os bens vendidos não são previamente apreendidos pela penhora - deve

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retirar-se a ausência de produção do efeito substantivo da caducidade dos direitos reais de garantia previsto no art. 824º/2 do Código Civil, em que assenta o regime de cancelamento oficioso dos respetivos registos (artigos 811º/2 e 827º/2º do CPCn e artigo 101º/5 do CRP).

Desconhecemos jurisprudência7 ou doutrina que sobre o ponto tenham tomado posição.

4.1. Parece-nos que se lei se limitasse a remeter exclusivamente para as formas de venda executiva, ou seja, não incluísse a remissão expressa para as normas relativas às citações e às reclamação e verificação de créditos, nessa hipótese sim, seria complicada a tarefa interpretativa que visasse a atribuição do referido efeito de caducidade dos direitos reais de garantia e, consequentemente, à aplicação do disposto nos ditos artigos 811º/2 e 827º/2.

Dados os termos em que se mostra feita a remissão, parece-nos que se pode, logo neste plano, dar por abrangidas pela mesma as disposições incluídas no regime das diversas modalidades de venda, concretamente as que se referem ao cancelamento oficioso dos registos que tenham caducado nos termos do nº2 do art. 824º do CC, ou seja, o previsto no referido art. 827º/ 2 para a venda mediante propostas em carta fechada, mas aplicável a todas as modalidades de venda por força do disposto no referido art. 811º/2.

4.2. Já noutro plano, parece-nos que, visto assim o âmbito da remissão, o mesmo se manifesta conforme à função da ação executiva propriamente dita8:

7 Com exceção da decisão de um tribunal de 1ª instância de que tomámos conhecimento no processo mencionado quer pelo consulente quer na mencionada informação STJSR [Pº R.P.126/2012 SJC-CT [in www.irn.mj.pt (Doutrina)]. Tratava-se de venda em ação de divisão de coisa comum e foi decidido ordenar o cancelamento de uma inscrição com fundamento no art. 824º do CC.

8 Nos pontos sumariamente elencados a seguir seguimos de perto, transcrevendo alguns trechos e adaptando outros à

presente situação, a caracterização da função da ação executiva feita por José Lebre de Freitas, in A Ação Executiva à Luz do Código de Processo Civil de 2013, 6ª ed., pag.s 14 a 20.

Quanto à relação das normas substantivas e processuais, especificamente no contexto da previsão do dito artigo 824º do CC, vamos mesmo citar o A. anteriormente indicado , a pág. 21 da mesma obra:

«Instrumental como qualquer outro, o processo executivo visa um resultado de direito substantivo: a satisfação do direito

do exequente. Como, fora dos casos de execução específica direta, tal implica a apreensão, normalmente seguida de venda, de bens do

património do devedor, os efeitos de natureza real destes atos executivos e a necessidade de os articular com eventuais direitos de terceiros sobre os bens apreendidos importa o estabelecimento de normas que são também de direito substantivo. As disposições dos artigos 819º a 826º do Código Civil vêm responder a esta necessidade»

Quanto à natureza da venda executiva, voltamos a citar o mesmo A., agora a pág.s 400º e 401º: «É discutido se a venda executiva é uma ato de direito privado ou de direito público.

A questão põe-se, não só pela intervenção que o tribunal tem na venda executiva, para a qual não conta, ou só conta em pequena medida, a vontade do proprietário do prédio vendido, mas também considerando particularidades do seu regime que a afastam do regime da compra e venda comum. Designadamente, a regra de caducidade do art. 824-2 CC tem como consequência a aquisição pelo comprador de mais do que aquilo que o proprietário lhe poderia transmitir, a anulação do ato tem um regime distinto do de direito civil e distintos são também o regime do pagamento do preço e as sanções decorrentes, nos termos do art.. 825, da sua inobservância.

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- Existe o dever de realização de uma prestação pelas partes na ação de divisão de coisa comum e pela herança;

- Está pressuposto que não exista dúvida sobre a existência e a configuração do direito dos credores; - Os credores podem obter resultado idêntico ao da realização da própria prestação que, segundo o título executivo, lhes é devida, neste caso por meio indireto (venda e subsequente pagamento, neste caso sem prévia apreensão);

- Existe adequação entre o tipo de execução (execução para pagamento de quanto certa, em que se inserem as nomas para que é feita a remissão) e a obrigação pecuniária em causa;

- A satisfação dos credores é conseguida mediante a substituição do tribunal ao devedor.

5. Parece-nos que o que ficou dito nos habilita a concluir, em tese e em resposta à primeira questão supra enunciada com referência aos direitos reais de garantia, que, quanto ao regime dos efeitos, se aplica à venda em processo de inventário e à venda em processo de divisão de coisa comum o regime previsto para a venda em processo de execução, independentemente da forma de venda utilizada, pelo que é de considerar aplicável o disposto no artigo 824º do CC , no artigo 827º/2 do CPCn e no art. 101º/5 do CRP.

6.Quanto à dúvida manifestada pelo consulente em relação à oficiosidade do cancelamento em caso de venda por negociação particular efetuada já na vigência do CPCn - que estabelece essa oficiosidade para todas as modalidades de venda (art.s 811º/2 e 827º/2) - mas em que o processo de inventário tenha sido instaurado ainda na vigência do CPCv, impõe-se referir que, com as alterações introduzidas pelo D.L. n.º 116/2008, de 4/7, o CPCv deixou de excluir a venda por negociação particular do regime do cancelamento oficioso.

Com o que julgamos ter respondido às questões colocadas.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 27 de abril de 2017.

Luís Manuel Nunes Martins, relator, Blandina Maria da Silva Soares, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, António Manuel Fernandes Lopes.

Referências

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