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DIREITOS DA PERSONALIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

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DIREITOS DA PERSONALIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

DA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO: UMA VISÃO PROTECIONISTA

Felipe Guerra Domingos dos Santos Aluno de graduação em Direito da UFRN, Natal-RN.

e-mail: fguerrads@gmail.com Felipe Siqueira de Gouveia Aluno de graduação em Direito da UFRN, Natal-RN.

e-mail: felipe_ufrn_@hotmail.com José Marcos Falcão de Melo Aluno de graduação em Direito da UFRN, Natal-RN.

e-mail: marinheirofalcao@hotmail.com Moisés Weltman Anselmo de Abreu Filho Aluno de graduação em Direito da UFRN, Natal-RN.

e-mail: mwfilho@gmail.com Victor Miguel Barros de Carvalho Aluno de graduação em Direito da UFRN, Natal-RN.

e-mail: vicmig@hotmail.com

O trabalho apresenta um novo meio de tutela do instituto da obrigação alimentar, objetivando uma maior efetividade na proteção dos interesses dos beneficiários de alimentos. Trata do direito à alimentos e sua fundamentação jurídica, tendo como principal fundamento a dignidade da pessoa humana e direito à vida, bem como suas características e pressupostos legais. Aborda como se da à execução da pensão alimentícia atualmente, analisando cada espécie, por desconto em folha, expropriação e prisão civil do inadimplente. Examina o papel dos cadastros de proteção ao crédito no sistema consumerista e sua finalidade protetiva, o qual se provou uma ferramenta eficaz na coerção ao pagamento de dívidas. Apresenta a tese da pesquisa, a possibilidade da inscrição do nome do devedor de alimentos no cadastro de proteção ao crédito, tendo em vista a natureza protecionista dos alimentos, ampliando o rol de técnicas executivas na satisfação da obrigação alimentar. Faz considerações acerca do projeto de lei nº 7.841/10, que regulamenta o protesto extrajudicial de dívidas alimentares, que possibilitaria legal e expressamente a aplicação da hipótese em tela. Discorre sobre o posicionamento da jurisprudência sobre o tema, e aponta os argumentos das duas correntes. Conclui que é juridicamente possível a inscrição do nome do devedor de alimentos no cadastro de proteção ao crédito, mostrando-se um meio efetivo na proteção da criança ou ex-companheiro no âmbito das relações de prestação de alimentos.

Palavras-chave: Alimentos. Inclusão dos devedores. Cadastro de Proteção ao Crédito.

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1. INTRODUÇÃO

O novo paradigma estabelecido com o Neoconstitucionalismo foi o da máxima proteção à Dignidade da Pessoa Humana, reflexo de diversas conquistas históricas de direitos individuais e sociais, que resultou em inúmeros tratados internacionais e constituições sociais, no Brasil a Carta Magna de 1988. O direito à alimentos é nada mais que a concretização da proteção à vida, o que levou a possibilidade da prisão civil do devedor de alimentos como meio de efetivar a tutela dos interesses do vulnerável. Dito isto, o presente trabalho busca um novo meio de perfectibilizar esse direito, através da possibilidade de inscrever o nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito. A busca dessa alternativa se deve a dois principais motivos, como dito, a máxima garantia da dignidade dos que necessitam da pensão alimentar, bem como um menor constrangimento ao alimentante, através de outro mecanismo coercitivo, o qual não seja a privação da liberdade, mas de similar efetividade.

2. DO DIREITO À ALIMENTOS

Na lição de Maria Berenice Dias (2010), o direito à alimentos surge do primeiro direito fundamental do ser humano - o direito à vida - e do dever do Estado e da família em protegê-lo. Baseado no princípio da dignidade humana, sustenta-se constitucionalmente pelo Texto Maior de 1988, que assegura a inviolabilidade do direito à vida e à integridade física. É inserido, portanto, no rol constitucional de direitos sociais. Há, segundo a civilista, a transformação dos vínculos afetivos em encargo de garantia de subsistência, sendo esta obrigação prevista e regulada por lei.

Sua natureza jurídica advém das origens da obrigação (ibid., 2010), derivando do poder familiar. Tem a natureza de uma obrigação alimentar.

Maria Berenice Dias ensina que alimento não significa somente aquilo que assegura a vida (ibid., 2010). A Constituição Cidadã explicita como direitos da criança e do adolescente a vida, a saúde, alimentação, educação e lazer; a interpretação dos alimentos, assim, estende-se para englobar tais direitos. Para Paulo Lôbo (2011), alimentos podem ser conceituados como valores, bens ou

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serviços que se destinam às necessidades mínimas do alimentando, que derivam de relações parentais, quando este não puder se sustentar com suas próprias capacidades (ibid., 2011).

Segundo este autor, também são os que decorrem dos deveres de assistência, em razão de ruptura de relações matrimoniais ou de união estável, ou dos deveres de amparo para os idosos (ibid., 2011). Pode se dar através de dinheiro (a chamada pensão alimentícia), ou in natura, como a entrega de imóvel para moradia e de coisas para consumo humano. O adimplemento da obrigação pode ser direto (quantia em dinheiro) ou indireto, pelo pagamento de mensalidades escolares, planos de saúde, entre outras obrigações (ibid., 2011).

2.1 Características da obrigação alimentar

Ensina Maria Berenice Dias que os alimentos, no âmbito do direito das famílias, comportam várias classificações (2010). Explica que, por haver interesse geral no adimplemento desta obrigação, as normas que a regulam são cogentes de ordem pública - não podem ser modificadas ou derrogadas pela vontade dos particulares envolvidos.

Portanto, uma de suas características é sua irrenunciabilidade. Tal está positivada no Código Civil de 2002, bem como tem posicionamento sumulado do STF. É um direito personalíssimo e inalienável. A solidariedade (respondendo vários obrigados) e a reciprocidade (múto dever de assistência) surgem também positivadas no ordenamento jurídico pátrio.

Maria Berenice Dias fala ainda em irrepetibilidade (alimentos não são passíveis de devolução), periodicidade (estendem-se no tempo enquanto necessários forem), anterioridade (devem ser cumpridos antes do vencimento estipulado), alternatividade (podendo ser em pecúnia ou in natura) e transmissibilidade (passam aos herdeiros do de cujus). No mesmo sentido, Paulo Lôbo (2011) explica que a obrigação a alimentos funda-se no princípio da solidariedade. O direito empresta-lhe tanta força, ensina, que seu descumprimento enseja inclusive a prisão civil.

O civilista elenca como característica dos alimentos a sua natureza personalíssima (não pode ser objeto de cessão entre vivos ou de sucessão

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hereditária). Continua elencando ainda sua indisponibilidade, irrenunciabilidade, incompensabilidade, irrepetibilidade e impenhorabilidade (ibid., 2011).

2.2 Pressupostos da obrigação alimentar

No ensinamento de Paulo Lôbo, três são os pressupostos para a obrigação alimentar. Tradicionalmente, surge o binômio necessidade/possibilidade: a comprovação da necessidade de quem o reclama (não basta ser titular do direito) bem como a possibilidade do demandado em provê-los (ibid., 2011).

A necessidade é demonstrada pela incapacidade ou dificuldade de o alimentando em conseguir recursos mínimos para sua subsistência, seja por inexistência de patrimônio, por falta de fonte de renda ou por incapacidade de exercer atividade remunerada. Independe de prova quando se tratar de filhos e outros parentes menores de idade, casos em que é legalmente presumida (ibid., 2011).

De maneira similar, continua o civilista, a possibilidade do demandado de arcar com os alimentos deve ser constatada em seus rendimentos reais (ibid., 2011), ao mesmo passo que não comprometa as condições de seu próprio sustento.

O terceiro requisito, advindo da doutrina e de decisões de vários tribunais, é o da razoabilidade. Caberia ao juiz não apenas verificar se há efetiva necessidade do demandante, mas a possibilidade real do devedor de arcar com o solicitado e se o montante exigido é razoável - que abarque o necessário à vida digna e não inclua gastos extravagantes.

2.3. Execução de pensão alimentícia

Consoante o supraexposto, os alimentos entende-se por todas as necessidades básicas (necessarium personae) e vitais do ser humano (necessarium vitae), pelas quais o alimentante tem o dever de prestação ao credor que não pode custeá-las. Tal prestação pode ser devida por força de lei, de convenção, ou por força de um ato ilícito.

Destarte, como forma de preservar a sobrevivência digna do necessitado, o direito brasileiro adotou uma modalidade de execução especial por quantia certa contra devedor solvente nos casos de execução por alimentos. Assim, são previstos

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três meios distintos de execução da prestação alimentícia pelo Código de Processo Civil: o desconto em folha; a expropriação; e a prisão civil, como forma de coerção indireta.

Ademais, foi estabelecido pela Lei Federal n. 5.478/1968 uma ordem de preferência entre esses meios executivos, de modo que deve-se buscar, preferencialmente, a execução de alimentos por desconto em folha ou rendas auferidas pelo devedor, porém, se infrutíferas as tentativas pelo judiciário, proceder- se-á a expropriação de bens deste e, se ainda assim, não for possível obter a satisfação do crédito, poderá ser determinada a prisão civil como medida coercitiva ao cumprimento da obrigação (DIDIER JR., 2014, p. 699-700).

No contexto da execução de alimentos, uma matéria controvertida pela doutrina é acerca do uso do procedimento especial de execução para os alimentos constantes de títulos extrajudiciais. Parte da doutrina defende que a execução de alimentos por título extrajudicial deve obedecer ao rito padrão, cabendo a cominação da prisão civil apenas às execuções de alimentos reconhecidos por título judicial.

Todavia, esse entendimento não é unânime na doutrina e na jurisprudência, para Fredie Didier Jr: “Não se afigura razoável a tese. Não há nada de legal ou racional que aponte nesse sentido. A execução especial de alimentos ora analisada, e todos os seus meios executivos, servem aos títulos judiciais e extrajudiciais”. Nesse sentido, a 4ª Turma do STJ, julgando o REsp n. 1.285.254, no ano de 2012, também entendeu por ser cabível a prisão civil como medida de coerção à execução do devedor de alimentos por títulos extrajudiciais.

2.3.1 Execução por Desconto em Folha

Previsto no art. 734 do CPC, o desconto em folha em razão de sua providência simples e eficaz, é o meio preferencial de execução de alimentos, afastada a eficácia de sua aplicação quando o devedor não tiver emprego fixo ou se encontrar desempregado.

Em vias processuais, o alimentando deve, no seu requerimento inicial, já indicar a fonte pagadora a que se destina a ordem do desconto em folha.

2.3.2 Execução por Expropriação

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Embora o art. 732 do CPC não tenha sido contemplado pela reforma processual da Lei 11.232/05, a doutrina majoritária entende que na execução de quantia certa de alimentos, fixados em decisão judicial, são aplicáveis as regras relativas ao cumprimento de sentença, constantes no art. 475-J do CPC, as quais determinam que o pagamento deve ser voluntário, após o trânsito em julgado da condenação, e, dentro do prazo de 15 dias, sob pena de acrescer multa de 10% e penhora. Já em se tratando de execução de título extrajudicial, aplica-se ainda o rito padrão, previsto a partir do art. 652 do CPC.

De todo modo, segundo Fredie Didier Jr. (2014, p. 708) o meio de expropriação de bens só é aconselhável em caso de flagrante liquidez do executado ou de seu garante.

2.3.3 Prisão Civil do devedor de alimentos

Ab initio, cumpre esclarecer que a prisão civil não é um meio de execução ou punição, mas sim uma coerção indireta destinada a forçar o cumprimento da obrigação por parte do devedor, “de maneira que não impede a penhora de bens do devedor e do prosseguimento dos atos executivos propriamente ditos” (THEODORO JR., 2014, p. 893).

Segundo o art. 733 do CPC, o devedor será citado para, no prazo de três dias, efetuar o pagamento, provar que já pagou, ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Isto posto, se o devedor não pagar, ou deixar de justificar se não o fez, o juiz decretar-lhe-á a prisão.

Todavia, se, no curso da prisão, a dívida vier a ser paga, não mais subsistirá a ordem de prisão, devendo o devedor ser solto.

Além disso, faz-se mister esclarecer que, consoante entendimento do STJ na Súmula n. 309, apenas é possível de ser decretada a prisão civil se não forem pagas as três últimas prestações anteriores ao ajuizamento da execução ou qualquer outra que se vencer a partir do ajuizamento desta. De modo que não é cabível de prisão civil relativo a prestações anteriores às três ultimas que antecederam o ajuizamento da execução. “É que o devedor não pode prejudicar-se pela demora do credor em executar” (DIDIER JR., 2014, p. 705).

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3. CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO

O Código de Defesa do Consumidor estabelece a previsão de bancos de dados e cadastros de consumidores. Assim, todo e qualquer mecanismo de informações sobre o consumidor deve se submeter às regras do dispositivo consumerista (JÚNIOR; MATOS, 2009, p. 194). Tais mecanismos têm por finalidade resguardar os interesses de fornecedores quanto à concessão de crédito, servindo como efetivo amparo no momento de transações comerciais nas quais as empresas buscam informações sólidas que lhes traduzam segurança quanto ao adimplemento das obrigações, bem como acessar o histórico de pessoas a fim de consolidar a futura relação comercial.

As duas maiores empresas brasileiras voltadas à prestação de serviços de informação e proteção ao crédito são o SPC Brasil1 e o SERASA Experian2. Pela dicção do art. 43, §4º, da Lei 8.078, Código de Defesa do Consumidor, estas empresas são consideradas entidades de caráter público, cuja função precípua é a proteção do mercado de consumo, facilitando as operações contratuais entre fornecedores e consumidores (2ª TACSP, AgI 732.307-00/4, j. 12-3-2002, 5ª Câm., rel. Juiz S. Oscar Feltrin).

Se, por um lado, os fornecedores de produtos e serviços devem seguir as determinações normativas impostas pelo Código de Consumidor, os consumidores têm o dever de adimplir com as obrigações contratadas. Contudo, pesquisa divulgada pelo SPC Brasil, em 2014 o número de brasileiros inadimplentes ultrapassou a cifra de 52 milhões de pessoas. Esse é um problema sério que afeta a economia e diversos setores do mercado. Assim, o papel dos bancos de dados e cadastros de consumidores inadimplentes cumpre papel de destaque na condução e orientação de fornecimento de créditos, produtos e serviços, visando resguardar, além dos empresários, os interesses da sociedade em geral.

4. DA POSSIBILIDADE DA INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR DE ALIMENTOS NO CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.

A alta inadimplência dos créditos alimentares, bem como a mora processual, o alto custo de uma demanda judicial e a ineficácia dos meios de execução, tem feito com que diversos tribunais adotem a inscrição do nome do devedor de

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alimentos em cadastro restritivo de crédito como forma de coagi-lo ao pagamento voluntário da obrigação.

A expropriação de bens, o desconto em folha de pagamento e a coação pessoal, institutos previstos no Código Civil e na Lei 5478/68, não se mostram capazes de alcançar de modo eficiente e eficaz a sua finalidade, haja vista que, muitas vezes, o devedor de alimentos não possui vínculo formal de trabalho, está foragido ou teve seu prazo de prisão expirado.

Com o objetivo de dar maior efetividade à execução do devedor alimentos, os julgadores têm firmado entendimento no sentido de ser possível a negativação do executado, o que resulta em uma série de restrições que promovem mais rapidamente a satisfação do direito credor.

Embora ainda não haja previsão legal que regulamente o tema – apesar de tramitarem no Senado e na Câmara dos Deputados diversos projetos de lei, a exemplo do 7.841/10 –, não há óbice na lei para sua utilização, já que o magistrado deve se valer de mecanismos que promovam a integração da norma, como analogia, costumes, e princípios gerais do direito.

Ademais, ainda que se alegue violação à direitos do executado (direito à intimidade, por exemplo), o que se propõe através da negativação é o incremento dos meios de execução, de maneira a possibilitar a satisfação mais célere e menos penosa da pretensão do credor de alimentos, em consonância a princípios constitucionais basilares, como da dignidade da pessoa humana e da sobrevivência do indivíduo.

4.1. Projeto de Lei nº 7.841/10

O Projeto de Lei nº 7.841/10, de autoria do Deputado Federal Sérgio Barradas Carneiro, surge com o intuito de regulamentar o protesto extrajudicial de dívidas alimentares, o que implica na possibilidade de inclusão do devedor de alimentos em cadastro restritivo de crédito.

O advento do referido Projeto de Lei foi impulsionado pela inclusão dos alimentos no rol dos direitos sociais, por meio da Emenda Constitucional nº 64 de fevereiro de 2010, instituto este fundamental para a manutenção da vida e afirmação do princípio basilar da dignidade da pessoa humana.

Diante das crescentes ações judiciais que têm por objeto dívidas alimentares, o Projeto de Lei 7.841/10 busca ampliar as formas de execução do devedor de

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alimentos, que até então só era possível por meio da penhora, o desconto em folha de pagamento, ou, em último caso, a prisão civil. Sendo essas medidas demasiadamente morosas, desgastantes e, por vezes, ineficazes, a inclusão do nome do devedor de alimentos nos Cadastros de Proteção ao Crédito, por meio do protesto de título extrajudicial em cartório, torna-se um meio mais célere e efetivo à satisfação da pretensão do credor, já que a negativação do executado causa transtornos, muitas vezes, superiores à própria prisão. Ademais, não se trata de dupla punição, mas sim de mais uma alternativa à execução, capaz de compelir o adimplemento voluntário da obrigação.

O projeto é composto por seis artigos, sendo o último relativo a vacatio legis.

Em seu artigo 2º, determina que as dívidas alimentares decorrem de “relação de parentesco, de vínculo familiar ou da prática de ato ilícito” e só poderão ser levadas a protesto se houver uma decisão judicial irrecorrível, sentença transitada em julgado, e inércia do devedor depois de transcorrido o prazo para pagamento espontâneo.

Por sua vez, rege que compete ao credor requerer a emissão de certidão judicial de existência da dívida, devendo levá-la a protesto no Tabelionato de Protesto de Títulos. A certidão, depois de requerida, deverá ser fornecida num prazo de três dias, e conter “o nome e qualificação do credor e do devedor, o número do processo judicial, o valor líquido e certo da dívida, e a data do recurso do prazo para recurso, em se tratando de decisão interlocutória, ou do trânsito em julgado da sentença” (§ 2º).

A exigibilidade das custas e emolumentos fica suspensa enquanto o devedor litigar sob o benefício da assistência judiciária (art.3º). No caso do devedor propor ação rescisória da decisão que proferiu a obrigação alimentar, poderá requerer, as suas expensas e responsabilidade, anotação à margem do título protestado sobre a existência daquela (art. 4º).

Somente com a prova da quitação integral da obrigação alimentar, expedida pela autoridade judiciária, poderá ser solicitado o cancelamento do protesto, que deverá ocorrer também num prazo de três dias do requerimento (art. 5º, caput, e parágrafo único).

O texto original, que ensejava a criação de uma nova lei para tratar do protesto de título do devedor de alimentos, foi modificada pelo relator Carlos

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Bezerra, através de substitutivo, que optou por acrescentar o art. 6.º-A à Lei n.º 9.492, de 10 de setembro de 1997 já existente.

Atualmente o PL encontra-se arquivado, nos termos 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

4.2. Tratamento Jurisprudencial do tema

Os Tribunais pátrios vêm enfrentando o tema da inscrição do devedor de alimentos nos bancos de dados e cadastros de proteção ao crédito de maneira divergente. É possível encontrar decisões em ambos os sentidos, ora admitindo a inscrição, ora rechaçando tal possibilidade. Os argumentos apresentados são das mais variadas naturezas.

Assim, conforme Ementa a seguir, para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a inscrição do devedor de alimentos em órgãos de proteção ao crédito não é possível tendo em vista a falta de previsão legal:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.

INCLUSÃO DO NOME DO DEVEDOR. IMPOSSIBILIDADE.

DECISÃO MANTIDA.

1. A inscrição do nome do devedor de alimentos no cadastro dos órgãos de proteção ao crédito não encontra amparo nos dispositivos do código de processo civil referentes à execução de alimentos, quais sejam os arts. 732 e 733 do referido estatuto.

2. Não poderão ser adotadas medidas diversas das que a lei prevê para coagir o devedor de alimentos a adimplir a obrigação que lhe é devida.

3. Recurso desprovido (3ª Turma Cível, AgI 2013.002.015.845-0, DJE 07/11/2013, rel. Des. Mário-Zam Belmiro).

Apesar das divergências, alguns tribunais passaram a entender possível a inscrição do devedor de alimentos nos órgãos de proteção ao crédito mediante o preenchimento de alguns requisitos (inadimplemento voluntário e inescusável, protesto de sentença transitada em julgado, relativização do segredo de justiça).

Neste sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE FAMÍLIA. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO E INESCUSÁVEL DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. PROTESTO DE TÍTULO JUDICIAL. POSSIBILIDADE. INSCRIÇÃO DO NOME DO

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DEVEDOR NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES. SPC E SERASA. CONSEQUÊNCIA. DADOS CONSTANTES DAS CENTRAIS DE PROTESTO QUE SÃO COLETADOS PELOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À CLÁUSULA DE SEGREDO DE JUSTIÇA (CF, ART. 93, IX). IMPOSSIBILIDADE DE SE CONFERIR PRIMAZIA À INTIMIDADE DO DEVEDOR DE ALIMENTOS EM DETRIMENTO DA SOBREVIVÊNCIA DAQUELE QUE ANSEIA PELO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.

1. Não é possível que o Judiciário determine, por ofício dirigido diretamente aos órgãos de proteção ao crédito, a inclusão do nome dos devedores de pensão alimentícia no rol dos maus pagadores, pois apesar do caráter público dessas entidades (CDC, art. 43, § 3º), o exercício dessas atividades é regido pela iniciativa privada - o que careceria da devida fonte de custeio.

2. É possível, contudo, que o nome do devedor de pensão alimentícia seja incluído nos cadastros de inadimplentes, caso o credor de alimentos efetue o protesto da dívida alimentar, o que se coaduna com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual é admissível o protesto de sentença transitada em julgado (REsp 750.805-RS).

3. Não viola a cláusula de segredo de justiça admitir o protesto da dívida alimentar. Se o sigilo do processo pode ser afastado em prol do “interesse público a informação” (CF, art. 93, IX), certamente pode ser relativizado quando, em respeito ao princípio da razoabilidade, estiver em risco a garantia do pagamento de uma dívida alimentar, pois em nome desse interesse a Constituição restringe até mesmo a mais cara das liberdades, que é o direito de ir e vir (CF, art. 5º, LXVII).

(12ª Câmara Cível, AgI AI 00190600320138190000 RJ 0019060- 03.2013.8.19.0000, DJE 03/04/2014, Des. MARIO GUIMARAES NETO). (Sem grifos no original).

Dessa forma, com um juízo constitucional e protecionista, acertadamente a decisão reconheceu a possibilidade de inscrever o nome de devedores de alimentos junto aos órgãos de proteção ao crédito, mormente no SERASA e SPC. Para chegar a esse posicionamento, o Tribunal sopesou o conflito entre dois princípios constitucionais: segredo de justiça do devedor e dignidade humana do alimentando.

A conclusão primou pela proteção da dignidade do credor de alimentos, colocando em segurança, a outro turno, também a intimidade do devedor.

5. Conclusão

Em virtude dos fatos mencionados, defende-se que é possível a inscrição do nome do alimentante inadimplente no cadastro de proteção ao crédito. A constrição patrimonial mostra-se eficaz em todos os âmbitos do direito, não seria diferente na

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execução de alimentos, e não há contradição dessa possibilidade com os direitos do alimentante, visto que a própria prisão civil apresenta-se muito mais invasiva e prejudicial à sua imagem. Não obstante a falta de previsão legal expressa, feita uma interpretação sistêmica dos princípios constitucionais na proteção do alimentado, a fim de garantir o devido desenvolvimento de sua personalidade, mediante ao recebimento efetivo da pensão alimentícia, é perfeitamente possível a aplicação jurisprudencial dessa medida, entretanto, o ideal é o posicionamento legal do legislador, ou ao menos súmula da Corte Suprema, no sentido de pacificar o entendimento dos tribunais e conferir segurança jurídica a todos envolvidos em relação processual de natureza de prestação alimentícia.

REFERÊNCIAS

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7a ed. São Paulo: RT, 2010.

DIDIER JR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 5. Salvador:

Juspodivm, 6ª Ed., 2014

GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil.

Vol. 3. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano; MATOS, Yolanda Alves Pinto Serrano de. Código de Defesa do Consumidor Interpretado. 4. ed. São Paulo: Sarava, 2009.

p. 394.

SPC Brasil. Disponível em: <https://www.spcbrasil.org.br/>. Acesso em 02 de março de 2015.

SERASA EXPERIAN. Disponível em: <http://www.serasaexperian.com.br/>.

Acesso em 02 de março de 2015.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2.

49ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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