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A pobreza no Brasil e as estratégias de superação

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Economia

A POBREZA NO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS DE

SUPERAÇÃO

Autor: Luciano Balbino dos Santos

Orientador: Dr. Rogério Boueri Miranda

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AUTOR: LUCIANO BALBINO DOS SANTOS

A POBREZA NO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu Mestrado em Economia de Empresa da Universidade Católica de Brasília – UCB – como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre em Economia.

Orientador: Dr. Rogério Boueri Miranda Coorientador: Dr. Tito Belchior Silva Moreira

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Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI - UCB SANTOS, Luciano Balbino.

A Pobreza no Brasil e as estratégias de Superação 2012 55 fls.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu Mestrado em Economia de Empresa da Universidade Católica de Brasília 2012

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Dissertação de autoria de Luciano Balbino dos Santos, intitulada “A POBREZA NO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇAO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Economia de Empresa da Universidade Católica de Brasília, no dia 20 de abril de 2012, defendida pelo autor e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada.

... Prof. Dr. Rogério Boueri Miranda

Orientador

Universidade Católica de Brasília

... Prof. Dr. Tito Belchior Silva Moreira

Membro Interno

Universidade Católica de Brasília

... Prof. Dr. Jaimilton Vogado de Carvalho

Membro Externo

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A Deus, pela inspiração e misericórdia.

À minha esposa, Marilene, que sempre me ampara e me fortalece com o seu amor incondicional.

Aos meus pais e sogros: José e Adália, Cícero e Regina (in memoriam), por me terem ensinado a beleza dos valores existentes numa vida simples.

Às minhas filhas, Luiza e Leillane, pela alegria de vê-las escrevendo e reescrevendo suas histórias de vida e de superação com determinação e equilíbrio.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores, professores Regério Boueri e Tito Belchior, pela competência e pelo comprometimento com a qualidade deste trabalho.

À professora Edinea Mascarenhas, por ter-me presenteado com a sua amizade verdadeira.

A professora Osmarina Guimarães, pelas constantes contribuições aos meus trabalhos. Ao meu amigo Carlos Alberto, que vibra com cada vitória minha como se sua fosse. Ao Nordeste, do qual sou filho e um grande admirador – ao tratar do tema da pobreza, revivi um pouco de nossa história!

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Os pobres, quem são?

Os pobres são ninguéns, filhos de ninguém, donos de nada.

Eles não são, embora sejam. Não falam idiomas, falam dialetos. Não praticam religiões, praticam superstições.

Não fazem arte, fazem artesanato. Não são seres humanos, são recursos humanos. Não têm cultura, têm folclore.

Não têm cara, têm braços. Não têm nome, têm número.

Não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Eles custam menos do que a bala que os mata. Seria bem melhor que não existissem. Mas,

nesse caso, de que se sustentaria o capitalismo?

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RESUMO

SANTOS, Luciano Balbino. A pobreza no Brasil e as estratégias de superação. 2012.55 folhas. Dissertação do Curso de Mestrado em Economia de Empresa – Universidade Católica de Brasília, 2012.

O presente trabalho busca investigar a sensibilidade da variável pobreza frente às políticas públicas atualmente adotadas pelo governo brasileiro, destacando três vertentes centrais: a educação superior, o crescimento econômico e o Programa Bolsa Família. Nos últimos anos, o governo brasileiro tem mostrado uma opção por preferencialmente combater a pobreza, por meio de políticas de transferência de renda aos mais pobres. Apesar das fragilidades evidenciadas no Bolsa Família, os resultados sinalizam que o Programa tem apresentado um efeito positivo sobre os índices de pobreza no Brasil e que as estratégias que buscam interromper a reprodução do pauperismo na história do desenvolvimento social brasileiro, tais como o crescimento do PIB, a ampliação do acesso ao ensino superior, a diminuição do desemprego e as políticas de transferência de renda, não podem ser tomadas como contraditórias e excludentes, mas sim como complementares e essenciais, em função da gravidade do problema, que há décadas assola a nossa sociedade.

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ABSTRACT

SANTOS, Luciano Balbino. Poverty in Brazil and coping strategies. 2012. 55 sheets. Dissertation of Master's Degree in Regional Economics – Universidade Católica de Brasília, 2012

This paper investigates the sensitivity of the variable poverty facing the public policies currently adopted by the Brazilian government, focusing on three central aspects: higher education, economic growth and Programa Bolsa Família. In recent years, the Brazilian government has shown a preferred option for fighting poverty through policies to transfer income to the poorest. Despite the weaknesses highlighted in the Bolsa Família, the results indicate that the program has had a positive effect on poverty rates in Brazil and that strategies that seek to stop playback of pauperism in the history of Brazilian social development, such as GDP growth , expanding access to higher education, reduce unemployment and income transfer policies, cannot be taken as contradictory and mutually exclusive but as complementary and essential, depending on the seriousness of the problem that plagues our decades society.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO 1 - CONCEPÇÕES GERAIS SOBRE O FENÔMENO DA POBREZA 13

1.1 A POBREZA E SUAS CONCEITUAÇÕES 13

1.2 POBREZA E DESIGUALDADE: UMA RELAÇÃO DE PROXIMIDADE 16

1.3 A MAGNITUDE DA POBREZA: OS NÚMEROS DA AMÉRICA LATINA 19

1.4 A MAGNITUDE DA POBREZA: OS NÚMEROS DO BRASIL 20

CAPÍTULO 2 - O ENFRENTAMENTO DA POBREZA NO BRASIL: COMO

SUPERAR? 24

2.1 A ESTRATÉGIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO 24

2.2 A ESTRATÉGIA DA TRANSFERÊNCIA DE RENDA 27

2.3 A ESTRATÉGIA DA EDUCAÇÃO 31

CAPÍTULO 3 - DESCRIÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS 36

3.1 A BASE DOS DADOS 36

3.2 SOBRE AS VARIÁVEIS 37

3.3 SOBRE AS HIPÓTESES 38

3.4 O MODELO ECONOMÉTRICO 39

3.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS EMPÍRICOS 40

3.6 CONCLUSÕES PRELIMINARES 41

CONCLUSÕES FINAIS 45

REFERÊNCIAS 49

(11)

INTRODUÇÃO

No Brasil, nos últimos anos, o tema da pobreza tem ganhado espaço tanto no campo político quanto no ambiente acadêmico, sobretudo em razão da permanência de milhões de brasileiros em situação de grave vulnerabilidade social. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o número de famílias com rendimento familiar per capita de até meio salário-mínimo caiu de 32,4% para 22,6% em dez anos. No entanto, em 2008, metade das famílias brasileiras ainda vivia com uma renda per capita de R$ 415,00. Embora tenha havido melhorias, 44,7% das crianças e adolescentes de até 17 anos viviam, em 2008, com uma renda familiar per capita de até meio salário-mínimo, e 18,5%, com apenas um quarto dessa quantia.

As magnitudes desses números evidenciam que as conquistas experimentadas no campo da política e da economia, tais como o crescimento do Produto Interno Bruto, o controle da inflação e os avanços na consolidação da democracia, contabilizadas pelo País nos últimos anos, não foram reproduzidas no campo social. Como destaca Medeiros (2005), uma população de pobres em sua maioria, com uma pequena elite concentrando importante parcela da renda, num país de recursos abundantes, requer soluções estruturais, contínuas e progressivas para a redução da pobreza, alicerçadas em decisões políticas de amplo impacto social.

Em função desses números, não é difícil concluir que as políticas sociais de combate à pobreza adotadas no País têm-se mostrado incapazes de enfrentar o problema e de impedir a sua reprodução. Na visão de Arbache (2003), essas políticas, nas últimas décadas, estiveram mais assentadas no que se entende por políticas compensatórias e assistencialistas do que em políticas sustentáveis. Em face desse quadro, somos instigados a nos perguntar: qual é a estratégia mais eficiente para combater a persistente pobreza que tem marcado a sociedade brasileira ao longo de sua história? Quais são as reais chances de o homem brasileiro ultrapassar as amarras da pobreza e conquistar uma vida de dignidade?

Nessa perspectiva, o presente trabalho, intitulado “A pobreza no Brasil e as estratégias de superação”, tem como objetivo geral analisar a sensibilidade do fenômeno da pobreza

(12)

A discussão em torno da estratégia mais adequada para combater a pobreza e para impedir a sua reprodução não é consensual. Na visão de Ferrani (2007), as políticas compensatórias, como o programa Bolsa Família, não têm efeitos profundos sobre o fenômeno da pobreza, uma vez que assistem o homem pobre na sua necessidade imediata, mas não conseguem emancipá-lo. Logo, a situação de pobreza a que está submetido não será modificada.

Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2006), a atenção dispensada pelo governo federal às políticas de transferências de renda nos últimos anos tem-se constituído numa ação emblemática como política distributiva de combate à pobreza e tem sido extremamente eficaz nos objetivos a que se propôs.

Para Medeiros (2004), por meio da educação, é possível qualificar os trabalhadores e aumentar o rendimento das famílias, mas essa ação não tem implicação sobre os outros atributos dos trabalhadores como a raça a que pertence e a situação discriminatória em que vive. Portanto ampliar o acesso ao ensino superior, por si só, não é garantia de modificação da complexa estrutura da pobreza que aflige milhões de brasileiros.

Na perspectiva de contribuir para esse importante debate nacional, o presente trabalho foi estruturado em três capítulos. No primeiro, discutimos o fenômeno da pobreza de modo geral, refletindo sobre a diversidade de conceitos relacionados ao tema, chamando a atenção para a magnitude da pobreza no mundo, na América Latina e no Brasil.

No segundo capítulo, fazemos referência às estratégias atualmente utilizadas para combater os índices de pobreza no Brasil, destacando três caminhos: o crescimento econômico, o programa Bolsa Família e o acesso à educação superior, uma vez que essas estratégias têm constituído os instrumentos mais defendidos no País, quando se trata de combater a pobreza, distribuir renda e promover a justiça social.

(13)

brasileiro se encontra, não pode ser desconsiderado, quando se pretende levar a efeito uma política efetiva de combate a reprodução da pobreza.

Dessa forma, sem a pretensão de encerar nestas poucas linhas um tema de tamanha relevância para as políticas de desenvolvimento da sociedade brasileira, espera-se que “A pobreza no Brasil e as estratégias de superação possa, de alguma forma, contribuir para a

(14)

CAPÍTULO 1 - CONCEPÇÕES GERAIS SOBRE O FENÔMENO DA POBREZA

1.1. A POBREZA E SUAS CONCEITUAÇÕES

Em geral, o conceito de pobreza está associado à insuficiência de renda. Isto é, o indivíduo considerado pobre é aquele cuja renda per capita seja inferior ou igual a uma determinada linha de pobreza. Segundo os critérios adotados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA/2008), é classificado como pobre aquele que vive com uma renda mensal de meio salário-mínimo. Por seu turno, o indivíduo cuja renda mensal corresponde a um terço do salário-mínimo é classificado como indigente.1

Não existe um consenso na literatura em torno do conceito de pobreza. No entanto a forma mais comumente utilizada para estudo e mensuração, por sua simplicidade e sua praticidade, é o conceito de pobreza absoluta, que encontra na renda auferida pelo indivíduo seu principal fundamento explicativo. Conforme Rocha (2003), num país como o Brasil, com uma economia quase totalmente monetizada, com o bem-estar das pessoas estritamente vinculado à disponibilidade de renda familiar, não é de causar estranheza que o conceito de pobreza esteja associado à insuficiência de renda.

Para vários especialistas no assunto, definir o fenômeno da pobreza a partir de um corte metodológico fundamentado na renda per capita é subestimar o problema, tratando-o de forma superficial, abdicando de enxergar com nitidez as suas principais raízes e os caminhos mais estratégicos para a sua superação.

Para Sem (1999), o sentido da pobreza está além da insuficiência de renda. Está na constatação da privação de um conjunto de capacidades básicas individuais, dentre as quais a

renda constitui parte integrante. Nesse contexto, a expressão “capacidade” tem a ver com as

combinações e com as alternativas do que é possível realizar, considerando o estilo de vida que lhe é proporcionado, com todos os seus limites e as suas possibilidades. Portanto a capacidade é um tipo de liberdade: a liberdade substantiva de realizar combinações alternativas de funcionamentos ou a liberdade para ter estilos de vida diversos.2 Nessa linha,

1 A indigência está associada à mendicância, à pobreza à falta de recursos. A indigência exclui as condições

mínimas de cidadania, como registro civil e identidade. Filho (2001) define a indigência como o abandono social do indivíduo.

2

Por exemplo, uma pessoa abastada que faz jejum por sua livre e espontânea vontade pode ter a mesma realização de funcionamento que uma pessoa pobre forçada a passar fome extrema. Porém a primeira pessoa

possui um "conjunto capacitário” diferente do da segunda. A primeira pode escolher comer bem e ser bem

(15)

ser pobre, objetivamente, é ser privado de direitos, é ter liberdade reduzida, é não ter opções de vida e não poder fazer escolhas.

Teles (1993) corrobora a visão de Sem quando evidencia que a pobreza não pode ser reduzida às questões de cunho estritamente econômico, à falta de recursos financeiros ou à inaptidão do indivíduo para o mercado de trabalho, mas sim se relaciona com o modo de organização de uma sociedade, com as regras estabelecidas, com o jeito de fazer política dos seus representantes legais, com o nível de consciência dos seus líderes e com o sentimento da sociedade civil em torno das questões ligadas à cidadania e à liberdade.

Propondo uma definição moderna sobre o assunto, Mencher (1972, p. 83) advoga que:

O conceito de pobreza deve ser separado de sua dependência de padrões de subsistência mínima para as classes mais baixas, sejam eles absolutos, sejam relativos; sejam generosos, sejam avaros. Para isso, deve ser substituído por uma medida do nível mínimo que a sociedade pode tolerar em vista de seus objetivos nacionais. Mesmo onde uma renda mínima possa ser considerada suficiente pelos seus detentores imediatos, ela pode ser altamente inadequada na forma como afeta o bem-estar econômico e social da nação como um todo.

Crespo e Gurovitz, (2002) fazem referência aos aspectos psicológico e subjetivo da pobreza, que, embora sejam negligenciados quando se pensa numa estratégia de política econômica para combatê-la, são fatores significativos porque se relacionam com a condição existencial de se viver numa realidade marcada pelo pauperismo. O indivíduo pobre, desde o seu nascimento, tem a vida caracterizada pela exclusão e pela discriminação a ponto de aceitar a condição de ser pobre como um fator natural, inerente ao processo de desenvolvimento da própria sociedade em que vive. Por isso, não consegue projetar nenhum tipo de reação à condição que lhe é imposta, mesmo que os seus direitos individuais e constitucionais lhe sejam cotidianamente negados.

Nessa direção, Narayan (apud CRESPO E GUROVITZ, 2002, p. 11) chama a atenção para o fato de que é preciso ouvir dos pobres os que eles pensam sobre a pobreza:

Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente, e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e de liberdade. 3

3 Conceito coletado pelo autor junto às populações desprovidas de vários países do mundo, com objetivo de

(16)

Obviamente, o fenômeno da pobreza na visão dos pobres é mais objetivo, direto, carregado de sentimento, uma vez que se está falando de uma condição existencial própria, experimentada, a qual, de certa forma, não está dissociada do que dizem as teorias e do que pensam os intelectuais e estudiosos do assunto. Esse depoimento revela que o pobre tem consciência da condição de humilhação a que é submetido no meio social.

O Banco Mundial (2002) tem buscado aprimorar o conceito sobre o tema, caracterizando a pobreza como uma situação em que as condições mínimas necessárias à sobrevivência humana não estão disponíveis para um conjunto bastante expressivo da população – os pobres.

Nesse sentido, é oportuno realçar mais uma vez o pensamento de Teles (1993) quando nos alerta para o fato de que a pobreza não é simplesmente fruto de circunstâncias que afetam determinados indivíduos (ou famílias), desprovidos de recursos que os qualifiquem para o mercado de trabalho. O pauperismo está inscrito nas regras que organizam a vida social. É isso que permite dizer que a pobreza não é apenas uma condição de carência, passível de ser medida por indicadores sociais. É, antes de tudo, uma condição de privação de direitos, que define formas de existência e modos de sociabilidade e vai, aos poucos, acomodando-se na consciência tanto dos pobres quanto dos ricos.

De acordo com Hagenaars e De Vos (1988), todas as definições de pobreza podem ser enquadradas numa das três categorias seguintes: a) pobreza é ter menos do que um mínimo objetivamente definido (pobreza absoluta); b) pobreza é ter menos do que outros na sociedade (pobreza relativa); c) pobreza é sentir que não se tem o suficiente para seguir adiante (pobreza subjetiva). De um modo geral, quando utilizamos o termo pobreza, estamos referindo-nos a um significativo contingente de pessoas que não conseguem ter as suas necessidades básicas atendidas. Portanto estamos fazendo referência ao conceito de pobreza absoluta. Por essa razão, na visão de Rocha (2004), este é o conceito mais relevante, visto que contempla de imediato a realidade brasileira.

(17)

1.2. POBREZA E DESIGUALDADE: UMA RELAÇÃO DE PROXIMIDADE

Vários estudiosos do assunto nos chamam a atenção para a relação de proximidade entre as situações de pobreza e de desigualdade. Embora sejam fenômenos diversos, em algumas sociedades, esses fenômenos se sobrepõem, a exemplo do caso do Brasil. Desse modo, fazer uma abordagem consistente sobre um dos temas implica, necessariamente, abordar o outro. A esse respeito, Carneiro (2005) esclarece que existem países com baixo índice de pobreza absoluta e com grande desigualdade, bem como países com grande incidência de pobreza e com baixa desigualdade. No Brasil, parte da pobreza persistente decorre da forte desigualdade de renda. Porém é preciso deixar claro que o fato de uma pessoa ter um padrão de vida mais baixo do que outra se constitui numa evidência de desigualdade, mas não necessariamente de pobreza.

Sobre os números da desigualdade, Mankim (2009) adverte que os países coletam dados de maneiras diferentes. Alguns privilegiam a renda individual, enquanto outros, a renda familiar. Outros, ainda, coletam dados sobre a intensidade da despesa do indivíduo, em vez da renda. Daí decorre uma das dificuldades de comparar o nível de desigualdade entre países. Muitas vezes, a diferença revelada não expressa a realidade de diferentes economias, uma vez que essa distinção poderia apenas refletir a metodologia de coleta e de interpretação dos dados observados.

O gráfico seguinte, produzido por Mankim (2009, p. 419), nos permite conhecer e comparar o grau de desigualdade entre nações como Alemanha, México, Japão, África do Sul, dentre outros, revelando diferenças gritantes no interior dessas sociedades:

(18)

0 10 20 30 40 50 60 Medida de desigualdade

Série1

Maior distribuição de

igualdade Menor distribuição de igualdade

Gráfico 1 – A desigualdade pelo mundo

Fonte: Mankim – Expõe a renda auferida pelos 10% mais ricos da população dividida pela renda auferida pelos 10% mais pobres.

Fazendo uma análise da estrutura da desigualdade de renda em escala mundial, com foco no Brasil, Barros, Henriques e Mendonça (2001, p. 12) nos esclarecem que:

Apenas a África do Sul e Malavi têm um grau de desigualdade maior do que o Brasil. O Coeficiente de Gini4 no Brasil, com valor próximo de

0,60, representa, no conjunto de 92 países com informações disponíveis, um padrão alcançado apenas pelos quatro países com maior grau de desigualdade: Guatemala, Brasil, África do Sul e Malavi. Na realidade, 40 dos 92 países dispõem de um Coeficiente de Gini entre 0,30 e 0,40, de forma que a maioria dos países sul-americanos apresenta valores mais elevados 0,45 a 0,60. Ao fim da análise, identifica-se o Brasil como o país com o maior grau de desigualdade, entre aqueles de que dispomos de informações.

O problema das desigualdades sociais no Brasil é gravíssimo, e não se trata de um fenômeno recente. Ao contrário, surgiu e foi agravando-se em meio ao processo de formação

4 O coeficiente de Gini é a medida dos graus de desigualdade na distribuição da renda, com variação de 0 a 1.

(19)

e de consolidação do País. Transparece como problema insolúvel, porque está inscrito em nossa própria natureza. Esse contexto evidencia a influência do modelo fordista de acumulação na história da sociedade e, consequentemente, da educação brasileira:

Há neste modelo uma forte tensão que resulta de uma desigualdade que é de origem socioeconômica e cuja reprodução a escola promove apesar de proclamar o contrário. Na sua base está um princípio meritocrático que

pretende guiar o desenvolvimento dos „talentos‟ e do empenho dos alunos

sem atentar à sua origem socioeconômica, sem deixar interferir no processo ensino-aprendizagem o seu gênero e a sua etnia. Para lidar com essa tensão, o Estado desenvolve políticas de gestão controlada de desigualdade. (STOER, 2006, p. 133)

Possivelmente, nenhum outro aspecto inerente à sociedade brasileira desperte tanta perplexidade quanto a evidência da profunda desigualdade que separa, de um lado, a miséria de milhões de brasileiros; do outro, a ilimitada abundância de ativos de tão poucos. Desse modo, ressalta Medeiros (2003), aumentar a coesão social, reduzir o atual grau de concentração de renda e os níveis de pobreza constitui, assim, um desafio para qualquer governo socialmente progressista.

De acordo com o Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED, 2010), a situação da pobreza no mundo aumentou. O número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia, nos 49 países mais pobres do mundo, principalmente na África, mais do que duplicou nos últimos 30 anos, alcançando o montante de 307 milhões de pessoas. A estimativa é a de que esse número chegue a 420 milhões de pessoas pobres em 2015.

799 milhões de pessoas são subnutridas em todo o mundo, e mais de 34 mil crianças menores de cinco anos morrem a cada dia, por causa da fome ou em razão de doenças evitáveis. Mais de 2,8 bilhões de pessoas em todo mundo vivem com menos de 2,15 dólares por dia. A disparidade de renda entre o quinto mais rico e o quinto mais pobre da população mundial denuncia a desigualdade e o seu intenso crescimento ao longo das décadas. Em 1960, essa disparidade era de 30 para 1; passou de 60 para 1, em 1990; e de 74 para 1, em 1997. (POOGE, 2004).

(20)

1.3 A MAGNITUDE DA POBREZA: OS NÚMEROS DA AMÉRICA LATINA

Na América Latina, os índices de pobreza e de indigência têm-se mostrado elevados, num contexto de mercado globalizado caracterizado por significativas transformações no campo tecnológico, o que impôs uma nova dinâmica no setor produtivo e nos demais segmentos das sociedades. Embora o ritmo de crescimento econômico tenha proporcionado uma melhora em vários indicadores sociais – tais como queda da mortalidade infantil, diminuição do número de analfabetos, aumento na expectativa de vida, maior acesso à educação básica e superior, dentre outros –, esses avanços não produziram a mitigação dos índices de pobreza nem a diminuição da desigualdade entre os países e os setores internos, na mesma intensidade.

A edição 2009 do Documento Informativo Panorama Social da América Latina 2009 apresenta estimativas mais recentes de pobreza e de desigualdade para os países da região. As novas cifras disponíveis revelam uma evolução positiva da pobreza, quando comparam 2007 em relação ao ano de 2008, conforme os dados na Tabela 1.

Tabela 1 (Em percentagem)

América Latina: Pessoas em situação de pobreza e incidência, em torno de 2002, 2007 e 2008

País

Em torno de 2002 Em torno de 2007 2008

Ano Pobreza Indigência Ano Pobreza Indigência Ano Pobreza Indigência

Argentina 2002 45.4 20.9 2006 21 7.2 ... ... ... Bolívia (estado

Plurinacional) 2002 62.4 37.1 2007 54 31.2 ... ... ... Brasil 2001 37.5 13.2 2007 30 8.5 2008 25.8 7.3

Chile 2000 20.2 5.6 2006 13.7 3.2 ... ... ... Colômbia 2002 51.5 24.8 2005 46.8 20.2 2008 42.8 22.9 Costa Rica 2002 20.3 8.2 2007 18.6 5.3 2008 16.4 5.5

Equador 2002 49 19.4 2007 38.8 12.4 2008 39 14.2 El Salvador 2001 48.9 22.1 2004 47.5 19 ... ... ...

Guatemala 2002 60.2 30.9 2006 54.8 29.1 ... ... ... Honduras 2002 77.3 54.4 2007 68.9 45.6 ... ... ... México 2002 39.4 12.6 2006 31.7 8.7 2008 34.8 11.2 Nicarágua 2001 69.4 42.5 2005 61.9 31.9 ... ... ...

Panamá 2002 36.9 18.6 2007 29 12 2008 27.7 13.5 Paraguai 2001 61 33.2 2007 60.5 31.6 2008 58.2 30.8 Peru 2001 54.7 24.4 2007 39.3 13.7 2008 36.2 12.6 Republica Dominicana 2002 47.1 20.7 2007 44.5 21 2008 44.3 22.6 Uruguai 2002 15.4 2.5 2007 18.1 3.1 2008 14 3.5 Venezuela - Rep

Boliviana 2002 48.6 22.2 2007 28.5 8.5 2008 27.6 9.9

Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais das pesquisas domiciliares dos respectivos países, p. 10 do referido documento. 5

5

(21)

De acordo com os dados, a incidência6 no Brasil se reduziu ao menos 3 (três) pontos percentuais; na Costa Rica e no Paraguai abrandou mais de 2 (dois) pontos percentuais; o Panamá e a Venezuela registraram diminuição em torno de 1 (um) ponto percentual. Nota-se que o Equador e a República Dominicana não registraram variações significativas, e nos chama atenção o fato de que o único país no qual se registrou uma piora da situação de pobreza foi o México.

Por outro lado, a indigência mostrou um aumento generalizado, uma vez que apenas Brasil, Paraguai e Peru alcançaram reduções em torno de um ponto percentual. Na Colômbia, a indigência aumentou 2,7 pontos percentuais entre 2005 e 2000, possivelmente refletindo a crise econômica que começou a se manifestar no fim do ano. No que diz respeito à distribuição de renda, a comparação das cifras mais recentes para cada país com as disponíveis por volta de 2002 mostra uma melhoria.

Na concepção da CEPAL (2009, p.11-13):

Assim, em 2008, a região da América Latina se encontrava bem encaminhada para cumprir a primeira meta do milênio, apesar da heterogeneidade entre distintas sub-regiões e países. A proporção de pessoas indigentes na região, 12,9%, estava a menos de 2 pontos percentuais de distância da meta (11,3%), o que representava um avanço de 85%.[ ...]. No que diz respeito à distribuição de renda, os dados evidenciam uma melhora. [ ...]. Um aspecto preocupante da evolução da pobreza na América latina é a persistência das diferenças de vulnerabilidade à pobreza segundo as características demográficas das pessoas, particularmente a idade, o sexo e a etnia. [ ...], que são alguns traços mais determinantes da pobreza.

1.4. A MAGNITUDE DA POBREZA: OS NÚMEROS DO BRASIL

O Brasil de hoje apresenta uma realidade política e econômica significativamente oposta àquela vivenciada há 20 ou 30 anos. Os números oficiais revelam avanços significativos no que diz respeito ao crescimento do PIB, à expansão do emprego formal, ao aumento real do salário-mínimo, às políticas de transferência de renda, ao controle da inflação, à queda da taxa de juros, à ampliação do crédito, ao aumento do comércio exterior, à ampliação do número de matrículas no Ensino Superior, dentre outros feitos.

No campo social, o País não tem conseguido reproduzir as relevantes transformações experimentadas na política e na economia, na mesma magnitude. Apesar do expressivo crescimento econômico registrado nas décadas anteriores, o País entrou nos anos 80 com um

6 A incidência da pobreza é simplesmente uma estimativa do percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza.

(22)

grande dinamismo político, mas imerso numa crise econômica, convivendo com níveis de inflação insuportáveis. Nesse período, de acordo com Carneiro, (2005, p.16):

O País não apresentou projetos para a grande massa de pobres e registrou um dos piores índices mundiais relativos à concentração de renda e aos parâmetros de justiça social. A capacidade do Brasil para transformar crescimento econômico em desenvolvimento social tem-se mostrado menor do que a de vários países latino-americanos de estrutura socioeconômica semelhantes.

Essa realidade é tão evidente que, em números absolutos, o País entrou na década de 90 registrando 58 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha pobreza, segundo dados do IPEA (2010). Esse panorama só conseguiu ser substancialmente alterado nos anos posteriores, certamente a partir da estabilização econômica, alcançada com o advento do Plano Real, implantado durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, conforme nos revela o gráfico a seguir:

Gráfico 2 – P

obreza e Extrema pobreza no Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados disponibilizados pelo IPEA.

Gráfico 2 – Pobreza e extrema pobreza no Brasil

Elaborado pelo autor com base nos dados disponibilizados pelo IPEADATA

(23)

Quanto à incidência da pobreza, houve, no Brasil, uma redução de 48% da população abaixo da linha de pobreza para 37,5%, de 1991 em relação a 2001. A indigência também decresceu, passando de 23,4% para 13,2%, no mesmo período. Se tomarmos como parâmetro o salário-mínimo, esses números são diferentes. Em 2002, havia 52,3% milhões de pobres, o que equivalia a 36% da população. Na indigência, estavam 20 milhões de pessoas ou 30,6% da população. (PNUD, 2004, p. 5). Medeiros (2003)7 fala em 54 milhões de pobres.

Conforme dados do Relatório do IPEA (2007), a renda dos brasileiros classificados como pobres apresentou um substancial crescimento ao longo do período de 2001 a 2005. Como conseqüência, o País registrou uma significativa queda da pobreza e da pobreza extrema, conforme verificado em outros momentos da história brasileira, “a exemplo da

década de 70, quando a pobreza foi substancialmente reduzida” (PATORE; ZILBERSTAJN; PAGOTTO, 1983). Um declínio significativo também foi verificado após a implantação do Plano Real.

No entanto – evidencia o mesmo documento – a diferença entre a queda da pobreza no período recente com relação às quedas verificadas nos períodos anteriores está, sobretudo, na origem: enquanto a diminuição da pobreza nos períodos passados tem o crescimento econômico como principal instrumento explicativo, no período considerado (2001 a 2005) a explicação está na diminuição da desigualdade. Conforme dados do (IPEA, 2007), nesse período, o Coeficiente de Gini declinou 4,6% guiado por uma taxa de crescimento da renda dos mais pobres de 37 pontos percentuais maior que as dos 10% dos mais ricos.

Em função de metodologias e de concepções diferenciadas, não há um número fechado e reconhecido por todos os estudiosos e os institutos ligados ao tema como verdadeiro e único. De qualquer modo, o fato de ainda registrarmos a permanência de milhões brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza é uma realidade perversa que precisamos superar. De acordo com Medeiros (2005), uma população de pobres em sua maioria, com uma pequena elite concentrando importante parcela da renda, num país de recursos abundantes, requer

7 Esta divergência é comum. A metodologia da Cepal define a linha de pobreza a partir da estimativa do custo

de uma canastra de bens e serviços que permita às pessoas satisfazerem suas necessidades básicas. Segundo o método do custo das necessidades básicas, é considerado pobre o indivíduo que apresenta uma renda per capita inferior ao valor necessário para adquirir a canastra básica (CEPAL, 2004, p. 57).

Outras fontes, ainda que utilizando o mesmo parâmetro (salário-mínimo), identificam valores diferentes para o mesmo ano. De acordo com o documento do IPEA (2005), em 2002 eram 49 milhões de pessoas pobres, correspondendo a 29% da população. Desses, 18,7 milhões eram indigentes, correspondendo a 11,2%. Tomando como base os domicílios, tem-se, em 2002, 10 milhões de domicílios pobres e 3,7 milhões em condição de indigência (IPEA, 2005a, p. 87). Como se vê, para o mesmo ano e tendo como o mesmo parâmetro (salário-mínimo), os valores apresentam importantes diferenças. Não é o caso de explicá-las aqui, mas de salientar a existência dessas discrepâncias.

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soluções estruturais, contínuas e progressivas para a redução da pobreza, alicerçadas em decisões políticas de amplo impacto social.

Em face desse quadro, precisamos investigar as reais causas da persistente situação de pobreza existente no Brasil a fim de compreender quais as estratégias de combate mais eficazes que se encontram disponíveis; essa realidade não se conjuga mais com um país que contabiliza tantas conquistas nos mais variados aspectos de uma sociedade moderna, que é classificada como a sexta economia do mundo.

(25)

CAPÍTULO 2 – O ENFRETAMENTO DA POBREZA NO BRASIL: COMO SUPERAR?

2.1. A ESTRATÉGIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

O Brasil, ao longo de sua história, vem confirmando uma tendência de coexistência, associando crescimento econômico a elevados níveis de pobreza e de desigualdade –

comportamento verificado em grande parte dos países que compõem a América Latina. Conforme Araújo (2000), o Brasil, desde seu descobrimento pelo capital mercantil em busca de internacionalização, constituiu-se como um país rural, escravocrata e primário-exportador. Apenas no século XX é que emergiu o Brasil urbano-industrial e de relações de trabalho tipicamente capitalistas, marcado pela existência de classes sociais.

Nessa mesma linha de pensamento, Furtado (1977) nos chama a atenção para o fato de que o ambiente de alto crescimento industrial foi construído no Brasil sobre uma base de miséria rural, monopolização mercantil, elevadas rendas das propriedades rurais e urbanas e atraso na moderna produção de alimentos. Esses são fatores fundamentais subjacentes à pobreza, e é esta que confere especificidade ao crescimento com exclusão social, como o modelo que predominou no País, durante a sua trajetória de progresso.

Gaubraith (apud SOBOTTKA, 2009) defendeu uma teoria8 segundo a qual, há 500 anos, as sociedades afluentes já estariam em condições de superar em definitivo o problema da pobreza e de impedir a sua reprodução, em razão do grau de modernidade a que essas sociedades tinham chegado. A partir dessa concepção, o autor fazia referência ao potencial do progresso técnico ainda inexplorado da sociedade capitalista ocidental, demonstrando um forte otimismo sobre os avanços e as conquistas econômicas contabilizadas nessas sociedades, além de tratar indistintamente os conceitos de crescimento econômico e de desenvolvimento. Havia, inclusive, a convicção de que, nas sociedades nas quais esse progresso não ocorreu endogenamente, seria possível induzi-lo com ações externas, abrindo espaço para que as pessoas em condição de pobreza pudessem superá-la, de modo que a modernidade alinhada ao crescimento superaria a pobreza.

A convicção de que o crescimento econômico – ou crescimento do PIB – seria o principal fundamento – senão o único a ser perseguido por uma sociedade que busca a superação de seu estado de pobreza – figurou por muitas décadas tanto no meio acadêmico

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quanto no ambiente político brasileiro. “O diagnóstico assumia que a redução da pobreza era

um subproduto do crescimento e que a mais eficaz forma de redução da pobreza seria a

promoção do crescimento.” (BARROS, et alii, 2000).

Para Gafar, (1998) o crescimento econômico é uma condição importante para reduzir a pobreza ao aumentar as oportunidades de emprego, os salários reais e o padrão de vida. Mas não é condição suficiente; e, se o padrão do crescimento for urbano viesado, capital intensivo e concentrador de emprego nos postos qualificados, a pobreza poderá até crescer, mesmo com o aumento do PIB per capita. Nesse contexto, taxas elevadas de crescimento teriam efeitos limitados sobre a redução da pobreza. Para aprofundar a discussão, julgamos importante fazer referência ao estudo de Arbache (2003, p.9)

Cálculos feitos a partir de análise contrafactual mostram que o impacto do crescimento da renda per capita de 27,75% e 4% ao ano, por dez anos consecutivos, reduziria a pobreza, respectivamente, em apenas 9% e 12,5%. Note-se que essas taxas de crescimento são bastante superiores às taxas médias observadas no país, nas duas últimas décadas. Portanto não fáceis de serem alcançadas, especialmente por um período longo. O custo de promoção de tais taxas de crescimento será absurdamente elevado, em termos de poupança, o qual supera a capacidade de financiamento de que o país dispõe.

No panorama internacional, alguns pesquisadores constataram que a diminuição dos índices de pobreza foi, de fato, conseqüência do aumento do crescimento econômico em determinadas sociedades, objetos do estudo. Pesquisadores como Anderson (1964), Thornton et alii ( 1978) e Hirsch (1980) documentaram essa relação.

No Brasil, no período Pós-Guerra, em que o crescimento do País foi capitaneado pela busca da industrialização via processo de substituição de importações, algumas medidas de estímulo ao consumo da classe média foram disseminadas, tais como o aumento do crédito, a diminuição dos custos dos bens duráveis e da habitação, dentre outros, privilegiando o

segmento mais carente da população. “Acreditava-se que os pobres seriam beneficiados, por meio da demanda de mão de obra da classe assalariada, das economias de escala e das

externalidades, o que de fato não ocorreu”. (ABARCHE, 2003).

(27)

Na concepção de Rocha (2003), o início dos anos 70, de forma especial, pareceu desvelar uma verdade até então parcial e pouco convincente: a de que taxa ascendente de crescimento econômico não se disseminava em todas as camadas da sociedade, mostrando que o crescimento do produto – embora em plena sintonia com os objetivos gerais dos planos econômicos e de organismos internacionais – não havia conseguido combater as causas reais do fenômeno da pobreza. Essa constatação foi sentida até pelos países ricos, que não conseguiam eliminar os seus redutos de pobreza.

Segundo Ranis e Stwart (2002), ao se debruçarem a investigar a trajetória dos números de vários países da América Latina sobre a dinâmica do crescimento econômico, verificaram que, no Brasil, o que houve nas décadas de 60, 70 e 80 foi uma tendência de crescimento econômico com baixo desenvolvimento humano. Na década de 90, o País teria

experimentado um certo “ciclo vicioso” em que o baixo índice de desenvolvimento humano

passou a atuar como fator limitador do crescimento econômico e foi por ele limitado. Ao longo da década de 90, a economia brasileira vivenciou significativas transformações, tais como a abertura da economia ao fluxo do comércio e dos capitais internacionais, a redução da presença do Estado na economia, a intensificação do processo de privatização e, como principal conquista, a implantação do Plano Real com a estabilização monetária, o que, na concepção da maioria dos economistas, significou um ganho de renda real para os pobres do País.

Retomando Rocha (2003), vemos que, desde o início da década de 90, a persistência da pobreza constituiu uma das preocupações centrais do País. No entanto a temática ganhou ênfase depois da estabilização. Resolvido o problema da inflação, parece haver consenso nacional de que o objetivo prioritário da sociedade brasileira é diminuir a desigualdade entre as pessoas, da qual a persistência da pobreza absoluta é um corolário.

(28)

2.2. A ESTRATÉGIA DA TRANSFERÊNCIA DE RENDA

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem mostrado a opção de dar preferência ao combate à pobreza, por meio de políticas de transferência de renda9 aos mais pobres. São as

ações de natureza assistencialistas e/ou compensatórias, defendidas por muitos e criticadas por outros. Nessa mesma linha, Ferrarini (2007) nos adverte para o fato de que, mesmo sendo primordiais, as ações de transferências de renda, no âmbito das políticas compensatórias, não são capazes de alterar a estrutura da pobreza de forma radical, uma vez que assistem, mas não emancipam os assistidos e, por isso, não conseguem descer até a raiz do problema.

O argumento de Arbache (2003) corrobora o pensamento de Ferrarini quando nos lembra que a seca e a fome do povo nordestino são, há décadas, tratadas por meio de ações assistencialistas sem que essas iniciativas tenham produzido modificações significativas para o povo pobre daquela região, servindo, apenas, como bandeira política para fins eleitoreiros e interesses próprios.

Para o IPEA (2006), a atenção dispensada pelo governo federal às políticas de transferências de renda, nos últimos anos, tem-se constituído numa ação emblemática como política distributiva de combate à pobreza no Brasil, uma vez que esses programas garantem uma renda mínima à população pobre, alcançando, principalmente, os indivíduos em idade economicamente ativa, mas impedidos de participarem do mercado de trabalho e do mercado consumidor, por estarem desprovidos de renda. O Bolsa Família, segundo o Instituto, é um exemplo de um programa promissor que vem atingindo, de forma satisfatória, os objetivos de distribuir renda, combater a pobreza e promover a inclusão social.

Contrariamente, a FGV/CPS (2001), argumenta que a maior parte das políticas sociais não mira nos miseráveis; aquelas que o fazem, não acertam o alvo; ou, quando acertam, não provocam mudanças sustentáveis em sua vida.

Por outro lado, um estudo de Rocha, (apud CAMPELO, LINHARES E MARINHO,

2011), utilizando dados das PNADs de 1999 a 2002, evidencia que houve um aumento de

9

(29)

cobertura dos programas de transferências de renda no Brasil e que, mesmo com o eventual problema de focalização, verificou-se que essas transferências contribuíram para a redução da pobreza e da indigência.

Nessa trajetória, Holffmem (apud CAMPELO, LINHARES E MARINHO, 2011), também utilizando dados das PNADs, concluiu que esses programas de transferências de renda têm contribuído com 28% para a diminuição da desigualdade no País, no período de 1998 a 2004, e que essa cifra chega a quase a 66% quando consideramos apenas a Região Nordeste.

De forma enfática, Coggiola (2006, p. 8) adverte:

O Bolsa Família, isto é fundamental, foi usado como argumento contra a elevação do mínimo. Durante o debate sobre se o valor do salário-mínimo devia ser de R$ 260, como queria o governo, ou de R$ 275, como queria a oposição, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) elaborou um estudo defendendo o valor menor. Argumentou que só 29% da elevação da renda das famílias proporcionada pelos R$ 15 a mais no mínimo vão para famílias efetivamente pobres. A soma da renda anual das famílias subiria R$ 2,4 bilhões com o mínimo maior. Disso, R$ 1,8 bilhão viria de benefícios previdenciários, e R$ 600 milhões, de aumento de salários. Mas só R$ 700 milhões do total iriam para as famílias pobres. O mesmo efeito, dizia o Ipea, poderia ser conseguido com a elevação do valor do benefício básico do programa Bolsa Família em R$ 10,90 por mês. O custo seria bem menor: R$ 700 milhões, supondo que todo o dinheiro destinado à elevação do benefício chegaria até os pobres. A lógica do Ipea era perfeita (do ponto de vista do capital): mais esmola, menos salário e menos gastos.

Quando as estratégias de combate à pobreza passam a ter como carro-chefe programas de natureza emergenciais e compensatórias, o foco no desenvolvimento enquanto processo é relegado a segundo plano. Conforme Sem (1999), desenvolvimento pressupõe que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva dos Estados repressivos. Esses elementos não são nem serão radicalmente combatidos enquanto o fundamento da busca pela justiça social estiver centrado nos programas de transferências de renda.

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classe trabalhadora, colocando, de um lado, os que trabalham e recebem e, do outro, os que recebem sem trabalhar, sem que a situação real de bem-estar entre esses dois grupos seja significativamente diferente.

Na visão de Larvinas (et alii, apud DULCI e SANTOS, 2008, p. 3),

Os programas compensatórios são reconhecidos como pouco eficazes e bastante ineficientes corroborando evidências de que o aporte compensatório pouco agrega ao bem-estar dos grupos sociais em situação de risco alimentar e de extrema pobreza, [...]. No entanto a magnitude da indigência, que ainda hoje compromete o desenvolvimento do País, não permite que se descartem medidas compensatórias que possam verdadeiramente aliviar a pobreza e assegurar um patamar básico de cidadania.

No entanto é um grande equívoco das políticas distributivas desconsiderarem o desemprego como um fator de influência sobre o elevado grau de pobreza e de desigualdade observado no País. Na concepção de Barros, Camargo e Mendonça (1997), é possível que, apesar de sua baixa prevalência, o desemprego seja um importante fator na constituição dos milhares de pobres e de miseráveis contabilizados no Brasil, à mercê de políticas compensatórias e assistencialistas.

Corroborando esse pensamento, Salm (2006), discutindo o relatório do IPEA publicado no mesmo ano, ratificado pelo argumento de Medeiros (2003), evidencia que o Bolsa Família é um exemplo de política que não mexe diretamente com o mercado e, por isso, deve ser enaltecido pelo pensamento ortodoxo, enquanto o aumento no salário-mínimo – uma instituição universal –é uma política que tem influência no mercado, alterando a estrutura do preço de um produto fundamental: o trabalho. Alterar positivamente o valor do salário-mínimo parece denotar uma concepção que ainda não foi radicalmente assumida pela classe governante brasileira: a decisão de buscar a superação progressiva e sustentável do nosso estado de subdesenvolvimento.

(31)

Gráfico 3 – Total de Famílias beneficiadas por meio do Bolsa Família Elaborado pelo autor com base nos dados do IPEADATA/2009

De acordo com os dados do Instituto, em 2004, para atender a 6 milhões de famílias, o governo transferiu, aproximadamente, 444 milhões de reais. Em 2009, o total de recursos disponibilizados ultrapassou a cifra de 1 bilhão de reais. Frente a essa realidade e fazendo consideração ao pensamento de Medeiros (2005), julgamos relevante e adequada esta indagação: qual é a estratégia mais eficiente de combate a pobreza no Brasil: prover ajuda aos pobres ou prover trabalho a quem pode e deseja trabalhar?

Na visão de Barros, Henrique e Mendonça (2000), as políticas sociais, tais como têm sido implementadas, não são capazes de resolver nem mesmo o problema da fome, pelas seguintes razões: a) não chegam, de fato, aos mais necessitados; b) quando chegam, não deixam efeitos permanentes sobre o seu estado de pobreza; c) não conseguem atingir os objetivos sociais a que se propuseram.

Para Lavinas e Versano (1997), um fator preponderante a ser considerado por qualquer política compensatória ou assistencialista que vise a uma melhor distribuição de renda com equidade social deve ser acompanhada por um efetivo programa educacional. Do contrário, com o fim da assistência, as famílias beneficiadas retornarão à situação original de pobreza com alguns agravantes: estarão mais velhas, mais acomodadas e mais dissociadas do mercado de trabalho.

0 2000000 4000000 6000000 8000000 10000000 12000000 14000000

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2.3. A ESTRATÉGIA DA EDUCAÇÃO

Diversos estudos revelam a educação como um fator de importância significativa para o combate à pobreza e para a promoção do crescimento econômico das sociedades. Como o ensino superior se coloca como o último degrau que separa o homem do mercado de trabalho, a conquista de um diploma de nível superior é, para milhões de brasileiros pobres, a única esperança de trabalho digno e de superação do estado de pobreza em que se encontram. O acesso à educação superior abre para os pobres possibilidades até então improváveis de se tornarem realidade. Segundo Crespo e Gurovitz, (2002), quanto mais inclusivo for o alcance da educação, mais consistente será o combate à desigualdade e maior será a probabilidade de se conquistar emprego e renda, mesmo para aqueles potencialmente pobres.

As desigualdades brasileiras são sentidas em todas as dimensões do Estado e não se restringem a questões geográficas; são oriundas também de heranças sociais, como a escravidão e a colonização. Cerca de 46% da população são compostos por afrodescendentes, sendo o país com a segunda maior população negra do mundo. Fica evidente a distribuição desigual das riquezas de acordo com a raça quando se considera que, dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negros (IPEA, 2004). Frente a esse quadro, enxerga-se na educação o caminho mais promissor para atenuar as grandes injustiças sociais e para conferir oportunidade a quem não tem esperança.

O Brasil tem sido classificado como o país de maior índice de desigualdade do mundo, e a principal causa dessa disparidade é o perfil de distribuição dessa educação, juntamente com suas elevadas taxas de retorno. Conforme Barros e Mendonça (1995), a educação é o mais importante fator para explicar a determinação de salários e a desigualdade. Sozinha, ela explica 48% da desigualdade de salários e cerca de 26% da diferença de renda. A taxa de retorno por ano de escolarização chega a 16%, sendo a mais elevada do mundo.

(33)

no País, uma vez que as melhores oportunidades estão ao alcance dos indivíduos mais ricos, que, via de regra, são sempre os mais educados.

Na visão de Campos (2003), a relação do homem pobre com a inclusão social, como resultado do acesso à educação, está diretamente associada a outras questões, tais como a qualidade do ensino disponibilizado, as condições de socialização que envolvem o ambiente de ensino e as reais oportunidades que serão geradas após o processo educativo, visto que

“pobres precisam, sobretudo, de oportunidades. Oportunidades são expressas pela posse de

ativos”. (FGV/MPS, 2001, p.1).

Medeiros (2004) concorda que, por meio da educação, é possível qualificar os trabalhadores desempregados ou subempregados e aumentar os rendimentos de suas famílias. No entanto não é possível assegurar que essa ação seja suficiente para emancipar o trabalhador e para tirá-lo da condição de excluído perante a sociedade em que vive, uma vez que o acesso à educação não altera outros atributos do indivíduo como a raça a que pertence e a situação discriminatória em que vive.

Um estudo produzido por Menezes (2001) constatou que, entre 1982 e 1988, a taxa de retorno da educação obtida como resultado da titulação10 foi declinante nos dois primeiros níveis de ensino (Fundamental e Médio), elevando-se apenas no Ensino Superior. Esse diagnóstico motivou a conclusão de que melhor seria privilegiar os investimentos nos níveis fundamental e médio, uma vez que priorizar o ensino superior seria aprofundar o grau de desigualdade e piorar a distribuição, até o momento em que o crescimento da oferta produzisse uma diminuição do valor do retorno concedido a essa faixa de ensino.

Entretanto a conclusão do Banco do Mundial é completamente oposta: tendo em vista as diferentes taxas de retorno associadas à obtenção do ensino superior e dos demais níveis e o baixo poder explicativo da distribuição da educação, uma política voltada a uma melhor distribuição de renda deveria centrar-se na expansão do ensino superior.

Na análise do ensino superior do Brasil, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – (PNAD 2007) revelam que 69% dos jovens entre 18 e 24 anos não estão estudando, e a média de escolarização nessa faixa etária é de 8,3 anos. Do total dos que estão estudando, 4% ainda se encontram no ensino fundamental; 13%, no nível secundário; e 13%, no ensino superior.

10 Titulação aqui compreende cada nível de ensino concluído: o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e o Ensino

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No Plano Nacional de Educação (2000), a projeção para 2010 era de incorporação de 30% dos jovens de 18 a 24 anos, no nível superior. No início desta década, o percentual dessa população correspondia a 10%. Mesmo após um intenso crescimento da matrícula, chegou-se a 13% de taxa líquida11 e a 23,8% com relação à taxa bruta12, sendo uma das mais baixas taxas do continente latino-americano, em comparação com a Argentina (65%), o Chile (47,8%) e com a média da América Latina (31,7%), segundo dados (PNAD/IBGE, 2007; IESALC/UNESCO, 2006).

O Brasil conta, segundo dados de 2007, com 2.281 instituições de ensino superior; desse total, apenas 249 são públicas. As demais, 89%, são instituições privadas. Por meio dessas instituições, o País matriculou, em 2007, cerca de 4,8 milhões de pessoas, nos vários cursos de graduação. Nesse mesmo ano, 15,5% desse total concluíram o ensino superior, conforme dados do MEC/INEP (2007).

O gráfico a seguir nos permite uma visão geral da expansão do ensino superior no País, no período compreendido entre 1991 e 2007.

Gráfico 4 – Expansão do ensino superior no Brasil

Elaborado pelo autor com base nos dados disponibilizados pelo MEC-INEP

A oferta de vagas no ensino superior tem sido uma característica positiva dos últimos governos. Em 1991, o País ofertou pouco mais de 500.000 vagas no ensino superior. Em

11 Comparação entre o número de estudantes de 18 a 24 anos em relação ao total de jovens desse mesmo estrato.

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2005, esse número ultrapassou a casa dos 2.400.000 vagas e, em 2007, ofertou mais de 2.800.000 novas vagas. Considerando esse mesmo período, em 2001, as instituições de ensino superior disponibilizaram para o mercado de trabalho 236.410 profissionais, 717.000 em 2005 e em 2007, 740 novos profissionais concluíram o ensino superior, teoricamente, preparados para ingressar no mercado de trabalho espalhados nas vinte e sete unidades da federação, conforme dados do (MEC/INEP, 2007).

Conforme evidenciam Neves, Morche e Anhaia (2009), pesquisas atuais revelam uma presença maior de estudantes de extratos socioeconômicos inferiores, no ensino superior, em função dos programas de apoio a esses alunos, evidenciando que a educação no Brasil se encontra mais bem distribuída.

Entretanto, assegura Medeiros (2003), sem uma segura e continuada expansão do emprego moderno e sem uma mudança na estrutura das ocupações, não há por que acreditar que um esforço de criar oportunidade de acesso à educação possa transformar, por si só, a realidade de exclusão social e econômica a que o homem pobre está submetido. No Brasil, os processos educacionais de nível superior não guardam sintonia com o mundo do trabalho, não são pensados a partir de uma política macro fundada nas necessidades locais de crescimento econômico. Logo a expectativa de o futuro profissional encontrar um posto de trabalho que esteja de acordo com a sua formação tem-se mostrado remota e frustrante.

Nessa mesma linha, um estudo produzido pela Organização Internacional do Trabalho –

OIT, em 1997 (apud HOWELL, 2000), advoga que esforços individuais de qualificação e de contração no nível geral de emprego, a exemplo dos que se vêm dando no País desde os anos 90, acirram apenas a concorrência no mercado de trabalho e provocam um fenômeno que os antigos economistas institucionalistas denominaram de credencialismo: forma-se uma longa fila para cada posto de trabalho, e os empregadores passam a exigir maiores credenciais (como anos de escolarização) para as mesmas atividades e remuneração. Esse processo é válido para qualquer tipo de ocupação, de faxineiros a engenheiros ou administradores de empresas.

Como resultado desse quadro de descompasso entre o mercado de trabalho, o crescimento econômico e o ensino superior, o País contabiliza milhares de profissionais de nível superior que não encontram trabalho frente a uma gama de postos de trabalho vazios, para os quais não se encontram profissionais com a formação requerida.

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identificamos várias reformas educacionais envolvendo os demais níveis de ensino –

fundamental, médio, profissionalizante e superior –, asseguradas pelas modificações no aparato superestrutural do Estado, com reformulações jurídicas e orientações legais, tais como a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.o 9.394/96), a Reforma do Ensino Técnico e Profissional (Decreto n.o 2.208/97), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), as Diretrizes Curriculares de Ensino Médio e Diretrizes Curriculares de Ensino Superior.

Segundo Neves (1999),

A educação escolar no Brasil, no governo FHC, consolida a tendência já evidenciada nos governos Collor e Itamar Franco de responder aos imperativos da associação submissa do País ao processo de globalização neoliberal em curso no mundo capitalista, ou seja, o sistema educacional como um todo se redefine para formar um novo trabalhador e um novo homem que contribua para a superação da atual crise internacional capitalista (p. 67).

Mostrando outro ponto de vista, Schwartzman (2004) explica que a relação de causalidade não é, necessariamente, do mercado de trabalho para os sistemas educacionais; pode ser o oposto. Isso significa que o mercado de trabalho, muitas vezes, é fortemente modificado pelos processos educacionais. Isto é, são as pessoas educadas e as instituições de ensino que organizam o mercado de trabalho conforme seus interesses.

De qualquer modo, a educação, em todos os níveis, deve ser entendida como um bem público, como um direito do cidadão que deve ser provido pelo Estado, independentemente do uso prático utilitário que essa formação possa produzir.

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CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1. A BASE DE DADOS

A base de dados utilizada na pesquisa em tela tem como fonte o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), compreendendo o período entre 2004 e 2009. Foram selecionadas seis variáveis, sistematizadas anualmente, totalizando um conjunto de 972 informações trabalhadas.

O período amostral definido cobre o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem, contudo, negligenciar os anos 90, época em que o País se revelou internacionalmente como uma economia de fundamentos sólidos, mais resistente às crises externas, com a inflação controlada, em função do sucesso do plano de estabilização monetária implementado em 1994. Nesse ínterim, cresceu o número da oferta de vagas no ensino superior, e o Brasil se projetou em nível mundial como modelo de sociedade e de democracia a ser seguido, em função de sua capacidade de combater a fome e a pobreza de forma substancial, principalmente em razão da dinâmica que o Programa Bolsa Família ganhou durante o Governo Lula.

O Quadro 1 descreve as características das variáveis utilizadas.

Quadro 1 – Descrição das Variáveis Nomenclatura

da variável Descrição Fonte

NPobres Números de pessoas pobres por ente federativo, 2004 a 2009 IBGE/IPEA

ND Número de pessoas desocupadas por ente federativo, entre 2004 e 2009 IBGE/IPEA

NC Número de concluintes do ensino superior por ente federativo, entre 2004 e 2009 INEP/MEC

VBF Valor total dos benefícios recebidos do Programa Bolsa Família por estado da federação, no período de 2004 a 2009 IBGE/IPEA

PIBpc PIB Estadual per capita Geografia e Estatística PIBPCE – R$ de 2000 (mil) – Instituto Brasileiro de IBGE/IPEA

POP População total residente por ente federativo, tomando como referência a data de 1.º de abril de cada ano estimativas. IBGE/IPEA Fonte: Elaborada pelo autor

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3.2. SOBRE AS VARIÁVEIS

 Número de Pobres (NP) – Com base nos dados disponibilizados pelo IPEADATA, essa variável relaciona o número de pessoas em domicílios com renda domiciliar per capita inferior à linha de pobreza. A linha de pobreza considerada no presente trabalho está limitada a meio salário-mínimo, a preços de setembro de 2008. Estima-se que esse valor cobre o custo de uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias necessárias para suprir adequadamente a nutrição de uma pessoa, com base em recomendações da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e da OMS (Organização Mundial de Saúde). São estimados diferentes valores para 24 regiões do País. Essa série foi calculada a partir das respostas à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).

 Número de Concluintes do Ensino Superior (NC) – Descreve a evolução do número de concluintes do Ensino Superior por unidade da federação, abrangendo todas as instituições de ensino superior do País que se encontravam regularizadas junto ao Ministério da Educação (MEC) até dezembro de 2009. Essa série integra o Censo da Educação Superior/2009 realizado anualmente pelo Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e abrange os acadêmicos que iniciaram o curso superior em qualquer data anterior ao período amostral, mas que colaram grau no interstício de 2004 a 2009.

 Número de Pessoas Desocupadas (ND) – Essa variável disponibilizada pelo IPEADATA quantifica o número de pessoas que procuraram, mas não encontraram ocupação profissional remunerada na semana de referência da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE). A variável inicialmente pretendida para compor a presente pesquisa seria “Número de Desempregados”. No entanto não encontramos registro (em série) dessa variável para o período analisado. Em face da indisponibilidade desses dados,

consideramos a variável “Número de Pessoas Desocupadas” como uma proxy para o número de desempregados, adotando a estratégia de outras pesquisas desenvolvidas, a exemplo do trabalho produzido por Marinho e Araújo (2010), no artigo intitulado

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trabalho, os autores também fizeram referência a outras pesquisas que seguiram idêntica lógica.

 Valor Total dos Benefícios Recebidos por meio do Programa Bolsa Família (VBF) – O Bolsa Família é um Programa de transferência de renda com condicionalidades, focalizado em famílias pobres cadastradas em cada município do País. Resultante da unificação de diferentes programas, foi instituído por Lei em 2004. O valor do benefício, reajustável por decreto, varia conforme a renda domiciliar per capita da família, o número e a idade dos filhos. A série trabalhada apresenta o valor nominal total das transferências do Programa, tomando como referência o mês de dezembro de cada ano.

 Produto Interno Bruto per Capita (PIBpc) – Dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tomados como uma proxy para renda estadual.

 População Residente Total (POP) – Essa série é fruto do Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/2010, que tomou como referência a data de 1.º de abril de cada ano. O Instituto tem buscado conferir às pesquisas que realiza um tratamento em consonância com as práticas internacionais adotadas por outros países, o que tem permitido ao IBGE, por exemplo, estimar a parcela da população moradora, para os casos dos domicílios fechados, durante o período de realização do Censo.

3.3. SOBRE AS HIPÓTESES

Imagem

Gráfico 1 – A desigualdade pelo mundo
Gráfico 2 – P
Gráfico 3 – Total de Famílias beneficiadas por meio do Bolsa Família   Elaborado pelo autor com base nos dados do IPEADATA/2009
Gráfico 4 – Expansão do ensino superior no Brasil
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Referências

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