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Recarga artificial de aquíferos : proposta para o núcleo rural Lago Oeste, DF

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental

RECARGA ARTIFICIAL DE AQUÍFEROS:

PROPOSTA PARA O NÚCLEO RURAL LAGO OESTE, DF.

Brasília - DF

2012

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MÔNICA CALTABIANO EICHLER

RECARGA ARTIFICIAL DE AQUÍFEROS:

PROPOSTA PARA O NÚCLEO RURAL LAGO OESTE, DF.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Gonçalves Resende

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB C166r Caltabiano, Mônica Eichler.

Recarga artificial de aquíferos: proposta para o núcleo rural Lago Oeste, DF. / Mônica Caltabiano Eichler – 2012.

107f. ; il.: 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Prof. Dr. Marcelo Gonçalves Resende

1. Meio ambiente. 2. Recursos hídricos. 3. Proteção ambiental. 4. Águas pluviais. I. Resende, Marcelo Gonçalves, orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

À Diretoria Colegiada da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal que proporcionou a formação dessa servidora, acreditando ser o caminho da capacitação o mais acertado para a condução de suas atividades.

Ao amigo Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do rio Maranhão, Célio Ernesto Brandalise, que me mostrou o caminho do desprendimento, da importância do envolvimento com as causas coletivas e que me fez descobrir as belezas naturais guardadas pela região do Núcleo Rural Lago Oeste.

Ao meu marido, companheiro em todas as horas, e meus filhos que sempre compreenderam e respeitaram minhas horas de estudos e a meus pais e irmãos que sempre incentivaram minhas investidas.

Aos Professores Drs. Murilo Gomes Torres, Perseu Fernando dos Santos e Lucijane Monteiro de Abreu, pelas críticas e sugestões nos exames de qualificação e avaliação final.

Ao professor, orientador e amigo, Marcelo Gonçalves Resende que com sua segurança e serenidade conduziu-me à conclusão de mais uma etapa de vida.

A todos os demais professores e colegas de curso que participaram dessa caminhada e aos funcionários da UCB que também contribuíram para a realização desse trabalho, em especial à Fátima da biblioteca que analisou minhas referências e citações e a Noemi da secretaria do curso, pelo apoio prestado.

Aos colegas de trabalho, principalmente, Silena Jaime que me ouviu e incentivou em momentos de angústias, Hudson Oliveira que trilhou comigo o caminho dessa capacitação, Cristiane Castro que disponibilizou os dados referentes aos processos de outorga do NRLO, Rafael Mello e Pablo Serradourada que compartilharam comigo seus conhecimentos e percepções sobre temas relacionados nesse estudo.

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"Comece por fazer o que é necessário, depois o que é possível, e de repente estará a fazer o impossível".

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RESUMO

CALTABIANO, Mônica Eichler. Recarga artificial de aquíferos: proposta para o Núcleo Rural Lago Oeste, DF. 2012. 107 folhas. Dissertação (Mestrado) Planejamento e Gestão Ambiental. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

A gestão de recursos hídricos tem como objetivo maior assegurar a disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficientes para atendimento das demandas das atual e futura gerações. O presente estudo propõe avaliar a viabilidade de implantação de sistema de recarga artificial de aquíferos no Núcleo Rural Lago Oeste, Distrito Federal, como ferramenta de gestão de recursos hídricos; identificar as técnicas adequadas à área de estudo e relacionar alguns fatores referentes à outorga do sistema de recarga artificial de aquíferos que devem ser abordados na revisão da Resolução Normativa nº 350/2006, do órgão gestor dos recursos hídricos do Distrito Federal, que trata da outorga do direito de uso dos recursos hídricos distritais. O estudo se desenvolveu por meio de pesquisa bibliográfica sobre o reflexo da ocupação urbana nos recursos hídricos subterrâneos; os mecanismos de gestão de recursos hídricos; as características físicas da área de estudo e as técnicas de recarga artificial de aquíferos. Verificou-se que as características presentes na área de estudo como baixa declividade (0 a 8%), condutividade hidráulica alta e moderada, e espessura do sistema aquífero P1 de 25 metros, recobrindo subsistema aquífero R3/Q3, conferem, à área de estudo, condições adequadas para a utilização de sistema de recarga artificial de aquíferos. A pesquisa sobre as técnicas de recarga artificial de aquíferos permitiu concluir que a técnica utilizada por Cadamuro e Campos (2005), que utiliza sistema de captação de água de chuva por calhas instaladas em telhado e caixas de infiltração no solo é viável para o Núcleo Rural Lago Oeste, em função das condições adequadas existentes e deve ser realizada juntamente com a implantação de sistema de recarga artificial que utiliza valas de infiltração dispostas ao longo das vias e bacias de infiltração construídas dentro das chácaras. A concessão de outorga, nesse caso, deve ser obrigatória e exigir a existência de condições naturais adequadas para a recarga na área onde será implantado o sistema; a construção do sistema de recarga artificial dentro dos padrões técnicos adotados pelo órgão outorgante; a implantação de sistema de monitoramento do aquífero recarregado, entre outras condicionantes que tornem a recarga artificial de aquíferos uma ferramenta segura, eficiente e passível de controle e fiscalização pelo órgão outorgante. Foi identificada a ausência de leis e normatização sobre reuso de água no DF e a necessidade de inserir o tema na pauta dos colegiados integrantes do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do DF de forma a embasar resolução normativa do órgão gestor distrital sobre o tema. O estudo ficará à disposição do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do Rio Maranhão (CBH/AM), organismo integrante do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal, com o intuito de nortear as ações deste colegiado voltadas à proteção dos recursos hídricos subterrâneos em sua área de atuação.

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ABSTRACT

The water management aims to ensure greater water availability in quantity and quality sufficient to meet the demands of current and future generations. The present study proposes to assess the feasibility of implementation of a system of artificial recharge of aquifers in Rural West Lake Center, Federal District, as a tool for water resources management, identify the appropriate techniques to the study area and relate some factors related to the grant of the system of artificial recharge of aquifers that must be addressed in the revision of Ruling No. 350/2006, of the national manager of water resources of the Federal District, which deals with granting the right to use the district water resources. The study was conducted by means of literature on the impact of urban occupation in groundwater resources, the mechanisms for managing water resources, the physical characteristics of the study area and the techniques of artificial recharge of aquifers. It was found that the characteristics in the present study as low gradient (0-8%), moderate and high hydraulic conductivity and thickness of the P1 aquifer system of 25 feet, covering aquifer subsystem R3/Q3, confer to the area of study appropriate conditions for using system of artificial recharge of aquifers. The research on the techniques of artificial recharge of aquifers showed that the technique used by Cadamuro and Campos (2005), which uses the system to capture rainwater by gutters installed in roof and boxes of soil infiltration is feasible for the Rural Center West Lake, according to the appropriate conditions existent and must be held together with the implantation of artificial recharge system using swales arranged along the paths and infiltration basins constructed within the farms. The granting of the award in this case should be mandatory and require the existence of natural conditions suitable for recharge in the area where the system is deployed, the construction of the system of artificial recharge within the technical standards adopted by the grantor agency; system deployment monitoring of the aquifer recharge, among other characteristics that make the artificial recharge of aquifers a safe, efficient and capable of control and supervision by the national affiliate. We identified the absence of laws and regulation on water reuse in the DF and the need to put the issue on the agenda of the collegiate members of the System of Water Resources Management in the Federal District in order to base regulatory resolution authorizing the district court on the issue. The study will be available to the Watershed Committee of the tributaries of the river Maranhão (CBH/AM), member of the System of Water Resources Management in the Federal District, in order to guide the actions of this collegiate aimed at protecting groundwater resources in your area.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...09

1.1 JUSTIFICATIVA...10

1.2 OBJETIVO GERAL...11

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...11

2 REFERENCIAL TEÓRICO...13

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: DINÂMICA DE FORMAÇÃO E RECARGA...20

2.2 BREVE HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA NO DF...23

2.3 SUSTENTABILIDADE...25

2.4 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS...26

3 MATERIAIS E MÉTODOS...33

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...34

4.1 NÚCLEO RURAL LAGO OESTE...36

4.2 ASPECTOS FÍSICOS DA BACIA DO RIO MARANHÃO...52

4.2.1 Bacia Hidrográfica do rio da Palma...54

4.2.2 Bacia Hidrográfica do ribeirão da Contagem...58

4.2.2.1 Reserva Biológica da Contagem...58

4.2.3 APA de Cafuringa...60

4.3 BACIA HIDROGRÁFICA DO LAGO PARANOÁ...66

4.3.1 Parque Nacional de Brasília...70

5 RECARGA ARTIFICIAL DE AQUÍFEROS...72

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES...86

6.1 INDICAÇÃO DE TÉCNICA DE RECARGA ARTIFICIAL DE AQUÍFEROS PARA O CASO DO NRLO...96

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...98

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1 INTRODUÇÃO

Tudo o que vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver – uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. (BOFF, 1999).

O presente trabalho baseia- se na simplicidade do pensamento acima e embarca na ideia de que o planejamento nada mais é que um ato de cuidado que deve ser praticado a tempo. O ato de planejar de nada adianta se não for posto em prática. No caso do planejamento ambiental, este carece de execução imediata diante de tanta degradação que o modo de vida contemporâneo promove, dia após dia, diante dos olhos de todos nós.

As políticas públicas são permeadas pela complexa dinâmica de negociação dos espaços e bens públicos imputando ao planejamento ambiental a necessidade de conter fundamentos essenciais capazes de modificar a substância das relações homem-natureza de forma a diminuir o abismo que os separa (MORAES, 2003).

Não há como pensar em planejamento ambiental sem considerar a água e não há como manter a água em quantidade e qualidade suficientes sem se basear no planejamento ambiental, com seus múltiplos aspectos.

O emprego da técnica de recarga artificial de aquíferos oferece as condições necessárias para que a quantidade e a qualidade das águas subterrâneas permaneçam em condições suficientes para garantir a continuidade dos usos frente às demandas atuais e futuras.

A recarga artificial de aquíferos consiste na introdução não natural de água em um aquífero para aumentar a disponibilidade hídrica e/ou para melhorar a qualidade da água subterrânea. Sua aplicação pode contribuir significativamente para o aumento da disponibilidade hídrica de regiões abastecidas exclusivamente por água subterrânea, além de tornar o uso do recurso hídrico sustentável, garantindo assim o abastecimento das gerações futuras (MURILLO DIÁZ et al., 1991).

O estudo em tela se restringe ao planejamento e gestão dos recursos hídricos subterrâneos do Núcleo Rural Lago Oeste (NRLO), no Distrito Federal (DF), e foi desenvolvido em oito tópicos, sendo o primeiro deles essa introdução.

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O terceiro tópico apresenta a metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho. O quarto tópico descreve as características físicas da área estudada e suas relações com as bacias hidrográficas do rio Maranhão e do Lago Paranoá, ambas, áreas de influência direta do NRLO.

O quinto tópico aborda o tema recarga artificial de aquíferos e as técnicas que permitem sua realização.

O sexto tópico promove uma análise dos dados levantados na pesquisa bibliográfica, indicando, como resultado do trabalho, as técnicas adequadas para o caso específico da área estudada e alguns tópicos que devem ser abordados pela Resolução Normativa da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (ADASA) n° 350/2006, referente à outorga do direito de uso dos recursos hídricos para recarga artificial de aquíferos.

O sétimo tópico conclui o estudo e recomenda algumas ações para que a gestão dos recursos hídricos do NRLO se processe de forma adequada.

O oitavo e último tópico registra as fontes bibliográficas consultadas durante a elaboração do trabalho.

1.1 JUSTIFICATIVA

O DF é considerado uma área de grande sensibilidade ambiental, principalmente em relação aos recursos hídricos. Por ser uma região de cabeceiras, seus rios apresentam baixa vazão o que aumenta a dependência da descarga de base oferecida pelos aquíferos. Suas terras abrigam nascentes que contribuem para a formação dos rios Tocantins, Paraná e São Francisco, rios que compõem grandes e importantes bacias hidrográficas brasileiras.

A dinâmica de ocupação territorial, no DF, se caracteriza pela conversão de áreas rurais em áreas urbanas sem o devido planejamento urbano e ambiental, o que tem provocado impactos consideráveis sobre os recursos naturais, principalmente, os recursos hídricos.

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Por estar muito próximo do centro de Brasília, o NRLO é alvo de grande pressão imobiliária, o que provocou o parcelamento de algumas de suas 1.235 chácaras. A pressão imobiliária, característica do histórico de ocupação do DF, somada à permissividade por parte dos gestores públicos, produziu a ocupação irregular e, consequentemente, sem planejamento, de grandes áreas por todo o DF, causando alguns danos irreversíveis aos recursos hídricos.

O parcelamento das chácaras da Colônia Agrícola Vicente Pires, exemplo dessa ocupação irregular, provocou o soterramento de várias nascentes, a abertura de centenas de poços, para explotação de água, e de fossas para disposição de efluentes sanitários, sem as devidas autorizações.

Outro exemplo é o caso dos quase 600 condomínios residenciais que se formaram nas proximidades de Brasília, como os localizados em áreas rurais das Regiões Administrativas de São Sebastião e Sobradinho, sem infraestrutura de saneamento básico, que também utilizam poços e fossas, tal qual Vicente Pires.

O presente trabalho se justifica exatamente pela oportunidade e necessidade de promover o planejamento e a gestão dos recursos hídricos subterrâneos de região de grande sensibilidade hídrica, caso do NRLO, que se apresenta como área de recarga natural de aquíferos, além de ir ao encontro das Leis Distritais nº 2.978, de maio de 2002, e nº 3.793, de 2 de fevereiro de 2006, que tratam da obrigatoriedade de instalação de sistemas de recarga artificial de aquíferos, no DF.

A hipótese de trabalho testada por essa dissertação refere-se à viabilidade de empregar a recarga artificial de aquíferos como ferramenta de gestão de recursos hídricos.

A presente dissertação apresenta os seguintes objetivos:

1.2 OBJETIVO GERAL

 Avaliar a viabilidade de aplicação de técnica de recarga artificial de aquíferos, no NRLO, como ferramenta de gestão de recursos hídricos.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Inúmeros são os trabalhos desenvolvidos a respeito de ocupação desordenada do solo, interferências antrópicas e suas relações com os recursos hídricos subterrâneos. Entre eles, não importa a palavra-chave, o enfoque, ou a metodologia, que certamente varia entre eles, bem como variam os instrumentos utilizados para captura de dados. Um ponto parece ser recorrente em muitos desses trabalhos: o fato de a interferência antrópica, especificamente a que se refere à ocupação desordenada do solo, causar alguns danos irreversíveis aos recursos naturais, dentre os quais esse trabalho dará destaque ao recurso hídrico subterrâneo.

No caso de Brasília, o plano de ocupação foi baseado em estudos técnicos que consideraram alguns aspectos ambientais, porém, o real desenvolvimento da cidade não seguiu um modelo sustentável e o crescimento desordenado se sobrepôs ao uso racional dos recursos naturais. Atualmente, o DF convive com os conflitos gerados por essa dinâmica de ocupação insustentável (BRASIL, 2003).

Ao abordar os conflitos da urbanização e a sustentabilidade da bacia do Lago Paranoá, Menon (2006) destaca a função do Estado como empreendedor, o qual deve ser capaz de gerenciar e administrar a expansão populacional de forma a se antecipar, organizar e fiscalizar, ativamente, os conflitos sociais, ambientais, culturais e econômicos existentes, evitando o estabelecimento de novos conflitos. O autor associa a sustentabilidade ao conceito de qualidade de vida e salienta que o futuro da sociedade dependerá da forma como os planejadores, gestores e governos irão tratar os problemas urbanos e os impactos gerados pelo crescimento populacional.

Menon (2006) compartilha do pensamento de Fonseca (2001) a respeito da insuficiência das soluções propostas para os problemas socioambientais, seja pelo fato de órgãos públicos e sociedade buscarem combater apenas os efeitos, fugindo do enfrentamento das questões em suas origens, seja pelos limitados recursos financeiros disponibilizados para a realização de ações adequadas.

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metabolismo circular está refletido no conceito de sustentabilidade que permeia os capítulos da Agenda 21 para a qual o crescimento das cidades e os problemas ambientais associados a padrões não sustentáveis de consumo influenciam a capacidade do planeta de sustentar a vida.

Um exemplode uso não sustentável de recurso hídrico, no DF, é o caso da bacia do rio Descoberto. A forma com que se deu a ocupação do solo na referida bacia comprometeu a disponibilidade hídrica do reservatório, responsável por cerca de 70% do abastecimento público distrital (TEZA, 2008).

Teza (2008) analisou a evolução da cobertura vegetal dessa bacia em quatro momentos: décadas de 70, 80, 90 e após o ano 2000. A análise evolui para a prospecção de um cenário preocupante. As vazões analisadas por meio das séries históricas registradas por estações da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (CAESB) permitiram, ao autor, identificar uma curva de vazão tendendo a zero (Q = 0) no prazo de 38 anos a partir de 2008. Como justificativa para tal cenário, foi apresentada uma variação negativa de vegetação na ordem de - 60,98% e coeficiente r² (chuva e vazão) de 0,319, considerados os dados do período de 1989 a 2007.

O referido estudo cita o Decreto nº 88.940, de 1983, que cria a Área de Proteção Ambiental (APA) do Descoberto. De acordo com o Decreto, novos planos de urbanização que não contemplem a construção de redes de coleta e estações de tratamento e destino final dos efluentes, em conformidade com a CAESB e em comum acordo com os órgãos ambientais distritais, têm sua aprovação proibida (TEZA, 2008).

O referido Decreto estabelece, como medida de proteção e recuperação da APA, a adoção de uma faixa verde em torno do Lago do Descoberto onde somente atividades de florestamento e reflorestamento, com características de proteção e conservação de mananciais, serão permitidas (BRASIL, 1983).

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Moraes (2003) estudou a ocupação e o uso do solo na bacia do rio de Ondas, em Barreiras, BA e constatou que a ausência de planejamento promoveu graves impactos ambientais como a descaracterização da vegetação nativa ao longo dos leitos; processos erosivos; alteração da qualidade da água e de sua vazão; alterações nos ecossistemas.

O autor conclui que o planejamento ambiental deve conter fundamentos essenciais capazes de modificar a substância das relações homem-natureza, aproximando-os. Na visão da autora as políticas públicas sofrem influência da dinâmica dos processos de negociação dos espaços e bens públicos. Negociação esta exemplificada pelos casos analisados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada pela Câmara Legislativa do DF, no ano de 1995, que investigou o caso da grilagem de terras no DF, situação que será abordada mais à frente, nesse trabalho.

A melhoria dos níveis de qualidade de vida deve ser compatível com a preservação ambiental, considerando os aspectos social, econômico, ecológico, ambiental, espacial e cultural da sustentabilidade, além das políticas nacional e internacional (SACHS, 1993).

Sachs (1993) formulou uma estratégia de transição para o século XXI que aborda a relação existente entre o desenvolvimento e o meio ambiente. O autor enfatiza a necessidade de conter o consumo excessivo; a dependência existente entre o sistema econômico e os sistemas ecológicos; o risco de acreditar que as tecnologias serão suficientes para garantir as adequações necessárias; o conceito de capital natural e a ampliação dos critérios para estimar valor.

Vasconcelos Filho (2005) identificou características comuns na forma de ocupação dos condomínios do DF: a falta de disciplinamento ou de normatização dos parcelamentos de chácaras ou sítios cobertos por campos e cerrados com preservação moderada. A ocupação descaracteriza a região de vocação rural com infraestrutura inadequada para o adensamento que virá a acontecer. A inadequação é observada na falta de integração entre as soluções dadas para o transporte, suprimento de energia, drenagem urbana e saneamento básico.

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locais de tratamento e disposição de efluentes líquidos no solo, tais como fossas sépticas associadas a sumidouros, vala de infiltração ou filtro anaeróbio, a ocorrência de leitos rochosos fissurados, sobretudo com rasas coberturas de solo, implica em maiores riscos de poluição das águas subterrâneas. Assim, o adensamento da ocupação gerado pelos condomínios residenciais, tipicamente urbanos, sem a existência de redes coletoras de esgoto doméstico, pode comprometer a exploração de águas subterrâneas para o consumo humano (VASCONCELOS FILHO, 2005).

Sobre esse comprometimento, Lewis et al. (1986) alertaram para o risco de poluição do lençol freático por sistemas de disposição local de esgotos. As camadas não consolidadas de solo constituem sistema eficaz de purificação de efluentes sanitários, removendo microorganismos fecais e degradando vários compostos químicos. Porém, há que se verificar, em cada local, se a conformação do subsolo oferece condições seguras para o emprego desse tipo de solução para os esgotos domésticos. Os autores assinalaram que o lençol freático raso (ainda que sazonalmente) ou de áreas com leito rochoso fissurado, recoberto por solos rasos, sofrem maiores riscos de contaminação.

Outro fator considerado como risco de contaminação dos aquíferos é a perfuração de poços para extração de água subterrânea. Segundo Vasconcelos Filho (2005), um poço construído de forma inadequada, sem o correto isolamento sanitário e sem área de proteção da captação, representa uma fonte potencial de contaminação para os aquíferos subjacentes, bem como os poços abandonados sem obturação ou obstruídos com uso de entulhos e outros materiais inadequados.

Para o estudo proposto é necessário considerar fatores diversos dos citados até agora sobre ocupação do solo, planejamento ambiental, sustentabilidade, entre outros. É necessário considerar os aspectos físicos da área estudada.

O DF abriga o divisor das águas superficiais das bacias do Paraná, São Francisco e Tocantins. Por ser região de cabeceiras, seus rios, apesar de perenes, são de pequeno e médio porte, colaborando para uma situação desfavorável dos recursos hídricos locais em função de implicações topográficas, geomorfológicas e geológicas. A disponibilidade hídrica social é de 1.752 m³/hab/ano para um consumo diário por habitante de até 400 litros, quando o valor ideal é de 250 l/hab/dia. Esse fato coloca o DF em posição de alerta para a possibilidade de escassez hídrica futura (NETTO, 2005).

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de água no Núcleo Rural Pipiripau. Os produtores da bacia estabeleceram regras de alocação negociada de água e tiveram suas vazões de captação restringidas até a chegada do período chuvoso (BRASIL, 2010). O mesmo se repetiu em 2011, quando a ADASA estabeleceu um plano de uso da água aos produtores locais que limitou a quantidade e o tempo de captação, de forma a garantir a disponibilidade hídrica a todos os usuários da região.

O fato de a água subterrânea ser um recurso invisível dificulta a compreensão de sua sensibilidade e a determinação da forma mais eficiente de sua gestão. No Brasil, muitas são as cidades abastecidas total ou parcialmente por águas subterrâneas. No estado de São Paulo, 75% das cidades são abastecidas por poços. No Paraná e Rio Grande do Sul, 90% das cidades são abastecidas por águas subterrâneas. As vantagens desse tipo de abastecimento estão relacionadas com: maior proteção contra a poluição; custo de captação e de distribuição mais barato em função da proximidade com a área consumidora; em geral, não precisam de tratamento, sendo mais saudável seu consumo; possibilidade de planejamento modular na oferta de água à população, o qual dispensa grandes investimentos de capital de uma única vez (PEDROSA; CAETANO, 2002).

O processo de urbanização não apenas gera problemas ambientais, como é um problema ambiental em si, uma vez que se realiza por meio de profundas modificações do solo, da geomorfologia, da vegetação, da fauna, da hidrologia, do ar e do clima. Tão grande é a preocupação com esse tema que a Agenda 21, um marco do ambientalismo contemporâneo, dedica um capítulo à promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos. A expansão urbana deve ser compatível com os limites da sustentabilidade ambiental. Isso faz do meio ambiente equilibrado e da sustentabilidade ambiental, fundamentos do planejamento urbano (BRAGA; CARVALHO, 2003).

Maciel (2002) analisou os impactos ambientais causados pela ação antrópica durante o processo de ocupação da Colônia Agrícola Vicente Pires, no DF, e concluiu que a ocupação ocorreu de forma indiscriminada e predatória dos recursos naturais, principalmente do recurso hídrico e acarretou danos ambientais locais considerados irreversíveis.

As cidades são as grandes causadoras de impacto na superfície da Terra e o uso urbano não industrial contribui com mais da metade das cargas poluidoras (tDBO/dia) dos mananciais.

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convive com a ‘indústria dos lotes’ que causa um efeito de difícil reversão (BRAGA; CARVALHO, 2003).

À ADASA compete a regulação dos usos dos recursos hídricos, por meio de outorga do direito de uso; dos serviços públicos de saneamento básico, prestados pela CAESB; e de energia elétrica, prestados pela CEB. A Agência foi criada em 2004 e reestruturada, em 2008, por meio da Lei Distrital nº 4.285 que elenca suas competências.

Em estudo desenvolvido para a ADASA com o objetivo de formular as diretrizes e critérios de outorga das águas subterrâneas do DF, Campos, Gaspar e Gonçalves (2007) identificaram que essas águas têm sua maior exploração por parte dos condomínios irregulares. Os autores utilizaram o trinômio impermeabilização, explotação e contaminação como elemento norteador das outorgas, com o intuito de preservar, ao máximo possível, a dinâmica e a sustentabilidade dos sistemas aquíferos do DF. A impermeabilização superficial afeta os processos de recarga natural, tendo em vista que a renovação dos aquíferos tem início no processo de infiltração ocorrido na superfície.

A explotação ou sobrexplotação pode exaurir os sistemas aquíferos, tornando o uso insustentável. Quanto à contaminação dos recursos hídricos, dos focos a serem observados, destaca-se a questão das fossas, muitas vezes construídas no raio de influência dos poços perfurados (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007).

OContrato de Concessão nº 01/2006 firmado entre ADASA e CAESB com o objetivo de regular a prestação do serviço público de saneamento básico, constituído pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário, em sua cláusula quarta trata da obrigação da expansão e ampliação do sistema de saneamento básico, conforme citação abaixo:

A CONCESSIONÁRIA obriga-se a prover o atendimento da atual demanda dos serviços concedidos e também a implantar novas instalações, bem como ampliar e modificar as existentes, de modo a garantir o atendimento da futura demanda de seu mercado.

A cláusula quinta elenca os encargos da concessionária, inerentes à concessão regulada pelo referido contrato, das quais para o presente trabalho cabe ressaltar:

I – fornecer os serviços de saneamento básico a consumidores localizados em sua área de concessão, nos pontos de entrega definidos nas normas dos serviços, pelas tarifas homologadas pela ADASA e nos níveis de qualidade e continuidade estipulados na legislação, nas normas específicas e no ANEXO II deste CONTRATO;

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III – dar atendimento abrangente ao mercado, sem exclusão das populações de baixa renda e das áreas de baixa densidade populacional, inclusive as rurais, atendidas a legislação específica;

IV – realizar as obras necessárias à prestação do serviço público de saneamento básico, inclusive reposição de bens, operando as instalações e os equipamentos correspondentes de modo a assegurar a regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia no atendimento e modicidade das tarifas, nos termos da Terceira Subcláusula da Cláusula Segunda deste contrato; [...] (CAESB, 2006b).

A CAESB iniciou em 2003 um processo de incorporação dos sistemas de abastecimento de água dos condomínios, porém não estendeu a rede coletora de esgoto para essas áreas, que continuam sendo servidas por sistema de disposição local de esgotos e abastecidas por poços tubulares (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007)

Em 2011, a CAESB apresentou ao Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal e ao Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paranoá uma proposta de expansão de sua rede de distribuição de água com captação no Lago Paranoá, conforme linha vermelha identificada na Figura 1 (CAESB, 2011). A expansão não atenderá à região do NRLO e não foi apresentada acompanhada de ampliação da rede de esgotamento sanitário para a região de sua cobertura.

Figura 1 - Proposta de nova rede de distribuição de água.

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É fundamental a integração entre as políticas de gestão de recursos hídricos e uso e ocupação do solo tanto no sentido de coibir os processos de degradação dos mananciais, como no de se evitar, ou atenuar, os problemas decorrentes do desequilíbrio do regime hidrológico (BRAGA; CARVALHO, 2003).

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: DINÂMICA DE FORMAÇÃO E RECARGA

A água está em contínuo movimento e passa do mar, dos rios, dos lagos e lagoas para a atmosfera e desta retorna novamente para a terra num ciclo denominado ciclo hidrológico. A água precipitada em forma de chuva, neve ou granizo ao alcançar o solo se distribui por diferentes caminhos (MURILLO DIÁZ et al., 1991).

A água de precipitação pode cair diretamente no solo e infiltrar-se, ficando sujeita à evaporação, à absorção pelas plantas ou ao escoamento em profundidade em direção à zona saturada subsuperficial, promovendo a recarga natural dos aquíferos. A recarga natural, responsável pela formação e manutenção dos recursos hídricos subterrâneos, é resultante da diferença entre as entradas de água para o meio subterrâneo e as saídas de água do meio subterrâneo. O processo varia em resposta aos efeitos climáticos sazonais e de longo prazo, podendo responder com um aumento ou diminuição no gradiente hidráulico através de uma mudança nos níveis piezométricos, o que por sua vez se traduz numa alteração do armazenamento subterrâneo (DIAMANTINO, 2009).

Pelo fato das águas subterrâneas serem um recurso invisível sua gestão é mais complexa e exige maiores gastos para o seu monitoramento. Uma característica da água subterrânea que exemplifica bem a sensibilidade desse recurso aparece em Cleary (1989) quando o referido autor compara a água subterrânea com a água superficial.

A comparação identifica a velocidade da água subterrânea como sendo de 1 m/dia, numa situação de velocidade alta, com fluxo laminar, enquanto um rio rápido pode mover-se a 1 m/segundo, com fluxo turbulento. O tempo médio de residência da água superficial é de algumas semanas enquanto o da água subterrânea é estimado em 280 anos, em média. Esse longo período de residência da água subterrânea faz do aquífero um ambiente extremamente sensível à contaminação, que se ocorrer, pode levar séculos até que se processe a descontaminação por mecanismos de fluxo natural (CLEARY, 1989).

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volume hídrico, não atendem à totalidade da demanda. Para complementar a fração não atendida, a opção tem sido a crescente utilização das águas subterrâneas, principalmente, durante os períodos de estiagem, quando se percebe o potencial dessas águas. Esses fatores implicam em planejamento e gestão, do uso dessas águas, voltados a alternativas que garantam a sustentabilidade do sistema (BARROS, 2005).

As águas subterrâneas representam a parcela do Ciclo Hidrológico que transita pelo subsolo. Além de serem utilizadas no atendimento da demanda antrópica, têm funções ambientais significativas, tal como garantir a perenidade das drenagens superficiais nos períodos de estiagem (BARROS, 2005).

No subsolo, as águas ficam contidas em rochas com formação ou estrutura geológica que permitem a infiltração, circulação, armazenamento e extração das águas subterrâneas por meio de suas fraturas ou poros. Essas rochas-reservatório são denominadas aquíferos. Os aquíferos são caracterizados por seus parâmetros dimensionais e hidrodinâmicos e são agrupados em porosos ou intergranulares; fissurais ou fraturados e cárstico ou cárstico-fissural. Desempenham funções de produção, estocagem, filtragem, transporte e de reserva estratégica (BARROS, 2005).

Os aquíferos são classificados em confinados (na presença de lençol freático) e não confinados, freáticos ou livres (na ausência do lençol freático). O confinamento impede a movimentação vertical da água subterrânea (CLEARY, 1989).

As águas subterrâneas, no DF, ocupam dois contextos geológicos diferenciados. O manto de cobertura detrito-laterítico e as rochas metamórficas, que podem estar aflorantes ou mascaradas pelo referido manto de intemperismo. Os aquíferos do Domínio Poroso ou Intergranular encontram-se instalados no manto detrítico-laterítico e capeiam cerca de 80% da área do DF com espessura variável, podendo atingir pouco mais de 80 metros. Os aquíferos do Domínio Fissural ou Fraturado encontram-se em rochas metamórficas, não apresentando porosidade primária, as águas infiltram, circulam e são armazenadas nas fraturas e fissuras existentes nas rochas (BARROS, 2005).

Segundo Barros (2005), devido à variedade de rochas metamórficas identificadas, o comportamento dos aquíferos do Domínio Fissural é diferenciado e pode ser agrupado em:

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 Sistema aquífero do Grupo Canastra: representado por filitos que são pouco favoráveis para atuar como reservatórios, com importância hidrogeológica relativa baixa;

 Sistema aquífero do Grupo Bambuí:com importância hidrogeológica relativa média;

 Sistema aquífero do Grupo Araxá: composto principalmente por xistos, que podem eventualmente conter lentes de quartzito/quartzo-xisto, com pequena importância hidrogeológica.

Os aquíferos do Domínio Cársticos ou Cárstico-Fissural estão instalados principalmente nas lentes de rochas carbonáticas situadas estratigraficamente na unidade mais superior do Grupo Paranoá. Por sua extensão limitada não têm uma importância hidrogeológica significativa (BARROS, 2005).

As águas rasas, com profundidades inferiores a 30 metros, situam-se quase que exclusivamente no manto de cobertura detrito-laterítico sendo sua principal fonte de recarga a precipitação pluviométrica, que no DF varia entre 1.550 e 1.600 mm/ano, com percentual médio de evaporação de 65%. A explotação dessas águas se dá por meio de poços rasos, tipo cacimba ou por poços radiais (BARROS, 2005).

Nas áreas de recarga regional, como as chapadas, em torno de 12% do volume de chuvas infiltram-se no subsolo e 75% desse total alcançam a zona saturada, porém a ocupação desordenada do solo tem diminuído significativamente as áreas de recarga natural, no DF (BARROS, 2005).

As águas profundas, com profundidades superiores a 30 metros, ocorrem principalmente nos sistemas fissurais e/ou de dissolução cárstica instalados nas rochas metamórficas. A reposição dessas águas ocorre por intermédio do manto de intemperismo, diretamente nos afloramentos ou nos riachos-fenda. O escoamento hídrico é lento e verticalizado. Seus principais exutórios são as drenagens e as fontes. Essas águas são explotadas por meio de poços tubulares (BARROS, 2005).

Existe uma intercomunicação entre os aquíferos poroso e fissural/cárstico que permite que a água armazenada por um seja cedida para as rochas subjacentes, que têm condições de infiltração mais restritas (BARROS, 2005).

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e lento que o dos rios. Os aquíferos porosos são mais susceptíveis à poluição/contaminação do que os fissurais ou cársticos, devido principalmente à sua posição topográfica em contato com a superfície (BARROS, 2005).

As principais fontes de contaminação dos aquíferos do DF são de origem sanitária (esgotamento sanitário), agropecuária (agrotóxicos), do setor de serviços (postos de gasolina, garagens e efluentes) e industrial (efluentes e resíduos sólidos). Destacam-se os poços abandonados, mal locados e/ou destamponados, que fragilizam a proteção natural das águas subterrâneas e os condomínios que representam atualmente o maior perigo potencial para as águas subterrâneas do DF. Além de diminuírem as áreas de recarga natural, os condomínios extraem grande quantidade de água dos aquíferos sem qualquer tipo de monitoramento e injetam volume considerável de esgoto e de outras águas servidas no subsolo (BARROS, 2005).

As áreas mais favoráveis do ponto de vista hidrogeológico são as planas a suavemente onduladas, com quartzitos e metarritmitos arenosos mascarados pelo manto detrito-laterítico. São exemplos, as áreas de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Riacho Fundo II, Núcleo Rural Lago Oeste e algumas de condomínios horizontais. As áreas menos favoráveis à explotação das águas subterrâneas estão situadas nos vales com declividades altas, onde os latossolos argilosos ou cambissolos estão sobre ardósias ou xistos (BARROS, 2005).

Importante salientar que apesar das águas subterrâneas apresentarem um potencial expressivo, algumas regiões do DF sofrem com estresse hídrico, fato que, segundo Hirata, Zoby e Oliveira (2011), remete à necessidade de preservar ainda mais essas águas que garantem a perenidade dos cursos de água distritais, durante o período de estiagem.

2.2 BREVE HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA NO DF

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GOLDER/FAHMA, 2004a).

Na década de 70, com uma acentuada diminuição das obras, caiu a oferta de emprego na construção civil, principal setor gerador de emprego na época, e ganhou peso, como fonte geradora de emprego, o setor público. Com a continuidade do fluxo migratório, os setores de comércio e de serviço foram estimulados; surgiram núcleos habitacionais periféricos ao Plano Piloto, alguns originados nos acampamentos de trabalhadores da construção civil, outros com a finalidade de atender à demanda daqueles que não foram absorvidos por este setor. Dessa forma foram criadas as cidades-satélites de Taguatinga, em 1958, Sobradinho e Gama, em 1960, Núcleo Bandeirante, em 1961, Guará, em 1966 e Ceilândia, em 1970 (CONSÓRCIO GOLDER/FAHMA, 2004a).

Percebe-se que a ocupação territorial ocorreu de maneira polinucleada e desordenada, tendo o Plano Piloto como centro e diversos vetores de expansão. Se houve algum critério de ocupação, este foi o de locar as cidades-satélites para fora da bacia do Lago Paranoá, com o intuito de preservar as características naturais da mesma (CONSÓRCIO GOLDER/FAHMA, 2004a).

A partir dos anos 80, o Governo do Distrito Federal (GDF) implantou uma política de contenção do afluxo populacional numa tentativa de controlar as ocupações urbanas. Tal política levou à especulação imobiliária empurrando a população menos favorecida para o entorno do DF, local desprovido de infraestrutura, de planejamento urbano, de serviços públicos, com altas taxas de crescimento populacional e que funcionava apenas como dormitório (CONSÓRCIO GOLDER/FAHMA, 2004a).

Entre os anos oitenta e noventa ocorreu uma forte ocupação de áreas próximas ao Plano Piloto por condomínios horizontais e verticais, tais como os ocorridos na região de Sobradinho, Vicente Pires, Jardim Botânico, Riacho Fundo I e II, São Sebastião, Águas Claras, entre muitos outros. No ano de 1995 existiam 529 empreendimentos cadastrados, dos quais 297 foram inviabilizados pelo GDF e 232 foram analisados quanto à possibilidade de legalização. Desse montante de 232, 144 eram parcelamentos urbanos e 88, rurais (MALAGUTTI, 1999).

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quais se destacaram os irmãos Passos, envolvidos com falsificação de documentos em cartórios goianos e mineiros, próximos ao Distrito Federal (DF, 1995).

Segundo Paviani (2009) durante o Governo Arruda, entre 2007 e 2010, houve a proposição de novos bairros como o Noroeste, Catetinho, Guará III, Quaresmeira, Jóquei Clube, e a expansão do Sudoeste. A iniciativa privada iniciou, nesse período, a construção de diversos condomínios verticais de luxo no local do antigo estádio de futebol ‘Pelezão’ e condomínios horizontais com propostas ecológicas como os condomínios Reserva by Santa Mônica, Alphaville, Condomínio Verde, entre dezenas de outros.

2.3 SUSTENTABILIDADE

Segundo Brundtland e Khalid (1987) o conceito de sustentabilidade se refere à condição das necessidades das gerações atuais serem atendidas sem comprometer a capacidade do atendimento das necessidades das gerações futuras. O termo considera múltiplas dimensões:

 Sustentabilidade Econômica: relacionada à gestão eficaz dos recursos em geral (eficiência dos processos macrossociais). Caracterizada pela regularidade do fluxo dos investimentos públicos e privados;

 Sustentabilidade Social: visa a melhoria da qualidade de vida da sociedade, abrangendo os problemas da desigualdade social, da exclusão, tendo por base a política da universalização do atendimento à saúde, educação e outros aspectos, além da distribuição de renda;

 Sustentabilidade Ambiental: busca a manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas, implicando a capacidade de absorção e de recomposição dos ecossistemas diante de ações antrópicas;

 Sustentabilidade Ecológica: refere-se ao processo físico de crescimento e tem por objetivo manter os estoques de capital natural que se encontram incorporados à atividade produtiva;

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garantir a integração dos indivíduos no processo de desenvolvimento.

O histórico de ocupação de áreas públicas e de parcelamentos irregulares de Brasília deixou uma herança de grandes impactos ambientais, refletindo um modelo não sustentável de desenvolvimento. A expansão urbana deve ser compatível com os limites da sustentabilidade ambiental (BRAGA; CARVALHO, 2003).

Segundo Santana et al. (2005) as áreas que merecem maior atenção nos processos de gestão ambiental são aquelas com maior possibilidade de ocupação urbana, ou seja, aquelas imediatamente próximas à infraestrutura existente nos centros urbanos, associadas às áreas com acesso fácil e às áreas onde a declividade não é acentuada, caso do NRLO.

2.4 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

Para maior compreensão sobre o tema Gestão de Recursos Hídricos é importante conhecer em que nível de desenvolvimento o Brasil se encontra em relação ao tema. A Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, trouxe o conceito de dominialidade das águas brasileiras que a partir de então são de domínio da União, conforme Art. 20, III, e de domínio dos Estados, conforme Art. 26, I. Com esse entendimento, as águas subterrâneas são bens dos Estados, competindo a eles a concessão de outorga de direito de uso desse recurso hídrico (BRASIL, 1988).

O inciso XIX, do Artigo 21 da Constituição dita a competência da União para instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir os critérios de outorga de direito do uso desses recursos. O inciso foi regulamentado por meio da Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, oito anos após a promulgação da Constituição Federal.

A Lei nº 9.433/97 instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. No âmbito do DF, as determinações da Política Nacional e o modelo de gerenciamento expresso pelo sistema criado foram recepcionados pela Lei Distrital nº 2.725, de 13 de junho de 2001, que instituiu a Política de Recursos Hídricos e criou o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do DF.

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gestão ineficiente, lento e politicamente frágil, agravando os conflitos e aumentando o número de leis elaboradas com o objetivo de controlar o incontrolável (MENDES, 2008).

Desse modelo passou-se para o modelo econômico financeiro, baseado em instrumentos legais e econômicos voltados para a obediência às leis e indução ao desenvolvimento. Este modelo contribuiu para a hipertrofia do sistema de gestão provocando desequilíbrio entre os usos da água pelos diferentes setores que culminaram com conflitos intersetoriais e perda de investimentos em função dos programas de governo que se encerraram antes de atingirem seus objetivos (MENDES, 2008).

O modelo sistêmico proposto pela Lei Federal n° 9.433/97 e recepcionado pela Lei Distrital n° 2.725/2001 tem como objetivo descentralizar a gestão das águas, por meio da adoção do planejamento estratégico por bacia hidrográfica, de forma contínua e articulada para um horizonte de longo prazo e apresenta-se bem fundamentado e servido de instrumentos legais e financeiros (MENDES, 2008).

O Art. 2º da Lei Distrital nº 2.725/2001 elenca os fundamentos da Política de Recursos Hídricos do DF, ou seja, os motivos que justificam sua existência. Relacionado à gestão dos recursos hídricos os fundamentos referem-se à gestão descentralizada e participativa entre poder público, usuários e comunidades; a obrigatoriedade de a gestão proporcionar o uso múltiplo das águas e do gerenciamento dos recursos hídricos utilizar conhecimentos científicos e tecnológicos atualizados para garantir o uso sustentável dos recursos hídricos. A comunidade deve ser alvo de ações permanentes de educação ambiental, com foco na conscientização sobre a importância de preservar, conservar e usar racionalmente os recursos hídricos (DF, 2001).

Um dos objetivos da Política de Recursos Hídricos do DF é aumentar as disponibilidades em recursos hídricos, ou seja, aumentar as reservas hídricas, o que garante um segundo objetivo, o de assegurar, permanentemente, a necessária disponibilidade de água, em qualidade e quantidade adequadas aos respectivos usos (DF, 2001). Com esse entendimento as Leis Distritais nº 2.978/2002 e 3.793/2006 apontam alternativa de aumentar essas reservas hídricas por meio do emprego de sistemas de recarga artificial de aquíferos.

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chapada elevada onde se localiza o NRLO.

Quanto ao conjunto de instruções que orientam as ações de governo, no DF, refletido nas diretrizes gerais da Política de Recursos Hídricos do DF, ressalta-se a gestão dos recursos hídricos articulada com a gestão do uso do solo e demais recursos naturais e a adequação da gestão dos recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais da região (DF, 2001).

As citadas diretrizes devem ser planejadas e implementadas de modo a ensejar oportunidades que permitam a formulação e elaboração de projetos específicos de aproveitamento de recursos hídricos compatíveis com as reservas e as disponibilidades existentes, observados os parâmetros e as condições legais, bem como ensejar oportunidades que permitam o conhecimento do solo e subsolo do DF, de forma a identificar os processos de geração e acumulação de reservas hídricas, passíveis de aproveitamento racional (DF, 2001).

Quanto à integração da gestão do uso do solo e dos recursos hídricos cabe destacar as metas definidas por Campos, Gaspar e Gonçalves (2007) para o uso sustentável da água subterrânea, no DF, baseadas no uso e manejo dos solos: (i) o controle da expansão urbana, principalmente sobre as áreas de recarga natural de aquíferos por condomínios irregulares; (ii) a manutenção das áreas de recarga natural de mananciais subterrâneos preservadas ou com ocupação controlada, de forma a garantir a infiltração das águas das chuvas nos solos in natura; (iii) a determinação de áreas para aplicação de sistemas de recarga artificial de aquíferos, em conformidade com a Lei Distrital nº 2.978/2002; (iv) o controle da supressão da vegetação natural com o objetivo de minimizar problemas de erosão, compactação dos solos e infiltração da água das chuvas nos solos, que interferem no processo de recarga natural dos aquíferos; (v) a disposição de resíduos sólidos em aterro sanitário e a avaliação do estado atual da qualidade da água subterrânea nas imediações de cemitérios e lixões; (vi) o incentivo ao manejo do solo em áreas agricultáveis, com uso do sistema de plantio direto, que fundamentado na ausência de preparo do solo e na cobertura permanente do terreno através de rotação de culturas, visa garantir o uso sustentável, sem redução da eficiência das funções ecológicas.

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Fundo de Recursos Hídricos (DF, 2001).

Os planos são instrumentos norteadores para a implementação da Política de Recursos Hídricos. O enquadramento assegura às águas a qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, bem como assegura a perenidade quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos. A outorga assegura o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o exercício dos direitos de acesso à água. A cobrança tem o poder de instituir o uso racional da água e de gerar os recursos financeiros necessários à implementação dos planos de recursos hídricos. O Sistema de Informação sobre os Recursos Hídricos tem o objetivo de descentralizar as informações tornando-as acessíveis a toda a sociedade, além de fornecer subsídios para elaboração dos planos de recursos hídricos, entre outros objetivos. O Fundo de Recursos Hídricos, uma vez criado, sistematizaria as arrecadações provenientes da cobrança pelos múltiplos usos da água; possibilitaria a efetiva descentralização da gestão dos recursos hídricos por meio da sustentação financeira do Conselho de Recursos Hídricos, Comitês de Bacias Hidrográficas e Agência de Bacia, distritais; e financiaria projetos voltados para a recuperação, manutenção, melhoria da qualidade e da vazão dos mananciais (DF, 2001).

É indispensável que tanto a sociedade quanto seus representantes políticos reconheçam que o uso atual dos recursos hídricos não se processa de forma sustentável, o que leva à necessidade de reorientar a pauta do desenvolvimento, do consumo e do comportamento, para que se avance em busca da sustentabilidade, baseando as ações no princípio da precaução e da responsabilidade compartilhada (FERNÁNDEZ; CORDERO, 2006).

Com o objetivo de dar suporte às ações compartilhadas, necessárias à implementação da Política de Recursos Hídricos, foi criado o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do DF integrado pelo Conselho de Recursos Hídricos, os Comitês de Bacia Hidrográfica, os órgãos públicos cujas competências se relacionem com a gestão dos recursos hídricos e as agências de bacias (DF, 2001).

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27.152, de 31 de agosto de 2006, e com área de atuação alterada pelo Decreto nº 31.255, de 18 de janeiro de 2010. O CRH-DF tem uma Câmara Técnica de Assessoramento (CTA) com três Grupos de Trabalho (GTs). Os CBH do rio Paranoá e dos Afluentes do rio Maranhão contam com uma CTA, cada um, podendo criar GTs, conforme Figura 2.

Figura 2 – Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do DF.

Fonte: DF (2001), adaptado.

Para que se complete o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, no âmbito do DF, falta que o Conselho de Recursos Hídricos distrital delibere a respeito da solicitação feita em novembro de 2011, pelos Comitês de Bacia Hidrográfica do DF, de criação da Agência de Bacia do DF. Os Comitês, entendendo que por ser o DF uma unidade da federação de dimensões reduzidas poderá ser atendido por uma Agência de Bacia exercendo, de forma única, a função de secretaria executiva dos três Comitês.

Uma vez completada a estrutura do Sistema de Gerenciamento, este estaria apto a exercer suas atividades de organização, planejamento, coordenação, controle e execução referente aos recursos hídricos, considerando as interdependências existentes (KISHI, 2012).

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Figura 3 – Ferramentas para a gestão das águas subterrâneas.

Fonte: Campos, Gaspar e Gonçalves (2007).

A educação ambiental é um processo que consiste em reconhecer valores e identificar conceitos com o objetivo de fomentar habilidades e atitudes necessárias para compreender as inter-relações entre o homem, sua cultura e seu meio biofísico. Considerada como ferramenta de gestão das águas subterrâneas, a educação ambiental pode contribuir para a disseminação de conhecimento acerca do tema recarga artificial de aquíferos de forma a levar a população a refletir sobre sua responsabilidade quanto à proteção e melhoramento do meio em sua dimensão humana (FERNÁNDEZ; CORDERO, 2006).

A recarga artificial de aquífero, apesar de estar sendo aplicada com êxito em várias partes do mundo e do Brasil, carece do estabelecimento de rotinas técnicas e tratamento legal específico (TUBBS; PEREIRA, 2003b).

A Resolução nº 15, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de 11 de janeiro de 2001, aponta as diretrizes gerais para a gestão das águas subterrâneas ressaltando

Cobrança

Fiscalização

Estudos

hidrogeológicos Ambiental Educação (hidrogeologia)

Recarga Artificial de

Aquíferos SIRH

Outorga

Ferramentas de gestão das águas

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que os planos de recursos hídricos deverão incentivar a adoção de práticas que resultem no aumento das disponibilidades hídricas das bacias hidrográficas, onde essas práticas forem viáveis (BRASIL, 2001).

As Leis Distritais nº 2.978/2002 e nº 3.793/2006 introduzem, no ordenamento legal do DF, a obrigatoriedade de implantação de sistema artificial de aquíferos nas propriedades rurais e lotes em condomínios atendidos por poços tubulares para abastecimento de água e em todo o DF, de forma compatível com a área impermeabilizada, observadas as tecnologias adequadas. O sistema de recarga artificial se torna obrigatório, no DF, em todos os projetos de edificação impermeabilizante do solo, inclusive de reforma submetidos à apreciação aos órgãos públicos (DF, 2002; DF, 2006).

A Resolução nº 396, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 7 de abril de 2008, dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e aborda o tema recarga artificial de aquíferos dentro das diretrizes ambientais para prevenção e controle da poluição das águas subterrâneas, permitindo a recarga e a injeção para contenção de cunha salina e para remediação de aquíferos contaminados, ressaltando que no caso da remediação não deverá promover alteração da condição da qualidade da água dos aquíferos adjacentes, sobrejacentes e subjacentes, exceto para a sua melhoria (BRASIL, 2008).

A Resolução nº 92, de 5 de novembro de 2008, do CNRH, que estabelece critérios e procedimentos gerais para proteção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro, visando identificar, prevenir e reverter processos de sobrexplotação, poluição e contaminação das águas subterrâneas, em seu artigo 8º, determina que a recarga artificial de aquíferos somente seja admitida mediante autorização do órgão gestor de recursos hídricos, competente (BRASIL, 2008).

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido baseado na seguinte metodologia:

 Pesquisa bibliográfica a respeito dos reflexos da ocupação urbana nos recursos hídricos subterrâneos, gestão de recursos hídricos e técnicas de recarga artificial de aquíferos;

 Caracterização física da área de estudo;

 Identificação de técnica de recarga artificial de aquíferos adequada às características da área de estudo;

 Identificar as condições básicas que devem ser exigidas pelo órgão gestor de recursos hídricos do DF para a concessão de outorga do sistema de recarga artificial de aquíferos.

A pesquisa bibliográfica proporciona o conhecimento sobre o passado e o presente da dinâmica de ocupação do solo, no DF, sobre os reflexos dessa ocupação na condição de recarga natural de aquíferos e na atual conjuntura da gestão de recursos hídricos do Distrito Federal.

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4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Para compreender a dinâmica hídrica subterrânea é necessário conhecer os aspectos do meio físico da região em estudo. O presente trabalho vai caracterizar o meio físico do NRLO e da área que sofre influência direta do referido núcleo e que abrange a Bacia Hidrográfica do rio Maranhão, com destaque especial para as sub-bacias do rio da Palma, do ribeirão Contagem e da Reserva Biológica da Contagem; a APA de Cafuringa; o Parque Nacional de Brasília (PNB) e a Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá.

Segundo Campos, Gaspar e Gonçalves (2007) o conhecimento do meio físico permite avaliar o potencial de armazenamento/abastecimento, a vulnerabilidade e a sustentabilidade dos aquíferos, bem como a suscetibilidade à erosão e a capacidade de sustentação do solo e do substrato rochoso. O relevo apresenta importante controle hidrogeológico, pois condiciona os potenciais de recarga dos aquíferos e de risco de contaminação. A inclinação do terreno é determinante da sua taxa de infiltração, quanto maior a declividade, menor a infiltração de água e vice-versa. Nas áreas com solos espessos de baixa declividade o potencial de recarga pode ser da ordem de 50% do total da precipitação pluvial e nas porções com o relevo ondulado e alta declividade a recarga pode ser considerada nula.

Como ainda não foi definida na literatura uma relação entre a declividade, como fator redutor da capacidade de retenção de água dos solos, e a taxa de infiltração, os autores estabeleceram as seguintes relações:

 declividade 0 a 8% - taxa de infiltração de 95% da capacidade de retenção dos solos;

 declividade 8 a 15% - taxa de infiltração de 70% da capacidade de retenção dos solos;

 declividade 15 a 30% - taxa de infiltração de 45% da capacidade de retenção dos solos;

 declividade > 30% - taxa de infiltração de 5% da capacidade de retenção dos solos.

O conhecimento do tipo de solo é importante do ponto de vista hidrogeológico, pois os solos compõem os reservatórios de águas subterrâneas rasas e desempenham as funções filtro e reguladora dos aquíferos (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007).

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no solo. A existência de vegetação minimiza processos erosivos decorrentes dos impactos das gotas de chuva no solo e aumenta sua porosidade. O aumento indiscriminado do consumo, da impermeabilização das áreas de recarga e do risco de contaminação pode levar ao colapso dos sistemas aquíferos e modificar os regimes de fluxo, comprometendo a qualidade e a quantidade das águas subterrâneas (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007).

A vegetação e o solo do DF se encontram, atualmente, significativamente alterados. São poucas as áreas remanescentes de Cerrado e muitos os impactos ambientais decorrentes da urbanização. A Figura 4 retrata a situação da vegetação e uso do solo, no DF, no ano de 2011 e foi confeccionada a partir de dados levantados durante a elaboração do Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE) do DF.

Figura 4 – Vegetação e uso do solo do DF, em 2011.

Fonte: Greentec (2011), adaptado.

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Quanto à hidrogeologia, o DF é dominado por aquíferos fraturados e físsuro-cársticos recobertos por solos e rochas alteradas com características físicas e espessuras variáveis que em conjunto compõem sistemas aquíferos intergranulares. A ampla variabilidade de potencial dos aquíferos é consequência da grande variação da geologia, tipos de solos e geomorfologia locais (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007).

O alto regional onde o DF se localiza não apresenta grandes drenagens superficiais, sendo um divisor natural de águas. Essa característica concede às águas subterrâneas da região uma função estratégica na manutenção das vazões dos cursos de água superficiais e no abastecimento de núcleos rurais, urbanos e condomínios situados fora do sistema integrado de abastecimento da CAESB (CAMPOS; GASPAR; GONÇALVES, 2007).

4.1 NÚCLEO RURAL LAGO OESTE

O NRLO foi criado pela Lei Distrital nº 548, de 23 de setembro de 1993, tendo por objetivo a produção de alimentos de alto valor nutritivo, destinados à complementação alimentar da população do Distrito Federal e de matérias-primas específicas, destinadas ao setor industrial. É permitida a criação de animais para fins comerciais ou para consumo doméstico e/ou de subsistência, e é vedada a construção de qualquer tipo de edificação que não tenha esta finalidade (DF, 1993).

O parcelamento do NRLO encontra-se em processo de licenciamento ambiental de forma a promover o desenvolvimento social e econômico local, garantindo segurança aos investimentos ali realizados e assegurando o papel do Estado no cumprimento de suas atribuições. Cabe ressaltar que apenas 15% da área ocupada pelo NRLO estão sobre terras particulares, sendo que o processo de ocupação do NRLO ocorre há cerca de 30 anos (GREENTEC, 2010).

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O NRLO localizado na porção noroeste do DF compreende as propriedades envolvidas pela DF-001, Reserva Biológica de Contagem, Parque Nacional de Brasília e a região de dissecação do relevo da Chapada da Contagem, num total de 44,64 km², divididos em 1.235 unidades, conforme área identificada na cor laranja, na Figura 5.

Figura 5 – Localização do NRLO, no DF.

Fonte: Greentec (2010), adaptado.

Na Figura 6, observa-se que a grade representativa do parcelamento ocupa área de chapada elevada que atua como divisor de águas das bacias dos ribeirões Torto, Palma e Contagem (GREENTEC, 2010).

Figura 6 – Grade representativa do parcelamento do NRLO.

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Observa-se, na parte esquerda da Figura 6, as escarpas da bacia do rio Maranhão; na parte direita, o Parque Nacional de Brasília e o reservatório de Santa Maria, em azul; no alto, no final da grade que representa o parcelamento do NRLO, observa-se a Reserva Biológica da Contagem ladeada por condomínios consolidados (GREENTEC, 2010).

Segundo o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT), elaborado em 1997 e revisado em 2009, por meio da Lei Complementar nº 803, o NRLO está compreendido, genericamente, na Macrozona Rural e, especificamente, na Zona Rural de Uso Controlado II (ZRUC II).

Na Figura 7, a linha vermelha delimita a área de influência direta do NRLO que compreende parte do Parque Nacional de Brasília e a Reserva Biológica da Contagem.

Figura 7 - Área de influência direta do NRLO.

Fonte: Greentec (2010), adaptado.

(41)

Figura 8 - Área de influência indireta do NRLO.

Fonte: Greentec (2010), adaptado.

O NRLO está inserido na Reserva da Biosfera do Cerrado (RBC) no DF regulamentada pela Lei Distrital nº 742, de 1994, com o objetivo de contribuir para a reversão do quadro de degradação do Cerrado, e tendo como metas básicas a conservação da biodiversidade, a implantação do desenvolvimento sustentável e o aprimoramento científico (DOYLE, 2009).

(42)

Figura 9 – Zonas de Amortecimento e Transição do PNB.

Fonte: Greentec (2010).

Pela Lei nº 9.985/2000 que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e o Decreto nº 4.340/2002, que a regulamentou, a ZA tem a função de reduzir ou anular os efeitos danosos da atividade humana para a sociobiodiversidade a ser protegida pela UC e de incentivar e apoiar o desenvolvimento de atividades ambientalmente sustentáveis.

A importância da área do NRLO é enfatizada também no zoneamento da APA de Cafuringa, definido pelo seu plano de manejo e regulamentado pelo Decreto Distrital nº 24.255, de 2003.

(43)

Quadro 1 – Zoneamento da APA de Cafuringa.

- Zona de Proteção de Manancial - Destinada à conservação, à recuperação e ao manejo das bacias

hidrográficas a montante dos pontos de captação da Companhia de Saneamento do DF – CAESB.

- Zona Uso Rural Controlado - Destinada a propiciar o equilíbrio entre dois fatores distintos: o fator

de proteção dos recursos hídricos, uma vez que se traduz em uma zona de recarga de aquífero responsável pela manutenção dos cursos d´água que integram as sub-bacias dos rios do Sal, da Palma, ribeirões Cafuringa, Pedreira e Contagem, e o fator de utilização antrópica, traduzido pela predominância de uso agropecuário.

- Zona de Uso Especial - Destinada a disciplinar o uso antrópico, adequando-o à conservação do

ambiente natural, formado por remanescentes vegetais naturais, sobre escarpas declivosas de alto risco ambiental, e estabelecendo a conectividade entre as porções leste e oeste da APA, por meio de um corredor ecológico.

- Zona de Proteção Especial - Destinada à formação de um corredor que objetiva, predominantemente,

a conectividade espacial entre a APA de Cafuringa, por meio da Zona de Preservação da Vida Silvestre, o PNB e o Vale do Rio Maranhão, permitindo o fluxo de indivíduos (genes) entre as populações isoladas nestas áreas, possibilitando a manutenção de sua variabilidade genética.

ZPVS - Zona de Preservação da Vida Silvestre - Destinada à preservação dos recursos naturais e da

integridade dos seus ecossistemas.

ZUUC I–Zona de Uso Urbano Controlado I - Destinada a manter o equilíbrio entre os recursos hídricos

(por se constituir parte integrante de uma zona de recarga de aquífero responsável pela manutenção de cursos d´água que integram parte das sub-bacias do Ribeirão da Contagem e do Córrego Paranoazinho) e os assentamentos urbanos.

ZDAG I Zona de Desenvolvimento Agropecuário I - Destinada à consolidação de novos padrões

tecnológicos de produção agropecuária, compatibilizados com a conservação dos recursos naturais.

Imagem

Figura 1 - Proposta de nova rede de distribuição de água.
Figura 2 – Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do DF.
Figura 3 – Ferramentas para a gestão das águas subterrâneas.
Figura 4  –  Vegetação e uso do solo do DF, em 2011.
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Referências

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