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Vista do A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS EM CENTROS HOSPITALARES

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Fortaleza, v. 6, n. 1, jan./jun. 2022

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS EM CENTROS HOSPITALARES

(THE ROLE OF THE PEDAGOGUE IN THE TEACHING-LEARNING PROCESS OF CHILDREN IN HOSPITAL CENTERS)

Ana Maria Silva Cavalcante1 Larissa de Freitas Alves 2 Lívia Alves de Carvalho3 Nivia Joana Darc de Oliveira Vieira4

RESUMO

O pedagogo já não é mais uma figura presente apenas dentro das salas de aula e/ou coordenação, há um vasto campo sendo cada vez mais explorado e levando a ação pedagógica para muito além dos muros das escolas. Dessa maneira, a pedagogia passou a abranger muitos outros espaços, sendo necessária até mesmo nos centros hospitalares. O presente artigo tem o objetivo de compreender a atuação do pedagogo no processo de ensino-aprendizagem de crianças em situação de reclusão dentro das unidades hospitalares. Foi utilizada pesquisa qualitativa, tipo exploratória, com levantamento bibliográfico e pesquisa de campo, com realização de observação e de entrevista semi-estruturadacom uma pedagoga atuante em um hospital de Fortaleza. Os resultados da pesquisa apontam para vários desafios na atuação do pedagogo nesse ambiente.

Conclui-se que há déficit de profissionais atuando como pedagogo no ambiente hospitalar, que inclusive é protegido por lei para o desempenho de sua profissão.

Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Centros Hospitalares. Ensino-aprendizagem.

ABSTRACT

The pedagogue is no longer a figure present only within the classroom and/or coordination, there is a vast field being increasingly explored and taking the pedagogical action far beyond the walls of schools. In this way, pedagogy came to encompass many other spaces, being necessary even in hospitals. This article aims to understand the role of the pedagogue in the teaching-learning process of children in confinement in hospitals. Qualitative research, exploratory type, with bibliographic survey and field research, with observation and interview with a pedagogue working in a hospital in Fortaleza, was used. The research results point to several challenges in the performance of the pedagogue in this environment. It is concluded that there is a shortage of professionals acting as educators in the hospital environment, who are even protected by law for the performance of their profession.

Keywords: Hospital Pedagogy. Hospital Centers. Teaching-learning.

1 Pedagoga pelo Centro Universitário Ateneu (UniATENEU). E-mail: annamaryacavalcante@gmail.com

2 Pedagoga pelo Centro Universitário Ateneu (UniATENEU). E-mail: larissafreitas71@hotmail.com

3 Pedagoga pelo Centro Universitário Ateneu (UniATENEU). E-mail: livcarvalho29@gmail.com

4 Pedagoga pelo Centro Universitário Ateneu (UniATENEU). E-mail:niviaoliveira.ped@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO

A Pedagogia possui diversas ramificações e atua em diferentes áreas, o ambiente hospitalar é um deles. Trazer mais conhecimento sobre esse ramo pedagógico para a área acadêmica tem se tornado cada vez mais necessário e até urgente, tendo em vista que os profissionais mais antigos e os que estão chegando pouco conhecem e até mesmo desconhecem sobre tal possibilidade de atuação.

Mesmo estando longe do ambiente da educação formal, a criança é devidamente assistida pela lei e possui o direito de ter acesso à educação. O art. 53. do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei n.8.069, de 13 de julho de 1990) diz que toda criança e adolescente possui direito ao acesso à educação.

Como foi descrito anteriormente, a pedagogia hospitalar ainda é pouco conhecida e disseminada. Ao nos depararmos com mais essa possibilidade dentre tantas outras que o curso de licenciatura em pedagogia nos oferece, com a falta de informação dos profissionais da área e da própria população e ao perceber a necessidade de compreensão e a sua devida importância também fora do contexto tradicional (sala de aula), observou-se a necessidade de se explorar mais essa ramificação pedagógica e sua importância em prol da sociedade.

Nesse contexto, surgiu a seguinte problema: qual a atuação do pedagogo no processo de ensino-aprendizagem das crianças que estão em regime de internação hospitalar? Para tanto, traçou-se como objetivo geral desta pesquisa compreender a atuação do pedagogo no processo de ensino-aprendizagem de crianças em situação de internação das unidades hospitalares. Para se alcançar o objetivo macro, foram delineados como objetivos específicos: identificar as estratégias pedagógicas adotadas pelo pedagogo no ambiente hospitalar; analisar as dificuldades do pedagogo para desenvolver as suas atribuições no ambiente hospitalar.

O presente trabalho encontra-se organizado da seguinte forma: embasamento teórico, com o qual buscamos dar fundamento à temática abordada. Em sequência, tratamos sobre as metodologias utilizadas, análise dos resultados e, por fim, a conclusão do trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Iniciaremos a discussão teórica buscando um breve diálogo com a história da pedagogia hospitalar, desde o seu surgimento até os dias atuais, como a conhecemos. Em seguida,

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discorreremos sobre as políticas públicas, leis e documentos que asseguram o direito da criança à educação dentro dos ambientes hospitalares, bem como sobre a importância da ação pedagógica nesse ambiente.

2.1 Breve perspectiva histórica da pedagogia hospitalar

A educação acontece a todo momento, em todos os aspectos e sentidos. Assim como sofre mudanças simultâneas, é ela quem transforma o ser humano em um ser crítico, capaz de captar informações e, a partir das mesmas, elaborar questionamentos e, posteriormente, respostas.

Com a educação, o ser torna-se um cidadão. Assim, a pessoa somente exerce cidadania quando entende seus direitos e deveres, compreende e faz comentários críticos reflexivos. Ela é o meio pelo qual o indivíduo recebe as normas e os valores para viver em sociedade. Nazareth (2015, p. 20) afirma que:

A educação tem um importante papel na construção de um mundo melhor, visto que desenvolve a cidadania e os conhecimentos relacionados ao trabalho. É um alicerce da vida social capaz de mobilizar os cidadãos para que transformem seu contexto.

Um dos eixos norteadores para a educação é a formação para cidadania, tendo em vista que a criança deve ser instruída desde a infância, a fim de modificar o seu contexto social, sendo assim a criança é um ser em formação, capaz de captar diversos conhecimentos. Toda sociedade carrega um modelo de educação, que, por sua vez, vem moldar os conhecimentos adquiridos, portanto esse modelo já impregnado socialmente, o convívio diário escolar e o convívio cotidiano familiar, todos trazem alguma forma de educação, fazendo com que haja uma evolução psicossocial.

Mediante a evolução e a mudança social, todos os meios sofreram modificações e melhorias, e com a Pedagogia não foi diferente, surgiu a necessidade de o pedagogo exercer seu ofício em áreas antes inimagináveis, e uma delas é a hospitalar. Segundo Libâneo (2010, p. 51),

“[...] o professor pedagogo pode atuar desde a educação básica em sala de aula, empresas, centros de reabilitação, casas de acolhimento infantil para crianças em situação de abandono, entre muitos outros, até chegar à classe hospitalar”.

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A pedagogia hospitalar é uma modalidade de educação que visa dar continuidade à educação de crianças e adolescentes que por algum intermédio ficaram impossibilitadas de frequentar a sala de aula regular. A criação de tal modalidade se deu, segundo Esteves (2008, p.

2), nas seguintes condições:

A Classe Hospitalar tem seu início em 1935, quando Henri Sellier inaugura a primeira escola para crianças inadaptadas, nos arredores de Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas.

Pode-se considerar como marco decisório das escolas em hospital a Segunda Guerra Mundial. O grande número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir à escola fez criar um engajamento, sobretudo dos médicos, que hoje são defensores da escola em seu serviço.

Conforme o exposto, compreendemos que a pedagogia hospitalar surgiu em meio a necessidade de manter as crianças em contato com a educação, mesmo que aquelas não estivessem em condições físicas de se fazerem presentes dentro da sala de aula. Ao pensarmos na Segunda Guerra Mundial e em tudo o que ela culminou, não é difícil imaginar como as crianças foram afetadas ao se distanciarem do meio educacional, principalmente ao lembrarmos de todas as sequelas que a guerra deixou, não somente físicas, as quais já são dolorosas, mas também as emocionais. O retorno escolar, mesmo que não da forma tradicional, se fez importante para ajudar na recuperação da vida.

De acordo com Oliveira (2013, p. 2):

No Brasil essa prática educacional iniciou-se em 1950, com a classe hospitalar no Hospital Jesus, localizado no Rio de Janeiro, porém há registros que, em 1600, ainda no Brasil Colônia, havia atendimento escolar aos deficientes físicos na Santa Casa de Misericórdia em São Paulo.

Desde então, a ideia de atendimento hospitalar como fonte continuadora de educação e aprendizado tem tomado lugar, e as leis que regulam e asseguram tal atendimento têm dado cada vez maior atenção para a área.

Sendo assim, a pedagogia hospitalar surge como uma fonte para diminuir o sofrimento social e cognitivo da criança, a fim de dar continuidade ao tratamento com cuidados específicos e essenciais, levando a criança a não perder o convívio social e escolar de antes do internamento, havendo um desenvolvimento clínico considerável.

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Devemos ainda salientar que existe diferença entre hospitalização escolarizada e classe hospitalar, uma vez que o primeiro é um atendimento personalizado para o paciente, interligando os estudos dele com a escola originaria, já o outro é um conjunto de escolas, em uma sala de aula dentro do hospital. Esses dois conceitos são melhor definidos por Matos e Mugiatti (2011 apud NAZARETH, 2015, p. 24):

[...] há dois procedimentos de escolaridade que podem ser desenvolvidos no ambiente hospitalar: a hospitalização escolarizada e a classe hospitalar (CH). No caso da primeira, o atendimento é individual, personalizado, devendo-se respeitar as condições da criança com relação à doença e observar seu nível de escolaridade e sua procedência. [...] Com relação à CH, são realizados os mesmos passos da hospitalização escolarizada, diferenciando-se apenas pelo fato de o atendimento pedagógico ser oferecido em turmas, ou seja, em conjunto.

Diante do exposto e de acordo com o avanço ao longo dos anos, viu-se a necessidade de criação de leis que assegurassem os direitos das crianças para dar continuidade acadêmica em situação de internação. Quando se está debilitado por alguma enfermidade, as ações cotidianas acabam por serem comprometidas e, dependendo da gravidade, essas ações podem até mesmo serem interrompidas. Quando uma criança precisa se ausentar por motivos de saúde, necessita permanecer em regime de internação e se afasta do ambiente escolar convencional, ela possui o direito de receber apoio pedagógico dentro do ambiente hospitalar, segundo a Lei n.13.716, de 24 de setembro de 2018:

Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, durante o período de internação, ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, conforme dispuser o Poder Público em regulamento, na esfera de sua competência federativa.

(BRASIL, 2018).

O pedagogo, então, irá atuar nesse ambiente de maneira a complementar o tratamento clínico até então recebido, através dos métodos educacionais convencionais.

O referido direito já encontrava guarida na Constituição Federal de 1988 em seu Título VIII, Capítulo III, da Educação, da Cultura e do Desporto:

Art. 205. A educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade usando ao pleno

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desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

Sendo um direito de todos, incluiu também as crianças em situação de internação, e devemos entender que essa nova modalidade de educação pode auxiliar no processo de recuperação do aluno, tendo em vista que, no momento em que ele estiver sendo assistido pelo pedagogo, ele acabará por se distrair e então irá se envolver na atividade que foi elaborada de maneira a pensar em suas limitações. É um momento em que ele terá um pouco da sua antiga rotina de volta, além de poder socializar.

Conforme Ceccim (1999, p. 44), “[...] para a criança hospitalizada, o estudar emerge como um bem da criança sadia e um bem que ela pode resgatar para si mesma como um vetor de saúde no engendramento da vida, mesmo em fase do adoecimento e da hospitalização”.

O fato de a criança estar em situação de internalização, não anula o fato de poder se sentir familiarizada e realizar seus estudos e atividades condizentes com sua vida escolar anterior a sua hospitalização, nisso a pedagogia hospitalar auxilia o bem-estar físico e mental.

2.2 Atuação do pedagogo no contexto hospitalar

O pedagogo é social e culturalmente associado somente à educação tradicional: alunos em uma escola, com salas apropriadas e ensino regular diário. Porém, com a necessidade surgida ao longo dos tempos, foi preciso que sua atuação se expandisse para além da escola, nisso entra a pedagogia hospitalar.

Decorrente de fatos históricos citados anteriormente, percebemos sua importância e seu papel na vida de crianças que estão em um ambiente hostil, muitas vezes fora do convívio da sua família, frágeis e com o emocional facilmente abalado. Dessa forma é esperado que o profissional esteja preparado para lidar com essas adversidades encontradas, porém nem todo profissional tem uma preparação adequada para essa atuação, devido a diversos fatores, não somente acadêmicos.

Além disso, a escola não deve deixar seu aluno desamparado nesse momento, assim como afirma Nazareth (2015, p. 22): “É fundamental, portanto, que a escola reconheça a criança hospitalizada como um aluno com necessidades especiais que tem o direito de receber em ambiente hospitalar o atendimento escolar, sendo tratado pelo professor como aluno, e não como paciente.”

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Desse modo, a escola serve como uma ponte de informação e conteúdo, fazendo com o que o pedagogo esteja ciente do que deve tratar e como trabalhar com o aluno.

Para se atuar na área, existem aspectos a serem seguidos. Segundo o MEC (BRASIL, 2002a, p. 23), “O professor deverá ter a formação pedagógica preferencialmente em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas[...]”. Atualmente já existem especializações específicas no âmbito da pedagogia hospitalar, mas nada o impede de atuar sem a mesma, já que há respaldo, e ter apenas a licenciatura em pedagogia já abre as portas para exercer seu trabalho nessa ramificação.

Conforme Silva, Cardoso e Santos (2011, p. 6):

Para que o trabalho do professor hospitalar obtenha melhores resultados e para que a individualidade de cada criança seja respeitada, é necessário que esse profissional tenha uma boa preparação, tanto nos seus conhecimentos teórico prático pedagógicos quanto nas doenças mais comuns do hospital, possibilitando mais segurança para o pedagogo, o enfermo e sua família.

Esse respaldo acadêmico serve para auxiliar o professor com as dificuldades diárias encontradas, tanto com a classe hospitalar vigente, quanto com os demais profissionais educativos, assim como com os pacientes e seus familiares. O conhecimento sobre as doenças mais comuns nesse ambiente o ajuda a se prevenir, bem como proteger seus alunos e as pessoas que os cercam. Esse conhecimento e cuidado se tornou indispensável no atual cenário pandêmico, onde o trabalho teve de ser interrompido por um breve período de tempo, mas, com seu retorno, teve de ser adaptado à nova realidade.

Assim, entende-se que o profissional não deve estar apto somente para a preparação de plano de aula, ou para saber com que metodologia abordar os alunos, ele também deve procurar se informar sobre os principais casos e sintomas comumente encontrados no centro em que ele vai exercer seu papel de pedagogo. Diante disso, o profissional deve estar preparado para as adversidades encontradas no ambiente hospitalar, devendo também estar bem preparado emocionalmente para possíveis eventualidades que possam acontecer nos local. A esse respeito, afirmam Silva, Cardoso e Santos (2011, p. 6): “[...] característica fundamental ao Pedagogo Hospitalar é a de ser emocionalmente equilibrado para lidar com diferentes situações, pois o paciente pode receber alta ou evoluir para óbito inesperadamente”.

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Como em toda área, precisa-se de uma humanização em relação ao sentimental das pessoas, procurar formas para estabilizar ou amenizar alguma situação. Nesse sentido, Sales, Lima e Sousa (2019, p. 1) afirmam que “O profissional, na pedagogia hospitalar, atua de forma a complementar e humanizar o tratamento clínico às crianças e adolescentes em idade de escolarização através de métodos educacionais”.

Destarte, faz-se necessário que o profissional seja flexível, pois nem sempre o aluno estará em condições físicas e mentais para as atividades propostas, assim como muitas vezes não poderá sair do leito para a realização das atividades no ambiente educacional programado; nisto o pedagogo deve ter em vista que o mais importante nesse momento não é somente a continuidade da educação, e sim a saúde do aluno, porém isso não o limita para o aprendizado, como afirma Nazareth (2015, p. 23): “Importante salientar que o comprometimento da saúde não é um fator que impossibilita o desenvolvimento e a aprendizagem da pessoa”.

Diante do seu quadro clínico, de melhora ou piora, muitas crianças acabam por parar de frequentar a escola, fazendo com que seu rendimento acadêmico diminua, assim, sua vontade de aprender é menor, abandonando até o gosto por aprender, conforme destaca Nazareth (2015, p.46):

[...] de acordo com a evolução da doença, as crianças se afastavam da escola, apresentavam resultados das avaliações abaixo do mínimo esperado, perdiam o ano letivo, afastavam-se do convívio social, tinham dificuldades para reintegrar- se à escola após alta do hospital, evadiam-se da escola e tinham sua autoconfiança reduzida ao retornar a esse local.

Não sendo diferente da sua atuação em campo escolar, o pedagogo atua em um ambiente similar ao educacional convencional, ou seja, pode atuar nas unidades de internação ou na brinquedoteca do hospital, cuja existência é assegurada por lei: “os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas dependências.”

(Lei n°. 11.104, de 21 de março de 2005: “Art. 1°). Mesmo com essa obrigatoriedade, vê-se muitas dificuldades para o profissional nesse quesito, pois muitos hospitais não oferecem ambientes apropriados e não se utiliza a brinquedoteca.

Assim como na escola, a brinquedoteca hospitalar servirá como uma sala apropriada a atividades lúdico-pedagógicas, a fim de fazer com que a criança em situação de internação tenha momentos atípicos do encontrado diariamente em seu leito.

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A brinquedoteca é um espaço no hospital provido de brinquedos e jogos educativos, destinados a estimular as crianças e os adolescentes e seus acompanhantes a brincar no sentido mais amplo possível e conseguir sua recuperação com uma melhor qualidade de vida. (SOUSA; SOARES; TELES, 2017, p. 249).

Assim, devemos ter em mente que educação acontece em todos os aspectos, não sendo diferente nos centros hospitalares, onde diariamente há trocas de informações, seja entre médicos e pacientes, seja entre alunos e funcionários. De acordo com Sousa, Soares e Teles (2017, p.

256), “O hospital é mais um ambiente em que a educação pode e deve acontecer”.

Sabemos que, no âmbito escolar convencional, o pedagogo enfrenta suas dificuldades, seja por falta de espaço apropriado, seja por indisponibilidade de materiais para realização de atividades pedagógicas, por isso algumas vezes acaba tendo que arcar com os gastos com materiais que deviam ser fornecidos obrigatoriamente pela instituição, e conseguir aproveitar o espaço disponibilizado de uma forma diferente. Pelo pedagogo hospitalar também há dificuldades a serem enfrentadas.

Muitas classes hospitalares debatem-se, assim, com a falta de material de consumo ou permanente, como brinquedos, jogos, livros, artigos de papelaria, microcomputadores, televisores, mobiliário, entre outros. [...] essa modalidade de atendimento acena com crescimento positivo e a cada dia novos hospitais são identificados como demandantes e/ou beneficiáveis com a implantação de mais uma classe hospitalar. (BARROS, 2007, p. 263).

Por ser um ambiente hospitalar, deve-se ter uma atenção aos materiais a serem utilizados, pois a higienização deve ser minuciosa, já que muitas crianças possuem um quadro clínico frágil, portanto, o nível de infecção pode ser muito alto, com isso algo que deve ser devidamente pensado em relação aos materiais pedagógicos usados pelo profissional educativo hospitalar.

Chadi et al (2014, p. 298) asseguram que “o controle de infecção hospitalar refere-se a todas as medidas que podem ser tomadas dentro de uma instituição hospitalar a fim de minimizar os riscos de viabilização de uma infecção por meio do ambiente hospitalar”.

Os brinquedos a serem usados devem estar de acordo com as normas descritas em

“Pediatria: prevenção e controle de infecção hospitalar”, que se encontra no Ministério da Saúde, ANVISA (2005, p. 65-66). Os brinquedos deverão ser de material lavável e atóxico, não sendo recomendado brinquedos de tecido, a não ser para uso exclusivo, e em caso de contato com

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sangue e/ou secreção devem ser imediatamente descartados.

Além de pensar e ter cuidado com os materiais utilizados, o pedagogo deve assegurar-se que sua metodologia esteja sendo bem aproveitada pelo aluno, que ele consiga adquirir o conhecimento. De acordo com Sousa, Soares e Teles (2017, p. 248), “Assim, o papel do pedagogo [...] é garantir o direito à educação, momentos de aprendizagem de forma lúdica e um bom desempenho das atividades propostas, proporcionando assim o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem”. Assim como em uma sala de aula regular, a ludicidade deve estar presente na vida interno-escolar do aluno, pois ela que ajudará a criança a se distrair e ter um momento de retorno à sua vida cotidiana.

A criança em estado de internação acaba sendo muito vulnerável emocionalmente, muitas vezes se fecha e deixa que se esvaia a vontade por estudar. O professor, por sua vez, deve trabalhar a fim de melhorar sua metodologia, conseguindo fazer com que se crie um vínculo com a criança, trazendo a confiança da criança para si, e assim obter bons resultados, tanto clinica quanto educacionalmente. Assim, Sousa, Soares e Teles (2017, p. 249) afirmam que: “O pedagogo deve realizar seu trabalho baseado na confiança e na relação de afeto que ele cria com o seu aluno, em que estabelece um vínculo que se torna importante no progresso do paciente”.

Além de toda a ludicidade e confiança que o pedagogo deve adquirir para com seu aluno, ele deve ter em mente a criação do currículo e da metodologia, pois o aluno, ao sair do seu regime de internamento, deverá acompanhar sua classe educacional da qual fazia parte antes da internação. Sobre isso, afirma Barros (2007, p. 259-260):

[...] quando a criança ou adolescente hospitalizado já frequentava uma escola antes da internação, a classe hospitalar deve buscar contato com a escola para que as atividades, então empreendidas, correspondam em continuidade. Se não for possível contatar a escola, são utilizados materiais didáticos disponibilizados pela própria classe hospitalar, e os professores destas devem favorecer ao aluno o aprendizado dos conteúdos da série que lhe correspondam.

Nesse caso, é necessário um planejamento pensado e regido de acordo com as práticas educativas antes estudadas pelos alunos, decorrente de contato ou não com as instituições, ainda assim o plano deve ser aberto a mudanças, já que tudo depende da situação clínica de cada aluno.

Nesse sentido, afirmam Sousa, Sores e Teles (2017, p. 248): “Trabalhar junto as crianças e adolescentes hospitalizados é um desafio que implica descobrir estratégias diferenciadas e adaptáveis à realidade de cada um”.

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Em qualquer segmento, o trabalho em equipe deve existir, a fim de haver um ambiente mais amigável, propenso a mudanças saudáveis e estáveis, a fim de adquirir estabilidade e ajuda mútua para todos; já no ambiente hospitalar, toda a rede de apoio ao paciente deve estar unida buscando o mesmo objetivo final para o aluno, a sua reabilitação à vida normal antes da internação. Sales, Lima e Sousa (2019, p. 3) reforçam essa visão afirmando que “Para que ocorra o desenvolvimento pleno da educação escolar, são necessários profissionais dispostos a trabalhar em equipe”. Pedagogos dispostos a se reunir em equipe com os profissionais da classe hospitalar vigente, buscando sempre o melhor desenvolvimento de aprendizagem para o aluno, de acordo com seu quadro clínico.

Ambos os lados profissionais devem estar abertos e aptos a mudanças, em decorrência da evolução dessa modalidade educativa que vem tomando seu espaço cada dia mais, ajudando e auxiliando alunos, elevando suas autoestimas e vontade pelo estudo antes perdidas.

3 METODOLOGIA

A seguir, abordaremos a parte metodológica do trabalho, na qual informamos o tipo de pesquisa, apresentamos o local, os participantes, as técnicas para a coleta de dados e os aspectos éticos.

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, caracterizada, segundo Prodanov e Freitas (2013, p.70), como:

A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Como citado, o pesquisador é a chave para o desdobramento da pesquisa, analisando e descrevendo os dados coletados. Buscará compreender e analisar por meio de coleta de dados, entrevistas e observações acerca da atuação do pedagogo no ambiente hospitalar infantil, assim como as suas progressões e regressões nos resultados.

Quanto ao nível, esta é uma pesquisa exploratória, descrita por Severino (2007, p. 123) como aquela que “[...] busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto,

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delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto.

Na verdade, ela é uma preparação para a nova pesquisa explicativa”.

Caracteriza-se também como pesquisa bibliográfica, definida por Severino (2007, p.122) como:

[...] aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos. Teses etc. utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados.

Tem ainda como apoio a pesquisa de campo, em que, segundo Severino (2002, p.123),

“[...] o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta dos dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente observados sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador”.

O local de pesquisa foi uma Unidade Hospitalar de Atenção à Criança, localizada em Fortaleza, criada em 1959, sendo reconhecida pelo governo Federal em 1973. A instituição conta com aproximadamente 400 leitos, sendo 10 destinados a Unidades de Terapia Intensiva (UTI), 25 leitos para crianças com doenças crônicas complexas e uma ala especializada em acolhimento e tratamento de crianças e jovens em situação de dependência química e transtornos mentais.

Possui também centro cirúrgico e uma ala para doenças infectocontagiosas.

A instituição foi escolhida como lócus de pesquisa devido a prontidão em nos fornecer as informações necessárias e a disponibilidade de um profissional para realizarmos a entrevista, vale salientar que buscamos outros campos de pesquisa, entretanto não tivemos sucesso em encontrar o profissional, sendo por restrição da instituição ou por falta do mesmo.

A pessoa submetida a entrevista foi a pedagoga responsável da instituição, ela possui ainda especialização em psicopedagogia.

A coleta de dados ocorreu mediante a análise de documentos, caracterizada como um levantamento bibliográfico, que segundo Severino (2007, p. 122) “[...] é a aquela que se realiza partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc.”, assim utilizando de documentos e materiais disponibilizados pelo centro hospitalar.

Utilizou-se também uma entrevista, definida por Severino (2007, p.124) como “Técnica de coleta de informações sobre um determinado assunto, diretamente solicitadas aos sujeitos

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pesquisados”. Com esse instrumento, buscamos compreender e analisar a atuação do pedagogo no ambiente hospitalar, consoante os objetivos traçados.

Também se utilizou, na pesquisa de campo, a observação, que, segundo Severino (2007, p. 125), “é todo procedimento que permite acesso aos fenômenos estudados. É etapa imprescindível em qualquer tipo de modalidade de pesquisa”. Nesse sentido, realizou-se uma sessão de observação com aproximadamente uma hora, no dia 30 de setembro nas instalações do hospital com o acompanhamento da pedagoga.

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4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Nessa parte da pesquisa, apresenta-se a análise da observação informal e da entrevista realizada com a pedagoga hospitalar. Na sequência, os dados são vislumbrados à luz dos principais teóricos do marco teórico.

4.1 Observação

De acordo com a observação realizada, foi possível perceber que a pedagoga tem convivência muito boa com todos os funcionários, uma excelente desenvoltura com os pais e crianças, além de entender e realizar seu trabalho com maestria. Vale salientar que os trabalhos por ela desenvolvidos são de cunho pedagógico, envolvendo o processo de ensino-aprendizagem da criança enferma hospitalizada. Em contrapartida, ela não possui um local fixo de trabalho, visto que a brinquedoteca está em processo de reforma (desde o início da pandemia), e ela precisa atender as crianças em seus leitos. Vale salientar que a contratação e o registro da carteira de trabalho foi como psicopedagoga, embora ela atue quase todo o tempo como pedagoga, dificilmente realiza diagnóstico e intervenção. Diante do exposto, podemos também destacar que a observação auxiliou a compreender melhor o fenômeno pesquisado.

4.2 Entrevista

Realizamos a entrevista, que foi norteada por oito perguntas subjetivas, as quais abordaram a atuação do pedagogo no centro hospitalar. A entrevistada é pedagoga, atuante em

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um hospital de Fortaleza, ela possui especialização em psicopedagogia e atua nessa área há pouco tempo (em torno de dois anos). As perguntas concentraram-se em questionar sobre as experiências, conhecimentos e desafios pedagógicos de se trabalhar em um centro hospitalar. A entrevista foi respondida por ela e entregue em uma visita ao hospital. Para preservar a identidade da entrevistada, a chamaremos de PH (Pedagoga Hospitalar).

A entrevista iniciou-se com o questionamento sobre como ela conheceu a pedagogia hospitalar. A PH nos respondeu que:

Visto que trabalho em hospital há mais de 20 anos, comecei a observar, o trabalho dos profissionais, que também exerciam atribuições de um pedagogo hospitalar, através do lúdico. Então fui realizar pesquisas sobre a pedagogia hospitalar, de como surgiu e o que era realmente esse trabalho.

Mediante o que foi apresentado anteriormente, podemos confirmar, por meio de Cardoso, Santos e Silva (2011, p.5), que “o papel do pedagogo no contexto hospitalar é o de estimular aprendizagem para tornar o ambiente menos hostil”. Após esse esclarecimento, pode-se concluir que o pedagogo está presente no ambiente hospitalar para retirar o aluno da monotonia da rotina de tratamento, a fim de aproximá-lo da aprendizagem contínua de forma lúdica, mas para isso é necessário conhecer bem as suas atribuições para atuar nesse contexto.

Avançando com a entrevista, a segunda pergunta abordou suas funções e suas atribuições dentro da instituição. Ela ressaltou o seguinte:

Psicopedagoga, atividades pontuadas (pandemia). Antes na brinquedoteca, realizo um planejamento das atividades, de acordo com um cronograma, por setor. Atendimento das crianças com necessidades especiais. Sempre com o brincar. Orientação aos pais quanto à importância do brincar.

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Com base na resposta da profissional, percebe-se que as atribuições do pedagogo são diversas, o que coaduna com o postulado por Cardoso, Santos e Silva (2011, p.6): “O seu principal papel não é o de resgatar a escolaridade, mas de transformar a relação entre hospital e paciente, de forma a aproximá-los”. Entende-se, também, a importância da necessidade do brincar nesse processo de recuperação e aprendizagem. Compreendemos que a pandemia impactou diretamente no trabalho exercido por ela, assim as atividades foram modificadas, bem como os espaços utilizados.

Posteriormente indagamos sobre como ocorre o planejamento com cada criança e

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obtivemos a seguinte resposta da entrevistada: “Tudo é planejado conforme a aceitação e limite do paciente. Tendo em vista que é bem diferente de um planejamento no contexto mais convencional”. Em conformidade com a resposta, deduzimos que, no ambiente hospitalar, tudo dependerá da especificidade de cada aluno, de suas limitações e de condições que podem se alterar muito de um atendimento para outro. O plano, então, deve ser baseado na criança, compreendendo e respeitando suas necessidades e limitações, conforme Souza (2017, p.25): “O planejamento das aulas deve pautar-se no conhecimento prévio do paciente internado, adquirindo desde o primeiro contato”.

Em seguida, foi questionado sobre as maiores dificuldades dessa área, e a mesma nos informou que “As maiores dificuldades nessa área, é o reconhecimento, porque ainda é um pouco desconhecida para tais empresas, com isso fica restrito o espaço para o pedagogo hospitalar”.

Nesse sentido, podemos citar Souza (2017, p. 25): “O planejamento e as metodologias aplicadas a pedagogia hospitalar são os maiores desafios que o pedagogo hospitalar pode vivenciar, em virtude da alta rotatividade dos alunos”. Além da falta de reconhecimento da sociedade, ainda se tem a dificuldade de se encontrar um suporte dentro da própria profissão, tornando desafiador desenvolver essa função.

No que diz respeito à participação da família dos alunos internados, obteve-se a seguinte afirmativa da PH: “Faz toda a diferença, pois é um trabalho importante na classe hospitalar, que contribui para recuperação da criança internada e a família é fundamental nesse momento de acompanhamento”. Conforme o relato, compreendemos que esse acompanhamento é indispensável, ideia já preconizada por Pereira et al (2007, p. 3202):

A participação, bem como o acompanhamento dos pais nas atividades escolares dos filhos é de fundamental importância em se tratando do contexto hospitalar.

Este acompanhamento adquire um valor ainda maior, considerando a fragilidade da criança/ adolescentes em estado de doença e de todas as suas implicações.

Assim, afirmamos que o envolvimento da família é de extrema importância, sendo necessária a parceria entre hospital e família. Ainda com o decorrer de sua fala, a entrevistada informou que há uma roda de conversa com os familiares ao menos uma vez no mês, rotina essa que foi interrompida devido à pandemia. A mesma relatou que alguns pais testemunham a diferença que é para seus filhos ter o atendimento pedagógico, comparando com experiências em outras instituições que não possuem esse atendimento.

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Quando questionada sobre as estratégias adotadas para o desenvolvimento do cognitivo e do socioemocional das crianças, a mesma nos respondeu que faz isso através do brincar.

Mediante o que foi apresentado, podemos afirmar que, segundo Fantacini e Silva (2013, p. 47):

O brincar recebe várias características, porém poucos sabem que a maior delas é a de ensinar, porém de uma forma divertida e eficaz. Outro ponto importante do brincar é a possibilidade de desenvolver condições que envolvem a imaginação da criança, em que elas poderão construir histórias de modo que descreverá a sua vivência ou as suas necessidades

Sabe-se que o lúdico é de extrema importância para o trabalho pedagógico, pois auxilia no desenvolvimento da criança, bem como na sua visão de mundo. Nesse sentido, a ludicidade torna-se ainda mais necessária no ambiente hospitalar, porque possibilita uma vivência mais leve e dinâmica, aproximando-a um pouco da realidade que a criança tinha em uma sala de aula convencional, possibilitando, assim, seu desenvolvimento.

Levando em conta o cenário atual, perguntamos como a pandemia afetou o exercício do seu trabalho. Ela nos respondeu que,

Durante a pandemia, nos primeiros momentos houve aquele isolamento total, não podia compartilhar os materiais, e tinha que manter o distanciamento, o uso de máscara e álcool, usar os EPIs. Foi muito difícil. Porque as atividades eram realizadas na brinquedoteca. Nesse momento foram suspensas. E as crianças ficavam bastante ociosas nos leitos. Então passamos a levar as atividades e brinquedos para os leitos sem compartilhamento.

Conforme afirmado por Dantas (2020, p. 233),

[...] a criança pode suportar algum tempo a falta da brinquedoteca, mas é vital para a sua saúde física e vital que ela siga brincando. As aulas e os conteúdos escolares serão, de alguma forma, recuperados. Diante disso, o prejuízo de uma internação ociosa, sem estímulo, para que o desejo de aprender continue vivo no sujeito, pode causar na vida da criança algo extremamente drástico.

Percebe-se, com a pesquisa, que o trabalho do pedagogo hospitalar também foi afetado durante a pandemia logo em seu início. Com o isolamento social mais rígido, os trabalhos foram pausados e, ao retornar, teve de se seguir os protocolos: uso de EPIs, higienização mais rigorosa dos materiais, distanciamento durante o atendimento. As crianças sentiram essas mudanças, permanecer restritas ao leito não era e ainda não é interessante, mas ainda é necessário, e elas tiveram de se adaptar. Na parte pedagógica, houve adaptações também. Teve-se que repensar as

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aulas que agora seriam apenas nas enfermarias, com a dinâmica de higienizar os materiais entre um atendimento e outro, eram tantos detalhes que antes poderiam passar despercebidos e que agora são vitais.

5 CONCLUSÃO

Com a realização dessa pesquisa, foi possível compreender a atuação do pedagogo no processo de ensino-aprendizagem de crianças em situação de internação em unidades hospitalares.

Em conformidade com os objetivos inicialmente traçados, constatou-se o seguinte: a atuação do pedagogo é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem das crianças internadas; o pedagogo utiliza diversas estratégias para trabalhar o desenvolvimento das crianças, adotando o lúdico, inclusive no período de pandemia, a brinquedoteca foi interditada, o trabalho do pedagogo ficou, então, resumido ao leito do paciente, o que foi fundamental fazer uso da brincadeira. Sobre as dificuldades do pedagogo para desenvolver as suas atribuições no ambiente hospitalar, enfatiza-se que o reconhecimento do pedagogo no espaço hospitalar ainda é bem restrito, e até desconhecido. Também é importante destacar que a pedagoga foi contratada como psicopedagoga, embora que atua quase exclusivamente como pedagoga.

Sobre os desafios para a realização da pesquisa, citamos o lócus de pesquisa, visto que inicialmente ocorreu dificuldade para encontrar um lócus disponível para a realização da pesquisa. Para tanto, foi realizado o contato com diversos hospitais com unidades pediátricas no município de Fortaleza e Região Metropolitana. Para nossa surpresa, não havia pedagogo na planilha de colaboradores. Até que, em contato com um hospital filantrópico de Fortaleza, conseguiu-se estabelecer comunicação com uma psicopedagoga contratada que desempenha atribuições pertinentes ao pedagogo na referida unidade hospitalar. Em face da entrevista e do contato com o ambiente, foi possível perceber que, mesmo com esse atendimento pedagógico personalizado às crianças, o trabalho ainda não é exercido da maneira como deveria ou precisaria ser.

Diante o exposto, podemos concluir que, mesmo com os avanços da ciência, da pesquisa no ramo pedagógico hospitalar e com a inserção do pedagogo nesses ambientes, ainda são ínfimos os resultados de sua participação. Deve-se, portanto, atender à crescente necessidade,

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conforme a Lei n.13.716, de 24 de setembro de 2018, que determina que a criança em regime de internação possui o direito de receber apoio pedagógico dentro do ambiente hospitalar.

Para finalizar, é necessário lançar luz a essa temática. As pesquisas e os estudos acerca do assunto precisam ganhar protagonismo. Precisa-se dar o devido suporte, seja por meio de envolvimento de unidades privadas, de unidades governamentais, seja por meio de universidades e/ou cursos de Pedagogia.

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