• Nenhum resultado encontrado

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2011

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2011"

Copied!
85
0
0

Texto

(1)
(2)

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em atendimento à exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.

Orientadora: Profª Dra. Sumiko Nishitani Ikeda

(3)
(4)
(5)
(6)

principalmente, à sua forma serena de lidar com as situações, fator especialmente importante para o meu crescimento intelectual e pessoal.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, pela concessão da bolsa de estudo que me possibilitou a elaboração da dissertação.

Às Professoras Doutoras Maria Cecília Perez4de4Souza e Silva e Leiko Matsubara Morales, pelas observações e sugestões no exame de qualificação de que participaram.

Às funcionárias do LAEL, Maria Lúcia e Márcia, pelas informações fornecidas, ajuda e conselhos oferecidos.

Aos meus pais, Marineuza e José, pelo afeto, paciência e amor com minha filha nos momentos de minha ausência.

Aos meus sogros, Yoshiko e Takeshi, pelo afeto, paciência e amor com minha filha nos momentos de minha ausência.

À minha irmã e grande amiga, Renata, por estar sempre ao meu lado me apoiando.

(7)

"

(8)

Língua Portuguesa, em qualquer nível de ensino, deve ser o de proporcionar condições para o desenvolvimento da linguagem do aluno, da sua discursividade, da sua capacidade de expressão na linguagem oral e escrita (KÖCHE 2002). A propósito, diz Freire (2001), que o educador que não possuir uma bagagem crítica e não fizer um trabalho educativo criativo é considerado “mudo”, perante o mundo e a si mesmo. Segundo Demo (1996), a formação de sujeitos críticos4criativos e participativos depende especificamente de aprender a aprender, saber pensar para melhor intervir, inovar, e isto, os educadores têm que estar preparados, já que são os formadores. Como professora de Língua Portuguesa acredito ter, mais que outros profissionais, a incumbência de estudar a importância da língua, seja em textos orais, seja na escrita, em situação real de uso – a linguagem 4, e investigar em que medida os textos podem se valer de atos de fala diretos ou indiretos de persuasão, construindo, assim, um mundo textual (DOWNING 2003), de 'realidades' nem sempre compatíveis com o mundo factual. Segundo Fowler (1991), aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica 4 seleção lexical, opção sintática, etc. – todos têm sua razão de ser. Há sempre modos diferentes de dizer a mesma coisa, e esses modos não são alternativas acidentais. Um dos elementos que concorrem para possibilitar a mesclagem de fatos e interesses de várias naturezas, nem sempre perceptíveis ao leitor, e que subjazem ao texto, é a Avaliatividade (% ) (MARTIN 2000; 2003), um sistema reticular de descrições de opções semânticas para avaliar pessoas, coisas e fenômenos. Ele e seu grupo desenvolveram técnicas para ser aplicadas sistematicamente a textos inteiros de qualquer registro, trabalhando dentro do enquadre geral da Linguística Sistêmico4 Funcional. A persuasão, em especial a persuasão implícita ( & de Atitude), nem sempre é realizada por adjetivos e advérbios claramente persuasivos, mas graças também a determinadas escolhas léxico4gramaticais, não consideradas interpessoais na tradição, mas que, combinadas a contextos específicos e que acontecem cumulativamente conforme o texto se desenrola 4 a logogênese (HALLIDAY 1992, 1993; HALLIDAY; MATTHIESSEN 1999), tornam4nas altamente eficazes. A presente pesquisa tem como objetivo examinar a persuasão que percorre dois gêneros diferentes: a crônica e o & ' na TV, para verificar como ela é feita através dos & de Atitude nesses contextos de uso de língua. Para tanto, deve responder às seguintes perguntas de pesquisa: (a) como é feita a persuasão através dos & de Atitude na crônica e no & '? (b) que escolhas léxico4gramaticais são mais utilizados para a realização dos & em cada um dos gêneros? Os resultados mostram que a crítica é construída através da ironia, que alterna alinhamentos com Avaliatividade explícita e & de Atitude. Esse & envolvem recursos firmados em fatos de conhecimento do leitor/ouvinte, portanto ideacionais, na fala do Animador, mas que encerram Apreciações Sociais negativas, deixando o papel de 'Autor' (GOFFMAN 1979) para o interlocutor.

(9)

Reading and writing are the basis for a critical reading of the world, and it is from them that starts the process of awareness of rights and duties of citizens, essential to the process of democratization. The main goal of teaching Portuguese at any level of education should be to provide conditions for the development of the student's language, its discourse, its capacity of expression in oral and written language (Koch, 2002). By the way, says Freire (2001), the educator who does not have a critical baggage and do not make a creative educational work is considered "dumb" before the world and himself. Second Demo (1996), the formation of critical4creative and participatory specifically depends on learning to learn, learn to think better act, innovate, and this, educators need to be prepared, as are the trainers. As a teacher of Portuguese believe I have, more than other professionals, the task of studying the importance of language, whether in oral texts, whether in writing, in real use 4 language 4 and investigate how these texts can be worth of speech acts, direct or indirect inducement, thus building a textual world (Downing, 2003), 'realities' are not always compatible with the factual world. According to Fowler (1991), any aspect of linguistic structure carries ideological meaning 4 lexical selection, syntactic option, etc.. 4 All have their raison d'etre. There are always different ways of saying the same thing, and these alternative modes are not accidental. One of the factors which contribute to enable the blending of facts and interests of various kinds, not always perceptible to the reader, and that underlie the text, is the Appraisal (Appraisal) (MARTIN, 2000, 2003), a reticular system of descriptions of options semantics to evaluate people, things and phenomena. He and his group have developed techniques to be applied systematically to the full text of any record, working within the general framework of Systemic Functional Linguistics. Persuasion, in particular the implicit persuasion (attitude tokens), it is not always realized by adjectives and adverbs clearly persuasive, but also thanks to certain choices lexicogrammatical not considered in the interpersonal tradition, but that, combined with specific contexts and that cumulatively occur as the text unfolds 4 the logogênese (Halliday 1992, 1993; Halliday, Matthiessen 1999), makes them highly effective. This research aims to examine the persuasion that runs two different genres: a chronic and talk show on TV, to see how it is done through the tokens of attitude in these contexts of use of language. To do so, must answer the following research questions: (a) how is persuasion through the tokens in the chronic attitude and talk show? (b) what choices lexicogrammatical are more used to the achievement of tokens in each gender? The results show that the criticism is built by irony, alternating alignments with explicit evaluative attitude and tokens. Such resources involve tokens signed on facts known to the reader, thus ideational, the speech of the animator, but enclosing Social Assessments negative, leaving the role of ‘author’ (Goffman 1979) to the caller.

, -. )/ ! Persuasion; Tokens Attitude; Oral and written; Systemic4Functional

(10)

"0 /) % 1Avaliação (Fonte: Martin 2000)...2$

"0 /) # 1Recursos de Avaliatividade...2%

(11)

%7% )8 * 77777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

%7# 9) ( 9 9 + . 9 ( : 7777777777777777777777777777777777777777777777777

( ) ( *

( ) ) * & '

# 6 777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

#7% 0 / 90 777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

#7# ;0< 9 * )<9 * 77777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

#72 ;0< 9 * 9=> * 0 * 777777777777777777777777777777777777777777777777777777

) + ( %

) + ) ,

-) + + % % . /

#73 ? @ <9 * / @ 9 / *: A BC + / ; .+ 9 @ 9 * CD777777777777777777777

#74 * 9) E / / F )> G: 7777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

#7H ) 777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

#7I F0 / > 9 9 )@ / 9 / F / ) 9 777777777777777777777777

#7J + > 9 BF 9 ;D777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

2 7777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

27% / 77777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

27# ) * / > 9 / K 77777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

3 5 5 77777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

37% K / )8 * ? )0 F / * ) A77777777777777777777777777777777777777

0 ( ( 1 2 3

37# K / )8 * ? 0; ) / 9 / 9 L ( A777777777777777777777777

0 ) ( 1 2 3

(12)

H 6N 7777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777777

(13)

%7 6

A leitura e a escrita são a base para uma leitura crítica do mundo, e é a partir delas que se inicia o processo de consciência dos direitos e deveres do cidadão, indispensável ao processo de democratização. Rios (2003) conseguiu traduzir muito bem o pensamento sobre a importância da postura do educador diante do aluno na sala de aula, dizendo que:

O ensino da melhor qualidade é aquele que cria condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever [...]. Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto de que participa, deixando seus sinais, seus símbolos. (RIOS 2003, p. 138)

O principal objetivo do ensino de Língua Portuguesa, em qualquer nível de ensino, deve ser o de proporcionar condições para o desenvolvimento da linguagem do aluno, da sua discursividade, da sua capacidade de expressão na linguagem oral e escrita (KÖCHE 2002).

Por outro lado, Koch (1987, p.19), escrevendo sobre a argumentação, diz que orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, “constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo”. Pode4se assim justificar a preocupação da escola em proporcionar ao aluno a capacidade de, através da palavra escrita, defender seu próprio ponto de vista, que em última instância lhe permitirá o exercício pleno da cidadania. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa do Ensino Médio (1999, p.139), destacam que:

O aluno deve ser considerado como produtor de textos, aquele que pode ser entendido pelos textos que produz e que o constituem como ser humano. O texto só existe na sociedade e é produto de uma história social e cultural, único em cada contexto, porque marca o diálogo entre os interlocutores que o produzem e entre os outros textos que o compõem. O homem visto como texto que constrói textos.

(14)

‘comparar’ pensamentos, ‘analisar’ suas características, ‘criticar’ seus argumentos, ‘classificar’ os produtos alcançados, usar, portanto muitos verbos de ação – observar, conhecer, separar, medir, relatar, combinar, interpretar, enumerar, transferir, debater, deduzir, analisar, avaliar, interagir, persuadir, discriminar – nos desafios propostos (p.76)

A propósito, diz Freire (2001), o educador que não possuir uma bagagem crítica e não fizer um trabalho educativo criativo é considerado “mudo”, perante o mundo e a si mesmo. Diz ele:

[...] Daí a necessidade de uma séria e rigorosa “leitura do mundo”, que não prescinde, pelo contrário, exige uma séria e rigorosa leitura de textos. Daí a necessidade de competência científica que não existe por ela e para ela, mas a serviço de algo e de alguém, portanto contra algo e contra alguém... (p. 50).

Segundo Demo (1996), a formação de sujeitos críticos4criativos e participativos depende especificamente de aprender a aprender, saber pensar para melhor intervir, inovar, e para isto, os educadores têm que estar preparados, já que são os formadores. No entanto, para isso, devem aprimorar a sua qualidade profissional formal (meios) e política (fins) com a formação contínua. Diz ele: “Sem consciência crítica, conhecimento e participação, não é viável o desenvolvimento humano, porque a população sequer se descobre como oportunidade” (DEMO 1996, p.13).

O autor propõe que as universidades, entendidas como a “fábrica de conhecimentos” disponibilizem os cursos de capacitação para os diversos profissionais e principalmente os educadores. Essa ideia nos parece muito relevante, do ponto de vista de que a universidade precisa se responsabilizar pela continuidade dos estudos dos ex4alunos, pois é nela que encontramos os ministrantes preparados científica e pedagogicamente.

(15)

construindo, assim, um mundo textual (DOWNING 2003), de 'realidades' nem sempre compatíveis com o mundo factual. O que fazer, nesse contexto, para contribuir no desenvolvimento da postura crítica de meus alunos, de fazê4los reconhecer a força persuasiva de um texto?

Segundo Fowler (1991), aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica 4 seleção lexical, opção sintática, etc. – todos têm sua razão de ser. Há sempre modos diferentes de dizer a mesma coisa, e esses modos não são alternativas acidentais. Diferenças em expressão trazem distinções ideológicas (e assim diferenças de representação). Os signos adquirem significado ao serem estruturados em códigos, sendo a língua o principal deles. O código linguístico dota o mundo com um significado ao organizá4lo em categorias e relações, que não são 'naturais', mas representam interesses, valores e comportamentos de uma comunidade. Assim, diz ele, na medida em que há, sempre, valores implicados no uso da língua, deve ser justificável praticar um tipo de linguística direcionada para a compreensão de tais valores. Esse é o ramo que se tornou conhecido como

;0< 9 * )<9 * .

Aqui vale uma explicação. Com Austin (1982) e sua proposta dos Atos de Fala, o conceito de 'língua' passa a depender do contexto de uso, já que um enunciado como (a) 41 2 ' pode ser entendido como (b) 4% 5 4. O falante teria dito (a) ou (b)? Se for entendido como tendo dito (a), a janela pode não ser aberta, e o ato será considerado infeliz, segundo Austin. Ocorre que ele não disse (b), mas poderá ser entendido como tendo dito (b), de acordo com o que propõe o 'ato ilocucional', da teoria. Então o que seria 'língua'? Aquilo que foi dito ou aquilo que foi entendido? Nesse contexto, 'lingua' não pode ser entendido como o 'signo linguístico', a relação entre significado e significante, nos termos de Saussure, pois na comunicação esse signo precisa de um contexto para ser devidamente decodificado.

(16)

construir comunidades, para alinhar pessoas na negociação em curso na vida em comunidade. Como linguistas funcionais e analistas do discurso, eles estavam especialmente preocupados com o desenvolvimento de técnicas que pudessem ser aplicadas sistematicamente a textos inteiros de qualquer registro, trabalhando dentro do enquadre geral da Linguística Sistêmico4Funcional.

A persuasão, em especial a persuasão implícita, que permeia o texto, nem sempre é realizada por adjetivos e advérbios claramente persuasivos, mas graças também a determinadas escolhas léxico4gramaticais, não consideradas interpessoais na tradição, mas que, combinadas a contextos específicos, tornam4nas altamente persuasivas. Esse tipo de persuasão, que acontece cumulativamente conforme o texto se desenrola 4 a logogênese (HALLIDAY 1992,HALLIDAY;MARTIN 1993; HALLIDAY; MATTHIESSEN 1999), pode ser extremamente eficaz em certos contextos. Concorrem nesse sentido as noções de “política do apito do cão” (COFFIN; O'HALLORAN 2006), o contrabando de informação (LUCHJENBROERS & ALDRIDGE 2007), a ironia (EL REFAIE 2005), o alinhamento ( ) (GOFFMAN 1974), que constroem o mundo textual (DOWNING 2003).

Dito isso, a presente pesquisa tem como objetivo examinar a persuasão que percorre dois gêneros diferentes: a crônica e o & ' na TV, para verificar como ela é feita através dos & de Atitude nesses contextos de uso de língua. Para tanto, deve responder às seguintes perguntas de pesquisa:

(a) como é feita a persuasão por meio dos & de Atitude na crônica e no & '?

(b) que escolhas léxico4gramaticais são mais utilizadas para a realização dos & em cada um dos gêneros?

Antes de iniciar a apresentação das teorias que embasam a minha análise da crônica e do & ', faço uma breve explicação desses dois gêneros.

%7% *)8 *

(17)

passou a devorá4los. A palavra crônica recupera o sentido do mito, pois contém o radical que indica resgate do tempo: a crônica como narrativa devoradora do presente, da vida, tem um desejo insaciável de estancar o agora que logo se esvai.

Mas são vários os significados de crônica. A crônica no sentido em que o termo é usado hoje em dia nasceu na França. Na Inglaterra, o desenvolvimento da imprensa fez surgir um novo tipo cultural, o crítico – o homem informado em questões de literatura 4, capaz de influenciar a opinião pública. Pela primeira vez, a produção literária se ofereceu como artigo de consumo regulado por sua negociabilidade no mercado, que, no período da censura napoleônica, ficou restrito ao rodapé da primeira página para a publicação de amenidades 4 o folhetim, mas que logo transformou4se num verdadeiro suplemento literário. Nesse espaço, escrevem romancistas, críticos e jornalistas.

No Brasil, o folhetim desenvolveu4se com o jornal, tornando4se uma modalidade narrativa cultivada por muitos escritores brasileiros desde a metade do século XIX. Em 1836, Justiniano José da Rocha lança o 1 , mas os estudiosos são unânimes em afirmar que a crônica brasileira começou com

Francisco Otaviano, em folhetim, no 6 1 $ 6 entre

1852 e 1854. Esse cronista chamou para substituí4lo nesse mesmo jornal o jovem e então desconhecido José de Alencar, que em seu folhetim, de 29 de outubro de 1854, afirma: ”macaqueamos dos franceses tudo quanto eles têm de mal, de ridículo e de grotesco”: o tão mal afamado folhetim não podia faltar aqui.

Em crônica de 1859, Machado de Assis (apud CAMPOS 2002) definiu o folhetim e o folhetinista, que nada mais eram do que 7 :

O folhetim nasceu do jornal, o folhetinista por consequência do jornalista. Esta última afinidade é que desenha as Saliciências fisionômicas na moderna criação. O folhetinista é a fusão admirável do útil e do fútil, o parto curioso e singular do sério, consorciado com o frívolo. Esses dois elementos, arredados como polos, heterogêneos como água e fogo, casam4 se perfeitamente na organização do novo animal.

(18)

exaustivo, nem o rigor na informação; (iii) crônica não é artigo, nem ficção. Dentro da prosa, é a libertação da rigidez do gênero; crônica é o texto livre, ‘desfatigado’, que pode tratar de qualquer assunto; é curto, sem ter, contudo, regras preestabelecidas para sua extensão.

A crítica literária entende crônica “um gênero literário de prosa, ao qual menos importa o assunto, em geral efêmero, do que as qualidades de estilo”; menos o fato em si do que o pretexto ou a sugestão, menos o material histórico do que a variedade. Importam a finura e a argúcia na apreciação, a graça da análise de fatos miúdos e “sem importância” ou da crítica buliçosa de pessoas. Ao aficionado por rodapés de textos interessam essas pequenas produções em prosa publicadas em jornais ou revistas; é nas entrelinhas, porém, que encontramos a matéria4prima do objeto de estudo.

Tem4se, enfim, um gênero que dá notável contribuição quanto à diferenciação da língua entre Portugal e Brasil, pois, ligado à vida cotidiana, apela frequentemente para a língua falada, coloquial, adquirindo inclusive certa expressão dramática no contato com a vida diária.

%7# 9) ( 9 9 ( :

Passo a tratar da diferença entre a entrevista e o & ', com base em Rigante (2008). A programação da televisão é estabelecida por meio de categorias e gêneros, segundo Souza (2004). Conforme Souza são três as categorias contidas na maioria dos gêneros televisivos: entretenimento, informação e educação. Uma quarta categoria, pontuada como “especial” (programas infantis, de religião, de minorias étnicas, agrícolas e outras), também aparece em alguns gêneros televisivos brasileiros, contudo, em menor escala.

Diz o autor que a confusão entre o gênero entrevista e o gênero & ' foi um dos nós que ele tentou desatar em seu livro 3* 8 #

(19)

( ) ( *

Para Souza (2004), o gênero entrevista está ligado aos programas jornalísticos das emissoras, que procuram pessoas das mais diversas áreas para ficar frente a frente com o apresentador, na maioria jornalistas de renome. Quando existe descontração e intimidade, pode haver uma redefinição do gênero entrevista. Com tais elementos, o gênero se aproxima do classificado como & ' Os dois se aproximam, mas com diferenças que demarcam o território do jornalismo e o do

'. No gênero entrevista, o entrevistado é o foco e não há 'comandado pelo jornalista apresentador.

Os assuntos de política e atualidades são os que frequentam as pautas dessas entrevistas, como o $ : (Cultura). Diferente do & ', o apresentador de entrevista não tem o compromisso de deixar o entrevistado à vontade, podendo questioná4lo sobre fatos polêmicos e chegar até a discórdia, o que denota seriedade e compromisso com a verdade, atribuições dos programas jornalísticos.

Segundo Preti (1991), assimetria em entrevista é um dos tópicos centrais, quando se trata do cenário institucional. O poder é usado em referência aos direitos que o entrevistador possui. Participantes em uma entrevista são desiguais em termos dos direitos envolvidos na interação. Esse aspecto difere a conversa realizada no espaço da televisão da conversa diária, nas quais os tópicos escolhidos são relativamente livres, a tomada de turno é negociada e as perguntas não são definidas.

Preti (1991) diz que quem assiste a uma entrevista, embora nem sempre se dê conta, pode constatar que se trata de um diálogo com “as cartas marcadas”. Sua assimetria revela, por outro lado, que, salvo casos excepcionais em que o entrevistado possui uma posição social muito relevante, o entrevistador é quem tem controle absoluto do turno de fala, entra no diálogo quando quer, dirige as mudanças de tópico, enquanto o entrevistado, ainda que permaneça com a palavra a maior parte do tempo, só o faz na medida em que aquilo que se diz interessa ao desenvolvimento do diálogo planejado pelo entrevistador.

(20)

andar pelo cenário e entrevistar os convidados de pé é utilizada pelo programa do

& '. Nesse caso, o apresentador percorre o cenário em busca das atrações do programa: apresentações musicais, entrevistas, etc. Já os cenários dos programas do gênero entrevista permitem ao convidado e ao apresentador ficar sentados durante todo o tempo. Isso presume uma entrevista de duração mais longa do que aquelas normalmente realizadas em programas do gênero & '.

( ) ) * & '

O gênero & ' é uma forma de a televisão transmitir uma conversa e deve apresentar duas características: casualidade e espontaneidade. O & '

combina algumas das principais qualidades de outros gêneros dramáticos de sucesso: intimidade emocional e um pouco de bom humor. Sua versatilidade permite passar do musical para o jornalismo, da política para o esporte.

Haarman (2001) assegura que dentre os gêneros televisivos, o & '

pode ser considerado a manifestação mais popular que abarca uma variedade de formatos de televisão. Isso inclui uma conversa entre membros da elite, mesa redonda, grupos de discussão, entrevistas, debates, assuntos polêmicos discutidos entre especialistas e pessoas não entendidas em determinada área.

Para o autor, existe tipos diversificados de & ', dependendo do tipo, o foco da conversa pode ser um bate4papo (uma conversa amena, agradável) típico dos & ' apresentados à noite, que trazem celebridades para entrevistas, ou um assunto, tema, que parte de um problema político, social e eventos atuais para tópicos mais pertinentes ao domínio privado, como ciúme ou infidelidade.

Cada um desses diferentes contextos de situação tem suas regras de interação específicas e comportamentos linguísticos que figuram os procedimentos dos programas. Nos diferentes tipos de & ' mencionados, o contexto de situação é controlado pelo apresentador. Sendo assim, o & ' tornou4se um triunfo de personalidade, ele não depende de uma trama ou ação, ele não provém de conteúdo específico. Tudo o que esse gênero televisivo oferece é a oportunidade do telespectador se “aquecer na atmosfera” que irradia de um apresentador.

(21)

de discussão, apresenta os convidados, dirige os procedimentos e colabora com os aspectos técnicos, como anunciar interrupções para o comercial.

(22)

#7 6

Apresento, a seguir, a teoria que apoia a minha análise. Inicio com a noção de 'mundo textual', seguida pela análise crítica do discurso, que requer a explicação da Linguística Sistêmico4Funcional (LSF), e, por fim, o sistema da Avaliatividade, que ampliou o alcance da metafunção interpessoal da LSF e que envolve a noção de

& de Atitude, a avaliação implícita. Na construção da avaliação implícita, concorrem as seguintes noções: “política do apito do cão”, o contrabando de informação, a ironia, o alinhamento; nesse sentido, Holtgraves (1998) afirma que a implicitude 4 o ato de fala indireto 4 é determinada por motivos interpessoais, em especial com a finalidade de evitar a ameaça à face.

#7% 0 / 90

Downing (2003) explora o modo como se criam >0 / 9 90 no discurso, analisando as escolhas linguísticas e as feições de contexto, que são cruciais na determinação das relações específicas entre produtor e audiência, em particular, o conhecimento da noção de ‘ ;. Argumenta4se que o modelo do mundo textual é adequado para a descrição da maneira em que o discurso é processado de modo ativo, dinâmico e dependente4de4contexto. Nesse processo, o receptor reconstrói o mundo projetado no discurso de acordo com seu próprio conhecimento cultural e pessoal a partir de pistas linguísticas e visuais.

(23)

O pressupõe outros elementos que concorrem na criação desse mundo, continua Downing, como a elipse, a pressuposição e o conhecimento partilhado, que atuam para estabelecer a relação entre as personagens do mundo fictício e o receptor, baseado na suposição de que há quantidade suficiente de conhecimento partilhado para determinar o sentimento de proximidade, confiança, informalidade e intimidade. Aquilo que não é dito é que é importante, pois reflete o que as pessoas tomam por aceito já que um texto joga com referências intertextuais. O discurso em linhas gerais é “um esforço deliberado e conjunto por parte do produtor e do receptor para criar um “mundo” dentro do qual as proposições apresentadas soem coerentes e façam sentido. A natureza cognitiva da noção de mundo textual é apresentada também por Semino (1997): “Quando lemos, inferimos ativamente um mundo textual ‘atrás’ do texto, isto é, o contexto, o cenário ou o tipo de realidade que é evocado em nossas mentes durante a leitura através do que é referido pelo texto. O mundo textual não é uma entidade fixa que é percebida da mesma maneira pelos leitores; de fato, nem há garantia de que os receptores construirão o mundo textual pretendido pelo produtor.

#7# ;0< 9 * )<9 *

Fowler (1991) afirma que a análise crítica está interessada no questionamento das relações entre signo, significado e o contexto sócio4histórico, que governam a estrutura semiótica do discurso, usando um tipo de análise linguística. Ela procura, estudando detalhes da estrutura linguística à luz da situação social e histórica de um texto, trazer para o nível da consciência os padrões de crenças e valores que estão codificados na língua – e que estão subjacentes à notícia, para quem aceita o discurso como 'natural'. Não é um procedimento que automaticamente produz uma interpretação 'objetiva'.

(24)

Todos reconhecem a importância da língua nesse processo de construção, mas na prática, segundo Fowler, a língua recebe um tratamento relativamente pequeno. Por isso, é seu objetivo dar à língua a devida importância, não somente como um instrumento de análise, mas também como um modo de expressar uma teoria geral da representação. Assim nasce a Linguística Crítica (LC), uma abordagem que foi desenvolvida por um grupo da Universidade de East Anglia, na década de 1970 (FOWLER et al. 1979; KRESS e HODGE 1979). Eles tentaram casar um método de análise linguística textual com uma teoria social da linguagem em processos políticos e ideológicos, recorrendo à teoria linguística funcionalista associada a Michael Halliday (1978; 1985; 1994) e conhecida como “Linguística Sistêmico4Funcional".

Fairclough (1992) trata da análise do discurso crítica (ADC), que é, segundo ele, uma orientação no estudo da língua que associa a análise do texto linguístico a uma teoria social do funcionamento da língua. Embora Voloshinov ( FAIRCLOUGH 1992) tenha estabelecido em fins dos anos vinte os princípios para uma análise crítica, e Firth ( FAIRCLOUGH 1992) tenha sugerido por volta de 1935 que a língua é um modo de uma pessoa se comportar, mas também de fazer os outros se comportarem, somente na década passada a orientação crítica começou a se impor. Os processos discursivos de produção e interpretação textual tornaram4se uma preocupação central, e há mais atenção explícita ao desenvolvimento de uma teoria social do discurso, que se centra em uma tentativa de desenvolver uma teoria do gênero de discurso.

A propósito, Fairclough, bem como Fowler afirmam que a análise crítica requer um método de análise multifuncional. Um bom ponto de partida continua ele é uma teoria sistêmica da linguagem (HALLIDAY 1978), que considera a linguagem como multifuncional e considera que os textos, simultaneamente, representam a realidade, ordenam as relações sociais e estabelecem identidades.

#72 ;0< 9 * 9=> * 0 *

(25)

pelos falantes (daí o nome ‘sistêmico’); além disso, essas escolhas servem para os falantes realizarem coisas com a língua (daí o nome ‘funcional’).

Segundo Eggins (1994), os sistemicistas, partindo da descrição de como a língua é usada em textos autênticos, examinam a questão de como a língua está estruturada para esse uso. Os usuários da língua não interagem apenas para trocar sons uns com outros, nem palavras ou sentenças, mas para construir significados (três simultâneos: (experiencial + lógico), e ! a fim de entender o mundo e o outro:

● Metafunção ideacional: refere4se ao conteúdo, propósito, assunto ou tópico de

que as pessoas tratam.

● Metafunção interpessoal: refere4se às relações entre pessoas expressas na linguagem.

● Metafunção textual: refere4se à maneira como as pessoas organizam a fala e

a escrita de acordo com seu propósito e as exigências do meio sócio4 histórico4cultural.

Essas metafunções agem juntas: cada palavra que dizemos realiza as três metafunções. Em sendo assim, tudo que expressamos linguisticamente quer dizer, simultaneamente, três coisas: alguma coisa (ideacional) dita a alguém (interpessoal) de algum modo (textual). E como faz a língua para manipular três tipos de significados simultaneamente? A língua possui um nível intermediário de codificação: a L * ;) >K9 * . É este nível que possibilita à língua construir três significados concomitantes, e eles entram no texto através das orações. Daí porque Halliday dizer que a descrição gramatical é essencial à análise textual.

Por outro lado, quando se faz uma escolha no sistema linguístico, o que se escreve ou o que se diz adquire significado contra um fundo em que se encontram as escolhas que poderiam ter sido feitas

(26)

relacionados, tanto que sem um contexto não somos capazes, em geral, de dizer que significado está sendo construído. Portanto, ao fazermos perguntas funcionais, não é suficiente enfocarmos somente a língua, mas a língua usada em um contexto. Mas quais as feições desse contexto afetam o uso da língua? Para responder a essa questão, os sistemicistas lançam mão de dois conceitos:;= ) e) ; 9) .

O gênero descreve a influência das dimensões do contexto cultural sobre a língua. Dessa forma o texto não é utilizado somente para explorar as formas gramaticais isoladas, mas tem4se o objetivo de analisá4lo com uma dimensão textual4discursiva, concepção sócio4interacionista de linguagem centrada na interlocução. Na LSF, Martin (1985, p.25) oferece uma definição mais operacionável: "gênero é uma atividade organizada em estágios, orientada para uma finalidade na qual os falantes se envolvem como membros de uma determinada cultura". Diz ele que grande parte do choque cultural é de fato choque de gênero. Menos tecnicamente (MARTIN 1985, p.248), diz que gêneros são como as coisas são feitas, quando a linguagem é usada para efetivá4las.

O registro descreve a influência das dimensões do contexto situacional imediato sobre a língua. Halliday (1978; 1985) sugere que os elementos do contexto que influem no uso da língua sejam somente três: (a) >@ (o assunto sobre o que a língua está sendo usada); (b) G: (a relação entre os interlocutores) e (c) / (o papel que a língua exerce na interação). As três variáveis contextuais de registro são organizadas, respectivamente, pelas metafunções ,

e ! da linguagem (HALLIDAY 1978).

São essas noções de significado no texto e sua correlação com as dimensões contextuais, que dão à abordagem da LSF dois temas comuns:

Foco na análise da variação dos traços linguísticos do discurso: isto é, há especificações explícitas, idealmente quantificáveis de padrões gramaticais e semânticos do texto.

(27)

Há também um terceiro contexto 4 o / O; * , que mais recentemente tem sido abordado pela LSF. A ideologia ocupa um nível superior de contexto, referindo4 se a posições de poder, a vieses políticos e suposições sobre o que os valores, tendências e perspectivas que os interlocutores trazem para seus textos, e tem chamado a atenção dos sistemicistas, na medida em que, em qualquer registro, em qualquer gênero, o uso da língua será sempre influenciado pela nossa posição ideológica.

Embora a ideologia tenha importância atestada, apenas algumas áreas do conhecimento humano e do estudo da linguagem tentam analisar aspectos ideológicos (VAN DIJK 1999), dentre as quais se destaca a Análise de Discurso Crítica (ADC), que engloba uma variedade de abordagens em torno da análise social do discurso (FAIRCLOUGH; WODAK 1997; PÊCHEUX 1982; WODAK; MEYER 2001). A ADC oferece uma contribuição significativa da linguística para debater questões da vida social, como o racismo, o sexismo (a diferença baseada no sexo), o controle e a manipulação institucional, a violência, as transformações identitárias, a exclusão social, entre outros (MAGALHÃES 1986).

(28)

) + ( %

Segundo Li (2010), apesar da série de abordagens à ADC, o que há de comum entre elas é a compreensão de como as ideologias sócio4políticas ou sócio4 culturais estão entrelaçadas com a língua e o discurso. Uma premissa básica de todas as formas da ADC é que o uso da língua no discurso implica significados ideológicos e que há restrições discursivas no que diz respeito ao uso da língua e aos significados implicados (VAN DIJK 1993 apud Li 2010; FOWLER 1996; FAIRCLOUGH 1995). Van Dijk (1993 apud Li 2010; 1997), por exemplo, desenvolve uma abordagem da ADC que procura ligar o texto com o contexto, integrando a análise textual com processos de produção e de interpretação do discurso. Ele trata de reportagens jornalísticas, mas sua proposta vale para outros tipos de gênero, a meu ver.

Van Dijk (1985 apud Li 2010) oferece um modelo analítico de três níveis. O primeiro nível, a 0@ ) 9)090) , refere4se a esquemas textuais que desempenham um papel importante na compreensão e na produção de um texto. Incluídas aí estão a estrutura temática hierarquizada do texto, a organização geral em termos de temas e tópicos, que envolve asF )> ;0< 9 * concretas do texto, como as escolhas lexicais, variações sintáticas ou fonológicas, relações semânticas entre proposições e traços retóricos e estilísticos. Essas formas linguísticas no nível superficial implicam significados no terceiro nível, a 9)090) @) F0 / . Aqui, o analista da ADC examina, por exemplo, posições ideológicas subjacentes expressas por certas estruturas sintáticas como as construções passivas, ao omitir ou ao desenfatizar agentes da posição de sujeito ou atribuir maior poder a certos indivíduos ou grupos sociais por meio de escolhas retóricas específicas.

(29)

grupos sociais são construídos e diferenciados no TR com base na língua e na ideologia, e como eles adquirem e reproduzem ideologias através do discurso.

A abordagem de Van Dijk da TR recorre a uma metodologia que se apoia na gramática4da4oração para explicar o modo como os traços da estrutura superficial do texto comunicam ideologias específicas e identidades de grupo no nível profundo. Li em sua comparação de uma reportagem sobre um bombardeio publicado por dois jornais, o # New > & # e o 1 ? @ apoia4se no enquadre da LSF, apontando os pontos dessa abordagem que interessam à sua análise. A língua é entendida como uma "rede de opções entrelaçadas" (Halliday 1994:xiv/ uma gramática do ; F * / ; a LSF, vê a língua como um sistema de significados realizados por meio de F0 GP realizadas através do rico recurso de opções gramaticais selecionadas pelo usuário da língua. Essas escolhas são descritas em termos funcionais para que sejam significativas semântica e pragmaticamente. A visão funcional da GSF das escolhas linguísticas como índices de significados cruza com a análise do discurso crítica: ambas são guiadas pela suposição subjacente de que as formas linguísticas e as escolhas expressam significados ideológicos. A LSF oferece um instrumento analítico específico para o exame sistemático das relações de poder no texto bem como das motivações, propósitos, suposições e interesse dos produtores do texto. Com seu foco na seleção, categorização e ordenação do significado nas microestruturas no nível da oração mais do que no macronível do discurso, a LSF é especialmente útil para uma análise sistemática, com enfoque nos traços linguísticos no micronível dos textos do discurso, fornecendo intravisões críticas na organização dos significados no texto. Assim, apoiada no enquadre da LSF e guiada pela abordagem de Van Dijk, Li (2010) examina as propriedades textuais no texto da reportagem nos níveis da oração e da frase para explicar os significados sociais e ideológicos envolvidos em determinadas escolhas linguísticas e retóricas.

(30)

) + ) ,

-Segundo Halliday, a oração está organizada como um evento interativo, envolvendo falante (ou escritor), e audiência. Os tipos fundamentais de

são apenas dois: (i) dar, e (ii) pedir. Juntamente com essa distinção básica está uma outra distinção, igualmente fundamental, que se relaciona com a natureza do produto que está sendo permutado. Este pode ser (a) ou (b)

.

Quando a língua é usada para permuta de informação, a oração toma a forma de PROPOSIÇÃO. O autor continua a usar o termo 'proposição' no seu sentido usual para se referir a afirmações e perguntas. Mas julga ser útil introduzir um termo paralelo para a referência a oferecimentos e ordens: PROPOSTA. A função semântica da oração como permuta de informação é uma proposição; a função semântica da oração como permuta de bens & serviços é uma proposta.

Thompson e Thetela (1995) propõem uma distinção no interior da metafunção interpessoal: (i)@ , ou o posicionamento pessoal do escritor (modalidade) e (ii)

9 ) * , a interação entre escritor e leitor (modo), respectivamente.

Acrescentam uma terceira função, de natureza textual, a função 9 ) 9 ( , que guia o leitor através do texto. Mais recentemente, Hyland (2005) e Hyland e Tse (2004) estabelecem uma forte visão interpessoal, também para a função interativa, afirmando que tanto essa função quanto à interacional 4 que eles chamam de 'metadiscurso' 4 são essencialmente interpessoais, já que levam em conta não só as experiências textuais, mas também as necessidades de processamento do leitor.

) + + % % .% /

(31)

mais que uma simples troca de bens e serviços ou de informação, mas, também, , 5 ou . Assim, juntamente com modelos baseados4na4 gramática, precisamos elaborar sistemas lexicalmente4orientados que tratem também desses elementos.

– emoções

RITA Eu adoro esta sala. Eu adoro aquela janela. E você gosta também?

FRANK O quê?

M – ética (avaliando comportamento)

FRANK E é o seguinte, entre você, eu e as paredes, eu sou na verdade um professor péssimo.

Na maioria das vezes, veja, nem interessa realmente – dar aulas péssimas está bem

para a maioria dos meus alunos péssimos.

6 – estética

RITA Sabe, a Rita Mae Brown, que escreveu$ @ 6 ? Você leu esse livro? Ele é

fantástico.

Quadro 1: Avaliação (Fonte: Martin, 2000)

Martin examina o léxico avaliativo, que ele intitulou de % (doravante, Avaliatividade), que expressa a opinião do escritor (ou do falante) a respeito do parâmetro bom/mau. Ele está interessado em mostrar que a avaliação é complexa para operar, mas que pode ser reduzida a um pequeno número de conjuntos básicos de opções: ou seja, o que parece ser, a princípio, um grupo variado intratável de itens lexicais, poderia ser sistematizado.

(32)

AVALIATIVIDADE

>@) > Enunciado monoglóssico

Enunciado heteroglóssico

9 90/

Afeto

Julgamento

Apreciação

Apreciação Social

) / G: Força aumenta

diminui

Foco aguça

suaviza

Quadro 2 4 Recursos de Avaliatividade

A categoria principal ou subsistema é o F 9 , que trata da expressão de emoções (felicidade, medo, etc.). Relacionado a ele há mais dois subsistemas:

M0 ; > 9 : tratando de avaliação moral (honestidade, generosidade, etc.) e

@) * G: : tratando da avaliação estética (sutileza, beleza, etc.), que envolve a

% A , que se refere à avaliação positiva ou negativa de produtos, atividades, processos ou fenômenos sociais.

A Gradação envolve um conjunto de recursos para aumentar ou diminuir a intensidade da avaliação. O Compromisso é um conjunto de recursos que capacita o escritor (ou o falante) a tomar uma posição pela qual sua audiência é construída como partilhando a mesma e única visão de mundo (enunciado monoglóssico) ou, por outro lado, a adotar uma posição que explicitamente reconhece a diversidade entre várias vozes (enunciado heteroglóssico).

Há dois modos básicos de Avaliatividade que são importantes para a narrativa: inscrita e evocada. Elas podem ocorrer separadamente ou combinadas de diferentes modos dentro de uma fase do texto. A Avaliatividade inscrita torna a atitude explicita através de léxico avaliativo ou de sintaxe. Ela se introduz diretamente no texto através de epítetos atitudinais ou relacionais ou adjuntos de comentário.

(33)

que as inscritas porque seu significado é mais de transferência do que literal. Contudo a Avaliatividade evocada é importante porque é o mecanismo primário pelo qual o texto se insinua nas atitudes do leitor. A propósito, Martin (2003, p.173) diz: “o apego a categorias explícitas significa que uma grande quantidade de atitude implícita pelos textos será perdida”.

Naturalmente a Avaliatividade evocada torna a tarefa da análise linguística mais difícil. Mas mesmo as expressões abertamente atitudinais são vozeadas por personagens e relativizadas pelo texto. É assim que significados ideacionais, que não se valem de léxico avaliativo, podem ser usados para evocar Apreciação, assim como Afeto e Julgamento. Assim, por exemplo, apontar a preferência por um determinado livro (significado ideacional) pode implicar ignorância a respeito de literatura (significado interpessoal). É esse pareamento que explica o fato de podermos reconhecer que alguém significa o oposto do que diz. Daí por que, a decisão pela Avaliatividade 4 se positiva, se negativa 4 depende da posição de leitura.

Toda instituição está carregada com esse tipo de pareamento, continua o autor, e a socialização em uma disciplina envolve tanto um alinhamento com as práticas institucionais envolvidas quanto com as atitudes que se espera em relação a essas práticas. Assim, os analistas de Avaliatividade devem declarar sua posição de leitura – porque a avaliação que se faz através de evocações depende da posição institucional a partir da qual se está lendo.

Com relação a esses fatos, é importante ressaltar que a análise do discurso nos últimos anos enfatizou a importância do contexto, mas perdeu a visão da importância do cotexto (MARTIN 2000c apud LEMKE 1998). Mas é o texto que significa, através de suas sentenças e o complexo de contingências entre elas. O que é interessante aqui é que a positividade ou a negatividade dos sentimentos de Avaliatividade podem influenciar retrospectivamente a interpretação do cotexto precedente. Lemke (1998) fala sobre a qualidade ‘propagativa’ da avaliação, que também pode agir prospectivamente; esse processo é também chamado de 'logogênese', a avaliação que percorre o texto.

(34)

solidariedade, diz Martin. A distribuição dos recursos como uma parte integral da negociação de significados que se desenrolam, demonstra os modos pelos quais diferentes contextos acarretam diferentes combinações de opções, e como os falantes podem explorar diferentes séries de Avaliatividade para construir personas específicas. Martin enfatiza que a expressão da atitude não é, como se pensa, um assunto simplesmente pessoal, no sentido de que o motivo básico de expressar uma opinião é eliciar uma resposta de solidariedade do endereçado.

#73 ? @ <9 * / @ 9 / *: A BQ D

Coffin e O'Halloran (2006) se valem da ?@ <9 * / @ 9 / *: A (‘

' ;) frase cunhada recentemente, segundo as autoras, para capturar uma forma de avaliação implícita, que se refere ao uso de significados aparentemente neutros, mas que serão ‘escutados/entendidos’ como uma mensagem negativa (ou positiva, dependendo do contexto) apenas pela comunidade alvo (MANNING 2004), da mesma forma que apenas os cães ouvem o referido apito, inaudível ao ser humano, devido a elevada frequência desse objeto. Esse recurso tem alta incidência na comunicação política, segundo as autoras. Dizem elas que se pode verificar que a avaliação direta de um fenômeno de um intratexto prévio condiciona o leitor para uma avaliação indireta do mesmo fenômeno; o mesmo ocorre com a avaliação direta de fenômeno relacionado num intertexto prévio. É o que se chama de logogênese 4 construção dinâmica do significado conforme o texto se desenvolve (HALLIDAY 1992, HALLIDAY; MARTIN 1993; HALLIDAY MATTHIESSEN 1999).

(35)

(1) Não será de surpreender que homens e mulheres ansiosos, acostumados a trabalhar por

ninharia em países com alto índice de desemprego, estão se precipitando para conseguir

bilhetes para a Inglaterra.

As pessoas começam o êxodo, lotando ônibus ontem, nas estações da capital Varsóvia

(Polônia), na capital tcheca Praga, e na capital eslovaca Bratislávia.

Setenta e um LETONESES sorriam enquanto embarcavam num ônibus de dois andares,

na capital Riga, para uma viagem de 24 horas para o ocidente.

#74 * 9) E / / F )> G:

Os são conjuntos de informação aceitos culturalmente que acompanham qualquer termo lexical. Para Luchjenbroers & Aldridge (2007), a adequação do escolhido é também muito importante para ‘contrabandear uma informação’, um termo usado quando uma informação (negativa) é subrepticiamente inserida, por exemplo, nas declarações de uma testemunha.

Os de referência associados a cada escolha lexical derivam componentes adicionais de significados, i.e., cada escolha desencadeia uma rede ampla de associações prototipicamente presentes no uso do termo escolhido. O acesso do interlocutor a essas associações depende de sua experiência e de sua compreensão das normas sociais que determinam essas escolhas lexicais.

Do ponto de vista da linguística cognitiva e da semântica cognitiva do significado lexical, o significado é ‘enciclopédico’ por natureza: o sentido de uma palavra não está divorciado do seu contexto de uso. Assim, o significado linguístico está codificado na memória como um tipo de rotina cognitiva que se apoia em experiências no mundo, e a ativação de um conceito desencadeia os conceitos a ele relacionados na memória. As associações que o falante traz para o discurso nos atributos que ele usa para falar sobre pessoas, ações e eventos influenciam (com o óbvio intento de manipular) o modo como os ouvintes avaliam a informação que lhes é apresentada.

(36)

bomb'. Esta fonte desencadeava imediatamente os seguintes traços4chave: a bomba tem um pino que, quando aceso, vai diminuir e a seguir explodirá (e causará danos mortais); uma vez aceso o pino, a explosão é decorrência necessária.

Como vimos, são representações conceituais da experiência que definem uma situação (na memória) e fornecem a estrutura de um evento que nos permite compreender como as partes se encaixam no todo; como um evento se desenrola; e predizer o que virá a seguir (RIBEIRO; HOYLE 1996 apud LUCHJENBROERS & ALDRIDGE 2007).

Uma vez que um frame é acessado, todas as informações relevantes associadas daquele bem como traços contextuais adicionais ficam imediatamente disponíveis para inferências suplementares. Veja o exemplo (2):

(2) a. A defesa questiona X se ela tinha pensado em divórcio. b. Se ela era sexualmente próxima de Barbara Y?

c. e se ela estava envolvida em discussões sobre hedonismo (prazer como

finalidade)

d. e estilos de vida alternativos

Um ouvinte pode desencadear um progressivo feminista ou de mulher assertiva para uma mãe, conforme ela possa 'ter pensado em divórcio’. A implicação completa dessa linha de argumentação, envolvendo de conduta do conhecido para o desconhecido, pode na realidade ser mais condenador para o referente feminino do que os femininos tradicionais.

Para se compreender amplamente as escolhas lexicais feitas, é preciso reconhecer a força do mito cultural que envolve o comportamento de uma mulher. De fato, para se apreciar inteiramente o poder inferencial das escolhas lexicais em (2), o ouvinte precisa conceitualizar o evento inteiro, incluindo o poder relativo do papel de cada participante. É o que capta as experiências sociais e culturais bem como as expectativas associadas a essas referências.

(37)

O termo ‘* 9) E / ) F )> G: R (cf. LUCHJENBROERS 1993, 1997a apud LUCHJENBROERS & ALDRIDGE 2007) é usado quando uma informação é subrepticiamente inserida na declaração da testemunha. O texto examina os seguintes exemplos:

(3) Advogado: e ele lhe falou sobre como gostava de atirar em patos?

(4) Advogado: Não vou falar sobre todas as coisas ruins que você fez, não se preocupe.

Em (3), o desencadeado seria ‘atirar’ (no pato), mas notemos que não é isso que é realmente pedido: a testemunha é questionada se tinha sido informada a respeito dessa preferência. A pergunta pressupõe a validade do associado.

Uma série de outros traços das contribuições do falante podem também desempenhar um papel importante nas inferências expressas por esses enunciados: por exemplo, adiantar uma informação e repetidamente perguntar por uma confirmação. Essas estratégias contribuem no ‘contrabando’ de informação: assim não devemos supor que elas sejam acidentais para os objetivos do advogado, mas manobras cuidadosamente escolhidas.

(5) Advogado: Suas alegações contra o senhor F são de que em muitas ocasiões

ele a assediou de maneira indecente.

Está certo, não está?

(38)

Infelizmente, dizem os autores, não se pode esperar que membros do público (e o júri) sejam críticos e analíticos a respeito do que ouvem, o que os torna presa fácil de manipulações através dessas escolhas lexicais feitas obviamente para isso.

#7H )

El Refaie (2005) diz que alguns linguistas observaram que a dissensão social é em geral articulada por meios muito semelhantes à linguagem dominante. O estudo da ‘antilinguagem’, de Halliday (1978), por exemplo, que se originou em grupos socialmente excluídos tal como o submundo do crime, revela notável continuidade entre essas antilinguagens e a linguagem da maioria a que se opõem. Isto, ele acredita, reflete o fato de que são partes do mesmo sistema social. Da mesma maneira, em sua análise do debate sobre a imigração e minorias na Bélgica, Blommaert e Verschueren (1998 apud El REFAIE 2005) chegaram à conclusão de que a autoproclamada maioria tolerante na verdade apresenta o mesmo discurso da minoria racista, porque ambos não confiam na convivência da diversidade e na homogeneidade cultural. Daí a dificuldade fundamental de achar uma nova linguagem para expressar a dissensão social. Na realidade, parece que, uma vez estabelecido o discurso, é quase impossível opor4se a ele sem entrar no enquadre dominante de referência.

É aqui que a ironia se faz presente. O que dá à ironia seu potencial subversivo é o fato de que, enquanto um comentário irônico pode também estar intimamente relacionado a formas dominantes de falar sobre algum evento, ele simultaneamente vai além e subverte as próprias atitudes e opiniões que cita. A ironia pode, assim, encorajar os leitores a se conscientizarem e avaliarem o que seria de outro modo, aceito sem questionamento: assim, sendo, essa consciência não precisa inventar uma linguagem de dissensão completamente nova.

(39)

exemplo, definem a ironia verbal como “uma forma de linguagem não4literal, na qual o falante expõe uma atitude em relação à pessoa, situação ou objeto. A atitude expressa na ironia é oposta em tom à da atitude do significado literal”. Eles acreditam que o significado literal continue a afetar – ou ‘tingir’ – o significado não4 literal de um enunciado irônico, assim abafando o significado avaliativo que expressa.

A segunda abordagem da análise da ironia enfatiza a natureza ‘ecoica’ da ironia (KREUZ; GLUCKSBERG 1989; SPERBER; WILSON 1981 apud El REFAIE 2005). De acordo com essa visão, um enunciado irônico cita sempre um enunciado de alguém – ou, às vezes, uma norma implícita – enquanto expressa simultaneamente uma atitude de desaprovação em relação ao enunciado ecoado. Contudo, como Attardo (2000 apud El REFAIE 2005) mostra, nem toda ironia é ecoica e nem toda menção é necessariamente irônica. A dificuldade principal com essas duas abordagens é que elas enfocam a ironia e, assim, são geralmente inadequadas para capturar a ampla gama de usos possíveis de ironia. De fato, a ironia pode ocorrer de formas muito diferentes: como ironias verbais ou situacionais; como intencionais ou não4intencionais; explícitas ou implícitas (MUECKE 1982 apud El REFAIE 2005).

Clift (1999, p. 523 apud El REFAIE 2005) afirma que o escopo restrito da maioria das abordagens correntes tem produzido teorias que são “ao mesmo tempo estreitas demais para revelar o que seja a ironia, e amplas demais para iluminar o que a ironia faz”. Sua abordagem, por contraste, permite uma exploração da essência da ironia através de todas as suas diferentes formas.

(40)

que ela é capaz de tratar de várias formas de ironia verbal e situacional, tanto para a expressão de ironia verbal quanto para a visual.

A explicação de ironia de Clift (1999 apud El REFAIE 2005) tem a vantagem sobre as ‘teorias eco’, pois, embora não descarte a possibilidade de que o ironizador esteja diretamente citando ou ecoando alguém, ela evita o problema teórico da identificação da origem específica para cada enunciado irônico. No caso da ironia jornalística, os enunciados que estão sendo ‘enquadrados’ pelo ironizador podem às vezes ser atribuídos a um ‘Autor’. Mais frequentemente, contudo, o significado enquadrado simplesmente ecoará certos elementos característicos de um debate tal como percebida pelo ironizador, sem necessariamente identificar uma fonte específica.

No exemplo seguinte, o significado irônico emerge da combinação de uma ironia situacional e uma ironia verbal sem uma fonte claramente identificável.

(6) 'Por trás de altos muros, eles realizaram uma reunião sobre o assunto de como erigir

muros em volta da Europa rica: Os chefes de polícia e especialistas de oito países [...]

sentaram4se em casernas da polícia para debater medidas necessárias contra a

entrada ilegal na Europa4CE Prometida.'.B 9.1.1998: 5)

Neste extrato, de uma reportagem do jornal B , o autor usa uma metáfora comum da CE como uma ‘Terra Prometida’ para os refugiados que desesperadamente procuram asilo, mas a contrasta com uma analogia muito mais realista da Europa com casernas circundadas por altos muros. Essa analogia contrastante é baseada na ironia situacional: a necessidade de os chefes de polícia de esconderem4se atrás de altos muros é um símbolo do medo exagerado europeu em relação aos imigrantes.

(41)

das duas abordagens consegue capturar o papel desempenhado pela ironia situacional do texto.

Usando a abordagem de Clift, é possível tratar tanto dos aspectos verbais quanto dos situacionais da ironia, ao mesmo tempo em que se evita o problema de encontrar a fonte específica da metáfora da 'Europa como a Terra Prometida'. Nos termos de Clift, a descrição das medidas tomadas para afastar os refugiados cria um enquadre distanciador sobre a metáfora do ‘Paraíso Europeu’, que possibilita ao leitor ter uma dupla perspectiva da questão toda: as circunstâncias reais são contrastadas com o que poderia ou deveria ser. Há também uma mudança de referente à proposição expressa nessa metáfora. O jornalista, ao escrever esse artigo, usa uma metáfora como se realmente significasse isso. Mas, de fato, ele é apenas o ‘Animador’, não o ‘Principal’ dessa expressão, já que o contexto deixa claro que ele não se compromete com ela tomando4a como uma descrição adequada da realidade. Em vez disso, o termo parece representar a Europa como é percebida pelos que desejam fugir de seus países ou talvez como deveria ser num mundo ideal. Essa atitude em relação à metáfora não é simplesmente de desaprovação; antes, ela parece consistir em diversas atitudes conflitantes. De um lado, os leitores são convidados a entender que a visão da Europa como um paraíso é enganadora, revelando a ignorância dos refugiados, e provando a nossa própria superioridade. Por outro lado, a atividade dos chefes de polícia nas casernas do exército é também representada como ligeiramente ridícula, assim implicando que a CE deveria tentar ser um pouco mais uma Terra Prometida para os refugiados que a procuram desesperados.

Como se vê, a meta do enquadre irônico de um significado é em geral a entrega de uma avaliação implícita e um convite ao leitor/audiência para compartilhar da perspectiva do ironizador. Isso torna a ironia especialmente adequada para a tarefa de expressar a crítica, embora a avaliação implícita possa ser mais complicada e multinivelada do que uma pura desaprovação. Contudo, se não for identificada pelo receptor, a ironia simplesmente não é irônica. Como Booth (1974, p.13 apud El REFAIE 2005) mostra o que é surpreendente na ironia “não é que ela deveria ser mal sucedida como frequentemente acontece, mas que ela deveria ser sempre bem sucedida”.

(42)

a ironia, que introduz julgamento de valor, não é esperada nessas notícias ‘hard’. Por contraste, editoriais e comentários devem expressar uma opinião. Eles são mais explícitos em afirmar o ‘Animador’ do texto, o que permite a manipulação de vários níveis de autoria do texto, fato que pode encorajar uma leitura irônica.

O reconhecimento e a interpretação de um enunciado irônico pelos leitores serão influenciados pelas suas expectativas face ao produtor de texto (KATZ, 1996 apud El REFAIE 2005). Essas expectativas parecem relacionar4se não apenas com o gênero de um texto, mas também ao viés político do jornal e a afiliação do jornalista. Para um significado irônico de um texto jornalístico ser reconhecido pelos leitores, ele terá de ser anunciado de alguma forma ou outra, especialmente se a ironia ocorrer onde não é esperada.

De acordo com Kreuz (1996 apud EL REFAIE 2005), há diversas pistas que podem encorajar a interpretação de uma afirmação como irônica, tais como a discrepância clara entre um enunciado e a realidade, a hipérbole, o ou, em textos escritos, meios tipográficos como itálico, aspas, sublinhamento, negrito ou letra maiúscula.

O reconhecimento da ironia, contudo, nem sempre depende de pistas sistemáticas. Em alguns casos, é a colocação inesperada de uma afirmação que a revela irônica (BOOTH 1974 apud EL REFAIE 2005). Nesses casos, o significado irônico surge da tensão entre o que constitui um vão esperado e os itens que o preenchem (CLIFT 1999 apud EL REFAIE 2005). Essa descrição de disparate entre vão e item na ironia é também adequada para as representações com elementos tornados salientes através da incongruência (KRESS E VAN LEEUWN 1996, p.108; SCOTT 2004, p.35). Consequentemente, uma interpretação da ironia está também intimamente ligada a expectativas de forma, ordem e registro implicados pelo gênero de um texto.

#7I F0 / > 9 9 )@ / 9 / F / ) 9

(43)

ocorrem e que papel eles têm na interação social. Para Holtgraves (1998), a explicação da produção e da compreensão do ato de fala indireto (o do ato indireto) envolve a consideração da questão 9 )@ da fala indireta (o *

do ato indireto).

De acordo com Grice (1975), a comunicação é possível porque os interlocutores obedecem mutuamente o princípio da cooperação (PC). O PC consiste em quatro máximas gerais de: relevância, quantidade, qualidade e modo. Um falante que se conforma a essas máximas produz atos nítidos, claros e maximamente eficientes. Mas os falantes podem (e frequentemente isso acontece) desobedecer a essas máximas e assim fazendo expressam significados não4literais. Se um ouvinte supõe que o falante não esteja sendo cooperativo, então as violações do PC devem fazê4lo entender que o falante quer significar algo diferente daquilo que está dizendo literalmente. Como resultado, o ouvinte deve gerar uma implicatura conversacional (i.e., uma leitura não4literal do que o falante diz). Mas este modelo é decididamente fraco como uma explicação sócio4psicológica da comunicação: não considera o porquê de as pessoas expressarem significados indiretos.

As violações nem sempre são intencionais, mas quando o são, na interação face4a4face, o ato indireto parece ser motivado, na maioria das vezes por considerações 9 )@ , pela sensibilidade mútua dos participantes aos pensamentos e sentimentos do outro.

Uma abordagem útil e popular para a conceituação de como as necessidades 9 )@ são linguisticamente realizadas é a teoria da @ / S, de P. Brown e Levinson (1987), uma teoria baseada nos importantes escritos de Goffman (1967) sobre face e trabalho de face. * , de acordo com Goffman, é a exposição pública do , e trabalho de face refere4se às comunicações designadas para criar, apoiar ou desafiar a face. P. Brown e Levinson adotaram e subdividiram o conceito de face em dois desejos universais: um desejo por autonomia e liberdade em relação à imposição ( ), e um desejo por ligação e solidariedade com o outro (

).

(44)

uma promessa ameaça a face negativa do falante, pois, restringe sua liberdade subsequente, e pedido de desculpas ameaçam a face positiva do falante (via admissão de um erro).

A interação social apresenta um dilema para os interlocutores. De um lado, as pessoas são motivadas a manter sua face positiva ou negativa. De outro lado elas precisam realizar atos que ameaçam essas motivações. Esse dilema é resolvido pelo trabalho de face (GOFFMAN, 1967), ou mais especificamente pela polidez (P.BROWN; LEVINSON, 1987). De fato, o trabalho de face, ou polidez, pode ser considerado como um pré4requisito para ordenar a interação social.

#7J + > 9 B D

Um princípio básico para a compreensão do discurso e para a análise da interação é o conceito de enquadre . /, introduzido por Gregory Bateman e desenvolvido por Erving Goffman no seu extenso estudo intitulado 8 % @ , publicado em 1974. O enquadre formula a metamensagem a partir da qual situamos o sentido implícito da mensagem. Em 1979, Goffman introduz o conceito de , já como um desdobramento do conceito de enquadre no discurso. 8

representa o , a postura, a posição, a projeção do "eu" de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção.

Goffman (1979) ilustra o que chama de através de suas mudanças. Resumindo:

1. O alinhamento, ou porte, ou posicionamento, ou postura, ou projeção pessoal do participante está de alguma forma em questão.

2. Deve ser considerado um contínuo que vai das mais evidentes mudanças de posicionamento às mais sutis alterações de tom que se possam perceber.

(45)

5. É comum haver, em alguma medida, a delimitação de uma fase ou episódio de nível "mais elevado" da interação, tendo o novo

um papel liminar, servindo de isolante entre dois episódios mais substancialmente sustentados.

Uma mudança de implica uma mudança no alinhamento que assumimos para nós mesmos e para os outros, expressa na forma em que conduzimos a produção ou a recepção de uma elocução. Goffman tem a preocupação fundamental de evidenciar que os participantes mudam constantemente seus ao longo de suas falas, sendo estas mudanças uma característica inerente à fala natural.

A mudança de está comumente vinculada à linguagem; quando este não for o caso, ao menos podemos afirmar que os marcadores paralinguísticos estarão presentes. A tarefa será abordada através da releitura das noções tradicionais de falante e ouvinte e de certos fatores que tomamos como pressupostos não4declarados da interação falada.

Nesse contexto, Goffman desconstrói as noções clássicas de falante e ouvinte, passando a discutir a complexidade das relações discursivas presentes na estrutura de produção (relativa ao falante) e na estrutura de participação (relativa ao ouvinte). Analisar esse trabalho de natureza sociológica significa olhar para o desempenho das identidades sociais e linguísticas dos participantes engajados em uma situação de interação: como essas identidades emergem, como se constituem no discurso e como afetam de forma sutil, porém definitiva, a interação em curso.

(46)

> / ) É sua caixa sonora em uso, a máquina de falar, um corpo envolvido numa atividade acústica ou um indivíduo engajado no papel de produzir elocuções. O Animador não pode ser designado como um papel social, mas apenas analítico.

09 ) das palavras ouvidas, alguém que selecionou os sentimentos que estão sendo

expressos e as palavras nas quais eles estão codificados.

) * @ alguém cuja posição é estabelecida pelas palavras faladas, alguém cujas

opiniões/crenças são verbalizadas, alguém que está comprometido com o que as palavras expressam. Não se lida tanto com um corpo ou mente, mas sim com uma pessoa que ocupa algum papel ou identidade social específica, alguma qualificação especial como membro de um grupo, posto, categoria, relação, ou qualquer fonte de autoidentificação socialmente referenciada

Quadro 3 4 A desconstrução do 'falante' (Fonte: Goffman 1974.)

O mesmo indivíduo pode rapidamente alterar o papel social que ocupa, mesmo que sua função como Animador e Autor permaneça constante – o que em reuniões de comitês se chama "mudar de chapéus". Isto é o que acontece durante grande parte das ocorrências de alternância de código.

(47)

27

27% /

A avaliação implícita que concorre na força persuasiva do texto será examinada em dois gêneros diferentes, para equilibrar o número de palavras: 2 crônicas e 1 entrevista na TV.

(a) Crônica: "Triunfo de nossas cores", de Carlos Heitor Cony (jornal Folha de São Paulo, 25.03.08) [293 palavras].

(b) Crônica: "Lugar de Estadista é na Favela", de Roberto Pompeu de Toledo Revista VEJA 13.03.02) [704 palavras].

(c) # & ' na TV: Programa do Jô: entrevistada Denise Frossard 4 Rede Globo – 15.08.05 4 horário: 00h:20min. [1067 palavras].

27# ) * / > 9 / K

A análise dos textos seguirá os seguintes passos:

Por se tratar do exame da avaliação implícita, que depende da posição sócio4 político4cultural de leitura do avaliador, é necessário estabelecer o contexto situacional de ocorrência dos textos através da verificação das variáveis de Registro (Campo, Relação e Modo) para garantir que a interpretação dos & de Atitude não fique prejudicada pela subjetividade (GOATLY 1997).

(48)

(b) Feito isso, verifico as escolhas léxico4gramaticais através das quais esses & foram realizados.

(49)

37 5

37% K / )8 * T )0 F / * ) T

Inicio a análise com a crônica intitulada ‘Triunfo de nossas cores’, escrito por Carlos Heitor Cony e publicada no jornal Folha de São Paulo, em 25.03.08, que transcrevo, a seguir:

1. Mais uma vez o mundo se curvou diante do Brasil. Tantas e tamanhas vezes já se curvou

que devia estar habituado, mas o Brasil é surpreendente, está [sempre] aprontando. A bola da vez

não é um Santos Dumont, um Ayrton Senna, um Pelé, que em seus respectivos tempos obrigaram o

mundo a dobrar a espinha diante de feitos individuais que se transformaram em façanhas coletivas.

2. Mas tudo vale a pena se a alma não é pequena 4 e grande é a nossa alma, sobretudo na

hora dos nossos triunfos. Uma cidadã natural de um nobre Estado, que tem o nome de uma das

pessoas da Santíssima Trindade, está sendo apontada como a responsável pela desgraça política

de um governador nos Estados Unidos. A imprensa não arranjou melhor profissão para ela do que a

de cafetina 4 nome um pouco defasado; no meu tempo as cafetinas eram mais modestas, embora

vorazes. Exploravam mulheres da vida e eram exploradas a vida inteira pela polícia. E nenhuma

delas alcançava a glória de tamanho feito: derrubar um governador que de repente podia ser

presidente da maior nação do mundo.

3. Reclamaram que a chegada da cafetina no Brasil no último fim de semana foi uma

consagração. Ela ameaça escrever um livro, será capa da "Playboy" e página amarela (e bota

amarela nisso) da "Veja". Modestamente, está sendo assunto de um cronista habitualmente sem

assunto.

4. Melhoramos muito. Nos últimos anos do século passado exportávamos travestis e

mulheres da vida, e apesar de todas as mulheres serem da vida, algumas conseguem ser mais da

vida do que outras. Subimos no ranking e agora exportamos cafetinas, por sinal, bem sucedidas, que

muito aliviarão as taxas de nossas exportações comprometidas pela má qualidade da carne do

Referências

Documentos relacionados

Essa informação é relevante porque enquanto que o sistema de classificação baseado em Shepherd (2001) indica quais erros gramaticais aparecem nas redações de

produtos que a operadora “lança”, ensacando -os sem olhar para o que está fazendo, olha apenas quando são produtos grandes, como, por exemplo, garrafa pet de dois

Note-se também que os únicos exames formais em Língua Estrangeira (vestibular e admissão a cursos de pós-graduação) requerem o domínio da habilidade de

linguísta busca pr oduzir um „cálculo‟, quer dizer, seu desejo é um conhecimento totalizante”. Diferente, é a posição do clínico de linguagem que fica sob efeito da.. Pude

Esta pesquisa tem como objetivo examinar o processo de colaboração, desenvolvido entre esta pesquisadora e a diretora de uma escola da rede pública municipal, na discussão

[r]

Nesta pesquisa, a Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural será utilizada para entender não apenas o resultado do objeto – ensino-aprendizagem de inglês, mas também

Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.. Conferência