Fauldade de Filosoa, Ciênias e Letras de Ribeirão
Preto, Departamento de Físia e Matemátia
SIMULAÇÕES MICROCANÔNICAS DE
PROTEÍNAS
Rafael Bertolini Frigori
Teseapresentadaà Fauldade
deFilosoa, Ciêniase Letras
deRibeirão Pretoda USP,
omopartedasexigênias para
aobtenção dotítulo deDoutor
emCiênias: Físia Apliada à
Mediina eBiologia.
Orientador:
Prof. Dr. NelsonA. Alves
Wenn Sie mih nah meiner innersten Uberzeugung fragen ob
man unser (das 19.) Jahrhundert einmal das eiserne Jahrhundert
oder das Jahrhundert des Dampfes oder der Elektrizität nennen
wird, soantworte a ih ohne Bedenken, das Jahrhundert der
meha-nishen Naturauassung, das Jahrhundert Darwins wird es heiÿen
[L. Boltzmann, Populäre Shriften, 1886℄ 1
1
Sevoêperguntarsobreminhamaisprofundaonviçãosenossoséulo(XIX)seráhamado
deoséulo doferroouoséulodovaporouodaeletriidade, respondereisemhesitação: ele
Atodososolegas,amigosefamiliaresquede algummodoolaboraramparaosuesso
dessa minha nova empreitada. E empartiular:
A Deus pelagênesedeste pequeno Universo quetanto nos fasina investigar;
Ao Prof. Nelson, não só pelos bons exemplos, paiênia e dediação à orientação deste
doutorado mas tambémpelaamizadee ompreensãonos momentosmais difíeis;
Aoamigo LeandroG. Rizzipelo ompanherismo evalorosapareriaientía;
Aos funionáriose professores doDFM/FFCLRP/USP por ultivarem um ambiente
ao-lhedor epropíio àpesquisa ientía;
Aos velhos amigos Cesar A.V. Moura, Fábio V. Boas, Felipe L. Sanavini, Guilherme
C.P. Innoentini e TiagoM. Franoy; porvezes distantes, mas sempre presentes;
Aos olegas e amigos do departamento: André S.C. Peres, Aquino L. Espindola, Ariadne
de A. Costa, Brenno T. Cabella, César A.S. Terçariol, Denise de Arruda, Diogo Porfírio,
Ebenézer S.Cavalanti,FabianoL.Ribeiro,Fernanda M. Oliveira, Guidolins(LeilaB.M-.
& Luis C.B.M-.), Jayana S.M. Fonsea, Juliana M.S. Berbert, Lindomar S.Santos, Luis
A.Cabral,MareloA.Pereira,MatheusR.Mendonça,MatheusS.deMoura,Natália
Des-tefano, Olavo H. Menin, Raimundo N.A. Costa, Rodrigo S. Gonzalez, Tiago J. Arruda e
Wilnie T.R. Oliveirapelos bons momentosompartilhados;
À Ana Boneurpeloarinho eapoiodurantea onlusão desta tese;
Aopessoalda UTFPR-Toledo pela aolhidanaminha nova asa;
Aopovobrasileiro,que por meio daCAPES, naniou a exeução destetrabalho;
À Carla B.F.Junqueira e aoOlavoG. Junqueirapelaamizadee inentivo;
... I reognize that manyphysiists are smarter than I am most of them
theoretialphysiists. A lot of smart people have gone into theoretialphysis,
therefore the eldis extremelyompetitive. I onsole myself with the thought
that although they may be smarter and maybe deeper thinkers than I am, I
have broader interests than they have ...
[Linus Pauling,TheMeaning ofLife, 1990℄
À memóriade Maro Alberto Perez
†
Resumo
Transições de fase termodinâmias são usualmente estudadas por meio do ensemble
annio e estão assoiadas a sistemas marosópios. Entretanto, tem-se tornado ada
vez mais frequente e importante o estudo de sistemas físios pequenos, ujos alanes
araterístiosdasinteraçõesequivalemaos tamanhosdos sistemas. Nestesasos pode
ha-verinequivalêniaentre grandezasfísiasobtidasnos ensembles annio emiroannio.
Enontramos inúmeros exemplos destes sistemas em diversas áreas da Físia. Na área de
matériaondensadatemos,porexemplo,omodeloBlume-Capelominteraçõesde alane
innito. Neste modelo as soluções exatas annia e miroannia são inequivalentes.
Este modelo é investigado nesta tese por meio de um ensemble interpolante, onheido
omo gaussiano estendido, omo uma apliação teória preliminar. Adiionalmente,
em-pregamos o arabouço meânio-estatístio no estudo de ertas biomoléulas om ampla
importâniabiológia: proteínas. Atualmenteoestudodo omportamentotermodinâmio
destas moléulas tem ado restrito quase que exlusivamente a abordagem via ensemble
annio. Neste trabalho analisamosos resultados daetapa miroannia de simulações
multiannias prourando obter aspetos físios de biomoléulas omo os domínios Sr
SH3 (pdb: 1NLO) e as Príons humanas (pdb: 1HJM). Caraterizamos om esta
aborda-gem as transições de fase de enovelamento e de agregação destes sistemas. Os resultados
obtidos são interpretados à luz da termoestatístia miroannia, ofereendo um ponto
Abstrat
Thermodynami phase transitions are usualy studied by the anonial ensemble and
they are assoiated to marosopi systems. However, it is beoming more frequent and
important the study of small physial systems: whose harateristi interation-lengths
are equivalent to system sizes. In these ases there an happen inequivalenes among
quantitiesomputedimtheanonial andmiroanonialensembles. Thereare inumerous
examplesofthatsystemsinvariousareasofphysis. Intheeldofondensedmatterthere
isfor instane the Blume-Capelmodelwith innite-rangeinterations. Theanonial and
miroanonialexat solutionsofthis modelare inequivalents. Thatmodelisinvestigated
on this thesis through an interpolating ensemble, known as the extended gaussian, as a
preliminartheoretialappliation. Additionally,wehaveemployedthestatisti-mehanial
frameworktostudysome biomoleulesoflargebiologialinterest: proteins. Nowadaysthe
study of the thermodynami behavior of that moleules has been restrited almost only
tothe anonial approah. However, inthis workwehaveanalysed by the miroanonial
step of multianonialsimulationsthe physialaspets of biomoleules asthe domainSr
SH3 (pdb: 1NLO) and the human Prions (pdb: 1HJM). Thus, we haraterize with this
approah the phase transitions of folding and aggregation of that systems. The results
obtained are interpretatedunder the light of the miroanonialthermostatistis, oering
2.1 Esquerda: situaçãoque exemplia uma entropia nava, i.e., fase únia.
Di-reita: ilustração de um intruso onvexo na entropia, omo o que oorre nas
transiçõesannias de primeiraordem; aquios dois pontos-de-sela
orrespon-dem a duas fases distintas. Adaptado da referênia[2℄. . . 20
4.1 Estrutura geralde um aminoáido,omoarbono alfa
C
α
destaado aoentro, o grupo amina(NH
2
)
à esquerda, o arboxila(CO
2
H)
à direita e a adeia lateral R abaixo. . . 364.2 Estrutura químia, nomenlatura, abreviação om ódigo de 3 letras e
lassi-ação quanto ahidrofobiidade dos 20aminoáidos primários. . . 37
4.3 Formação de um dímero (dipeptídeo) pelaondensação de aminoáidos. . . 38
4.4 Hierarquia de estruturas em proteínas. (a) Primária: om abreviações de uma
letra. (b)Seundária: (1)héliealfae(2)tabeta. () Teriária: assoiaçãode
motivos enovelados, (d) Quaternária: união de adeiaspeptídiasmonomérias. 39
4.5 Estrutura seundária: arranjoespaialtípiodeumahéliealfa,noteasadeias
laterais externas aoeixode simetriaea frequênia espaialde 3,6resíduos por
volta[23℄. . . 40
4.6 Estrutura seundária: onformações usuais de folhas beta, notam-se as tas
orientadas antiparalelas (superior) e paralelas(inferior), além das terminações
amina (N) earboxila (C). . . 41
4.7 O perl da energia livre (energy landsape) em formato de funil é um modelo
aeito para a desrição do enovelamento protéio. Os estados 11, 12, 13 são
intermediáriosenquantoF éaestrutura protéianativa,oude menorenergia
livre. As rotas prefereniais são representadas por setas. . . 43
4.8 Proteínas envolvidas na formação de agregados. Superior à esquerda:
Alfa-Sinuleina, assoiada ao mal de Parkinson. Superior à direita: Amilina, uja
formação deagregados oorre naDiabetes doTipoII. Inferioràesquerda:
pro-teína preursora do Amiloide-Beta
(Aβ)
,
agregados deAβ
oasionam o mal de Alzheimer. Inferior à direita: domínio Sr SH3, assoiado à transdução desinais, não patológia. Adaptado doprotein data bank (PDB). . . 45
4.9 Modelo de brilas amilóides, rias em formações de tas beta omo as hélies
4.10 Representação esquemátia dos possíveis estados onformaionais assumidos
poradeias peptídiase suas interonversões usuais. Adaptado da Ref. [33℄. . 47
4.11 ConguraçõesassumidasporPríons: aformausual
P rP
C
representadapor(A);
eapatogênia
P rP
sc
assoiadaaosmalesdeCreutzfeld-JakobeàEnefalopaia
Espongiforme ilustradaem (B). . . 48
4.12 EsquemadeumúniopeptídionomodeloABom
N
resíduos[46,65,87℄. Note arepresentaçãodaadeiaprinipaldosarbonosalfa(esferas),assimomoseus2N
graus de liberdadede rotação (i.e. ângulosθ
eϕ
).. . . 515.1 Comportamentono limite miroannio da solução domodelo BC via
forma-lismo EGE, om aoplamento
∆/J
= 0.462407,
orrespondendo à região detransição de fase de primeira ordem annia e de segunda ordem
miroan-nia.
(a)
Temperaturamiroannia omofunçãodaenergiamédiaε
. A linha traejada horizontal orresponde à temperatura rítia annia.(b)
Aentro-pia desloada
˜
s(ε) =
s
micro
(ε)
−
(A
+
Bε),
omA
= 0.401447
eB
= 1.398397.
A subtração é efetuada para uma melhor visualização da não onavidade daentropia em relação a função linear ligando
s(ε
a
)
as(ε
b
),
omε
a
= 0.328959
eε
b
= 0.330646
.(c)
Calor espeíoc(ε)
. Ele apresenta dois polos loalizados pelos zeros do determinanted
S
micro
(ε, m)
, ondem
denota os valores da mag-netização que maximizam a entropia em dadoε
. Esses pólos também podem ser observados apartirdoomportamentodeT
(ε)
em(a)
.(d)
Suseptibilidade magnétiaχ(ε)
. Elaapresentadoispolos, novamenteposiionadosnos zerosdo determinanted
S
micro
(ε, m)
e torna-se negativa entre eles.(e)
Comportamento do determinanted
S
micro
(ε, m)
omo função deε
. As linhas traejadas vertiais mostram oszeros ded
S
micro
(ε, m)
. . . 58 5.2 Entropias(ε, m)
para alguns valores deε
em
om∆/J
= 0.462407
. Paraval-ores inferioresdaenergia
ε
, algunsintervalosdamagnetização são inaessíveis; o que demonstra quebra de ergodiidade neste modelo. Domínios magnétiosdesonexos pareem ser típios de sistemas om interações de longo alane,
exibindo transições de fase (annia) de primeiraordem. . . 59
5.3 Curva alória
T
(ε)
×
ε
omputadas para diversos valores deγ
a partir da solução geral do modelo Blume-Capel no EGE. O aoplamento empregado é∆/J
= 0.462407
e no limite deγ
→ ∞
reobtemos a urva miroannia(a)
da Figura(5.1). . . 60
5.4 Valores mínimos que o parâmetro
γ,
e
alulado segundo a Eq. (5.19), deve assumir para que a termodinâmia deduzida via EGE para o modelo5.5 (A) Temperaturas EGEobtidas nolimiteannio (
γ
= 0
)para algunsvalores de∆/J.
Para∆/J
= 0.462098
temossimultaneamentetransiçõesde fasean-niaemiroanniadesegundaordem. Quando
∆/J
= 0.4622
e∆/J
= 0.4623
as transições de fase annias são de primeira ordem, mas as
miroanni-as são ainda de segunda ordem. (B) Temperaturas EGE no limite annio
(
γ
= 0
),todososvaloresde∆/J
estãonaregiãodetransiçãodeprimeiraordem annia e miroannia. (C) Temperaturas omputadas via EGE no limitemiroannio
(γ
∼
= 10
12
)
,
para
∆/J
= 0.4622
e∆/J
= 0.4623
emqueoorremtransiçõesdefasemiroanniasdesegundaordemeanniasdeprimeira
or-dem. (D) Temperaturas EGE no limitemiroannio
(γ
∼
= 10
12
)
naregião de
aoplamentos
∆/J
= 0.4625
e∆/J
= 0.4627,
ujas transição de fase são deprimeira ordem. . . 61
5.6 Na gura a esquerda temos linhas de transição de fase annias. A linha
rítia (inza pontilhada) termina no ponto trirítio annio
•
, a partir doqual a transição torna-se de primeira ordem (linha heia). A gura menor é
uma ampliação que mostra a linha (heia) da transição de fase de primeira
ordem annia e aslinhas (ponto-traejadas) datransição de fase de primeira
ordemmiroannia. Naguraadireitatemosumarepresentaçãoesquemátia
do diagrama de fase do modelo Blume-Capel, ampliado ao redor dos Pontos
TrirítioCannio(CTP)eMiroannio(MTP).Alinhadetransiçãodefase
de segunda ordem(omum a ambosensembles) é pontilhada; alinha annia
de primeiraordeméheia easlinhasmiroanniastraejadassão desegunda
ordem emnegrito ede primeiraordem eminza. Adaptado dareferênia [10℄. 63
5.7 Valormínimodoparâmetrointerpolante
γ
paraqueasoluçãoEGEseja termo-dinamiamenteequivalenteàmiroanniaentre ospontostrirítiosannio(∆/J
∼
= 0.4621)
e miroannio(∆/J
∼
= 0.4624)
. . . 636.1 Esquema da atualização de Monte Carlo empregada em nossos estudos. Uma
proteínaposiionadaadistânia
R
~
daorigemomângulopolar
”a”
eequato-rial
”b”
é atualizada para outra posiçãoR
~
→
R
~
′
:
{|
R
′
|
, a
′
, b
′
}
.
Por outro lado,
simultaneamenteaposiçãorelativadeadaumdos
(N
+ 1)
-ésimosaminoáidos,em relaçãoaos
N
-ésimos aminoáidos, éalteradade modoque~r
→
~r
′
=
~r
+
dr.
~
65 6.2 Estrutura nativa de bakbone de sequênias Fibonai. (Painel esquerdo)on-guração om energia mínima,
E
1
×
F ibo.
=
−
5,
75
e△
E
= 0,
1
para a sequênia artiial om 13 resíduosF ibonacci
13
:
"ABBABBABABBAB". (Painel direito) on-guração de energia mínima para a estrutura agregadaE
2
×
F ibo.
=
−
29,
15
e△
E
= 0,
1
de duas sequênias idêntias deF ibonacci
6.3 Termodinâmia miroannia para uma únia sequênia Fibonai. (Painel
superior): urva alória
β
×
E,
barras de erro orrespondem aodesvio padrão de 50 onjuntos de parâmetros MUCA. As linhas ontínuas são obtidas pelaapliação reursiva de
k
ltragens do tipo média móvel de 10 pontos. (Painel entral): álulodaderivadadaurvainterpolante(vermelha)deβ
×
E,
ousejadβ
dE
×
E.
(Painelinferior): alorespeíomiroanniodosistema,nota-seque oorre um pio positivo araterizando uma transição de fase ontínua, ou desegunda ordem,assoiada aoenovelamento.. . . 68
6.4 Termodinâmia miroannia para duas sequênias Fibonai interagentes.
(Painel superior): urva alória
β
(E)
×
E,
barras de erro orrespondem ao desvio padrão de 50 onjuntos de parâmetros MUCA. As linhas ontínuas sãoobtidas pelaapliaçãoreursiva de
k
ltragens dotipomédiamóvelde 10 pon-tos. (Painel entral): álulo daderivada da urva interpolante (vermelha) deβ
(E)
×
E,
ousejadβ(E)
dE
×
E.
(Painelinferior): alorespeíomiroanniodo sistema, nota-se uma transição de fase de primeira ordem(de agregação), omalores espeíos negativos. Os pequenos pios positivos assinalamformação
de domínios ou enovelamento. . . 69
6.5 Estrutura nativa de bakbone para domínios Sr SH3 om 56 resíduos e
ó-digo 1NLOnoProteinDataBank(PDB). Foimapeadanomodelo ABsegundo
sua naturezahidrofóbia/polar,resultandonasequênia
SH
3
56/AB
:
"BAABABBB-BAABBBBAAABBABAABAABBBBABAAABBAABBABBABABABBABBA". (Painel esquerdo):onguração nativa, ou om energia mínima
E
1
×
SH3
=
−
41,
48
e△
E
= 1,
0
para a uma únia sequênia Sr SH3. (Painel direito): onguração deener-gia mínima om
E
2
×
SH3
=
−
29,
15
e△
E
= 1,
0
da forma agregada de dois peptídeosSH
3
56/AB
interagentes. . . 72 6.6 Termodinâmia miroannia para um únio domínio Sr SH3. (Painelsu-perior): urva alória
β
×
E,
barras de erro orrespondem ao desvio padrão de 54 onjuntos de parâmetros MUCA. As linhas ontínuas são obtidas porapliações reursivas de ltros de média móvel de 5 pontos. (Painel entral):
áluloda derivada de
β
×
E,
ousejadβ
dE
×
E.
(Painel inferior): alor espeío miroannio do sistema, nota-se que oorrem dois pios positivos indiandotransições de fase ontínuas (ou de segunda ordem). Biologiamente
assinala-riam o enovelamento (pio menor) e formação de estruturas seundárias (pio
maior).. . . 73
6.7 Termodinâmiamiroannia para dois domíniosSr SH3 interagentes.
(Pai-nelSuperior): urvaalória
β
×
E,
barrasvemdodesviopadrãode26onjuntos de parâmetros MUCA. Linhas azul/vermelho emergem de 1 a 7 ltragensre-ursivas de médias móveis (de 5 pontos). (Painel Central): é a derivada da
urvainterpolante(vermelha)de
β
×
E,
ousejadβ
dE
×
E.
(Painel Inferior): alor espeío miroannio do sistema (ltro 7x5). Há uma transição depri-meira ordem (annia, de agregação), om alores espeíos miroannios
6.8 Estrutura de bakbone de príons humanasom 104 resíduos eódigo 1HJM no
Protein Data Bank (PDB). Foi mapeada nomodelo AB segundo sua natureza
hidrofóbia/polar,resultandonasequênia
P rion
104/AB
:
AAABAAAABAAABAABAAA BBBBABBABBABABBBBABBABABBBABBBBAABBAABABABBBBABBBBBABBABBBBABAABAAAB-BAAABBBBABAB.(Painelesquerdo): onguraçãonativa,ouomenergiamínima,
E
=
−
8,
35
e△
E
= 1,
0
paraasequêniaP rion
104/AB
. (Paineldireito):ongu-raçãodeenergiamínima,ditanaformaagregadaoudimerizada,om
E
= 12,
59
e△
E
= 1,
0
para dois peptídeosP rion
104/AB
interagentes. . . 76 6.9 Termodinâmia miroannia para uma proteína 1HJM, a Príon humana.(Painelsuperior): urva alória
β
×
E,
barras de erro orrespondemaodesvio padrão de 22 onjuntos de parâmetros MUCA. As linhas ontínuas sãoobti-das porltragensreursivasdotipomédiamóvel de 5pontos. (Painel entral):
álulodaderivadadeurvasinterpolantesde
β
×
E,
ousejadβ
dE
×
E.
(Painel in-ferior): alor espeíomiroannio dosistema,nota-seque oorre um úniopio positivo (estável), araterizando uma transição de fase ontínua (ou de
segunda ordem),assoiada ao enovelamento sem formação de intermediários:
um fenmenojá observado in vitro [73, 74℄. . . 77
6.10 Termodinâmiamiroannia paraduas proteínas1HJM, ouPríonshumanas.
(Painel superior): urva alória
β
×
E,
barras de erro são o desvio padrão de 10 onjuntos de parâmetros MUCA. Linhas emverde/vermelho emergem de 1a 10 ltragens reursivas de médias móveis (de 5 pontos). (Painel entral): é
a derivadada urva interpolante(vermelha) de
β
×
E,
ousejadβ
dE
×
E.
(Painel inferior): alor espeío miroannio do sistema (ltro 10x5). Há apenasuma transição de primeiraordem(annia,de agregação), omalores
espeí-os negativos. Nenhuma outratransição de fase(e.g. ontínua) foiobservada,
apesar de grandes esforços omputaionais. . . 78
7.1 O gráo aima mostra um onjunto de dados (100 pontos, em preto) e suas
médiasmóveisomtamanhosdiferentes[5℄. Temosrespetivamenteasseguintes
urvas: 2-pontos (vermelha), 4-pontos (amarela), 6-pontos (verde) e 8-pontos
(azul). Noteo efeitode ltragemdoruído nestas urvas. . . 85
7.2 Esquematermodinâmioutilizadonadeduçãodoensembleannio. Osistema
1 está aoplado energetiamente a um reservatório térmio, dito sistema 2,
Lista de Figuras 7
Conteúdo 12
1 Introdução 14
2 Termoestatístia miroannia 17
2.1 Oensemble miroannio . . . 18
2.2 Transições de fase miroannias . . . 19
2.3 Inequivalêniade ensembles e transições de fase . . . 21
2.4 Ensembles generalizados . . . 23
2.4.1 Oensemblemultiannio . . . 23
2.4.2 Oensemblegaussiano estendido . . . 25
3 Simulações 28 3.1 Métodos de Monte Carlo markovianos. . . 29
3.1.1 Oalgoritmode Metropolis . . . 30
3.1.2 Erros numérios . . . 31
3.2 Simulações miroannias . . . 32
3.2.1 Relaçõesde reorrênia . . . 33
3.2.2 Implementação alternativa . . . 34
4 Proteínas e o modelo AB 35 4.1 Proteínasin vitro e in vivo: um panorama . . . 38
4.1.1 Estrutura . . . 39
4.1.2 Funionalidades . . . 42
4.1.3 Enovelamentoprotéio . . . 42
4.2 Agregaçãoprotéiae proteinopatias . . . 44
4.3 Proteínasin silio . . . 49
4.3.1 Omodelo AB oarse-grained . . . 50
5 Resultados exatos: modelo de spin 52 5.1 Omodelo Blume-Capelnoensemble gaussiano estendido . . . 52
5.2 Soluçãoexata no ensemble gaussiano estendido. . . 53
5.3 Limitestermodinâmios: inequivalênia de ensembles . . . 55
5.4 Pontos trirítios . . . 62
6 Resultados numérios: proteínas 64 6.1 Implementação omputaional . . . 65
6.2 Enovelamentoe agregação . . . 66
6.2.1 Sequênias Fibonai . . . 66
6.2.2 Domínios Sr SH3. . . 70
6.2.3 Príons humanas . . . 72
7 Considerações nais 79
Apêndies 82
Introdução
... What an organism feeds upon is negative entropy. Or to put it less
pa-radoxially, the essential thing in metabolism is that the organism sueeds in
freeing itself from all the entropy it annothelp produing while alive ...
[E. Shrödinger, Whatis life?,1944℄
A meânia estatístia miroannia, omo formulada por Ludwig Boltzmann [1, 2℄,
onstitui um dos prinipaispilares damoderna abordagem físiapara sistemas de muitos
orpos. Originalmenteonebida om o intuito de alançar uma expliação mirosópia,
ouinétia,datermodinâmiadosgases,elapermitiuinferiraexistêniadeátomosdéadas
antes dasua observação experimental. Aqui, a entropia aparee omo oneito have que
oneta, via teoria dos ensembles, as onguraões mirosópias de um sistema om seu
omportamentomarosópio. Porsuavez,olimitetermodinâmioqueasseguraa
existên-iadestaonexãomiro
↔
maro,assenta-se sobreooneitofundamentalde extensividadedaenergia eda entropia.
Contrárioaosenso omum,olimite termodinâmio[3℄nãoéimpresindívelàdenição
da meânia estatístia miroannia ou à desrição de transições de fase [4, 5℄. Este
preoneito onsolidou-se om o uso de ensembles derivados do miroannio, omo o
annio e o grandeannio, ujas formulaçõesneessitam taitamente do limite
termo-dinâmio[5℄. Comoaabordagemmiroanniabaseia-senaexataontagemde
miroesta-dos,elaéidealaoestudodesistemaspequenos [2,6,7℄. Otermopequenos designaaqui
sistemas que interagem via forças de longo alane e, ou tem pouos graus de liberdade.
Dentreosquaisenontram-seossistemasgravitaionais[8℄,despin[9,10,11,12,13,15,16℄,
plasmas [17, 18, 19, 20, 21,22℄e biomoleularesomo asproteínas.
Proteínas [23, 24℄são heteropolímerosde elevada massa moleular, ompostas porum
grande número de aminoáidos de até 20 diferentes tipos [24, 25℄. Dentre as prinipais
funções protéias, que apresentam alta espeiidade em sistemas biológios vivos, estão
a estrutural e a metabólia. Essas araterístias devem-se em grande parte à estrutura
geométria tridimensional,tambémhamadade teriária,que araterizaada proteína e
aminoáidosemsua estrutura nativadenomina-seenovelamento(no inglês, folding). Suas
origens físias estão nas omplexas interações atmias, que produzem pers de energias
livresrugososeafunilados[26℄. Atualmente,poteniaisinteratmios[27,28,29,30℄de
ori-gem elétromagnétia[31℄já onseguemreproduzirertasestruturas nativasviasimulações
ab initio.
Sabemos aindaque emdeterminadosmomentosda síntese protéia[23℄ podemoorrer
defeitosonformaionais(misfoldings)quedegradamfunionalmenteasproteínasafetadas.
Esses asos isoladospodem repetir-se originandoagregados protéios [32, 33, 34℄rios em
hélies beta-ruzadas. Este tipo de estrutura é onheida por sua tenaidade ehabilidade
em induzirdoenças degenerativas. Dentre essas doenças estão as neurodegenerativas, um
termo quedesigna perda progressivade estruturas e funçõesneuronais, levando à morte.
A neurodegeneração pode aonteer em diferentes níveis neurais, variando dos níveis
moleular ao sistêmio. Vários males, omo o de Parkinson [35℄, Alzheimer [36℄ e
Hun-tington [37℄, são proteinopatias relaionadas a agregação protéia em nível subelular.
Normalmente essas doenças não são transmissíveis por um vetor etiológio. Contudo, os
males da vaa loua e de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) [38, 39℄ são ausados por proteínas
infeiosas e auto-repliantes hamadas Príons [40, 41℄, que violamo dogma entral da
biologia [42℄. Do ponto de vista físio, existem muitas similaridades no desenvolvimento
de diversas proteinopatias [32, 34℄. Uma melhor ompreensão destes aspetos pode ser
alançada por meio de simulações omputaionais, aliadas à modelagem físio-estatístia
[26, 43,44, 45℄, asquais poderãoauxiliarnodesenvolvimento de novas terapias.
A presente tese proura investigar o omportamento de algumas proteínas de grande
interessebiológio,omoéoasodos domíniosSr SH3[48℄ edas Príonshumanas[40,41℄.
Os métodos que utilizamos, omo os ensembles generalizados [49, 50, 51, 52, 53, 54, 55,
56, 57, 58, 59, 60, 61, 62℄ e as simulações de Monte Carlo [63, 64℄, permitem alular
diretamente a entropia miroannia. Deste modo, é possível onstatar profundas
se-melhanças físias no omportamento de proteínas e ertos modelos de spin, lassiados
omopequenos. Esteéoaso domodelodespin de Blume-Capelde alaneinnito,que
estudamos nesta tese omo laboratórioteório, por ausa doseu peuliar omportamento
termodinâmio. A abordagem miroannia mostra-se valiosa nestassituações, pois
per-mite formalizar e desrever uniadamente transiçõesde fase mesmo em sistemas nitos,
omo noaso biológiodo enovelamentoe daagregação protéios [43, 44, 45,46,47℄.
Visandominimizarasexigêniasdepoderomputaionaladotamospoteniais
interat-mios simpliados,dotipogrão grosso(oarse-grained)[46, 65,66,67,68,69,70,71℄,ao
invésdos poderosos eomplexos CHARM eAMBER [27℄. Pelasua simpliidade,
esolhe-mos o hamado modelo AB [68, 69℄, uja literatura reporta apenas apliações no estudo
de sequênias artiiais,asFibonai [43, 44,46℄.
NomodeloABasprinipaisinteraçõesonsideradassãode aráterefetivo,edesrevem
o omportamento hidrofóbio-hidrofílio dos aminoáidos [72℄ envolvidos. As interações
são modeladas por meio de pseudo-átomos, o que reduz notavelmente o número de graus
de liberdadedosistema, onferindoao modelo grandeleveza omputaional. Por sua vez,
a interação interprotéia, responsável pela biologia da agregação e dos diversos tipos de
aminoái-dos. Nossosresultadosmostraram-sepromissores,revelandosimilaridadesomobservações
experimentais [34, 73,74℄e estudos teóriosprévios [48℄.
O texto é organizado omo segue. No Capítulo 2 introduzimos a termoestatístia
mi-roannia segundo a formulação Boltzmanniana [1,3℄ eapresentamos o formalismo
ela-borado por Gross [2℄e generalizadoporKastner [75, 76℄para desrever transiçõesde fase
miroannias. Noteque o limitetermodinâmionão é exigido por este formalismo. Por
m,abordamosalgunsensemblesgeneralizadosomoomultiannio[61℄eogaussiano
es-tendido(EGE) [51,56℄,osquaisforneemrobustasregularizaçõesmiroanniaseformas
alternativaspara estimar aentropia [62, 77℄.
No Capítulo 3 abordamos as simulações de Monte Carlo que em meânia estatístia
são importantes ferramentas numérias. Revisamos os métodos de Monte Carlo estátios
e dinâmios, omo o algoritmo de Metropolis [64℄, além de desrevermos omo estimar
erros estoástios via rigorosas estimativas da autoorrelação [78℄. Introduzimos em
se-guidaoalgoritmomultiannio(MUCA)[61,62℄quedeterminaobserváveisannios via
repesagem [63℄ emiroannios via ospróprios parâmetrosmultiannios.
Sendo esta uma tese interdisiplinar apresentamos no Capítulo 4 uma revisão sobre
proteínasnoqueserefereàsua onstituiçãoquímia[23℄,funionalidadeetaxonomia[24℄.
Revisitamos o oneito de proteinopatias enquanto doenças degenerativas resultantes do
mal enovelamento e agregação protéios subelulares. Além disso, a modelagem teória
dessessistemas biomoleulareséenfoadapelaapresentaçãodomodelo AB, onsideradoo
mais propíioaos nossos propósitos.
No Capítulo 5 utilizamos o ensemble gaussiano estendido para proeder a uma nova
resolução analítia do modelo Blume-Capel de alane innito [13, 79, 80, 81, 82℄. Este
modelo de spin 1 é semelhante ao de Ising, possuindo ontudo interações ompetitivas
de alane innito. A literatura moderna reporta a inequivalênia entre suas onheidas
soluçõesnos ensembles annioemiroannio[9℄. Todavia,umasoluçãoemum
ensem-ble interpolante era até agora desonheida. Nossa nova solução [83℄ além de reuperar
os resultados anteriores omo asos limite, também evidenia as metaestabilidades
an-nias. Efetuamos por m um estudo dos pontos trirítios do modelo BC para ilustrar
propriedades daabordagemEGE.
O apítulo 6 dedia-se às simulações miroannias de proteínas propriamenteditas.
Os exemplares que investigamos são adeias de Fibonai, o domínio Sr SH3 (ódigo
PDB: 1NLO) e a Príon humana (ódigo PDB: 1HJM). As adeias Fibonai, que foram
artiialmente desenhadas [46℄, são simuladas para efeito de omparação om proteínas
reais. Os peptídeos 1NLO e 1HJM foram mapeados em sequênias do tipo AB, om as
quais efetuamos extensas simulações para obter a sua termodinâmia miroannia pela
análisedosparâmetrosmultiannios. Nossosresultadosnumériosmostram-seoerentes
eindiamaexistêniade umomportamentobiológiouniversal. Alémdisso, onstatamos
semelhanças meânio-estatístias típias de sistemas pequenos entre as transições de
enovelamento,de agregação eas exibidaspelomodelo BC resolvido noEGE.
O Capítulo 7 onlui esta tese om disussões nais e o delineamento de perspetivas
futuras. Apontamos aqui novas questões surgidas neste estudo e vias para investigá-las.
Termoestatístia miroannia
... By the study of Boltzmann I have been unable to understand him. He
ould not undestand meon aount of my shortness, and his length was and is
an equal stumbling-blok to me. Hene I am very inlined to join the glorious
ompany of supplanters and to put the whole business in about six lines ...
[J.C. Maxwella P.G.Tait, agosto de 1873℄
A meânia estatístia permitiuuma ompreensão da fenomenologia desritapela
ter-modinâmia a partir de abordagens mirosópias. Iniialmente onebida para expliar
fenmenos simples, omo o omportamento de gases monoatmios, interagindo via
po-teniais de urto alane, essa área da físia desenvolveu-se rápido e atualmente é ruial
paraoentendimentodesistemasomplexos. Entretanto, paraassegurarsua ampla
empre-gabilidade é preiso garantir a existênia dolimite termodinâmio,de modoque todas as
formulaçõesmeânio-estatístias, dadas pela teoriade ensembles, sejam equivalentes [3℄.
Por outro lado, nos asos em que o limite termodinâmio não se aplia, omo oorre
om sistemas ditos pequenos [2, 6℄, ujo alanedas interações equivale aotamanho do
sistema, surge o fenmeno da inequivalênia de ensembles. Nesta situação as previsões
físias efetuadas dependem do formalismo estatístio adotado. Dado tal grau de
arbitra-riedade, que é antes formal do que realmente físio, resta entender qual das abordagens
meânio-estatístiasé arelevante.
NesteapítulorevisamosaabordagemmiroanniausualàlaBoltzmann [2,3,6℄,pois
dela se deduzem, via teoria das transformações de Laplae e Legendre, todas as demais 1
.
Este formalismo fornee ainda uma presrição simples e direta para a araterização das
transições de fase, sendo apliável mesmo a sistemas pequenos. Por m, introduzimos
noçõessobreensemblesgeneralizados,omoogaussianoestendidoeomultiannio. Estes
ensemblessãouniversalmenteequivalentesaomiroannioeimportantesparasimulações
numérias.
1
Nosasosem quehá inequivalênia deensemblesas transformaçõesde Laplae não sãoinversíveis,
poisoorremregiõesnãonavasnaentropia. Ainda assimosensemblesannioegrandeanniosão
2.1 O ensemble miroannio
A formulação miroanniasurgiu das investigações dofísioaustríao Ludwig
Boltz-mann [1℄ visando desrever o omportamentoinétio dos gases a partir de um ponto de
vistamirosópio. Ooneitotermodinâmiode entropiaéfundamentalnessaabordagem
eaelefoiassoiado,emnívelmirosópio,aidéiadedesorganizaçãoestatístiadesistemas
físios isolados. O equilíbrio termodinâmionesse ontexto é realizadopelamaximização
daentropia do sistema.
Dene-seentropiamiroannia
S
(E, N, V
)
, queparaum sistemameânioextensivo dependeráda energiaE
, donúmerode partíulasN
edovolumeV
, omoS
(E, N, V
) =
k
B
ln
W
(E, N, V
)
,
(2.1)emque
k
B
éaonstantedeBoltzmanneW
éafunçãodepartiçãomiroannia 2. Ouseja,
W
representaonúmerodemiroestadosaessíveiseompatíveisomumdadomaroestadotermodinâmio,uja oupação é equiprovávelmiroanoniamenteemsistemas ergódios.
Por ausa da propriedade de equiprobabilidade dos estados a abordagem miroannia
não exibe barreirasde probabilidadenas vizinhanças de transiçõesde fase.
O formalismomiroannioinorpora naturalmenteuma presrição para o álulode
W
(E, N, V
)
atravésde umproessode partiionamentodoespaçodefase. Comoexemplo,onsideremos um sistema de
N
orpos uja energia total é xada emE.
Se sua dinâmia for regida pelahamiltonianaH
N
,
pode-se obterW
alulando-sea integral vinulada,W
=
ǫ
0
Z
1
N
!
d
3
pd
³
q
h
3
N
δ
(E
−
H
N
(p, q))
,
(2.2)em que asonstantes
ǫ
0
eh
(de Plank)tem dimensõesapropriadas.De fato, omo a abordagemmiroannia é meaniamentebemdenida, mesmo em
um nível mirosópio, os vínulos do sistema são impostos a ada um dos membros do
ensemble, ou seja, a ada ponto noespaço de fase. Por isso, a formulação miroannia
tem sentido físio mesmo para sistemas pequenos, e independentemente da existênia
do limite termodinâmio. Este aspeto ontrasta, por exemplo, om a abordagem grande
annia. Esta abordagem sededuz damiroannia via transformadadupla de Laplae
[2, 3℄em que os meanismos de troa de energiae partíulas neessitam de aoplamentos
om banhos térmiosinnitos(i.e. reservatórios).
Fia laro que uma das prinipais virtudes da abordagem miroannia é sua
habili-dadeemdesrever diretamenteede modoestatístio, oomportamentoglobalde sistemas
demuitos-orposempregandoapenasalgunspouosparâmetrosmeâniosdeontrole(e.g.
E, N, V
). Ainda, a entropia denida porBoltzmann é,emnívellássio,uma funçãoon-tínua, multiplamentedifereniávelomrelaçãoàenergiaenava 3
globalmente 4
nolimite
termodinâmio.
2
DoalemãoWahrsheinlihkeit: probabilidade.
3
Formalmente,umafunçãoreal
f
denidaemumintervaloéditanava,separaquaisquerdoispontosx
1
ex
2
emseudomínioC
,eparaqualquert
em[0
,
1]
,umpre-sef
(
tx
1
+ (1
−
t
)
x
2)
≥
tf
(
x
1) + (1
−
t
)
f
(
x
2)
. Emadição,f
(
x
)
énavaem[
a, b
]
seesomente seafunção−
f
(
x
)
éonvexaem[
a, b
]
.4
Porsua vez, a onexão do formalismomiroannio om a termodinâmiase dá pela
entropia, ujas razões entre taxas de variação fornee observáveis termodinâmios omo
a temperatura ou o alor espeío. Como ilustração, onsideremos um sistema
magné-tio desrito pela hamiltoniana
H
N
(m)
, em que o número de partíulasN
, a energia por partíulae
=
H
N
/N
e a magnetização por partíulam
=
M/N
[2℄ são utilizados para obter: Temperatura
(T
)
1
T
(e)
.
=
β
(e) =
∂
∂e
s
(e, m)
,
(2.3) Calor espeío
(c
V
)
c
V
(e)
=
.
de
dT
=
−
s
mm
T
2
d
(e, m)
,
(2.4) Suseptibilidade magnétia espeía
(χ
T
)
χ
T
=
.
∂m
∂B
T
=
−
s
ee
d
(e, m)
.
(2.5)Fizemos usonaEq. (2.5)daurvaturagaussiana. Esta urvatura orrespondeao
determi-nanteda matrizhessiana daentropia
d
[s
(e, m)]
, denida omod
S
(e, m) = det
s
ee
s
em
s
me
s
mm
.
(2.6)2.2 Transições de fase miroannias
Transições de fase são usualmente estudadas em meânia estatístia pela abordagem
de Lee e Yang [4℄, em que os hamados zeros omplexos da função de partição grande
annia são analisados. Uma revisão detalhada dessa abordagem foge ao esopo desta
tese, mas é importantenotar que nesse esquema inexistem transições de fase em sistemas
nitos 5
. Entretanto, é ruial aos nossos propósitos entender se na ausênia do limite
termodinâmioinexistem de fatotransiçõesde fase, ouseeste efeitoé apenas um artefato
de um partiular formalismo.
Consideramosquequando háequivalêniade ensembles adesrição físiade transições
de fase é naturalmente independente do formalismo adotado. Mas nos asos em que há
inequivalêniadeensemblesaformulaçãoestatístiaédeterminantequantoàfenomenologia
observável. No aso miroannio, uja onexão termodinâmia se dá via entropia de
Boltzmann, é o omportamento desta grandeza que disriminaa natureza das transições
de fase [2,6, 7℄.
5
Issoporqueforadolimitetermodinâmiotem-se
N
nito,eportantoafunçãodepartiçãoZ
podeseresritaomo uma soma nita eanalítiade
(
z
=
e
µ/T
)
N
termos. Paraompletar oraioínio, devemos
lembrarqueograndepotenialé
∝
1
Figura 2.1: Esquerda: situação que exemplia uma entropia nava, i.e., fase únia.
Direita: ilustração de um intruso onvexo na entropia, omo o que oorre nas transições
annias de primeira ordem; aqui os dois pontos-de-sela orrespondem a duas fases
dis-tintas. Adaptado dareferênia [2℄.
De formageral,transiçõesde fasemiroanniassão denidaspelos: pontose regiões
de urvatura não negativa da hipersuperfíie entrópia
S
N
(P
1
,
· · ·
, P
i
)
,
desrita noespaço de fase em função das quantidades meânias onservadas e extensivas{
P
1
,
· · ·
, P
i}
das quaisS
N
depende,omoaenergia,massa,magnetização, momentumangular,et [2,6,7℄. Portanto, para uma rigorosa utilização destes oneitos dene-se a urvatura, ou matrizhessiana(
H
S
), daentropiaS
N
(P
1
,
· · ·
, P
i
)
omoH
S(P
1
,P
2
,...,P
i
)
=
∂
P
1
∂
P
1
S . . . ∂
P
1
∂
P
i
S
.
.
. .
.
. .
.
.
∂
P
i
∂
P
1
S
· · ·
∂
P
i
∂
P
i
S
.
(2.7)Paraaraterizardevidamenteasregiõesde transiçãodefaseutilizam-seténias
apa-zes de extrair invariantes geométrios e algébrios da hipersuperfíie
S
N
. Por exemplo, a geometriadiferenial[5℄fornee-nosaurvaturagaussiana(d
S
)
,
i.e. odeterminantedeH
S
,
queéum importanteinvariante[2℄. Podemosaindaexpressá-laemtermosdos autovaloresordenados
{
λ
1
,
· · ·
, λ
N
}
daurvatura entrópia omod
S
=
det
H
S(P
1
,
···
,P
i
)
=
λ
1
λ
2
· · ·
λ
N
.
(2.8)Assim, todos os possíveis omportamentos fenomenológios onheidos nas abordagens
annia ougrande annia enquadram-se nos seguintes asos:
Umaúniafase estável: éobservada quando
d
S
>
0
eλ
1
<
0
. NessasituaçãoS
N
é nava emtodas asdireçõesnolimitetermodinâmio. Temos aquium mapeamentobi-unívooentre as grandezas termodinâmiasomputadasvia quaisquer ensembles.
Transição de fasede primeira ordem: nesse asoobserva-seseparação defasese
tensão interfaial eé araterizadapor
d
S
<
0
eλ
1
>
0
. AquiS
N
possui um intruso onvexo (urvaturapara ima, Figura2.1) nadireção doautovetorv
λ
1
assoiado àomponentede maiorurvatura
λ
1
.
Existemaquidoispontos-de-sela: naquelemaisà esquerdaosistemaétotalmentelíquidoenooutroégasoso. Todaaregiãoonvexada entropia é mapeada em um únio pontono ensemble grande annio; portanto,
se a urvatura de
S
N
for, por exemplo, igual aλ
1
≥
0
haverá inequivalênia de ensembles6
. Surgemvaloresnegativosdas funçõesresposta,omonoalorespeío,
omo sepode onstatar através das deniçõesnas Eqs. (2.4) e (2.5), Figura(2.1).
Transiçãode fasede segunda ordemou ontínua: trata-sedotipodetransição
de fase em que desaparee a tensão interfaial, ambas as fases vizinhas tornam-se
indistinguíveis. Nesteasoaslinhasrítiassãoaquelasonde
d
S
= 0
e~v
λ=0
·
∇
~
d
S
= 0,
em que~v
λ=0
é o autovetor deH
S
assoiado aoautovalorλ
= 0
de maior urvatura. NessassituaçõespodemoorrerasonheidasatástrofesdatransformadainversadeLaplae 7
E
→
T
. Pontos multirítios: oorrem em regiões em que mais de duas fases tornam-se
indistinguíveis; estão assoiados a loais em que oorrem divisões das linhas de um
diagramade fases. Matematiamentesão desritos por
d
S
= 0
e∇
~
d
S
= 0.
2.3 Inequivalênia de ensembles e transições de fase
A grandeza termodinâmia que arateriza transições de fase no formalismo annio
dameâniaestatístiaéaenergialivrede Helmholtz
(F
)
. ElaéobtidadaenergiainternaU
e da entropiaS
pela transformação de Legendre 8F
=
U
−
T S,
videapêndie C. Para6
Soboutroaspeto,valenotarqueafunçãodepartiçãograndeanniaédenidaviadupla
transfor-madadeLaplaedadensidadedeestadosmiroannia[i.e.,de
Ω (
e, n, V
) =
e
s
(
e,n,V
)
℄omo
Ξ (
µ, T, V
)
=
.
e
−
βF
(
µ,T,V
)
=
V
2
ǫ
0
∞
Z
0
de
∞
Z
0
dne
−
V
[
e
−
µn
−
T s
(
e,n,V
)]
/T
,
deondepode-semostrar[2℄queassintotiamente
F
(
µ, T, V
)
V
→
e
−
µn
−
T s
+
T
ln
√
dS
V
+
O
ln
V
V
.
Portanto, para
dS
>
0
aenergia livre espeía tende ao limite termodinâmio aseu valor típiof
→
e
−
µn
−
T s.
Entretanto,sedS
= 0
oorremdivergêniasemF,
mesmoparasistemasnitos,eparadS
<
0
inexisteuma deniçãodaenergialivre!7
Porexemplo,nessasituaçãoatransformadadeLaplaequeonverteadensidadedeestados
Ω = Ω (
e
)
nafunçãodepartiçãoannia:
Z
(
β
) =
R
∞
0
e
−
βe
Ω (
e
)
de
nãoéinversívelparatodoβ
poisaurvae
×
β
(
e
)
tem loops em formato de S. Logo, falha adesrição fenomenológia detransiçõesde faseem termos devariáveisintensivas,omo
T
(
e
)
queneessitadeonstruçõesauxiliaresomoadeMaxwellsobreosloopsdeVanderWalls.
8
que esta transformação e sua inversa façam sentido,
S
preisa ser loalmente nava, o que termodinamiamenteesta assoiado aoritério de estabilidade deste ensemble9
. Uma
vez onheida
F
a análise das suas divergênias e de suas funções resposta, omo função de um parâmetro intensivo(porexemplo, atemperatura), permite lassiarfenomenolo-giamente[5℄astransiçõesde fase. Assim, nestaabordagemastransiçõesde fasesãoditas
de
n
−
esima
´
ordem se a derivadan
−
´
esima
deF
for desontínua 10, ao passo que suas
funçõesresposta são positivasdenidas 11
.
Poroutrolado,segundooformalismomiroannio,transiçõesdefasesãolassiadas
[2, 75℄ pelo omportamento da entropia
S
e de suas funções resposta om relação a um parâmetro extensivo omo a energiaU.
Por exemplo, a Eq. (2.3) implia que transições de fase de primeira ordem neste formalismo exibem desontinuidades na temperatura.Como é amaximizaçãode
S
quegarantea estabilidade termodinâmianesta abordagem, e não a onavidade loal deS
omo no aso annio, ambos ensembles podem exibir (em prinípio)fenomenologias bastante distintas. Este é o aso quandoS
for loalmente onvexa, oqueimpliaemfunçõesrespostamiroanniasnegativassegundoasEq. (2.4)e Eq. (2.5)[14℄.
Normalmente a esolha de determinado ensemble é uma questão de onveniênia
té-nia,poisnolimitetermodinâmioosresultadosfísiosindependemdoformalismoadotado.
Existem ontudosituaçõesem queresultados, omoa ordemdatransição de fase,diferem
e originam inequivalênia de ensembles. Isto pode oorrer apenas quando há transições
de fase annias de primeira ordem em sistemas que interagem via poteniais de longo
alane 12
,omonos gravitaionais[8,13℄. Nestessistemasaentropiamiroanniaapesar
de ser ontínua exibe regiões onvexas. Ao leitor interessado apontamos [2, 13, 14℄, que
9
Situaçõesemque
S
nãoénavaimpliammetaestabilidadestermodinâmiasnoensembleannio,omooorreemtransiçõesdefasedeprimeiraordem. Nestesasoséusual apareeremloops deVander
Waalsnosdiagramasdefasedosistema,oqueexigeonstruçõesalàMaxwellparareproduziraurvados
aloreslatentes[3℄.
10
Nasvizinhançasdeumatransiçãodefaseontínua,oudesegundaordem,háumatemperaturarítia
Tc
emqueasfunçõesrespostadeF
omoc
eχ
apresentamdivergêniasdaformac
∝ |
T
−
Tc
|
−
α
χ
∝ |
T
−
Tc
|
−
γ
.
(2.9)Ograudedivergêniaditadopeloshamadosexpoentesrítios,omo
α
eγ,
permitelassiaremlassesdeuniversalidadeoomportamentofísiodestes sistemasdurante transiçõesdefase. Poroutrolado,em
transiçãodefasedeprimeiraordemtais expoentesrítiosnão seassoiamaooneitodeuniversalidade
[5,3℄.
11
Considerepor exemplooasodoalorespeíoaluladoomoformalismoannio,
cV
=
.
dU
dT
=
−
β
2
∂
h
E
i
∂β
=
β
2
∂
ln (
Z
)
∂β
=
β
2
E
2
− h
E
i
2
≥
0
,
onde
β
= 1
/T
éoinversodatemperaturafísiaT
deequilíbriodosistemaaopladoaoreservatóriotérmio.Aquiaenergiamédiaannia
h
E
i
β
étermodinamiamenteidentiadaomaenergiainternadosistemaU.
12
Éusualdenirem-sepoteniaisdelongoalane[13℄omoaquelesquedependamdadistânia
r
omor
−
α
justiam eexempliam a fundamentalidademiroannia.
Para efeitode ilustração onsideremos duas situações de transições de fase em que as
desrições ofereidaspor ambos osensembles podem apresentar inequivalênias:
Sempre que as transições de fase miroannias forem de primeira ordem, ou seja,
desontínuas nas urvas alórias (i.e.,
β
×
E
tendo saltos), elas serão de primeira ordem também no ensemble annio. Apesar de neste aso haver onordânia naordem da transição de fase segundo ambos os ensembles, a termodinâmia obtida a
partir das duas abordagens será inequivalente. Isto porque transições de fase
miro-annias de primeira ordemapresentam normalmentefunções resposta negativas.
Quandoastransiçõesde faseforemdeprimeiraordemnaabordagemannia,oque
se reete na presença de uma urva alória (miroannia)
β
×
E
ontínua mas dotadadeloopsdeVanderWalls,haverápossíveisinequivalênias. Nestasituaçãoháloops na referida urva alória, que são anniamente alterados (i.e., aplainados)
a là Maxwell, e são nestas regiões que surgem alores espeíos miroannios
negativose divergentes, o quesinaliza transiçõesde segunda ordem neste ensemble.
Devemosaindamenionarquenosasosemqueatransiçãode faseérítia,oudesegunda
ordem annia, háequivalênia total de ensembles.
2.4 Ensembles generalizados
Apresentaremosnassubsessõesseguintesdois ensemblesgeneralizados,quesão
extrema-menteúteis para a estimativa tanto analítiaquanto numériada entropia miroannia
omo denida na Eq. (2.2) [2, 6,7℄.
Noprimeiroasotemosoensemblemultiannio,quesurgiusobinspiraçãopuramente
algoritmiaparadriblaradegradaçãode desempenhoquesimulaçõesnumériasenfrentam
ao redor de transições de fase [61, 62℄. Nele, uma estimativa do tipo pieewise para a
entropia miroanniaé implementada através de parâmetros ditos multiannios.
O segundo ensemblepor sua vez éonheido omogaussiano estendido (EGE) [50,51,
52, 54, 55, 56, 58℄ e omporta-se omo um ensemble interpolante entre o miroannio
e o annio [56℄. Esta situação interpolante desreve sistemas aoplados a banhos
tér-mios nitos. Reentemente, foi mostrado ainda que o EGE é equivalente aos ensembles
miroannio eMUCA [17, 19, 20, 21, 22,49, 57,59,60℄.
2.4.1 O ensemble multiannio
Um onsiderável avanço nadeterminação miroannia das densidades de estadodata
a 1991 om a introdução do hamado ensemble multiannio [61, 62℄. Reordemos que
naabordagemannia tradiional o sistema permanee em ontato om um reservatório
om temperatura xa
T
= 1/k
B
β,
e tem as energiasE
k
da onguraçãok
desritas pelo peso de Boltzmann-GibbsEnquantoos estadosom energia
E
são distribuídos om probabilidadeP
B
(E) =
c
β
w
B
(E) =
c
β
Ω (E)
e
−
βE
,
(2.11)onde a onstante de normalização
c
β
éintroduzidapara garantir queP
E
P
B
(E) = 1.
Como adensidade de estados
Ω (E)
é uma função querese rapidamente, enquanto o fator de Boltzmann deai exponenialmente omE
, temos queP
B
(E)
tem geralmente a forma de uma gaussiana ouapresenta pios duplos [3℄. No aso de uma transição de fasede primeira ordem, o ponto rítio
β
c
(L)
em um sistema de volume nitoL
d
é denido
de forma que a distribuição de energia
P
B
(E, L)
apresente dois pios de alturas iguais nas energiasE
1
max
eE
2
max
,P
B
(E
1
max
, L) =
P
B
(E
max
2
, L)
.
Entre estes dois valores oorre a energiaE
min
,orrespondendo aomínimodeP
B
(E, L)
[63℄.Sabemos que asonguraçõesem
E
min
são exponenialmente suprimidassegundoP
min
=
P
(E
min
) =
c
f
L
p
exp (
−
f
s
A)
,
(2.12)onde
f
s
é a tensãointerfaiale
A
= 2L
d
−
1
éa área entre asduas fases para uma rede
L
d
.
Temos ainda as onstantes
c
f
ep
(p
=
d
−
1)
.Entretanto, ainda que lidando om a meânia estatístia annia, o peso de
Boltz-mann não éneessariamenteuma presrição omputaionalmenteadequada para todos os
asos. Numeriamente, este peso não seleiona ongurações representativas da interfae
emtransições de primeira ordem[63℄.
Umasoluçãoéousodoensemblemultiannio[61, 62℄,quefoi iniialmenteprojetado
para alular a tensão interfaial em simulações no ensemble annio de Gibbs. Ele foi
desenvolvidoempiriamenteomanalidadedeproduzironguraçõesrepresentativasdas
fases do sistema e om a exigênia de eientemente ultrapassar as barreiras de energia
livre. Prourou-se então amostrar, em um intervalo apropriado daenergia, ongurações
geradas om oseguintepeso
w
muca
=
e
−
b(E
k
)E
k
+a(E
k
)
,
(2.13) ao invés do tradiional peso de Boltzmann-Gibbs. O objetivo era obter uma novadistri-buição de probabilidades, om densidade de estados
n
(E)
multianniaP
muca
(E) =
c
muca
n
(E)
w
muca
(E)
≈
constante,
(2.14)que não fossefortementeonentrada, omo noaso usual da Eq. (2.11).
Essa novadistribuiçãofazomquenaregiãoaoredorde
P
min
nãooorramaisa supres-são de ongurações, logo, o sistema passaria a visitar igualmente todas as onguraçõesdisponíveis nesse intervalode energias. A novafunção
b(E)
é interpretada nesse esquema omo uma temperatura miroannia na energiaE
ea
(E)
passa a ser uma espéie de fugaidade. A distribuição annia originalP
(E)
pode ser obtida [63℄ pormeio de uma repesagem,istoéP
(E) =
P
muca
(E)
c
muca
w
muca
(E)
c
β
e
−
βE
.
(2.15)Perebeu-se posteriormente que os pesos prourados
w
muca
(E
k
)
orrespondem a uma boa aproximação para os pesos miroanniosw
1/Ω(E)
(E
k
)
,
istoéw
muca
(E
k
)
≈
w
1/Ω(E)
(E
k
) =
1
Ω (E
k
)
(2.16)
omo onsequênia direta daEq. (2.14). Ou seja,aqui a entropia miroannia é
direta-menteestimadaomo uma função pieewise dotipo
S
(E
k
) =
b
k
(E
k
)
E
k
−
a
k
(E
k
)
.
Contudo,háuma diuldadeiniialemapliaroalgoritmomultiannioparaestimar
a densidade de estados miroannia visto que os pesos na Eq. (2.16) são a priori
des-onheidos. Portanto,para estimar adequadamente o onjunto de pesos
{
a
k
, b
k
}
é preiso utilizar relações de reorrênia em simulações preliminares suessivas13
, que anteedem a
simulação produtiva propriamente dita. Uma vez xados os
w
muca
(E
k
)
, a simulação é efetuada segundo métodos usuais [64℄.Porm, oálulode grandezastermodinâmiasdesritas peloensembleanniopode
ser obtido do ensemble multiannio via repesagem dos dados provindos de sua série
temporal. Por exemplo, a energia média annia a uma temperatura
1/β
é alulada a partir das medidasmultianniasE
i
,
¯
E
(β) =
P
n
i=1
E
i
w
muca
−
1
(E
i
)
e
−
βE
i
P
n
i=1
w
muca
−
1
(E
i
)
e
−
βE
i
.
(2.17)2.4.2 O ensemble gaussiano estendido
O ensemble gaussiano surgiu nos anos 80 om a nalidade de aelerar os métodos de
Monte Carlo usuais [50, 51, 52, 54, 58℄. Posteriormente, este ensemble foi reinterpretado
omo um esquema regularizador para o ensemble miroannio [55℄. Ele interpola por
meio de um parâmetro
γ
, relaionado àapaidade aloríade um banho térmio nito, afísiados ensemblesannio e miroannio [13,83℄. Umageneralizaçãoulteriordesteesquemaproduziuoensemblegaussianoestendido(EGE)[47,56,77℄. Reentementefoi
de-monstrado[57℄haverequivalêniasentreosensemblesmiroannio,gaussianoestendido,
multiannio ede Tsallisem ertos regimes termodinâmios.
Deduzimos aqui as propriedades do EGE [56, 83℄ utilizando métodos omumente
en-ontrados naliteraturapara obter oensemble annio [3℄ apartir domiroannio, por
exemplo, omo éilustradono Apêndie E.
Iniialmente, onsideremos um sistema
a
om energiaE
e entropiaS
, aoplado a um banho térmiob
om energiaE
b
e entropiaS
b
que troa energia oma.
Logo, a energia total dosistemaisoladoseráE
t
=
E
+
E
b
esua entropiatotal éS
t
.
Neste asoo equilíbrio13
Geralmenteutilizam-serelaçõesdereorrêniaentreosparâmetros
bn
ean
an
(
E
−
ǫ
) =
an
(
E
) + [
bn
(
E
−
ǫ
)
−
bn
(
ǫ
)]
E,
bn
+1
(
E
) =
bn
(
E
) + [ln
H
n
muca
(
E
+
ǫ
)
−
ln
H
n
muca
(
E
)]
/ǫ
térmio é alançado quando
S
t
é máxima e a energiaE
do sistemaa
utuar ao redor de um valor médioU
de equilíbrio. Então, a energia mais provável é tal que uma expansão daentropiadobanhotérmioS
b
,
aoredordoequilíbrioE
t
−
U,
resultaemsegunda ordemS
b
(E
b
) =
S
b
(E
t
−
U) +
dS
b
dE
b
E
t
−
U
(U
−
E) +
1
2
d
²S
b
dE
b
²E
t
−
U
(U
−
E)
²+
....
(2.18)Seonsiderarmosqueestasderivadasdependemdaspropriedadesfísiasdobanhotérmio,
é onveniente denirmos
dS
b
dE
b
E
t
−
U
=
α,
(2.19)e
1
2
d
²S
b
dE
b
²E
t
−
U
=
−
γ.
(2.20)Noaso de haver umbanho térmioinnito,representado porum reservatório,estaríamos
trabalhando no ensemble annio tradiional, ou seja
α
=
β
= 1/
(k
B
T
)
eγ
= 0.
No limiteoposto, emqueháumbanhotérmioinnitesimal,temosoasomiroannioomγ
→ ∞
eE
t
≡
U.
O métododos multipliadores de Lagrange[3, 56℄ nos dá opeso gaussiano estendido
w
EGE
=
e
−
αE
−
γ(E
−
U)
²
,
(2.21)e adensidade de probabilidadepara o EGE
P
γ,α
(E) =
ρ
(E)
e
−
αE
−
γ(E
−
U)
²Z
γ
(U, α)
,
(2.22)om a qualdene-se a função de partiçãodeste ensemble,
Z
γ
(U, α) =
Z
ρ
(E)
e
−
αE
−
γ(E
−
U)
²dE.
(2.23)Daqui, dene-se o potenialtermodinâmiogeneralizado,
Φ
γ
(U, α) =
−
ln
Z
γ
(U, α)
.
(2.24)Enquanto o parâmetro
U
pode ser determinado autoonsistentemente pela seguinte relaçãoU
=
.
∂Φ
γ
∂α
=
Z
EP
γ,α
(E)
dE.
(2.25)Se apliarmos atransformaçãode Legendre-Fenhel(LF)[3℄ aopotenial
Φ
γ
(U, α)
enon-traremosa entropia generalizada
S
γ
doEGE,S
γ
(U
) =
α
∂Φ
γ
∂α
γ
+
γ
∂Φ
γ
∂γ
α
Vale notar também que, omo oorre no aso da termodinâmia annia, pode-se
denir um alor espeío generalizado para o sistema [51, 52℄. Este alor espeío é
dependente de
γ,
C
γ
=
.
−
α
2
∂U
∂α
γ
=
h
(E
−
U
)
²i
1
−
2γ
h
(E
−
U
)
²i
.
(2.27)Simulações
God does not are about our mathematial diulties. He integrates empirially
[A. Einsteina L.Ineld,1942℄.
Aobtençãodaentropiamiroanniapartindo-sediretamentedadeniçãonaEq. (2.2)
éumatarefa nemsemprepossívelanalitiamente. Oquereforçaa neessidadede métodos
numérios omo as simulaçõesde Monte Carlo (MC) [64℄ para esse tipo de álulo.
Nes-tas simulaçõesutilizam-sedinâmiasestoástiasparaevoluirtemporalmenteum sistema.
Neste aso produzimosuma adeia markovianade onguraçõesna variável temporalnão
físia
τ
dita de Monte Carlo. O algoritmoempregado deverá amostrarongurações esta-tistiamentedistribuídasde aordoomum dado ensembleaolongodaevolução temporalda simulação. Assim, assumindo ergodiidade, substituem-se médias térmias
h
. . .
iT
de ensemble pormédias temporaish
. . .
iτ
nas simulação de MC.Na iminênia de uma transição de fase, a produção de ongurações independentes é
afetadafortementepeloefeitodofrenamentorítio(doinglês,ritialslowingdown: CSD)
[63℄. Este efeitoestá assoiadoà existêniade omprimentosde orrelação divergentes em
transiçõesde fasedesegunda ordem,eàpresençadeenormes barreirasinterfaiaisna
ener-gia livre annia em transições de primeiraordem. Isto produz divergênias nos tempos
de autoorrelação entre onguraçõessuessivas. Para ontornar o problema, sostiados
algoritmosde atualização globais devemser empregadossempre que possível.
Outraalternativaéautilizaçãodeensemblesgeneralizadosemqueopesoanniousual
de Boltzmann-Gibbs
e
−
βE
,
típio do ensemble annio, é substituido por outros, om a
nalidade de diminuira inuênia numériadas barreirasde energia livre[61, 62, 77℄.
Iniiamos o apítulo revisando brevemente alguns tipos de simulações, o oneito de
adeias de Markov é então introduzido e utilizado na formulação do algoritmode
Metro-polis. Disutimos emseguida omo estimarerros numérios e omoo efeitodo CSDpode
afetá-los. Estas observações orientaram historiamente o desenvolvimento de algoritmos
mais eientes, hamados de miroannios, imunes ao efeito de CSD. Finalizamos este
apítulomostrando omo adaptarosmétodos de Monte Carlousuais, onjuntamenteom