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PDF PT Jornal Brasileiro de Pneumologia 1 2 portugues

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Levin ASS

2 J Pneumol 29(1) – jan-fev de 2003

Uma simples infecção por pneumococo...

ANNA SARA S. LEVIN1

EDITORIAL

Não é incomum a atitude de desdém frente às infec-ções causadas por S treptococcus pn eum on iae, uma vez que classicamente são comunitárias e universalmente sen-síveis à penicilina. No entanto, a importância das infec-ções pneumocóccicas é indiscutível. É um dos principais agentes causadores de meningites e pneumonias comu-nitárias. Infecções pneumocócicas invasivas apresentam alta mortalidade. Como exemplo, em estudo brasileiro, 5 0 % dos pacientes com infecção bacterêmica evoluíram para óbito(1 ). Outro agravante para o tratamento dessas

infecções é o fato da crescente resistência à penicilina e a outros antimicrobianos habitualmente utilizados nessas infecções. Há poucos estudos nacionais de prevalência de resistência de pneumococos à penicilina. Em geral, estes foram realizados em grandes centros como São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de J aneiro(2 -4 ), podendo não

refletir o que ocorre em outras regiões do país. Vem daí a importância do estudo publicado por Spiandorello et al. neste número do Jorn al de Pn eum ologia. Pela gravida-de da infecção invasiva pneumocócica, é freqüente a ne-cessidade de iniciar a terapêutica empírica antes do resul-tado de culturas e testes de sensibilidade antimicrobiana. Há recomendações publicadas em consensos nacionais e

guidelin es estrangeiros freqüentemente guiam a escolha

de drogas nessa situação. Seguramente, a prevalência de resistência no Brasil varia regionalmente como ocorre em outros países(5 ) e os consensos podem não ser aplicáveis

a diferentes regiões ou até a diferentes cidades ou hospi-tais de uma mesma região. Embora a resistência à penici-lina tenha aumentado rapidamente ao longo do tempo em muitos países, como Argentina, Colômbia e Uruguai(6 ),

isso não parece ter acontecido no Brasil, em que a tência relativa tem se mantido entre 1 4 e 2 0 % e a resis-tência completa próxima a 1 % ou pouco mais. No estudo realizado por Spiandorello et al., em Caxias do Sul – RS, a resistência relativa foi de 2 ,2 8 %, surpreendentemente baixa quando comparada com a de outros estudos nacio-nais. A resistência completa foi de 3 ,4 2 %, semelhante à de outros resultados no país. A interpretação de sensibili-dade segue os níveis de corte utilizados habitualmente pre-conizados: sensibilidade quando a concentração inibitó-ria mínima (CIM) é menor que 0 ,1 2µg/ ml; resistência

relativa (ou suscetibilidade intermediária) quando a CIM é de 0 ,1 2 a 1 ,0µg/ ml; e resistência completa na CIM acima de 1 ,0µg/ ml. Estes foram estabelecidos para o tratamen-to de meningite pneumocócica considerando que os ní-veis em SNC são mais baixos que os séricos ou que os encontrados em outros tecidos. Assim, tratar infecções pneumocócicas com resistência relativa em órgãos que não o SNC não é uma contra-indicação ao uso de penici-lina em boas doses. Considerando o estudo de Spiando-rello et al., a grande maioria das infecções pneumocóci-cas em Caxias do Sul deverá responder adequadamente ao uso de penicilinas, sem a necessidade de drogas alter-nativas. No caso das meningites deve-se considerar a não-sensibilidade como resistência, na escolha do tratamen-to, que, neste estudo, chegou a 5 ,7 % e que, ainda assim, é muito mais baixa do que a descrita em outras regiões do país. A resistência de pneumococos à penicilina se dá por alterações do sítio de ligação dos antibióticos betalac-tâmicos, que são as proteínas ligadoras de penicilina ou

PBP, e não por produção de enzimas betalactamases(7 ).

Assim, o uso de um inibidor de betalactamases associado a uma p enicilina, sugerido no Consenso Brasileiro de Pneumonias(8 ), em nada melhora a sensibilidade de S . pn eum on iae a esse antimicrobiano. Para outras drogas

habitualmente utilizadas para o tratamento de infecções pneumocócicas, como tetraciclinas, sulfametoxazol/ trime-toprim (S/ T) e macrolídeos, há resultados diferentes em regiões diferentes. Estudos brasileiros mostram resistên-cia à tetraciclina e S/ T próxima de 3 0 %(1 -3 ) e é rara a

resis-tência a macrolídeos, contrastando com resultados de outros países(9 ,1 0 ).

Por fim, é necessário lembrar que existe uma vacina antipneumocócica que tem atividade contra 2 3 sorotipos. Há mais de 8 0 sorotipos de pneumococo descritos ba-seados no perfil da sua cápsula polissacarídica, porém, em estudos brasileiros, a cobertura vacinal supera 8 0 %, incluindo quase todos os sorotipos em que a resistência é mais freqüente(1 -4 ,1 1 ). Assim, para os grupos de maior

ris-co de adquirir infecções pneumocócicas é fundamental realizar a vacinação: idosos, pneumopatas crônicos, ne-fropatas, diabéticos, cardiopatas, pacientes infectados pelo

H IV. A vacina polissacarídica é muito eficaz em maiores de dois anos de idade. Abaixo desta idade a resposta à vacina é insatisfatória e é necessário utilizar uma vacina conjugada. O maior problema é que não é possível incluir mais do que oito ou nove sorotipos na vacina conjugada

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e são necessários estudos regionais para a adequação da vacina à prevalência de sorotipos mais freqüentes e resis-tentes em crianças pequenas.

Estudos de sensibilidade e a determinação de sorotipos são fundamentais e devem ser realizados rotineiramente em diferentes regiões e populações. Em uma situação ideal, esses dados deveriam ser centralizados e disponí-veis para orientar a prática clínica e a elaboração de vaci-nas.

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EFERÊNCIAS

1 . Levin ASS, Teixeira LM, Sessegolo J F, Barone AA. Resistance of S

trep-t ococcu s p n eu m on iae trep-to antrep-timicrobials in São Paulo, Brazil: clinical

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2 . Sessegolo J F, Levin AS, Levy CE, Asensi M, Facklam RR, Teixeira LM. Distribution of serotyp es and antimicrobial resistance of S t rept

o-coccu s p n eu m on iae strains isolated in Brazil from 1 9 8 8 to 1 9 9 2 . J

Clin Microbiol 1 9 9 4 ;3 2 :9 0 6 -1 1 .

3 . Teixeira LM, Carvalho MG, Castineiras TM, Fracalanzza SA, Levin AS, Facklam RR. Serotyp ing distribution and antimicrobial resistance of S t rep t ococcu s p n eu m on iae isolated in Brazil (1 9 9 2 -1 9 9 6 ). Adv Exp Med Biol 1 9 9 7 ;4 1 8 :2 6 9 -7 1 .

4 . Brandileone MC, Vieira VS, Zanella RC, Landgraf IM, Melles CE, Taunay A, et al. Distribution of serotyp es of S t rep t ococcu s p n eu m

o-n iae isolated from io-nvasive io-nfectioo-ns over a 1 6 -year p eriod io-n the

Greater São Paulo area, Brazil. J Clin Microbiol 1 9 9 5 ;3 3 :2 7 8 9 -9 1 .

5 . Whirtney CG, Farley MM, Hadler J , Harrison J H, Lexau C, Reingold A, et al. Increasing p revalence of multidrug-resistant S trep t ococcu s

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6 . Difabio J L, Castaneda E, Agudelo CI, et al. Evolution of S trep t

ococ-cu s p n eu m on iae serotyp es and p enicillin suscep tibility in Latin

Amer-ica, Sireva-Vigía Group , 1 9 9 2 -1 9 9 9 . Pediatr Infect Dis J 2 0 0 1 ;2 0 : 9 5 9 -6 7 .

7 . Livermore DM. Are all beta-lactams created equal? Scand J Infect Dis 1 9 9 6 ;(Sup p l 1 0 1 ):3 3 -4 3 .

8 . Pereira CAC, Carvalho CRR, Pereira-Silva J L, Dalcolmo MMP, Mes-seder OHC. Parte I – Pneumonia adquirida na comunidade. Consenso Brasileiro de Pneumonias em Indivíduos Adultos Imunocomp etentes SBPT, 2 0 0 1 . J Pneumol 2 0 0 1 ;2 7 :S3 -2 1 .

9 . Ap p elbaum PC. Resistance among S trep t ococcu s p n eu m on iae: im-p lications for drug selection. Clin Infect Dis 2 0 0 2 ;3 4 :1 6 1 3 -2 0 .

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S trep t ococcu s p n eu m on iae isolates. J AMA 2 0 0 1 ;2 8 6 :1 8 5 7 -6 2 .

Referências

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