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FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO E MANUTENÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO

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Academic year: 2022

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FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO E MANUTENÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO

FACTORS WHICH INTERFER IN THE ADHESION AND MAINTENANCE OF EXCLUSIVE BREASTFEEDING

ZAVA, Daiane Marcele Rêis dos Santos1 CONTARINE, Eduarda da Silva2

BAPTISTINI, Renan Almeida3

RESUMO

O aleitamento materno é uma prática primordial para o crescimento e desenvolvimento da criança e contribui para redução da morbimortalidade infantil, sendo recomendado de forma exclusiva até o sexto mês e de forma complementada até dois anos ou mais. No entanto, apesar dos benefícios, as taxas de amamentação ainda são baixas no Brasil. Portanto, este estudo teve por objetivo conhecer os fatores determinantes para não adesão ou interrupção do aleitamento materno exclusivo entre lactantes no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES.

Tratou-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo como cenário duas unidades básicas de saúde localizadas no município de Cachoeiro de Itapemirim- ES. As participantes da pesquisa foram 15 mulheres com filhos até 06 meses de idade, residentes no território de abrangência das referidas unidades de saúde. O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista, com roteiro semiestruturado. O tratamento e análise dos dados foram baseados na Análise Institucional. Esta pesquisa foi desenvolvida respeitando todos os trâmites éticos descritos na resolução nº 466/12. O estudo mostrou uma baixa adesão ao aleitamento materno exclusivo e a interrupção precoce desta prática entre as mulheres que ainda amamentam. A influência negativa de alguns profissionais de saúde, as crenças populares errôneas arraigadas na cultura popular, os sentimentos maternos de insegurança e/ou medo em relação à amamentação, as intercorrências mamárias e a necessidade de retorno ao trabalho foram fatores determinantes para não adesão ou interrupção do aleitamento materno entre as mulheres investigadas.

Palavras-chave: Aleitamento materno; Desmame; Enfermagem.

ABSTRACT

Breastfeeding is an essential practice for the growth and development of the child.

This contributes to the reduction of infant morbidity and mortality, being recommended exclusively until the six months old. Sometimes, in a complementary way for up to two years or more. However, despite the benefits, breastfeeding rates

1 Enfermeira do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim, dai_marcelle@hotmail.com;

2 Enfermeira do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim, eduardacontarine@gmail.com;

3 Orientador. Enfermeiro, Especialista em Enfermagem do trabalho, Mestre em Saúde Coletiva e Professor no Centro Universitário São Camilo-ES - renanbaptistini@saocamilo-es.br.

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are still low in Brazil. This study is aimed to know, the determining factors for non- adherence or interruption of exclusive breastfeeding among lactating women in the county of Cachoeiro de Itapemirim-ES. Two basic health units located in the city of Cachoeiro de Itapemirim-ES were used in a qualitative research. The research participants were 15 women with children up to 6 months of age, living in the territory covered by the referred health units. With a semi-structured script and interviews, the data was collected. The treatment and analysis of the data were based on Institutional Analysis. Using all the respecting ethical procedures described in resolution 466/12, the research was developed. The study showed low accession to exclusive breastfeeding and the early interruption of this practice among women who are still breastfeeding. The negative influence of some health professionals, erroneous popular beliefs rooted in popular culture, maternal feelings of insecurity and / or fear in relation to breastfeeding, breast complications and the need to return to work were determining factors for non-adherence or interruption breastfeeding among the women investigated.

Keywords: Breastfeeding; Weaning; Nursing.

INTRODUÇÃO

O aleitamento materno é uma prática muito estimulada pelas organizações e políticas públicas, sendo visto como importante fator na redução das taxas de morbimortalidade infantil (KALIL, 2016).

Apesar de o leite materno conter propriedades nutricionais e imunológicas para o lactente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente 38,6%

dos lactentes brasileiros são amamentados exclusivamente com leite materno nos primeiros 6 meses de vida (OLIVEIRA, 2017). “O índice de amamentação exclusiva para menores de 6 meses estabelecido pela Assembleia Mundial de Saúde a ser alcançado até 2025 é de 50% [...]” (BRASIL, 2017).

Em 1981 foi instituído, no Brasil, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), visando à realização de campanhas publicitárias através de meios de comunicação, treinamento de profissionais de saúde e criação de leis trabalhistas de proteção a amamentação, além de materiais educativos e grupos de apoio a amamentação em comunidades. Em 1982, foi publicada a portaria que tornou obrigatória a implantação do alojamento conjunto nas maternidades para que o início da amamentação seja imediato após o nascimento, evitando a oferta de água e leites artificiais nas maternidades (BRASIL, 2017).

No ano de 2017, o Brasil ganhou duas novas leis em apoio ao aleitamento materno. A lei 13.435 institui agosto como o mês do aleitamento materno, criando ações de conscientização da importância da amamentação. Além da lei 13.436, que

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garante às lactantes acompanhamento e orientação sobre o aleitamento materno (ARAGÃO, 2017).

Além das leis e portarias criadas, o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), lançaram a campanha “Amamentar hoje é pensar no futuro”, objetivando incentivar o aleitamento materno até os dois anos ou mais e a amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do lactente, uma vez que esta prática traz benefícios para a saúde do bebê e reduz o índice de morbimortalidade infantil (BRASIL, 2012).

Segundo Brasil (2012), atribui-se ao aleitamento subótimo, conforme classificação da OMS, 55% das mortes por doença diarreica e 53% das causadas por infecção do trato respiratório inferior em crianças dos 0 aos 6 meses, 20% e 18%

dos 7 aos 12 meses, respectivamente, e 20% de todas as causas de morte no segundo ano de vida.

O Brasil reduziu a taxa de mortalidade infantil em 47%, segundo a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Em torno de 6 milhões de crianças estão sendo salvas a cada ano pelo aumento da taxa de amamentação exclusiva (BRASIL, 2012).

Portanto, este estudo teve por objetivo conhecer os fatores determinantes para não adesão ou interrupção do aleitamento materno exclusivo entre lactantes no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES.

METODOLOGIA

Tratou-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. A opção por tal abordagem considera que a mesma aplica-se ao estudo das relações, das representações, das percepções e das opiniões, produto das interpretações que os homens fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2008). Segundo Triviños (1987), esta abordagem permite a captura do ponto de vista dos atores sociais, privilegiando a subjetivação entre o sujeito e o pesquisador e os significados atribuídos pelos atores num determinado contexto.

O cenário da pesquisa foram duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) localizadas no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES. Trata-se de unidades de

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saúde inseridas na Estratégia Saúde da Família (ESF) compostas por equipes multiprofissionais, as quais acompanham a situação de saúde das participantes desta pesquisa.

As participantes da pesquisa foram 15 mulheres com filhos até 06 meses de idade residentes no território de abrangência das referidas unidades básicas de saúde, sendo que os critérios de inclusão adotados foram ter idade igual ou superior a 18 anos, ter criança em idade em que se recomenda o aleitamento materno exclusivo (até seis meses), estar em acompanhamento pelas unidades de saúde cenário da pesquisa, concordar em participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista, com roteiro semiestruturado. Marconi e Lakatos (2007) definem a entrevista como um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação profissional. Segundo Minayo (2008), o roteiro é sempre um guia, nunca um obstáculo, portanto não pode prever todas as situações e condições do trabalho de campo. É dentro dessa visão que deve ser elaborado e usado. Múltiplos são os objetivos de uma entrevista. A nossa pretendeu identificar os fatores determinantes para não adesão ou interrupção do aleitamento materno exclusivo entre lactantes.

O trabalho de campo ocorreu em duas etapas: identificação e abordagem às participantes da pesquisa. A primeira etapa consistiu na identificação das participantes junto às equipes das referidas unidades de saúde. Foi solicitado às equipes de saúde o número de puérperas e mulheres com filhos até seis meses de idade que estavam em acompanhamento naquelas unidades de saúde. Em seguida, foi agendada uma reunião com as Agentes Comunitárias de Saúde para organização do cronograma de visitas domiciliares às participantes da pesquisa. A segunda etapa consistiu na abordagem às participantes da pesquisa para realização de entrevistas, as quais foram realizadas no domicílio de cada puérpera e gravadas mediante permissão das participantes investigadas.

Quanto ao tratamento e análise dos dados, as entrevistas sucederam-se transcritas na íntegra buscando-se valorizar os detalhes sutis, mostrando linguagens e emoções presentes no discurso dos sujeitos e a Análise Institucional (sócio análise) norteou a condução deste estudo. De acordo com L’Abbate (2005, p. 237 apud Sól, 2011, p. 54), “a Análise Institucional nasceu da articulação entre

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intervenção e pesquisa, entre teoria e prática [... e] tem por objetivo compreender uma determinada realidade social e organizacional, a partir dos discursos e práticas dos seus sujeitos”, destinando-se à compreensão de uma realidade social, práticas e enunciados de seus autores, tendo os processos de auto-análise e de auto-gestão como os seus principais pontos na articulação de todo o processo.

Os dados analisados foram subdivididos e descritos em três partes, a saber: a caracterização das participantes da pesquisa, o perfil das lactantes e o olhar das mulheres que amamentam.

Esta pesquisa foi desenvolvida respeitando todos os trâmites éticos descritos na resolução nº 466/12, que contém as diretrizes e normas regulamentadores de pesquisa envolvendo seres humanos, sendo submetida ao CEP do Centro Universitário São Camilo – SP, tendo sido aprovada sob parecer número 3.661.098.

Todos os participantes foram informados sobre a natureza acadêmica e objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (BRASIL, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Prazer em conhecê-las: caracterizando as participantes da pesquisa

As mulheres investigadas são, em sua maioria, de cor parda (60%), solteiras (66,66%), de religião evangélica (53,33%), possuem ensino médio completo (33,33%) e apresentam média de idade de 29 anos (com faixa etária entre 18 e 39 anos). A média do número de filhos foi de 2,86 por mulher, sendo equivalente a 3 filhos em média, e 3 participantes são primíparas (tem apenas 1 filho).

O estado civil das mães parece interferir na duração do Aleitamento Materno Exclusivo (AME), sendo maior sua duração entre as mulheres que tem uma união estável, com marido ou parceiro. O apoio emocional oferecido por eles faz com que essas mães se sintam mais seguras e motivadas a continuar amamentando, além do apoio social e econômico que essa união estável garante (GIUGLIANI, 1994).

Um estudo realizado por Carrascoza, Costa Júnior e Moraes (2005) obteve os seguintes resultados:

Observa--se um maior percentual de mães solteiras no grupo de desmame precoce (83,3%) e uma tendência inversa, isto é, um maior percentual de mães casadas no grupo de aleitamento materno prolongado (56,7%) (CARRASCOZA, COSTA JÚNIOR, MORAES, 2005).

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Com relação à religião, o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2010 mostrou que a quantidade de católicos diminuiu no Brasil e ao mesmo tempo aumentou a quantidade de evangélicos no geral, incluindo todas as denominações. A análise mais detalhada dessa expansão da igreja evangélica mostra que nas periferias das cidades e grandes regiões metropolitanas, onde a população é mais vulnerável econômica e socialmente, vem aumentando a atuação dos evangélicos denominados pentecostais (JACOB et al., 2003). O censo 2010 mostra resultados que confirmam essa percepção, sendo que “os evangélicos pentecostais formavam o grupo religioso com a maior proporção de pessoas pertencentes a classes de rendimento até 1 salário mínimo (63,7%)” (IBGE, 2010).

A predominância da religião evangélica entre as mães entrevistadas pode ser explicada, então, pelo fato da pesquisa ter sido realizada em uma área mais carente da cidade.

A baixa escolaridade materna também é uma variável que interfere negativamente na duração do aleitamento materno exclusivo. Um estudo de revisão sistemática realizado por Boccolini, Carvalho e Oliveira (2015) concluiu o seguinte:

A escolaridade materna foi o fator mais amplamente investigado, quase a metade dos estudos tendo observado associação entre escolaridade materna e aleitamento materno exclusivo, e os achados foram unânimes: a baixa escolaridade associou-se à interrupção do aleitamento materno exclusivo.

Quanto ao acesso à educação, apesar de o maior percentual (33,33%) estar concentrado no ensino médio completo, há predominância de baixa escolaridade, uma vez que 53,32% das participantes têm nível de instrução menor que esse (26,66% ensino médio incompleto, 6,66% ensino fundamental completo e 20%

ensino fundamental incompleto), sendo um fator de risco para a interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. Isso porque, geralmente, a baixa escolaridade está associada à baixa condição socioeconômica, fazendo com que essas mulheres tenham menos acesso a informações e mais dificuldade para assimilá-las, assim como menor acesso aos serviços de saúde. Por outro lado, as mães com maior escolaridade parecem compreender melhor a importância do aleitamento materno e seus benefícios, estando mais favoráveis a manutenção dessa prática.

Com relação à idade materna, poucos estudos evidenciaram interferência significativa dessa variável para a interrupção do AME, não sendo, por si só, um

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fator determinante. A idade exerce influência (positiva ou negativa) quando associada com a experiência materna, estabilidade familiar e socioeconômica. Num estudo de revisão sistemática, Boccolini, Carvalho e Oliveira (2015) verificaram que idades intermediárias representam influências positivas para a prática do AME, enquanto adolescência e idade superior a 35 anos exercem influência negativa.

Portanto, no presente estudo a idade não deve ser considerada um fator de risco, visto que a idade média das mães é de 29 anos, com faixa etária entre 18 e 39 anos, sendo que o número de mulheres com idade superior a 35 anos é pequeno.

O número de filhos também interfere no sucesso do aleitamento materno, sendo a multiparidade considerada um fator que influencia positivamente a prática do AME, uma vez que está associada à maior experiência dessas mães com relação à amamentação. Em estudo realizado por Martins et al. (2011) foi observado que entre as mães primíparas o risco de interromper o AME no primeiro mês de vida do bebê foi 41% maior em comparação com as multíparas. Isso está relacionado a pouca ou nenhuma experiência dessas mulheres na primeira gestação/parto, o que as torna mais vulneráveis a serem influenciadas por crenças e fatores culturais e, consequentemente, introduzir precocemente outros alimentos na dieta de seus filhos (FALEIROS, 2006).

Quanto à profissão, 60% são donas de casa e não possuem renda formal. As demais 40% possuem renda formal por estarem inseridas no mercado de trabalho.

Com relação à renda familiar mensal média, 66,67% das mulheres possuem renda de 1 a 3 salários mínimos e 20% das mulheres tem renda inferior a 1 salário mínimo por mês.

O fato de as mulheres terem de retornar ao trabalho muito cedo pelas necessidades financeiras ou pelo receio da perda do emprego favorece a separação precoce da mãe e criança e consequentemente o desmame precoce. A interação entre mãe e filho nesses primeiros meses de vida é fundamental para o desenvolvimento da criança (MONTESCHIO, 2015; SILVA, 2006; DAMIÃO, 2008 apud RIBEIRO, 2017).

“O retorno ao trabalho afasta as mães de seus bebês por cerca de 8 horas diárias, o que dificulta a manutenção do aleitamento exclusivo até seis meses”

(MONTESCHIO, 2015; DAMIÃO, 2008; NIQUINI, 2009 apud RIBEIRO, 2017).

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De acordo com os dados colhidos e analisados, observou-se que a maioria das entrevistadas são donas de casa, o que deveria favorecer o aleitamento materno. Porém, os números apontaram que mesmo essas mulheres sendo donas de casa e possuírem maior flexibilidade de horário, as taxas de aleitamento materno foram baixas, mostrando que a profissão/ocupação não foi o único fator responsável pelo desmame precoce.

A renda também influencia no nível educacional. Então, quanto maior a renda, maior a possibilidade de acesso às informações sobre a importância do aleitamento materno. Nas mães com renda inferior, que necessitam contribuir com seu trabalho para o sustento da família, a amamentação poderia ser prejudicada pela falta de acesso a essas informações (REA, 1997). Além do trabalho, o desemprego também pode ser considerado um fator de risco para o desmame precoce (VENANCIO, 2002).

A baixa renda familiar encontrada pode interferir no acesso aos serviços de saúde, visto que 66,67% das mulheres relataram que acessam somente aos serviços do SUS e 33,33% tem acesso ao SUS e a convênios particulares.

[...] pessoas com maior renda têm maior possibilidade de adquirir bens e serviços de saúde, tais como: consultas médicas, medicamentos e planos de saúde. No Brasil, [...] os indivíduos de baixa renda demandam menos os serviços de saúde, principalmente a parte que se refere à saúde preventiva (IBGE, 2013; ALMEIDA, 2000; NORONHA, 2002; NERI, 2002 apud SANTOS, 2012).

O Sistema Único de Saúde (SUS) possui grande importância na redução das desigualdades no acesso à saúde. Mesmo com a atuação do SUS, a renda ainda influência na saúde (CRESPO, 2008 apud SANTOS, 2012).

Em outros casos, mesmo havendo serviços públicos de saúde, as pessoas de baixa renda têm menor acesso a estes devido à dificuldade de acesso pela distância de suas residências aos serviços de saúde, demandando alto custo para sua locomoção (SANTOS, 2003; SANTOS 2012).

Quanto ao acesso a internet, 86,67% possui acesso sendo que a maior parte das mulheres investigadas sempre acessa esse meio para se informar de assuntos de seu interesse.

De acordo com Linhares et al (2014), muitas mulheres têm acessado informações através da internet, buscando conhecimentos e experiências vivenciadas por outras pessoas e, muitas vezes, deixando de consultar os

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profissionais de saúde. Nesse contexto, a cultura, os costumes e as crenças tem sido parte determinante para favorecer positivamente ou não a continuidade do aleitamento materno.

O acesso a esses meios de comunicação e informação deveria ser um ponto positivo para a manutenção e promoção do aleitamento materno, uma vez que existem estudos e recomendações de órgãos competentes sobre o aleitamento materno. No entanto, observamos que mesmo com o acesso à internet, as participantes não buscam pelos meios de conhecimento sobre o aleitamento materno, podendo, neste caso, ser por falta de interesse sobre o assunto, pelo desconhecimento da disponibilidade dessas informações e pela dificuldade em compreender informações buscadas através da internet.

Quando questionadas sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), todas as mulheres investigadas afirmaram não possuir nenhuma IST. Quanto aos seus parceiros sexuais, 80% das mulheres disseram que eles não possuem ISTs, 6,67% disseram que os parceiros sexuais têm alguma IST e 13,33% não possuem parceiro sexual.

Isso é um fator importante, pois o leite materno pode funcionar como uma possível fonte de infecção, podendo carrear agentes infecciosos da mãe para o lactente promovendo a transmissão vertical. Na identificação de nutrizes com infecções virais ativas ou doenças infecciosas, o profissional de saúde se vê no dilema de tomar a decisão de suspender ou não a amamentação, visto que seu papel é o de promover e estimular o aleitamento materno (GIUGLIANI, 2000).

Nesse contexto, vale ressaltar que a epidemia da AIDS entre as mulheres tem crescido ao longo dos anos, elevando, consequentemente, as taxas de transmissão vertical, uma vez que o HIV pode ser transmitido da mãe para o feto durante a gestação, no momento do parto e tardiamente através da amamentação (MORENO, 2006).

Perfil das lactantes

Quanto à prática do aleitamento materno, 73,33% das mulheres investigadas estão amamentando atualmente, enquanto 26,66% interromperam totalmente a amamentação antes dos seis meses de vida da criança.

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O processo de introdução gradual de outros tipos de alimentos para o bebê com o objetivo de, no início, complementar o leite materno, e por fim substituí-lo pela dieta da família, é chamado de desmame (LEÃO, 2005).

Quando o desmame é iniciado precocemente sem indicação, pode trazer vários prejuízos para a saúde e o desenvolvimento dessa criança, estando essa prática relacionada ao aumento da morbimortalidade infantil devido a menor ingestão de anticorpos presentes no leite materno, “além de proporcionar um maior risco de contaminação dos alimentos ofertados às crianças” antes de o seu sistema imunológico estar bem desenvolvido (SILVA, 2013; SILVA, 2017).

O Ministério da Saúde (MS) recomenda que o desmame seja iniciado após os 6 meses de vida da criança, não havendo benefícios no seu início antes dessa idade, podendo, pelo contrário, provocar prejuízos para a saúde e o desenvolvimento dessa criança, pois a introdução alimentar precoce está relacionada a maior incidência de diarréia, maior suscetibilidade a infecções respiratórias, aumento do risco de desnutrição quando os alimentos ofertados são nutricionalmente pobres, diminuição da absorção dos nutrientes do leite materno, redução da duração do aleitamento materno e diminuição do efeito contraceptivo do aleitamento materno (BRASIL, 2015).

Do total de mães que ainda estão amamentando seus bebês, apenas 36,36%

estão praticando o aleitamento materno exclusivo, enquanto 63,63% das mães não amamentam mais seus bebês exclusivamente com leite materno.

A II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal, realizada pelo Ministério da Saúde em 2008, constatou que, em comparação com a primeira pesquisa realizada em 1999, houve melhora nos índices de aleitamento materno, porém o Brasil ainda está distante do que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, que é o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) até o sexto mês de vida dos bebês e amamentação até os dois anos ou mais (BRASIL, 2009).

A taxa de AME em crianças de até 6 meses nas capitais brasileiras e Distrito Federal foi de 41%, com duração mediana de 54,1 dias (1,8 mês). Na região sudeste, a capital do Espírito Santo possui taxa de AME de 44%, com duração média de 62,5 dias (BRASIL, 2009).

Segundo critérios de classificação da OMS, índices de AME entre 90-100%

são considerados muito bons, entre 50-89% bons, entre 12-49% ruins e de 0-11%

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muito ruins. Com base nessa classificação, a pesquisa concluiu que 23 capitais brasileiras, dentre elas a capital capixaba, foram classificadas como ruins com relação a prevalência do AME em menores de 6 meses (BRASIL, 2009).

Entre as mulheres que estão amamentando de forma exclusiva, 75%

disseram que pretendem continuar alimentando seus bebês somente com leite materno até os 6 (seis) meses por considerar essa prática uma medida importante para a saúde e o desenvolvimento da criança. Por outro lado, 25% disse que não pretende manter o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, como conta a participante 10:

"Porque não. Porque eu acho que depois (dos 5 meses) pode dar comida, fruta, não?" (Participante 10).

Essa baixa adesão das mães à prática do AME até o sexto mês foi evidenciada no estudo de Osório (2007), que concluiu que apesar de a maioria das mulheres reconhecerem a importância do aleitamento materno e seus benefícios, elas não conhecem a importância do aleitamento de forma exclusiva e nem sua duração.

Um estudo realizado por Moimaz et al. (2013) observou que as informações recebidas pelas gestantes sobre o aleitamento materno, durante a gestação e após o parto, foram determinantes para o início da amamentação, mostrando que “essas orientações podem ser consideradas como fatores motivadores para as mães em amamentar”. Porém, os pesquisadores concluíram que apenas informar não é suficiente para garantir a manutenção do AME, é preciso que a equipe de saúde acompanhe essas mulheres no pós-parto.

Entre as mulheres que ainda estão amamentando, porém de forma não exclusiva, 28,57% disse que nunca amamentou de forma exclusiva, 28,57%

amamentou de forma exclusiva por menos de um mês, 28,57% amamentou de forma exclusiva por um período entre um e dois meses e 14,28% amamentou de forma exclusiva entre três e cinco meses. Este dado revela que cerca de 85%

dessas mulheres nunca amamentaram seus bebês de forma exclusiva ou amamentaram de forma exclusiva apenas até os dois primeiros meses de idade da criança, o que mostra uma interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo entre as mulheres investigadas.

Uma pesquisa que avaliou a situação do aleitamento materno mostrou que 83,3% das crianças menores de 6 meses estavam sendo alimentadas com leite

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materno, porém a taxa de AME observada foi baixa, sendo apenas 25,4% entre os menores de 4 meses (PARADA, 2005).

Quanto à introdução de outros alimentos na dieta do bebê entre as mães que não amamentam seus filhos de forma exclusiva, 28,57% estão praticando o aleitamento materno complementado e 71,42% estão praticando o aleitamento materno misto.

A introdução alimentar precoce foi observada na II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal:

Constatou-se introdução precoce de água, chás e outros leites – com 13,8%, 15,3% e 17,8% das crianças recebendo esses líquidos, respectivamente – já no primeiro mês de vida. Cerca de um quarto das crianças entre 3 e 6 meses já consumia comida salgada (20,7%) e frutas (24,4%) (BRASIL, 2009).

Quanto aos motivos que levaram a interrupção do aleitamento materno exclusivo entre as mulheres que amamentam, porém de forma não exclusiva, 42,85% disseram que inseriram outros alimentos na dieta do bebê por recomendação de um profissional de saúde, 28,57% por decisão própria e 28,57%

por outros motivos como o retorno ao trabalho, por exemplo.

Em alguns casos, o profissional de saúde pode recomendar a introdução de outros alimentos, especialmente a fórmula láctea infantil, na dieta da criança menor que seis meses por motivos justificáveis como o subdesenvolvimento da criança, por exemplo. Ou, até mesmo, indicar a interrupção da amamentação devido a contra- indicação da mesma mediante a possibilidade da transmissão vertical de algum agente infeccioso, ou indicar a suspensão temporária em casos nos quais esta prática deve ser indicada, como contam as participantes a seguir:

"Foi a pediatra no hospital. É porque eu dei o peito quando nasceu, mas aí ele teve que ficar no hospital na UADC, aí ele teve que ter o complementozinho que foi o leite né (NAN). Só no primeiro dia que ele tomou só o peito, depois ele teve que colocar o complemento".

(Participante 11)

"Porque eu sou usuária de droga, eu tinha usado droga e tinha que ficar 24 horas sem dar mama. Aí o médico passou o NAN".

(Participante 13)

Algumas mulheres, no entanto, interromperam o aleitamento materno exclusivo por decisão própria, estando associada, muitas vezes, a falta de orientação profissional adequada ou por saberes errôneos arraigados na cultura popular, como podemos verificar no discurso a seguir:

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“Porque eu quis mesmo, porque o leite estava muito fraco. Estava parecendo igual água, aí eu comecei a dar angu com feijão a ele”.

(Participante 4)

Muitas mulheres interrompem o AME devido à crença de que seu leite não é suficiente para a criança, o que na maioria das vezes está relacionado a insegurança materna em relação a sua capacidade de alimentar seu bebê. E ao se sentirem inseguras, muitas dessas mães acabam inserindo outros alimentos na dieta dos filhos sem buscar ajuda de profissionais da saúde, o que leva a interrupção precoce do AME (AMARAL, 2015).

A crença do leite fraco também está entre os principais motivos para a interrupção do AME sem indicação justificável. Ela pode ser explicada quando se compara o leite materno com o leite de vaca, tendo o primeiro aparência “aguada”

em relação ao segundo, devido a maior concentração de água que o leite humano possui (ALGARVES, 2015).

Nas duas situações anteriores, as mães associam o choro frequente dos bebês à fome, concluindo que seu leite não está sendo suficiente para saciar o bebê, ou que está “fraco”. Porém, o choro é a única forma de comunicação dos bebês nos primeiros meses de vida, e pode estar relacionado a várias situações, como dor, desconforto, necessidade de carinho, e não somente à fome (MARQUES, 2009).

Além disso, o aleitamento materno exclusivo foi interrompido entre essas mulheres por motivos como a necessidade de retorno ao trabalho, como conta a participante 15:

“Porque voltei a trabalhar e porque só o leite que eu tirava na bomba não tava sendo suficiente. Então, comecei a dar frutinhas amassadas, papinha e outras coisas a partir dos 4 meses dela”.

(Participante 15)

Vários estudos mostram que a necessidade de retorno ao trabalho é um fator que leva as mães a interromperem o AME antes dos 6 meses de vida de seus bebês, sendo observadas pelos pesquisadores taxas de prevalência de aleitamento materno exclusivo maiores entre as crianças cujas mães não exerciam atividade remunerada fora do lar (DAMIÃO, 2008; VIANNA et al., 2007; BORGES, 2003).

Além dessas mulheres que não amamentam mais de forma exclusiva, porém ainda amamentam, algumas participantes (26,66%) relataram que interromperam

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totalmente a amamentação antes dos seis meses de vida da criança. Nestes casos, portanto, as crianças não recebem leite materno em nenhum momento.

Entre essas mulheres que não amamentam mais seus filhos, 25% disse que amamentou por menos de um mês, 25% disse que amamentou entre um e dois meses e 50% disse que amamentou por um período entre dois e três meses.

Portanto, todas as mulheres que interromperam totalmente o aleitamento materno, amamentaram seus filhos, no máximo, até o terceiro mês. Este dado reforça as estatísticas já citadas de interrupção precoce do aleitamento materno no País.

Quanto aos motivos que levaram a interrupção total do aleitamento materno, 50% disseram que pararam de amamentar por recomendação de um profissional de saúde e 50% por outros motivos, como a introdução precoce de outros alimentos e a escassez de leite materno, como contam as participantes a seguir:

“A bebê parou por conta própria de mamar. Tomava água, suco, papinha e também o NAN antes dos 4 meses”. (Participante 3)

"Porque o leite secou". (Participante 9)

Além da indicação justificável da interrupção do aleitamento materno, como citado anteriormente, alguns profissionais de saúde ainda recomendam a introdução precoce de outros alimentos na dieta do bebê sem motivo fundamentado, o que contribui para a redução nas taxas de aleitamento materno exclusivo no País.

Segundo Giugliani (2010), a interrupção precoce do AME pode ser influenciada por profissionais da saúde despreparados, ou que não valorizam a prática do aleitamento materno, adotando práticas contrárias a sua manutenção e influenciando as mães de forma negativa.

Entre as mulheres que interromperam a amamentação, nenhuma relatou influência da família, dos vizinhos ou amigos na decisão de parar de amamentar.

Este dado vai contra a realidade social brasileira que aponta a influência da família como um dos fatores determinantes para interrupção precoce da amamentação.

Pesquisas afirmam que a ausência de contato diário com a avó materna é um fator que contribui para a duração da amamentação por um tempo de seis meses. As avós podem influenciar negativamente tanto na duração da amamentação quanto na exclusividade. Provavelmente, as avós repassam as experiências vivenciadas de seu tempo, que são contrárias às recomendações atuais da prática de amamentação preconizadas pela OMS (BATISTA, 2013).

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Mesmo diante dos inúmeros benefícios do leite materno, a amamentação cruzada é contra-indicada pelo Ministério da Saúde. Trata-se da prática de amamentar filhos de outras mães que possuem alguma dificuldade com o aleitamento, podendo trazer riscos para o bebê como a possibilidade de transmissão vertical de doenças. Essa prática, apesar de mais comum em tempos remotos, ainda persiste na cultura popular brasileira e ainda tem contribuído para a disseminação de algumas doenças.

Entre as mulheres investigadas, 13,33% disseram já ter deixado seu filho ser amamentado por outra mulher e 33,33% disseram já ter amamentado o filho de outra mãe, como conta a participante 8:

"É uma coisa muito séria, né. Você tem que saber o que você tá fazendo. Eu amamentei porque a minha irmã morava praticamente comigo. Eu sabia da vida dela, ela sabia da minha. A não ser isso eu não concordo não. É muito perigoso, né". (Participante 8)

Aleitamento materno: o olhar das mulheres que amamentam

O aleitamento materno geralmente é encarado como um momento especial e esperado na vida de uma mulher, podendo, em alguns casos, se tornar um desafio ou frustração de acordo com a realidade e as expectativas de cada uma.

Neste contexto, as opiniões sobre o aleitamento materno podem variar de acordo com as experiências vividas e com o modo que cada mulher o enxerga. Para algumas mulheres, o aleitamento foi uma experiência positiva, como podemos verificar no relato a seguir:

"Eu acho maravilhoso. É muito gostoso amamentar, é muito bom. A gente parece que tem um vínculo maior com a criança. O alimento parece que é tudo que ele precisa". (Participante 12)

O ato de amamentar pode gerar inúmeros sentimentos. As mães apresentam expectativas em amamentar seus filhos ainda durante a gestação, concretizando esse desejo logo após o nascimento da criança, gerando uma sensação de realização pessoal. Mesmo com dificuldades na prática da amamentação, muitas mulheres não desistiram de amamentar, tanto pelo seu desejo, quanto por saber da importância dessa prática para a saúde da criança. A amamentação possibilita o vínculo entre mãe e filho, gerando um sentimento singular e único para ambos (SILVA, 2015).

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Para outras, no entanto, o aleitamento foi uma experiência desafiadora ou frustrante, como conta a participante 15:

“Como é minha primeira filha, no inicio fiquei com uma grande expectativa sobre a amamentação. Mas depois que comecei a amamentar me decepcionei porque não é aquele mundo mágico que tanto falaram para mim. Porque senti muita dor no começo, meu peito começou a rachar, meu peito empedrou, sabe. A vontade de parar foi enorme e de dar mamadeira. Mas minha mãe, que ficou comigo durante esse tempo, me ajudou e não deixou eu desistir. A amamentação é algo saudável né, natural e é o que tem de melhor para o bebê”. (Participante 15)

Os sentimentos de insegurança e frustração, na maioria das vezes, estão ligados à fase inicial da amamentação, na qual as primíparas, principalmente, temem não conseguir amamentar seus filhos. Outra parte desafiadora durante esse processo são as intercorrências no aleitamento, como dor, fissuras mamárias e dificuldade na pega correta da criança. Tais situações geram sentimentos negativos e frustrações, levando em alguns casos ao desmame precoce. Além dessas intercorrências, as mães se deparam com a necessidade do retorno ao trabalho, o que prejudica a continuidade do aleitamento materno, levando-as a interromper a amamentação (SILVA, 2015).

Quanto à percepção sobre a importância da amamentação, todas as mulheres investigadas disseram que o aleitamento materno é muito importante para um bebê, como podemos verificar nos relatos a seguir:

"Muito importante, por conta do vínculo que a gente acaba tendo com eles, porque nos primeiros dias de vida é muito forte, é tudo que ele precisa. A gente não sabe quando nasce, o que a gente vai dar?

Muito melhor dar o leite materno do que um leite artificial".

(Participante 12)

"Porque previne muita coisa né, porque tem bastante coisa no leite da gente que a gente pode tá passando pro bebê". (Participante 9) Apesar de conhecer a importância da amamentação e seus benefícios para a saúde da criança, algumas mulheres podem ter sentimentos de medo ou temor, especialmente para aquelas que vão passar por esta experiência pela primeira vez.

Entre as mães entrevistadas nesta pesquisa, 20% disseram ter algum medo em relação à amamentação, como conta a participante 7:

"Sim, (medo) de doer na hora, de eu não poder (amamentar), de o meu bebê nascer e não poder mamar na hora, né. Aí, isso que era o meu medo [...]". (Participante 7)

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Segundo Diehl (2011), muitas vezes as mães criam expectativas sobre a amamentação ou, até mesmo, possuem medos que podem interferir na continuidade do aleitamento. Dentre os medos, se destaca o de não conseguir amamentar a criança, gerando insegurança na sua capacidade de suprir as necessidades nutritivas de seu filho. Na maioria das vezes, essas mães, logo após a alta hospitalar, tendem a introduzir outros tipos de leite por medo de seu leite ser “fraco”

e não sustentar a criança.

Outra situação muito frequente em relação ao medo são as vivências de outras mães que passaram por situações difíceis como a dor, fissuras e ingurgitamento mamário, as quais relatam essas situações às mães primíparas, gerando medo e o desmame precoce (DIEHL, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o aleitamento materno seja essencial para a saúde e o desenvolvimento de uma criança, esta prática está muito aquém do que é recomendado pelo Ministério da Saúde, principalmente com relação ao aleitamento materno exclusivo.

A decisão de interromper o aleitamento materno exclusivo pode estar ligada a fatores como o estado civil, sendo as mães solteiras mais suscetíveis ao desmame precoce; a baixa escolaridade materna, que geralmente está associada à baixa condição socioeconômica e menor acesso aos serviços de saúde; a baixa renda familiar, também relacionada ao menor acesso aos serviços de saúde; sentimentos maternos de insegurança e/ou medo em relação a amamentação e às possíveis intercorrências mamárias, principalmente em mulheres primíparas; a desinformação, que parece estar associada a baixa escolaridade, tornando essas mães mais favoráveis a aceitar costumes e crenças populares sobre o aleitamento materno, como o leite fraco; a falta de acompanhamento pela equipe da Estratégia Saúde da Família; e a recomendação de desmame sem indicação justificável de alguns profissionais da saúde.

O trabalho materno também influenciou o desmame precoce, porém não foi um fator determinante, visto que constatou-se que entre as mães que não exercem atividades remuneradas, e portanto não precisam se afastar de seus filhos, as taxas de AME também estavam baixas.

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Esperava-se que a multiparidade e o acesso a internet fossem fatores que influenciassem positivamente na promoção do aleitamento exclusivo, devido a maior experiência da mulher e da facilidade de acesso à informação. No entanto, esses fatores não se mostraram favoráveis. Apesar de a maior parte das mães já ter outros filhos, o desmame precoce foi comum entre elas. O mesmo ocorreu com o acesso a internet, o que nos levou a acreditar que essas mães estavam buscando informações em fontes não oficiais e/ou possuíam dificuldades em compreender as informações encontradas. A idade materna e a influência de familiares ou amigos não foram fatores determinantes para a interrupção do AME nesse estudo.

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