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PROPRIEDADE HORIZONTAL CONDOMÍNIO DESPESAS

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 26112/17.3T8LSB.P1 Relator: ALEXANDRA PELAYO Sessão: 11 Fevereiro 2020

Número: RP2020021126112/17.3T8LSB.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA

PROPRIEDADE HORIZONTAL CONDOMÍNIO DESPESAS

Sumário

O locatário financeiro tem a obrigação de pagar ao condomínio as despesas de fração autónoma objeto da locação.

Texto Integral

Processo n.º 26.112/17.3T8LSB

Tribunal de origem: Tribunal Judicial da Comarca do Porto Juízo Local Cível da Maia- Juiz 3

SUMÁRIO:

...

...

...

Acordam no Tribunal da Relação do Porto I – RELATÓRIO

O Autor Condomínio do Edifício B… intentou Ação de Condenação com Processo Comum contra a Ré C…, SA, alegando, em síntese, que:

A Ré e proprietária da fração autónoma designada pela letra A sita no edifício constituído em propriedade horizontal;

A Ré na qualidade de proprietária é devedora ao Autor de despesas relativas à manutenção e conservação das partes comuns, de fundo de reserva e de

despesas relativas à realização de obras de reparação da fachada de trás do edifício, tudo no total de €15.668,48;

A Ré, enquanto proprietária da fração é a única responsável pelo pagamento

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de tal quantia, que não pagou apesar de interpelada para o efeito.

Concluiu requerendo que a presente ação seja julgada procedente, por provada e, em conformidade, a Ré condenada a pagar a quantia de

€15.668,48, acrescida de juros vincendos até efetivo e integral pagamento a partir da citação.

Citada, veio a Ré C…, SA contestar alegando que:

Na qualidade de proprietária da fração celebrou com a sociedade D…, Lda., um contrato de locação financeira imobiliária tendo como objeto a referida fração.

A referida locatária cedeu a sua posição contratual à empresa E…, Lda., a qual incumpriu o referido contrato o que motivou a sua resolução pela Ré. A fração só veio a ser entregue em 31 de Agosto de 2015.

Assim, os montantes peticionados pela Autora só são devidos no período em que já não vigorava o contrato referido, sendo que desde a sua celebração e até à entrega efetiva do imóvel a obrigação de pagamento das despesas reclamadas pela Autora impendia sobre a locatária, sendo a Ré apenas devedora da quantia de €947,30.

Veio ainda requerer a intervenção principal provocada da empresa E…, Lda., na qualidade de locatária e responsável pelo pagamento das quantias

reclamadas e decidas na vigência do contrato de locação financeira, para, sobre a mesma, poder exercer direito de regresso.

Foi admitida a intervenção requerida.

Regularmente citada, a chamada E…, Lda., não contestou.

Foi proferido despacho saneador, com identificação do objeto do litígio e dos temas da prova.

Realizou-se audiência de julgamento e no final, foi proferida sentença, com a seguinte parte decisória:

“Nos termos e pelos fundamentos expostos, decide-se julgar a presente ação parcialmente procedente, por parcialmente provada e, em conformidade, condena-se a Ré C…, SA a pagar ao Autor Condomínio B…, a quantia de

€947,30 (novecentos e quarenta e sete euros e trinta cêntimos), acrescida de juros à taxa legal, contados desde a citação e até efetivo e integral pagamento, absolvendo-se a Ré quanto ao restante peticionado.

Custas por Autor e Ré na proporção do decaimento.”

Inconformado o CONDOMINIO DO EDIFICIO B… interpôs a presente Apelação, pedindo a revogação da sentença recorrida, com a condenação da Ré ao pagamento da quantia de €7.993,92 (sete mil novecentos e noventa e três Euros e noventa e dois cêntimos) a título de quotas de comparticipação mensal para despesas correntes e fundo de reserva e de €6.727,26 (seis mil setecentos e vinte e sete Euros e vinte e seis cêntimos) referentes a obras de

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reparação na fachada de trás do edifício, perfazendo o montante global de

€14.721,18 (catorze mil setecentos e vinte e um Euros e dezoito cêntimos]

Para tanto formulou as seguintes Conclusões:

………

………

………

C…, S.A. apresentou contra-alegações pugnando pela improcedência do recurso, concluindo desta forma:

………..

………..

………..

Admitido o recurso cumpre apreciar e decidir.

II - OBJETO DO RECURSO:

Sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso, a questão a apreciar, delimitada pelas conclusões do recurso é a de saber sobre quem impende a responsabilidade pelo pagamento das despesas do condomínio relativas a fração autónoma dada em locação financeira imobiliária: se ao locador, dono da fração, se ao locatário financeiro.

III -FUNDAMENTAÇÃO:

Com interesse para a decisão encontram-se provados os seguintes factos:

1 - O Edifício, sito na Avenida …, …. a …., Rua …, .. a .. e Rua …, … a …, Maia, encontra-se constituído no regime de propriedade horizontal.

2 - O Condomínio do Edifício B…, aqui Autor, é administrado pela F… – Consultadoria e Gestão Imobiliária, Lda.

3 - A Administração do Condomínio tem como principal incumbência a representação do universo dos condóminos proprietários das diferentes

frações, pagando despesas e cobrando receitas necessárias á conservação das zonas comuns do citado edifício.

4 - As despesas relativas á conservação e manutenção das partes comuns do edifício são pagas pelos condóminos em proporção do valor das suas frações e de acordo com o critério da permilagem de cada fração imputado em cada zona de custos, o que sempre se verificou, sendo os pagamentos a realizar trimestralmente e no início de cada trimestre.

5 - Nunca foi aprovado qualquer outro critério para repartição das despesas comuns do edifício,

6 - Nem a Ré, em momento algum, manifestou discordância quanto ao critério utilizado.

7 - A Ré é proprietária da fração autónoma designada pela letra A, registada a seu favor e descrita na Conservatória do Registo Predial da Maia, sob a ficha 1062- A.

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8 - De acordo com o critério definido no título de Constituição da Propriedade Horizontal é de 108,5000 por mil a proporção da participação da fração supra referida no total das despesas e encargos de conservação, fruição e demais serviços inerentes às partes comuns do citado prédio.

9 - A estimativa orçamental deliberada e aprovada em assembleia geral de 15 de Junho de 2012 para o exercício do ano de 2012 e 2013 foi de €28.873,22 , sendo para a zona do Parque Publico … a que pertence a fração “A” de

€2.273,50 subdividido nas verbas de €2.066,82 para despesas correntes e de

€206,68 para o fundo comum de reserva do edifício.

10 - Cabendo à fração da Ré pagar, em função do critério da permilagem, a quantia de €516,71 trimestrais para despesas correntes, em divida desde Abril de 2012 até Dezembro de 2012 num total de €1.550,13

11 - A título de fundo comum de reserva e segundo igual critério foi deliberada e aprovada a quantia de €51,67 trimestrais em divida desde Abril de 2012 até Dezembro de 2012 num total em divida de €155,01 o que perfaz a quantia total em dívida relativa a 2012 de €1.705,14 relativamente ao período entre Abril e Dezembro de 2012.

12 - Foram ainda deliberadas e aprovadas, em Assembleia Geral

Extraordinária de 21/09/2012, a realização de obras de reparação na fachada de trás do edifício, cujo montante importou em €62.000,00.

13 º Quantia essa a cobrar em 6 prestações mensais iguais e sucessivas com inicio em Novembro de 2012 em que segundo o critério da permilagem coube á Ré a quota parte de €6.727,26 decorrente de uma prestação mensal de

€1.121,21

14 - Prestações essas já vencidas e ainda não pagas pela Ré.

15 - A estimativa orçamental deliberada e aprovada em assembleia geral de 20 de Dezembro de 2013 para o exercício de 2013 e 2014 foi de €27.038,29,

sendo para a zona do Parque Publico … a que pertence a fração “A” de

€2.273,50 subdividido nas verbas de €2.066,82 para despesas correntes e de

€206,68 para o fundo comum de reserva do edifício.

16 - Cabendo à fração da Ré pagar, em função do critério da permilagem, a quantia de €516,71 trimestrais para despesas correntes, em divida desde Janeiro de 2013 até Dezembro de 2014 num total de €4.133,68

17 - A título de fundo comum de reserva e segundo igual critério foi deliberada e aprovada a quantia de €51,67 trimestrais em divida desde Janeiro de 2013 até Dezembro de 2014 num total em divida de €413,36 o que perfaz a quantia total em dívida relativa a 2013 e 2014 de €4.547,04.

18 - A estimativa orçamental deliberada e aprovada em assembleia geral de 12 de Dezembro de 2014 para o exercício de 2015 foi de €27.038,29 , sendo para a zona do Parque Publico … a que pertence a fração “A” de €2.273,50

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subdividido nas verbas de €2.066,82 para despesas correntes e de €206,68 para o fundo comum de reserva do edifício.

19 - Cabendo à fração da Ré pagar, em função do critério da permilagem, a quantia de €516,71 trimestrais para despesas correntes, em divida desde Janeiro de 2015 até Janeiro de 2016 num total de €2.066,84

20 - A título de fundo comum de reserva e segundo igual critério foi deliberada e aprovada a quantia de €51,67 trimestrais em divida desde Janeiro de 2015 até Janeiro de 2016 num total em divida de €223,90 o que perfaz a quantia total em dívida relativa a 2015 e 2016 de €2.239,04

21 - Em assembleia geral foi ainda aprovada a penalidade de €450,00 aplicável aos condóminos cujo pagamento das suas responsabilidades esteja em atraso há mais de 60 dias e seja necessário o recurso à via judicial.

22 - A Ré é uma sociedade anónima cujo objeto consiste na prática de operações permitidas aos bancos, com exceção de depósitos.

23 - Por força de uma reestruturação do Grupo G…, no dia 28 de Dezembro de 2004 a H…, SA, levou a cabo, juntamente com outras três empresas , um ato de concentração consistente numa fusão por incorporação, sendo a Ré a empresa incorporante.

24 - O património global da H… incluindo, assim, todos os créditos, os direitos de propriedade sobre coisas imóveis e a posição contratual da H… foi

transferido para o património da Ré.

25 – No exercício da sua atividade, no dia 28 de Janeiro de 2000, a H…

adquiriu, pelo preço global de 300.000.000$00 que corresponde a

€1.496.393,00, o seguinte imóvel:

- Fração autónoma designada pela letra “A”, correspondente a aparcamento de veículos automóveis, localizada na sub-cave, piso menos três e parte da

primeira sub-cave, piso menos dois, com entrada pelos números 686 e 690, do prédio urbano sito na Av. …, nºs …., …., …., …., …., …., …., …., …., …., …. e

…., Rua …, nºs .., .., .., .., .., .., ... e .. e Rua … nºs …, …, …, … e … da freguesia e concelho da …, descrito na Conservatória do Registo Predial da Maia sob o número … da freguesia da … e inscrito na respetiva matriz sob o artigo 2018.

26 – No mesmo dia 28 de Janeiro de 2000, a H… celebrou com a sociedade comercial D…, Lda., o contrato de locação financeira imobiliária nº ……, o qual teve por objeto o imóvel descrito em 25.

27 – Em 20 de Fevereiro de 2002 a anterior locatária cedeu a sua posição contratual à empresa E…, Lda., tendo a locadora, ora Ré, aceite esta cessão de posição contratual.

28 – A empresa E…, Lda., incumpriu o referido contrato de locação financeira imobiliária, pelo que a Ré resolveu o referido contrato em 21 de Abril de 2015, por meio do envio de carta registada com aviso de receção.

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29 – Face á resolução do referido contrato de locação financeira imobiliária e à não entrega do imóvel pela locatária, a Ré intentou providência cautelar que correu termos no J6 da 2ªsecção Cível Central da Póvoa de Varzim, sob o nº 1090/15.7T8PVZ para proceder á retoma do imóvel locado, o que veio a suceder em 31 de Agosto de 2015.

IV - DO DIREITO APLICÁVEL

O Autor ora Apelante, Condomínio do Edifício B… intentou a presente ação contra a Ré, na qualidade de proprietária da fração autónoma designada pela letra A, registada a seu favor e descrita na Conservatória do Registo Predial da Maia, sob a ficha 1062- A, pedindo a sua condenação a pagar-lhe as

despesas relativas à manutenção e conservação das partes comuns, de fundo de reserva e de despesas relativas à realização de obras de reparação da fachada de trás do edifício, tudo no total de €15.668,48, defendendo o

entendimento que a Ré, enquanto proprietária da fração é a única responsável pelo pagamento de tal quantia, que não pagou.

Na sentença sob recurso, entendeu-se porém que, tendo a Ré dado em locação financeira a aludida fração autónoma, as despesas devidas ao condomínio, referentes ao período de tempo em que se manteve em vigor tal contrato, são da responsabilidade não da ré, mas sim da sociedade locatária, entendimento que foi acolhido na sentença sob recurso que, com exceção da quantia de

€947,30, absolveu a ré do demais peticionado.

Ora, é contra esse segmento da decisão que a Autora aqui Apelante se

insurge, dizendo em suma que, tendo as despesas mencionadas no art. 1424º do Código Civil natureza de despesas propter rem, é sobre o locador que as mesmas impendem. O responsável pelo encargo é quem constar como seu proprietário no momento da realização das despesas e não quem usufrua do imóvel, seja a que título for. Que esta caraterística real da despesa do

condomínio faz com que a mesma recaia sobre o seu proprietário real - neste caso, o locador - e não sobre o locatário, ainda que este último seja quem usufrui efetivamente do imóvel. Assim, mesmo que o locador e locatário acordem entre si que o pagamento das mesmas recaia sobre o locatário, tal acordo, por força da obrigação propter rem só vincula as partes

intervenientes.

Vejamos se é assim.

O nº 1 do artigo 1424º do C. Civil dispõe: “Salvo disposição em contrário, as despesas necessárias à conservação e fruição das partes comuns do edifício e ao pagamento de serviços de interesse comum são pagos pelos condóminos em proporção ao valor das suas frações”.

É inequívoco que a referência a “condóminos” tem em vista os titulares do

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direito de propriedade sobre as frações autónomas do edifício em propriedade horizontal.

Porém, como se afirmou na sentença sob judice, a ressalva legal “Salvo disposição em contrário” visa estipulações de natureza negocial, sejam as estabelecidas pelos interessados logo no título constitutivo, sejam as

deliberadas sob qualquer outra forma adequada, assim como as previstas em disposições legais.

Tal significa que, tratando-se embora de obrigação em função da coisa

(propter rem), ela nem sempre se conserva no titular do direito real sobre ela ou acompanha a mudança dessa titularidade. Daí que esta não possa servir de critério absoluto de imputação, como defende a Apelante.

Como é sabido, o contrato de locação financeira é o contrato através do qual, uma das partes se obriga, contra retribuição, a conceder à outra o gozo

temporário de uma coisa, adquirida ou construída por indicação desta e que a mesma pode comprar, total ou parcialmente, num prazo convencionado,

mediante o pagamento de um preço determinado ou determinável.

Este contrato diferencia-se da locação geral prevista no Código Civil, essencialmente pela opção aquisitiva final, pela renda, tendencialmente resolutiva, por o locador não responder pelos vícios da coisa locada ou pela sua inadequação aos fins do contrato, por o risco de perecimento ou

deterioração da coisa correr por conta do locatário, por o locador fazer suas, sem compensação as benfeitorias realizadas pelo locatário e por a resolução se reger pelas normas gerais.

Também não se confunde com a compra e venda, concretamente com a

compra e venda a prestações, desde logo porque, ao contrato do efeito típico do contrato de compra e venda que é a imediata transferência da coisa para o comprador, na locação financeira, o locatário, por força do contrato, adquire apenas o direito potestativo a adquirir a coisa, pelo preço convencionado.

É - lhe aplicável o regime jurídico que regula este contrato típico, consagrado no DL 149/95 de 24 de Junho, com as alterações introduzidas pelo DL 265/97 de 2.10 e 285/01 de 3.11 e DL 30/2008 de 25.2.

Diogo Leite Campos [1] desde logo realça que o locador "não «explora» o bem, não dispõe de um bem que oferece em locação, não tem intenção de correr riscos próprios do proprietário, nomeadamente o risco económico da não rentabilidade da coisa e do seu perecimento", razão pela qual se desinteressa da coisa.

Por outro lado, acrescenta, os riscos são assumidos pelo utente e é ele que escolhe a coisa de acordo com as suas necessidades, acabando por concluir que "o locatário aparece, pois, como o «proprietário» (económico) do bem que paga integralmente durante o período do contrato, e cujos riscos assume".

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E isto acontece porque "o contrato de locação financeira é, essencialmente, um negócio de crédito, ainda que vertido nos moldes da velha locação"[2]

(António Menezes Cordeiro, Manual de Direito Bancário - 3a edição - página 563).

Também João Calvão da Silva [3] acentua esta nota ao dizer que "o locador tem a obrigação de conceder mas não de assegurar o gozo da coisa ao locatário", a este cabendo "a manutenção e conservação do bem em bom estado, efetuando todas as despesas necessárias. O que se revela harmónico com a função de financiamento desempenhada pela sociedade de leasing, que compra a coisa para a dar em locação financeira, com opção de compra final, e que, por isso mesmo, a partir da concessão da mesma ao locatário, se

«desinteressa» dos riscos e responsabilidade conexos à sua utilização". Estas especificidades do contrato de locação financeira têm reflexos no regime jurídico das obrigações “propter rem”.

Assim é que, o regime jurídico do contrato de locação financeira previsto no diploma citado (DL 149/95 de 24 de Junho) que contempla, além do mais, os direitos e as obrigações do locador (art. 9º) e as do locatário (art. 10º), entre as obrigações do locatário consagra, expressamente a de pagar, em caso de locação de fração autónoma, as despesas correntes necessárias à fruição das partes comuns do edifício e aos serviços de interesse comum (art. 10º/1.b)).

Esta norma tem, como contrapartida, a da al. e) do n.º 2, que confere ao locatário financeiro o direito de exercer, na locação de fração autónoma, os direitos próprios do locador, com exceção dos que, pela sua natureza, somente por aquele possam ser exercidos.

Tal como é referido na sentença sob recurso, estas normas atualmente em vigor, (redação introduzida pelo Dec-lei 265/97), têm como antecedente

normativo o disposto no art. 9º do Dec-lei 10/91, de 9 de Janeiro – diploma que albergava o regime dos contratos de locação financeira de imóveis destinados a habitação própria do locatário, e que foi revogado por aquele apontado Dec- lei 265/97.

No Decreto-Lei 10/91, o art. 9º, sob a epígrafe “Propriedade horizontal”, era do teor seguinte:

“1 – Nas situações de propriedade horizontal, o locatário assume, em nome próprio, todos os direitos e obrigações do locador relativos às partes comuns do edifício, suportando as despesas de administração, participando e votando nas assembleias de condóminos e podendo, nelas, ser eleito para os diversos cargos.

2 – Excetua-se do disposto no número anterior tudo aquilo que implique a disposição de partes comuns ou a alteração do título constitutivo.”

Como se pode ler no Acórdão do STJ de 6.11.2008, (relator Juiz Conselheiro

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Santos Bernardino) disponível in www.dgsi.pt, “Esta norma, quer pela respetiva epígrafe, quer, sobretudo, pelo seu conteúdo, visava a

regulamentação de um específico aspeto da propriedade horizontal, não

contemplado no Cód. Civil: era uma norma especial, que podia, perfeitamente, ter sido aí (leia-se, no CC) inserida – como especiais são as normas dos n.os 3 e 4 do art. 1424º – e que continha uma disciplina derrogatória do regime geral, já acima definido, segundo o qual são os condóminos, entendidos estes como os titulares do direito de propriedade sobre as frações, que respondem pelas despesas necessárias à conservação e fruição das partes comuns e ao pagamento de serviços de interesse comum. Referindo-se a uma situação particular dentro do regime da propriedade horizontal, a norma em causa estatuía para essa situação um regime especial.

Leitura idêntica deverá fazer-se no que tange às normas sucedâneas – a já citada al. b) do n.º 1 e a al. e) do n.º 2 do art. 10º do Dec-lei 149/95, acima transcritas.

Também aqui se deve entender que estamos perante regras especiais, que, sem contrariarem substancialmente o regime geral acima mencionado, o

adaptam a uma situação particular, cuja especificidade reclama um tratamento jurídico também especial.”

Daí que, ao contrário do que defende o aqui Apelante, tais regras, porque não têm mera eficácia obrigacional, em termos de relevarem apenas nas relações locador-locatário, são de aplicação universal, por isso se impondo a terceiros e, consequentemente, também ao condomínio.

E as mesmas encontram justificação precisamente no reconhecimento das especificidades do contrato de locação financeira, no qual o locatário não sendo juridicamente o proprietário do bem aparece, como o “proprietário”

(económico) do bem que paga integralmente durante o preço do contrato, e cujos riscos assume, sendo que, por via de regra, se tornará verdadeiro dono no termo do contrato.

Entendemos por isso, que o regime estatuído pelo art. 10º/1.b) do Dec-lei 149/95 é aplicável ao caso dos autos, assim se concluindo que, estando uma fração autónoma dada em locação financeira, é do locatário financeiro que o condomínio deve exigir o pagamento dos “encargos condominiais” respetivos:

o “estatuto” do locatário financeiro é, em tudo, idêntico ao de qualquer condómino, sendo sobre ele, e não sobre o locador, que impende a responsabilidade por esse pagamento.

Isso mesmo tem sido reconhecido e afirmado na jurisprudência do nosso

Tribunal Superior, remetendo-se entre outros, por economia e celeridade, para os seguintes acórdãos do STJ, disponíveis in www.dgsi.pt: o AC do STJ de

6.11.2008, citado, podendo ler-se no respetivo sumário: “A situação do locador

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e locatário financeiros, quando o objeto da locação financeira é uma fração autónoma de um prédio em regime de propriedade horizontal, assume características particulares, decorrentes da própria fisionomia do contrato entre eles celebrado: o locatário não é, juridicamente, o proprietário do bem locado, mas é o “proprietário” económico desse bem, de que, por via de regra, se tornará verdadeiro dono no termo do contrato.

Estando uma fração autónoma dada em locação financeira, é do locatário financeiro que o condomínio deve exigir o pagamento dos “encargos condominiais” respetivos: o estatuto do locatário financeiro é, em tudo, idêntico ao de qualquer condómino, sendo sobre ele, e não sobre o locador, que impende a responsabilidade por esse pagamento.”;

O Acórdão de 10.7.2008 (relator Juiz Conselheiro Urbano Dias), onde se pode ler: “ Por via do regime-regra consagrado no artigo 1424º do Código Civil é ao locatário financeiro que compete o pagamento da quota-parte devida pela fração que ocupa, em homenagem ao preceituado no artigo 10º, nº 1, alínea b) do Decreto-Lei nº 149/95, de 24 de Junho, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 265/97, de 2 de Outubro.”;

O acórdão do STJ de 2.3.2010 (relator Juiz Conselheiro Fonseca Ramos), onde se lê: “Sendo a obrigação propter rem, conexa, dependente e acessória de um direito real, em princípio, acompanharia as vicissitudes deste, mormente, através da sua transmissão para adquirentes ou beneficiários do direito transmitido.

Tendo em conta a especificidade do contrato de locação financeira imobiliária, a sua função económica e o facto do locatário financeiro assumir uma posição muito próxima da do arrendatário vinculístico, mormente, quanto ao uso e fruição do imóvel (na locação financeira com a expectativa de se tornar dono do imóvel), e sendo certo que até no arrendamento pode o arrendatário convencionalmente arcar com as despesas de condomínio, não é cabido

considerar-se como não ambulatória a obrigação de pagamento das despesas condominiais, para as fazer recair sobre o locador financeiro, que não é o

“dono económico” do imóvel, nem beneficia de qualquer vantagem direta inerente à respetiva fruição.

Compete ao locatário financeiro imobiliário o pagamento dos encargos

relativos ao condomínio, em caso de locação financeira imobiliária de prédio constituído em regime de propriedade horizontal.”

No mesmo sentido, entre outros, podem ainda ler-se os acórdãos desta Relação de 29.5.202014 (José Amaral) e de 14-03-2005 (Fonseca Ramos), 05-11-2007 (Anabela Luna de Carvalho), de 06-03-2014 (Deolinda Varão) e de 13-03-2014 (Teles de Menezes) e de Lisboa e 03-11-2011 (Olindo Geraldes) e 27-02-2014 (Tomé Ramião).

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Em face do exposto, restará confirmar a sentença recorrida.

V - DECISÃO

Pelo exposto, acordam os Juízes que constituem este Tribunal da Relação em julgar improcedente o recurso interposto, mantendo-se a decisão proferida.

Custas pelo Recorrente.

Porto, 11 de Fevereiro de 2020 Alexandra Pelayo

Vieira e Cunha Maria Eiró _________

[1] in A Locação Financeira, páginas 129 e 130).

[2] Ver António Menezes Cordeiro, Manual de Direito Bancário - 3a edição - página 563.

[3] in Estudos de Direito Comercial -Pareceres - Locação Financeira e Garantia Bancária, página 26.

Referências

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