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O SUICÍDIO EM PORTUGAL

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Academic year: 2022

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PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO Jornalismo de Cultura, Sociedade e Ciência

Docente: Rita Espanha

O SUICÍDIO EM PORTUGAL

O suicídio pode definir-se, segundo o sociólogo francês Durkheim, como todo o caso de morte que resulta directa ou indirectamente de um acto positivo ou negativo praticado pela própria vítima, acto esse que a vítima sabe que vai produzir esse resultado.

Mais de dois milhões de portugueses adultos são afectados por doenças mentais, sendo que a depressão chega a 7,9 por cento da população adulta, o que corresponde a 400 mil pessoas. O suicídio á uma complicação médica resultante de muitas destas perturbações mentais, especialmente da depressão.

Segundo dados do projecto OPSI-Europe da Aliança Europeia Contra a Depressão (EEAD), em 2013, Portugal era o terceiro país da Europa onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos. Estima-se que por dia, mais de cinco pessoas morram por suicídio.

São cerca de duas mil as pessoas que se suicidam por ano em Portugal.

O suicídio e a crise económica

Portugal é um dos países em que a taxa de suicídio aumentou devido à crise financeira europeia desde 2008. Facto que está, no entanto, a ser ignorado pelo governo, segundo os autores da edição do Relatório da Primavera 2014, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

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De acordo com este relatório, as consequências da crise que Portugal tem sentido nos últimos anos está a ter efeitos graves na saúde dos portugueses. “Os efeitos mais imediatos descritos na literatura internacional de saúde pública apontam consequências no equilíbrio emocional: ansiedade, depressão, perda de autoestima, desespero e até tentativa de suicídio. E Portugal não é excepção”, garante a equipa da OPSS, parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública, o Centro de Estudos e Investigação Saúde da Universidade de Coimbra, a Universidade de Évora e, este ano, a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Ana Escoval, coordenadora do OPSS afirma que os efeitos da crise na saúde já se começaram a sentir, referindo ainda que “o consumo de antidepressivos, hipnóticos e antipsicóticos está a crescer”.

Este relatório destaca, todavia, o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, a ser implementado entre 2013 e 2017, mas que ainda não está activo.

Também um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido chega à mesma conclusão. Depois de estabelecer a relação entre o aumento da taxa de suicídio e a recessão económica em 24 países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, os países foram divididos em quatro grupos.

Portugal está incluído no grupo em que a taxa de suicídios estava a diminuir até à chegada da crise, que fez com que os números disparassem no sentido contrário. Na mesma situação estão países como o Reino Unido, Espanha, Holanda, Alemanha, Grécia, França, Finlândia, entre muitos outros.

Neste estudo verifica-se também que são os homens os mais vulneráveis ao suicídio.

A infografia em baixo, com os últimos dados da Sociedade Portuguesa de Suicidologia relativos à taxa de suicídio por género revela essa mesma tendência. Tanto em valores totais, como nos vários grupos etários, a taxa de suicídios por cada 100.000 habitantes é bastante maior, chegando a ser seis vezes maior no que toca aos indivíduos com mais de 75 anos.

Também na infografia é possível observar o aumento do número de suicídios em Portugal desde o início do milénio segundo dados do Instituto Nacional de Estatística

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(INE). Em 2000, os suicídios encontravam-se apenas ligeiramente acima dos 500, mas com o avançar dos anos aumentaram, atingindo um pico entre 2002 e 2004. Depois voltaram a decrescer até 2006. A partir de 2007 aumentaram de novo e mantiveram- se acima dos 1000 até 2012. Tal como indicam os estudos, com a chegada da crise, aumentaram também o número de suicídios.

E é preciso ter em conta que fora destes números, ficam os casos relacionados com mortes violentas indeterminadas, que na maioria das vezes são suicídios escondidos.

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Para o nosso país, cada suicídio tem um custo bastante elevado, incluindo custos directos, indirectos e custos humanos intangíveis, sendo que os últimso correspondem a 85 por centro do custo, e os restantes representam 300 mil euros.

Projecto-piloto de prevenção do suicídio em Portugal

Com estes valores em vista, a EEAD desenvolveu um modelo testado e documentado de quatro níveis de redução do suicídio. Este modelo caracteriza-se por uma intervenção comunitária que tem principais alvos a população, os cuidados de saúde primários, os recursos comunitários locais e os serviços e cuidados específicos.

Deste modo, através da transmissão de conhecimento e de sessões de formação, o objectivo é apresentar recomendações aos decisores políticos de saúde, para que adoptem medidas de prevenção ao suicídio com base científica. Este modelo foi aplicado na Alemanha, Hungria, Irlanda e em Portugal, a fim de se obter a validação científica.

A Amadora foi palco deste projecto-piloto no que toca à prevenção do suicídio em Portugal. Foram formados profissionais de saúde, assistentes sociais, polícias, padres, farmacêuticos e professores, e os resultados foram favoráveis.

Em dois anos, a taxa de tentantiva de suicídio diminuiu de 150 para 115 por 100 mil habitantes, o que representa uma redução de 23,3 por centro.

Ao mesmo tempo, Almada foi a escolhida para ser a região-controlo. Neste caso, verificou-se um aumento de 122 para 138 casos por 100 mil habitantes, o que resulta num aumento de 13,1 por centro.Observou-se, portanto, uma redução de 18,05 por centro na Amadora em relação à região-controlo, Almada.

O objectivo da EEAD é que a estratégia nacional de prevenção do suicídio reduza a taxa de suicídio em 15 por cento até ao ano 2017. O suicídio deverá também passar a ser considerado como uma complicação médica, com possibilidades de ser prevenida.

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O suicídio nas zonas rurais

Vários estudos, incluindo um da Universidade de Coimbra revelam ainda que a taxa de suicídio está relacionada com o grau de ruralidade, a densidade populacional e o nível de rendimentos mensais.

Neste mesmo estudo, chegou-se à conclusão que o número de suicídios foi maior em populações residentes em zonas mais rurais, populações mais isoladas e com rendimentos mais baixos.

Verificaram-se também as tendências já acima referidas, com os homens a contarem 80,2 por cento para a taxa de suicídio, e as mulheres apenas 19,8, e um maior número de suicídios a acontecer na população com mais de 65 anos.

Esta é já uma das preocupações da Associação Psiquiátrica Alentejana (APA), que num congresso no passado mês de Junho referiu o suicídio como a “principal complicação e o risco mais temível” das depressões graves em Portugal, especialmente no Alentejo, onde as taxas de ambos os problemas são bastante elevadas.

António José Albuquerque, um dos psiquiatras que falou no 3º congresso da APA, mencionou o facto de a taxa de suicídio no Alentejo ser ainda maior que a taxa de depressão grave, e que “há muitos casos de suicídio na mesma família”, o que demonstra a característica genética de muitos destes casos.

Dia Mundial da Prevenção do Suicídio

Dia 10 de Setembro de 2014 celebra-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, promovido, tal como em anos anteriores, pela International Association for Suicide Prevention (IASP).

Neste dia, a IASP, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), promovem várias iniciativas e actividades para uma melhor compreensão do suicídio, bem como actividades de prevenção muito eficazes.

Rita Barão Mendes

Referências

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