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MAJOR DIAS MARADO

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Academic year: 2018

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(1)

MESTRADO EM CIÊNCIAS MILITARES

SEGURANÇA E DEFESA

2012/2014

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O ESPAÇO E AS PEQUENAS POTÊNCIAS

DA ÁSIA À EUROPA

SPACE AND SMALL POWERS - FROM ASIA TO EUROPE

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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

O ESPAÇO E AS PEQUENAS POTÊNCIAS

DA ÁSIA À EUROPA

MAJ/ENGAER Bruno Sertório Dias Marado

Dissertação de mestrado do MCMSD 2012/2014

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i

INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

O ESPAÇO E AS PEQUENAS POTÊNCIAS

DA ÁSIA À EUROPA

MAJ/ENGAER Bruno Sertório Dias Marado

Dissertação de mestrado do MCMSD 2012/2014

Orientador: Tenente-Coronel/PilAv João Paulo Nunes Vicente (Doutor)

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ii

Agradecimentos

Apesar deste ser um trabalho de investigação individual, a sua realização só se tornou viável graças a um conjunto de pessoas a quem gostaria de humildemente agradecer.

O primeiro agradecimento vai para a minha mulher, que sempre incentivou o meu esforço e dedicação a este desafio e não me deixou esmorecer ao longo destes dois anos.

Às minhas filhas, Carolina e Inês, ao contribuírem para que tivesse a disponibilidade necessária para realizar este trabalho, o meu profundo obrigado.

Ao meu orientador, pela disponibilidade que sempre demonstrou, pelo espírito crítico construtivo e pelo empenho colocado nas revisões do documento, o meu sincero agradecimento.

Ao Professor Carvalho Rodrigues pela disponibilidade para ser entrevistado e pelos contributos dados, gostaria de deixar uma palavra de especial apreço.

Ao Tenente-Coronel César Rodrigues, pelas explicações detalhadas sobre o funcionamento do centro de satélites da União Europeia, e pelo detalhe com que explicitou a forma como as várias entidades em Portugal utilizam produtos deste centro, com referência a exemplos concretos.

Ao Major Menezes, pela clarificação do modo de funcionamento do NATO

Intelligence Fusion Center, e sobre a forma como Portugal acede a produtos de satélite disponibilizados por aquele centro.

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iii

Índice

Introdução ... 1

1. Contexto e metodologia ... 6

a. O contexto espacial no século XXI – Em direção a uma nova ordem no espaço ... 6

b. Metodologia de investigação ... 7

2. O poder espacial das pequenas potências – visão geral. ... 12

a. Satélites próprios e cooperativos ... 12

b. Investimento no espaço ... 14

c. Tratados, acordos e cooperação internacional ... 18

3. O poder espacial das pequenas potências asiáticas ... 20

a. Coreia do Norte ... 21

b. Malásia ... 23

c. Tailândia ... 25

d. Vietname ... 27

4. O poder espacial das pequenas potências europeias ... 29

a. Bélgica ... 31

b. Dinamarca ... 32

c. Irlanda ... 34

d. Portugal ... 36

5. Síntese dos indicadores, análise e teste das hipóteses ... 40

a. Investimento ... 40

b. Capacidades ... 40

c. Motivações e contributos para a consecução dos desideratos nacionais ... 43

Conclusões ... 46

(6)

iv

Índice de Figuras

Figura 1 – Satélites operativos em 31 de janeiro de 2014. ... 14

Figura 2 – Investimento governamental em programas espaciais civis, por país... 14

Figura 3 – Investimento governamental no espaço, em valor absoluto, em 2012. ... 16

Figura 4 – Investimento governamental no espaço, como percentagem do PIB, 2012. ... 17

Figura 5 – Investimento governamental no espaço, per capita, em 2012. ... 17

Índice de Tabelas Tabela I – Áreas de missão espacial da NATO ... 8

Tabela II – Capacidades espaciais. Derivado do modelo The Space Technology Ladder. ... 9

Tabela III – Posição na hierarquia de poder das pequenas potências em estudo. ... 10

Tabela IV – Número de satélites das pequenas potências em estudo, colocados em órbita com sucesso. ... 13

Tabela V – Síntese de indicadores sobre investimento governamental no espaço, em programas civis, em 2012. ... 15

Tabela VI – Evolução do investimento governamental no espaço (dos países em análise), em programas civis. ... 16

Tabela VII – Principais tratados e acordos para o espaço. ... 18

Tabela VIII – Nível de capacidade espacial – pequenas potências asiáticas. ... 41

Tabela IX – Nível de Capacidade espacial – pequenas potências europeias... 41

Tabela X – Astronautas/Cosmonautas das pequenas potências em análise. ... 42

Tabela XI – Síntese das capacidades espaciais das pequenas potências em análise. ... 42

(7)

v

Resumo

Neste trabalho de investigação procurou-se determinar quais as motivações que levam as pequenas potências a investir no espaço, de que forma e em que medida o têm feito e quais os contributos do poder espacial para a consecução dos desideratos nacionais. A investigação foi delimitada ao estudo de oito pequenas potências asiáticas e europeias: Coreia do Norte, Malásia, Tailândia, Vietname, Bélgica, Dinamarca, Irlanda e Portugal, tendo a observação da amostra contemplado quatro dimensões: investimento, capacidades espaciais, motivações e contributos para a consecução dos desideratos nacionais.

Depois de analisados vários indicadores, concluiu-se que as pequenas potências asiáticas em análise conseguem, com investimentos governamentais inferiores (metade das europeias), uma maior presença no espaço tendo colocado até ao presente 20 satélites próprios, contra apenas sete dos europeus (apesar destes garantirem acesso a mais produtos e de melhor qualidade por via cooperativa). Adicionalmente, enquanto na Europa se assiste a um ténue aumento do investimento no espaço (8% entre 2009-2012), na Ásia assiste-se a

uma “corrida espacial” com um aumento acentuado (105% no mesmo período).

Quanto às motivações, concluiu-se que as pequenas potências asiáticas são movidas principalmente por motivos políticos, enquanto as europeias são movidas por motivos económicos. Apesar das diferentes abordagens, todas estas pequenas potências retiram do espaço contributos para a consecução dos desideratos nacionais.

(8)

vi

Abstract

This research work aimed to determine the motivations that lead small powers to invest in space, how and in which extend they are doing it, as well as which is the contribute to the achievement of national desideratum.

Eight asian and european small powers were chosen as observation field: North Korea, Malaysia, Thailand, Vietnam, Belgium, Denmark, Ireland and Portugal. The analysis was conducted considering four dimensions of the space power: investment, capabilities, motivations and contribution to the achievement of national desideratum.

After analyzing several indicators, it was observed that asian small powers with smaller investments in space sector (half than the europeans), were able to launch 20 satellites up to today, facing only seven from the europeans. Additionally, while in Europe we assist to a small increase on the space budgets (8% increase from 2009 to 2012), in Asia we assist to a “space race” with a marked increase (105% on the same period).

Regarding their motivations, the small asian powers are driven mainly by political reasons, while their european counterparts are driven mainly by economic reasons. Although they follow different approaches, all this small powers take advantage from space to the achievement of their national desideratum.

Finally, it was possible to answer the central question “In a context of increasing

(9)

vii

Palavras-Chave

Ásia, Europa, Espaço, Pequenas potências, Poder espacial.

(10)

viii

Lista de abreviaturas

ADS-B Automatic Dependent Surveillance - Broadcast

AFSPACECOM Air Force Space Command

AIS Automatic Identification System

ASAT Anti-satellite weapon

AP-MCSTA Asia-Pacific Workshop on Multilateral Cooperation in Space Technology and Applications

APRSAF Asia-Pacific Regional Space Agency Forum

APSCO Asia-Pacific Space Cooperation Organization

BFPPS Belgian Federal Public Planning Service

CEDN Conceito Estratégico de Defesa Nacional

CENDINTEC Centro de Desenvolvimento e Inovação Tecnológicos DARA Deutsche Agentur für Raumfahrtangelegenheiten

(agência alemã para os assuntos do espaço) DPRK Democratic People's Republic of Korea

DTUSpace Instituto Nacional do Espaço da Universidade Técnica da Dinamarca

EI Enterprise Ireland

ERTS Earth Resource Technology Satellite

ESA European Space Agency

ESPI European Space Policy Institute

EUSC European Union Satellite Centre

EUA Estados Unidos da América

EUMETSAT European Organisation for the Exploitation of METeorological SATellites

FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia FFAA

GEO

Forças Armadas (Portuguesas) Geoestacionário

GISTDA Geo-Informatics and Space Technology Development Agency

GMES Global Monitoring for Environment and Security

GPS Global Positioning System

H Hipótese

HEO Highly Eliptical Orbit

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ix IESM Instituto de Estudos Superiores Militares

IAFS International Academy for Futures Studies

ILSMAA International League of Strategic Management, Assessment and Accounting

INES Institute for Economic Strategies

INETI Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial

IPI Integral Power Indicator

ITU International Telecomunications Union

ISR Intelligence Surveillance and Reconnaissance

ISS International Space Station

LEO Low Earth Orbit

JAXA Japan Aerospace eXploration Agency

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia (Portugal)

MEO Medium Earth Orbit

MIT Massachusetts Institute of Technology

MUSD Milhões de dólares dos Estados Unidos da America NASA National Aeronautics and Space Administration

NATO North Atlantic Treaty Organization (Organização do Tratado do Atlântico Norte) NIFC NATO Intelligence Fusion Center

OGMA Oficinas Gerais de Material Aeronáutico PAROS Prevention of an Arms Race in Outer Space

PD Pergunta derivada

PESC Política Europeia de Segurança Comum PIB Produto Interno Bruto

PRODEX Programa de Desenvolvimento de Experiências Científicas SMMS Small Multi-Mission Satellite

UCOM United Communications Limited

UE União Europeia

UNOOSA Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos do Espaço Exterior USD

VAST

Dólares dos Estados Unidos da América

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1

Introdução

Há momentos que mudam o mundo, e um deles foi o lançamento do Sputnik a quatro de outubro de 1957. Repentinamente, o mundo constituído por terra, mar e ar, foi complementado por um quarto elemento: o espaço (Martin, 2008, p. 1).

Desde então, o contexto geopolítico dos assuntos do espaço alterou-se substancialmente. No pós guerra fria, iniciou-se uma nova fase de atividades espaciais. Assistiu-se à evolução de um mundo bipolar dominado pelos Estados Unidos da América (EUA) e União Soviética, para um mundo multipolar, com o surgimento e crescimento de novos atores, com crescentes capacidades tecnológicas, conduzindo à internacionalização do contexto espacial (Peter, 2009, p. 1).

Durante o ano de 2013, Azerbaijão, Áustria, Equador, Estónia, Qatar, Peru, Bolívia e Lituânia colocaram o seu primeiro satélite no espaço. Muitas outras pequenas potências reforçaram a sua presença adicionando satélites aos que já dispunham, como é o caso da Dinamarca, do Vietname, dos Emiratos Árabes Unidos, Singapura, ou Ucrânia.

Já no decurso do presente ano, Tailândia, Lituânia, Peru e Cazaquistão colocaram satélites em órbita, e várias outras pequenas potências têm lançamentos previstos para o segundo semestre de 2014.

Os satélites colocados em órbita por estas pequenas potências, maioritariamente europeias e asiáticas são na grande maioria financiados por dinheiros públicos e abrangem diversas categorias - desde os cem gramas do peruano Pocket-PUCP, até às mais de cinco toneladas do ucraniano BPA-1. Abrangem também vários tipos, desde a investigação e desenvolvimento às comunicações, passando pela observação da terra.

Embora o poder espacial das grandes potências, como os EUA, Rússia ou China esteja já bem estudado, o mesmo não se pode dizer para o caso das pequenas potências. Estas estão a aumentar a sua presença no espaço, com crescentes capacidades tecnológicas, conduzindo à internacionalização do contexto espacial (Peter, 2009, p. 1), mas são escassas as investigações científicas que incidem sobre esta nova realidade geopolítica de forma abrangente, destacando-se (Moltz, 2012) (Wood & Weigel, 2012) (Marado, 2013).

Interessa pois perceber, através de uma investigação sistematizada, quais as motivações que levam as pequenas potências a investir no espaço, de que forma e em que medida, assim como quais os contributos para a consecução dos desideratos nacionais.

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2 atividade no setor do espaço e (iii) apresentarem diversidade de opções e modelos de desenvolvimento. Uma exploração prévia permitiu fazer a seleção dos seguintes estados: Coreia do Norte, Malásia, Tailândia, Vietname, Bélgica, Dinamarca, Irlanda e Portugal.

Esta investigação representa o primeiro estudo comparativo sobre o poder espacial das pequenas potências asiáticas e europeias, contribuindo para que se possa compreender esta nova realidade de crescente presença de pequenas potências no espaço. Contribuirá ainda para que em estudos futuros se possam perspetivar possíveis caminhos que Portugal pode seguir, a partir de um conhecimento alargado das várias opções ao seu dispor.

O argumento do autor (constructo) que se pretende validar, é que, “Embora as pequenas potências asiáticas e europeias desenvolvam o seu poder espacial a fim de retirar contributos para a consecução dos desideratos nacionais, nas vertentes política, económica e de segurança - as asiáticas conseguem com investimentos governamentais inferiores obter mais capacidades autónomas e uma afirmação superior pela presença no espaço, pelo fato de as europeias optarem pela via cooperativa de forma assimétrica e colocarem a tónica na vertente económica, especializando-se em subsistemas, ficando com capacidades autónomas residuais, apesar de garantirem acesso a mais produtos espaciais e de melhor qualidade numa ótica de utilizador. Esta distinção deve-se principalmente às motivações, que na Ásia são maioritariamente políticas, enquanto na Europa são económicas.”

Para teste do argumento do autor, foi desenhada uma pesquisa que está detalhada no primeiro capítulo, a qual, seguindo as linhas gerais do método científico proposto por Quivy e Campenhoudt (2013), permite encontrar a resposta à pergunta de partida “Num contexto de crescente presença no espaço das pequenas potências asiáticas e europeias, quais as motivações, caminhos percorridos e quais os contributos do poder espacial para a consecução dos desideratos nacionais, nas vertentes política, económica e de segurança?” Esta pergunta de partida, ao cristalizar, transformou-se em questão central e originou quatro perguntas derivadas (PD):

PD1: Em que medida têm as pequenas potências asiáticas e europeias investido no espaço?

PD2: Como se tem desenvolvido o poder espacial das pequenas potências?

PD3: Quais as motivações subjacentes à presença das pequenas potências no espaço?

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3 Foi criado um modelo de análise enquadrado por um conjunto de conceitos apresentados no Apêndice A e centrado no corpo de conceitos apresentado no Apêndice B. Para este modelo foram ainda elaboradas quatro hipóteses:

H1: As pequenas potências asiáticas investem (financeiramente) menos no espaço do que as pequenas potências europeias.

H2: As pequenas potências exibem padrões distintos de desenvolvimento do seu poder espacial, conforme sejam asiáticas ou europeias.

H3: As pequenas potências asiáticas são movidas principalmente por motivos políticos, enquanto as europeias são movidas por motivos económicos.

H4: As pequenas potências, quer asiáticas quer europeias, retiram do espaço contributos para a consecução dos desideratos nacionais, nas vertentes política, económica e de segurança.

Este trabalho está organizado em cinco capítulos principais.

No primeiro capítulo começa-se por efetuar uma contextualização da presença das pequenas potências no espaço no início do século XXI, sendo apresentada a metodologia seguida e o modelo de análise construído para o desenvolvimento da presente investigação.

No segundo capítulo é efetuada uma análise comparativa recorrendo a uma visão geral, onde serão analisados indicadores relativos ao nível de investimento governamental no espaço, em valor absoluto e per capita, ao número de satélites, aos acordos e tratados assinados.

No terceiro capítulo apresenta-se uma visão individualizada do poder espacial das pequenas potências asiáticas, numa análise qualitativa, semelhante à efetuada no capítulo seguinte para as pequenas potências europeias.

No quinto capítulo é efetuada uma síntese dos vários indicadores obtidos com os dados recolhidos e apresentados nos três capítulos anteriores, de forma a permitir testar as hipóteses e responder à questão central.

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4 O framework construído para esta investigação desenvolveu-se com base no corpo de conceitos apresentado em apêndice, que contempla os conceitos de poder espacial e pequena potência, estando implícito o seu enquadramento à luz dos conceitos de geopolítica e poder, servindo-se a jusante do conceito de segurança (ver Apêndices A e B).

Decorrente da crescente presença do Homem no espaço sideral, este passou a ser considerado, nas últimas décadas, também como um espaço geopolítico. “A projeção da geopolítica para o espaço exterior começa hoje a dar os primeiros passos, com o desenvolvimento de novas ramificações desta ciência (...)” (Dias, 2005). Dolman (2002) propõe-nos um modelo com quatro1 regiões astropolíticas, incidindo esta investigação maioritariamente na segunda região, que encontra limite inferior na primeira órbita viável e limite superior na altitude aproximada de 36.000km, onde se situam as órbitas geoestacionárias (Dolman, 2002, p. 69), visto ser aí que as pequenas potências marcam presença. Serão estudadas as vantagens que estas retiram deste espaço numa análise interdisciplinar, evidenciando benefícios concretos no âmbito da política, da economia, e da segurança. Nesta investigação considera-se geopolítica como o “estudo das constantes e variáveis do espaço acessível ao Homem ou que dele sofre efeito intencional que, ao objetivarem-se na construção de modelos de dinâmica de poder, projecta o conhecimento geográfico no desenvolvimento e na actividade da ciência política, com influência na acção externa dos diferentes intervenientes na Sociedade Internacional” (Dias, 2012, p. 205)

Para Dias (2012, p. 174), o controlo de uma fonte de poder como o espaço garante nítidas vantagens, podendo ser decisivas no xadrez mundial, repleto de interacções de natureza competitiva e conflitual, onde os mecanismos coercivos são lugar comum.

Justifica-se então a adoção de um conceito de poder espacial, o qual será apresentado em detalhe no primeiro capítulo, dada a sua centralidade nesta investigação.

Quanto ao conceito de pequena potência, constata-se que a categorização dos estados em quatro grupos - superpotência, grande potência, média potência e pequena potência – por ordem decrescente do poder que possuem, é reconhecida em diversa literatura de relações internacionais. Nesta investigação adota-se o conceito proposto por Chang (2004, p. 17), considerando-se como pequenas potências os estados que na

1 A primeira região astropolítica de Dolman denomina-se região da Terra e é limitada superiormente pela

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5 hierarquia de poder global se encontrem na posição 30 ou abaixo (ver Anexo A).

Por fim, resta clarificar que nesta investigação se adota o conceito de segurança como apresentado nas grandes opções do Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) (Governo de Portugal, 2013, p. 3), segundo o qual “(...) é a condição da nação que se traduz pela permanente garantia da sua sobrevivência em paz e liberdade, assegurando a soberania, independência e unidade, integridade do território, salvaguarda coletiva das pessoas e bens e dos valores espirituais, desenvolvimento normal das funções do estado, liberdade de ação política dos órgãos de soberania e pleno funcionamento das instituições

democráticas”. No que concerne à segurança, além das velhas ameaças e riscos, foram consideradas também as novas ameaças e riscos apresentadas no subcapítulo “Ameaças e riscos no ambiente de segurança global” do CEDN2, salientando-se nomeadamente a criminalidade transnacional organizada, os desastres naturais, as mudanças climáticas ou atentados ao ecossistema, terrestre e marítimo, como sejam a poluição, a utilização abusiva de recursos marinhos e os incêndios florestais.

(17)

6

1. Contexto e metodologia

a. O contexto espacial no século XXI – Em direção a uma nova ordem no espaço

“The importance of being involved in space affairs is growing in the unfolding new space order”

(Peter, 2010, p. 57).

A multiplicação dos atores no contexto pós guerra fria tem sido acompanhada por uma emergente globalização das atividades espaciais com atores dispersos pelos cinco continentes e já não limitado às grandes potências (Peter, 2009, p. 1), assistindo-se hoje a uma corrida espacial não declarada, perpetrada por nações asiáticas. Não só a China, mas também, Japão, Índia, Coreia do Sul e outros países da região estão a expandir os seus programas espaciais. Contudo, ao contrário da Europa onde os países estão a cooperar no âmbito da Agência Espacial Europeia (ESA), as nações asiáticas estão seguir o seu caminho de forma isolada (Moltz, 2011, p. 1).

Em complemento a esta internacionalização e globalização dos assuntos espaciais, as atividades naquele meio estão-se a tornar mais institucionalizadas e um crescente número de países está a desenvolver doutrina ou estratégia3 (dedicada) para enquadrar as suas atividades espaciais. Nesta nova fase, existe uma crescente diversidade nos tipos de atores envolvidos nos assuntos espaciais, que por sua vez influenciam o contexto global do espaço. O envolvimento de organizações não-governamentais e outros atores não estatais, como empresas privadas, está de fato a conduzir a uma multiplicidade de atores e

stakeholders na cena espacial (Peter, 2009, p. 1). Observa-se ainda que um número crescente de estados está a utilizar os programas espaciais para objetivos políticos e simbólicos, tais como demonstração e aumento do orgulho nacional (Montluc, 2009). Isto deve-se ao fato das atividades espaciais serem cada vez mais reconhecidas (mesmo pelos recém-chegados à arena espacial) como um necessário elemento para ser, no mínimo, uma potência regional. De fato, existe uma estreita relação entre as atividades no espaço e o prestígio nacional. Tal como as superpotências da década de sessenta, as autoridades asiáticas acreditam que os programas espaciais lhes vão trazer prestígio não só a nível

3 A palavra «estratégia» é usada, neste caso, com o significado atribuído na referência indicada (Peter, 2009,

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7 nacional, mas também na arena internacional. As Nações asiáticas não querem ser vistas como tecnologicamente “atrasadas” ou, pior ainda, como estando atrás dos seus vizinhos neste campo. Esta situação é ainda fomentada pela ausência de um legado histórico de cooperação de segurança regional (Peter, 2009, p. 1).

Na Europa, a postura é de franca cooperação, com partilha de meios e uma estratégia que claramente aposta no espaço como promotor de tecnologia e inovação, catalisadores da economia e emprego. Como referiu Durão Barroso no seu discurso proferido na conferência sobre a Política Espacial Europeia, “As atividades espaciais também podem desempenhar um papel útil no fortalecimento da competitividade europeia e crescimento económico. O espaço pode certamente contribuir para a recuperação económica no curto prazo e para um robusto desenvolvimento industrial, a médio e longo prazo. O espaço também é essencial para projetar a imagem da União Europeia (UE) como ator mundial” (Barroso, 2009).

Os objetivos da UE para o espaço podem ser identificados na comunicação da Comissão Europeia nºIP/07/575, onde se traçam orientações para: (i) Coordenar os programas espaciais civis de forma mais eficaz entre a ESA, UE e dos respetivos Estados-Membros de forma a garantir a rentabilidade e eliminar duplicações desnecessárias, atendendo assim às necessidades europeias partilhadas; (ii) Desenvolver e explorar aplicações espaciais europeias, como o Galileu, o Global Monitoring for Environment and Security (GMES) e aplicações para comunicações por satélite; (iii) Preservar o acesso autónomo da UE ao espaço; (iv) Aumentar a sinergia entre a defesa e os programas espaciais civis e de tecnologias procurando, em particular, a interoperabilidade dos sistemas civis e militares, e por fim (v) Assegurar que a política espacial é coerente com as relações externas da UE e suporta-as (European Commission, 2007).

b. Metodologia de investigação

Nesta investigação, foi desenhada uma pesquisa assente em oito estudos de caso, que serão alvo de uma análise comparativa dando origem àquilo que na literatura anglo-saxónica aparece denominado como sendo uma pesquisa do tipo “multiple case study”.

Quanto à metodologia de análise, recorre-se a uma metodologia mista, com análise intensiva (qualitativa) complementada com análise extensiva (quantitativa).

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8 livros e outro material publicado, verifica-se não existir um conceito predominante. Uma síntese da revisão de literatura encontra-se no Apêndice A, onde são revisitados autores, como (Lupton, 1988), (Larned, 1994), (Gray, 1996) (Jusell, 1998) e (Krepon, et al., 2011). Adicionalmente, foram revistos os conceitos de poder espacial apresentados em documentos doutrinários da área da defesa, nomeadamente dos EUA (U.S. Department of Defense, 2013, p. 267) e do Reino Unido (UK Ministry of defense, 2009, p. 7).

No âmbito desta investigação, será adotado o conceito de poder espacial proposto em 2011 por Michael Krepon, Theresa Hitchens e Michael Katz-Hyman, segundo o qual

“poder espacial é a soma de todas as capacidades que contribuem para a aptidão de uma

nação beneficiar do uso do espaço” (Krepon, et al., 2011, pp. 20-1). Como a aptidão de uma nação para beneficiar do uso do espaço depende não só de capacidades tangíveis (como capacidades espaciais e disponibilidade para investimento), mas também de aspetos como a vontade e a habilidade para mobilizar forças4, serão consideradas as seguintes quatro dimensões de análise: investimento, capacidades espaciais, motivações e contributos do poder espacial para a consecução dos desideratos nacionais.

Para uma detalhada caracterização do nível de desenvolvimento da tecnologia associada às capacidades espaciais ao serviço da nação, avaliou-se a possibilidade de recorrer a vários modelos já existentes, nomeadamente à doutrina orientadora do emprego da tecnologia espacial em operações militares no seio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), sintetizada na Tabela I.

Tabela I – Áreas de missão espacial da NATO

Fonte: (NATO, 2009, pp. 6-1 a 6-5)

4

Efetuando o paralelo para com os teóricos do poder nacional, Hans Morgenthau, na sua obra Politics Among Nations (1948), descreveu os elementos do poder nacional, referindo não só capacidades tangíveis, mas também o “national character, national morale and quality of government” (Tellis, et al., 2000, pp. 25-26). Também Ray Cline (Cline, 1975), na sua obra World Power Assessment propôs uma conceptualização teórica para a contabilização do poder percebido das nações, que além das capacidades económica (E) e militar (M), incluía a massa crítica (C) - (função do território e da população) a coerência e adequação da estratégia nacional (S) e a vontade nacional (W), combinados sob a forma Pp=(C+E+M)x(S+W).

Áreas de Missão Espacial Observações/Emprego

Controlo Espacial Empregue para obter/manter o grau pretendido de superioridade espacial, incluindo a capacidade de detetar, monitorizar e avaliar atividades no espaço, operações ofensivas e defensivas.

Multiplicação de Força

Emprego de sistemas como comunicações satélite, ISR, aviso precoce de lançamento de mísseis, monitorização ambiental e navegação, posição, velocidade e tempo (sincronização).

Apoio Espacial Capacidades transversais às áreas de Missão Espacial tais como lançadores, sistemas de controlo e operação de satélites.

Aplicação de Força Espacial

(20)

9 Para caraterizar o nível de desenvolvimento da tecnologia associada às capacidades espaciais, optou-se por adotar o modelo teórico “The Space Technology Ladder theoretical framework” desenvolvido pelos investigadores do Massachusetts Institute of Technology

(MIT) Danielle Wood e Annalisa Weigel, e proposto em 2012 (Wood & Weigel, 2012). Estes autores foram os primeiros a, de uma forma sistematizada, analisar o desenvolvimento de tecnologia espacial e capacidades em países emergentes de três continentes: América do Sul, África e Ásia. As adaptações efetuadas destinaram-se a colmatar lacunas (algumas das quais identificadas pelos próprios autores), nomeadamente para passar a contemplar a capacidade astronáutica e de acesso a produtos do espaço via mercado, via cooperativa ou protocolar, assim como contemplar a capacidade de “space

awareness”e antissatélite (ASAT). Considerou-se ainda oportuno incluir um indicador de

“massa”, representando o total de massa dos satélites colocados com sucesso em órbita, assim como refinar as categorias de satélites, passando a incluir de forma segregada os satélites tipo Cubesat5(ver Tabela II).

Tabela II – Capacidades espaciais.

Fonte: Elaboração do autor.

5 Satélite para pesquisas espaciais, com forma de cubo, 10cm de aresta e uma massa de até 1,33 kg. Os

(21)

10 Quanto aos instrumentos de observação e recolha de dados, recorrer-se-á maioritariamente a relatórios governamentais, relatórios técnicos, publicações estatísticas, sítios na internet das agências espaciais, assim como análise de discurso de políticos, do conjunto de países que constituem a amostra a analisar. Foram ainda entrevistados três atores nacionais privilegiados da área em estudo.

Como amostra, foram selecionados quatro estados asiáticos e quatro europeus. Os critérios para seleção desses estados foram três: serem pequenas potências, desenvolverem atividade relevante no setor do espaço, e apresentarem diversidade de opções e modelos de desenvolvimento.

Como escala de poder para os vários estados, foram utilizados os valores de

Integral Power Indicator (IPI) de 2012, propostos pelos International League of Strategic Management, Assessment and Accounting (ILSMAA), International Academy for Futures Studies (IAFS) e Institute for Economic Strategies (INES), apresentados na publicação

Global Rating of Integral Power of 100 Countries.

Desta forma foram selecionados: na Ásia, a Coreia do Norte, Malásia, Vietname e Tailândia; na Europa: Portugal, Bélgica, Dinamarca e Irlanda, que na hierarquia de poder dos estados, ocupam as posições indicadas na Tabela III.

Tabela III – Posição na hierarquia de poder das pequenas potências em estudo.

Fonte: Adaptado de (ILSMAA/IAFS/INES, 2012)

O presente estudo apresenta-se como exploratório, cuja amostra analisada é intencional (não probabilística), não sendo possível garantir representatividade externa, não permitindo por isso inferência para o universo completo das pequenas potências. Mais do que generalizar, procura-se compreender o universo em estudo, recorrendo-se para isso a uma metodologia mista, com análise intensiva (qualitativa) complementado com análise extensiva (quantitativa).

2008 2012

Malasia 66 49

Coreia do Norte 65 75

Vietname 34 51

Tailândia 37 36

Bélgica 42 32

Dinamarca 68 43

Irlanda 67 58

Portugal 43 48

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11 Epistemologicamente, pretende-se efetuar-se uma isenta interpretação da realidade. Apesar disso, deve-se ter em conta algumas limitações a nível epistemológico: o investigador é de vivência e cultura ocidental, portuguesa, é oficial da Força Aérea e tem domínio apenas de línguas europeias (português, inglês, francês e espanhol), o que à partida conduz a uma pré-seleção das fontes de dados.

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12

2. O poder espacial das pequenas potências – visão geral

“space capabilities, may allow less influential nations to become more assertive in international affairs”

(U.S.Army, 1995).

Para melhor analisar o poder espacial das pequenas potências selecionadas serão considerados, de seguida, vários aspetos gerais, nomeadamente, o número de satélites ou o orçamento dedicado ao espaço.

a. Satélites próprios e cooperativos

As pequenas potências asiáticas em análise colocaram no espaço, todas elas, satélites próprios, destacando-se a Tailândia e a Malásia com oito e seis satélites respetivamente. O Vietname lançou o seu primeiro satélite apenas em 2008, mas desde então, colocou em órbita mais quatro. Em dezembro de 2012, a Coreia do Norte colocou em órbita com sucesso o seu primeiro satélite, o Kwangmyŏngsŏng-3-2, lançado a partir do seu centro espacial de Sohae, a bordo do lançador norte coreano derivado da tecnologia SCUD - o Unha-3, tornando-se assim a primeira pequena potência a deter a capacidade de lançamento de satélites, tecnologia que apenas dez estados dispõem, em todo o mundo (dois meses antes de igual feito ser atingido pela Coreia do Sul).

Das pequenas potências europeias em análise verifica-se uma grande disparidade relativamente aos satélites que possuem. Embora a Dinamarca e Portugal tenham satélites em órbita, Bélgica e Irlanda optaram por nunca dispor de satélites próprios, apesar de a Bélgica ter programas espaciais nacionais e ter previsto em 2014 colocar em órbita o satélite OUFTI-1 (de pequenas dimensões, do tipo CubeSat).

(24)

13

Tabela IV – Número de satélites das pequenas potências em estudo, colocados em órbita com sucesso.

Fontes: Adaptado de (Tag's Broadcasting Services, 2013) (Krebs, 2014)

A utilização do espaço para colocação de satélites está sujeita a regulamentação internacional. Embora não seja propósito desta investigação aprofundar esta temática, importa contudo referir, em síntese, que embora o Artigo nº 44 da constituição da União Internacional de Telecomunicações (ITU)6 refira o acesso equitativo a radiofrequências e órbitas de satélite, de fato, existe um sistema de “First come, first served” (Koening & Busch, 2013) (Griffin, 2010). Para Carvalho Rodrigues (2013a), a aquisição de direitos sobre slots orbitais e frequências, atribuídos pela ITU, representa uma afirmação de soberania no espaço, embora limitada no tempo, isto é, válida apenas se garantida a ocupação efetiva do slot e das frequências reservadas. “A componente da soberania de uma Nação no espaço exterior não está só no satélite ou nas redes de satélite que tem a voar, está sobretudo nas frequências que pode utilizar à volta da Terra atribuídas pela lei internacional. Ao acabar a vida de um satélite e a sua não substituição equivale à perda das frequências atribuídas e portanto de soberania. Um país sem presença no espaço exterior não é um país independente porque o que se chamam telecomunicações são de fato apenas um dos aspetos da soberania sobre o tempo, a soberania sobre o espaço das frequências é

bem mais fulcral”(Rodrigues C, 2013a).

Adicionalmente, os estados que pertencerem à ESA7 acabam por ter, de forma cooperativa, satélites em órbita (assim como outros meios e acesso a produtos). Importa, contudo, referir que não só o “peso” que cada uma destas pequenas potências tem na ESA é pequeno, como o próprio “peso” da ESA e dos restantes programas da UE no espaço global é reduzido, com poucas dezenas de satélites, de um total de 1167 satélites operativos (ver Figura 1).

6 A ITU é uma agência especializada das Nações Unidas. 7 A ESA tem 20 estados membros: 18 da UE, Noruega e Canadá.

Ano 1º lançamento 1º satélite n sat.

Malásia 1996 MEASAT 6

Coreia do Norte 2012 Kwangmyŏngsŏng-3 Unit 2 1

Vietname 2008 Vinasat-1 5

Tailândia 1993 Thaicom 1 7

Europa

Bélgica --- --- 0

Dinamarca 1999 Orsted 6

Irlanda --- --- 0

Portugal 1993 PoSAT-1 1

País

(25)

14

Figura 1 – Satélites operativos em 31 de janeiro de 2014.

Fonte: Adaptado de (UCS, 2014)

b. Investimento no espaço

Os investimentos das pequenas potências no espaço, quer sejam em meios governamentais, institucionais ou militares, pelos montantes envolvidos (ver Figura 2) e pelo caráter dos mesmos, refletem opções políticas. Essas opções traduzem não só a importância dada ao espaço, mas também se é seguida a opção de apostar em agências e programas cooperativos, ou desenvolver os seus programas de forma maioritariamente autónoma.

Figura 2 – Investimento governamental em programas espaciais civis, por país.

(26)

15 Na Europa, existe uma grande agência espacial cooperativa - ESA - da qual fazem parte os países europeus em apreço, ao contrário da Ásia, onde não existe uma organização do tipo agência espacial. Existe sim a Asia-Pacific Space Cooperation Organization

(APSCO), que criada em 2005 e sediada em Pequim, promove a cooperação entre os estados membros, mas tem ainda uma diminuta relevância (congregando oito estados, entre os quais a Tailândia).

Consultando as bases de dados da divisão de estatística das Nações Unidas, do Banco Mundial e da Euroconsult, é possível recolher elementos referentes à população, Produto Interno Bruto (PIB) e investimento governamental em programas espaciais civis, de forma a poder efetuar uma análise comparativa, quantitativa, entre estes estados em análise, criando indicadores como o orçamento para o espaço em percentagem do PIB e o orçamento para o espaço per capita (ver Tabela V). Note-se que, com exceção da Coreia do Norte (onde subsistem dúvidas sobre a associação do programa de desenvolvimento do lançador Unha-3, que é derivado do míssil Taepodong-2, por sua vez uma evolução da tecnologia SCUD, ao programa de mísseis balísticos de longo alcance), nos restantes estados em análise não foi identificado nenhum programa espacial militar pese embora, como se verá adiante, muitos produtos dos programas civis sejam utilizados no âmbito da segurança e por organizações militares e/ou militarizadas.

Tabela V – Síntese de indicadores sobre investimento governamental no espaço, em programas civis, em 2012.

Fontes: (Euroconsult, 2013b), (Banco Mundial, 2013), (UN Statistics Division, 2013).

(1) Orçamento Bruto

Das pequenas potências em análise, não foi possível obter dados de gastos pela Coreia do Norte, sabendo-se contudo que são inferiores a 10 milhões de USD (MUSD) (Euroconsult, 2013b). Analisando os restantes sete estados, verifica-se que aquele que claramente mais investe em termos absolutos no espaço é a Bélgica, com um esforço orçamental de 265MUSD, cerca do triplo do Vietname, cinco vezes mais que Dinamarca e mais de dez vezes acima de Portugal, Irlanda, Tailândia e Malásia (ver Figura 3). Este último, com 18MUSD, será o que menos investimento governamental efetua (excetuando a

Média GDP/PIB População (milhões)

Malásia 18 304,726 15,906 0,01% 1,13

Coreia do Norte < 10 14,411 24,763 < 0,07% < 0,40

Vietname 93 155,82 88,776 0,06% 1,05

Tailândia 20 385,694 66,785 0,01% 0,30

Bélgica 265 483,402 11,142 0,05% 23,78

Dinamarca 43 314,889 5,59 0,01% 7,69

Irlanda 24 210,638 4,459 0,01% 5,38

Portugal 25 212,139 10,527 0,01% 2,37

%PIB investido no espaço Inv. Espaço per capita. A si a E uropa País 43,67 89,25 Investimento no

(27)

16 Coreia do Norte), apesar de dispor já de seis satélites em órbita, e ter colocado um astronauta no espaço.

Figura 3 – Investimento governamental no espaço, em valor absoluto, em 2012.

Fonte: Adaptado de (Euroconsult, 2013b).

Note-se ainda que, em média (ver Tabela VI), os gastos governamentais com o espaço das pequenas potências europeias são mais do dobro dos gastos das pequenas potências asiáticas. Contudo, efetuando uma análise de tendência, verifica-se que, se por um lado as pequenas potências europeias investem hoje mais no espaço que as asiáticas, em valor absoluto, a tendência é de um ténue aumento do investimento na europa (8% entre 2009-2012) contra um aumento acentuado do investimento das pequenas potências asiáticas em análise (105% no mesmo período).

Tabela VI – Evolução do investimento governamental no espaço (dos países em análise), em programas civis.

Fontes: Adaptado de (Euroconsult, 2013b) (Euroconsult, 2010).

Note-se ainda que o investimento das pequenas potências Europeias na ESA, é assimétrico comparativamente com as grandes potências do continente. Por exemplo França ou Alemanha contribuem com mais de 800MUSD para a ESA, o que apesar de representar apenas 40% a 50% do seu investimento total no espaço, é cerca de dez vezes o que contribuem as pequenas potências em análise (ESPI, 2012, p. 53).

(2) Orçamento como percentagem do PIB

Tomando como indicador não o investimento governamental em valor absoluto, mas como percentagem do PIB, apenas há a realçar que o Vietname se destaca, sendo o

2009 2012 Var.(%)

21 44 105%

83 89 8%

*Não inclui Coreia do Norte por falta de dados

Ásia* Europa

(28)

17 que mais esforço efetua, a par com a Bélgica (e eventualmente Coreia do Norte, fruto do seu muito baixo PIB), investindo em percentagem do PIB, cerca de cinco vezes mais do que Dinamarca, Portugal ou Irlanda (ver Figura 4). Apesar de Vietname e Bélgica investirem, em proporção do PIB, mais do que todas as outras pequenas potências em análise, é de salientar que são as grandes potências, como os EUA e a Rússia, quem mais investe no espaço, com 0,31 e 0,22% do PIB, respetivamente (ESPI, 2012, p. 17).

Figura 4 – Investimento governamental no espaço, como percentagem do PIB, em 2012.

Fontes: Adaptado de (Euroconsult, 2013a), (Banco Mundial, 2013), (UN Statistics Division, 2013).

(3) Orçamento per capita

Analisando agora o esforço, mas tendo por base o investimento governamental per capita para o espaço (Figura 5), verifica-se que todos os estados europeus apresentam um investimento per capita superior à Malásia, Tailândia e Vietname. Note-se que Portugal investe no espaço, por habitante, cerca de dez vezes menos que a Bélgica, mas cinco vezes mais que Malásia ou Tailândia.

Figura 5 – Investimento governamental no espaço, per capita, em 2012.

(29)

18 Verifica-se assim que as pequenas potências europeias investem significativamente mais no espaço do que as asiáticas, apesar de em percentagem do PIB o esforço dos asiáticos ser superior. Note-se contudo que quer asiáticas quer europeias, investem menos no espaço (% do PIB) do que as grandes potências.

c. Tratados, acordos e cooperação internacional

Além de analisar o poder espacial das pequenas potências, importa também perceber de que forma estas procuram influenciar e regulamentar o comportamento de outros estados, nomeadamente das grandes potências (ver Tabela VII).

Tabela VII – Principais tratados e acordos para o espaço.

Fontes: Adaptado de (UNOOSA, 2008) (NTI, 2014) (University of Mississippy, 2009).

As pequenas potências procuram condicionar terceiros, mas também legitimar as suas próprias atividades no espaço, sendo de referir a assinatura, pela Coreia do Norte, da

(30)
(31)

20

3. O poder espacial das pequenas potências asiáticas

Steve Bochinger, diretor executivo da Euroconsult, refere que os gastos (globais) governamentais com programas espaciais civis atingiram em 2012 um recorde, atribuindo este crescimento ao aumento da atividade nesta área de atores emergentes como o Bangladesh, Malásia, Tailândia e Vietname, e levanta a questão: “Serão os programas espaciais cruciais para o desenvolvimento ou ter-se-ão tornado mais um símbolo de prestígio para os países anunciarem a sua prosperidade ao mundo após décadas de rápido crescimento?” (SciDevNet, 2014). Um dos exemplos de subida de investimento é o Vietname, que em 2011 investiu 47MUSD, passando em 2012 para 93MUSD.

Ao contrário da Europa onde os países estão a cooperar no âmbito da ESA, as nações asiáticas estão seguir o seu caminho de forma isolada (Moltz, 2011, p. 1). Vários autores consideram mesmo estarmos a assistir a uma corrida espacial na Ásia (Pekkanen, 2013) (Moltz, 2012). Contudo, outros como Ghoshroy e Neuneck (2010) referem que

“embora tenha havido competição entre as potências espaciais asiáticas, a noção de

«corrida» foi em grande parte uma construção dos média, a qual terá gerado uma retórica que passou para discursos oficiais de responsáveis por programas espaciais de estados asiáticos”. (Ghoshroy & Neuneck, 2010, pp. 194-195). Exemplo de alguma cooperação, sob a liderança da China, é a criação da APSCO, que criada em 2005 tem ainda uma diminuta relevância. De fato, a cooperação tem tido um papel importante no desenvolvimento de alguns programas espaciais de nações asiáticas, mas a cooperação é feita preferencialmente com a Europa e EUA, e raramente entre nações asiáticas (Lele, p. 241).

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21

a. Coreia do Norte

As raízes do programa espacial norte coreano podem ser encontradas em meados da década de 80, quando Kim Il Sung estabeleceu o comité de Tecnologia Espacial. Pensa-se que este comité ainda esteja encarregue das atividades espaciais da Coreia do Norte (Moltz, 2012, p. 170). A primeira evidência credível de que existia um programa espacial emergiu quando a Coreia do Norte conduziu o primeiro lançamento do míssil Taepodong 1

em agosto de 1998, transportando o satélite Kwangmyŏngsŏng-I. Apesar de, à data, a agência de notícias central norte coreana ter emitido um comunicado informando que o satélite entrou com sucesso numa órbita baixa e salientado que “O lançamento deste satélite é mais um fruto da [nossa] economia nacional independente, um produto que tem 100% de tecnologia local e de esforço local. Isto traz orgulho e satisfação à nação coreana

e aos nossos amigos” (Korean Central News Agency of DPRK, 1998a), com exceção de um relatório russo considerado pouco credível (Moltz, 2012, p. 170), nenhum estado estrangeiro com capacidade de seguimento de satélites identificou o Kwangmyŏngsŏng-1

em órbita. Segundo a imprensa ocidental, o combustível sólido do terceiro estágio e o satélite desintegraram-se, reentrando na atmosfera e acabando despenhados no Pacífico. O propósito oficial declarado deste satélite seria: “(1) contribuir para a pesquisa científica na República Democrática Popular da Coreia (DPRK) e uso pacífico do espaço, (2) confirmar as bases de cálculo para futuros lançamentos de satélites e (3) encorajar o povo norte coreano à construção de um forte estado socialista.” (Korean Central News Agency of DPRK, 1998b).

Segundo um comunicado da mesma agência, na mesma data, o ministro dos negócios estrangeiros norte coreano afirmou “Para o nosso país, ter um satélite artificial é um natural exercício de soberania. Se esta capacidade será usada com propósitos militares

ou não, depende inteiramente da atitude das forças hostis em relação a nós.” “O satélite artificial recentemente lançado (…) manifesta a vontade férrea e o indomável espírito do

nosso partido, forças armadas e povo (…) [Japão e EUA] devem estar cientes disto. Em particular, as forças hostis à DPRK devem estar plenamente cientes que a sua tentativa

para conduzir a DPRK à mudança, os conduzirá a nada mais do que à destruição” (Korean Central News Agency of DPRK, 1998b).

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22 com 40 a 42 segundos de voo (Pinkston, 2008, p. vi), sem nenhum satélite a bordo. Este lançamento ocorreu durante o maior exercício de mísseis balísticos do país.

Entre 2008 e 2009, o governo norte coreano deu os passos necessários para a ratificação do Tratado sobre o Espaço Exterior, e integrou a convenção das Nações Unidas para o registo de objetos espaciais, presumivelmente num esforço para enfatizar a

“legitimidade“ do seu programa espacial e as suas anunciadas intenções pacíficas. Na primavera de 2009 - e apesar da moratória sobre teste de mísseis das Nações Unidas - a Coreia do Norte usou um lançador Unha-2 (cujos dois primeiros andares são derivados do

Taepodong II (Savelsberg, 2013, pp. 2-3) para colocar em órbita um satélite Kwangmyŏngsŏng-2, lançamento esse que falhou, provavelmente por falha na ignição do terceiro estágio (Covault, 2009, cit por Savelsberg, 2013, pp. 2-3). Certamente não será coincidência que a Coreia do Sul tenha pouco antes anunciado planos para efetuar o seu primeiro lançamento a partir do seu centro espacial de Naro.

Em abril de 2012, ocorreu uma nova tentativa de colocação em órbita de um satélite, o Kwangmyŏngsŏng 3, a partir do centro espacial de Sohae, com recurso a um lançador Unha-3. O lançamento terá falhado devido a falha na combustão do primeiro andar. Este lançamento terá violado as resoluções 1718 e 1874 do Conselho de Segurança das Nações Unidas que obrigavam à suspensão de todos os testes de mísseis e de todas as atividades relacionadas com o programa de mísseis balísticos do país. O Conselho de Segurança veio mesmo a “deplorar” o teste realizado. Um segundo exemplar, o Kwangmyŏngsŏng 3-2 foi colocado em órbita com sucesso a 12 de dezembro de 2012 (Gunter, 2014), tornando-se assim a primeira pequena potência a deter a capacidade de lançamento de satélites.

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23

b. Malásia

A Malásia é uma pequena potência, com um programa espacial repleto de especificidades pouco vulgares. Na verdade, tem um papel muito ativo, agigantando-se quer no que toca à sua participação em fora internacionais sobre o espaço, quer no que toca à atividade e quantidade de satélites que já tem em órbita: seis. Embora a Malásia tenha feito uso de dados de deteção remota fornecidos por terceiros desde 1970 para gestão dos seus recursos florestais (Burleson, 2005, pp. 191-192), o seu programa espacial próprio apenas surgiu após a decisão governamental de estabelecer o Centro de Deteção Remota da Malásia, em 1988, e um planetário nacional em 1989. Segundo a ex-líder do programa espacial, Mazlan Othman, “O público malaio estava distante no que se refere ao espaço” (International Astronautical Federation, s.d.). Com a construção do planetário, população e governo começaram a ficar galvanizados com o espaço. Com a nomeação da astrofísica Mazlan Othman, como diretora do gabinete das Nações Unidas para os assuntos do espaço exterior (UNOOSA), em Viena em 1999, o papel da Malásia no espaço foi reforçado. Em 2002, o primeiro-ministro Mahathir Mohamed, chamou Othman de regresso à Malásia, com a missão de erigir uma agência espacial nacional, conhecida na Malásia como Angkasa. Nas palavras de Othman, “O comprometimento do país em estabelecer aquele programa teve em consideração os benefícios políticos, quer a nível doméstico como internacional, de ter um programa espacial” (International Astronautical Federation, s.d.). O programa espacial focou-se na aquisição de dados relevantes e tecnologia espacial para uso nos domínios da “agricultura, florestas, geologia, hidrologia, ambiente, zonas costeiras, biologia marinha, topografia e aplicações socioeconómicas” (Burleson cit. por Moltz, 2012, p.168).(International Astronautical Federation)

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24 Malásia e a Surrey Satellite (britânica, que em 1993 esteve envolvida na construção do Português PoSat-1) - o TiungSat-1. Este satélite, com cerca de 50Kg, além do sistema de comunicações do tipo store and forward, carregava também experiências científicas e uma câmara multiespectral (Krebs, 2014), tal como o português contemporâneo, o PoSat-1. De forma a melhorar e expandir as suas capacidades de comunicações, a Malásia adquiriu o

Measat-3 à Boeing, o qual foi lançado em dezembro de 2006, tendo uma vida prevista de quinze anos (Krebs, 2014).

Em 2007, o médico-cirurgião Dr. Sheikh Muszaphar Shukor tornou-se no primeiro cosmonauta malaio, tendo entrado no espaço em 10 de outubro de 2007 a bordo da nave

Soyuz TMA-11 para uma missão na Estação Espacial Internacional (ISS), junto com o cosmonauta russo Yuri Malenchenko e a astronauta norte-americana Peggy Whitson. O caráter político desta decisão foi evidente nas palavras que o primeiro-ministro terá dirigido à diretora-geral da agência espacial: “Na minha opinião, de tempos a tempos, surge um projeto que pode unir a nação. Este é um desses projetos” (International Astronautical Federation, s.d.). Em 2013 o ministro-adjunto, Abu Bakar Mohamad Diah, anunciou a intenção de enviar mais dois astronautas à ISS, em 2016: “Estamos agora a estudar várias matérias, incluindo o envio de dois astronautas e a condução de experiências

na ISS, que irão beneficiar a nação” (Free Malasia Today, 2014).

Em julho de 2009, o satélite de deteção remota RazakSat, construído em cooperação com a Coreia do Sul em instalações da empresa Satrec deste último país (Wood & Weigel, 2012, p. 5), foi colocado em órbita por um lançador norte-americano. O projeto também promoveu o programa espacial malaio internacionalmente, despertando interesse nas suas imagens de alta resolução de países asiáticos, da América Latina e África, segundo Maximus Ongkili, Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação da Malásia (Malaysian National News Agency, 2009). O seu principal propósito é a recolha de dados oceanográficos e meteorológicos da região equatorial do globo.

Após servir como diretor-geral da agência espacial nacional entre 2002 e 2007, Othman regressou à sua posição anterior, como chefe do gabinete para os assuntos do espaço exterior das Nações Unidas (UNOOSA, 2014). Desta forma, a Malásia está representada ao mais alto nível nas organizações internacionais relacionadas com o espaço.

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c. Tailândia

A Tailândia tem um vasto leque de motivos para se interessar pelos benefícios de ter acesso a produtos do espaço, visto enfrentar uma série de problemas relacionados com a gestão dos seus recursos naturais, riscos de segurança (passados e presentes) decorrentes da sua vizinhança, e uma insurgência doméstica financiada pelo cultivo, processamento e venda de drogas. Devido às relações que tem com os EUA, China, e mais recentemente com o Japão, a Tailândia tornou-se num utilizador experiente de dados de satélites estrangeiros. Estabeleceu bases sólidas para o desenvolvimento e crescimento da sua indústria aeroespacial, graças à cooperação com potências espaciais mais desenvolvidas e desde 2004 passou a construir os seus próprios satélites (Moltz, 2012, p. 182).

Em 1966 começou a utilizar o espaço, tornando-se membro da Intelsat (para as comunicações internacionais) e mais tarde da Inmarsat (para as comunicações móveis). A primeira utilização de imagens de satélite para observação de recursos naturais deu-se em 1971, através de colaboração com a Agência Espacial Norte Americana (NASA) no projeto Earth Resource Technology Satellite (ERTS), tendo posteriormente passado a receber também imagens de satélites da Índia e França (Sujate, 2014, p. 1). Para usar esta informação, estabeleceu o Thailand Remote Sensing Program, que ter-se-á tornado numa divisão do National Research Council of Thailand em 1979. Em 1982, o governo construiu uma estação de terra para receção de dados dos satélites LANDSAT, SPOT, NOAA, ERS e MOS. De forma a construir uma base de dados nacional de informação de sensores remotos oriundos de fornecedores externos, a Tailândia estabeleceu o Geo-Informatics and Space Coordinating and Promotion Section no Centro de Informação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ambiente, em 1993 (GISTDA, 2014). Esta medida organizacional foi o passo necessário para o lançamento do primeiro satélite geoestacionário de comunicações tailandês, o Thaicom-1, construído pela norte-americana Hughes Corporation, em dezembro de 1993 (Gunter, 2014). Um segundo satélite Thaicom-2 foi lançado no ano seguinte. Para operar esta nova rede de satélites, foi estabelecida a

Shinawatra Satellite Company, posteriormente renomeada de Thaicom.

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26 Em 1997 foi lançado o Thaicom-3, construído pela francesa Aerospatiale o qual foi operado até 2006, altura em que por motivos técnicos foi colocado numa órbita superior (Gunter, 2014).

Em agosto de 2005, a Arianespace lançou o Thaicom-4 (ou iPStar), que era, à data, o maior satélite alguma vez colocado em órbita geoestacionária. Este satélite, construído pela norte americana Space Systems/Loral, providencia serviços de banda larga à extensa região da Ásia-Pacífico (Loral Space & Comunications, 2005). Empresas australianas estão entre os principais utilizadores deste satélite, para difusão de rádio e televisão na banda Ku.

Em novembro de 2000, a Tailândia reformou a sua organização para o setor do espaço, criando o Geo-Informatics and Space Technology Development Agency (GISTDA) como organização pública. Em colaboração com o setor privado, iniciou a venda de imagens adquiridas pelo satélite Ikonos com uma resolução espacial máxima de um metro (Chulalongkorn University, 2005, p. 10). Em 2004 a GISTDA assinou um contrato com a EADS-Astrium para co-desenvolvimento do satélite de observação da terra Theos, o qual foi colocado em órbita baixa em outubro de 2008, por um lançador Russo Dnepr. A GISTDA está atualmente a desenvolver uma rede mundial de distribuidores para colocar dados do Theos no mercado internacional (GISTDA, 2014).

Em janeiro de 2014 foi colocado em órbita o Thaicom 6/AfriCom 1, destinado à difusão de rádio e televisão para as regiões de África e Ásia (Gunter, 2014).

Embora a Tailândia tenha cooperado extensivamente com a França e com o Japão, o governo decidiu participar em programas de treino e pesquisa conjunta com a China, através da Asia-Pacific Workshop on Multilateral Cooperation in Space Technology and Applications (AP-MCSTA). Em 1982, participou no primeiro encontro em Pequim, e desde então tomou parte em todos os seus principais eventos (Moltz, 2012, p. 184). Participou no projeto Small Multi-Mission Satellite (SMMS) com a China e Irão (Chulalongkorn University, 2005, p. 11) e tem planos para ampliar a cooperação com este grupo de países de forma a promover as oportunidades de educação e pesquisa na área do espaço. De fato, a Tailândia tornou-se um membro formal da APSCO (liderada pela China), o que indicia uma vontade de aproximação ao programa espacial chinês.

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27 iniciou o mestrado em tecnologia espacial e geoinformática, colocando em ambos os casos o foco na manufatura de hardware espacial e no uso de dados com origem no espaço.

Em janeiro de 2010 a Tailândia acolheu a 16ª conferência anual do APRSAF, onde teve a oportunidade de apresentar o seu programa de estações de terra Theos. Com mais de 300 participantes, esta conferência deu um novo impulso ao programa espacial tailandês. Quanto a projetos futuros, a Universidade Técnica de Mahanakorn pretende colocar um microssatélite do tipo Cubesat, como plataforma demonstradora do desenvolvimento de tecnologia, pretendendo que os jovens engenheiros tailandeses ganhem experiência, preparando-os para a próxima tecnologia de satélites de grandes dimensões (Sujate, 2014).

d. Vietname

O Vietname tem uma longa, mas descontínua, história no setor do espaço. Em 1980, o seu primeiro e único cosmonauta, Pham Tuan, voou a bordo de um lançador russo em direção à estação espacial Salyut 6. Contudo, devido às dificuldades económicas e ao seu relativamente baixo nível de desenvolvimento tecnológico, poucas atividades no domínio do espaço se seguiram na década subsequente a este evento. Como parte da sua ambiciosa reforma económica, levada a cabo desde 1990, tendo em vista a abertura do país ao exterior, o Vietname iniciou um programa espacial envolvendo extensa cooperação com

um conjunto de países maioritariamente do “mundo ocidental”. Estes esforços iniciaram-se principalmente depois de 1995, quando o Vietname iniciou um projeto para aquisição de um satélite de comunicações, como forma de modernizar a sua própria indústria de telecomunicações (Moltz, 2012, pp. 185-186), projeto que assumiria forma em 2008 com o lançamento do Vinasat-1, para difusão na banda Ku de rádio e televisão. Manufaturado pela Lockheed Martin Commercial Space Systems, teve a importante missão de melhorar as telecomunicações no Vietname transmitindo rádio e televisão e providenciando comunicações telefónicas para todos os territórios do país, melhorando a rede nacional de comunicações, removendo a dependência de redes terrestres e permitindo uma cobertura de 100% das comunidades rurais, permitindo a todos a possibilidade de uso de telefones e receção de televisão (Arianespace, 2008).

Em maio de 2012, colocou em órbita o Vinasat 2, assegurando-lhe a manutenção dos direitos sobre a posição orbital dos 131.8º Oeste e a expansão das suas capacidades de difusão de rádio e televisão com mais 24 transponders.

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28 satélite do tipo Cubesat, o F-1, que incluía uma câmara de baixa resolução, um magnetómetro de três eixos e vários sensores de temperatura. Contudo, após a sua colocação em órbita em julho de 2012, nunca foi recebido nenhum sinal.

O Japão lançou em 2013 o satélite vietnamita Pico Dragon (do tipo Cubesat, com cerca de 2kg) com sensores remotos, na sequência de programa cooperativo, envolvendo assistência técnica da Agência Espacial Japonesa (JAXA).

Na sequência de uma iniciativa do governo para a criação de uma infraestrutura espacial que permitisse ao Vietname uma melhor monitorização e estudo dos efeitos das mudanças climáticas, prever e tomar medidas para prevenção de desastres naturais e otimização dos seus recursos naturais, surgiu o programa que em maio de 2013 colocou em órbita o satélite de observação da terra VNREDSat-1a e desenvolveu os sistemas de terra associados. O sistema inclui capacidade de captura de imagens com resolução de 2,5 metros e a capacidade de receção e tratamento das imagens reside numa estação de terra multi-satélite operada pelo Ministério dos Recursos Naturais e Ambiente (Satellite-evolution, 2010, pp. 52-53).

Entre outros contactos, o Vietname beneficiou em especial com o treino no âmbito do programa Official Development Assistance do Japão e da organização APRSAF. Outras atividades de cooperação envolveram a ESA, assim como companhias e universidades nos EUA, Coreia do Sul e Malásia. Adicionalmente, o Vietname participou em fora

promovidos pelo gabinete para os assuntos do espaço exterior das Nações Unidas (Moltz, 2012, pp. 185-186).

Quanto a projetos futuros, a academia vietnamita de ciência e tecnologia (VAST) contratou em março de 2012 a construção do satélite VNREDSat 1b, destinado à observação da terra, com 130Kg, e que tem data prevista de lançamento para 2017.

No âmbito da observação da terra, o Vietname já encomendou mais dois satélites denominados de JV-LOTUSat, ao Japão. O primeiro satélite será construído no Japão pela NEC, enquanto o segundo será no Vietname (a lançar em 2017 e 2020 respetivamente) (Chung, 2012, pp. 21-24).

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4. O poder espacial das pequenas potências europeias

Ao contrário da situação na Ásia, na Europa existe uma profunda cultura de cooperação nos assuntos do espaço. Exemplos disso são a organização europeia para a exploração de satélites meteorológicos (EUMETSAT), a ESA, o Centro de Satélites da UE (EUSC) ou os programas da Comissão Europeia para o Espaço.

Na conferência de plenipotenciários decorrida em Genebra a 24 de maio de 1983, foi assinada a “Convenção para o estabelecimento do EUMETSAT”. O programa EUMETSAT tem como principal atividade operar e fornecer dados de satélites em conjunto com produtos e serviços que providenciam dados importantes para o desenvolvimento de conhecimento na área da meteorologia. A contribuição financeira para esta organização é determinada tendo em conta a dimensão de cada estado, mas não existe uma política de retorno industrial de base geográfica, pelo que países como Portugal têm demonstrado dificuldades em fornecer bens e serviços à organização, pois não há mecanismos de garantia de retorno à indústria nacional do investimento efetuado.

Quanto à ESA, as suas atividades podem ser agrupadas em duas categorias

distintas: os programas “obrigatórios” e os programas “opcionais”, sendo que estes últimos garantem um retorno de investimento de base geográfica. Os programas obrigatórios8 são subscritos necessariamente por todos os estados membros da ESA, sendo a contribuição de cada um calculada com base no seu PIB. Os opcionais são escolhidos livremente por cada estado, mediante a sua capacidade financeira e a sua visão para o espaço.

Como elemento de apoio da UE à tomada de decisões no campo da Política Europeia de Segurança Comum (PESC), o EUSC apresenta-se como elemento dedicado à exploração e produção de informação (intelligence) derivada da análise de imagens satélite e informação geoespacial. A sua missão está explicitada no artigo segundo da Joint Action:

“fornecer em tempo útil, informações geoespaciais relevantes e precisas para garantir uma

sólida base de conhecimentos para o planeamento, tomada de decisão e uso operacional”. O centro de satélites é uma agência do Conselho da União Europeia, e o seu conselho de administração é composto por representantes dos Estados-Membros e da Comissão Europeia (EUSC, 2013). Ao nível da atividade recente deste centro, destaca-se o suporte à

8 Inclui o programa Científico, o General Studies Programme, o Technology Research Programme e também

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Tabela I  –  Áreas de missão espacial da NATO
Tabela II  –  Capacidades espaciais.
Tabela III  –  Posição na hierarquia de poder das pequenas potências em estudo.
Tabela IV  –  Número de satélites das pequenas potências em estudo, colocados em órbita com sucesso
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Referências

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