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PALAVRAS-CHAVE: sistema condominial, SaniBID, QGIS, esgotamento sanitário, projeto de rede coletora.

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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

II-087 - INVESTIGAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DE PROJETOS DE SISTEMAS CONDOMINIAIS ELABORADOS EM AMBIENTE SIG-SANIBID

PARA REGIÕES URBANAS COM DENSA OCUPAÇÃO.

Rafael Nunes Meireles

Engenheiro Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Vivien Luciane Viaro (1)

Engenheira Civil. Mestre e Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora e Pesquisadora do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia – (UFBA).

Flávia dos Reis Rebouças.

Engenheira Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Perícia, Auditoria e Gestão de Projetos pela Faculdade Oswaldo Cruz. Consultora do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Engenheira da IPJ Engenharia Ltda.

Ivan Correia de Oliveira Paiva Júnior

Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Sócio fundador da IPJ Engenharia Ltda.

Endereço(1): Rua Professor Aristídes Novis, Nº 2 – Bairro: Federação, Salvador - BA, 40210-630- Brasil - Tel:

(71) 32839786 - e-mail: vivien.viaro@ufba.br RESUMO

Esse trabalho visou comparar sob o ponto de vista técnico e econômico, um projeto de sistema condominial e um convencional, ambos elaborados no ambiente virtual SaniBID vinculado ao QGIS, dando ênfase a regiões de densa ocupação, utilizando dados reais provenientes do Arraial do Cabula, localizado na cidade de Salvador, no estado da Bahia. Verificou-se que a opção pelo sistema condominial permitiu maior alcance no atendimento da população na região de estudo, abrangendo 670 lotes, o equivalente a população total considerada, enquanto o sistema convencional abrangeu apenas 321 lotes. O projeto condominial apresentou uma rede coletora com 589 metros de comprimento e o projeto convencional teve sua rede coletora com extensão de 1539 metros. Concluiu-se a partir dos resultados obtidos com essa pesquisa preliminar, que o sistema condominial, embora seja um modelo não tão difundido, demonstra relação custo-benefício favorável e deve ser considerado como alternativa na etapa de concepção de projetos de esgotamento sanitário, principalmente em localidades que solicitam maior flexibilidade na definição do traçado da rede coletora de esgoto.

PALAVRAS-CHAVE: sistema condominial, SaniBID, QGIS, esgotamento sanitário, projeto de rede coletora.

INTRODUÇÃO

O Brasil ainda se encontra no grupo dos países onde a grande maioria da população não dispõe de sistema de coleta, tratamento e destinação adequada de esgoto, tornando-se um privilégio para poucos. Corroborando com essa afirmação observam-se os índices de cobertura, em termos de coleta de esgoto, que alcançam 61,4%

da população urbana brasileira. Ademais, a parcela de esgoto coletado não é em sua totalidade destinado para o tratamento, seguido por seu descarte em algum manancial previamente verificado quanto ao seu enquadramento. (ANA, 2017).

Ao se considerar os bairros periféricos dos centros urbanos, em sua maioria, tratam-se de constituições espontâneas sem nenhum acompanhamento técnico, com características peculiares, tais como: a inexistência de espaços de convivência e de circulação; sistemas viários rudimentares compostos por becos, vielas e escadarias estreitas e instáveis, até para o uso corriqueiro dos residentes locais; a ocorrência de desfavoráveis situações topográficas; elevadas densidades habitacionais e, por último, e não menos importante, a violência que se faz presente diuturnamente (MELO, 2008).

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Então, fica evidente a necessidade de “engenhar” nessas localidades, tendo como prioridade a coleta e a destinação adequada dos efluentes domésticos. E foi nesse contexto, que o sistema condominial foi desenvolvido na Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), no início da década de 1980, com a participação do consultor José Carlos de Melo, e a assistência técnica do professor Cícero Onofre de Andrade Neto, do Departamento de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (MARA, D.; SLEIGH, A.; 2001).

A partir das primeiras iniciativas registradas no estado do Rio Grande do Norte, outras cidades brasileiras se dispuseram a utilizar sistemas condominiais, como por exemplo, Petrolina, Recife, Cuiabá, Joinville (NANCE, et.al., 2007) e Guarulhos (SOBRINHO, et.al., 2015). No entanto, ressaltam-se as experiências no Distrito Federal e na cidade do Salvador, como representativas no que se refere à abrangência dos projetos de sistemas condominiais em seus perímetros urbanos e no atendimento da população.

A experiência no Distrito Federal pode ser considerada como bem-sucedida, respaldada em decisões políticas firmes com relação à escolha da tecnologia, comunicação clara com o público, adaptação interna da concessionária frente ao novo modelo, como também, na adoção do sistema condominial como modalidade de esgotamento aplicável em localidades de diversos estratos sociais. Vale destacar que a partir do ano de 1992, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) passou a adotar apenas o modelo condominial para o esgotamento sanitário, após comprovar menores custos e a garantia de qualidade nos serviços prestados à população (MELO, 2008).

Em relação à cidade do Salvador, no estado da Bahia, pode-se vincular a aplicação de sistemas condominiais a um contexto com enormes desafios de engenharia superados pela equipe técnica, responsável pela elaboração dos projetos e execução das obras. Entretanto, cabe destacar que somente em 1997, foi considerado como prioridade em toda a cidade, independentemente do tipo de topografia, estilo de urbanização ou renda das populações beneficiadas pelo programa, fortalecido pelo reconhecimento local sobre suas vantagens frente ao sistema convencional, respaldado pelas experiências da equipe técnica em anos anteriores. (MELO, 2005).

Outro contexto a se considerar sobre o município do Salvador, é o registro de dados que corroboram a relação entre as manifestações de doenças contagiosas e contaminações e a existência ou não, de esgotamento sanitário em uma determinada localidade. Por meio de estudos realizados no município do Salvador, constatou-se a redução de taxa de diarreia infantil em grupos de crianças na fase de 0 a 36 meses de idade, selecionadas aleatoriamente em 24 áreas-sentinela, acompanhadas antes e após as intervenções de saneamento.

De acordo com os resultados obtidos, resumidamente, os autores observaram redução global na diarreia em 22% e 43% nas áreas consideradas de alto risco, (BARRETO, et.al. 2018).

Considerando o sistema condominial, como um modelo brasileiro capaz de auxiliar na redução de regiões urbanas caracterizadas como vulneráveis, ao mesmo tempo que reflete possibilidades de redução de custos com o projeto, faz-se necessário destacar experiências em outros países, como por exemplo, no Equador (MOSQUERA, 2019), na Bolívia, Guatemala e Peru (MARA, 2013). No que se refere à experiência do Peru, foram concebidos projetos pilotos de sistemas condominiais no Peru, pela Servicios de Agua Potable y Alcantarillado de Lima - SEDAPAL, em algumas localidades previamente selecionadas. Comparando os custos dos pilotos com os envolvidos na implantação de um sistema convencional, foi possível constatar uma economia entre 30 e 60% a favor dos pilotos, devido à menor extensão das redes, ao menor diâmetro das tubulações e a menor profundidade dos ramais condominiais. (MENDONÇA, 2006).

As experiências relatadas sobre sistemas condominiais no Brasil e em outros países possibilitam considerar sistemas condominiais como alternativa para a ampliação dos serviços de esgotamento sanitário, visando garantir o bem-estar da população. Entretanto, como registrado no trabalho de Mara (2013), constatou-se o desconhecimento sobre sistemas condominiais, por parte de engenheiros que compõem equipes técnicas de concessionárias, instâncias públicas e privadas. Assim, a tecnologia sistemas condominiais necessita de mais de visibilidade por meio de maior divulgação dos resultados obtidos em experiências práticas.

Nesse contexto, o SaniBID foi desenvolvido com a finalidade de promover o livre acesso a ferramentas de apoio para o projeto de sistemas de esgoto abrangendo funcionalidades adaptadas para o projeto de sistemas de esgoto do tipo condominial, atrelado a um Sistema de Informações Geográficas gratuito, como o QGIS.

Esta ferramenta já foi utilizada na concepção de oficinas e projetos de sistemas condominiais para as cidades de Cabo Haitiano - Haiti e Santiago de Los Caballeros, República Dominicana (MONFORTE, 2019).

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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 Atualmente, o QGIS-SaniBID, tem sido utilizado em pesquisas de difusão de conhecimento técnico-científico e capacitação prática sobre projetos voltados para o município do Salvador, capital do estado da Bahia.

OBJETIVO

Comparar sob o ponto de vista técnico e econômico um projeto de esgotamento sanitário por meio do sistema condominial e convencional para regiões de densa ocupação elaborado no ambiente virtual SIG-SaniBID.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa foi desenvolvida, com vistas à uma análise comparativa entre dois projetos, ambos concebidos no ambiente virtual do plugin SaniBID, vinculado ao Sistema de Informações Geográficas - SIG. A análise comparativa respaldou-se em projetos elaborados para uma área real definida na cidade do Salvador, no estado da Bahia.

PREPARAÇÃO DO AMBIENTE VIRTUAL SIG-SANIBID PARA A ELABORAÇÃO DOS PROJETOS.

Para instalação do SaniBID, foi necessário ter previamente instalado o software QGIS e ter no computador o arquivo de instalação do plugin “SaniBID RedBasica-master” e a planilha de dimensionamento hidráulico do SaniBID em formato xslx “SaniBID_RedBasica_Planilha_Dimensionamento_PT_v01907”. Foi utilizado a versão QGIS 3.4, que ao ser acessado na aba “Complementos”, adicionou-se o plugin SaniBID nele pedindo a exibição das barras de ferramentas no painel do QGIS.

Em seguida, houve a conversão das plantas das quadras do formato “.dwg” para o formato “.dxf”, a fim de poder lançá-las no QGIS, como camadas vetoriais, delimitando as ruas e lotes. Em seguida, foi preciso estabelecido o Sistema de Referência de Coordenada (SRC), para garantir a interligação entre as camadas. Por fim, adicionou-se a coordenada referente à cidade de Salvador: o Sistema de Coordenadas Planas UTM - Zona 24S, utilizando o Sistema Geodésico de Referência WGS84.

Após o lançamento de camadas foi adicionado o complemento "SRTM downloads", de maneira análoga à adição do SaniBID. Usando esse complemento, na opção "set canvas extent", baixou-se o modelo digital do terreno, da base de dados da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA). Em seguida, foram reprojetadas as coordenadas dessa camada raster, gerando-a em formato ".tif" (extensão inicial “hgt").

De posse do modelo digital, os traçados foram elaborados respeitando os padrões técnicos vigentes na literatura e normas técnicas. Ao término da parte gráfica, utilizou-se arquivos em formato “.csv” que, a partir da ferramenta “exportar dados” conectou cada projeto com a sua respectiva planilha de dimensionamento do SaniBID (Excel®). Durante a etapa de dimensionamento, os parâmetros hidráulicos utilizados em cada projeto, foram os seguintes: Consumo per capita de água: 150 L/hab.dia; Coeficiente diário de máximo consumo (K1) = 1,2; Coeficiente horário de máximo consumo (K2) = 1,50; Coeficiente de retorno igual a 0,80 e Taxa de infiltração igual a 0,1 L/s.km.

AVALIAÇÃO DOS PROJETOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO CONVENCIONAL VERSUS CONDOMINIAL.

As avaliações de compatibilidade dos projetos com a área de estudo respaldaram-se nas especificidades previstas em localidades de ocupação densa, as quais estão presentes em diversos municípios brasileiros, e que se vinculam com as orientações existentes na NBR 9648:1986 (ABNT, 1986) sobre a identificação das características da região, capacidade de instalações preexistentes e a indisponibilidade de atendimento da população residente e prevista em projeto. Assim, foram registradas e avaliadas situações consideradas como pontos críticos tais como: sobreposição entre as áreas privadas e públicas; disponibilidade de área pública para o traçado convencional; capacidade de adaptação do traçado frente às interferências registradas na etapa de reconhecimento da área e de concepção dos projetos básicos.

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O dimensionamento dos projetos baseou-se na NBR 9649:1986 (ABNT, 1986), obedecendo aos parâmetros técnicos presentes na norma supracitada junto com a adoção das leis da hidráulica tradicional e abordadas na literatura técnica especializada.

A avaliação econômica foi comparativa entre os sistemas condominiais e convencionais, apoiada em informações fornecidas por meio das planilhas de dimensionamento, plantas, quantitativo de materiais e serviços e o orçamento final de cada projeto. A base para os preços dos serviços e materiais utilizada considerou os dados da companhia de saneamento local, a Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.

(EMBASA), referente ao ano de 2017. O orçamento final foi resultado das etapas de construção referentes à rede coletora; ramais condominiais/prediais; ligações intra-domiciliares; estação elevatória e linha de recalque (MEIRELES, 2019).

RESULTADOS E DISCUSSÕES ÁREA DE ESTUDO

O bairro selecionado para o projeto de esgotamento sanitário foi o Arraial do Cabula, localizado na Bacia do Alto Camurujipe, na cidade do Salvador, no estado da Bahia, com cerca de 8 hectares de área total. O sistema de redes de esgoto da Bacia do Alto Camurujipe concluiu suas obras da maioria das sub-bacias no ano de 2002, integrando-se ao sistema de coleta público. Porém, a região do Arraial do Cabula, representada por meio de vista aérea na Figura 01, não foi contemplada com redes coletoras de esgotos e ramais domiciliares. Como justificativa, pontua-se alterações locais tardias, decorrentes de um processo de adensamento posterior ao ano de conclusão das demais obras (2002) (MEIRELES, 2019).

Figura 01 – Vista aérea da região do estudo no Arraial do Cabula. Fonte: Google Earth (2019).

O bairro do Arraial do Cabula localiza-se entre a Avenida das Barreiras e o loteamento Santa Barbara, sendo caracterizado pela ocupação desordenada dos espaços, entretanto, apresenta ruas definidas que favorecem o acesso às unidades residenciais. A alta densidade populacional está presente no bairro, com lotes sem espaço para o assentamento de redes de coleta de esgoto. Ademais, a região configura-se pela existência de relevo irregular, com a formação de vales e ladeiras (MEIRELES, 2019).

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PROJETOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO CONVENCIONAL E CONDOMINIAL.

Para a integração da região retratada na Figura 1, ao sistema de esgotamento sanitário de Salvador, foram elaborados os projetos de rede coletora de esgoto para este microssistema, considerando tanto o sistema convencional como o sistema condominial, ambos elaborados no ambiente virtual SIG - SaniBID.

O projeto convencional foi iniciado com a definição de seus trechos, visando atender ao número máximo de lotes até a estação elevatória, vinculando-a com as demais etapas previamente existentes do sistema público de rede de esgoto. Na elaboração do projeto de sistema condominial, cabe destacar que o seu traçado se baseou na determinação de cada quadra enumerada, e as suas respectivas contribuições, sendo essas direcionadas para

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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 os pontos mais baixos identificados para cada quadra avaliada. Por fim, em ambos os casos, os trechos das redes coletoras tiveram extensões inferiores a 100 metros, atendendo ao limite preconizado na NBR 9649:1986 (ABNT, 1986).

De acordo com os conceitos constantes na literatura técnica, o projeto de sistema condominial elaborado no Arraial do Cabula, pode ser enquadrado no padrão “ramal de fundo de lote”, visto que a maioria de seus ramais condominiais foram alocados em áreas presentes no fundo das edificações, entre as residências. O sistema convencional seguiu o protocolo padrão de saída de seus ramais prediais apenas defronte à rua, ocorrendo a ligação direta de cada lote com a rede coletora. As Figuras 02 e 03 representam esquematicamente os traçados das redes convencional e condominial, elaborados no ambiente virtual SIG-SaniBID, respectivamente.

Figura 02 – Traçado da rede coletora do sistema convencional no ambiente virtual SaniBID.

Fonte: Meireles (2019).

Figura 03 – Traçado da rede coletora do sistema condominial no ambiente virtual SaniBID.

Fonte: Meireles (2019).

Cabe destacar que, na fase de elaboração dos traçados, foi pontuado a ocorrência em um lote, de inclinação contrária ao fluxo de esgoto em direção à rede coletora pelo projeto convencional, ainda que esse lote estivesse presente defronte ao passeio. Essa situação foi percebida na quadra 13 (Figura 03), a qual possui cerca de 5 lotes com a fachada frontal para a Rua Direta do Arraial, localizada em cota superior em relação a cota das casas. Essa situação, ilustra de forma significativa, a flexibilidade do sistema condominial, uma vez que, esses lotes despejam seu esgoto por meio do ramal condominial, passando pelos demais lotes, na cota inferior do trecho da rede coletora presente na rua localizada em lado contrário, denominada como Santa

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Barbara. Devido a essa flexibilidade, o sistema condominial é denominado por alguns como: ”o sistema que passa por onde pode”.

Após a definição do traçado e o dimensionamento do projeto de esgotamento sanitário convencional e condominial, realizaram-se as verificações hidráulicas para atestar o atendimento aos parâmetros estabelecidos na norma supracitada. Em ambos os dimensionamentos avaliados, os valores de lâmina d’agua ficaram na faixa de valores entre 11 e 50%, e as velocidades de escoamento corresponderam a valores no intervalo de 0,4 a 1,4 m/s. Em relação à velocidade crítica e a tensão trativa, todos os valores avaliados atenderam aos limites estabelecidos na NBR 9649:1986 (ABNT, 1986). Por fim, em ambos os projetos, o diâmetro nominal em todos os trechos foi correspondente ao valor de 150mm, o que representa maior economia por meio da padronização dos materiais.

Os preços dos serviços e materiais necessários à implantação de cada sistema foram obtidos com base nos preços da concessionária local (EMBASA), referentes ao ano de 2017. Considerou-se um BDI para os serviços de 26,2% e para materiais de 13,3% respeitando os padrões previamente estabelecidos em outras etapas de esgotamento sanitário da região. Por fim, os valores para a execução de cada etapa do projeto e os valores totais do orçamento, são discriminados no Quadro 01.

Quadro 01 – Orçamentos finais do sistema condominial e convencional no Arraial do Cabula.

Itens Condominial (R$) Convencional (R$)

Total rede coletora 351,470.32 598,074.08

Total ramais condominiais/prediais 327,915.92 125,773.50

Total estação elevatória 348.533,55 348.533,55

Total linha de recalque 33.910,14 33.910,14

Total materiais 185.416,07 157.108,07 Total geral (serviços e materiais) 1.247.246,00 1.263.399,33 Fonte: Elaborados pelos autores.

Com todas as quantidades calculadas multiplicando-as com seus respectivos preços, foram obtidos os valores para a execução de cada etapa do projeto e os valores totais do orçamento, discriminado no quadro 03.No que se refere ao atendimento da população considerada no Arraial do Cabula, o projeto de sistema condominial abrangeu 100% da população, correspondente ao atendimento de 670 lotes. Entretanto, o projeto de sistema convencional forneceu atendimento a apenas 321 lotes, representando 48% da população considerada na área de estudo (Quadro 02).

Outro parâmetro importante analisado foi a extensão total da rede coletora em cada um dos projetos realizados. Pois, o quantitativo de tubulações e seus acessórios repercutem diretamente no orçamento final da obra e no investimento financeiro necessário para a sua execução. Assim sendo, a rede básica condominial e a rede coletora convencional resultaram em comprimentos totais iguais a 586 metros e 1539 metros, respectivamente. Correlacionando esses valores com os custos inerentes à aquisição de materiais e aos serviços relacionados com a etapa de implantação da obra, o projeto da rede coletora convencional implicaria em custo superior a quase 3 vezes, quando comparado com o projeto da rede condominial.

Contudo, quando comparadas as extensões totais dos ramais prediais e os ramais condominiais, constata-se uma grande diferença na extensão dessas tubulações. Os ramais condominiais totalizaram 2101 metros de tubulação, e os ramais prediais um comprimento total de 200 metros. Isso se dá pelo fato de que o sistema condominial possui seguimento único e interno à cada quadra, tornando-se responsável por receber a contribuição de cada unidade residencial até o ponto de menor cota. Já o sistema convencional, efetiva apenas a conexão entre os lotes com rede coletora prevista defronte ao passeio, resultando em menores extensões de ramais (Quadro 02).

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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7 Quadro 02 – Alcance e extensões dos ramais e da rede básica obtidos nos projetos de esgotamento

sanitário.

Itens Condominial Convencional

Lotes atendidos 670 321

População atendida (Hab.) 2.345 1.124

Extensão de ramais condominiais (m) 2.101 -

Extensão de ramais prediais (m) - 227,3

Extensão de rede básica (m) 585,9 1.539,2

Fonte: Elaborados pelos autores.

A extensão da rede coletora também influencia diretamente no quantitativo de movimentação de terra envolvida na obra (com a escavação, aterro e o aluguel de máquinas), e, portanto, implica em maiores gastos com a execução. Para efeito comparativo entre o convencional e o condominial, a implantação do primeiro modelo resulta no valor aproximado de 1000 m³ de solo escavado (até a profundidade de 2,00m), enquanto o modelo condominial corresponde à 403 m³ de escavação (profundidade até 2,00m). Tais resultados demonstram menor interdição de áreas e de movimentação de terra durante a execução do sistema condominial. Ademais, esse contexto também favorece a dinâmica local da comunidade, por garantir a diminuição nos transtornos decorrentes da interdição de ruas e passeios.

A partir dos orçamentos elaborados, pode-se estipular alguns indicadores a fim de realizar um comparativo preliminar com os dados obtidos na literatura técnica (Quadro 03). Segundo Melo (2008), em áreas com densidade entre 15 a 40 lotes por hectare, os custos de implantação costumam ocupar a ordem de grandeza de R$ 350,00 a R$ 600,00/lote na rede básica e, entre R$ 450,00 a R$ 800,00/lote nos ramais condominiais. O projeto condominial apresentou em seu orçamento valores condizentes com esses percentuais, resultando nos indicadores de R$ 525,00/lote para rede básica, e R$ 490,00/lote para ramais condominiais. Para efeito comparativo, o projeto convencional resultou em valores na faixa de R$1.860,00/lote na rede básica e, R$390,00/lote para os ramais prediais.

Quadro 03 – Síntese dos indicadores elaborados a partir dos projetos condominial e convencional.

Tipo de projeto Indicadores referentes ao custo total Indicadores por unidade

R$/lote R$/Hab. Rede/lote Ramal/lote

Condominial 1.290,8 368,8 524,6 489,4

Convencional 2.744,4 783,8 1.863,1 391,8

Fonte: Elaborados pelos autores.

Vale ainda ressaltar que área estudada é relativamente pequena e, ainda apresentava como limitante, a impossibilidade de alteração no valor orçamentário da estação elevatória de esgoto e a linha de recalque.

Logo, considera-se que novas oportunidades de estudo de concepção de projetos em regiões de maior porte e sem restrições orçamentárias, poderá repercutir em diferenças significativas entre a análise comparativa dos projetos, devido ao fator de escala.

Por fim, tendo em vista a continuidade desse estudo, espera-se fortalecer continuamente a difusão de conhecimento técnico-científico e a capacitação prática sobre projetos de sistemas condominiais, em localidades de maior porte ou não, mas com a necessidade de flexibilidade na elaboração do traçado da rede coletora de esgoto.

CONCLUSÕES

Por meio da pesquisa, concluiu-se:

Quanto aos sistemas de esgotamento comparados, o método condominial mostrou-se competitivo ao garantir o atendimento de 670 lotes na área do Arraial do Cabula, representando 100% da população considerada na área de estudo, em detrimento dos 48% alcançados pelo sistema convencional.

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A faixa de valores dos parâmetros hidráulicos avaliados em ambos os projetos foram semelhantes, não apresentando inconformidade com os limites preconizados na Norma NBR 9649:1986 (1986) e na literatura técnica.

O sistema convencional representa custo superior a quase 3 vezes, quando comparado com o projeto da rede condominial, na etapa de implantação da obra.

De modo geral, não foram encontradas barreiras significativas em relação ao uso do ambiente virtual SIG- SaniBID, devido à sua integração com os comandos do QGIS. Ressalta-se apenas a necessidade de o usuário possuir conhecimento prévio em SIG, principalmente no que se refere à edição de camadas/layers.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. MENDONÇA, Sergio Rolim (Coordenador). Alcantarillado Condominial - Una Estrategia de Saneamiento para Alcanzar Los Objetivos Del Milenio en el Contexto de Los Municipios Saludables. Organización Panamericana de la Salud. Lima, Perú. 2006.

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11. MELO, J. C., Sistema condominial: Uma resposta ao desafio da universalização do saneamento.

Brasília - DF: Ministério das Cidades, 2008. 376 p.

12. MONFORTE, S.P., NAZARETH, P., PAIVA JR., I.C.O., NAZARETH, L.P., Guia Rápido para uso do SaniBID., Banco Interamericano de Desenvolvimento e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento., 2019. 20 f.

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Universidad de Cuenca, Cuenca, 2019. Disponível em:

<http://dspace.ucuenca.edu.ec/handle/123456789/32242>. Acesso em: 30 out. 2019.

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