COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E CONTEÚDO MINERAL DE DIFERENTES CULTIVARES DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris
L.) BIOFORTIFICADOS
J. Kowaleski
1, D.M. Souza
1, L.F.S. Heldt
1, D.G.B. Torres
1, L.R. dos Santos
2, S.Z da Silva
2, F.
Lovato
21-Pós-Graduação
Lato Sensu em Gestão da Qualidade e Segurança de Alimentos – Faculdade de TecnologiaSenai Cascavel – CEP: 85819-760 – Cascavel – PR – Brasil, Telefone: 55 (45) 3220-5458 – Fax: 55 (45) 3220- 5400 – e-mail: (jussarakowaleski@yahoo.com.br; dyane_maschio@hotmail.com; leila.heldt@pr.senai.br;
douglas.torres@pr.senai.br)
2- Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fundetec – CEP: 85818-560 – Cascavel – PR – Brasil, Telefone: 55 (45) 3218-1220 – Fax: 55 (45) 3218-1200 – e-mail: (leonildo@fundetec.org.br;
sabrine@fundetec.org.br; frederico@fundetec.org.br)
RESUMO – Objetivou-se avaliar a composição centesimal e os teores dos minerais ferro, potássio, magnésio e sódio, de diferentes cultivares de feijão biofortificados. Foram utilizados grãos de feijão de cinco cultivares: Verde, Xiquexique, Pontal, Esplendor e Cometa. Os grãos crus foram moídos e caracterizados quanto as análises de composição centesimal e minerais. Os resultados obtidos mostraram teores de umidade de 9,69 a 13,36%, cinzas de 3,20 a 4,01%, proteínas de 18,70 a 29,45%, lipídios de 0,73 a 1,03%, fibra de 2,45 a 3,89% e carboidratos de 51,28 a 63,33%. Os teores de minerais expressos em mg/100g de amostra seca variaram de 0,63 a 1,90 para ferro; 6,93 e 356,76 para potássio; 28,91 a 88,02 para magnésio e 4,50 a 7,50 para sódio. Dentre as variedades analisadas, o feijão Verde e BRS Xiquexique apresentaram, respectivamente, maior conteúdo proteico e de minerais, portanto mais nutritivos.
ABSTRACT – This study aimed to evaluate the chemical composition and the contents of mineral iron, potassium, magnesium and sodium of different bean cultivars biofortified. Five cultivars beans were used: Verde, Xiquexique, Pontal, Esplendor and Cometa. The raw beans were ground and characterized as the analyzes of chemical and mineral composition. The results showed moisture content from 9.69 to 13.36%, ash 3.20 to 4.01%, proteins from 18.70 to 29.45%, fat 0.73 to 1.03%, fiber 2.45 to 3.89% and carbohydrates from 51.28 to 63.33%. The mineral content in mg/100g dry sample ranged from 0.63 to 1.90 for iron; 6.93 to 356.76 and potassium; 28.91 to 88.02 for magnesium and 4.50 to 7.50 for sodium. Among the varieties analyzed, the Green and BRS Xiquexique beans presented, respectively, higher protein and mineral content, therefore more nutritious.
PALAVRAS-CHAVE: cultivares de feijão; proteína; teor de ferro; valor nutritivo.
KEYWORDS: bean cultivars; protein; iron content; nutritional value.
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de feijão (Phaseolus vulgaris L.), tendo
produzido na safra 2014/2015, 3,25 milhões de toneladas. Dentre as mais de 40 variedades existentes
no país, destacam-se a produção do feijão carioca, com 52% da área cultivada com este tipo de grão,
feijão preto com 21% da área cultivada e o feijão caupi ou feijão de corda, com 9,5% da área cultivada (Conab, 2015).
A importância do feijão na alimentação brasileira se dá devido à facilidade da inserção diária deste alimento na dieta, o consumo do produto, em média, por pessoa chega a 19 quilos de feijão por ano. É um dos mais interessantes componentes da dieta alimentar, por ser reconhecidamente uma excelente fonte proteica, além de possuir bom conteúdo de carboidratos, vitaminas principalmente as do complexo B, minerais como o ferro, cálcio, magnésio, fósforo e zinco, fibras e compostos fenólicos com ação antioxidante que podem reduzir a incidência de doenças (Abreu, 2005; Silva; Rocha;
Canniatti-Brazaca, 2009).
O consumo em quantidades média a alta de feijão está sendo associado à diminuição de alguns tipos de câncer, menor incidência de doenças degenerativas e redução de doenças como diabetes, doenças cardiovasculares e até mesmo neoplasias (Aguilera; Rivera, 1992; Guzmán et al., 2007; Machado; Ferruzzi; Nielsen, 2008). Associado a outros alimentos, auxilia na redução de incidência de anemia, devido a seu alto teor de ferro. No intuito de aumentar o potencial agronômico e os valores nutricionais de variedades de feijões, alguns estudos vêm sendo desenvolvidos, principalmente, na biofortificação para elevar o teor de ferro, como o projeto BioFORT coordenado pela Embrapa, que consiste no cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivas (Brasil, 2015; Pires et al., 2005; Ribeiro et al., 2008).
A composição de carboidrato, proteína, cinzas, lipídios, umidade e fibra bruta, assim como de ferro e outros nutrientes são diferentes nas variedades de feijão, podendo ser influenciados pelas condições climáticas e sistemas de cultivos utilizados na produção (Mechi; Caniatti-Brazaca; Arthur, 2005). Nesse sentido, o presente estudo tem como principal objetivo avaliar a composição centesimal e os teores dos minerais ferro, potássio, magnésio e sódio, de diferentes cultivares de feijão biofortificados.
2. MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de feijão (Phaseolus vulgaris L.) utilizadas foram das variedades feijão Verde, feijão BRS Xiquexique, feijão BRS Pontal, feijão BRS Esplendor, feijão BRS Cometa, todas da safra 2015. Estas amostras foram fornecidas pela Embrapa Arroz e Feijão, e cultivadas na Agrotec (Escola Tecnológica Agropecuária) de Cascavel/PR. Foram analisados os grãos de feijão cru, as amostras foram trituradas em moinho de facas e peneiradas em malha de 30 “mesh” com a finalidade de obtenção de uma farinha. Essas farinhas foram armazenadas individualmente em recipiente fechado de polietileno, e mantidas em temperatura de refrigeração (4ºC).
As amostras foram avaliadas quanto aos teores de umidade, cinzas, proteína, lipídios, fibra
bruta, carboidratos e os minerais Fe, K, Mg e Na. Todas as análises foram realizadas em triplicata, no
laboratório de físico-química da Fundetec (Fundação para o Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) situada em Cascavel/PR. O teor de umidade das amostras foi estabelecido segundo
Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008) utilizando-se estufa a 105°C até que as
amostras adquirissem peso constante. As cinzas foram avaliadas por meio da incineração das amostras
em mufla à ±550°C segundo o método descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). Para a determinação
do teor de proteína utilizou-se destilador Kjeldahl e bloco digestor segundo IAL (2008) avaliando-se a
porcentagem de nitrogênio na amostra. A conversão para proteína foi realizada multiplicando-se o
conteúdo de nitrogênio total pelo fator 6,25. O teor de lipídios foi determinado pela extração das
amostras de feijão com éter de petróleo utilizando extrator Soxhlet por metodologia descrita pela
AOAC método 920.39 (1995). A análise do teor de fibra bruta foi realizada segundo metodologia
descrita pela Portaria nº 108 de 1991 (Brasil, 1991) por meio do resíduo orgânico insolúvel da
amostra, que consiste numa digestão ácida e outra alcalina e gravimetria. A determinação de
carboidratos foi realizada por diferença, subtraindo-se de 100 a soma dos teores de lipídios, proteínas, umidade e cinzas.
Os minerais Fe, K, Mg e Na foram determinados pelo método de Sarruge e Haag (1974 apud Moura e Canniatti-Brazaca, 2006, p.273), as amostras foram submetidas à digestão com ácido clorídrico e nítrico numa proporção de 2:1 com 0,3g das amostras. O aquecimento foi em bloco digestor até atingir uma temperatura de 200°C por 4 horas. Após resfriamento e diluição do material com água desmineralizada, foi realizada a leitura em espectrofotômetro de emissão atômica por plasma acoplado (ICP-OES) da Thermo Scientific. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A composição centesimal das cinco cultivares de feijão biofortificados estudadas está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Composição centesimal em base seca, de diferentes cultivares de feijão cru.
Cultivares de feijão
Análises (%)
Umidade Cinzas Proteína Lipídios Fibra bruta Carboidratos
Feijão Verde 11,25*±0,07
b3,33±0,05
b29,45±0,08ª 1,03±0,03
ab3,66±0,06ª 51,28±0,16
dBRS Xiquexique 13,36±0,03
a3,20±0,03
b22,82±0,50
b0,95±0,06
a3,89±0,47
a55,78±0,51
cBRS Pontal 11,42±0,27
b3,97±0,08ª 27,76±0,29ª 0,73±0,03
b2,65±0,15
b53,46±0,20
dBRS Esplendor 10,37±0,12
c4,01±0,12ª 18,70±1,00
c0,89±0,05
ab2,70±0,35
b63,33±1,29ª
BRS Cometa 9,69±0,24
d3,87±0,01ª 22,45±1,22
b0,88±0,18
ab2,45±0,23
b60,67±1,21
b*Valores das médias das triplicatas ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Tukey.
A umidade encontrada nas farinhas de feijão variou de 9,69 a 13,36% (Tabela 1). A análise de variância mostrou diferença significativa (p<0,05) entre as cultivares, exceto os feijões verde e BRS pontal que não apresentaram diferença significativa entre si. Os valores apresentados estão dentro do recomendável pela IN Nº 12/2008 (até 14%) para fins de comercialização (Brasil,2008) e próximos aos valores médios encontrados por Oliveira et al. (2001); Nalepa e Ferreira (2013) e Brigide;
Canniatti-Brazaca e Silva (2014), de 9,4%, 12,08% e 14,43%, respectivamente. Com relação as cinzas, houve pouca variação, diferindo-se estatisticamente (p<0,05) as cultivares verde e xiquexique das demais (Tabela 1), sendo todos os valores semelhantes aos encontrados por Mesquita et al. (2007) 2,97 a 4,87% e Ramírez-Cárdenas; Leonel; Costa (2008) 3,36 a 4,22%.
Para teor de proteína obteve-se valores entre 18,70 e 29,45% (Tabela 1). A cultivar
Esplendor diferiu das demais, com menor teor proteico. Enquanto o feijão verde apresentou maior
conteúdo proteico. Outros trabalhos relataram os valores de 17,72 a 20,27% (Marquezi et al., 2016),
18,17 a 25,93% (Pires et al., 2005) e 23,38 a 31,59% (Brigide; Canniatti-Brazaca; Silva, 2014). Como
pode ser visto na Tabela 1, o teor lipídico das cultivares Xiquexique e Pontal diferiram-se
significativamente (p<0,05) entre si e das demais. Mesquita et al. (2007) encontraram valor mínimo de
0,53 e máximo de 2,55% de extrato etéreo em feijão cru, estando de acordo com os dados
apresentados na Tabela 1. Quanto ao teor de fibra bruta variou de 2,45 a 3,89% (Tabela 1), valores
próximos ao encontrado (4,6%) por Oliveira et al. (2001). Os feijões verde e BRS xiquexique não
apresentaram diferença significativa (p>0,05) entre si, assim como as cultivares BRS pontal, esplendor
e cometa. Com relação aos valores obtidos para carboidratos, as amostras diferiram-se estatisticamente
(p<0,05) entre si, apenas entre as cultivares verde e BRS pontal não houve diferença significativa
(Tabela 1). Os teores de carboidratos das cultivares estudadas variaram de 51,28 a 63,33%, esses resultados encontram-se superiores aos 16,18 a 22,69% reportados por Brigide; Canniatti-Brazaca;
Silva (2014) e inferiores aos 69,89 a 72,47% avaliados por Barros e Prudencio (2016).
A concentração dos elementos minerais analisados está apresentada na Tabela 2, com valores expressos em mg/100 g de amostra.
Tabela 2. Teores de minerais em base seca, de diferentes cultivares de feijão cru.
Cultivares de feijão
Minerais (mg/100g)
Fe K** Mg** Na
Feijão Verde 0,71*±0,05
b82,78±1,28
b28,91±0,39ª 5,28±0,25
bBRS Xiquexique 1,90±0,72
a356,76±154,12
a88,02±16,70
d7,50±0,93
aBRS Pontal 0,72±0,09
b13,76±2,57
c33,86±1,68
b5,55±0,24
bBRS Esplendor 0,66±0,19
b127,62±31,57
b51,29±8,99
c5,13±0,26
bBRS Cometa 0,63±0,04
b6,93±0,52
d44,29±2,84
c4,50±0,09
b*Valores das médias das triplicatas ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Tukey. **Para atender os pressupostos de homocedacidade das variâncias e normalidade, os dados de K e Mg foram submetidos a transformação de Box-Cox.