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Estudo comparativo de possíveis soluções de argamassas para revestimentos de paredes de edifícios antigos

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Academic year: 2022

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Estudo comparativo de possíveis soluções de argamassas para revestimentos de paredes de edifícios antigos

Ana Cristian Magalhães LNEC

Portugal anacristian@lnec.pt

Maria do Rosário Veiga LNEC

Portugal rveiga@lnec.pt

Resumo: Neste estudo apresentam-se os resultados de uma campanha experimental sobre algumas formulações de argamassas vocacionadas para a renovação de revestimentos de paredes de edifícios antigos – duas argamassas pré-doseadas em fábrica e uma argamassa feita em obra de cal aérea e cal hidráulica – e discutem-se as respectivas características.

Avalia-se a sua adequabilidade ao uso a que se destinam com base na análise de requisitos definidos para algumas situações padrão e faz-se uma análise comparativa das características obtidas para estas argamassas com as obtidas para argamassas correntes, de comportamento bem conhecido.

Palavras – chave: argamassas, revestimentos, edifícios antigos, exigências

1. INTRODUÇÃO

Actualmente, no âmbito da reabilitação de edifícios antigos, diversas soluções de argamassas têm sido recomendadas para revestimentos de paredes de edifícios antigos, em substituição dos originais. Entre as soluções correntes usadas enquadram-se as argamassas de cal hidráulica e as argamassas pré-doseadas.

De um modo geral, no que se refere à composição, as várias soluções de argamassas pré- doseadas em fábrica existentes no mercado e vocacionadas para renovação de revestimentos deste tipo de edifícios apresentam composições muito variadas, e, em consequência, mostram características e comportamentos bastante diversificados.

As argamassas de cal hidráulica e cal aérea têm sido aplicadas em revestimentos de edifícios antigos, por constituírem soluções fáceis de usar devido ao seu grau de

(2)

hidraulicidade e parecer, à partida, provável que, dada a sua composição com base em cal, apresentem boa compatibilidade com as alvenarias antigas. No entanto, as suas características e comportamento não são ainda bem conhecidos, nomeadamente no que se refere à composição usada neste estudo, pelo que se considera útil estudá-la.

Em geral, para serem consideradas adequadas aos suportes antigos, as soluções de rebocos de substituição devem verificar determinados requisitos funcionais e estéticos para garantir o respeito por exigências básicas de autenticidade, compatibilidade e durabilidade.

No âmbito de trabalhos relacionados com o tema da conservação e reabilitação de edifícios, realizaram-se no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) campanhas experimentais sobre soluções possíveis de argamassas para revestimentos de edifícios antigos [1,2], e, com base em requisitos definidos para algumas situações padrão [3], têm- se procurado definir campos de aplicação para essas formulações. O trabalho aqui apresentado insere-se nesse contexto.

2. SOLUÇÕES ESTUDADAS

Para o presente estudo seleccionaram-se duas argamassas pré-doseadas com base em cal, produzidas por uma empresa e uma argamassa de composição definida em traço volumétrico de cal aérea, cal hidráulica e areia.

As composições das argamassas analisadas apresentam-se no Quadro 1:

Quadro 1 – Composição das argamassas analisadas Composição

Ref. da

Argamassa Dosagem volumétrica Constituintes

CAH 1:1: (3+3) Cal aérea em pó: Cal hidráulica: (areia do rio + areia de Corroios)

PD1 - Argamassa pré-doseada de cal aérea e resina PD2 - Argamassa pré-doseada de cal aérea e resina

(menor proporção de resina que PD1)

As amassaduras da argamassa CAH foram realizadas em misturador de laboratório, segundo o estabelecido na Norma EN 1015-2.

As argamassas pré-doseadas foram preparadas de acordo com as indicações do fabricante.

Em alguns provetes foi aplicada ainda uma argamassa de acabamento (PD-acab) de textura fina, obtida através da mistura dos mesmos componentes usados para as argamassas PD 1 e PD2, mas com granulometria mais fina e diferente proporção de resina. De uma forma geral, os ensaios foram realizados sobre provetes das argamassas PD1 e PD2 sem acabamento. No entanto alguns ensaios – permeabilidade ao vapor de água, aderência ao suporte, ensaio com humidímetro e ensaio de envelhecimento artificial acelerado – realizaram-se sobre soluções de reboco executadas com aplicações dessas argamassas seguidas do acabamento PD-acab.

Os provetes para ensaio foram conservados em sala condicionada caracterizada por 23±2º C de temperatura e 50±5% de humidade relativa, ambiente este definido no LNEC para o estudo de argamassas de cal [3].

Usaram-se para termo de comparação uma argamassa de cimento, areia do rio Tejo e areia amarela de Corroios com traço 1:2+2 (designada por CI), considerada, pela experiência

(3)

existente, não compatível com as paredes de edifícios antigos e uma argamassa de cal aérea hidratada em pó, areia do rio Tejo e areia amarela de Corroios com traço 1:1,5+1,5 (CA), considerada compatível.

3. EXIGÊNCIAS A CUMPRIR PELAS ARGAMASSAS NOVAS

As argamassas objecto de estudo destinam-se à conservação de edifícios antigos, e portanto, como já referido em 1, têm de verificar um conjunto de exigências adicionais, relacionadas com a ética da conservação do património edificado e que devem permitir o cumprimento de vários critérios, dos quais se salientam os seguintes [3, 4, 5]:

• não contribuir para degradar os elementos pré-existentes, nomeadamente as alvenarias antigas;

• proteger as paredes;

• ser reversíveis, ou, pelo menos, reparáveis;

• ser duráveis (e contribuir para a durabilidade do conjunto);

• não prejudicar a apresentação visual da arquitectura, nem descaracterizar o edifício.

Para a verificação dos dois primeiros critérios devem ser cumpridas exigências relacionadas com os seguintes aspectos:

• bom comportamento à água: oferecer alguma resistência à penetração da água até ao suporte e não dificultar a sua secagem;

• ter alguma resistência mecânica mas não transmitir tensões elevadas ao suporte;

• não introduzir sais solúveis ao suporte.

Os 3º e 4º critérios implicam:

• alguma resistência mecânica, mas inferior à dos tipos de suportes sobre os quais se prevê que possam vir a ser aplicados;

• aderência ao suporte suficiente para garantir a durabilidade mas não tão grande que a sua extracção possa afectar a alvenaria; a rotura não pode ser coesiva no seio do suporte;

• módulo de elasticidade relativamente pouco elevado;

• reduzida susceptibilidade à fendilhação;

• bom comportamento ao gelo e aos sais solúveis existentes no suporte.

A verificação do último requisito enunciado depende, para além dos aspectos referidos para os restantes critérios, de uma avaliação estética, a fazer caso a caso e que se encontra fora do âmbito deste estudo.

Tendo em conta alguns dos critérios mencionados acima, a experiência acumulada recomenda requisitos especificados para as argamassas de revestimento da maioria das paredes de alvenaria irregular (“ordinária”) nacionais, que se compilam no Quadro 2 [3,4,5]. Salienta-se, entretanto, que para tipos diferentes de paredes, por exemplo para alvenarias de pedra aparelhada, estes requisitos poderão sofrer adaptações.

Por outro lado, as argamassas de comparação CI e CA, com comportamento bem conhecido e usadas em edifícios antigos (com desempenhos considerados mau e bom, respectivamente), têm valores para as mesmas características já determinados em anteriores estudos [3], que se compilam no Quadro 3.

(4)

Quadro 2 – Requisitos estabelecidos para as características mecânicas e de comportamento à água das argamassas de revestimento para edifícios antigos

Comportamento à água Características mecânicas aos

90 dias (MPa)

Comportamento às forças desenvolvidas por retracção

restringida, aos 90 dias Ensaios clássicos Ensaio com humidímetro Uso da

argamassa

Rt Rc E

Aderência aos 90 dias

(MPa) Frmax (N)

G

(N.mm) CSAF CREF (mm) Sd (m)

C (kg/m2.h1/2)

M (h)

S (h)

H (mv.h) Reboco

exterior 0,2 – 0,7 0,4 – 2,5 2000- 5000

0,1 – 0,3 ou com rotura coesiva pelo reboco

< 70 > 40 > 1,5 > 0,7 < 0,08 < 12; > 8 > 0,1 <120 <16 000

Reboco

interior 0,2 – 0,7 0,4 – 2,5 2000- 5000

0,1 – 0,3 ou com rotura coesiva pelo

reboco < 70 > 40 > 1,5 > 0,7 < 0,10 - - < 120 - Juntas 0,4 – 0,8 0,6 – 3 3000-

6000

0,1 – 0,5 ou com rotura coesiva pela

argamassa

< 70 > 40 > 1,5 > 0,7 < 0,10 < 12; > 8 > 0,1 < 120 < 16 000 Rt – Resistência à tracção; Rc – Resistência à compressão; E – Módulo de elasticidade; Frmax – Força máxima induzida por retracção restringida; G – Energia de rotura à tracção; CSAF – Coeficiente de segurança à abertura da 1ª fenda; CREF – Coeficiente de resistência à evolução da fendilhação; SD - espessura da camada de ar de difusão equivalente (valor relacionado com a permeância); C - coeficiente de capilaridade; M: atraso na molhagem; S: período de humedecimento; H: intensidade de molhagem.

Quadro 3 – Características das argamassas de comportamento conhecido (CI e CA)

Comportamento à água Características mecânicas

aos 90 dias (MPa)

Aderência (MPa)

Comportamento às forças desenvolvidas

por retracção restringida Ensaios clássicos Ensaio com humidímetro Reboco

Rt Rc E 90d Frmax

(N) CSAF CREF

(mm) Classif.** Sd

(m) C

(kg/m2.h1/2) M (h) S

(h) H (mv.h) CI 1,1* 3,2* 6165* 0,07 (a) 135 1,9 0,5 Forte 0,09 12,6* 0,1 120 14000 CA 0,4 0,9 3050 - 53 1,7 0,81 Média 0,08 10,6 0,1 90 15260 *Ensaio realizado aos 28 dias; ** Classificação quanto a susceptibilidade à fendilhação de argamassas de revestimento [6].

a – rotura coesiva no seio do revestimento

(5)

3. CAMPANHA EXPERIMENTAL

A análise experimental das argamassas e das soluções de reboco descritas em 2 incluiu o conjunto de ensaios discriminados no Quadro 4.

Quadro 4 – Referências dos ensaios realizados

Ensaio Especificação de ensaio

Massa volúmica aparente do produto em pó Cahier 2669-4 CSTB Massa volúmica de produto em pasta EN 1015-6

Consistência por espalhamento EN 1015-3 Massa volúmica aparente do produto

endurecido EN 1015-10

Resistência à tracção por flexão

Resistência à compressão EN 1015-11

Módulo de elasticidade dinâmico Relatório LNEC 289/95-NCCt [7]

Permeabilidade ao vapor de água EN 1015-19 Absorção de água por capilaridade EN 1015-18

Carbonatação Recomendação da RILEM:

CPC 18 [8]

Aderência ao tijolo a seco EN 1015-12 Susceptibilidade à fendilhação FE Pa 37 Avaliação da capacidade de impermeabilização

(humidímetro) FE Pa 38

Ensaio de envelhecimento artificial acelerado

Método adaptado pelo LNEC para argamassas de reabilitação [9]

Permeabilidade à água sob pressão prEN 1015-21

4. RESULTADOS DOS ENSAIOS

Os resultados dos ensaios realizados sobre os rebocos estudados e a análise comparativa entre estes resultados e os requisitos estabelecidos são apresentados no Quadro 5. No Quadro 6 faz-se uma análise comparativa dos mesmos resultados com os resultados dos ensaios sobre as argamassas de comportamento conhecido CI e CA.

(6)

Quadro 5 – Comparação entre os resultados dos ensaios e os requisitos estabelecidos

Comportamento à água Características mecânicas

aos 90 dias (MPa) Aderência

(MPa) Comportamento às forças desenvolvidas

por retracção restringida Ensaios clássicos Ensaio com humidímetro Reboco

Rt Rc E 90d Frmax

(N) CSAF CREF

(mm) Classif. Sd

(m) C

(kg/m2.h1/2) M (h) S

(h) H

(mv.h) PD1

(s/acab) 1,2 3,8 3499 - 55 4,0 0,7 Média 0,08 0,10 1 22 7715

PD1

(c/acab) - - - 0,55 (a+b) - - - - 0,10 - 12 73 61000

PD2

(s/acab) 0,9 2,5 4016 - 54 6,0 0,7 Média 0,08 0,50 1 19 8505

PD2

(c/acab) - - - 0,45 (a) - - - - 0,09 - 12 53 63500

Caracterização

CAH 0,29 0,60 1845 0,60 (a+b) 84 2,0 0,7 Média 0,07 14,23 0,1 5 3525 PD1

(s/acab)

Superior ao limite estabelecido

Superior ao limite

estabelecido Adequado - Adequado Adequado Adequado - Adequado Demasiado reduzido Adequado PD1

(c/acab) - - - (rotura coesiva Adequado

pelo revestimento) - - - - Insuficiente (p/ reboco exterior)

- Adequado Exces- sivo PD2

(s/ acab) Adequado Adequado Adequado - Adequado Adequado Adequado - Adequado Demasiado reduzido Adequado

PD2

(c/ acab) - - - (rotura coesiva Adequado

pelo revestimento) - - - - Insuficiente (p/ reboco

exterior) - Adequado Exces- sivo

Avaliação

CAH Adequada, excepto p/

juntas

Adequada Demasiado deformável Adequado (rotura coesiva pelo revestimento)

Ligeira- mente

elevado Adequado Adequado - Adequado Excessivo Adequado

a – rotura coesiva no seio do revestimento; b – rotura adesiva

(7)

Quadro 6 – Análise comparativa dos resultados dos ensaios sobre os rebocos estudados, com argamassas de comportamento conhecido (Ci e Ca) Comportamento à água

Características mecânicas aos 90 dias (MPa)

Aderência (MPa)

Comportamento às forças desenvolvidas

por retracção restringida Ensaios clássicos Ensaio com humidímetro Reboco

Rt Rc E 90d Frmax

(N) CSA

F CREF

(mm) Classif. Sd

(m) C

(kg/m2.h1/2) M

(h) S

(h) H

(mv.h)

PD1 (s/acab) 1,2 3,8 3499 - 55 4,0 0,7 Média 0,08 0,10 1 22 7715

PD1(c/acab) - - - 0,55 (a+b) - - - - 0,10 - 12 73 61000

PD2 (s/acab) 0,9 2,5 4016 - 54 6,0 0,7 Média 0,08 0,50 1 19 8505

PD2(c/acab) - - - 0,45 (a) - - - - 0,09 - 12 53 63500

Caracterização CAH 0,29 0,60 1845 0,60 (a+b) 84 2,0 0,7 Média 0,07 14,23 0,1 5 3525

PD1 (s/ acab)

Superior às argamassa

s de referência

Superior às argamassas

de referência

Inferior à argamassa de cimento e superior à de

cal

- Melhores características que o reboco corrente de cimento e próximas das do reboco de cal

Inferior à argamassa de

cimento e similar à de

cal

Inferior às argamassas de referência

Melhores características que as argamassas de referência

PD2

(c/ acab) - - - Superior à

argamassa

de cimento - Superior às

argamassas de

referência - Intensidade de molhagem muito superior às das argamassas de referência PD1

(s/ acab)

Superior às argamassa

s de referência

Inferior à argamassa de cimento e superior à

de cal

Inferior à argamassa de cimento e superior à de

cal

- Melhores características que o reboco corrente de cimento e próximas das do reboco de cal

Inferior à argamassa de

cimento e similar à de

cal

Inferior às argamassas de referência

Melhores características que os rebocos de referência

PD2

(c/ acab) - - - Superior à

argamassa

de cimento -

Similar à argamassa de

cimento e inferior à de

cal

- Intensidade de molhagem muito superior às das argamassas de referência

Comparação

CAH Inferior às argamassas de referência

Superior à argamassa de cimento

Melhores características que o reboco corrente de cimento e próximas das do reboco de cal

Inferior às argamassas de

referência

Superior às argamassas de referência

Melhores características que os rebocos de referência a – rotura coesiva no seio do revestimento; b – rotura adesiva

(8)

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Análise com base nos limites estabelecidos

A análise dos quadros 2 e 5 permite extrair as seguintes conclusões:

No que se refere ao comportamento mecânico a argamassa pré-doseada PD1 apresenta valores de resistência à tracção e à compressão superiores ao limite máximo estabelecido, mas as restantes características encontram-se dentro dos limites aceitáveis.

A argamassa PD2, com menor proporção de resina que PD1, apresenta características mecânicas satisfatórias, com menores valores de resistência à compressão e à tracção que a argamassa PD1.

A argamassa de cal aérea e cal hidráulica CAH mostra-se bastante deformável e apresenta forças desenvolvidas por retracção restringida ligeiramente elevadas. No entanto, as restantes características mecânicas encontram-se dentro dos limites aceitáveis para o uso em rebocos exteriores e interiores.

A tensão de aderência ao suporte é bastante elevada em todos os casos objecto deste estudo, e é predominantemente coesiva no seio do revestimento, verificando as condições estabelecidas para este tipo de revestimentos [3].

Os resultados dos ensaios relativos ao comportamento à água revelam coeficientes de capilaridade muito reduzidos para ambas as argamassas pré-doseadas (PD1 e PD2) e permeabilidade à água sob a forma de vapor demasiado reduzida para estes mesmos rebocos com acabamento. O acabamento aplicado aos rebocos pré-doseados (PD1 e PD2) dificulta consideravelmente a secagem das paredes, principalmente se estas forem espessas e estiverem sujeitas a ascensão de água por capilaridade a partir das fundações.

Pelo contrário, a argamassa de cal aérea e cal hidráulica CAH apresenta coeficiente de capilaridade bastante elevado e adequada permeabilidade à água e ao vapor de água. Os rebocos pré-doseados com acabamento revelam ainda elevados valores de H (intensidade de molhagem) indiciando uma retenção de água junto ao suporte durante um maior período de tempo em relação ao reboco de cal e cal hidráulica.

As curvas de molhagem-secagem e absorção-secagem (figs.1 a 5) mostram o comportamento em relação à água das argamassas referidas. Nas figuras 6a e 6b representam-se alguns aparelhos utilizados na realização dos ensaios.

Análise com base nas argamassas de comportamento conhecido A análise dos quadros 3 e 6 permite extrair as seguintes conclusões:

As características mecânicas dos rebocos pré-doseados (PD1 e PD2), no que se refere a resistência à tracção e à compressão, encontram-se mais próximas das observáveis nas argamassas de cimento que das correspondentes às argamassas de cal. Por outro lado, as características de módulo de elasticidade e de comportamento às forças desenvolvidas por retracção restringida encontram-se mais próximas das observáveis nas argamassas de cal.

Os rebocos CAH apresentam comportamento mecânico mais próximo dos observáveis nas argamassas de cal.

A tensão de aderência é, em todos os casos, superior à da argamassa de cimento.

No que se refere ao comportamento à água, as argamassas pré-doseadas em estudo apresentam coeficientes de capilaridade sensivelmente reduzidos em relação às argamassas de comparação. Pelo contrário, a argamassa de cal aérea e cal hidráulica apresenta um coeficiente de capilaridade mais próximo do das argamassas de comparação, no entanto, superior. A permeabilidade ao vapor de água é da mesma ordem de grandeza da dos rebocos de comparação, em todos os casos.

(9)

De um modo geral as todas as argamassas objecto do presente estudo resistiram bem aos ciclos do ensaio de envelhecimento artificial acelerado; não houve descolagem ou queda do material nem se verificou degradação da aderência ao suporte. Contudo, observaram-se algumas manchas amareladas na superfície do acabamento das argamassas pré-doseadas, que podem estar relacionadas com algum pigmento utilizado na constituição do produto de acabamento.

Em síntese verifica-se que:

− entre as argamassas pré-doseadas, a que tem menor proporção de resina (PD2) parece ser a mais adequada à utilização em intervenções de conservação de edifícios antigos, já que apresenta características de comportamento mecânico mais adequadas que as argamassas pré-doseadas com maior proporção de resina (PD1).

− a aplicação do acabamento PD-acab nessas argamassas pode contribuir significativamente para a degradação geral da construção, já que este favorece a tendência do reboco para reter a água no suporte, dificultando a sua secagem.

Considera-se portanto de grande importância proceder a uma reformulação do acabamento com vista a eliminar ou minimizar os efeitos negativos eventualmente produzidos e, portanto, melhorar o desempenho dos revestimentos em estudo.

− a argamassa de cal aérea e cal hidráulica analisada apresenta resistência mecânica inferior às argamassas correntes, mas dentro dos limites aceitáveis para rebocos.

− relativamente ao comportamento à água, a argamassa de cal aérea e cal hidráulica embora pareça pouco resistente à penetração da água até ao suporte, permite a sua eliminação rápida por secagem.

− a mistura de cal aérea com cal hidráulica merece ser melhor estudada, tendo em conta que a composição experimental usada neste estudo 1:1:6 (cal aérea: cal hidráulica: areia) pode, provavelmente, ser melhorada.

− todas as argamassas estudadas apresentam, de um modo geral, boa coesão interna e bom aspecto, nomeadamente em termos de textura e características cromáticas.

A análise das características das argamassas pré-doseadas (PD2) de cal hidráulica e cal aérea (CAH) parece indiciá-las como aptas para o uso em paredes antigas. Faz-se notar, no entanto, que seria necessário realizar outras verificações – nomeadamente, identificar e determinar o seu teor de sais solúveis e o seu grau de perigosidade para paredes antigas – para extrair conclusões fundamentadas sobre a utilização destas argamassas ao fim a que se destinam.

6. CONCLUSÕES

Embora o estudo efectuado tenha sido demasiado restrito para avaliar todos os aspectos relevantes do comportamento das argamassas objecto de estudo, fornece informação importante que permite seleccionar e ajustar as respectivas formulações, quer no caso das argamassas produzidas em fábrica, quer no caso da argamassa a executar em obra.

Em qualquer caso, recorda-se que a selecção de revestimentos para utilização em intervenções de conservação em edifícios antigos deve ser realizada caso a caso pelo projectista, tendo em conta a natureza e a importância histórica do edifício e as condições concretas relacionadas com o revestimento antigo, com a natureza e o estado do suporte e com o clima local.

(10)

Por último é importante salientar que as argamassas analisadas de modo nenhum podem ser consideradas representativas das argamassas de cal hidráulica e pré-doseadas existentes pois há uma grande variedade de formulações que podem ser preparadas para esse fim.

Nota Final

A execução dos provetes, bem como a realização dos ensaios incluídos neste estudo foi da responsabilidade dos Técnicos de Apoio à Investigação Dora Santos e Bento Sabala (bolseiros) e da Auxiliar Técnica Ana Maria Francisco, do Departamento de Edifícios do LNEC.

A execução dos provetes de argamassa pré-doseada teve ainda a colaboração dos Técnicos da empresa produtora.

Referências

[1] MAGALHÃES, Ana Cristian; VEIGA, Maria do Rosário – Uso de argamassas de cal hidráulica e cal aérea em rebocos para paredes de edifícios antigos. LNEC – NRI.

Relatório em preparação.

[2] MAGALHÃES, Ana Cristian; VEIGA, Maria do Rosário – Caracterização experimental de argamassas pré-doseadas de reboco para paredes de edifícios antigos.

Lisboa, LNEC, Março de 2005. Relatório 72/05 – NRI.

[3] VEIGA, M. Rosário et al. – Conservação e renovação de revestimentos de paredes de edifícios antigos. Lisboa: LNEC, Julho de 2004. Colecção Edifícios, CED 9.

[4] VEIGA, M. Rosário; CARVALHO, Fernanda – Argamassas de reboco para edifícios antigos. Requisitos e características a respeitar. Lisboa: LNEC, Outubro de 2002.

Cadernos de Edifícios, nº 2.

[5] VEIGA, M. Rosário – Comportamento de rebocos para edifícios antigos: exigências gerais e requisitos específicos para edifícios antigos. Comunicação ao Seminário “Sais solúveis em argamassas de edifícios antigos. Danos, processos e soluções”. Lisboa:

LNEC, Fevereiro de 2005.

[6] VEIGA, M. Rosário – Comportamento de argamassas de revestimento de paredes.

Contribuição para o estudo da sua resistência a fendilhação. Tese para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Lisboa: LNEC, Maio de 1997.

[7] VILHENA, António; VEIGA, M. Rosário – Bases para homologação de revestimentos pré-doseados de ligante mineral com base em cimento. Lisboa: LNEC, Outubro de 1995. Relatório 289/95-NCCt.

[8] RILEM Committee TC 56 – “CPC-18 Measurement of hardened concrete carbonation depth”. Materials and Structures. Vol.21 (nº 126) (1988) pg 453-455.

[9] VEIGA, M. Rosário; CARVALHO, Fernanda – Some performance characteristics of lime mortars for use on rendering and repointing of ancient buildings. Comunicação à

“5th International Masonry Congress”, Londres, October 1998. Lisboa: LNEC, 1998.

Série Comunicações, COM 15.

(11)

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00

TEMPO (H)

TENSÃO ELÉCTRICA (mV)

Reboco CAH

Fig. 1 – Molhagem-secagem do reboco CAH

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00

TEMPO (H)

TENSÃO ELÉCTRICA (mV)

Reboco PD-4 (s/acabamento) Reboco PD-8 (s/ acabamento)

Fig. 2 – Molhagem-secagem do rebocos PD1 e PD2 (sem acabamento)

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00

TEMPO (H)

TENSÃO ELÉCTRICA (mV)

Reboco PD4 (c/ acabamento) Reboco PD8 (c/ acabamento)

Fig. 3 – Molhagem-secagem do rebocos PD1 e PD2 (com acabamento)

(12)

Absorção e Secagem aos 90 dias

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00 220,00

Tempo (min1/2)

Água absorvida (kg/m2)

Reboco CAH

Fig. 4 – Absorção-secagem do reboco CAH, aos 90 dias

Absorção e Secagem aos 90 dias

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00 220,00 Tempo (min1/2)

Água absorvida (kg/m2)

Reboco PD4 Reboco PD8

Fig. 5 – Absorção-secagem dos rebocos PD1 e PD2, aos 90 dias

Fig. 6 – Ensaios: a) avaliação da capacidade de impermeabilização (humidímetro); b) susceptibilidade à fendilhação

a b

Referências

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