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Informativo 613-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante sua gestão em fundação privada de apoio à Universidade Federal.

DIREITO CIVIL OBRIGAÇÕES

Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória.

ARBITRAGEM

O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no polo passivo de eventual ação anulatória.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Devedor pode ajuizar ação de prestação de contas contra a instituição financeira com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido.

USUCAPIÃO

A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para que o possuidor possa adquirir este bem por usucapião.

Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, esta decisão produzir efeitos no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto.

DIREITO DO CONSUMIDOR RESPONSABILIDADE CIVIL

Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no estacionamento externo e gratuito do estabelecimento.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL CURADOR ESPECIAL

Curador especial pode apresentar reconvenção.

RECURSOS

Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado, deve-se reconhecer que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da fungibilidade.

EXECUÇÃO

Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta.

DIREITO PENAL CRIMES NO ECA

Se a infração penal envolveu dois adolescentes, o réu deverá ser condenado por dois crimes de corrupção de menores (art. 244-B do ECA).

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Informativo comentado

CRIME AMBIENTAL

Art. 56 da Lei 9.605/98 é crime de perigo abstrato e dispensa prova pericial.

DIREITO PROCESSUAL PENAL REMIÇÃO

É possível a remição pela participação em coral musical.

DIREITO TRIBUTÁRIO PIS/PASEP COFINS

Lei 10.865/2004 autorizou que decreto reduzisse ou restabelecesse as alíquotas do PIS/PASEP e COFINS, de forma que o Decreto nº 8.426/2015 é válido.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante sua gestão em fundação privada de apoio à Universidade Federal

Atenção! Concursos federais

É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/90, em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de fundação privada de apoio à instituição federal de ensino superior.

STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/08/2017 (Info 613).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João é professor concursado da Universidade Federal de Brasília (UNB).

Ele foi, então, designado para o cargo de Diretor-Presidente da Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração (FEPAD), uma fundação privada, sem fins lucrativos, que presta apoio à UNB.

Durante a gestão na fundação privada, João teria praticado atos ilícitos, razão pela qual o Ministro da Educação instaurou processo administrativo disciplinar para apurar a sua conduta.

Ao final, foi aplicada pena de demissão contra o servidor.

Diante disso, João impetrou mandado de segurança contra o ato do Ministro alegando, entre outros argumentos, que, “tratando-se de atividades realizadas em fundação privada, o poder disciplinar da Administração Pública não pode atingi-las, porquanto aquele só possui alcance quando o comportamento relaciona-se às atribuições do cargo público, o que não é seu caso.” Logo, a instauração do PAD e a punição imposta seriam ilegais.

O STJ acolheu o pedido do impetrante?

NÃO. Não houve qualquer ilegalidade. O STJ entendeu que:

É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/90, em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de fundação privada de apoio à instituição federal de ensino superior.

STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/08/2017 (Info 613).

Os atos praticados por servidor público federal que assumiu cargo de gestão em fundação de natureza privada podem ser apurados no âmbito da Lei nº 8.112/90.

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As fundações de natureza privada são regidas pelo direito privado e possuem o objetivo de propiciar agilidade e autonomia às atividades acadêmicas como um todo, captando e administrando recursos públicos e/ou privados.

Embora os atos ilícitos tenham sido perpetrados em uma fundação de apoio de natureza privada, é perfeitamente legal a instauração do procedimento disciplinar, o julgamento e a sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/1990, especialmente quando a acusação imputada envolve desvios de recursos públicos oriundos de universidade federal - na qual o impetrante exercia cargo de professor adjunto -, o que contraria os princípios basilares da administração pública.

Assim, o fato de passar a integrar também o corpo funcional da fundação não faz com que o impetrante deixe de ser servidor público federal, mantendo-se, portanto, sob o regramento da Lei nº 8.112/90.

Em outras palavras, o fato de estar vinculado ao ente de apoio não o exime das sanções previstas no regime jurídico dos servidores públicos civis da União.

Ademais, não se pode esquecer que, a despeito do caráter privado da fundação, está-se tratando, na espécie, de entidade para o fim específico de dar apoio a instituição federal, utilizando para isso recursos públicos. Dessa forma, observa-se uma relação intrínseca entre a universidade e a fundação, o que significa que devem ser observados os deveres impostos ao servidor público, esteja ele exercendo atividade na universidade federal ou na própria fundação de apoio, concomitantemente ou não.

Logo, eventuais irregularidades praticadas no ente de apoio irão refletir necessariamente na universidade federal e causarão, de algum modo, dano ao erário.

DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES

Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória

Importante!!!

Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem.

Ex: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. Trata-se de cláusula penal compensatória.

Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, João perderá apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória. Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

CLÁUSULA PENAL

Conceito

Cláusula penal é...

- uma cláusula do contrato

- ou um contrato acessório ao principal

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- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga - pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional.

Natureza jurídica da cláusula penal

Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.

Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado.

Finalidades da cláusula penal

A cláusula penal possui duas finalidades.

Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato.

Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional.

Espécies de cláusula penal MORATÓRIA (compulsória):

COMPENSATÓRIA (compensar o inadimplemento) Estipulada para desestimular o devedor a incorrer

em mora ou para evitar que deixe de cumprir determinada cláusula especial da obrigação principal.

É a cominação contratual de uma multa para o caso de mora.

Estipulada para servir como indenização no caso de total inadimplemento da obrigação principal (inadimplemento absoluto).

Funciona como punição pelo retardamento no cumprimento da obrigação ou pelo inadimplemento de determinada cláusula.

Funciona como uma prefixação das perdas e danos, ou seja, representa um valor previamente estipulado pelas partes a título de indenização pela inexecução contratual.

Ex.1: em uma promessa de compra e venda de um apartamento, é estipulada multa para o caso de atraso na entrega.

Ex.2: multa para o caso do produtor de soja fornecer uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”.

Ex.: em um contrato para que um cantor faça um show no réveillon, é estipulada uma multa de R$

100 mil caso ele não se apresente.

A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação principal mais o valor da cláusula penal (poderá exigir a substituição da soja inferior e ainda o valor da cláusula penal).

A cláusula penal compensatória não é cumulativa.

Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir o cumprimento da obrigação principal ou apenas o valor da cláusula penal.

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

Multa moratória = obrigação principal + multa Multa compensatória = obrigação principal ou multa

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ARRAS

O que são as "arras"?

Quando duas pessoas celebram um contrato, é possível que elas combinem que uma delas irá pagar à outra um valor em dinheiro (ou em outro bem fungível) como forma de:

1) demonstrar que irá cumprir a obrigação no momento em que chegar o dia do vencimento; ou 2) como uma espécie de valor que será perdido caso ela queira desistir do negócio.

Para Sílvio Rodrigues, as arras “constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um contratante ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos contratantes, o direito de arrependimento” (Direito Civil. Vol. 2, 30ª ed, São Paulo: Saraiva. 2002, p. 279).

Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento. É o que diz o Código Civil:

Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

As arras só existem em contratos bilaterais (obrigações para ambas as partes) que tenham por objetivo transferir o domínio (propriedade) de alguma coisa.

As arras possuem natureza jurídica de contrato acessório.

Finalidades das arras

A Min. Nancy Andrighi identifica que as arras têm por finalidades:

a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o ajuste (caráter confirmatório);

b) servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo gênero da obrigação principal);

c) prefixar o montante das perdas e danos devidos pelo descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de arrependimento, se expressamente estipulado pelas partes (caráter indenizatório).

Espécies de arras

A partir do conceito acima dado, é possível identificar duas espécies diferentes de arras e a diferença principal entre elas está no objetivo de cada uma:

Confirmatórias (arts. 418 e 419) Penitenciais (art. 420) São previstas no contrato com o objetivo de

reforçar, incentivar que as partes cumpram a obrigação combinada.

São previstas no contrato com o objetivo de permitir que as partes possam desistir da obrigação combinada caso queiram e, se isso ocorrer, o valor das arras penitenciais já funcionará como sendo as perdas e danos.

A regra são as arras confirmatórias. Assim, no silêncio do contrato, as arras são confirmatórias.

Ocorre quando o contrato estipula arras, mas também prevê o direito de arrependimento.

Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento.

Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento.

Se a parte que deu as arras não executar (cumprir) o contrato: a outra parte (inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si.

Se a parte que deu as arras decidir não cumprir o contrato (exercer seu direito de arrependimento): ela perderá as arras dadas.

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Se a parte que recebeu as arras não executar o contrato: a outra parte (inocente) poderá exigir a devolução das arras mais o equivalente*.

Se a parte que recebeu as arras decidir não cumprir o contrato (exercer seu direito de arrependimento): deverá devolver as arras mais o equivalente*.

Além das arras, a parte inocente poderá pedir:

indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima;

a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

As arras penitenciais têm função unicamente indenizatória. Isso significa que a parte inocente ficará apenas com o valor das arras (e do equivalente) e NÃO terá direito a indenização suplementar. Nesse sentido:

Súmula 412-STF: No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo.

* Equivalente: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex: Mário deu R$ 500 de arras a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele terá que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais o equivalente (R$ 500), totalizando R$ 1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Exemplo de arras confirmatórias

João está se mudando e combina de comprar o carro de Gabriel, que custa R$ 100 mil; o comprador pede para receber o veículo e pagar o preço só daqui a três meses, quando irá passar a morar na cidade; o vendedor não queria aceitar porque existem outros interessados no veículo e ele desejava vender logo;

depois de muita insistência, ele acabou concordando, mas impôs uma exigência, qual seja, a de que João pagasse R$ 10 mil adiantados, como "sinal"; Gabriel explicou que este valor serviria como uma demonstração de que João teria intenção de cumprir o contrato e que não iria desistir; o vendedor explicou, ainda, que, quando o comprador pagasse o preço (R$ 100 mil), ele iria devolver o cheque com o

"sinal" de R$ 10 mil. Este "sinal" é chamado, juridicamente, de "arras".

Exemplo de arras penitenciais

Antônio comprometeu-se a vender seu apartamento para Ricardo. No contrato, havia uma cláusula prevendo que o promitente-comprador deveria dar um sinal de R$ 10 mil reais, valor este que foi pago.

Vale ressaltar que o contrato estipulou que as partes tinham direito de desistir do negócio (direito de arrependimento). Antes que a primeira prestação fosse paga, Ricardo resolveu não mais comprar o imóvel.

Isso significa que ele irá perder o sinal (arras) que pagou. Em outras palavras, não terá direito de pedir de volta essa quantia. Da mesma forma, Antônio não poderá exigir nenhum outro valor de Ricardo, ainda que tenha tido outros prejuízos decorrentes da desistência.

CUMULAÇÃO DAS ARRAS COM CLÁUSULA PENAL

Imagine a seguinte situação hipotética:

João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento.

João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento.

No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras.

No contrato, havia uma cláusula penal prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. Trata-se de cláusula penal compensatória.

Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações.

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Neste caso, ele perderá as arras e também os 10% a título de cláusula penal compensatória? É possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória?

NÃO.

Na hipótese de inadimplemento, as arras funcionam como uma espécie de cláusula penal compensatória, representando o valor previamente estimado pelas partes para indenizar a parte não culpada pela inexecução do contrato. A perda das arras, na hipótese, representa o efeito da resolução imputável e culposa.

Assim, as arras, a princípio, têm a função de indicar que a obrigação será cumprida. No entanto, ocorrendo a inexecução contratual elas passam a ter função de cláusula penal.

Tanto nas arras confirmatórias como nas arras penitenciais, se a parte que deu as arras não executar o contrato, a outra parte (inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si.

Dessa forma, o que se conclui é que, na hipótese de inadimplemento do contrato, as arras apresentam natureza indenizatória, desempenhando papel semelhante ao da cláusula penal compensatória.

Logo, se as arras cumprem a mesma função da cláusula penal compensatória, não é possível que a parte inocente exija da parte culpada tanto as arras como a cláusula penal compensatória. Isso seria bis in idem (dupla condenação a mesmo título), o que é vedado pelo Direito.

Qual das duas deverá, então, prevalecer: as arras ou a cláusula penal?

Se previstas cumulativamente para o inadimplemento contratual, entende-se que deve incidir exclusivamente a pena de perda das arras, ou a sua devolução mais o equivalente, a depender da parte a quem se imputa a inexecução contratual. Isso porque o art. 419 do CC afirma que as arras valem como

"taxa mínima" de indenização pela inexecução do contrato.

Assim, em nosso exemplo, como quem praticou a inexecução contratual foi quem deu as arras (João), ele perderá as arras.

Em suma:

Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

ARBITRAGEM

O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no polo passivo de eventual ação anulatória

A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não possui interesse processual nem legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a sua anulação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

Em que consiste a arbitragem

Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança.

Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro.

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Regulamentação

A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem

As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º).

Convenção de arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:

• a cláusula compromissória e

• o compromisso arbitral.

Cláusula compromissória

A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é...

- uma cláusula prevista no contrato, - de forma prévia e abstrata,

- por meio da qual as partes estipulam que

- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato

- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei nº 9.307/96:

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Compromisso arbitral O compromisso arbitral é...

- um acordo (convenção) feito entre as partes - após o conflito já ter surgido,

- por meio do qual se combina que a solução desta lide - não será resolvida pelo Poder Judiciário,

- mas sim por intermédio da arbitragem.

No compromisso arbitral, as partes renunciam ao seu direito de buscar a atividade jurisdicional estatal e decidem se valer da arbitragem.

Diferença entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral:

Cláusula compromissória Compromisso arbitral É uma convenção de arbitragem em que as

partes declaram que qualquer conflito futuro será resolvido por arbitragem.

É uma convenção de arbitragem posterior ao conflito. O conflito surgiu e as partes decidem resolvê-lo por arbitragem.

É uma cláusula prévia e abstrata, que não se refere a um conflito específico.

É pactuado após o conflito ter surgido e se refere a um problema concreto, já instaurado.

Em regra, mesmo havendo a cláusula compromissória no contrato, as partes ainda precisarão de um compromisso arbitral para regular como a arbitragem será feita.

Exceção: Fredie Didier ressalta que não será necessário o compromisso arbitral se a

Mesmo que não exista cláusula compromissória no contrato, as partes poderão decidir estabelecer um compromisso arbitral para resolver o conflito.

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Informativo comentado

cláusula compromissória for completa, ou seja, contiver todos os elementos para a instauração imediata da arbitragem (exs.:

quem serão os árbitros, o direito a ser aplicável, o tempo de duração etc.).

Regras para a escolha dos árbitros

As regras relacionadas à escolha dos árbitros estão previstas nos arts. 13 a 18 da Lei nº 9.307/96.

Quem pode ser árbitro?

Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiança das partes (art. 13).

As partes que escolhem quem elas querem como árbitro.

As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, suplentes.

Órgão arbitral institucional ou entidade especializada

Em vez de as partes escolherem individualmente os árbitros que irão julgar a causa, elas podem ainda escolher um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.

Órgão arbitral institucional ou entidade especializada é uma pessoa jurídica constituída para a solução extrajudicial de conflitos por meio da mediação, negociação, conciliação e arbitragem. Também pode ser chamada de “instituição arbitral”.

Desse modo, as partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada (art. 13, § 3º).

Escolha de árbitros caso as partes optem por um órgão arbitral institucional ou entidade especializada Se as partes escolherem um órgão arbitral institucional ou entidade especializada para solucionar a causa, a seleção dos árbitros será feita, em princípio, pelas regras previstas no estatuto da entidade.

Normalmente, tais entidades possuem uma lista de árbitros previamente cadastrados e a escolha recai sobre um desses nomes.

Feita esta revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa “BM” mantinha um contrato com a empresa “PP”.

No contrato havia uma cláusula compromissória definindo que os litígios que surgissem envolvendo as empresas deveriam ser resolvidos pela “Câmara de Arbitragem Empresarial Norte Sul - CAENS”, uma instituição arbitral, ou seja, uma pessoa jurídica especializada na solução extrajudicial de conflitos por meio da arbitragem.

A CAENS julgou o conflito em favor da empresa “BM”.

Inconformada, a empresa “PP” propôs contra a empresa “BM” e contra a “CAENS” ação anulatória de processo arbitral sob o argumento de que o consentimento para a instauração da arbitragem não foi dado pelo verdadeiro representante legal da empresa, mas sim por uma gerente que não tinha poderes para tanto.

Em contestação, a “CAENS” arguiu preliminar de ilegitimidade passiva argumentando que é apenas uma instituição administradora de procedimentos arbitrais. Sua prestação de serviços restringe-se às atividades de apoio técnico, logístico e operacional às partes e aos árbitros, sendo que sua atuação institucional não envolve quaisquer atos jurisdicionais decisórios, cuja competência é exclusiva do árbitro.

A instituição arbitral deve ou não figurar no polo passivo da ação anulatório de processo arbitral?

NÃO.

O órgão arbitral institucional é uma entidade de natureza essencialmente administrativa e a sua atuação não envolve nenhum ato jurisdicional, cuja competência é exclusiva dos árbitros nomeados pelas partes.

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Informativo comentado

Vale registrar que, segundo a doutrina especializada, nem mesmo os árbitros, embora prolatores do ato considerado viciado, teriam, em tese, legitimidade para integrar o polo passivo da ação anulatória de sentença arbitral. Logo, com muito mais razão, a instituição arbitral (que só tem funções administrativas) é parte ilegítima.

A ação anulatória de sentença arbitral é como se fosse uma ação rescisória de sentença judicial. Em uma ação rescisória, o juiz que prolatou a sentença não figura como réu. O réu da ação rescisória é a parte que figurou na relação original. Esse mesmo raciocínio deve ser transportado para a ação anulatória de processo arbitral.

Em suma:

A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não possui interesse processual nem legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a sua anulação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Devedor pode ajuizar ação de prestação de contas contra a instituição financeira com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido

Mesmo antes do advento da Lei nº 13.043/2014, que deu nova redação ao art. 2º do Decreto- Lei nº 911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas relativas aos valores auferidos com o leilão extrajudicial de veículo apreendido em busca e apreensão.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 05/10/2017 (Info 613).

Alienação fiduciária

“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:

Método, 2012, p. 565).

Regramento

O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368- B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:

• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;

• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem- se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

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Informativo comentado

Resumindo:

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS fungíveis e infungíveis quando o credor

fiduciário for instituição financeira

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis quando o credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem

ser banco)

Alienação fiduciária de bens IMÓVEIS Lei nº 4.728/65

Decreto-Lei nº 911/69

Código Civil de 2002

(arts. 1.361 a 1.368-B) Lei nº 9.514/97

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS (DL911/69) Imagine a seguinte situação hipotética:

Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária.

Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio.

Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)?

Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69):

Notificação do devedor

O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos?

NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD.

O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?

NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§

2º do art. 2º do DL 911/69).

Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do devedor, ainda que não pessoalmente.

Ajuizamento da ação de busca e apreensão

Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.

Concessão da liminar

O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69).

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Possibilidade de pagamento integral da dívida

No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal:

Art. 3º (...)

§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)

§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”?

Todo o débito.

Segundo decidiu o STJ, a Lei nº 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações vencidas.

Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar.

O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n.

10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora.

Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes:

Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 540).

Resposta

No prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação).

Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição.

Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

Venda do bem

Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário) poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do DL 911/69).

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O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar os débitos do devedor para com o credor e também para custear as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida.

Se, após o pagamento da dívida, ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao devedor.

Dever do credor de prestar contas

A Lei nº 13.043/2014 alterou o caput do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que o credor, após fazer a alienação do bem, tem o dever de prestar contas ao devedor a fim de que este tenha ciência do valor que foi apurado com a venda e possa fiscalizar para saber se sobrou algum saldo, já que tais recursos lhe pertencem. Compare:

Antes da Lei nº 13.043/2014 Depois da Lei nº 13.043/2014 Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas

obrigações contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver.

Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a devida prestação de contas.

Desse modo, depois da venda, caso o credor não tenha informado acerca de eventual saldo, o devedor poderá, inclusive, ajuizar ação de prestação de contas em desfavor da instituição financeira, com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido na forma do DL 911/1969, e se apurar eventual saldo em favor do autor.

Essa possibilidade de o devedor exigir prestação de contas do credor somente surgiu com a edição da Lei nº 13.043/2014?

NÃO.

Mesmo antes do advento da Lei nº 13.043/2014, que deu nova redação ao art. 2º do Decreto-Lei nº 911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas relativas aos valores auferidos com o leilão extrajudicial de veículo apreendido em busca e apreensão.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 05/10/2017 (Info 613).

O interesse do devedor fiduciário para o ajuizamento da referida ação é evidente nos casos de alienação extrajudicial, pois busca saber o quantum da arrecadação e a forma de aplicação dos valores.

Se, por um lado, garante-se ao credor uma forma executiva extremamente célere e sem interferência direta do Estado, por outro, tem o devedor, no mínimo, o direito de saber da solução realizada pelo credor, a qual necessariamente afeta seu patrimônio.

Ao credor cumpre zelar pela correta destinação da quantia obtida com a alienação extrajudicial. Essa incumbência também está ligada ao patrimônio do devedor, o qual ficará vinculado pela dívida remanescente ou terá saldo a receber.

Dessa forma, tem-se por inegável a existência de um vínculo entre o credor e o devedor, sendo que desta relação decorre o interesse de agir (utilidade e adequação) para o devedor fiduciário ajuizar ação de prestação de contas, especificamente quanto aos valores decorrentes do leilão extrajudicial do bem.

A alteração promovida pela Lei nº 13.043/2014 teve como objetivo apenas reforçar um direito que o devedor já possuía.

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USUCAPIÃO

A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para que o possuidor possa adquirir este bem por usucapião

O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a decretação da falência.

Ex: João é possuidor, há 4 anos e 6 meses, de uma área urbana de 200m2, que utiliza para a sua própria moradia. Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Imagine que foi decretada a falência da empresa que é proprietária desse imóvel. Isso significa que, neste instante, o prazo para João adquirir o bem por usucapião vai ser interrompido, ou seja, vai recomeçar do zero.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2017 (Info 613).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João é possuidor, há 4 anos, de uma área urbana de 200m2, que utiliza para a sua própria moradia. Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural.

O imóvel onde mora João pertence à indústria “ZZZ”, mas a empresa, durante todo esse tempo nunca procurou saber do terreno.

Em março/2015, João procurou a Defensoria Pública perguntando se ele poderia regularizar o imóvel em seu nome. O Defensor explicou que se ele ficasse mais 1 ano morando lá, completaria 5 anos de posse ininterrupta no imóvel e que, neste caso, poderia ingressar com uma ação de usucapião, conforme previsto no art. 1.240 do Código Civil:

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Em setembro/2015, foi decretada a falência da indústria “ZZZ”.

Em março/2016, João voltou à Defensoria Pública e o Defensor ajuizou ação de usucapião em favor do assistido.

Essa ação de usucapião terá êxito?

NÃO. Isso porque, com a decretação da falência, houve a interrupção do prazo de usucapião. Em outras palavras, em setembro/2015 recomeçou o prazo necessário para que o possuidor (João) tenha que ficar no imóvel para poder ter direito à usucapião.

A sentença declaratória de falência forma a massa falida subjetiva e objetiva.

A massa objetiva é a afetação do patrimônio do falido como um todo para o pagamento das dívidas.

Vale ressaltar que a sentença declaratória da falência produz efeitos imediatos, tão logo prolatada pelo juízo concursal.

Com a decretação da falência, há a constrição geral do patrimônio do falido por meio de um ato de

“penhoramento abstrato”. Isso quer dizer que, com a decretação da falência, é como se todos os bens do falido ficassem automaticamente vinculados ao pagamento das dívidas.

Essa constrição sobre os bens do falido ocorre independentemente de qualquer ato formal de penhora ou sequestro.

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Desse modo, a pessoa que estava na posse do bem do falido aguardando o prazo da usucapião perde a a posse pela incursão do Estado na sua esfera jurídica.

Em suma:

O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a decretação da falência.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2017 (Info 613).

USUCAPIÃO

Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, esta decisão produzir a efeitos no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto

Há perda de objeto da ação de usucapião proposta em juízo cível na hipótese em que juízo criminal decreta a perda do imóvel usucapiendo em razão de ter sido adquirido com proventos de crime.

João praticou um crime. Com o dinheiro obtido com o delito, ele comprou uma casa. No processo criminal, o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa comprada. João fugiu e abandonou o imóvel. Em abril/2012, Pedro invadiu a casa e passou a morar lá. Em maio/2017, após mais de 5 anos morando no imóvel, Pedro ajuizou ação de usucapião (art.

1.240 do CC). A ação de usucapião estava tramitando até que, em outubro/2017, transitou em julgado a sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da condenação, o magistrado determinou o confisco da casa (art. 91, II, “b”, do CP). A ação de usucapião perde o objeto, considerando que este tema foi definido no juízo criminal.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.563-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João praticou um crime.

Com o dinheiro obtido com o delito, ele comprou uma casa de 200m2 na favela.

Dessa forma, podemos dizer que o imóvel foi adquirido com os proventos do crime, ou seja, com o “lucro”

obtido com a prática da infração penal.

Ocorre que o delito foi descoberto e João passou a responder a uma ação penal.

Neste processo criminal, o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa comprada, nos termos do art. 125 do CPP.

Vale ressaltar que o sequestro torna o bem indisponível, ou seja, ele não poderá ser transferido a outra pessoa. O sequestro, contudo, não priva o uso do bem, isto é, em tese, a pessoa pode continuar utilizando o imóvel. Esta medida serve para que o acusado não se desfaça dele durante o curso da ação penal.

João fugiu e abandonou o imóvel.

Em abril/2012, Pedro e a sua família invadiram a casa e passaram a morar lá.

Em maio/2017, após mais de 5 anos morando no imóvel sem qualquer questionamento, Pedro ajuizou ação de usucapião, com base no art. 1.240 do Código Civil:

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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A ação de usucapião estava tramitando normalmente até que, em outubro/2017, transitou em julgado a sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da condenação, o magistrado determinou o confisco da casa, conforme prevê o art. 91, II, “b”, do Código Penal:

Art. 91. São efeitos da condenação:

(...)

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

(...)

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

O que acontece com a ação de usucapião? O juiz poderá julgar esta demanda procedente?

NÃO. A ação de usucapião perde o objeto.

Independência das instâncias, sistema da separação e sistema da adesão

Em regra, as instâncias criminal e cível são independentes. Essa separação, contudo, é relativa.

Assim, diz-se que a regra é o “sistema da separação”, mas que existem situações em que o direito adota o “sistema da adesão”.

Sistema da adesão significa dizer que em algumas situações uma instância simplesmente adere ao julgamento da outra, ou seja, o resultado de uma instância irá produzir efeitos na outra.

Exemplo de adesão do juízo cível ao que foi decidido no juízo criminal:

Código Civil

Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Exemplo de adesão do juízo criminal ao que foi decidido no juízo cível:

Código de Processo Penal

Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

O exemplo retrata uma situação excepcional em que se deve adotar o sistema da adesão

Como já dito, o art. 91 do CP estabelece a perda do proveito do crime como um dos efeitos da condenação.

O art. 130 do CPP, por sua vez, prevê que o acusado ou o terceiro que não concordarem com o sequestro deverão impugná-lo por meio de embargos, que serão julgados, em regra, pelo próprio juízo criminal.

A análise conjunta dessas duas previsões nos leva à conclusão de que a finalidade da norma foi a de excluir da competência do juízo cível a decisão sobre o destino do bem constrito para fins penais.

Assim, pode-se concluir que, após decretado o confisco do bem por meio de sentença penal condenatória transitada em julgado, nada resta ao juízo cível senão curvar-se à decisão exarada pelo juízo criminal.

Preste atenção! Não significa que a parte interessada perdeu completamente a causa. Ela poderia, em tese, ter ingressado com embargos de terceiro no juízo criminal para discutir ali se houve ou não usucapião. O que não se pode é continuar essa discussão no juízo cível, sendo que já houve decisão do juízo criminal.

Aplica-se, para o presente caso, uma máxima do direito francês, segundo a qual “le criminal tient le civil en etat” (o juízo criminal paralisa o civil no estado em que se encontra).

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Sobre esse ponto, Guilherme de Souza Nucci afirma que "o juízo cível nada tem a ver com a constrição, não lhe sendo cabível interferir na disposição dos bens" (Manual de processo penal e execução penal. 12ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 318).

Assim, entendendo-se que o juízo cível está subordinado aos comandos da sentença proferida pelo juízo criminal, impõe-se reconhecer que a ação de usucapião deve ser julgada extinta, sem resolução do mérito, por perda do objeto.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL

Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no estacionamento externo e gratuito do estabelecimento

Importante!!!

A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento.

Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do STJ, para entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo que o prejuízo tenha sido causado por roubo, se este foi praticado no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida atividade (empresas de estacionamento pago) ou quando o estacionamento era de um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado.

Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior), que afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar.

Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de crime de roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com emprego de arma de fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido pelo estabelecimento comercial.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/08/2017 (Info 613).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João lanchou na McDonald´s que fica em uma rua próxima à sua casa.

Após realizar a refeição, ao retornar ao estacionamento da lanchonete, João foi abordado por dois ladrões armados, que levaram a sua motocicleta.

Vale ressaltar que esta unidade da lanchonete não fica dentro de shopping. Importante também esclarecer que o estacionamento oferecido pela lanchonete é externo e gratuito.

João ajuizou ação de indenização por danos contra a lanchonete, argumentando, em síntese, que:

• a relação entre ele e a empresa é de consumo, de forma que a responsabilidade é objetiva;

• houve defeito na prestação do serviço (art. 12 do CDC);

• a simples disponibilização de estacionamento (ainda que por cortesia e sem efetivo controle de acesso), por agregar valor e comodidade ao serviço oferecido, enseja a assunção pela lanchonete dos deveres de guarda e vigilância;

• há dever de indenizar, nos termos do que preconiza a Súmula 130 do STJ.

Referências

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