Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde on line 15 (2019.2)
tratamento de
“inseminação artificial”
Art. 10, inciso III, da Lei n. 9.656/98
Exclui a inseminação artificial da cobertura contratual das operadoras de planos de saúde.
3 RECURSO ESPECIAL Nº 1865908 - SP (2020/0057411-6)
A negativa de custeio do tratamento encontra embasamento relevante. Ainda que, de fato, a simples alegação de exclusão do rol dos procedimentos elencados pela ANS não seja motivo suficiente para a improcedência da demanda, tem-se que, além da falta de previsão contratual, o Enunciado de Saúde Suplementar nº 20 do Conselho Nacional de Justiça estabelece que a inseminação artificial e a fertilização "in vitro" não são procedimentos de cobertura obrigatória pelas operadoras de plano e seguro saúde.
O planejamento familiar previsto no art. 226, § 7º, da Constituição Federal e no art. 2º da Lei nº 9.263/09, que trata do tema, não se confunde com a transferência do custeio dos procedimentos de fertilização “in vitro” à iniciativa privada, obrigando-a a realizar uma contraprestação não pactuada e alheia aos fins do contrato, que é a prevenção e manutenção da saúde dos segurados. O procedimento não foi indicado com o escopo de preservar a vida ou a saúde da requerente, mas apenas para que pudesse conceber um filho.
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Sobre o tema, tem-se que a iterativa jurisprudência do eg. Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a fertilização in vitro não possui cobertura obrigatória, de modo que, na hipótese de ausência de previsão contratual, é impositivo o afastamento do dever de custeio do mencionado tratamento pela operadora do plano de saúde.
Natjus – Núcleo de Assistência Técnico Judiciário Ajuda ou atrapalha as ações judiciais?
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Art. 196 da Constituição Federal
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
A Constituição Federal prevê, em capítulo que declara a família base da sociedade e objeto de especial proteção (art. 227), que cabe ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício do planejamento familiar (§ 9º)
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A Lei nº 9.263/96, ao regular o dispositivo constitucional, dispõe que se entende “planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal”. E, no artigo 3º, § único, I, dispõe que:
mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde. Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras: I - a assistência à concepção e contracepção”.
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Há, portanto, direito ao planejamento familiar, a ser tutelado pelo Estado, no que se inclui assistência à concepção. Por conta deste direito, o Estado possui, efetivamente, programa de reprodução assistida pelo qual as mulheres não apenas recebem os medicamentos necessários para viabilização de procedimentos, como a fertilização in vitro ou inseminação artificial.
Há, portanto, direito ao planejamento familiar, a ser tutelado pelo Estado, no que se inclui assistência à concepção. Por conta deste direito, o Estado possui, efetivamente, programa de reprodução assistida pelo qual as mulheres não apenas recebem os medicamentos necessários para viabilização de procedimentos, como a fertilização in vitro ou inseminação artificial.
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PORTARIA Nº 426/GM Em 22 de março de 2005.
Institui, no âmbito do SUS, a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida e dá outras providência.
20/09/2016, DJe 10/10/2016)
O recorrente insiste na tese de que inexiste o direito à reprodução, portanto não cabe ao Estado custear tratamento de fertilização. Contudo, o acórdão recorrido não abordou especificamente essa questão, tendo decidido a lide sob o fundamento de que o planejamento familiar é garantido por norma constitucional, art. 294 da Constituição fluminense, e pela Lei 9.263/1996. Está caracterizada a deficiência na fundamentação
O Estado do Rio de Janeiro foi condenado na obrigação de arcar com todo o tratamento da recorrida no local indicado pelo ente público, conforme se extrai dos trechos abaixo colacionados. Não tem pertinência alegação de que deve pagar o tratamento de fertilização in vitro em hospital particular, pois essa hipótese somente se concretizará com sua recusa em obedecer a determinação judicial.
fluminense está de acordo com os precedentes do STJ, no sentido de que é dever do Estado, incluindo os seus três entes políticos, a garantia da saúde da população.
Recurso Especial conhecido parcialmente e, nessa parte, não provido.
(REsp 1617970/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2016, DJe 10/10/2016)