DIREITO
INTERNACIONAL
PRIVADO
Professora Raquel Perrota
Elementos de Conexão
Autonomia da Vontade. Escolha da Lei e Eleição do ForoAutonomia da Vontade. Escolha da Lei e Eleição do Foro
- Tendo o seu ápice na época do Liberalismo, o elemento de
conexão autonomia da vontade traz a possibilidade das partes escolherem a lei a ser aplicada no caso concreto, como, por exemplo, numa relação contratual.
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“A autonomia da vontade das partes, no direito internacional privado, significa que as próprias partes podem escolher o direito aplicável. O elemento de conexão aqui é a própria vontade manifestada pelas partes, vinculada a um negócio jurídico de direito privado com conexão internacional”
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Segundo Irineu Strenger, em sua obra “Da autonomia da vontade: direito interno e internacional” (2a ed., São Paulo: LTr, 2000, p. 66)
"a autonomia da vontade como princípio deve ser sustentada não só como um elemento da liberdade em geral, mas como suporte também da liberdade jurídica, que é esse poder insuprível no homem de criar por um ato de vontade uma situação jurídica, desde que esse ato tenha objeto lícito".
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- Essa teoria sempre foi reconhecida pelo Direito Internacional
Privado.
- A criação da autonomia da vontade como elemento de
conexão foi, porém, cunhada por Charles Dumoulin, no século XVI
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- As primeiras legislações a admitir expressamente a autonomia
da vontade das partes como elemento de conexão válido foram o ABCG Austríaco; alguns Códigos Civis suíços; a Lei de Introdução ao Código Civil italiano e o Horei japonês.
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- O princípio autonomia da vontade das partes aplica-se
precipuamente às obrigações de natureza contratual.
- Dessa forma, quase todas as leis modernas do direito
internacional privado, bem como vários tratados internacionais lhe fazem referência.
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- Temos como exemplos o Regulamento (CE) nº 593/2008 do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de junho de 2008, sobre a lei aplicável às obrigações contratuais (Roma I).
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- Algumas legislações e tratados internacionais elastecem a
abrangência do princípio e facultam a autonomia da vontade das partes quanto o regime de bens e às sucessões, desde que a relação jurídica seja internacional.
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- A autonomia da vontade das partes raramente é admitida
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- No que toca às obrigações ex delicto, verifica-se a tendência
de se admitir a autonomia da vontade das partes.
- Exemplo disso é o Regulamento (CE) nº 864/2007 do
Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, de 11 de julho de 2007, relativo à lei aplicável às obrigações extracontratuais (Roma II).
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- A autonomia da vontade das partes não é reconhecida ainda
como elemento de conexão válido, que possa reger relações de direito privado com conexão internacional, em grande parte da América Latina.
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- No Brasil, esse elemento de conexão já foi aceito pela antiga Lei de Introdução ao Código Civil (1916), que autorizava, em seu artigo 13, a escolha por parte dos interessados da lei que iria reger os contratos por eles firmados.
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Antiga LICC/1916, art. 13. Regulará, salvo estipulação em contrário, quanto à substância e aos efeitos das obrigações, a lei do lugar onde foram contraídas.
- Dessa redação, a doutrina deduziu a tolerância legal face à autonomia da vontade das partes como elemento de conexão válido no direito brasileiro.
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- Essa permissão não mais vigora na nossa legislação interna,
não se admitindo às partes contratantes, no contexto de negócios realizados no Brasil, a escolha da norma que bem entendam.
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- Para o direito brasileiro vigente, a elemento de conexão
aplicável às obrigações contratuais encontra-se no art. 9º da LINDB, silenciando, assim, quanto à admissão da autonomia da vontade das partes como elemento de conexão.
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LINDB, Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e
dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente.
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- Imperioso lançar um olhar para o tratamento dado pela Convenção Interamericana sobre Direito Aplicável aos Contratos Internacionais (1994), que vem a admitir o princípio da autonomia da vontade das partes para a escolha do direito material aplicável a um contrato internacional, podendo essa escolha ocorrer de forma expressa ou tácita.
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Convenção Interamericana sobre Direito Aplicável aos Contratos Internacionais , Artigo 7
O contrato rege-se pelo direito escolhido pelas partes. O acordo das partes sobre esta escolha deve ser expresso ou, em caso de inexistência de acordo expresso, depreender-se de forma evidente da conduta das partes e das cláusulas contratuais, consideradas em seu conjunto. Essa escolha poderá referir-se à totalidade do contrato ou a uma parte do mesmo.
A eleição de determinado foro pelas partes não implica necessariamente a escolha do direito aplicável.
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- Apesar do silêncio da LINDB quanto à adoção da autonomia da
vontade como elemento de conexão, importante notar que a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/1996) não se furtou ao abordar o tema de forma direta.
- A Lei determina que as partes poderão escolher livremente as
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Lei nº 9.307/1996, Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio
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- Assim, caso as partes contratantes tenham se obrigado perante a uma convenção de arbitragem, têm-se por aceitável a escolha do direito material que será aplicado.
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- Para as relações que não lançam mão da arbitragem,
entretanto, prevalece a impossibilidade de escolha da legislação aplicável via a autonomia da vontade como elemento de conexão.
- Nesse sentido a jurisprudência pátria no tema, apesar de
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- O STF, no bojo do RE nº 93.131/MG, de relatoria do Ministro
Moreira Alves, julgado em 17/12/1981, não reconhece o princípio da autonomia da vontade da escolha do direito material aplicável.